Você está na página 1de 7

JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DO FORO DA COMARCA DE _________/__

, nacionalidade, naturalidade, filiação, estado civil profissão, RG/CPF, e-mail, telefone,


residente e domiciliado em Rua/Av._________, nº___, bairro__________,
________/__, CEP________, vem à presença de Vossa Excelência, por intermédio de
seu advogado (procuração específica), com fulcro nos artigos 30, 41 e 44, todos do
Código de Processo Penal, artigo 61 da Lei 9.099/95, bem como nos artigos 100, §2º e
139, ambos do Código Penal, para oferecer

QUEIXA CRIME POR DIFAMAÇÃO

contra NOME, nacionalidade, naturalidade, filiação, estado civil, profissão, RG/CPF, e-


mail, telefone, residente e domiciliado em Rua/Av._________, nº___,
bairro__________, ________/__, CEP________, pelos fatos a seguir aduzidos:

1. BREVE SÍNTESE DOS FATOS

Conforme o Boletim de Ocorrência nº_______ (anexo aos autos), após o


segundo turno das eleições presidenciais que ocorreu no domingo do dia 31/10/2022,
apoiadores do Presidente Jair Messias Bolsonaro (PL), descontentes com o resultado da
eleição democrática que elegeu o candidato Luís Inácio Lula da Silva (PT), passaram a
elaborar e compartilhar, em grupos de WhatsApp de vários municípios, listas com
orientações para que a população boicotasse os pontos comerciais, os profissionais e
pessoas físicas nela citados, por serem “apoiadores do PT”, como tem acontecido na
cidade de Sananduva, segundo prints e áudios que vazaram de grupos bolsonaristas de
WhatsApp .

Conforme se tem observado, atos antidemocráticos vêm ocorrendo em todo o


país desde a apuração dos votos do segundo turno das eleições que confirmaram a
derrota de Jair Messias Bolsonaro (PL) nas urnas. A produção e divulgação destas listas
de boicote estão tomando conta do país e, conforme vem sendo noticiado, tem como
principal objetivo trazer prejuízo e intimidar àqueles que possuem um posicionamento
político divergente.

A/O Querelante é residente e comerciante do município de ________/___ e no


dia __/__/2022 foi surpreendido(a) ao receber uma lista elaborada pelo grupo de
Whatsapp “__________” com ___ (número por extenso) participantes, na qual constava
seu nome e o seu comércio dentre aqueles que deveriam ser boicotados, segundo o
referido grupo.

Além de ter seu nome exposto sendo associado a ofensas e ameaças, o/a
Querelante viu-se como alvo de uma perseguição que visa macular a imagem de si
próprio e de sua empresa. Além do abalo moral, ainda há o temor por prejuízos
financeiros, desemprego e depredações.

Cediço que todo cidadão é livre para professar o credo que quiser, torcer pelo
time de sua preferência e votar no candidato que entender o melhor em sua concepção.
Divergências fazem parte do jogo democrático e ninguém tem o direito de praticar
assédio, perseguir ou discriminar eleitores por terem votado contra o candidato de sua
preferência.

Com efeito, as injustas e dolosas agressões são inverídicas, ofensivas, injuriosas


e ilegais, maiormente quando atenta para o sagrado direito da personalidade, previsto na
Constituição Federal.

Foram sérios os constrangimentos sofridos pelo/pela Querelante em face dos


aludidos acontecimentos, reclamando a condenação judicial pertinente.

Artigo 139, 140. na forma do 141, III na forma do artigo 70 CP


requerer audiência/ citação da querelada
recebimento da queixa crime
oitiva das testemunhas arroladas
Indenização 387, IV CPP
Rol testemunhal
2. DO DIREITO
2.1. DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA:

O (A) autor (a) não possui condições de pagar as custas e despesas do processo
sem prejuízo próprio ou de sua família, conforme declaração de hipossuficiência anexa,
com fundamento no Artigo 5º, LXXIV da Constituição Federal e Art. 98 do Código de
Processo Civil. Desse modo, o (a) autor (a) faz jus à concessão da gratuidade de Justiça.

