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AO JUÍZO DA VARA DO SISTEMA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E DE

DEFESA DO CONSUMIDOR DA COMARCA DE SÃO PAULO - SÃO PAULO

RONILDA DINIZ SILVA DOS SANTOS, brasileira, inscrita no CPF/MF nº. 028.837.096-
10, residente e domiciliada na Av. Solferina Ricci Pace, nº 70, bloco 05 apto. 103 Jatobá, Belo
Horizonte – MG, CEP 30664-000, por seus bastantes procuradores, ut mandato incluso, com
endereço eletrônico e escritório indicados no rodapé desta petição, onde recebe intimações, vem
à presença de Vossa Excelência, respeitosamente propor, com fulcro no art. 6º e art. 14 do
Código de Defesa do Consumidor,

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO C/C REPETIÇÃO DE


INDÉBITO, INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL E PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA
ANTECIPADA

observando-se o procedimento especial da lei nº. 9.099/95, em face do BANCO


DAYCOVAL S.A. inscrita no CNPJ: 62.232.889/0001-90, com sede na Av. Paulista, nº 1793, São
Paulo - SP, CEP 01311-200, pelas razões de fato e direito a seguir expostos.
I - DA COMPETÊNCIA
Preliminarmente cumpre desde logo demonstrar a competência desta Unidade do
Juizado Especial de Defesa do Consumidor para conhecer e julgar a presente causa, uma vez
que, primeiro, residindo a parte Autora em área sob jurisdição desta Unidade e, segundo,
tratando-se de demanda indenizatória, assim dispõe o art. 4º, III, da Lei nº 9.099/95 para tais
circunstâncias.

II - DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

Inicialmente a autora requer a V. Exa. a concessão de gratuidade de justiça, nos


termos do art. 4º, caput e § 1º da Lei 1060/1950, com a redação dada pela Lei 7.510/86, por ser
hipossuficiente econômico não podendo arcar com as custas e honorários advocatícios sem
prejuízo de seu sustento e da família.

III – DOS FATOS


A parte autora recebe benefício previdenciário de pensão por morte, nº 160.886.755-0,
pago pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS.
Diante de pontuais dificuldades financeiras, a autora, não diferente da maioria dos
aposentados e pensionistas do país, socorre-se a empréstimos consignados oferecidos por
instituições bancárias e financeiras. A autora somente contrata um empréstimo diante de uma
real emergência, pois sempre controla suas despesas e estas são proporcionais ao seu
rendimento mensal.
Dessa forma, a autora, quando verifica a necessidade de contratar um empréstimo
consignado, procura realizar a contratação de forma presencial, uma vez que não sente
segurança em efetuar a mesma por telefone.
Conforme documento anexo, a autora possui outros empréstimos consignados
vigentes.
Todavia, a autora, quando consultou o extrato de empréstimos, no intuito de confirmar
em que mês terminaria os demais empréstimos contratados junto a outras instituições
financeiras, FOI SURPREENDIDA COM A INFORMAÇÃO DE QUE HÁ UM CONTRATO
VIGENTE EM SEU NOME, QUE NUNCA CONTRATOU OU AUTORIZOU TERCEIRO A FAZÊ-
LO:
Contrato: 50-9092725/21
Situação: Ativo
Banco: Daycoval
Início do desconto: 05/2021
Final do desconto: 04/2028
Inclusão: 18/04/2021
Parcelas: 84
Valor das parcelas: R$ 28,00
Valor emprestado: R$ 1.162,65

Excelência, a autora descobriu totalmente por acaso a existência do empréstimo acima


