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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DO x JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE XXXXXXXX

Autos: xxxxxxxxxxxx
Recorrente: xxxxxxxxxxxxxx
Recorrida: xxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxxxx, já qualificada nos autos em epígrafe, por intermédio de seus advogados
legalmente constituídos, vêm, respeitosamente, perante Vossa Excelência, interpor
RECURSO INOMINADO
nos termos do artigo 42 da Lei 9.099/95, pelas razõ es anexas, requerendo desde já seu
recebimento e posterior remessa à instâ ncia superior, segundo as formalidades legais.
Requer ainda, o recebimento do presente recurso sob assistência judiciá ria gratuita, já que
a autora está impossibilitada de pagar as custas desta açã o sem prejuízo do seu sustento.
Pede deferimento.
(local,data)
Advogado
OAB nº
RAZÕES DE RECURSO INOMINADO
Autos: xxxxxxxxxxxx
Recorrente: xxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Recorrida: XXXXXXXXXX
EGRÉ GIA TURMA RECURSAL DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA CIRCUNSCRIÇÃ O
JUDICIÁ RIA DE xxxxxxxx/DF
Eméritos Julgadores,
Trata-se de recurso inominado interposto pela parte Recorrente ante a decisã o que julgou
improcedente o pedido principal e parcialmente procedente o pedido contraposto, nos
seguintes termos:
“Por todo o exposto, resolvo o mérito da lide, nos termos do artigo 487, inciso I, do CPC e
JULGO IMPROCEDENTE o pedido principal e PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido
contraposto para condenar a autora a pagar à ré o valor de R$ 183,92 (cento e oitenta e três
reais e noventa e dois centavos), a título de multa contratual.
Sobre o valor deve incidir correçã o monetá ria desde a presente data e juros de mora de 1%
(um por cento) ao mês a partir da citaçã o.
Sem condenaçã o em custas nem honorá rios de sucumbência.
Sentença registrada eletronicamente nesta data. P. I.”
Com efeito, em que pese o inquestioná vel saber da eminente julgadora nã o primou à
decisã o atacada pela justa aplicaçã o da lei e jurisprudência aos fatos, sendo sua reforma
medida imperativa de justiça, conforme será exposto adiante.
I – DOS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE RECURSAL
I.a – Do preparo
A recorrente pleiteia os benefícios da JUSTIÇA GRATUITA, assegurados pela lei 1060/50 e
consoante art. 98 caput NCPC/2015. Espera-se, portanto, que esta Egrégia Turma se
manifeste a respeito, concedendo a gratuidade.
Infere-se dos artigos supracitados que qualquer uma das partes no processo pode usufruir
do beneficio da justiça gratuita. Logo, a recorrente faz jus ao benefício, haja vista nã o ter
condiçõ es de arcar com as despesas do processo sem prejuízo da sua mantença, uma vez
que se encontra desempregada, com, conforme CTPS juntada aos autos.
Ainda sobre a gratuidade a que tem direito, o NCPC dispõ e em seu art 99 § 3º que
“presume-se verdadeira a alegaçã o de insuficiência de recursos, sendo desnecessá rio, num
primeiro momento, a produçã o de provas da hipossuficiência financeira.
Assim, ex positis, pois, requer-se os benefícios da assistência judiciá ria gratuita.
I.b – Da tempestividade
A r. decisã o recorrida foi publicada em xxxxxxxxxxxxx. Considerando o prazo legal de 10
dias para a apresentaçã o do presente recurso e, ainda, a data em que este foi interposto,
tem-se respeitado o pressuposto da tempestividade recursal.
II – BREVE SÍNTESE DO PROCESSO
A Recorrente, outrora Autora, ajuizou açã o de indenizaçã o por danos materiais e morais em
face da Recorrida, em razã o de falha na prestaçã o dos serviços da parte requerida, ora
recorrida. Esta vinculou a contrataçã o do curso à promessa de emprego, sem prestar os
esclarecimentos necessá rios ao consumidor, desencadeado na má prestaçã o do serviço no
tocante à informaçã o.
