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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO

ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE SÃO JOÃO DEL REI, MINAS GERAIS

DÉBORA APARECIDA DOS SANTOS,


brasileira, solteira, estudante, portadora do CPF n.º
059.594.556-25, nascida em 02/10/1984, filha de João Batista
dos Santos Filho e Solange Aparecida dos Santos, residente e
domiciliada na Rua Otávio Giarola, nº 270, Bairro Colônia do
Marçal, São João del Rei, Minas Gerais, vem, respeitosamente à
presença de V. Exa., através de seu procurador in fine
assinado para, com fulcro na Constituição Federal, art. 5º,
incisos, V e X, Código Civil art. 186 e Código de Defesa do
Consumidor, art. 83 e 101, propor

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL, COM PEDIDO DE MEDIDA


CAUTELAR

em face de PONTO FRIO(Globex Utilidades S/A), pessoa jurídica


de direito privado, inscrito no CNPJ n.°........ , na pessoa
de seu representante legal, com endereço na rua Marechal
Deodoro, n.º 237, bairro Centro, em São João del-Rei, Minas
Gerais e RECOVERY DO BRASIL FUNDOS DE INVESTIMENTOS EM
DIREITOS CREDITÓRIOS não PADRONIZADOS MULTISETORIAL, inscrito
no CNPJ sob o nº 08.848.247/0001-47, instalada na Rua Cidade
de Deus, S/N, (Prédio Novíssimo), 4º andar, bairro Vila Yara,
na cidade de Osasco, São Paulo, pelos motivos de fato e de
direito que passa a expor:
DOS FATOS

A requerente, ao tentar efetuar compras no mercado


local, obteve a negativa de venda das mercadorias pretendidas,
sob a alegação de que estaria com o CPF negativado no SPC,
conforme faz prova documento emitido pelo sistema de
informações cadastrais do SPC. A primeira providência tomada
pela requerente, abalada pelo acontecimento foi entrar em
contato com a loja responsável pela venda do produto que lhe
gerou este constrangimento.

Por diversas vezes desde a primeira notificação a


requerente se empenhou em solucionar o equivoco, e sem ter
obtido êxito nas diversas diligencias realizadas, não lhe
restou outra saída senão as vias judiciais para requerê-las.

Outro fato lamentável e de grande prejuízo


psicológico e financeiro para a requerente foi a negativa de
outras lojas do comércio local conforme demonstra docs. anexos
a esta exordial, a privando de se beneficiar de oportunidades
naquele momento das referidas lojas.

Causou grande espanto a requerente existir restrição


em seu nome, uma vez que aceitou a proposta e cumpriu sua
obrigação para com as requeridas como faz prova o comprovante
de pagamento que pudessem dar ensejo a uma negativação.

Tal registro indevido, provado pela documentação


anexa, trouxe e está trazendo inúmeros contratempos para a
requerente, pois como pessoa honesta que é, sempre cumpridora
de seus pagamentos em dia, veio a passar pelo vexame de lhe
ser negada venda por estar com restrição no cadastro de maus
pagadores (documento anexo).

Presume a requerente que houve uma falha de enormes


e sérias proporções na empresa requerida, pois como puderam
enviar o nome e CPF de pessoa idônea, honesta, e que jamais
teve negócios com a requerida para um cadastro de maus
pagadores? Tal atitude tem causado prejuízos incalculáveis à
requerente, que jamais teve problemas com seu CPF e nome,
jamais ficou devedora de quem quer que seja, e seu psicológico
está extremamente abalado.

Ademais, e apenas em argumentação, a requerente


sequer foi comunicada que seu nome teria inclusão no cadastro
de maus pagadores, o que possibilitaria chamar a atenção da
requerida ou mesmo tomar providências cabíveis para coibir a
mencionada prática ilícita, qual seja, sua inclusão indevida
no SPC por valores inexistentes e jamais contratados.

As conseqüências geradas desta atitude irresponsável


de fazer constar o nome de pessoa inocente em cadastro de maus
pagadores, veio a galope e de forma letal, tornando grave a
lesão moral sofrida pela autora.

