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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL

DE MACAPÁ/AP.
MARIA FEITOSA SANTOS, brasileira, viuva, aposentada e pensionista, e-mail:
elizangelafeitosa05@gmail.com , inscrita no RG sob o nº 31413-3 , e no CPF sob o nº
606.630.652-91 , residente e domiciliada na Rua Antonio Flexa da Costa, bairro: Novo
Horizonte, Nº 2633, cidade de Macapá /AP, por meio de seus procuradores subscritos, vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, propor:
AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C PEDIDO DE TUTELA
ANTECIPADA E CONDENAÇÃO EM DANOS MORAIS
Em face de BANCO BRADESCO S. A., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº
07.207.996/0001-50, com endereço na Av. da Aboliçã o, nº 1810, bairro Meireles, CEP
60165-080, Fortaleza/CE, pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos:
DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA
Preliminarmente, requer a autora os Benefícios da Gratuidade da Justiça, tendo em vista a
impossibilidade de arcar com o pagamento das despesas judiciais do presente feito, sem
prejuízo pró prio e de sua família, apoiando-se legalmente nos arts. 99 e SS do Novo Có digo
de Processo Civil.
Junta documentos comprobató rios que motivam o deferimento do pedido de Assistência
Jurídica Judiciá ria – AIG.
DA PRIORIDADE PROCESSUAL
Necessá rio, ainda, a observâ ncia da prioridade processual no presente caso, uma vez que a
Autora possui sessenta e três , enquadrando-se no conceito de idoso, estabelecido pela Lei
10.741/03, com a previsã o da referida garantia no Art. 71 do citado diploma legal.
DOS FATOS
A autora é beneficiá ria de aposentadoria por idade, conforme contracheque em anexo. No
início do mês de setembro, quando foi observar seu extrato, se deparou com um desconto
que a pró pria desconhece, no valor de R$ 281,00 e consequentemente observou que estava
sendo descontado juntamente com outro empréstimo que, inclusive, foi devidamente
quitado no dia 07/08/2023 (anexo).
O empréstimo que a autora desconhece está no valor total de R$ 10.638,60 (dez mil
seiscentos e trinta e oito reais e sessenta centavos) sendo liberado o valor de R$ 10.386,02 (dez
mil trezentos e oitenta e seis reais e dois centavos) no qual a autora nunca chegou a ver o valor
na sua conta, consequentemente, apenas a negativa referente ao emprestimo, que é o valor da R$
281,00 supramencionado.
Foi ao banco réu por diversas vezes tentar solucionar o problema de forma administrativa, a
pedido do atendente da área da gerênciado banco BRADESCO para que entrasse em contato com
dois números anotados pelo próprio atendente que foi 4004-4433 que ao tentar entrar em contato,
foi lhe informado que o setor referente ao número se dava ao BRANDESCO
FINANCIAMENTO VEICULOS, então, forneceu outro número para contato, tal qual, 3004-
7224 denominado BRADESCO PROMOTORA, onde a autora conseguiu falar com um dos
atendentes do setor de EMPRÉSTIMO CONSIGNADO, mas quando se fala da demanda, a
ligação sempre cai. Foram várias tentativas de contato mas não obteve sucesso em nenhuma.
Após puxar uma relação (anexo), teve ciencia de que for a feito um empréstimo consignado no
seu nome, de contrato ativo nº 819398119, BANCO BRADESCO FINANCIAMENTOS S.A,
situação ativa, data inclusão 21/06/2022 com inicio de desconto 07/2022 e fim de desconto
06/2029.

A requerente jamais solicitou/contratou serviço junto ao banco que pudesse originar tal
dívida.
Há mais de um mês o banco ficou de restituir a autora, nã o o fazendo, para piorar, retirou
outra quantia indevida à título de crédito, dessa vez no valor de R$1.537,75 (hum mil,
quinhentos e trinta e sete reais e setenta e cinco centavos), ocasionando sérios transtornos
materiais e morais, visto que a autora depende totalmente desses ganhos para sobreviver.
Sem ter outra alternativa, vem a requerente buscar junto ao Poder Judiciá rio o que lhe é de
direito: a) cessaçã o de qualquer empréstimo realizado de forma indevida no nome da
autora; b) a restituiçã o dos valores descontados na forma do art. 42, pará grafo ú nico do
CDC; e c) Condenaçã o do Banco em danos morais, conforme a farta jurisprudência
brasileira sobre o tema.