referido, junto ao BANCO DAYCOVAL, ora réu.
Como se não bastasse o susto de tomar conhecimento que o banco réu concedeu um
crédito em seu nome sem sua autorização, a autora, ao verificar seus extratos bancários desde o
início do corrente ano, foi surpreendida mais uma vez, pois O VALOR NÃO FOI
DISPONIBILIZADO EM SUA CONTA BANCÁRIA onde recebe seu benefício previdenciário:
Após pesquisas realizadas, constatou-se a existência de uma prática pelas instituições
bancárias e financeiras, qual seja, de CONCEDER SERVIÇOS A APOSENTADOS E
PENSIONISTAS À REVELIA DESTES, E EM SUA GRANDE MAIORIA OS DESTINATÁRIOS
SÃO PESSOAS IDOSAS, e nos mesmos termos do ocorrido com a autora.
Disto, então, resulta o objeto da demanda, no sentido de obter ordem judicial, para a
finalidade de, em sede de tutela de urgência antecipada em caráter liminar, determinar que o
banco réu se abstenha de realizar os descontos das parcelas diretamente do benefício
previdenciário da autora e se abstenha de incluir o nome da autora em órgãos de proteção ao
crédito. Meritoriamente, seja declarada a inexigibilidade do débito apontado, referente ao
contrato concedido em nome da autora, em face de sua manifesta nulidade e, por fim, que o
banco réu seja condenado a restituir, em dobro, os valores descontados no benefício
previdenciário da autora e ao pagamento de indenização pelos danos morais que o autor sofreu
em razão da conduta arbitrária praticada.
Isso posto, resta demonstrado o nexo causal entre a conduta do banco réu e o dano
sofrido pelo autor e, em face disto, deduz-se que os prejuízos sofridos deverão ser indenizados.

IV- DO DIREITO
IV.I- DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Para a aplicabilidade das normas de ordem pública e interesse social previstas no


Código de Defesa do Consumidor, instituído pela Lei nº 8.078/90, em seu artigo 1º, na disciplina
de relações jurídicas, faz-se necessária a constatação de que a relação controvertida se trata de
uma relação de consumo.
A relação de consumo, por sua vez, somente se verifica quando presentes um
elemento subjetivo (consumidor e fornecedor), e um elemento objetivo (produtos e serviços),
com todas as particularidades e controvérsias identificadas, em sede doutrinária, pela corrente
finalista e pela corrente maximalista.
Nas relações jurídicas travadas entre as instituições bancárias/financeiras e seus
clientes, é incontroverso que se trata de relação de consumo, sendo certo que os bancos e
financeiras sempre são considerados legítimos fornecedores de produtos e serviços, nos termos
da definição contida no artigo 3º, “caput” e parágrafo 2º, do Código de Defesa do Consumidor:
Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou provada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou
comercialização de produtos ou prestação de serviços.
§ 2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as
decorrentes das relações de caráter trabalhista.
Acerca da responsabilidade do fornecedor, preceitua o artigo 14, § 1º, do Código de
Defesa do Consumidor, que o banco réu, na qualidade de fornecedor de serviços, deverá
responder objetivamente pela concessão indevida de cartão e descontos das parcelas deste no
benefício previdenciário do autor:
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de
culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação
dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e risco.
§ 1º O serviço é defeituoso quando não fornecer a segurança que o consumidor dele
pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes [...].
O Código de Defesa do Consumidor inovou, ainda, com a criação da figura do
consumidor por equiparação, conforme previsão do artigo 17: “[...] equiparam-se aos
consumidores todas as vítimas do evento”. Trata-se daquele consumidor que, embora não tenha
participado diretamente da relação de consumo, sofre as consequências do efeito danoso
decorrente de defeito na prestação de serviço à terceiros, que ultrapassa o seu objeto.
No caso dos autos, a autora é considerada como consumidor haja vista que, muito
embora não tenha contratado o cartão junto ao banco réu, sofreu prejuízos decorrentes dessa
contratação arbitrária, consubstanciado nos descontos das parcelas do cartão diretamente no
seu benefício previdenciário.
A Lei Consumerista, ainda, em seu artigo 39, III, trata da prática abusiva consistente
em “enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer
qualquer serviço”, o que se verifica no caso concreto, diante da concessão de um cartão pelo
banco réu à revelia da autora, pois nunca solicitou ou autorizou terceiro a fazê-lo, tampouco
usufruiu do numerário disponibilizado, e a efetivação de descontos das parcelas deste no
benefício previdenciário do consumidor.
Nesse sentido, são aplicáveis as normas do Código de Defesa do Consumidor,
mormente aquelas inerentes à proteção contratual, à oferta e publicidade, às práticas comerciais
e às cláusulas abusivas, não sendo demais destacar que este entendimento está pacificado na
doutrina, decorrência lógica do próprio texto legal, valendo trazer a lição do Professor Nelson
Nery Júnior (In: Contratos e Procedimentos Bancários à Luz do Código de Defesa do
Consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 14), constante no prefácio da obra de
Antônio Carlos Efing:
Os bancos estão sempre sujeitos ao regime jurídico do CDC, pois exercem atividade
comercial, figurando como fornecedores por expressa disposição do caput do artigo 3o do CDC.
O artigo 119 do Código Comercial classifica o banqueiro como comerciante. O decreto que
regulamentou o Código Comercial, nessa parte ainda em vigor, caracteriza a atividade do banco
como de mercancia (comércio) (artigo 19 parágrafo 2o do Decreto 737/1850). O artigo 2o da Lei
das S/A (Lei n. 6.404.76) diz que toda sociedade anônima é empresa (exercendo atividade
econômica no mercado) e o artigo 2o da Lei do Sistema Financeiro Nacional (Lei n. 4.595/64) diz
que instituição financeira só pode ser constituída sob a forma de sociedade anônima. Em suma,
os bancos sempre estão sujeitos ao regime do CDC como fornecedores, pois sua caracterização
de comerciante encontra-se descrita no caput do artigo 3o do CDC, sendo o parágrafo 2o do
mesmo artigo, quando fala em serviços bancários, apenas uma expressão expletiva do
significado do caput.
A pergunta que se pode fazer não é se os bancos se encontram sob o CDC (a
resposta é sempre afirmativa), mas se a relação jurídica existente entre o banco e a contraparte
é ou não de consumo. É uma outra questão, portanto.
O produto comercializado pelo banco não é o dinheiro (que é bem juridicamente
consumível, segundo o art. 50 do Código Civil, caracterizando-se como objeto da relação de
consumo) mas sim o crédito, bem imaterial constante do § 1º do art. 3º do CDC como objeto da
relação de consumo.
Na mesma seara, o posicionamento do Professor e Desembargador do Egrégio
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Sérgio Cavalieri Filho (In: Programa de
Responsabilidade Civil. 2.ed. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 295), com apoio em vasta doutrina,
que:
O Código do Consumidor, em seu artigo 3º, parágrafo 2º, incluiu expressamente a
atividade bancária no conceito de serviço. Desde então, não resta a menor dúvida de que a
responsabilidade contratual do banco é objetiva, nos termos do artigo 14 do mesmo Código.
Evidenciada, assim, a relação jurídica de consumo entre a autora e o banco réu,
restando inafastáveis as normas do Código de Defesa do Consumidor para a disciplina da
relação acima descrita.