A recorrente firmou contrato em 31/08/2018 com a empresa recorrente para iniciar o
curso de atendente de farmá cia cujo valor total era de R$ 2.988,70, dividido em 13 parcelas
sob a promessa de encaminhamento da recorrente ao mercado de trabalho com 4 meses de
curso, o que, de fato, nã o ocorreu, restando claro no caso que o consumidor foi induzido a
erro pela empresa.
Conforme exposto na peça inicial, a recorrente pagou, ainda, a quantia de R$ 245,00
referente ao uniforme e materiais didá ticos.
E além do dano material, a Recorrente experimentou também danos morais, ínsito à odiosa
situaçã o criada pela Recorrida, uma vez que nã o houve mero aborrecimento, visto que a
apelante investiu recursos pró prios e de outrem, para empreender o curso de capacitaçã o
profissional e conseguir a sua colocaçã o no mercado de trabalho.
Defesa apresentada e audiência de conciliaçã o realizada em xxxxxxxx, sem acordo entre as
partes, no entanto.
Por fim, a r. sentença recorrida foi publicada em xxxxxxxe, em síntese, JULGOU
IMPROCEDENTE O PEDIDO PRINCIPAL e PARCIALMENTE O PEDIDO CONTRAPOSTO,
reduzindo a multa para o patamar de 10% (dez por cento).
Nã o obstante todo o respeito devido ao citado provimento judicial, entende a Recorrente
pela necessidade de sua reforma, nã o podendo se conformar com os termos prolatados, sob
pena de ver indevidamente crucificado seu direito e, ainda, em termos amplos, ver
distorcido o direito consumerista pá trio, consoante se verá adiante.
III – DAS RAZÕES RECURSAIS
III.a – Dos benefícios da Assistência Judiciária Gratuita
A recorrente, conforme demonstra os documentos anexos, é pessoa hipossuficiente,
encontra-se desempregada, nã o possuindo recursos ou condiçõ es de pagar as custas e
despesas do processo sem prejuízo pró prio ou de sua família, conforme declaraçã o de
hipossuficiência anexa.
A recorrente pleiteia os benefícios da JUSTIÇA GRATUITA, assegurados pela lei 1060/50 e
consoante art. 98 caput NCPC/2015. Espera-se, portanto, que esta Egrégia Turma se
manifeste a respeito, concedendo a gratuidade, ou, eventualmente, abrindo prazo para o
seu devido recolhimento.
Infere-se dos artigos supracitados que qualquer uma das partes no processo pode usufruir
do benefício da justiça gratuita. Logo, a recorrente faz jus ao benefício, haja vista nã o ter
condiçõ es de arcar com as despesas do processo sem prejuízo da sua mantença.
Consoante a jurisprudência:
APELAÇÃO – ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA – DECLARAÇÃO DE MISERABILIDADE –
ART. 4º DA LEI Nº 1.060/50 – AÇÃO ORDINÁRIA – PRÉVIO REQUERIMENTO
ADMINISTRATIVO – AUSÊNCIA – IRRELEVÂNCIA – INTERESSE DE AGIR – PRESENÇA –
SENTENÇA CASSADA – APLICAÇÃO DO ARTIGO 515, PARÁGRAFO 3º, DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL – SITUAÇÃO QUE IMPEDE SUA APLICAÇÃO – RECURSO A QUE SE DÁ
PROVIMENTO. O art. 4º da Lei 1.060/50, que atribui presunção “juris tantum” de veracidade
à declaração de miserabilidade apresentada pelo requerente do benefício da justiça gratuita,
foi recepcionado pela ordem constitucional vigente, devendo a benesse ser de plano concedida
quando inexistente qualquer indício que inaugure a necessidade de dilação probatória para
melhor apuração da real condição financeira do requerente. (TJMG 1.0686.11.012641-0/001
(1). Processo 0126410-65.2011.8.13.0686. Rel. Belizá rio De Lacerda. Data da publicaçã o:
04/03/2015)
“AGRAVO INOMINADO – AGRAVO DE INSTRUMENTO A QUE SE NEGOU SEGUIMENTO –
PEDIDO DE JUSTIÇA GRATUITA – PESSOA FÍSICA – DECLARAÇÃO DE POBREZA – PRESUNÇÃO
JURIS TANTUM DE VERACIDADE – INEXISTÊNCIA DE ELEMENTOS NOS AUTOS A
DESCARACTERIZAR A HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA – CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. – A
declaração de pobreza colacionada pela recorrente alicerça a presunção juris tantum
prevista em lei a seu favor. – O demonstrativo de pagamento acostado não evidencia que os
vencimentos recebidos pela agravante sejam suficientes para cobrir seus gastos habituais e
ainda dar-lhe condições de arcar com as despesas judiciais. – Ausência de elementos a
desautorizar a concessão do benefício à servidora na ação principal. – Recurso provido.”