DA INVERSÃO DO ONUS DA PROVA
Em regra, o ô nus da prova incumbe a quem alega o fato gerador do direito mencionado ou a
quem o nega fazendo nascer um fato modificativo, conforme disciplina o artigo 373, incisos
I e II do Có digo de Processo Civil.
Entretanto, o Có digo de Defesa do Consumidor, representando uma atualizaçã o do direito
vigente, e procurando amenizar a diferença de forças existente entre os polos processuais,
na qual se tem, em um ponto o consumidor, como figura vulnerá vel, e noutro o fornecedor,
como detentor dos meios de prova, que sã o, muitas vezes buscados pelo consumidor, mas
que nã o possui o acesso, adotou teoria moderna em que se admite a inversã o do ô nus da
prova justamente em face desta problemá tica.
Havendo uma relaçã o em que está caracterizada a vulnerabilidade entre as partes, como de
fato há , este deve ser agraciado com as normas atinentes na Lei Nº 8.078-90,
principalmente no que tange aos direitos bá sicos do consumidor.
Ressalte-se que se considera relaçã o de consumo, a relaçã o jurídica havida entre
fornecedor e consumidor (artigo 3º do CDC), tendo por objeto produto ou serviço. Nesta
esfera, cabe a inversã o do ô nus da prova, especialmente quando:
“O CDC permite a inversão do ônus da prova em favor do consumidor, sempre que for hipossuficiente ou
verossímil sua alegação. Trata-se de aplicação do princípio constitucional da isonomia, pois o consumidor, como
parte reconhecidamente mais fraca e vulnerável na relação de consumo ( CDC 4º, I), tem de ser tratado de forma
diferente, a fim de que seja alcançada a igualdade real entre os participes da relação de consumo. O inciso
comentado amolda-se perfeitamente ao princípio constitucional da isonomia, na medida em que trata
desigualmente os desiguais, desigualdade essa reconhecida pela própria Lei.” ( Código de Processo Civil
Comentado, Nelson Nery Júnior et al, Ed. Revista dos Tribunais, 4ª ed.1999, pág. 1805, nota 13).

Diante exposto com os fundamentos a cima pautados, requer a autora a inversã o do ô nus
da prova, incumbindo ao réu a demonstraçã o de todas as provas referente aos pedidos
desta peça, principalmente no sentido de inserir nos autos o (s) suposto (s) contrato (s) de
empréstimo firmado (s) entre as partes.
DA AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICA
Vejamos, entã o, Excelência que jamais foi estabelecido relaçã o comercial entre a
requerente e a empresa requerida, sendo possível a interposiçã o de açã o declarató ria (art.
19 do CPC) com o fito de desconstituir relaçã o jurídica patrimonial (visto que há cobrança
de débitos inexistentes) e a consequente reparaçã o dos danos.
Moacy Amaral Santos ao tratar sobre o tema, afirma que:
“O conflito entre as partes está na incerteza da relação jurídica, que a ação visa a desfazer, tomando certo aquilo
que é incerto, desfazendo a dúvida em que se encontram as partes quanto a relação jurídica. A ação meramente
declaratória nada mais visa do que a declaração da existência ou inexistência de uma relação jurídica. Basta a
declaração da existência ou inexistência da relação jurídica para que a ação haja atingido sua finalidade”.

In casu, a requerente visa demonstrar que jamais realizou qualquer tipo de transaçã o
comercial com a empresa requerida, nã o tendo dado causa, bem como nã o contribuído para
a ocorrência do evento danoso, sendo a mesma inteiramente responsá vel por sua conduta
negligente, já que é indevida toda e qualquer cobrança de valores e, consequentemente, a
retirada de valores da conta bancá ria da requerente à título desse empréstimo que jamais
foi solicitado/contratado pela autora.
DA INOBSERVÂNCIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS RELATIVAS À DIGNIDADE DA
PESSOA HUMANA (ART. 1º, III, DA CF), PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR (ART 5º, XXXII,
DA CF) E À PROTEÇÃO DO IDOSO
Com a complexidade cada vez maior das relaçõ es contratuais, decorrente da evoluçã o das
relaçõ es sociais e dos meios de comunicaçã o, o operador do Direito deve, cada vez mais,
empregar a extensã o dos efeitos das normas constitucionais à s relaçõ es privadas.
