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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA XX

UNIDADE DO JUIZADO ESPECIAL DA COMARCA DE


FORTALEZA-CE

EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE

Processo nº
AUTOR: XXXX
RÉU: XXX

QUALIFICAÇÃO, vem com o devido respeito e acatamento à presença de Vossa


Excelência, com fundamento nos artigos 518 e 803 do Código de Processo Civil,
apresentar:

EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE COM TUTELA/ LIMINAR/


URGÊNCIA

Em face do cumprimento de Sentença nos autos do processo em epígrafe, que lhe move
XXXX, pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas:

DO CABIMENTO DA EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE

A exceção de pré-executividade, é um instrumento processual criado pela doutrina,


mais precisamente pelo insigne e saudoso jurisconsulto brasileiro Pontes de Miranda.

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Também denominada de defesa heterotópica a exceção de pré-executividade não
tem previsão legal, porém, seu cabimento foi consagrado através de entendimento
jurisprudencial e doutrinário.

No âmbito da ciência jurídica, as defesas heterotópica


constituem meios autônomos de impugnação de que se servirão
as partes ou terceiros interessados, que são encontrados nos
mais diversos ordenamentos.

Tal incidente endoprocessual permite que o executado, em qualquer processo de


execução ou até mesmo na fase de cumprimento de sentença oriunda de processos de
conhecimento, se defenda, agitando as matérias de ordem pública da qual ou das quais o
magistrado deva se pronunciar para a condução válida e regular do processo.

Neste sentido Darlan Barroso (2007, p. 334) conceitua:

[...] a objeção ou exceção de pré-executividade é um meio de


defesa incidental, em que o executado, munido de prova
documental e sem a necessidade de dilação probatória, provoca
o julgador dentro do processo de execução para arguir questão
de ordem pública relativa às condições da ação ou a
pressupostos processuais, isso sem necessidade de embargos.

Outrossim, complementa Hélio Apoliano Cardoso (2009, p.25):

A exceção de pré-executividade constitui remédio jurídico de


que o executado pode lançar mão, a qualquer tempo, sempre
que pretenda infirmar a certeza, a liquidez ou a exigibilidade do
título por meio de inequívoca prova documental, independendo
sua propositura de prévia segurança do juízo, exigível,
conforme a nova ordem processual, apenas para o fim de
receber os embargos no efeito suspensivo.

Fato é que as matérias de ordem pública não estão estampadas em um rol taxativo
como também não estão sujeitas a preclusão, por isso admissível tal remédio processual a
qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição, ficando a cargo da melhor doutrina
defini-las, como já consignado.

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No caso, o magistrado ao ser exortado a se pronunciar sobre o objeto da exceção
deverá sopesar se a matéria agitada é ou não de ordem pública, pois as mesmas não tem um
rol descrito taxativamente na lei ou uma concordância uníssona da doutrina.
Há doutrinadores que entendem perfeitamente possível que a exceção de pré-
executividade ao ser apresentada acarrete na suspensão do feito, como demonstra Didier
(2012, p.399) citando Marcos Vall Feu Rosa e Eduardo Arruda Alvim:

[...] Entende-se que deve haver a suspensão da execução e,


igualmente, do prazo para embargos, sob pena de sujeitar o
executado a privação de bens sem o devido processo legal, num
feito executivo sem condições ou requisitos de ser admitido,
esvaziando-se o objeto e a finalidade da exceção de não
executividade. Neste sentido, assim como as exceções de
incompetência, de impedimento e de suspeição causam
suspensão de o processo, a execução de não executividade, de
igual modo, causaria a suspensão do procedimento da execução.

Logo, diante de dúvida se a matéria ventilada é ou não de ordem pública o


magistrado deve elastecer a admissibilidade de tal medida e conhecer a exceção de pré-
executividade, sob pena de retirar a oportunidade de defesa do executado, que como se
sabe, é muito restrita nos processos de execução.
Pelo que se vislumbra no caso em tela, a presente exceção de pré-executividade é
o remédio jurídico adequado, para apontar as irregularidades anteriores que viciam a
continuidade da marcha processual.
Ademais, toda argumentação do presente articulado está calcada no rol previsto no
art. 833, IV, do Código de Processo Civil, que trata das hipóteses de impenhorabilidades
absolutas, logo, configurando a natureza da matéria ventilada como de ordem pública.

