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Professora Taís Cecília dos Santos Lima de Clares

DIREITO DAS SUCESSÕES – PARTE GERAL

Suceder: é substituir, tomar o lugar de outrem no campo dos fenômenos jurídicos. Na


sucessão existe uma substituição do titular de um direito.

01. Em sentido amplo → sucessão inter vivos: significa o ato pelo qual uma pessoa
assume o lugar de outra numa relação jurídica substituindo-a em seus direitos e obrigações
ou na titularidade de determinados bens. Por exemplo, cessão de crédito e subrrogação
subjetiva (p. ex., fiador).

02. Em sentido estrito → sucessão causa mortis: é a transmissão de um


patrimônio em razão da morte do seu titular o qual recebe o nome de “de cujus’’. Esta
expressão é uma abreviação da frase “de cujus sucessione (ou hereditatis) agitur’’ que significa
aquele de cuja sucessão se trata, ou seja, o morto. Transferem-se os direitos e obrigações do
de cujus para seus herdeiros e legatários. É neste sentido que o vocábulo sucessões é
entendido dentro do Direito das Sucessões e este será, portanto, o nosso estudo.

Fontes ou origens do direito sucessório:

01. Testamento: A sucessão testamentária é aquela que decorre de um ato de


disposição de última vontade do autor da herança (testamento ou codicilo, quando for para
pequenas coisas).

02.Lei: A sucessão legal ou legítima é aquela que decorre da lei quando o de cujus
falece sem deixar testamento ou quando este for parcial, nulo ou ineficaz. A lei determina
uma ordem de sucessores a ser estabelecida no caso de o falecido não ter deixado
testamento, ou quando este não puder sem cumprido.

Fundamento das sucessões:

É o direito de propriedade, porque em razão da possibilidade de perpetuar sua


fortuna o homem se vê estimulado a aumentá-la e conservá-la. Se assim não fosse, ao final de
sua vida, a pessoa dilapidaria seu patrimônio ou faria uma doação simulada aos seus
herdeiros.

Distinção entre sucessão e herança:

Sucessão se refere ao ato de suceder, que pode ocorrer por ato ou fato entre vivos
ou por causa da morte.

Herança é o conjunto de direitos e obrigações que se transmitem, em razão da


morte, a uma pessoa ou a um conjunto de pessoas, que sobreviveram ao falecido. O
patrimônio transmissível, portanto, contém bens materiais e imateriais, desde que sejam
coisas avaliáveis economicamente. Os direitos e deveres meramente pessoais, como a tutela,
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a curatela, o cargo público, extinguem-se com a morte, assim como os direitos


personalíssimos.

A figura do espólio:

É um ente despersonalizado, composto pelo conjunto de direitos e deveres pertencentes à


pessoa falecida.

O espólio é visto como uma simples massa patrimonial que permanece coesa até a atribuição
dos quinhões hereditários aos herdeiros. O termo é usado sob o prisma processual, sendo o
inventariante quem o representa em juízo (art. 75, VII, e art. 618, I, ambos do NCPC).

Por outras palavras, é o conjunto de bens que integra o patrimônio deixado pelo "de cujus" e
que será partilhado no inventário. O espólio responde por todas as dívidas do falecido.

Conteúdo do direito das sucessões, segundo o Código Civil:

• Sucessões em geral
• Sucessão legítima
• Sucessão testamentária
• Inventário e partilha

Espécies de Sucessão

a título universal: cada herdeiro recebe um percentual


da universalidade dos bens
01. Sucessão Testamentária:

a título singular: o beneficiário (legatário) recebe coisa


certa, determinada, chamada de legado

A sucessão testamentária tem prioridade, ou seja, primeiro deve-se analisar se há testamento


e se o mesmo pode ser cumprido e, apenas se o testamento não existir ou não puder ser
cumprido, serão seguidas as regras da sucessão legítima.

Na sucessão a título universal, cada herdeiro recebe um percentual da universalidade de bens.


Isso acontece, por exemplo, quando o de cujus escreve no seu testamento que 20% de seu
patrimônio ficará para João e 80% ficará para Maria, ou quando ele escreve simplesmente
‘’deixo meus bens para João e Maria (presumindo-se a proporção de 50%)’’.

Se o testador determina quais bens serão recebidos e por quais pessoas teremos então uma
sucessão a título singular. Por exemplo: deixo três casas para João e todo o dinheiro que está
na conta para a Maria.

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Quando se fala em sucessão a título universal, fala-se em herdeiros (testamentários ou


legítimos) e eles recebem uma herança.

Quando se fala em sucessão a título singular, fala-se em legatário e eles recebem um legado.

02. Sucessão Legítima: sempre a título universal porque é transmitida a totalidade de um


patrimônio (direitos e obrigações).

A maioria das sucessões no Brasil são sucessões que decorrem da lei, porque não há o costume
de fazer testamento.

03. Sucessão Contratual:

Não é admitida pelo nosso ordenamento jurídico, segundo o art. 426, do CC. Ela recebe o
nome de ‘’pacta corvina’’.

A lei admite que antes de morrer a pessoa faça doações com cláusula de usufruto, de modo
a, por exemplo, dividir seus bens por entre seus filhos. Contudo, após a morte do de cujus é
possível trazer os bens à colação se um ou mais herdeiros forem prejudicados na sua legítima.

Admite-se, também, o planejamento sucessório, especialmente na área de direito


empresarial, por exemplo, a constituição de uma holding cujas ações serão divididas entre os
herdeiros, holding esta que será dona de todas as empresas e receberá os dividendos de todas
elas partilhando-os entre os herdeiros.

04. Sucessão Irregular ou Anômala: são situações excepcionais regidas por normas
específicas.

Exemplo 1: Enfiteuses (aforamento). A Enfiteuse é um direito real perpétuo previsto em contrato


por meio do qual o proprietário atribui a outrem o domínio útil de imóvel, contra o pagamento de
uma pensão anual certa e invariável. As enfiteuses seguem as regras dos direitos reais e não do
direito sucessório. Quando morre um titular de uma enfiteuse, isso não passa, necessariamente, aos
herdeiros dele. É preciso observar, no contrato, quem é o sucessor de direito.

Exemplo 2: Direitos Autorais. Se a pessoa morre sem deixar herdeiros, estes direitos não vão para o
Estado, mas caem em domínio público (art. 45, I, da Lei nº. 9.610/1998).