Esta tendência é enxergada modernamente, onde se vislumbra a “constitucionalizaçã o” dos
microssistemas de normas referentes à s diferentes á reas de atuaçã o do Direito. Nã o é
concebível, no está gio atual de evoluçã o da ciência jurídica, o cará ter absoluto das relaçõ es
privadas, sem interferência alguma do Estado ou de normas referentes ao Direito Pú blico.
As ofensas e os vícios apontados na “falsa” relaçã o contratual entre a requerente e a
instituiçã o financeira ré ultrapassam o campo das normas regulamentares que se mostram
patentemente inobservadas pelo réu. Muito mais, atingem frontalmente diversas normas
constitucionais.
A primeira norma constitucional a ser apontada como objeto de ofensa por ato do réu é a
dignidade da pessoa humana (Art. 1º, III, da CF), essencialmente no campo relacionado à
pessoa idosa que possui maior relevâ ncia.
Noutro aspecto, o benefício previdenciá rio decorrente de incapacidade para o trabalho,
mesmo presumida, como no caso da autora, possui natureza alimentar, pois se trata da
ú nica fonte de renda da beneficiá ria, sob o manto da proteçã o, inclusive, da
irrepetibilidade.
A dignidade da pessoa humana confere uma proteçã o ao indivíduo que vai muito além do
plano da eficá cia, mas deve atingi-lo em palco de efetividade (eficá cia social), neste ú ltimo
aspecto, especialmente, perante outros particulares. Isto é, nã o só o Estado possui o dever
de observâ ncia deste fundamento da Repú blica, mas também o pró prio particular.
Como se nã o bastasse a patente ofensa à dignidade da pessoa humana, há de se reconhecer
a inobservâ ncia das normas relativas à proteçã o do consumidor, especificamente o Có digo
de Defesa do Consumidor - CDC (Lei 8.078/90).
Vale ressaltar que as relações contratuais entre indivíduos e instituições financeiras
correspondem à relação de consumo, matéria, inclusive, já sumulada pelo Superior
Tribunal de Justiça (súmula 297 STJ), além de ser matéria já pacífica na
jurisprudência pátria.
É necessá ria a consideraçã o do Art. 14, § 1º do CDC, que consagra a responsabilidade
objetiva do fornecedor dos serviços, levados em consideraçã o alguns fatores, ipsi literis:
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos
causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
§ 1º O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em
consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.

Nã o é difícil perceber que houve uma prestaçã o defeituosa do serviço, com falha na
segurança do seu “modo de fornecimento”, nã o sendo verificada de forma correta a
possível documentaçã o acostada ao, também, possível instrumento contratual, se é que
existente.
A hipossuficiência do consumidor pode ser corroborada pela aná lise das características
pessoais e elementos sociais que integram sua personalidade. A autora possui baixa
instruçã o quanto ao tema e idade elevada, nã o possuindo o conhecimento necessá rio a
respeito do contrato de empréstimo consignado, sendo dever do fornecedor do serviço
informá -la a respeito da possível prestaçã o. Neste caso, nã o há que se falar em qualquer
manifestaçã o do consumidor para que o serviço fosse prestado.
Necessá rio esclarecer que o fornecedor é proibido de fornecer qualquer serviço sem que o
consumidor o requeira, configurando uma prá tica abusiva esta atitude (Art. 39 do CDC).
Além disso, é condiçã o indispensá vel para a efetividade do contrato, a prévia aná lise e
entendimento do consumidor a respeito de seu conteú do, sendo dever do fornecedor o
cumprimento deste preceito (Art. 46 do CDC). A autora nã o teve contato com nenhum
instrumento contratual prévio para prestaçã o do serviço de empréstimo, por parte do réu,
em clara afronta ao que dispõ e a Lei Consumerista, vejamos:
Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: (Redação dada pela Lei
nº 8.884, de 11.6.1994).
(...)
III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço;
Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a
oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos
de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.

A Lei 10.741/03 ( Estatuto do Idoso) prescreve uma série de normas que permitem o
tratamento específico da pessoa idosa na sociedade, com a criaçã o de diversas garantias e
prerrogativas em status de prioridade frente aos demais cidadã os. Algumas dessas normas,
especialmente três delas (Arts. 3º, 5º e 10º) nã o podem passar despercebidas neste caso
específico, já que fazem partes das diversas outras que sofreram ofensa em face da situaçã o
fá tica.