(TJMG – Agravo 1.0024.12.075683-8/002. Processo 1003628-26.2012.8.13.0000 (1). Rel.
Versiani Penna. 5ª Câ mara Cível. Data da publicaçã o 19/11/2012)
Assim, ex positis, pois, requer-se os benefícios da assistência judiciá ria gratuita.
III.b – Do cerceamento de defesa
Em sede sentença, O D. juízo a quo indeferiu o pedido relativo à indenizaçã o por danos
morais baseando-se na premissa de que as alegaçõ es formuladas pela Autora nã o restaram
demonstradas.
Ora, nobres julgadores, a Recorrente ofereceu ao juízo a oportunidade de ser colhido o
depoimento pessoal da testemunha xxxxx, colega de curso, onde iria descrever a mesma
situaçã o vivenciada pela autora, qual seja, a promessa de encaminhamento para vaga de
emprego, com pelo menos 4 meses de curso e depois com o decorrer do tempo diante da
ausência de encaminhamento para o emprego, perceberam todos, autora e testemunhas,
terem sido ludibriados com uma promessa que jamais se concretizaria.
Ressalto, que a prova testemunhal foi rechaçada de maneira incompreendida pelo juízo
originá rio, que data má xima vênia, produzido sua percepçã o acerca da realidade dos fatos
com base em premissas que nem sequer mostraramse minimamente demonstradas pelo
Recorrido.
No presente caso, as provas documentais acostadas aos autos nã o sã o suficientes para
asseverar a completa realidade dos fatos, ressaltando assim, o cará ter essencial da prova
testemunhal. Nã o se vislumbra qualquer razã o para nã o ocorrer prova oral requisitada,
visto que o artigo 33 da Lei 9099/95 expõ e o cabimento da audiência de conciliaçã o para a
produçã o de provas, mesmo que nã o requeridas previamente, vejamos:
Art. 33. Todas as provas serão produzidas na audiência de instrução e julgamento,
ainda que não requeridas previamente, podendo o Juiz limitar ou excluir as que considerar
excessivas, impertinentes ou protelatórias.
Aduz salientar que o requerimento de oitiva das testemunhas foi feita nos moldes
apresentados pela legislação civil, contendo rol devidamente exposto na peça
contestatória e apresentados em tempo hábil para que houvesse a colheita dos
depoimentos, visto que o processo ainda encontravase em fase instrutória. Destacase
também que o pedido de oitiva foi feito em conjunto com as provas documentais, ou seja,
foi requisitado pelo Recorrido como um meio de prova.
O procedimento do juizado especial visa dar maior celeridade a causa consideradas de
menor complexidade, porém, esta celeridade nã o deve ser utilizada em detrimento das
partes, uma vez que, todos os elementos de prova que estiverem aptos a ser produzidos
devem ser realizados, a fim de que possamos asseverar a realidade dos fatos, Restou
evidente nos autos que a recorrida, a fim de angariar alunos, acenou com uma possibilidade
que nã o veio a se concretizar.