Exemplo 3: Seguro de vida. O seguro de vida é entregue ao beneficiário e, não necessariamente, ao


herdeiro.

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FACULTATIVOS
Espécies de Sucessores:

1. Herdeiros LEGÍTIMOS NECESSÁRIOS

TESTAMENTÁRIOS

2. Legatários: SEMPRE A TÍTULO SINGULAR, NOMEADOS EM TESTAMENTO

Herdeiros recebem a título universal e legatários a título singular. Só é possível existir legatário se
houver testamento. Herdeiro pode ser instituído em testamento (chamado herdeiro testamentário)
ou previsto em lei (chamado de herdeiro legítimo). Pode haver uma coexistência de herdeiro e
legatário.

Herdeiros necessários: Os herdeiros necessários estão previstos no artigo 1.845 do Código


Civil. São eles: ascendente, descendente e cônjuge. Os herdeiros necessários têm direito a uma
parte mínima da herança, que se chama legítima e é composta pela metade dos bens deixados pelo
de cujus. A legítima é calculada na forma do art. 1.847, do Código Civil.

Os herdeiros necessários só podem ser excluídos da herança excepcionalmente (indignidade ou


deserdação – hipóteses taxativas, previstas em lei).

Pertence aos herdeiros


necessários: ascendentes,
50% LEGÍTIMA
descendentes e cônjuge

50% DISPONÍVEL

Pode ser doada em BENS DO DE CUJUS


testamento para
quem o de cujus
quiser

Ler os arts.1.789; 1.845 e 1.846 do CC

Herdeiros facultativos: Já os herdeiros facultativos são os colaterais e eles podem ser


afastados da sucessão através de testamento. Se não forem afastados, poderão herdar os
colaterais até o quarto grau (art. 1.829, 1.839 e 1.850 do Código Civil).

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Uma metade da herança se chama legítima e a outra se chama ‘’metade disponível’’. O


testador, se tiver herdeiros necessários, precisa deixar a legítima para estes, mas pode doar
em testamento a metade disponível para quem ele quiser, inclusive para um dos herdeiros
necessários de forma a beneficiá-lo (art. 1.849, CC).

Os herdeiros facultativos não têm direito à legítima.

Abertura da Sucessão

Abre-se a sucessão com a morte do de cujus.

A sucessão se abre um segundo após a ausência de respiração. Não confundir com a


aberturado inventário.

Morte real: atestado de óbito.

Morte presumida: Por ser:

a- com decretação de ausência (saiu para comprar pão e sumiu). O ausente é uma
situação excepcional no sistema sucessório, porque a lei admite a abertura da sucessão
provisória e, posteriormente, a sucessão definitiva. A morte do ausente só é presumida
quando a lei autorizar a abertura da sucessão definitiva (arts. 6 e 26 e ss. do Código
Civil).
b- sem decretação de ausência (cai avião e some o corpo no mar). Nestes casos abre-se
um procedimento e quando se esgotarem as buscas, o juiz dá uma declaração de
morte presumida que substitui o atestado de óbito.

OBS: Comoriência (art. 8º do Código Civil). Aqui, um não herda do outro. Morte simultânea é
a comoriência. Se o pai, por exemplo, iria deixar bens para o filho, não deixa. E se o filho
poderia deixar bens para o pai, este não herda. Isto acontece porque ambos faleceram juntos,
ao mesmo tempo.

A partir do momento em que se abre a sucessão a herança é transmitida. Isso se chama


Princípio da Saisine (1.784, CC). É o princípio segundo o qual a morte do de cujus transmite
aos sucessores a propriedade e a posse dos bens da herança. Por outras palavras, os herdeiros
passam a serem donos e possuidores da herança.

A transmissão da herança é automática, mas os herdeiros precisam aceitar a herança. Tal


aceitação é apenas confirmatória (1.804, CC) e é formalizada dentro do inventário. Só o fato
de propor o inventário já significa que está aceitando a herança. O inventário é só uma
formalidade, porque desde o último suspiro do de cujus, os herdeiros já são donos.

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Transmissão da herança:

A herança é transmitida como um todo unitário e permanecerá indivisível até a partilha. O


sucessor universal continua de direito à posse do seu antecessor, o que permite, por exemplo,
a propositura de ações possessórias. Já o legatário tem a faculdade de unir sua posse a de seu
antecessor (art. 1.206 e 1.207 do Código Civil). O Princípio da Saisine só se aplica aos
herdeiros (legítimos ou testamentários) e não aos legatários, pois estes adquirem a
propriedade da coisa infungível com a abertura da sucessão e da coisa fungível com a
partilha, mas a posse precisa ser requerida aos herdeiros, que só são obrigados a dá-la após
a partilha e a solvência do espólio.

O principal efeito da abertura da sucessão é esse: transmissão da posse.

Na data da morte, que é quando abre sucessão, calcula-se a legítima. A legítima é a metade
dos bens que o de cujus possui na data da abertura da sucessão, abatidas as dívidas e despesas
do funeral, adicionando-se os bens a título de colação (por exemplo, quando o de cujus
adiantou bens para um dos filhos, este filho que já havia recebido antes da morte, deverá
receber menos que os outros na data da morte, para que todos recebam na mesma
proporção)

ABERTURA DA SUCESSÃO = MORTE → TEM-SE A LEGÍTIMA

LEGÍTIMA = BENS – (DÍVIDAS + DESPESAS FUNERAL) + BENS A TÍTULO DE COLAÇÃO

Lugar da abertura da sucessão: art. 1.785, CC; art. 48 NCPC. Onde o de cujus morava quando
morreu é onde deverá ser aberto o inventário. Tendo mais de um domicílio, poderá ser em
qualquer um deles.

Lei que rege a abertura da sucessão: art. 1.787, CC.

DA HERANÇA E SUA ADMINISTRAÇÃO

Conceitos:

Herança é o patrimônio do de cujus, que inclui bens, direito e obrigações.

Acervo hereditário é o conjunto de bens da herança (são só os bens);

Espólio é a herança, processualmente falando. É um ente sem personalidade jurídica, mas com
personalidade judiciária ou legitimidade ad causam, representada pelo inventariante.
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Conteúdo: a herança contém apenas os direitos de natureza patrimonial, excluídos os direitos


de caráter personalíssimo, tais como pensões alimentícias e previdenciárias, usufruto,
habitação etc.