2.2. DA COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS:

O vertente feito é de competência deste douto juízo, tendo em vista que a pena
máxima em abstrato de ambos os crimes imputados aos réus são inferiores a 2 (dois)
anos, cumprindo assim as condições do artigo 61 da Lei 9.099/95 (Lei dos Juizados
Especiais), que ora transcrevemos:

Art. 61 – Consideram-se infrações de menor potencial ofensivo,


para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a
que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos,
cumulada ou não com multa.

Destarte, mesmo pela obrigatoriedade de aplicação dos fatos delitivos imputados


aos réus neste feito em concurso formal a pena máxima em concreto não excederá tais
limites legais. Desse modo, caberá a este douto juízo proceder com a instrução criminal
e ao posterior julgamento da contenda.

2.2. DO(S) FATO(S) DELITUOSO(S)

No dia xx, por volta das xx horas, o querelado inseriu nomes de comerciantes,
prestadores de serviços ou estabelecimentos comerciais em lista de boicote a ser
compartilhada através do aplicativo de Whatsapp.

Assim agindo, o querelado praticou o delito de difamação, uma vez que ofendeu
a honra objetiva do/a querelante ao atribuir fato ofensivo à sua reputação, a saber:
Art. 139. Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua
reputação:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) anos, e multa.

Precisamente nesse sentido é o entendimento jurisprudencial do Tribunal de


Justiça do Estado do Rio Grande do Sul:

APELAÇÃO. QUEIXA-CRIME. DIFAMAÇÃO. ART. 139 DO


CÓDIGO PENAL. INJÚRIA. ART. 140 DO CÓDIGO PENAL.
ADEQUAÇÃO TÍPICA. MATERIALIDADE E AUTORIA
COMPROVADAS. CONDENAÇÃO MANTIDA. 1. O delito de
difamação se trata de crime formal, consumado tão logo a
imputação de fato que ofende a reputação do ofendido no seio
social chegue ao conhecimento de terceiros. Indubitável, no
caso concreto, o preenchimento destes requisitos, à medida
que as postagens difamatórias foram veiculadas em rede
social, tendo o querelado atribuído ao querelante a prática de
“falcatruas” e conluios de corrupção com o responsável pela
contabilidade, com nítido intuito de macular a honra objetiva
do querelado perante a sociedade. 2. A prática injuriosa, por si,
igualmente se trata de delito formal, cuja consumação se dá tão
logo os predicativos ofensivos cheguem ao conhecimento da
vítima. Inarredável, também, o animus injuriandi do querelado, na
medida em que atribuiu à pessoa do querelante predicativos como
“sem vergonha”, bem como descreveu seus parentes como “corja”
e “suga suga”, de modo a gerar abalo à honra subjetiva do
ofendido. RECURSO DESPROVIDO. (Apelação Crime, Nº
70081347007, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: Sérgio Miguel Achutti Blattes, Julgado em: 27-06-
2019). (TJ-RS - ACR: 70081347007 RS, Relator: Sérgio Miguel
Achutti Blattes, Data de Julgamento: 27/06/2019, Terceira
Câmara Criminal, Data de Publicação: 18/07/2019). (grifou-se)

É importante destacar que o crime de difamação se caracteriza mesmo


quando o fato imputado é verdadeiro, bastando que seja divulgado com o intuito de
ofender a reputação do sujeito.

Assim sendo, o fato de o Querelante ter apoiado ou não o candidato vencedor


das eleições não importa para a ocorrência do crime de difamação. Basta que seja
atribuído o suposto apoio do Querelante a determinado candidato, e assim espalhado
para toda a população, como forma de macular a sua reputação.