Neste sentido, vejamos os entendimentos recentemente esposados por este E. Tribunal de
Justiça acerca do cerceamento de defesa em face da nã o produçã o de prova oral, in verbis:
JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS. DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO CONSUMIDOR. PRELIMINAR
DE CERCEAMENTO DE DEFESA. NECESSIDADE DE PRODUÇÃO DA PROVA ORAL. INCABÍVEL
O JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. ACOLHIDA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
1.Preliminar. O indeferimento do depoimento pessoal dos autores e da oitiva de testemunha
arrolada configuram cerceamento de defesa. No presente caso, sequer houve apreciação do
pedido (ID 3949304). Tratase de processo no qual evidenciase a revelia do requerido. Embora
não implique em procedência automática dos pedidos, induz à presunção de veracidade das
alegações do autor (art. 344, CPC), desde que demonstrada sua verossimilhança. 2.In casu,
com a nã o apreciaçã o do pedido de produçã o da prova oral, foi tolhido o direito da parte de
comprovar suas alegaçõ es e, efetivamente influenciar o processo de formaçã o da convicçã o
do julgador. Apesar de ser destinatário das provas, não pode o juiz desconsiderar a prova
pleiteada pela parte e depois julgar em seu desfavor, sob o argumento de que a parte não
produziu provas suficientes para comprovar o fato alegado, mormente as condições veículo
quando adquirido e os eventuais transtornos ocorridos. 4. Cito precedente:(Acórdão
n.1039604, 07084564620168070007, Relator: JOÃO FISCHER 2ª Turma Recursal dos Juizados
Especiais Cíveis e Criminais do DF, Data de Julgamento 16/08/2017, Publicado no DJE:
23/08/2017. Pág.: Sem Página Cadastrada.). Partes: SAMUEL MENDES DA SILVA e
CONSÓRCIO HP ITA versus EDILSON FERREIRA DA SILVA5. Ressalto ainda que a
possibilidade de julgamento antecipado da lide pressupõe, no caso de revelia, a ocorrência dos
efeitos previsto no art. 344, e ainda, o não requerimento de outras provas (art. 355, inciso II,
do CPC), o que não se verificou no presente caso. 6. Recurso CONHECIDO. Preliminar de
cerceamento de defesa acolhida. PROVIDO. Sentença anulada. Sem condenação em custas e
honorários, diante da ausência de recorrente vencido. (Acórdão n.1094694,
07001703020178070012, Relator: EDILSON ENEDINO DAS CHAGAS 2ª Turma Recursal dos
Juizados Especiais Cíveis e Criminais do DF, Data de Julgamento: 09/05/2018, Publicado no
DJE: 15/05/2018. Pág.: Sem Página Cadastrada.)
JUIZADO ESPECIAL. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS E MATERIAIS. CONTRATAÇÃO
DE SERVIÇO DE MECÂNICA DE VEÍCULO. PROCESSUAL CIVIL. PEDIDO PARA PRODUÇÃO DE
PROVA ORAL NA PETIÇÃO INICIAL. SENTENÇA. JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE.
PEDIDO JULGADO IMPROCEDENTE PORQUE A PARTE NÃO SE DESINCUMBIU DO ÔNUS
PROBATÓRIO. PRELIMINAR DE CERCEAMENTO DE DEFESA ACOLHIDA. SENTENÇA
CASSADA. RECURSO PROVIDO. 1. O processo é instrumento do qual se servem as partes para
a composiçã o do litígio em que estã o envolvidas e o meio através pelo qual o EstadoJuiz
realiza o seu dever de dar a cada um o que lhe é de direito, trazendo a paz social de acordo
com a lei vigente. 2. Embora o Julgador esteja livre para a formar o seu convencimento,
dispensando a produção das provas desnecessárias ou protelatórias, é defeso que, deixando
de examinar o pedido de produção de prova testemunhal pugnado pela parte autora,
julgue em seu desfavor, porque nã o teria demonstrados os fatos alegados. 3. No caso em
apreço, o autor manifestou na petição inicial o desejo de produzir prova oral, mas o Juízo a
quo entendeu que a causa seria exclusivamente de direito. Contudo, na sentença, julgou o
pedido em desfavor do demandante, porque não teria demonstrado os fatos constitutivos do
direito alegado (contratação verbal de serviços de mecânica de automóvel), incorrendo,
portanto, em verdadeira contradição. 4. É farta a jurisprudência acerca da nulidade da
sentença, assentada em premissas equivocadas ou contraditó rias com relaçã o à natureza
da questã o posta e a limitaçã o à produçã o de prova pelas partes. 5.Recurso conhecido e
provido, para cassar a sentença e anular o processo, determinando o seu retorno à origem, de
modo a permitir a oitiva das testemunhas arroladas pelo autor, assim como para outras
provas que o eminente magistrado entender cabíveis. 6. Sem custas e honorários. 7. Decisão
proferida na forma do art. 46 daLei9.099/95. (Acórdão n.902666, 07013287920158070016,
Relator: LUÍS GUSTAVO B. DE OLIVEIRA 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e
Criminais do DF, Data de Julgamento: 28/10/2015, Publicado no DJE: 04/11/2015. Pág.: Sem
Página Cadastrada.)