DO CABIMENTO DA AÇÃO

Leciona o eterno Alfredo Buzaid que “a ação


declaratória tem por objeto a declaração da existência ou
inexistência de uma relação jurídica ou da autenticidade ou
falsidade de documento.” (A AÇÃO DECLARATÓRIA NO DIREITO
BRASILEIRO), ED. Saraiva, 2ª Ed., p. 139).

a – In casu, no campo declaratório do pedido, o objetivo é


declarar a inexistência de qualquer negócio jurídico que
gerasse a inscrição da requerente no SPC, com o conseqüente
cancelamento do nome da requerente do SPC. (art. 4º, inciso
II, em companhia das regras hospedadas nos artigos 387,
parágrafo único, inciso I e 388, inciso I, todos do diploma
processual civil)

b – Quanto ao pedido de indenização, ele vem estribado nos


danos morais sofridos pela autora, cumulado com o declaratório
(CPC, art. 292). Mutatis Mutandis, Danos morais indenizáveis
pela desonra e humilhação sofrida pela autora, por ter seu
nome levado a protesto injustamente, em outra praça, sem nada
dever (Const. Federal, art. 5º., V e X; RJTAMG 46/250 e
COAD/STJ 61.448/93).

DO DIREITO

Primeiramente, urge declinar que a autora é pessoa


idônea, conceituada na cidade em que reside, de moral
intocável, sempre pautando seus negócios com seriedade e
idoneidade. De tal forma, nunca fora alvo de qualquer espécie
de protesto e nem de registro em cadastro de maus pagadores,
sempre possuindo bom crédito em entidades bancárias e empresas
comerciais.

É profundamente lamentável que o cidadão brasileiro,


cumpridor de suas obrigações, seja compelido, obrigado,
forçado a recorrer ao Poder Judiciário para salvar seu nome
lançado em cadastro de maus pagadores de forma absurda e
indevida.

É bom frisar que de forma inquestionável a autora


está com seu nome e CPF com restrição de forma abusiva, visto
não corresponderem a qualquer negócio jurídico, tratando-se de
títulos frios, não emitidos ou assinados pela autora e, como
tal, eivados de nulidade.

Diante do acima exposto vê-se que a empresa


requerida provocou a inclusão do nome da requerente no SPC
de forma indevida e absurda, causando sério prejuízo à
requerente. Indubitavelmente, feriu fundo a honra da autora
ver seu nome lançado futilmente no SPC, tornado pública a
falsa informação de inadimplente, ficando, por isso, obrigada
a reparar o dano (C.C., art. 186).

Reza o art. 186 do C.C.:

Art. 186. “Aquele que, por ação ou


omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral,
comete ato ilícito”.
Agora, aliado à legislação ordinária acima citada, o
dano moral ganhou foro de constitucionalidade, ex-vi do art.
5, inciso V, da C.F. que dispõe:

“V – é assegurado o direito de
resposta, proporcional ao agravo, além de
indenização por dano material, moral ou à
imagem;” (Destacamos).

Ora Excelência, a inclusão indevida da requerente no


SPC, bem como a recusa de venda no comércio local, onde sempre
foi a autora muito respeitada e cumpridora de seus deveres,
aliada à negativa de ativação de seu nome em um plano de
telefonia, que lhe traria benefícios, vem causando grandes
transtornos e dano à imagem e bom nome da requerente, fazendo
com que ela deixe de agir como normalmente agiria, inclusive
necessitando de tratamento médico.

Aliás, o simples fato da requerente ter o nome


registrado indevidamente no SPC, por si só já é capaz de
causar abalo, desconforto e constrangimento a qualquer pessoa,
bem como a qualquer imagem.

Diz o inciso X do art. 5º da nossa Carta Magna:

“X – são invioláveis a intimidade, a


vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização
pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação.” (Destacamos).

Não há como negar que a inclusão do nome no SPC


violou a sua honra, causando-lhe imenso abalo, constrangimento
e desconforto. Dessa violação é que surge o dever de indenizar
da requerida.

