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FICHAMENTO DO TEXTO

Autor: Gustavo Pereira Leite Ribeiro

Uma introdução ao fenômeno jurídico sucessório

Algumas situações jurídicas, reputadas intransmissíveis, são extintas com o


falecimento do seu titular, como ocorre com o poder familiar (art. 1.635, I, CC), com a
sociedade conjugal ( art. 1.571, I, CC), com o usufruto (art. 1.410, I, CC) com os
contratos personalíssimos, por exemplo. Prestação de serviço (art. 607, CC) e mandato
(art. 682,II,CC), bem como o contrato de trabalho.

- Compete ao Direito das Sucessões regular o destino, depois da morte de uma pessoa,
dos seus direitos e obrigações que subsistem para além dessa morte.

CONCEITO DE SUCESSÃO E SUAS ESPÉCIES


Em sentido amplo, afirma-se que sucessão designa a transferência de direitos e
obrigações de uma pessoa para outra.
A transferência de direitos e obrigações pode ser desencadeada por ato realizado pelo
seu titular em vida, assim como em virtude do fato morte. A primeira é conhecida
como transmissão inter vivos, enquanto a segunda, transmissão mortis causa.

Interessa-nos, particularmente, a transmissão mortis causa. Em sentindo estrito,


utiliza-se o termo sucessão para designar a transferência do conjunto de direitos e
obrigações de alguém que falece para outro que ainda está vivo.

Quanto à sua origem, a sucessão pode ser classificada como legítima ou testamentária
(art.1.786, CC).

A sucessão legítima, também designada ab intestato, é aquela derivada


imediatamente da lei, que se encarrega de indicar quais pessoas serão consideradas
titulares do acervo hereditário. Ocorre sempre que o falecido não tiver deixado
testamento ou quando este negócio jurídico for julgado nulo ou caduco.
A sucessão testamentária é aquela derivada de disposição de última vontade do
defunto, expressa em testamento, elaborado de acordo com as condições
estabelecidas por lei, no qual o próprio autor da herança elege os seus sucessores.
Ocorrerá sempre que o falecido houver contemplado todo o seu patrimônio em
testamento e não possua herdeiros necessários, isto é, descendentes, ascendentes ou
cônjuge.

Aquele que morreu é chamado autor da herança ou de cujus, sem prejuízo da


utilização de designações vulgares, como falecido, morto, defunto ou finado. Por sua
vez, aqueles que recebem o patrimônio deixado pelo defunto são qualificados como
sucessores ou herdeiros. O patrimônio que alguém deixa ao morrer é denominado
herança ou acervo hereditário.

MORTE COMO CAUSA DA SUCESSÃO


A morte é causa do fenômeno sucessório. Sem a morte, real ou presumida, não há
que se falar em sucessão.

MORTE REAL
Atualmente, a morte é determinada pela “cessação irreversível de todas as funções do
encéfalo, incluindo o tronco encefálico, onde se situam as estruturas responsáveis pela
manutenção dos processos vitais autônomos, como a pressão arterial e a função
respiratória”.
Importante destacar que a morte rela será atestada por médico, que declarará a causa
e o momento do falecimento, levados em conta na lavratura do registro de óbito junto
ao cartório civil.
MORTE PRESUMIDA
Quando o desaparecimento de alguém tenha ocorrido em determinados
circunstâncias que não permitam duvidar de sua morte, apesar de não ter sido possível
encontrar ou identificar seu cadáver, considera-se, para fins jurídicos, a pessoa natural
falecida. Trata-se de morte presumida.
Importante destacar que a morte presumida resultará sempre de um provimento
judicial, iniciado por qualquer interessado na constatação do evento, por exemplo,
esposa, companheira, pais, filhos, credores.
Presume-se a morte do ausente depois de transcorridos dez anos do trânsito em
julgado da sentença que concede a abertura da sucessão provisória ou após o
transcurso de cinco anos das últimas notícias do ausente, quando este já contar com
mais de oitenta anos.
A morte presumida poderá ser declarada, sem a decretação de ausência, quando for
extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida, como nas
situações de pessoa desaparecida em virtude de naufrágio, de acidente aéreo ou de
catástrofes naturais muito graves (art. 7º, I, CC). Poderá também ser declarada a morte
presumida, sem decretação de ausência, quando alguém, desaparecido em campanha
ou feito de prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra.

Sentença deve fixar a data provável do falecimento.

ABERTURA DA SUCESSÃO
“Direito de herdar”
Chama-se delação a colocação da herança à disposição de quem possa adquiri-la,
enquanto aquisição designa a incorporação do acervo hereditário no patrimônio dos
herdeiros.
Morto o autor da herança, esta é transferida de pleno direito e imediatamente aos
sucessores.
Sublinha-se que os herdeiros se tornam titulares dos direitos, mas também das
obrigações que pertenciam ao falecido, limitando-se, contundo, a responsabilidade
pelas dívidas ao ativo hereditário (art. 1.792,CC). Importa ressaltar que a herança será
deferida aos sucessores como bem imóvel e indivisível, sendo regulada pelas normas
relativas ao condomínio até sua partilha (art.1.791, CC).