Características: segundo o art. 1.791, CC, a herança é uma universalidade de direito


(universitas iuris) e ela será indivisível até a partilha, aplicando-se a ela as mesmas regras do
condomínio. Como consequência, qualquer herdeiro pode litigar em juízo sozinho sobre toda
herança (substituição processual ou legitimação extraordinária).

A herança é considerada um bem imóvel, por força do art. 80, inciso II, do Código Civil;
consequentemente, é exigida escritura pública e outorga uxória (autorização da esposa) ou
autorização marital (autorização do marido) para a cessão de direitos hereditários (exceto
no regime da separação obrigatória de bens – art. 1.647, CC).

Cessão de Direitos Hereditários:

Admite-se a cessão dos direitos hereditários na forma da cota (= quinhão) a que o herdeiro
tem direito, mas não é possível ceder um bem específico da herança antes da partilha. A
cessão de direitos hereditários é um ato translativo inter vivos, que pode ser feita de forma
gratuita (doação) ou onerosa (venda).

A cessão pode abranger a totalidade da herança, se o cedente é o único herdeiro ou parte


dela, se forem vários herdeiros. Pode, ainda, abranger todo quinhão (quanto irá receber) do
herdeiro ou parte dele.

Se o herdeiro tiver credores, estes podem penhorar o quinhão do herdeiro dentro do


inventário. E os credores têm legitimidade para abrir inventário para poder penhorar os
créditos.

O co-herdeiro tem direito de preferência na aquisição dos direitos hereditários (art. 1.794 e
1.795, CC). A herança se rege pelas regras do condomínio.

Responsabilidade dos Herdeiros (art. 1.792): se o falecido deixar dívidas e elas superarem o
valor dos bens deixados na herança, o herdeiro não tem de dar sua renda para pagar a dívida
do falecido. E se o morto morre sem deixar bens e deixa um monte de dívidas? Os credores
podem cobrar, mas pra isso existe um remédio não previsto na lei e que chama inventário
negativo.

Inventário negativo: é o procedimento por meio do qual se prova que o falecido não deixou
bens, embora tenha deixado dívidas. Forma-se, então, um documento que poderá ser
apresentado aos credores do falecido, eximindo a responsabilidade do herdeiro.

Vamos imaginar, agora, que o pai tenha deixado bens. Deve se fazer uma lista das dívidas e
pagá-las. Mas e se forem superiores aos bens? Nesse caso, pelo fato do de cujus ter deixado
bens, mas estes não serem suficientes para o pagamento das dívidas, formar-se-á um

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concurso de credores regido pelas regras de preferências e privilégios creditórios ao qual se


aplicará as regras dos arts. 748 e ss. do antigo Código de Processo Civil; e arts. 618, inc. VIII e
1052 do NCPC.

Abertura do inventário

Prazo para abrir o inventário: temos o art. 1.796 do Código Civil (30 dias); Art. 983 do Código
de Processo Civil (60 dias) e art. 611 do NCPC (2 meses); Lei Estadual 10.705/2000 – arts. 17,
19, 20, 21, (60 dias – para abrir o inventário).

A sanção está na lei estadual: multa no ITCMD - imposto incide sobre a transmissão de bens -
(4% do valor dos bens), que é o imposto pago quando morre alguém. Se pagar o ITCMD em
até 90 dias da data do óbito, tem desconto do pagamento; se pagar entre 90 e 180 dias do
óbito paga o valor normal; se passar de 180 dias paga-se multa de 0,33% até 20%. Essa data é
para PAGAR e não dar entrada no inventário, mas para pagar é necessário abrir, pois precisa
colocar as informações acerca do processo de inventário.

Se não for feita a abertura do inventário dentro do prazo, terá multa. Se atrasar o pagamento
do imposto, terá a segunda multa, ou seja, são duas multas que podem incidir no ITCMD.

Inventariante

Exerce um munus publico, ou seja, uma espécie de encargo público sujeito a fiscalização
judicial. A função dele é administrar os bens do espólio e ser representante legal deste.
Portanto, o inventariante é quem tem a maior responsabilidade pelos bens deixados pelo
morto como, prestar contar, gerenciar aluguéis, entrar com ação em caso de invasão etc, e
isso porque ele também tem interesse por ser herdeiro. Se ele não cumpre seu encargo, pode
ser responsabilizado pessoalmente, respondendo com seus bens pelo prejuízo.

O 617 do NCPC estabelece uma ordem para nomeação do inventariante, ordem esta que só
poderá ser alterada pelo juiz se houver motivo relevante.

Só podem ser inventariantes as pessoas capazes e que não tenham interesses contrários aos
do espólio.

O inventariante deve apresentar, no processo de inventário, uma prestação de contas, se


necessário. O inventariante pode ter de utilizar o dinheiro da herança para manter os bens
que a compõem. Se ele usar seu próprio dinheiro terá um crédito a receber dos bens do
inventário.

O inventariante presta um compromisso de bem exercer suas incumbências. As quais estão


no art. 618 do novo CPC. Depois de prestado o compromisso as declarações do inventariante

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se presumem verdadeiras; se houver falsidade ou ocultação de bens, o inventariante


responderá por sonegação e até apropriação indébita. O advogado pode assinar esse
compromisso, desde que haja poderes específicos em sua procuração para isso (art. 105 do
NCPC).

Administrador provisório (art. 1.797, CC): É a pessoa que cuida dos bens da herança até que
o inventariante preste seu compromisso. Ele tem direitos e deveres previstos no art. 614 do
NCPC. Nem sempre é necessário nomear administrador provisório.

LEGITIMAÇÃO PARA SUCEDER


A – QUEM TEM LEGITIMAÇÃO

Regra: art. 1.798, CC

Em regra, só são legitimados a suceder aqueles que possuem personalidade civil.

Pessoa natural: só sucedem, em regra, pessoas nascidas ou já concebidas.

Exceção: nascituro. O nascituro é protegido pelo art. 2, do Código Civil, então se ele já tiver
sido concebido, aguarda-se o seu nascimento. E se ele nascer vivo, herdará os bens. Se nascer
morto, sua quota será devolvida aos herdeiros legítimos ou ao sucessor/substituto
testamentário.

Não basta que a pessoa tenha nascido, é preciso que ela esteja viva e sobreviva ao de cujus.
Isso recebe o nome de princípio da coexistência.

Pessoa jurídica: herdam as pessoas jurídicas já existentes na data da abertura da


sucessão, mas isso só é possível por meio de testamento (art. 1799, II, CC).