IV.II - DA CONDUTA PRATICADA PELO BANCO RÉU


Efetivamente, o banco réu, ao agir sem a prudência e cautela, que são elementos
necessários a serem observados nas relações bancárias com os clientes, no oferecimento de
produtos e serviços a estes, teve a conduta voluntária que contrariou o dever de cuidado da
relação de consumo havida com o autor, a sua revelia, ensejando os danos relatados, bem como
os efeitos decorrentes do mesmo.
Trata-se do constrangimento, transtorno e prejuízo financeiro, sofridos pela autora, ao
ver-se cobrada injustamente por uma dívida que não subsiste, mormente pelo fato de que não
contratou o contrato informado, tampouco autorizou terceiro a fazê-lo, não tendo como, assim,
ser responsável pelo contrato de empréstimo apontado.
Salienta-se que inexiste, por parte do banco réu, a cautela necessária para impedir que
cartões sejam disponibilizados ao consumidor sem sua prévia solicitação e dívidas que não
subsistem sejam cobradas, uma vez que, em princípio, verifica-se que a autora NÃO solicitou a
concessão de nenhum cartão junto ao banco réu.
A interpretação moderna não pode divergir muito da que aponta no sentido da previsão
legal da responsabilidade civil por danos materiais e morais de todo aquele fornecedor que, na
prestação de seus serviços, imputar a alguém prejuízo de qualquer natureza, constatação essa
independente de preenchimento do requisito culpa. Nesta linha de raciocínio, a composição dos
danos se daria através do pagamento de uma quantia destinada a possibilitar a obtenção de
meios de atenuação da dor e reequilíbrio da situação.
A Lei Consumerista destinou, em seu artigo 14, a questão da responsabilidade objetiva
do fornecedor pelos defeitos dos serviços prestados a consumidores, independente da existência
de culpa. A teoria da responsabilidade objetiva, então, é a regra geral para as relações de
consumo.
É dever do fornecedor colocar no mercado produtos e serviços seguros, que atendam
às necessidades dos consumidores, o que não se verifica no presente caso, tendo em vista a
deficiência evidenciada nos serviços ofertados/prestados pelo banco réu, ao proceder na
disponibilização de um cartão em nome da autora sem que esta tivesse contratado/solicitado
previamente e desconta o valor da parcela diretamente do seu benefício previdenciário.
A responsabilidade objetiva fundamenta-se, assim, na noção de risco social implícito
de determinadas atividades. Por esta responsabilidade, impõe-se a determinadas pessoas o
dever de ressarcir os danos provocados por atividades exercidas no seu interesse e sob seu
controle, sem que se proceda a qualquer indagação sobre o elemento subjetivo da conduta do
agente ou de seus prepostos, bastando a relação de causalidade entre o dano sofrido pela
vítima e a situação de risco criada pelo agente.
Imputa-se a obrigação de indenizar a quem conhece e domina a fonte de origem do
risco, devendo, em face do interesse social, responder pelas consequências lesivas da sua
atividade.
IV.III - DA REPETIÇÃO DE INDÉBITO:
Conforme relatado, a autora está sofrendo descontos no valor de R$ 28,00 (vinte e oito
reais), diretamente no seu benefício previdenciário, a título de parcelas de um empréstimo que
jamais foi contratado junto ao banco réu.
Os descontos promovidos pelo banco réu tiveram início no em maio de 2021.
O artigo 42, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor dispõe que “O
consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao
dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais [...]”. Nesse
sentido é a jurisprudência referente a casos idênticos ao dos presentes autos:
AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICA CUMULADA
COM INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. RESPONSABILIDADE CIVIL.
EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. AUSÊNCIA DE CONTRATAÇÃO. SAQUE DO BENEFÍCIO
PREVIDENCIÁRIO. DEVOLUÇÃO EM DOBRO. AUSÊNCIA DE ENGANO JUSTIFICÁVEL.
DANOS MORAIS CONFIGURADOS. REDIMENSIONAMENTO DA SUCUMBÊNCIA. [...] II.
Cabível a restituição em dobro do valor indevidamente sacado do benefício previdenciário do
autora, na forma do art. 42, parágrafo único, do CDC, pois não demonstrado o engano
justificável. [...] APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA. (Apelação Cível, Nº 70083682856,
Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge André Pereira Gailhard, Julgado
em: 27-05-2020) Grifo nosso
Dessa forma, o banco réu deve ser condenado a restituir os eventuais valores
descontados do autora em seu benefício previdenciário, nos termos do artigo 42, do Código de
Defesa do Consumidor.

IV.IV DO DANO MORAL:


Ressalte-se que estamos diante de relação de consumo, de modo que o autora é
considerada consumidor por equiparação, ostentando, portanto, a condição de consumidor, nos
termos do artigo 2º do Código de Defesa do Consumidor e o banco réu é pessoa jurídica que
desenvolve atividade bancária, sendo caracterizado como fornecedor, nos termos do artigo 3º,
do Código de Defesa do Consumidor.
Nessa seara, preceituam os artigos 14 e 18, do Código de Defesa do Consumidor, que
os fornecedores respondem objetiva e solidariamente pelos danos causados aos consumidores
por defeitos relativos à prestação de serviços.
Desta feita, no caso dos autos, a autora, foi surpreendida ao descobrir a realização de
descontos em seu benefício previdenciário, decorrentes da disponibilização indevida de um
empréstimo consignado, pelo banco réu, tendo em vista que A AUTORA NÃO SOLICITOU O
EMPRÉSTIMO E NEM AUTORIZOU TERCEIRO A FAZÊ-LO.
E tal prática vem sendo reiterada pelas instituições e sofrida por inúmeros aposentados
e pensionistas, sendo identificada em demandas que chegam ao Judiciário.
Contudo, dependendo da situação, O APOSENTADO/PENSIONISTA NEM SEQUER
PERCEBE QUE ESTÁ SOFRENDO DESCONTOS INDEVIDOS E ESTÁ SENDO PRIVADO DE
UMA PARTE DO SEU BENEFÍCIO, QUE MUITAS VEZES JÁ É ÍNFIMO, POR CONTA DE UMA
ILEGALIDADE PRATICADA PELAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS E FINANCEIRAS. Assim
sendo, havendo nítido defeito no oferecimento/prestação de serviço, mister se concluir pelo
dever de indenizar o consumidor, é dizer a autora, pelo dano causado.
Trata-se de dano moral puro, também chamado in re ipsa, o qual independe de
comprovação.
Não bastasse isso, segundo a teoria da responsabilidade civil, nos termos dos artigos
186 e 927 do Código Civil, em se tratando de responsabilidade objetiva, para caracterização do
dever de indenizar é necessário que se verifique os seguintes elementos: conduta, nexo de
causalidade e dano.
Na lição de Carlos Roberto Gonçalves[1], a palavra “responsabilidade” origina-se do
latim respondere, que encerra a ideia de segurança, garantia da restituição ou compensação do
bem sacrificado. Teria, assim, o significado de recomposição, de obrigação de restituir ou
ressarcir.
Assim, é possível inferir que a responsabilidade civil tem como função o
restabelecimento do equilíbrio violado, recompondo, na medida do possível, os prejuízos
ocorridos.
Na mesma esteira, o Ministro do Superior Tribunal de Justiça Luis Felipe Salomão, ao
julgar o Recurso Especial nº 1.245.550-MG[7], expõe que “a configuração do dano moral não se
verifica no aborrecimento, no constrangimento por parte do prejudicado, mas, ao revés, o dano
se caracteriza pelo ataque a direito personalíssimo, no momento em que ele é atingido”.
A jurisprudência do Egrégio Tribunal de Justiça do RS entende ser cabível indenização
por danos morais para o consumidor que sofrer descontos em seu benefício previdenciário
decorrente de empréstimo não contratado, conforme se denota dos seguintes julgados:

RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE DESCONSTITUIÇÃO DE DÉBITO C/C


DEVOLUÇÃO DE VALORES E INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. CONSUMIDOR.
CONTRATO DE EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. RÉU QUE
NÃO COMPROVA QUE TENHA CONTRATADO COM O AUTOR OS EMPRÉSTIMOS QUE
ESTÃO SENDO DESCONTADOS DO SEU BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. AUSÊNCIA DE
DOCUMENTOS HÁBEIS A COMPROVAR A CONTRATAÇÃO. REPETIÇÃO DE INDÉBITO EM
DOBRO. DANO MORAL CONFIGURADO, POIS O AUTOR DEIXOU DE CONTAR COM O
VALOR INDEVIDAMENTE DESCONTADO DE SEUS PROVENTOS. CONSECTÁRIOS LEGAIS
MODIFICADOS, DE OFÍCIO. TAXA DE JUROS DEVE SER A TAXA SELIC, SEM CORREÇÃO
MONETÁRIA, COMO JÁ DEFINIU O STJ. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO.
(Recurso Cível, Nº 71009468679, Quarta Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator:
Oyama Assis Brasil de Moraes, Julgado em: 17-07-2020) Grifo nosso

RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE


DÉBITO C/C INDENIZATÓRIA. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO NÃO CONTRATADO. DANO
MORAL CONFIGURADO. RESTITUIÇÃO DO INDÉBITO NA FORMA SIMPLES. Diante da
ausência de prova da contratação, impõe-se a declaração de inexigibilidade do débito. A
situação narrada nos autos, na qual foram cobrados valores por empréstimo não contratado pela
parte autora, caracteriza dano moral e gera o dever de indenizar. O valor do dano moral deve ser
estabelecido de maneira a compensar a lesão causada em direito da personalidade e com
atenção aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. Quantum indenizatório mantido.
[...]. Apelos não providos. (Apelação Cível, Nº 70082016007, Décima Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Marcelo Cezar Muller, Julgado em: 05-03-2020) Grifo nosso

APELAÇÃO. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. AÇÃO ANULATÓRIA C/C


PEDIDO INDENIZATÓRIO. Falha na prestação dos serviços configurada. Comprovada a
ausência de contratação do empréstimo apontado junto ao órgão previdenciário. Danos Morais.
Trata-se de dano moral puro, também chamado in re ipsa, o qual independe de comprovação. A
falha na prestação de serviços é evidente, em face da ausência de comprovação da contratação,
a qual gerou descontos no benefício previdenciário do autor de forma indevida. Quantum fixado
de acordo com os parâmetros desta Câmara. Sentença reformada. APELO PROVIDO.
(Apelação Cível, Nº 70075862078, Décima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Bayard Ney de Freitas Barcellos, Julgado em: 07-03-2018)

