Você está na página 1de 22

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO ___ JUIZADO ESPECIAL CÍVEL

DE ____________
________________________, brasileira, viuva, pensionista, devidamente inscrita sob o RG
____________ , e sob o CPF nº ____________, residente e domiciliada na Rua
________________________________________________, vêm, respeitosamente, diante de Vossa
Excelência, por meio de seus advogados infra-assinados, procuraçã o anexa, ajuizar a
presente
AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÍVIDA C/C REPARAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS E CONDENAÇÃO POR DANOS MORAIS C/C TUTELA DE URGÊNCIA.
Em face de ____________________________________, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no
CNPJ n. ____________, com sede na ____________________________________, pelos motivos de fato e
direito a seguir expostos:
I – DOS FATOS:
A parte autora possui um empréstimo nº ____________ feito com a ré no dia ____________, no
valor de R$____________ a ser pago em 72 vezes de R$____________.
Em que pese a existência do referido contrato, a autora, ao buscar instruçã o qualificada
sobre seus empréstimos, se deparou com descontos a título de RESERVA DE MARGEM
CONSIGNÁ VEL (RMC) desde o ano de 2016, conforme documento em anexo.
Os valores começaram a ser descontados no mês de ____________ no valor de R$ ____________,
em ____________ houve o aumento do valor para R$____________, em ____________ para ____________
e permaneceu até ____________. Sendo que no mês de novembro de ____________ os descontos
voltaram a ser efetuados, agora no valor de R$ ____________.
Sem saber do que se tratava buscou a instituiçã o ré para esclarecimentos, esta informando
que houve a contrataçã o dos serviços, bem como, a ciência da cliente nos termos
acordados, no entanto nã o forneceu có pia do contrato. Chegou a autora ainda a buscar o
PROCON, nã o conseguindo resolver a questã o.
Cumpre destacar que a autora é idosa, com baixa escolaridade e nunca adquiriu tal
contrato.
Nessa toada, bem como diante da indiferença da ré aos inú meros e reiterados relatos, nã o
resta à Requerente alternativa senã o o ajuizamento da presente demanda a fim de obter
alguma compensaçã o por todos os injustos sofridos.
II – DO DIREITO:
1. DA JUSTIÇA GRATUITA
Ab initio, requer a parte autora que lhe sejam deferidos os benefícios da justiça gratuita nos
termos do art. 98, § 1º, inc. I c/c 99, § 3º do CPC, por ser pobre no sentido legal, assim, nã o
podendo arcar com as custas e demais despesas de um processo judicial sem comprometer
sua subsistência.
A gratuidade da justiça é reconhecida como um direito de â mbito constitucional em toda
nossa tradiçã o. A CF em seu Art. 5º, inciso XXXV, estabelece que: a lei nã o excluirá da
apreciaçã o do Poder Judiciá rio lesã o ou ameaça a direito, e o inciso LXXIV do mesmo artigo
preceitua que o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos.
Em anexo junta extrato bancá rio e comprovante de benefício do INSS recebendo o valor
mensal aproximado de um salário mínimo, demonstrando sua hipossuficiência
financeira.
Restringir as situaçõ es em que o cidadã o terá acesso aos benefícios da gratuidade da justiça
poderá subverter o ú nico meio de que ele dispõ e para ver garantidos seus direitos sociais
que nã o foram espontaneamente cumpridos durante o liame causal, inviabilizando, assim, a
pretensã o.
Sem mais delongas, que se dariam por mero apego ao debate, pede-se o deferimento da
gratuidade da justiça à parte autora.
1. DA PRIORIDADE NA TRAMITAÇÃO
O Art. 1.048, I, do CPC, salvaguarda prioridade de tramitaçã o aos procedimentos judiciais
que envolvam parte com idade igual ou superior a 60 (sessenta anos), assim como o Art.
71, § 1º, do Estatuto do Idoso.
A parte requerente possui atualmente mais de 60 anos de idade. Portanto, fazendo jus à
prioridade de tramitaçã o, requer que este benefício processual lhe seja concedido nestes
autos a fim de que a ordem cronoló gica de conclusã o determinada pelo Art. 12, caput, do
CPC, seja sobreposta por essa preferência legal assegurada pelo Art. 12, § 2º, VII, do CPC.
1. DA RELAÇÃO DE CONSUMO E INVERSÃO DO ÔNUS PROBATÓRIO
Entre os direitos bá sicos previstos no CDC está a garantia de reparaçã o dos danos
patrimoniais e morais, o acesso à justiça e a inversã o do ô nus da prova em favor do
consumidor, nos termos do artigo 6º da referida legislaçã o. No caso em tela, tem-se típica
relaçã o de consumo, uma vez que as partes se encontram caracterizadas de acordo com os
artigos 2º e 3º do CDC. Vejamos:
Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário
final. Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja
intervindo nas relações de consumo.
Art. 3º Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação,
importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. § 1º Produto é
qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. § 2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de
consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as
decorrentes das relações de caráter trabalhista.