Podemos auferir pelas jurisprudências acostadas que a produçã o de prova oral é
fundamental para que se promova o convencimento do juízo, uma vez que através de
depoimento pessoal, podemos apresentar de forma clara e límpida toda a situação
ocorrida.
Desta feita, uma vez que o N. Magistrado negou o pedido de prova testemunhal, informando
que a prova documental era suficiente para elucidaçã o dos fatos controversos, cerceou o
direito de a parte Autora fazer prova de suas alegaçõ es.
Ora, como pode o douto juiz alegar que a prova documental é suficiente para
elucidação dos fatos e indeferir o dano moral alegando que não foi demonstrado a
caracterização do animus de ofender a autora. Tal prova seria feita também através
de testemunhas, que sequer foram ouvidas.
A nã o realizaçã o da prova oral pleiteada levou ao indeferimento da condenaçã o da
Recorrente ao pagamento de indenizaçã o por danos morais,portanto, requer que seja
acolhida a preliminar de cerceamento de defesa suscitada, procedendose
consequentemente a anulaçã o da r. sentença recorrida.
III.c – Dos danos materiais
O caso dos autos é típico daqueles que clamam a incidência do direito do consumidor,
conforme detalhado na peça inicial, a partir do enquadramento da Recorrente como
consumidora dos serviços prestados pela Recorrida (arts. 2º e 3º do CDC).
A relaçã o negocial firmada entre recorrida e a recorrente é de consumo e, em se tratando
de contratos dessa natureza, há princípios específicos que devem ser observados em
consonâ ncia com a boa-fé objetiva das partes.
Esses princípios se traduzem em deveres anexos às obrigações entabuladas, e nã o
necessitam constar expressamente do instrumento pactual para serem cobrados. Por
terem caráter cogente, também não podem ser elididos mediante a interpretação
literal de cláusulas contratuais.
No caso em tela, faltou a necessá ria lealdade contratual por parte da recorrida, no trato
com a consumidora, mais precisamente, acerca da veracidade das informaçõ es.
Ve-se, assim, que dois grandes pilares principioló gicos da relaçã o de consumo foram
violados, quais sejam, o da transparência e da informaçã o.
Segundo Clá udia Lima Marques (In Contratos no có digo de defesa do consumidor. O novo
regime das relaçõ es contratuais. 4. ª ed.rev. atual. e amp. Sã o Paulo: RT, 2002. P. 594-595),
“Na formaçã o dos contratos entre consumidores e fornecedores o novo princípio bá sico
norteador é aquele instituído pelo art. 4. º, caput, do CDC, o da Transparência. A idéia
central é possibilitar uma aproximação e uma relação contratual mais sincera e menos
danosa entre consumidor e fornecedor. Transparência significa informação clara e
correta sobre o produto a ser vendido, sobre o contrato a ser firmado, significa
lealdade e respeito nas relações entre fornecedor e consumidor, mesmo na fase pré-
contratual, isto é, na fase negocial dos contratos de consumo.” – grifo nosso
Já o princípio da informaçã o, por sua vez, conforme doutrina de Rizzato Nunes (In Curso de
direito do consumidor. Saraiva, 2005.p.129), pode ser compreendido na idéia de que
“na sistemá tica implantada pelo CDC, o fornecedor está obrigado a prestar todas as
informaçõ es acerca do produto e do serviço, suas características, qualidades, riscos, preços
e etc., de maneira clara e precisa, nã o se admitindo falhas ou omissõ es.”
Ao prestador de serviços é imputada a responsabilidade objetiva, em outras palavras,
independente de culpa, pela reparaçã o dos danos causados aos consumidores por
"informaçõ es insuficientes ou inadequadas sobre sua fruiçã o e riscos".
É direito bá sico do consumidor a informaçã o adequada e clara sobre os diferentes produtos
e serviços, com especificaçã o correta de quantidade, características, composiçã o, qualidade,
tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem (art. 6º, III do CDC),
de forma que, da violaçã o desse direito deriva a responsabilidade objetiva do fornecedor
pelos danos provocados.