O Art. 3º do mencionado estatuto prevê a responsabilidade universal de proteçã o e
respeito ao idoso, em essência a sua dignidade, elencando diversas entidades que possuem
este dever, sem limitaçã o, englobando todo o meio social, inclusive a família, o Estado e os
demais cidadã os.
Art. 3º É obrigaçã o da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Pú blico assegurar
ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivaçã o do direito à vida, à saú de, à alimentaçã o, à
educaçã o, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade,
ao respeito e à convivência familiar e comunitá ria.
Finalmente, o Art. 5º prevê a responsabilidade das pessoas físicas ou jurídicas por
inobservâ ncia das normas referentes prevençã o de ofensas ao Direito do Idoso,
prescrevendo que: “a inobservâ ncia das normas de prevençã o importará em
responsabilidade à pessoa física ou jurídica nos termos da lei.”
DOS DANOS MORAIS
Com relaçã o à reparaçã o do dano, tem-se que aquele que, por açã o ou omissã o voluntá ria,
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito, ficando obrigado a reparar os prejuízos
ocasionados (Art. 186 e 187 do CC). No caso exposto, por se tratar de uma relaçã o de
consumo, a reparaçã o se dará independentemente de o agente ter agido com culpa, uma
vez que nosso ordenamento jurídico adota a teoria da responsabilidade objetiva (Art. 12 do
CDC).
Sendo assim, é de inteira justiça que seja reconhecido à autora o direito bá sico (Art. 6, VI do
CDC) de ser indenizada pelos danos sofridos, em face da conduta negligente do réu em
firmar contrato nã o assinado pela requerente, danos esses de natureza moral que sã o
presumidamente reconhecidos. Seguem Jurisprudências que corroboram com o
pensamento esposado:
RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE CIVIL. INSTITUIÇÃO
BANCÁRIA. EMPRÉSTIMO OBTIDOS MEDIANTE FRAUDE. DESCONTOS INDEVIDOS.
DANOS MORAL E MATERIAL DEMONSTRADOS. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.
SENTENÇA MANTIDA. 1) Cuida-se de relação de consumo, conforme art. 3º, § 2º do
CDC. Desta forma, a responsabilidade civil da instituição bancária é objetiva, isto é,
independe do elemento culpa, bastando que o dano e o nexo causal restem
verificados no fato em análise. 2) A alegação de que o autor está sofrendo descontos
referentes a empréstimos que não pactuou não fora rechaçada pelo recorrente, vez
que sequer trouxe aos autos cópia dos contatos que ensejaram tais descontos.
Outrossim, descabe ainda imputar a terceiros fraude ocorrido dentro de seu próprio
sistema, pois a instituição bancária é responsável pela segurança do
desenvolvimento de sua atividade e como já sedimentado pelo STJ, trata-se de
fortuito interno, o que não tem o condão de afastar a responsabilidade do
recorrente. Desta forma, não merece qualquer reparo a sentença combatida que
entendeu demonstrados dano material no importe de R$ 29.079,11 (vinte e nove mil,
setenta e nove reais e onze centavos) de forma simples, ressalte-se, e moral no
patamar de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). 3) Recurso conhecido e desprovido. 4)
Sentença mantida.
(TJ-AP - RI: 00574233220158030001 AP, Relator: EDUARDO FREIRE CONTRERAS, Data de
Julgamento: 13/12/2016, Turma recursal) (grifos nossos)
RESPONSABILIDADE CIVIL. EMPRÉSTIMO OBTIDO MEDIANTE FRAUDE. DESCONTO EM
FOLHA DE PAGAMENTO. DEVER DE INDENIZAR. DANO MORAL. QUANTUM MAJORADO.
A responsabilidade da instituição financeira pela obtenção de empréstimo em nome
da autora, mediante fraude, dando causa ao indevido desconto de parcelas em seu
provento de aposentadoria, é evidente. Empresa apelante não logrou desconstituir
as alegações da autora, ônus imposto pelo art. 333, II, do CPC e pela inversão do ônus
da prova, nos termos do art. 6º, VIII, do CDC. Irrelevante, na espécie, para
configuração do dano, que os fatos tenham se desenrolado a partir de conduta ilícita
praticada por terceiro, circunstância que não elide, por si só, o ônus da instituição
recorrente. O desconto de valores indevidos diretamente na aposentadoria da
demandante acarreta dano moral indenizável. As adversidades sofridas pela autora,
a aflição e o desequilíbrio em seu bem-estar, fugiram à normalidade e se
constituíram em agressão à sua dignidade. Fixação do montante indenizatório,
considerando o equívoco da ré, o aborrecimento e o transtorno sofridos pela
demandante e o caráter punitivo-compensatório da reparação. Indenização
majorada para 6.780,00, consoante os parâmetros utilizados por esta Câmara Cível
em situações análogas. Aplicaçã o do art. 557 do CPC. APELAÇÃ O DA AUTORA PROVIDA.