Ademais, o renomado autor Antônio Herman de


Vasconcellos e Benjamin em seus comentários ao artigo 43 do
CDC, ensina que “o consumidor, ao sofrer prejuízos em
decorrência de descumprimento, pelo arquivista, de quaisquer
das obrigações acima referidas, tem direito à indenização
pelos danos sofridos, morais e patrimoniais (art. 6, VIII)” –
Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, comentado pelos
autores Ada Pellegrini Grinover, Antônio Herman de
Vasconcellos e Benjamin, Daniel Roberto Fink, José Geraldo de
Brito Filomeno, Kazuo Watanabe, Nelson Nery Júnior e Zelmo
Denari, - 5ª edição, página 336, nota 13.

A jurisprudência, pacífica em nossos tribunais, é


também favorável a requerente no que se refere à indenização
quando indevido a inclusão do nome no SPC.

A respeito, a decisão da 2ª Câmara Civ. do TJRJ, na


Ap. Cív. 5.943/94, j. 08.11.94,

Mutatis Mutandis,

Confira-se:

“A pessoa jurídica embora não seja


titular de honra subjetiva que se
caracteriza pela dignidade, decoro e auto
estimas exclusiva do ser humano, é
detentora de honra objetiva, fazendo
jus à indenização por dano
moral sempre que o seu bom
nome, reputação ou imagem
forem atingidos no meio
comercial por algum ato
ilícito. Ademais, após a Constituição
de 1988, a noção do dano moral não mais se
restringe ao pretium doloris, abrangendo
também qualquer ataque ao nome ou imagem da
pessoa, física ou jurídica, com vistas a
resguardar a sua credibilidade e
respeitabilidade.” (grifo nosso)
E mais:

“PROTESTO CAMBIAL INDEVIDO E REGISTRO


NO SPC - Abalo. Dano Moral e Material. A
molestação, o incômodo e o vexame social,
decorrentes de protesto cambial indevido
ou pelo registro do nome da
pessoa no SPC, constituem causa
eficiente que determina a obrigação de
indenizar, por dano moral, quando não
representam efetivo dano material. Sentença
confirmada.” (TARS - AC 189.000.326 - 2ª C.
- Rel. Juiz Clarindo Favretto - J.
01.06.89) (RJ 144/81)”. (Grifos nossos).
(Grifo nosso)

INDENIZAÇÃO – DANO MORAL – ARBITRAMENTO –


DUPLICATA – PROTESTO DE TÍTULO –
NEGLIGÊNCIA – ESTABELECIMENTO COMERCIAL –
Se o estabelecimento comercial, a despeito
de sua experiência negocial, age com
manifesta negligência ao emitir duplicata
contra pessoa com quem não teve relação
comercial, descurando-se das cautelas
recomendadas à eficácia da cártula, deve,
por conseguinte, reparar o dano moral ao
terceiro que teve, injustamente, registrado
seu nome no cartório de protesto. O
arbitramento do montante indenizatório deve
ter o parâmetro, dentre outros aspectos, as
condições da vítima e do ofensor, o grau de
dolo ou culpa presente na espécie, bem como
os prejuízos morais sofridos, de forma a
desestimular o responsável à prática futura
de atos semelhantes e a compensar a vítima
pelos prejuízos indevidamente a ela
impostos. (Ac. 3ª Câm. Civ. do TAMG, na Ap.
Cív. 266.211-9, j. 21-10-98, RJTAMG 73/169)
Com referência ao quantum indenizatório, a 2ª Câm.
Civ. do TJSP, na Ap. 142.932-1/3, j. 21-05-91, decidiu que:
“A indenização por protesto
indevido de duplicata deve ser fixada em
quantia correspondente a cem vezes o valor
do título protestado corrigido desde a data
do ato. Com isso se proporciona à vítima
satisfação na justa medida do abalo
sofrido, sem enriquecimento sem causa,
produzindo em contrapartida, no causador do
mal, impacto bastante para dissuadi-lo de
igual e novo atentado.” (RT 675/ 100)

No caso em tela a requerente faz jus à tutela


antecipada específica do art. 273 do CPC, vez que a ação tem
como consequência a nulidade de títulos inexistentes em seu
nome que teriam erroneamente ensejado a inclusão do nome do
autora no SPC, com a conseqüente exclusão do nome do autor
negativado no SPC, motivo pelo qual desde já requer seja
deferida tutela antecipada.