O Có digo de Defesa do Consumidor permite a inversã o do ô nus da prova em favor do


consumidor, sempre que for hipossuficiente ou verossímeis as suas alegaçõ es. Trata-se de
pura aplicaçã o do princípio da isonomia, pois o consumidor, que é parte reconhecidamente
mais fraca e vulnerá vel, tem, necessariamente, de ser tratado de forma diferente,
alcançando-se, assim, a igualdade real entre os partícipes das relaçõ es de consumo.
Vale dizer, ainda, que a aplicaçã o do CDC à s instituiçõ es financeiras é entendimento
pacificado pelo Superior Tribunal de Justiça na sú mula 297: “O Có digo de Defesa do
Consumidor é aplicá vel à s instituiçõ es financeiras”.
Assim, a parte autora atua como destinatá rio final do produto/serviço adquirido, nã o tendo
atividade empresá ria e nã o adquirindo o bem como insumo, mas, sim, como objeto de
consumo direto. Já a ré, praticante de atividade empresá ria, fornece o serviço como
profissional. Desta feita, o artigo 6º, VIII, do Estatuto Consumerista facilita a defesa dos
direitos dos consumidores com a inversã o do ô nus da prova a seu favor.
Assim, nã o resta outra opçã o senã o a aplicaçã o do Có digo de Defesa do Consumidor e a
inversã o do ô nus da prova (artigo 6º, VIII) a fim de que seja a parte ré incumbida de trazer
aos autos o contrato assinado para demonstrar a legalidade dos descontos realizados.
1. DO EMPRÉSTIMO COM RMC
O negó cio jurídico refere-se a empréstimo bancá rio na modalidade de cartã o de crédito
consignado, com pagamento mediante descontos perió dicos, no importe de 10% (dez por
cento) de sua margem consigná vel, nos termos do art. 12, § 1º, da Lei nº 19.490/11:
“Art. 12. A soma das consignações compulsórias com as facultativas de cada servidor não poderá exceder,
mensalmente, a 70% (setenta por cento) da remuneração bruta, assim considerada a totalidade dos pagamentos
que ordinariamente lhe são feitos, excluindo-se os de caráter extraordinário ou eventual, e os descontos
facultativos não poderão exceder a 40% (quarenta por cento) da remuneração líquida. § 1º Como margem para as
consignações facultativas, a que se refere o caput deste artigo, será reservado exclusivamente o limite de 10% (dez
por cento) para desconto a favor de operações de empréstimo ou financiamento realizadas por intermédio de
cartão de crédito.”

A RMC é uma limitaçã o percentual na renda do trabalhador, aposentado, pensionista e