Exceções (hipóteses específicas para testamento):

01. Prole eventual (art. 1.799, I e art. 1.800, CC): contemplação testamentária em
favor de filhos que vierem a ser gerados por pessoa determinada. Prazo máximo de dois anos
de espera para a concepção, contados da abertura da sucessão. Os bens destinados a essa
prole ficarão a cargo de um curador.

Por exemplo, quer deixar bens para o filho da minha neta Maria. Quando morro, Maria tem
17 anos. Mas aí, terá dois anos para engravidar, se não, não herdará. Questões: Maria pode
fazer inseminação artificial? O Código é omisso. E se o testador colocar que deverá ser filho
de Maria e João, mas ele é estéril, pode pegar esperma de outra pessoa? E se ela tiver

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problema com útero? Não pode adotar ou ter uma barriga de aluguel? Pode pegar óvulo da
irmã? A CF igualou os filhos biológicos e adotivos... E se Maria tiver outro filho? Só o primeiro
será beneficiado, ou o segundo não?

O fato é: prole eventual está prevista e então, se Maria engravida naturalmente, enquanto
isso existem bens para serem administrados. Diz o 1.800, CC, que tem um curador especial
que cuidará dos bens por um tempo. Maria será a curadora. É parecido com o curador do
incapaz. Não tem liberdade total, pois tem de ter autorização do juiz para vender, prestar
contas de tempo em tempo etc.

02. Pessoas jurídicas a serem criada pela vontade do testador (art. 1.799, III, CC). Por
exemplo: fundações. Fundações – arts. 62 e seguintes do CC – podem ser instituídas por
escritura pública ou por testamento. Posso deixar, por exemplo, 30% dos meus bens para uma
fundação de amparo ao idoso.

Observação: o art. 1.597, incisos III e IV, admite como filho do de cujus a criança gerada com
o material genético do de cujus, mesmo que ela tenha sido gerada após a morte deste. Se os
direitos sucessórios dos filhos na sucessão legítima são iguais, então esta criança também
deveria participar da sucessão do de cujus e, assim, a regra do art. 1.798 do Código Civil não
seria adequada. Esta criança não era viva quando o de cujus faleceu nem era prole eventual;
o Direito de Família se preocupou com o fato de esta criança nascer sem pai, mas e os direitos
sucessórios? Essa questão não está resolvida.

B – QUEM NÃO TEM LEGITIMAÇÃO

Não podem ser herdeiros nem legatários, as pessoas nomeadas no art. 1.801, CC.

Observação: Concubinato. Art. 1.727, 1.802 e 1.803, CC. Pode doar para seu próprio filho,
ainda que filho da amante.

ACEITAÇÃO DA HERANÇA

1- Conceito: É o ato pelo qual o herdeiro confirma a transmissão da herança ocorrida por lei
no momento da abertura da sucessão (art. 1.804, CC).

2- Espécies de aceitação:

Quanto ao modo:

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a- Expressa: É feita por escrito, nos termos do art. 1.805, caput, primeira parte do CC;
b- Tácita: É a que decorre da prática de atos próprios da qualidade de herdeiro (art. 1.805,
caput, segunda parte, do CC;
c- Presumida: É a que decorre do silêncio do herdeiro quando provocado por qualquer
interessado (art. 1.807, CC).

A aceitação tácita é a mais comum (atos próprios da qualidade de herdeiro: contratar


advogado, abrir o inventário etc).

Quanto à titularidade do direito de manifestação:

a- Direta: É o próprio herdeiro que se manifesta, em regra; mas ele pode se fazer
representar por um procurador com poderes especiais.
b- Indireta: Ocorre quando a legitimidade para aceitar pertence a um terceiro:

1ª hipótese: aceitação pelo tutor ou curador do herdeiro incapaz, mediante autorização


judicial (art. 1.748, inciso II; art. 1.781, do CC – esses artigos estão na parte de direito de
família. No primeiro, quem manifesta a aceitação é o tutor, porque o tutelado é menor e o
mesmo ocorre no caso da curatela. Os atos de renúncia em favor dessas pessoas, geralmente
não são admitidos em juízo, pois a renúncia é prejudicial ao tutelado ou curatelado).

2ª hipótese: aceitação da herança pelos credores (art. 1.813, CC). Ocorre quando o herdeiro
renuncia a herança com a intenção de fraudar os credores. Por exemplo, o devedor deve mais
do que tem, mas a sua mãe ou pai tem condição e um deles morre, deixando patrimônio. Aqui,
os credores vão atrás dele para cobrar a dívida, então ele renuncia à herança e dá para a irmã,
a fim de evitar que fique sem e isso caracteriza fraude (ato gratuito) contra credor. Se ele
tivesse bens para saldar credores, ele poderia renunciar e não caracterizaria fraude aos
credores. Os credores, então, aceitam a herança em nome dele até os limites de seus créditos.
O que sobra, por ter renunciado, ficará para a irmã dele.

3ª hipótese: aceitação pelos sucessores (art. 1.809, CC). Por exemplo, morre o avô e quem
aceitaria a herança? O filho. No dia seguinte, o filho morre e, então, não deu tempo de
manifestar ato de aceitação, logo, os netos é quem irão aceitar essa herança em nome do pai.

Avó morreu → deixa patrimônio → pai morre → deixa segunda leva de patrimônio (avô + pai)
→ os netos precisam aceitar a herança do pai, que engloba o que era do avô.

3- Características da aceitação:

A- Unilateral

B- Não receptícia: gera efeitos, independentemente de ser comunicada a alguém.

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C- Incondicional: a aceitação da herança não pode estar submetida a uma condição ou a um


termo (art. 1.808, caput, CC). Não pode colocar uma condição: ‘’aceito se minha irmã me
deixar com a casa na praia’’ ou, ‘’aceito se o inventário sair até 15 de maio’’.

D- Indivisível: não se admite aceitação ou renuncia parcial, exceto nas hipóteses previstas nos
parágrafos do art. 1.808 do Código Civil.

Ex: meu avô deixa parte em testamento e o meu pai morreu, então posso aceitar a parte do
avô e renunciar à do meu pai. Mas dentro do mesmo legado ou herança, ou aceita tudo, ou
não aceita.

E- Irretratável: Art. 1.812, Código Civil: os atos de aceitação e renúncia são irrevogáveis. O CC
de 1916 permitia a revogação.