TEMPO DE ABERTURA DA SUCESSÃO


A lei vigente ao tempo do falecimento do autor da herança regulará a legitimação para
suceder e a própria sucessão (art.1.787, CC).
Ora, em caso de falecimento sem possibilidade de fixação do momento exato das
mortes, o ordenamento jurídico afirma a presunção de óbito simultâneo, que acaba
por elidir a possibilidade de transmissão de direitos e obrigações entre os falecidos e,
consequentemente, determina a abertura de cadeias sucessórias distintas.

LUGAR DE ABERTURA DA SUCESSÃO


A abertura da sucessão ocorre no último domicílio do falecido (art. 1.785, CC), ainda
que o óbito tenha se verificado em outro local e os seus bens se encontrem em
localidade diversa.
O lugar de abertura da sucessão é importante para a fixação do juízo competente em
diversas questões relativas à sucessão, entre elas o inventário. Se o falecido tinha
vários domicílios, o inventário poderá ser iniciado em qualquer deles, determinando-se
a competência do juízo por prevenção. Se o falecido tinha domicílio incerto, o foro
competente para o inventário será; o foro da situação dos bens imóveis; havendo bens
imóveis em foros diferentes, qualquer destes ; não havendo bens imóveis, o foro do
local de qualquer dos bens do espólio (art.48,CPC).

DESTINATÁRIOS DA SUCESSÃO E OS EXCLUÍDOS


Geralmente, os sucessores de pessoa falecida são conhecidos como herdeiros,
independentemente dos seus títulos hereditários. Como se verá, entretanto,
linguagem técnica restrita, podem ser qualificados como herdeiros ou legatários. Por
sua vez, os herdeiros são classificados como legítimos ou testamentários, existindo
entre aqueles, ainda, os necessários e os facultativos.
Herdeiro é o sucessor que recebe a totalidade ou fração aritmética do patrimônio do
autor da herança, enquanto o legatário é o sucessor que recebe objetos singularmente
considerados.
O legatário sucede a título singular, recebendo direitos e bens determinados, uma
porção certa da herança, enquanto o herdeiro sucede a título universal, recebendo
todo o patrimônio do falecido, ou parte abstrata deste, composto por direitos e
obrigações, créditos e dívidas, sem prévia individualização de seus elementos.
Com a morte do autor da herança, o herdeiro adquire, automaticamente, a
propriedade e a posse do patrimônio deixado pelo falecido, enquanto o legatário, em
regra, obtém apenas a propriedade dos objetivos legados, ficando a investidura na
posse dependente da entrega que lhe será realizado pelo herdeiro.
O herdeiro responde pelas dívidas deixado pelo falecido, respeitando-se, entretanto,
os limites do ativo hereditário, enquanto ao legatário não se atribui responsabilidade
pelas referidas dívidas.
O herdeiro pode ser designado por lei ou por testamento. E o legatário pode sê-lo
apenas por ato do testador. Assim, na sucessão legítima encontraremos somente
herdeiros, enquanto na sucessão testamentária poderemos nos deparar com herdeiros
e legatários, inclusive em concorrência.
Os herdeiros necessários são aqueles que não podem, salvo por motivo justo, ser
excluídos da sucessão por vontade do testador, pertencendo-lhes, de pleno direito,
metade do acervo hereditário. São herdeiros necessários os descendentes, os
ascendentes, o cônjuge e parece-nos, também, o companheiro. Por sua vez, os
herdeiros facultativos são aqueles que podem ser excluídos da sucessão,
independentemente de motivo justo, por vontade do testador, bastando que este
disponha de todo o seu patrimônio sem o contemplar. Os herdeiros facultativos são os
colaterais.
Na sucessão legítima, apenas pessoas físicas, incluindo os nascituros, poderão ser
considerados herdeiros. Na sucessão testamentária, também as pessoas jurídicas
poderão ser incluídas entre os sucessores, além de ser possível efetuar a reserva de
bens aos filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que
vivas estas ao tempo da abertura sucessão e às fundações que se constituirão por
determinação do testador.

INDIGNIDADE
A indignação é uma penalidade, consistente na extinção do direito hereditário,
aplicada ao sucessor que comete ato ofensivo contra o autor da herança ou seus
familiares.
Pode ser considerado indigno o herdeiro ou legatário que houver sido autor, coator ou
partícipe de homicídio doloso, ou tentado, contra o autor da herança, seu cônjuge,
companheiro, ascendente ou descendente.

O sucessor que, intencionalmente, atentar contra a vida do autor da herança ou de


seus familiares, obtendo a morte de qualquer deles, ou não, neste último caso, desde
que por circunstâncias alheais à sua vontade, enquadra-se na hipótese de indignidade.
De qualquer modo, deve restar configurado o dolo do herdeiro ou legatário, não sendo
suficiente para excluí-los da sucessão a verificação de mera culpa.

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