No mesmo sentido:

Ementa:APELAÇÃO.DIFAMAÇÃO. DANO. INFRAÇÕES


DEMONSTRADAS. DOLO EVIDENCIADO. Mostrando-se
induvidoso o propósito das quereladas de atribuir à
querelante fato ofensivo à sua reputação, ainda que
verdadeiro, resulta caracterizada a difamação. E não há
cogitar de solução absolutória relativamente ao crime de dano,
se confortam a pretensão acusatória fotografias, recibo de
pagamento relativo ao conserto do autormotor danificado, e a
prova oral coligida que contempla a confissão da querelada,
inclusive. Condenação mantida. APELAÇÃO DESPROVIDA.
(Apelação Criminal, Nº 50007710420178210076, Primeira
Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Honório
Gonçalves da Silva Neto, julgado em 23.06.2022) (grifou-se).

Não há como negar que o/a requerente sofreu incontroverso dano, quando teve
seu nome e negócio incluído em uma lista que fora criada para atingir o maior número
de pessoas possíveis e incentivar atos de violência e prejuízo à imagem do querelante.

O dolo existente na conduta do querelado também é nítido. A divulgação da lista


em que constava o nome do querelante possuía claro objetivo de macular a sua honra e,
consequentemente, causar-lhe prejuízo financeiro.

Um cidadão passa anos construindo uma boa imagem perante a sociedade. No


caso em comento, em questão de minutos, um grupo de pessoas conseguiu arruiná-la
completamente criando uma imagem negativa que ficará marcada na mente das pessoas.

A dor ser alvo de uma injustiça, de ter seu nome associado a uma perseguição
política de vendeta é algo implacável, especialmente para estes donos de pequenos
comércios que dependem da venda direta e da indicação dos demais cidadãos.

O fato é agravado por causar verdadeira “caça às bruxas”, sem qualquer justo
motivo, àqueles que o grupo ofensor entende como opositores políticos, o que causou e
segue causando graves aborrecimentos e o temor de ver seu labor desmoronar.
Ademais, uma vez que praticado pela internet em grupo de chat com um número
expressivo de participantes, no presente caso o delito deve ser sancionado com a causa
de aumento de pena de 1/3, conforme o artigo 141, inciso III do CP por ter sido
cometido na presença de várias pessoas, além de ter sido feito por meio que facilita a
divulgação.

Neste sentido, o querelado extrapola o seu direito à livre manifestação,


desbordando os limites legais e passando à ilicitude, causando danos à honra e ao labor
do/da autor/autora que, por conseguinte, devem ser reparados.

Diante do exposto, requer seja o querelado CONDENADO às penas do artigo


139, caput, c/c art. 141, inciso III, ambos do Código Penal.

3. DOS PEDIDOS

3.1. Por tudo que foi exposto, passa a Requerer:

A) A concessão do benefício da Justiça Gratuita, vez que se declara pobre no


sentido jurídico do termo, conforme declarações em anexo;

B) A citação dos querelados, nos endereços já declinados no preâmbulo desta


peça, para comparecer à audiência preliminar e, se infrutífera, para apresentar sua
defesa, querendo, e acompanhar a presente demanda até final decisão, sob pena de
confissão e revelia;

C) Seja designada audiência preliminar, na forma do Art. 72 da lei 9.099/95 para


eventual composição e transação penal, e, em caso de impossibilidade de conciliação,
requer seja recebida a presente, citados os querelados para responder aos termos da ação
penal;

D) A intimação do Ministério Público para se manifestar no feito, nos termos do


artigo 45 do Código de Processo Penal.
F) E, ao final desta, depois de confirmada judicialmente a autoria e
materialidade do delito dos autos, seja a querelada condenada, julgando-se procedente a
presente queixa-crime, nas penas cominadas no artigo 139 do Código Penal, como
também seja a pena máxima em concreto aplicada, com a causa de aumento de pena de
1/3 do artigo 141, III, do CP.

G) Protesta provar o alegado, por todos os meios de prova admitidos em Direito


inseridos nesta exordial, como também especialmente pela juntada posterior de
documentos, ouvida do noticiado, depoimentos das testemunhas abaixo arroladas,
perícias, diligências e tudo mais que se fizer necessário para a prova real no caso “sub
judice”.

Nestes termos, pede e espera deferimento.

___________, __ de ____________ de 2022.

Adv.______________
OAB/RS

ROL DE TESTEMUNHAS

Você também pode gostar