APELAÇÃ O DO RÉ U DESPROVIDA. (Apelaçã o Cível Nº 70060664257, Décima Câ mara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Tú lio de Oliveira Martins, Julgado em 31/07/2014)
(grifos nossos)
(TJ-RS - AC: 70060664257 RS, Relator: Tú lio de Oliveira Martins, Data de Julgamento:
31/07/2014, Décima Câ mara Cível, Data de Publicaçã o: Diá rio da Justiça do dia
06/08/2014)
Resta incontroverso os danos morais suportados pela parte Promovente, razã o pela qual se
entende razoá vel o arbitramento, à título de danos morais, no valor de R$ 15.OOO,OO
(quinze mil reais) com correçã o monetá ria a partir dessa data (Sú mula n. 362-STJ) e juros
morató rios desde o evento danoso (Sú mula n. 54-STJ).
DOS DANOS MATERIAIS E DA REPETIÇÃO DE INDÉBITO
O Có digo de Defesa do Consumidor, em seu artigo 42, pará grafo ú nico, estabelece o direito
daquele que é indevidamente cobrado de receber em dobro o valor pago. Dispõ e tal artigo:
Art. 42. (...) Pará grafo ú nico. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à
repetiçã o do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de
correçã o monetá ria e juros legais, salvo hipó tese de engano justificá vel.
Conveniente trazer à lume jurisprudência dos Tribunais de Justiça pá trios:
TJRJ - APELACAO: APL 2188628620078190001 RJ 0218862-86.2007.8.19.0001. Relator
(a): DES. MARCO AURELIO FROES. Julgamento: 14/10/2010. Ó rgã o Julgador: NONA
CÂ MARA CIVEL. Ementa: APELAÇÃ O CÍVEL. EMPRÉSTIMO NÃO CONTRATADO. FRAUDE.
DESCONTOS INDEVIDOS NA APOSENTADORIA DO AUTOR, CONSUMIDOR POR
EQUIPARAÇÃO. FATOS QUE RESTARAM INCONTROVERSOS. RESPONSABILIDADE
OBJETIVA. TESE DE FATO DE TERCEIRO QUE NÃO ILIDE O DEVER DE INDENIZAR.
SENTENÇA DE PROCEDÊ NCIA. TEORIA DO RISCO DO EMPREENDIMENTO. DESCONTOS E
NEGATIVAÇÃ O INDEVIDOS. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. ANULAÇÃO DO
EMPRÉSTIMO E CONDENAÇÃO DO RÉU À REPETIÇÃO DO INDÉBITO, EM DOBRO, QUE
DEVEM SER MANTIDAS. VERBA MORAL FIXADA DE FORMA MODERADA, NÃ O
COMPORTANDO ALTERAÇÃ O. ACERTO DO JULGADO. ART. 557, caput, do CPC.
DESPROVIMENTO DOS RECURSOS. (grifos nossos)
DIREITO DO CONSUMIDOR. IDOSO. DESCONTOS INDEVIDOS EM BENEFÍCIO
PREVIDENCIÁRIO. FRAUDE. AUSÊNCIA DAS CAUTELAS NECESSÁRIAS NO ATO DA
CONTRATAÇÃO. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA.
DEVOLUÇÃO EM DOBRO QUE SE IMPÕE. AUSÊ NCIA DE NECESSIDADE DE
COMPROVAÇÃ O DE MÁ -FÉ . PRECEDENTES DO STJ. DANO MORAL CONFIGURADO.