Nã o obstante essa previsã o específica no diploma consumerista, acerca do direito bá sico do
consumidor à informaçã o, tal dever decorre, também, do princípio da boa-fé objetiva e dos
deveres anexos a ele inerentes, sobretudo, o de agir conforme a confiança depositada, o de
agir conforme a razoabilidade e o da cooperaçã o, que os contratantes devem guardar entre
si durante todas as fases do negó cio jurídico.
Tais deveres, como ensina a autorizada doutrina de Flavio Tartuce, sã o ínsitos a qualquer
negó cio jurídico, não havendo sequer a necessidade de previsão no instrumento
negocial e a sua quebra gera violação positiva do contrato, com responsabilização
objetiva daquele que desrespeita a boa fé objetiva (Enunciado nº 24 do CJF/STJ).
Deixando de cumprir o objeto do negó cio tal como anunciado e contratado, o consumidor
pode requerer a rescisã o contratual, bem como a restituiçã o dos valores pagos. Conforme
autorizado pelo CDC, in verbis:
Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta,
apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre
escolha:
I - exigir o cumprimento forçado da obrigaçã o, nos termos da oferta, apresentaçã o ou
publicidade;
II - aceitar outro produto ou prestaçã o de serviço equivalente;
III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente
antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos.
Neste sentido, vejamos os entendimentos recentemente esposados acerca do tema, in
verbis:
EMENTA: APELAÇÃ O - AÇÃ O INDENIZATÓ RIA - RELAÇÃ O DE CONSUMO -
CANCELAMENTO DE CURSO DE ENSINO PROFISSIONALIZANTE - VIOLAÇÃO DOS
DEVERES DE INFORMAÇÃO E DE COOPERAÇÃO - DESCASO COM O CONSUMIDOR -
RESPONSABILIDADE OBJETIVA - DANO MORAL CONFIGURADO - QUANTUM
INDENIZATÓ RIO. O descumprimento do dever de informaçã o traduz falha na prestaçã o do
serviço e violaçã o de deveres anexos da boa-fé objetiva, gerando no consumidor dano
extrapatrimonial, sobretudo, quando acarreta perda considerá vel de tempo ú til e denota-se
descaso no trato do consumidor. A indenizaçã o por danos morais deve ser arbitrada
observando-se os critérios punitivo e compensató rio da reparaçã o, sem perder de vista a
vedaçã o ao enriquecimento sem causa e os princípios da proporcionalidade e da
razoabilidade. V.V. (TJMG - Apelaçã o Cível 1.0625.14.009552-6/001, Relator (a): Des.(a)
Francisco Ricardo Sales Costa (JD Convocado) , 11ª CÂ MARA CÍVEL, julgamento em
12/12/0018, publicaçã o da sumula em 06/02/2019)
Conforme amplamente debatido a autora se matriculou no referido curso tendo em vista a
propaganda enganosa levado a efeito pela empresa recorrida, no sentido de oferecer um
curso com a promessa de inserçã o no mercado de trabalho com 4 meses de curso, o que de
fato nã o ocorreu.
Passados os 4 meses de curso quando a turma nã o viu cumprida as promessas, o
coordenador foi chamado em busca de explicaçõ es, e o mesmo informou que:
xxxxxxxxxxxxx
Ocorre que nã o foi isso que foi informado para os alunos no ato da matricula do curso.
xxxxxxxxxxxxx
O recorrido alega, ainda, que a recorrente nã o foi encaminhada para o emprego pois nã o
frequentou as oficinas de empregabilidade, o que nã o condiz com a verdade dos fatos, a
recorrente participou de duas oficinas de empregabilidade conforme documento anexado.
xxxxxxxxx
No caso em tela, houve falha na prestação do serviço no tocante às informações que
deveriam ser prestadas, faltou a necessá ria lealdade contratual por parte do recorrido, no
trato com o consumidor, mais precisamente, acerca da veracidade das informaçõ es.