CONSIDERAÇÕES PREAMBULARES

O Autor vem sofrendo flagrante violação patrimonial, pois consta sucumbente no presente
processo, sendo condenado a pagar o valor de R$ XXXXX, junto com a empresa XXXX,
que também figura como polo passivo na presente demanda.

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O valor da dívida, devidamente atualizado, corresponde a R$ XXXXX.

Acontece Excelência que, em 18/05/2021, o Executado foi surpreendido por uma


penhora online via BACENJUD, no seu CPF/MF XXXXXXX, bloqueando assim
todos os valores recebidos a titulo soldo, tendo em vista que é policial militar do
Estado do Ceará, perfazendo a cifra de R$ XXX.

DA IMPENHORABILIDADE ABSOLUTA DOS VALORES


BLOQUEADOS VIA BACENJUD

É inconteste que o valor bloqueado via BACENJUD é oriundo de proventos recebidos pelo
executado a titulo de honorários advocatícios e a títulos que correspondem a acordos
judiciais (trabalhistas e cíveis), bem como valores de alugueis de imóveis que
administra de seus clientes o que resta claramente comprovado pelas atas de audiências e
contratos de serviços prestados.

Todos os documentos anexados se demonstram suficientes para provar tal alegação, haja
vista o mesmo receber em conta corrente todos seus benéficos oriundos de sua atividade
profissional autônoma.

Os fatos que motivam o declínio das razões ensejadoras da presente exceção de pré-
executividade estão revestidos pela obrigatoriedade de obediência às normas de ordem
pública, o texto do art. 833, IV, do Código de Processo Civil traz rol taxativo das causas
legais de impenhorabilidade absoluta, sendo assim encontramos a ocorrência de uma delas,
vejamos:

Art. 833.  São impenhoráveis:


[...]
IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os
proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como
as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do
devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os
honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2º; (grifo nosso).

Posto que a compreensão do dispositivo legal citado requer simples interpretação literal,
resta claro que o valor constante no detalhamento do bloqueio BACENJUD
é impenhorável, estando sob a égide da norma supracitada.

Em análise mais profunda, se entende que a intenção do legislador foi proteger o mínimo
existencial.

 A noção de mínimo existencial já é reconhecida desde a edição da Lex Poetelia Papiria,


nos idos anos de 428 A.C, nesta data o vínculo corporal de garantia do débito foi
substituído pelo vinculo patrimonial, permanecendo esta regra até tempos atuais.

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O processo de execução fiscal, regido pela Lei 6.838/80 dispõe de mecanismos de
satisfação do crédito tributário de maneira mais rápida e eficaz, inclusive privilegiando na
ordem de execução os valores em dinheiro, porém, tal rapidez e eficácia não podem de
modo algum violar normas imperativas que determinam as impenhorabilidades absolutas.

O que se pretende através da presente exceção de pré-executividade não é alforria


injustificada de obrigação legal reconhecida pelo próprio contribuinte, mas sim o
desbloqueio imediato dos valores por se tratar de natureza de sustento familiar e
honorários de profissional liberal uma vez que o crédito tributário atingiu valores de
impenhorabilidades absolutas.

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL.


EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. LEGITIMIDADE PASSIVA DE
SÓCIO CUJO NOME CONSTA DA CDA. PRESUNÇÃO DE
RESPONSABILIDADE. PRECEDENTES DO C. STJ, EM SEDE DE
RECURSOS REPETITIVOS. BLOQUEIO DE ATIVOS FINANCEIROS
VIA BACEN JUD. VERBA DE NATUREZA ALIMENTAR.
IMPENHORABILIDADE. ART. 649, IV, DO CPC. AGRAVO DE
INSTRUMENTO PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Pretende o
sócio/agravante, cujo nome consta da Certidão de Dívida Ativa, seja reconhecida,
em sede de exceção de pré-executividade, sua ilegitimidade passiva para figurar
no polo passivo da execução fiscal e o desbloqueio dos valores realizado na sua
conta corrente bancária, por meio do sistema Bacen Jud. 2. A orientação da
Primeira Seção do colendo Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp
nº. 1.104.900 - ES, submetido ao rito dos recursos repetitivos, firmou-se no
sentido de que é possível o redirecionamento da execução fiscal de maneira a
atingir o sócio da empresa executada, desde que o seu nome conste da CDA. Para
se eximir da responsabilidade, incumbe ao sócio o ônus da prova de que não
restou caracterizada nenhuma das circunstâncias previstas no artigo 135, do
Código Tributário Nacional. 3. Frise-se, ademais, que a referida Corte Superior
de Justiça, também, em recurso especial representativo de controvérsia,
consignou que "não cabe exceção de pré-executividade em execução fiscal
promovida contra sócio que figura como responsável na Certidão de Dívida Ativa
- CDA. É que a presunção de legitimidade assegurada à CDA impõe ao
executado que figura no título executivo o ônus de demonstrar a inexistência de
sua responsabilidade tributária, demonstração essa que, por demandar prova, deve
ser promovida no âmbito dos embargos à execução." (STJ - REsp nº
1.110.925/SP - Rel. Min. Teori Albino Zavascki - Órgão julgador: Primeira
Seção - DJe de 04/05/2009 - Decisão: Unânime). 4. Na hipótese, o nome do
sócio/agravante consta da CDA como corresponsável pela dívida, razão pela qual
é legitimado passivo na execução fiscal, tendo em vista a presunção relativa do
título executivo. Assim sendo, em juízo de cognição sumária, própria do agravo
de instrumento, revela-se aparentemente legítima a cobrança em desfavor do
recorrente e sua exclusão do pólo passivo só pode ser alcançada em sede de
embargos à execução ou ação anulatória. 5. Por outro lado, do exame mais
acurado dos extratos acostados ao presente instrumento, observa-se que o
agravante recebe verbas alimentares na conta do Bradesco, nº 0032497-3,
agência 2992 e que tais valores foram indevidamente bloqueados. 6.
Diferentemente do que entendeu o Juízo de primeiro grau, nos referidos extratos
não existem movimentações financeiras decorrentes de outras fontes. Na verdade,
os cheques compensados foram emitidos pelo próprio correntista, assim como
não há registro de recebimento de outros numerários, que não os provenientes de
seus proventos. Aliás, sempre que era creditada a verba alimentar havia, logo em
seguida, a transferência da quantia para a conta corrente. 7. Sendo assim,

5
demonstradas estão a ocorrência de penhora on line sobre valores de natureza
alimentar e a consequente violação ao disposto no art. 649, IV, do CPC. 8.
Agravo de instrumento ao qual se dá parcial provimento. (TRF-5 - AG:
38408520134050000, Relator: Desembargador Federal Francisco Cavalcanti,
Data de Julgamento: 27/06/2013, Primeira Turma, Data de Publicação:
04/07/2013). (grifo nosso).

Nesta esteira, a liberação de todos os valores bloqueados é medida de rigor, pois como
exaustivamente consignado à execução sequer deveria estar sendo compulsada pela
Fazenda Nacional.

A falta de comunicação dos órgãos que administram o Fisco não podem de modo algum
prejudicar o contribuinte.

DO PEDIDO E DOS REQUERIMENTOS FINAIS


Diante do exposto REQUER LIMINARMENTE:

1. O imediato desbloqueio do CPF/MF XXXXXX, conta corrente nº XXXX, agência nº


XXX, Banco XXXXX valores penhorados via BACENJUD no valor de R$ XXXXX,
sem oitiva da parte contrária.

Em caráter definitivo requer:

a) Seja recebida e processada a presente exceção de pré-executividade, julgando-se ao


final totalmente procedente o pedido de desbloqueio de toda quantia bloqueada na
conta corrente, e assim juntar nos autos da execução o processo administrativo.

b) Seja regularmente intimado o excepto, na pessoa do Procurador da Fazenda Nacional do


Ceará – PFN/CE, para querendo se manifestar acerca do articulado;

Requer provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito, especialmente
através de prova documental.

Termos em que
Pede deferimento.

Fortaleza – CE, 07 de agosto de 2018.

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