4- Anulação da aceitação: ocorre quando, depois de manifestada a aceitação, descobre-se


que o aceitante não era o herdeiro. Neste caso, devolve-se a herança a aquele que tem direito
a ela; mas se o inventário já tiver terminado e a partilha homologada será necessária ação de
petição de herança. Ex: Uma pessoa morre num salto de paraquedas. Não era casado, não
tinha filho. Quem herdará? A mãe e o pai, que aceitam e pegam a herança. Posteriormente,
aparece uma mulher dizendo ter um filho dele e comprova-se que é, então anula-se a
aceitação. Se descoberto enquanto inventário estiver rolando comprova-se qualidade de
herdeiro e a criança recebe a herança. Se não, será necessário entrar com ação de petição de
herança que prescreve em 10 anos.

RENÚNCIA À HERANÇA
1- Conceito: é o ato pelo qual o herdeiro abre mão de sua qualidade (parágrafo único, do art.
1.804, Código Civil).

2- Espécies de renúncia:

a- Própria ou abdicativa: o renunciante abre mão da herança antes de aceitá-la. Neste


caso, incide apenas ITCMD.
b- Imprópria, translativa, translatícia ou in favorem: Ocorre quando o renunciante
beneficia pessoa certa. Neste caso, entende-se que houve aceitação (incide ITCMD) e,
em seguida, cessão (incide ITBI).

Ex: Imagina-se que uma mãe morre e deixa três filhos, sem netos. Um não quer receber a
herança e renuncia. Se fizer renúncia própria, a parte dele acresce ao monte mor. Agora, se
ele fizer uma renúncia translativa, e isso significa que sua parte seja dada para uma irmã
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específica e não para o monte mor. Neste caso, entende-se que o herdeiro renunciante recebe
causa mortis e transmite inter vivos para a irmã, então são pagos dois impostos.

3- Características da renúncia:

A- Unilateral: O ato de renunciar é unilateral, não dependendo de outra parte interagindo;

B- Não receptícia: renúncia não precisa ser dada ao conhecimento de ninguém para valer;

C- Indivisível: do mesmo jeito que a aceitação, não pode renunciar um pedaço e aceitar o
outro;

D- Incondicional: Não pode renunciar sob condição. Ou renuncia, ou não;

E- Irretratável: Uma vez renunciada, renunciada está;

F- Formal ou solene (característica que difere da aceitação): A renúncia só pode ser feita por
escritura pública ou por termo nos autos do inventário (art. 1.806, CC).

Ex: o herdeiro pode até falar numa festa de família que vai renunciar, e alguém pode até ter
gravado, mas aquela renúncia não vale, exceto se ele aparecer em frente ao juiz e renunciar,
ou se for ao tabelião e fizer escritura pública renunciando a herança.

4- Efeitos da Renúncia:

O renunciante é considerado como se nunca tivesse existido. Consequência: arts. 1.810 e


1.811 do Código Civil.

Se renuncia é como se não tivesse existido, portanto, os descendentes não receberão


também. Isso só não ocorrerá, segundo o art. 1.810, segunda parte, do Código Civil,s e ele for
o único herdeiro daquela classe.

Ex: Imagine-se que uma avó que morre e deixa um filho e três netos. Se o filho renuncia, a
herança desce diretamente para os netos, porque o filho era o único da classe ‘’filhos’’.

O art. 1.811, CC, diz que três filhos não sucedem por representação. Por outras palavras, diz
que quem renuncia, a sua quota vai para os demais herdeiros da mesma classe e se houverem
filhos, estes não herdarão (do que renunciou).

Ex: uma avó tem três filhas e duas netas. Imaginemos que, ao invés de renunciar, uma das
filhas fosse pré-morta, ou seja, já havia morrido quando a avó morreu. Nesta hipótese, a

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herança desta filha pré-morta é dividida entre as netas. As netas herdam representando a
mãe pré-morta.

Um caso: um avô morre e tem três filhos. Se um renuncia, a quota vai para os outros. Se dois
renunciam, a quota vai para o último que sobrou. E se o terceiro renunciar? O código diz que,
se todos renunciarem, herdam os da próxima classe por direito próprio OU por cabeça
(sinônimos) e não por representação. Direito próprio significa que cada um herdará uma cota
parte do total. Isso está no artigo 1.811, segunda parte, Código Civil.

Sucessão por direito de representação: O herdeiro por direito de representação é chamado a


suceder em lugar de parente mais próximo do autor da herança, porém pré-morto, ausente ou
incapaz de suceder. A representação é restrita à sucessão legítima, não se aplicando a
testamentária. Ex: Antônio falece deixando bens e dois filhos - Bruno e Carlos. Se Carlos é falecido e
deixou filhos, ou seja, netos de Antônio, serão eles chamados a suceder por representação, vão
herdar o quinhão que caberia a seu pai, pré- falecido, repartido por igual entre eles.

Sucessão por direito próprio: Quando o herdeiro participa da herança de modo direto, Ex: o filho, o
pai, atualmente também o cônjuge, e até os herdeiros colaterais, é chamado de herdeiro por direito
próprio.

Sucessão testamentária: Até agora era a sucessão legítima, que decorre da lei e não precisa
de testamento. Se a renúncia ocorrer no testamento, havendo um substituto previsto no
testamento, a quota renunciante vai para ele. Por exemplo, uma pessoa morre e deixa para
A, B e C e um deles renunciando, o dinheiro vai para o substituto que pode ser D. Não havendo
substituto, a quota renunciante vai para os demais herdeiros testamentários, salvo se
determinada a quota de cada um deles (por exemplo: “José herdará 33% dos meus bens”,
então José não pode receber mais do que isso, não pode receber quota de herdeiro
renunciante), caso em que a quota do renunciante irá para os herdeiros legítimos. (direito de
acrescer – arts. 1941 e ss. do CC)

5- Restrições legais ao direito de renunciar:

a) O renunciante deve ser plenamente capaz → pode o tutor renunciar a herança do tutelado?
Não, pois é perda patrimonial para o incapaz;

b) É preciso anuência do cônjuge se o renunciante for casado, exceto se o regime de bens for
de separação absoluta de bens (art. 1.647, inciso I, Código Civil), ou no regime de participação
final nos aquestos, com cláusula de livre disposição dos bens imóveis particulares (art. 1.656,
CC), porque o direito à sucessão aberta é considerado um bem imóvel (art. 80, inciso II, CC).

c) A renuncia não pode prejudicar terceiros (credores).