Nã o se pode perder de vista o grande mal que condutas como a da ré causam na vida das
pessoas. Acreditando na seriedade das empresas fornecedoras dos cursos de capacitaçã o,
promovem as inscriçõ es e despendem, muitas vezes, o que nã o possuem, na tentativa de
conseguir colocaçã o no mercado de trabalho. Por fim, terminam por ser ludibriadas por
promessas vã s.
Resta evidenciado a recusa no cumprimento da oferta, deixando de cumprir o objeto
do negócio tal como anunciado e contratado, violando o art 30 do CDC:
Art. 30. Toda informaçã o ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer
forma ou meio de comunicaçã o com relaçã o a produtos e serviços oferecidos ou
apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o
contrato que vier a ser celebrado.
Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.
§ 1º É enganosa qualquer modalidade de informaçã o ou comunicaçã o de cará ter
publicitá rio, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por
omissã o, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características,
qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre
produtos e serviços.
§ 3º Para os efeitos deste có digo, a publicidade é enganosa por omissã o quando deixar de
informar sobre dado essencial do produto ou serviço
Art. 38. O ô nus da prova da veracidade e correçã o da informaçã o ou comunicaçã o
publicitá ria cabe a quem as patrocina.
Por fim, resta claro que o consumidor tem direito aos valores eventualmente pagos,
corrigidos monetariamente.
III.d – Dos danos morais
Nã o se pode perder de vista o grande mal que condutas como a da ré causam na vida das
pessoas. Acreditando na seriedade das empresas fornecedoras dos cursos de capacitaçã o,
promovem as inscriçõ es e despendem, muitas vezes, o que nã o possuem, na tentativa de
conseguir colocaçã o no mercado de trabalho.
No ato da contrataçã o, a recorrida fazia mençã o a salá rios vultosos e inú meros benefícios
concedidos pela empregadora e, aumentando a instigaçã o, dava a contrataçã o como certa.
Por fim, terminam por ser ludibriadas por promessas vã s, como ocorreu no presente caso.
A seriedade, deve imperar no fornecimento dos cursos de capacitaçã o. A completa e boa
informaçã o, da mesma forma.
As nuances da conduta da recorrida sã o delineadas claramente pelos inú meros relatos das
vítimas no site reclame aqui (reclamaçõ es acostados aos autos). Há inú meras reclamaçõ es,
todas no mesmo sentido, contando histó rias com características incrivelmente
semelhantes.
Enfim, comprovada à exaustã o a propaganda enganosa narrada na inicial, em clara afronta
aos princípios da transparência, da boa-fé objetiva e da confiança.
A veiculaçã o de oferta enganosa, induziu toda a recorrente a erro. A recorrida, sem
distinçã o de qualquer natureza, aproveitou-se da boa-fé de pessoas em frá gil situaçã o
psicoló gica para obter vantagem ilícita, frustrando-lhes expectativas legítimas.
A recorrente estava desempregada, portanto, em frá gil situaçã o psicoló gica e financeira.
Acreditando na boa-fé da recorrida, acabarou por gastar seus ú ltimos recursos, bem como
empréstimos de familiares, tudo para constatar, ao fim, terem sido vítimas de um engodo,
vendo naufragar, envergonhados, a legítima expectativa em conquistar um trabalho
honesto.
O descumprimento do dever de informaçã o traduz falha na prestaçã o do serviço e violaçã o
de deveres anexos da boa-fé objetiva, gerando no consumidor dano extrapatrimonial,
sobretudo, quando acarreta perda considerável de tempo útil e denota-se descaso no
trato do consumidor. A indenizaçã o por danos morais deve ser arbitrada observando-se
os critérios punitivo e compensató rio da reparaçã o, sem perder de vista a vedaçã o ao
enriquecimento sem causa e os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.
Diante da situaçã o posta, é aplicá vel ao presente caso o caput do art. 14 do Có digo de
Defesa do Consumidor, que dispõ e o seguinte:
“Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa,
pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à
prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas
sobre sua fruição e riscos”. Grifo nosso.
Os fatos acima pontuados revelam a conduta ilícita da recorrida, consubstanciada,
primeiro, em induzir a recorrente a crer erroneamente na contrataçã o em pelo menos 4
meses de curso, e, segundo, em omitir informaçõ es, que constitui defeito na prestaçã o do
serviço (art. 14, § 1º, III, do CDC).