Ademais, a antecipação de tutela nos presentes


autos, é justificada pelo prejuízo maior que pode ocasionar no
caso de demora, sendo certo que, na pior das hipóteses, se
posteriormente a requerida conseguir demonstrar qualquer
participação ou compra da autora, aí sim incluiria seu nome
novamente nos órgãos de restrição ao crédito, o que se diz
apenas em argumentação, já que nada foi adquirido pela autora.

Também o Código de Defesa do Consumidor confere


tutela específica nos seguintes termos:

“Art. 84 – Na ação que tenha por


objeto o cumprimento da obrigação de fazer
ou não fazer, o juiz concederá a tutela
específica da obrigação ou determinará
providências que assegurem o resultado
prático equivalente ao do adimplemento.
(...)
(...)
§ 3º - Sendo relevante o fundamento da
demanda e havendo justificado receio de
ineficácia de provimento final, é lícito ao
juiz conceder a tutela liminarmente ou após
justificação prévia, citado o réu.

§ 4º - O juiz poderá, na hipótese do §


3º ou na sentença, impor multa diária ao
réu, independentemente de pedido do autor,
se for suficiente ou compatível com a
obrigação, fixando prazo razoável para o
cumprimento do preceito. (...)

DOS PEDIDOS

À vista do exposto, requer:

A – Com fulcro nas disposições do art. 273 do Código de


Processo Civil, seja concedida tutela antecipada, no
sentido de determinar de imediato o cancelamento da inscrição
do nome da autora junto ao SPC, e demais órgãos que porventura
possam ter o nome da autora negativado, por flagrante
inexistência de dívida da autora para com a requerida e até
porque o perigo de uma demora pode agravar ainda mais o dano
que vem sofrendo;

B – Seja a ação julgada procedente para condenar de forma


definitiva a ré a anular os pretensos títulos em relação à
requerente e a excluir o nome do autor no SPC, e demais
órgãos, sob pena de multa diária;

C – a citação do requerido pelo correio, para, querendo,


contestar a presente ação, sob pena de revelia e confissão;

D – a procedência do pedido, condenando ao final os requeridos


nos termos da presente ação, a indenizar o requerente no valor
de R$ 18.600,00 (Dezoito mil e seiscentos reais), como
indenização por dano moral, pela inclusão indevida no SPC ,
tendo por base compromisso inexistente;

E – comunicação aos órgãos administrativos competentes;

F – a condenação do requerido nas custas processuais e


honorários advocatícios a serem arbitrados por V. Exa, se
houver;

G – a exibição pelo requerido dos comprovantes que deram


ensejo ao pretenso negócio que levou o CPF da autora ao
cadastro de inadimplentes, com fulcro no artigo 355 e
seguintes, do CPC;

H – Requer mais, provar o alegado por todos os meios de provas


em direito admitidas, notadamente o depoimento pessoal do
representante legal da ré, sob pena de confissão, caso não
compareça ou comparecendo se recuse a depor, inquirição de
testemunhas, juntada, requisição, exibição de documentos e
prova pericial se necessária;

I – Seja deferido à requerente os benefícios da inversão do


ônus da prova, nos termos do art. 6º, VIII do CDC;

J – Requer ainda os beneplácitos da Assistência Judiciária


Gratuita, por ser o requerente pobre no sentido legal, não
tendo condições de arcar com custas e demais despesas
processuais sem prejuízo de seu sustento e de sua família.

Dá-se à presente o valor de R$ 18.600,00 (Dezoito


mil e seiscentos reais).

Nestes Termos,
Pede Deferimento.

São João Del Rei, 10 de Julho de 2009.


Welinton Augusto Ribeiro
OAB/MG 77.444

Fabiano Zanzoni Santos Monteiro


OAB/ MG

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