QUANTUM ARBITRADO COM RAZOABILIDADE. SENTENÇA MANTIDA POR SEUS
PRÓ PRIOS FUNDAMENTOS. RECURSO DESPROVIDO. (Recurso Inominado Nº
201201003678, Turma Recursal do Estado de Sergipe, Tribunal de Justiça do Estado de
Sergipe, Helio de Figueiredo Mesquita Neto, JUIZ (A) CONVOCADO (A), Julgado em
28/06/2012) Igrifos nossos)
Como se depreende dos fatos expostos, o Banco demandado realizou descontos bancá rios
com base em um empréstimo jamais solicitado/contratado pela requerente. Logo, tem esta
o direito de ser restituída em dobro pelos valores indevidamente subtraídos do pagamento
da sua aposentadoria, totalizando no valor de R$ 6.040,16 (seis mil, quarenta reais e
dezesseis centavos).
DA CONCESSÃO DA TUTELA ANTECIPADA
Notó ria a necessidade de concessã o de tutela antecipada, tendo em vista o preenchimento
de todos os seus requisitos, uma vez que é demonstrada prova inequívoca, geradora de
verossimilhança das alegaçõ es, bem como o perigo de dano grave ou de difícil reparaçã o
(Art. 311 do CPC).
O preenchimento do primeiro pressuposto prova inequívoca, já foi excessivamente
demonstrado no decorrer de toda esta petiçã o, ademais todo o alegado pode ser
comprovado de plano, pela via documental, sem necessidade de qualquer dilaçã o
probató ria.
Observa-se ainda, no presente caso, agressã o frontal a direitos e garantias fundamentais
assegurados pela Constituiçã o Federal, o que, por si só , já justifica o reconhecimento da
verossimilhança.
Já no tocante ao segundo requisito, perigo de dano grave ou de difícil reparaçã o, esse se
mostra também atendido, uma vez que, continuando os descontos em decorrência do “falso
empréstimo” junto à empresa ré, a requerente terá sua renda mensal excessivamente
diminuída, passando por situaçã o financeira difícil, sendo necessá ria a vedaçã o de possíveis
descontos.
Desse modo, na tentativa de salvaguardar sua condiçã o digna, somente a concessã o de um
provimento antecipado que vise a impedir a efetivaçã o de descontos em seu benefício pelo
Réu poderá evitar maiores percalços tanto para ele como para toda a sua família.
DOS PEDIDOS
Frente a todos os fatos e fundamentos expostos, requer a Autora, que se digne Vossa
Excelência a:
a) DEFERIR OS BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA, uma vez que a Autora nã o possui
condiçõ es financeiras de arcar com as possíveis despesas do processo, bem como
honorá rios sucumbenciais, na forma da Lei 1.060/50 e no Có digo de Processo Civil;
b) CONCEDER A TUTELA ANTECIPADA, inaudita altera pars e initio litis, nos moldes do Art.
311 do CPC, para que seja determinada a suspensã o dos descontos à título de empréstimo
feito pelo Banco Bradesco;
c) CITAÇÃ O DO RÉ U no endereço mencionado no preâ mbulo;
d) DESIGNAR audiência de conciliaçã o na forma da Lei;
e) DECLARAR a inversã o do ô nus da prova (Art. 6º, VIII do CDC), essencialmente para a
juntada do suposto instrumento de contrato de empréstimo por parte do Réu, uma vez que
a Autora nunca teve acesso a qualquer documento deste tipo, além da comprovaçã o da
veracidade da assinatura da Autora, se houver o contrato, se necessá rio, determinando a
aná lise por perícia judicial especializada para produçã o de laudo conclusivo a respeito
deste fato;
f) No mérito, que seja DECLARADA A INEXISTÊ NCIA DO DÉ BITO fundado em contrato de
empréstimo inquinado de fraude proposta por terceiro, bem como condenar o Réu ao
pagamento de indenizaçã o a título de danos morais à Autora, no valor de R$ 15.000,00
(quinze mil reais), e no valor de R$ 6.040,16 (seis mil, quarenta reais e dezesseis centavos),
à título de danos materiais na forma do art. 42, pará grafo ú nico do CDC.
g) A CONDENAÇÃ O do Demandado ao pagamento de honorá rios sucumbenciais no importe
de 20% do valor da causa ou proveito econô mico.
Requer ainda o direito de provar o alegado por todos os meios de provas admitidos em
Direito, em especial os documentos acostados a esta peça inaugural e a colheita do
depoimento da Autora e do Réu em audiência de instruçã o e julgamento.
Valor da causa: R$ 21.040,16 (Vinte e um mil reais e quarenta reais e dezesseis
centavos)
Termos em que, pedem e esperam deferimento.
Fortaleza/CE, 01 de abril de 2019.

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