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6- Ineficácia e invalidade da renúncia:

A ineficácia da renuncia pode ocorrer pela suspensão temporária dos seus efeitos pelo juiz,
a pedido dos credores prejudicados (art. 1.813, CC).

Renúncia ineficaz é a que é feita, mas não tem eficácia e na prática não produz seus efeitos.
Se fizer renúncia prejudicando credores, ela não gerará efeitos e a quota renunciada não irá
para os outros herdeiros e, sim, para os credores.

A invalidade absoluta ocorre se a renúncia não obedecer à forma legal, ou se for feita por
absolutamente incapaz sem representante e sem autorização judicial..

A invalidade relativa da renúncia pode ocorrer pelos vícios do consentimento ou quando


realizada sem autorização do cônjuge. Ou seja, é a anulabilidade e, nesse caso, se passar prazo
para reclamar vício, ele convalescerá.

Excluídos da sucessão: INDIGNOS E DESERDADOS

1. INDIGNIDADE

1.1. Conceito e Hipóteses: é a pena civil aplicada ao sucessor que praticar um dos atos
descritos no art. 1.814, Código Civil. O rol deste artigo é taxativo.

Inciso I →Homicídio doloso: autor, coautor e partícipe. Se o sucessor da herança for


condenado pelo crime de participação ao suicídio, sua conduta poderá equiparar-se a do
homicida para fins de indignidade.

Se o herdeiro for condenado criminalmente essa sentença faz coisa julgada no cível. Mas se
ele for absolvido pela inexistência do fato ou por não ser ele o autor do crime ou pelo
reconhecimento de uma excludente de ilicitude, ele não poderá ser condenado por
indignidade civil (art. 935, CC).

Inciso II → A primeira hipótese trata de denunciação caluniosa (art. 339, CP) e a jurisprudência
entende que, para denunciação gerar efeitos sucessórios, ela deve ter sido praticada em juízo
criminal.

NÃO HÁ NECESSIDADE DE CONDENAÇÃO CRIMINAL. Se a infração penal tiver realmente sido


cometida pelo de cujus, não há que se falar em indignidade do denunciante. Segundo a
doutrina, este inciso é mal redigido: devemos interpretar que a indignidade ocorre tanto nos
crimes contra a honra, quanto nos crimes de denunciação caluniosa praticados contra o de
cujus, seu cônjuge ou companheiro. Também não se exige condenação criminal para os crimes
contra a honra. O crime contra honra pode ter sido praticado após a morte do de cujus.

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O inciso dá impressão que não pode oferecer denuncia caluniosa contra herdeiro ou contra
cônjuge ou companheiro, mas na realidade é não denunciar caluniosamente, nem cometer
crime contra honra.

Inciso III → Por violência ou meios fraudulentos. É a situação do herdeiro que tenta ludibriar
o falecido para que ele não faça o testamento ou para que faça conforme essa pessoa que
está ludibriando quer. O código fala da violência, que é uma ação física e a fraude é psicológica.

Exemplos: herdeiro que obriga o de cujus a testar; herdeiro que impede o de cujus de revogar
testamento anterior; herdeiro que suprime ou inutiliza testamento cerrado ou particular;
herdeiro que falsifica testamento etc.

Esses exemplos são fáceis encontrar nos livros, então, a situação do herdeiro que forja um
testamento ou ilude a cabeça do testador para que ele não faça o testamento e isso é difícil
de provar, mas isso se enquadraria no inciso. Como provar que a pessoa está induzindo a
pessoa a erro? Por exemplo, só se tiver um funcionário que trabalha na casa e vê a situação.

1.2. Legitimidade ativa: qualquer interessado economicamente pode pedir a exclusão do


indigno propondo ação de indignidade. Exemplo: herdeiros, legatários e munícipio. É preciso
que o interessado proponha uma ação.

A dúvida é com relação aos credores, porque já vimos que eles têm legitimidade para abrir
inventário e, inclusive, aceitar a herança. E nesse caso? Tudo bem que tem questão
patrimonial, mas na questão da indignidade é questão pessoal, pois quem é indigno pode ser
perdoado. A maioria da doutrina entende que o credor não tem legitimidade para pedir a
indignidade de alguém, porque se trata de um assunto de natureza íntima e privada. Essa ação
é personalíssima.

Por exemplo, a Suzane se excluída por indignidade, não iria para o irmão, iria para os filhos
dela. É tido como se tivesse morto e não como renunciado.

1.3. Legitimidade passiva: o réu é apenas o imputado, já que a culpa não se transmite. Se ele
morrer no decorrer da ação, esta se extingue e os bens passarão aos seus herdeiros.

A pena não pode ir além da pessoa do condenado. E a indignidade é uma pena civil, então
quem é condenado e perderá os bens, será o indigno.

1.4. Ação: A exclusão do indigno depende sempre de uma sentença de natureza declaratória,
de rito comum, movida no juízo cível, ainda que haja condenação criminal. Se ninguém
propuser a ação, o indigno continuará a herdar.

Será que o MP pode mover ação de indignidade? O MP moveu ação penal para condenar
Suzane pela morte dos pais. E por indignidade? O MP não entra nessa seara e isso porque é
natureza privada e o MP defende direitos indisponíveis e coletivos. Poderia defender grupos
de pessoas ou entrar em questão individual, desde que o direito fosse INDISPONÍVEL.

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1.5. Prazo: 4 anos contados da abertura da sucessão (art. 1.815, CC). Prazo decadencial.

1.6. Reabilitação ou perdão do indigno: art. 1.818 do CC. O autor da herança pode perdoar o
indigno de duas formas:

01. De forma expressa, em testamento, ou outro documento autêntico. Imagine-se


que a mãe de Suzane está viva, ficou com raiva da filha, mas no fundo quer perdoar. Vai
escrever um testamento dizendo expressamente que perdoa a filha pelo ato cometido,
querendo que a filha herde. Qualquer outro ato autêntico pode ser feito também, em
qualquer hora e qualquer momento, porque é ato benéfico, mas de forma expressa.

02. De forma tácita, quando o indigno for contemplado em testamento após a ciência
da causa da indignidade. Nessa forma tácita, o de cujus não escreve expressamente e no
testamento. Tentaram mata-lo, ele sobrevive e descobre que foi o próprio filho. Após isso, ele
faz testamento beneficiando o filho, então houve perdão tácito e nem precisa escrever no
testamento que quer perdoar. Aqui, vai ter direito como se nada tivesse ocorrido.