Com efeito, o ressarcimento não se traduz em restituição, pois impossível a restituição


do status quo da vítima, mas em lenitivo, compensação, em verdadeiro refrigério para a dor da
alma daquele que teve um direito da personalidade violado. Não há preço para o sofrimento. Ele
é incalculável.
Cabe ao magistrado a cautela de limitar-se às entranhas da situação concreta para, a
partir de lá, retirar os seus fundamentos necessários para a estipulação da quantia indenizatória.
Ao legislador, não é garantido o acesso às provas e demais questões subjetivas que
possibilitam a estipulação uma indenização ideal, de maneira que não lhe cabe atribuir de forma
prévia uma tabela de quantificação de condutas violadoras dos direitos da personalidade. Ao
contrário, pelo fato de estas se mostrarem infinitas, resta ao legislador somente utilizar-se de
cláusulas e conceitos abertos, bem como princípios gerais, cabendo ao juiz a função de, diante
da demanda que lhe é apresentada, quantificar o valor devido.
Por todo exposto, e considerando o caráter reparador e preventivo do instituto do dano
moral, requer pela condenação do banco réu ao pagamento de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) a
fim de ressarcir os danos morais sofridos pela autora.

V – DA TUTELA DE URGÊNCIA ANTECIPADA:


Nos termos do artigo 294, do Código de Processo Civil, a tutela provisória pode ser
denominada como de urgência ou evidência.
O artigo 300, do Código de Processo Civil, dispõe que a tutela provisória será
concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de
dano ou risco ao resultado útil do processo.
A probabilidade do direito se verifica diante da plausibilidade da existência do direito
invocado por um dos sujeitos da relação jurídico-material, é dizer a autora, ou seja, na
possibilidade que a tese por ela defendida venha a ser sufragada pelo Judiciário. No caso
concreto, será demonstrado que a autora não contratou o empréstimo consignado nº 60-
1120460/1199 que foi realizado pelo banco réu e, em decorrência dessa contratação indevida,
está sofrendo descontos em seu benefício previdenciário.
O perigo do dano ou risco ao resultado útil do processo se revela pelo dano irreparável
que pode constituir-se com a manutenção dos descontos indevidos das parcelas do empréstimo
disponibilizado pelo banco réu, restando a autora impedida de usufruir da integralidade do
montante do seu benefício previdenciário, bem como se revela o perigo/risco à autora pelo fato
do banco réu proceder na inclusão do nome do seu nome nos órgãos de proteção ao crédito,
diante da ordem para cessar os descontos das parcelas do empréstimo. Os danos que a autora
pode sofrer se consubstanciam na disseminação de informações negativas referentes a seu
nome, gerando nefastas consequências que ensejam a impossibilidade de a autora proceder
qualquer operação financeira ou compras a crédito.
Nesse sentido, evidente que o deferimento da tutela de urgência antecipada em caráter
liminar pleiteada possui fundamento em matéria consistente, respaldada por inúmeras decisões
já proferidas pelos Tribunais Superiores, decisões estas que vêm considerando totalmente
ilegais as práticas comerciais contemporâneas, que estão viciadas de lesividade e abusividade,
tal qual já longamente relatado na presente petição inicial.
Destaca-se que a tutela jurisdicional que ora se postula vem sendo concedida pelo
Poder Judiciário em processos que se discute a exigibilidade do débito, o que é o caso em tela,
nas quais o objeto buscado é idêntico ao desta, ou seja, declarar a inexigibilidade de uma dívida
decorrente de contratação de um serviço/aquisição de produto que não foi solicitado pelo
consumidor.
Pelo exposto, requer o autora a concessão da TUTELA DE URGÊNCIA ANTECIPADA,
nos termos dos artigos 300, § 2º e 9º, ambos do Código de Processo Civil, para a finalidade de
que, LIMINARMENTE:
a. o banco réu abstenha-se de manter o desconto mensal no valor de R$ 208, 95 no
benefício previdenciário da autora, referente ao contrato de empréstimo nº 50-
9092725/21.
b. o banco réu abstenha-se de proceder a inclusão do nome da autora em órgãos de
proteção ao crédito, com relação a valores atrelados ao contrato de empréstimo nº
50-9092725/21.
Requer seja determinado, ainda, por este Juízo, a efetivação de medidas que
considerar adequadas para efetivação da tutela, nos termos do artigo 297, do Código de
Processo Civil.
VI- DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA:
O Código de Defesa do Consumidor consagrou como seus princípios a vulnerabilidade
do consumidor, da boa-fé, e do equilíbrio contratual. Para que tais princípios se tornem objetivos,
o inciso VIII do artigo 6o, do Código de Defesa do Consumidor, estabelece a inversão do ônus
da prova em favor do consumidor.
Ainda se tratando de relação de consumo, incide a regra do artigo 14, do Código de
Defesa do Consumidor, que estabeleceu a hipótese de responsabilidade objetiva para o
prestador de serviço, por cujo defeito é responsável, ou seja, o banco réu deve comprovar a tão
propalada segurança que tenta sustentar perante o mercado de consumo.
Na lição de Cláudio Bonatto (In: Código de Defesa do Consumidor, Cláusulas Abusivas
nas Relações de Consumo. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001, p. 60-61): “Incumbe ao
fornecedor a prova da culpa exclusiva do consumidor ou terceiro (exegese das normas previstas
nos artigos 12, § 3o e 14, § 3o)”.