O nexo causal também está configurado, assim como o dano sofrido pela recorrente.
Nã o houve mero aborrecimento, visto que a recorrente investiu recursos pró prios e de
outrem, para empreender o curso de capacitaçã o profissional, mas a contraprestaçã o nã o
veio, acarretando consequências que se abateram sobre sua vida cotidiana.
Até a presente data a recorrente pagou a quantia de xxxxxx), referente a x parcelas e a
quantia de R$ xxxxxx, referente ao uniforme e materiais didá ticos, totalizando R$ xxxx.
É sabido, pelas regras de experiência ordiná ria, que, em situaçõ es que envolvem
empréstimos de terceiros, sejam familiares ou amigos, como é o caso da recorrente, o
sucesso do investimento é almejado nã o só por quem está sendo beneficiado diretamente,
como também por todos os envolvidos. A imagem da apelada certamente ficou prejudicada,
abalada, perante terceiros, ante a frustraçã o advinda da falha da empresa apelada.
O dano moral daí advindo se evidencia da narrativa dos fatos, visto que causaram à apelada
insegurança, falta de previsibilidade e transtornos em sua rotina diá ria, inclusive prejuízo
de sua imagem perante terceiros.
III.d – Da Nulidade da multa
A imposiçã o de desvantagem excessiva pode levar a anulaçã o da clá usula contratual, como
é o caso dos autos, segundo o Có digo de Defesa do Consumidor (CDC), tendo em vista a
vulnerabilidade do consumidor.
O abuso do direito é demonstrado na desigualdade da relaçã o de consumo, pois o prestador
do serviço encontra-se em posiçã o de dominâ ncia, pois ele detém o domínio de todo o
fornecimento de produtos e serviços, de modo que há o reconhecimento da vulnerabilidade
do consumidor no mercado de consumo.
Existindo qualquer clá usula que desrespeite os princípios norteadores do contrato e que
onerem excessivamente a uma das partes, estará caracterizado à abusividade, no caso dos
autos no contrato há apenas clausula contratual de multa para o aderente, o mau
serviço prestado pela recorrida não é contemplado com punição alguma.
Insta salientar que, nã o há como manter as partes atrelada a contrato cujo desinteresse da
recorrente é manifesto, e, no caso, nã o há como desconsiderar que houve evidente falha
na prestação do serviço no tocante às informações que deverias ter sido prestadas, a
justificar o pedido rescisó rio.
Importante registrar que a violaçã o contratual nã o se dá somente quando um dos
contratantes deixa, deliberadamente, de cumprir alguma clá usula prevista no pacto. Há
também violaçã o quando a parte não cumpre um ou alguns dos deveres que
razoavelmente dela se espera, como, por exemplo, o dever de informação, proteção,
cooperação, dentre outros.
A recorrente rescindiu o contrato em virtude do descumprimento contratual por parte da
recorrida, a quebra de contrato ocorreu porque o fornecedor nã o lhe ofereceu o que lhe foi
prometido. Assim, a requerente tem o direito de rescindir o contrato sem que seja feito o
pagamento da referida multa.
IV – DOS PEDIDOS
Por todo exposto, a Recorrente requer seja o presente recurso conhecido e provido, com a
consequente reforma da r. sentença atacada, determinando-se:
a) o deferimento dos benefícios da Justiça Gratuita à Recorrente e a consequente isençã o da
realizaçã o do preparo recursal ou, pelo princípio da eventualidade, em assim nã o se
entendendo, seja ela intimada para que recolha o devido preparo;
b) Seja acolhida a preliminar arguida de cerceamento de defesa, tendo em vista a nã o
realizaçã o da oitiva da testemunha arrolada pela Recorrente.
c) O presente Recurso Inominado seja conhecido para reformar a r.sentença no tocante a:
(i) pagamento de xxxxxxx referente ao dano material e (II) Pagamento de R$ xxxxxxx dano
moral
d) A condenaçã o do recorrido nas custas e honorá rios advocatícios, nos moldes do artigo
55 da Lei 9.099/95.
e) Requer ainda, que as publicaçõ es sejam feitas exclusivamente em nome de
xxxxxxxxxxxxx
Termos em que pede deferimento.
(local,data)
Advogado
OAB nº

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