O perdão é irretratável e ainda que o documento que o contenha seja anulado, os efeitos do
perdão podem subsistir. O perdão concedido evita que outros herdeiros excluam o indigno da
sucessão após a abertura desta.

Ex: O prazo para pedir a exclusão por indignidade é de 4 anos da abertura da sucessão, então
se o filho tenta matar a mãe trinta anos atrás e quando ela morre hoje, começam contar os
quatro anos para os herdeiros afastarem os indignos, por isso, se quer perdoar, melhor fazer
no testamento, de forma expressa, ou em outro ato autêntico, porque os herdeiros poderão
afastá-lo por indignidade.

1.7. Efeitos da decretação da indignidade:

01. O indigno é considerado como se morto fosse no momento da abertura da


sucessão; se o indigno tiver descendentes, estes herdarão a cota do indigno por
representação, caso contrário, a cota do indigno irá para o monte mor (art. 1.816, caput, do
CC).

02. O indigno não terá direito a usufruto e a administração dos bens ereptícios
pertencentes aos filhos menores. Bens ereptícios são aqueles que os herdeiros recebem por
conta da exclusão do indigno. O indigno não terá direito a suceder nos bens herdados ou sub-
rogados no caso de seus filhos morrerem (art. 1.689 e 1.816, parágrafo único). Se preciso,
nomeia um tutor específico para administrar esses bens. O indigno não herda, nem usufrui os
bens e seus filhos que herdariam morrem, então ele não herda, vai para os demais herdeiros
legítimos e, não havendo, vai para o munícipio.

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03. Os efeitos da sentença retroagem à data da abertura da sucessão. E isso significa


que o indigno terá de devolver os frutos e rendimentos dos bens da herança que ele houver
auferido (art. 1.817, parágrafo único, CC).

Validade dos atos praticados pelo herdeiro aparente: herdeiro aparente é aquele que não
sendo titular dos direitos sucessórios, é tido como legítimo proprietário da herança, em
consequência de um erro invencível e comum. Assim, o indigno pode ter recebido os bens em
partilha e os vendidos a um terceiro antes da sentença de indignidade. Neste caso, se o
terceiro estiver de boa-fé, e o negócio jurídico for oneroso, a alienação feita pelo indigno será
válida, mas caberão aos demais sucessores o direito de voltar-se contra o indigno pleiteando
indenização por esses bens (arts. 1.817, 1.827 e 1.828 do CC).

2- DESERDAÇÃO

2.1. Conceito: é o ato pelo qual o próprio autor da herança afasta o herdeiro necessário,
mediante testamento válido, nas hipóteses previstas em lei. É o próprio autor da herança
quem pune o responsável, em testamento (só ocorre na sucessão testamentária), afastando
o direito à legítima por parte dos herdeiros necessários afastados.

2.2. Causas / Motivos (arts. 1961 e 1962 CC):

Além dos motivos da indignidade (1, 2 e 3) os seguintes:

4- ofensa física (qualquer tapinha!)

5- injúria grave (atingir seriamente a sua dignidade, dirigida ao próprio testador)

6- relações ilícitas com o cônjuge ou companheiro do outro (meio Nelson Rodrigues ex:
padrasto com nora, madrasta com enteado etc)

7- abandono material do necessitado

(OBS – não tem mais: desonestidade da filha que vive em casa paterna)

2.3. Efeitos: são pessoais (iguais aos da indignidade) Ex: filhos herdam por representação

2.4. Procedimento: é preciso que haja ação própria (não basta a deserdação estar presente
no testamento). Isto serve para evitar que haja uma causa leviana de deserdação no
testamento.

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2.5. Legitimidade Ativa: Qualquer interessado na deserdação (herdeiro beneficiado,


Município etc) poderá ingressar com ação própria com o objetivo de provar a causa prevista
em testamento (art. 1965, caput, CC). Se não provar a veracidade da causa de deserdação o
deserdado continua a ser herdeiro legítimo!

2.6. Prazo: é o mesmo da ação de indignidade – 4 anos, a contar da abertura do testamento


(decadencial) – art. 1965, parágrafo único, CC.

HERANÇA JACENTE E HERANÇA VACANTE

Herança Jacente (art. 1.819 CC): ocorre quando não há na lei herdeiro certo e
determinado, ou não se sabe da existência dele, ou ainda quando a herança é repudiada.

A herança jaz enquanto não se apresentam herdeiros; para evitar o perecimento da


riqueza o Estado ordena a arrecadação dos bens que serão cuidados por um curador
livremente nomeado pelo juiz.

Natureza Jurídica da Herança Jacente: acervo de bens administrado por um curador,


sob a fiscalização do juiz, até que se habilitem os herdeiros incertos ou desconhecidos ou até
que se declare a vacância.

Este acervo de bens não tem personalidade jurídica, mas tem personalidade judiciária,
podendo estar em juízo representado pelo curador.

Hipóteses de Jacência:

a) Jacência sem testamento:

• Inexistência de herdeiros conhecidos;


• Renúncia à herança.

b) Jacência com testamento:


• Herança não aceita, não havendo substituto para herdar;
• Contemplação de prole eventual (enquanto se aguarda o nascimento)
• Herança atribuída a uma pessoa jurídica que ainda não foi criada (enquanto não se
cria).

Procedimento:

➔ Arrecadação dos bens e nomeação de curador;


➔ Publicação de editais com prazo para habilitação dos herdeiros;
➔ Julgamento da habilitação (se procedente vira inventário);

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➔ Um ano após a primeira publicação de edital, se não houver habilitação, a herança será
declarada vacante;
➔ Arts. 738 a 743 NCPC.

A declaração de vacância e seus efeitos:

A sentença que declara a vacância põe fim à imprecisão que caracteriza a jacência
estabelecendo a certeza jurídica de que o patrimônio não tem titular. Ao declarar vago o
patrimônio hereditário, a sentença de vacância devolve-o ao Estado. É neste momento que o
Estado se torna titular, e não quando da abertura da sucessão (posição majoritária) levando à
conclusão que os terceiros podem usucapir o bem enquanto ele estiver em situação de
jacência (porque ele só será um bem público após a sentença de vacância).

Observação: posições sobre a natureza jurídica da sentença de vacância.

1º. Constitutiva: o Poder Público é mero destinatário da herança e não herdeiro, por isso a
ele não se aplica o princípio da saisine.