A autora, enquanto consumidor, é notadamente hipossuficiente perante o banco réu,


ou seja, encontra-se impossibilitada de produzir todas as provas necessárias para a instrução do
processo. A integralidade das informações e documentos (se existentes), referentes ao contrato
de empréstimo sub judice permanecem arquivadas com o banco réu.
Desta forma, impõe-se a inversão do ônus da prova, pois a relação existente entre as
partes é nitidamente de consumo, conforme já amplamente arrazoado, aplicando-se ao presente
caso o disposto no artigo 6o, inciso VIII, do Código de Defesa do Consumidor.

VII- DOS PEDIDOS:


Pelo exposto, requer a Vossa Excelência:

a) O deferimento da tutela antecipada parcial, com a concessão de liminar para que


seja compelida a empresa Demandada a
o banco réu abstenha-se de manter o desconto mensal no valor de R$ 208, 95
no benefício previdenciário da autora, referente ao contrato de empréstimo nº
50-9092725/21.

o banco réu abstenha-se de proceder a inclusão do nome da autora em órgãos


de proteção ao crédito, com relação a valores atrelados ao contrato de
empréstimo nº 50-9092725/21.
com cominação de pena pecuniária diária no valor de R$ 500,00 (quinhentos
reais) em caso de desobediência e não cumprimento desta ordem judicial;

b) Concessão dos benefícios da gratuidade da justiça;


c) A citação da empresa-Demandada para comparecer à audiência de conciliação a
ser designada e contestar a presente até a audiência de instrução, sob pena de
revelia e confissão;
d) Quando do despacho da inicial, seja determinada a inversão do ônus da prova em
favor da Demandante, por ser esta hipossuficiente, sobre os fatos presentes na
Inicial, como lhe é assegurado pelo art. 6.º, inc. VIII, do CDC, devendo constar tal
decisão no mandado de citação;
e) Ao final, o julgamento de mérito, com a procedência total dos pedidos, para que
seja reconhecido os atos de abusividade e ilegalidade operados pela empresa-
Demandada, devendo ser, esta, condenada:
i) a DECLARAR prescrito o direito da dívida no valor de R$ 1.162,65 (mil
cento e sessenta e dois e sessenta e cinco) referente ao contrato nº

ii) a RESTITUIR a Autora, o valor de R$ 10,89 (dez reais e oitenta e nove


centavos) debitados referentes ao seguro Previsul;

iii) a PAGAR DANOS MORAIS no valor global que sugere de R$ 20.000,00


(vinte mil reais) a Demandante pela dor sofrida com atualização
monetária e juros a partir da data do evento danoso;

f) A condenação ainda da empresa-Demandada no pagamento de honorários


advocatícios no importe de 20% (vinte por cento) do valor de condenação, custas
processuais e demais cominações legais, caso haja incidência da segunda parte
do art. 55 da Lei nº. 9.099/95.

Dá-se à causa o valor de R$ 30.417, 90 (Trinta mil quatrocentos e dezessete reais


noventa centavos), para fins fiscais e de alçada.

Nesses termos, pede e espera deferimento.

Barueri, 23 de Fevereiro de 2021.

JÉSSICA DA SILVA DE OLIVEIRA


OAB/BA n. 56.314

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