2º. Declaratória: eficácia que retroage à data da abertura da sucessão (ex tunc).

Repercussão prática: usucapião e direito intertemporal. Por exemplo: a herança jacente ia


para a USP. Com a Lei nº 8.049/1990 passou a ir para o Munícipio. Sujeito morre em 1987,
sentença de vacância vem em 1993. Quem herda? USP (declaratória) ou Munícipio
(constitutiva)?

A sentença de vacância transfere os bens ao Poder Público, ainda que de forma


resolúvel, porque os herdeiros podem reivindicar a herança, após a sentença de vacância, por
meio de ação ordinária de petição de herança.

Apenas os colaterais perdem o direito à herança se não se habilitarem até a declaração


de vacância – art. 1.822, CC.

Bens vacantes são diferentes de bens vagos: estes são coisa alheia perdida que deve
ser devolvido ao dono por quem a encontrar(art. 1.233 e ss., CC).

AÇÃO DE PETIÇÃO DE HERANÇA

Conceito: é a ação de compete ao sucessor preterido para o fim e ser reconhecido o


seu direito sucessório e, consequentemente, obter a restituição da herança, no todo ou em
parte, de quem a possua na qualidade de herdeiro ou mesmo sem título.

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Ex: filho não reconhecido que ingressa com ação de petição de herança cumulada com
ação de investigação de paternidade; herança deferida a parentes mais afastados do falecido
e o parente mais próximo, preterido, ingressa com ação de petição de herança etc.

É comum a cumulação de ação de petição de herança com outra como a ação de


investigação de paternidade e a ação declaratória da condição de companheiro. Isto é possível
porque os pedidos são compatíveis e o rito processual também.

Enquanto o inventário está aberto e a partilha não é ultimada, o herdeiro que se julgar
preterido pode demandar sua admissão no inventário; encerrada a partilha o herdeiro
preterido terá ao seu dispor apenas a ação de petição de herança.

Natureza jurídica da ação de petição de herança: o entendimento predominante é


que se trata de ação real uma vez que a herança é considerada bem imóvel. Não é considerada
ação de estado porque, embora tenha duplo objeto (reconhecimento do direito sucessório e
a restituição dos bens hereditários), a finalidade prática principal da ação é a devolução dos
bens e, por isso, a ação de petição de herança tem natureza condenatória.

Já a ação de investigação de paternidade, por exemplo, que é pressuposto lógico da


ação de petição de herança, é ação de estado e, por isso, é imprescritível e indisponível.

Ações de estado tem caráter declaratório (ex: ação de investigação de paternidade,


reconhecimento de união estável etc).

Além de real e condenatória, a ação de petição de herança é uma ação universal; isto
porque o autor pretende a devolução do patrimônio hereditário por inteiro ou em quotas, ou
seja, o pedido não envolve a devolução de coisas destacadas, singulares e determinadas.

Partes legítimas: a legitimidade ativa pertence ao herdeiro, ao sucessor do herdeiro e


também ao cessionário da herança. O legatário não é legitimado para esta ação que é
universal. Ele tem ação própria, também reivindicatória, sob outro fundamento, para pleitear
seu direito.

A legitimidade passiva é do possuidor dos bens hereditários. Este possuidor pode ser
o pro herede que é aquele que se julga herdeiro (herdeiro aparente) ou possuidor pro
possessore que não invoca nenhum título para recusar a entrega dos bens da herança,
configurando a chamada posse do ladrão ou posse viciada (art. 1824 CC).

Além dos possuidores do bem hereditário, a ação pode ser proposta contra todos os
herdeiros do falecido.

Efeitos da sentença na ação de petição de herança: a procedência da ação de petição


de herança gera o reconhecimento da ineficácia da partilha em relação ao autor da ação,
dispensada a sua anulação porque o herdeiro autor não participou do inventário e, por isto, a

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sentença de partilha não o afeta, não produzindo coisa julgada contra quem não foi parte no
processo.

A procedência da ação de petição de herança produz os seguintes efeitos:

A- Quanto ao herdeiro aparente: se os bens estiverem em sua posse, deverá restitui-


los com todos os seus acessórios e os frutos que tiver colhido. Conforme este herdeiro
aparente esteja de boa-fé ou de má-fé seus direitos e obrigações serão diferentes, nos termos
dos arts. 1214 a 1222 do CC. A citação para a ação de petição de herança transformará a posse
de boa-fé do herdeiro aparente em posse de má-fé (art. 1826, par. único, CC).

B- Quanto ao terceiro adquirente: se ele recebeu os bens a título gratuito terá devolvê-
los ao novo herdeiro, mas se recebeu os bens a título oneroso e estava de boa-fé, não
precisará restituí-los e o herdeiro aparente responderá perante o autor da ação de petição de
herança pelo valor dos bens. Se, porém, o terceiro adquire os bens de má-fé o ato é ineficaz e
ele deverá restituir os bens.

O herdeiro aparente que cumpre os legados constantes no testamento está agindo de


boa-fé, no cumprimento da vontade do testador e, por isso, cabe ao verdadeiro herdeiro a
tarefa de reagir contra o legatário e não contra o herdeiro aparente, que distribui os legados
(art. 1828 CC).

Prescrição: há entendimento segundo o qual a ação de petição de herança é


imprescritível, pois tem como fundamento o reconhecimento da qualidade de herdeiro,
qualidade esta que não se perde pelo não uso, e também fundamento no direito de
propriedade, o qual também não se extingue pelo não uso ou pelo não exercício.

Entretanto, a Súmula 149 do STF afirma que é imprescritível a ação de investigação de


paternidade mas não o é a de petição de herança. Como não há prazo específico para a petição
de herança no CC conclui-se que seu prazo prescricional é de 10 (dez) anos (art. 205 CC)
contados a partir da abertura da sucessão, já que não se pode postular acerca da herança de
pessoa viva e, assim, somente após a morte do de cujus surge a legitimação ativa para suceder,
por parte de quem está pleiteando a herança.

A usucapião pode ser alegada como defesa na ação de petição de herança e, se


provada, torna inútil a petição de herança, já que o herdeiro não obterá a restituição dos bens.

A herança é uma universalidade até a partilha e, por isso, fica inviabilizada a


possibilidade de se adquirir por usucapião bens singulares da massa hereditária. Após a
partilha será possível começar a contagem do prazo para a usucapião do herdeiro
contemplado.

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