servidor pú blico civil ou militar que pode ser comprometido em um empréstimo
consignado, que é aquele crédito descontado direto da folha de pagamento.
Ademais, importante salientar que o RMC vem sendo amplamente discutida como
prática ilegal e abusiva, tendo em vista que a modalidade de empréstimo consignado,
com vinculação a cartão de crédito, faz o consumidor acreditar estar contratando
empréstimo nos moldes tradicionais, e não o é, pois os juros da RMC são
infinitamente superiores ao do tradicional empréstimo consignado.
Todavia, esta espécie de contrato apenas se aperfeiçoa como uso do cartã o mediante
realizaçã o de saques e/ou de compras e, consequentemente, induz no início do desconto
em folha de pagamento restrito ao valor mínimo da fatura, sem nú mero de prestaçã o fixado
e com o refinanciamento automá tico da quantia total da dívida remanescente,
diferenciando-o, portanto, do empréstimo consignado tradicional.
Neste raciocínio, a despeito de a obrigaçã o atribuída ao consumidor promover a quitaçã o
da fatura recebida, concernente à diferença entre o mínimo descontado (RMC) e as outras
despesas do cartã o, tal espécie de contrato faz com que a dívida se eternize, em razão do
refinanciamento mensal pelo desconto apenas da parcela mínima.
Diversos bancos quando concedem o empréstimo consignado ao aposentado e
pensionista do INSS acabam por "empurrar" um outro serviço não contratado, via
limite de cartão de crédito, passando a descontar o valor mínimo da fatura do
benefício do segurado (mesmo que a pessoa não utilize o cartão), e o mais grave de
tudo é que não existe termo final desta suposta contratação, fazendo com que a parte
autora pague as faturas ad eternum.
A abusividade é clarividente, "porque se o réu cede o crédito no cartão, certamente
poderia tê-lo feito por meio de empréstimo consignado, no qual os juros são mais
baixos que os praticados em crédito rotativo.
Resta clara a intenção do réu em gerar dívida eterna para o consumidor, porquanto
não há informação de forma detalhada acerca das condições do contrato,
especialmente acerca de reserva de margem consignada, levando o consumidor ao
engano de que se tratava somente de um empréstimo consignado.
Muitos aposentados que contratam tal empréstimo, sã o surpreendidos com o recebimento
de faturas para pagamento de cartã o de crédito vinculado à instituiçã o financeira, ao qual
nunca solicitaram, sequer sabem do que se tratam.
Outro ponto extremamente importante e que comprova a má-fé do réu é que houve
falha do serviço, caracterizando um abuso de direito. Ademais viola os princípios da
probidade e boa-fé contratual quando o réu faz a parte autora acreditar que
contratou empréstimo consignado, quando na realidade ocorreu contratação de
RMC.
A ilegalidade cometida pelo réu é patente, uma vez que a parte autora não solicitou
nenhuma contratação denominada de empréstimo sobre a RMC (cód.217) para que
pudesse gerar qualquer desconto em seu benefício previdenciário.
Nesse sentido, resta demonstrada, que tal modalidade de empréstimo é realizada com base
em erro substancial quanto ao objeto do negó cio, o que autoriza a sua revisã o/anulaçã o,
inspirado no engano ou na ignorâ ncia da realidade dos fatos, contrata-se empréstimo na
modalidade de cartã o de crédito quando se pretende efetuar empréstimo consignado típico
(art. 12, § 1º, Lei nº 19.490/11).
1. DA AUSÊNCIA DE VONTADE DO CONSUMIDOR:
A requerente é beneficiá ria junto ao INSS, sendo este seu ú nico meio de sustento. Tem
realizado empréstimos com desconto consignado, com diversas instituiçõ es financeiras,
com o intuito de complementar sua renda e ajudar na subsistência. Conforme extrato
em anexo.
Neste contexto, segundo consta, o requerido Banco, promoveu o lançamento no benefício
da requerente o contrato nº 0054540595, no valor de limite R$1.980,74 proveniente de
Cartã o que jamais foi solicitado pela requerente, muito menos utilizado por esta onde,
atualmente, promove descontos no benefício:
No entanto, tais descontos ocorrem desde o ano de 2016, nã o existindo qualquer lastro de
contrato da época.
Conforme explicado acima, os débitos vêm sendo realizados mediante o desconto de
Reserva de Margem Consigná vel (RMC) para cartã o de crédito consignado, assim, o valor
descontado do benefício mês a mês paga uma maior parte de juros, mantendo praticamente
infindá vel o saldo devedor, que sofre a incidência de juros de cartã o de crédito
mensalmente.
Contudo, a requerente nunca teve a intençã o ou necessidade de contratar um cartã o de
crédito consigná vel, tanto que jamais utilizou o crédito mensalmente, como via de regra se
faz neste tipo de operaçã o.
Pessoa humilde, jamais possuiu um cartão de crédito convencional.
Não sabia ela da enorme diferença entre a taxa de juros do mútuo consignado e do
cartão de crédito. Desconhece qualquer contratação de cartão de crédito e acredita
que os empréstimos consignáveis ora realizados teriam um início e fim, com juros
similares aos aplicados nos demais contratos.
A instituiçã o financeira sem pedido ou conhecimento do beneficiá rio, criou o referido
cartã o de crédito com a desculpa de disponibilizar um valor para saque no caixa eletrô nico.
Mesmo sem o recebimento, a utilizaçã o ou desbloqueio do cartã o de crédito, a instituiçã o
financeira começa a efetuar os descontos no benefício todos os meses.
Por serem, intencionalmente, pequenos valores, a beneficiária muitas vezes nem
percebe os descontos.
Por essas razõ es o Poder Judiciá rio vem declarando a nulidade da modalidade de
Empréstimo via RMC, primeiro porque na maioria dos casos é realizada em descompasso
com a legislaçã o e segundo porque essa modalidade de empréstimo é astronomicamente
vantajosa para os bancos e extremamente desvantajosa para os consumidores.
O STJ editou a Sú mula nº 532 que é taxativa ao dizer que o envio de cartã o de crédito nã o
solicitado constitui prá tica comercial abusiva e gera dano moral.
As instituiçõ es financeiras ignoram completamente a proibiçã o contida no art. 39, inciso III,
do CDC que proíbe o envio de produto nã o solicitado, incluindo cartõ es de crédito.
A ausência de contrato assinado ou qualquer outro tipo de aceite, por si só , já acarreta a
pró pria inexistência jurídica do suposto débito apontado, até que exista prova do contrá rio.
1. DA NULIDADE / REALIZAÇÃO DO NEGÓCIO COM OBJETIVO DE SE ESQUIVAR DE
LIMITAÇÃO LEGAL / AUSÊNCIA DE INFORMAÇÃO:
Mesmo que a ré alegue que a contrataçã o se deu com o consentimento da autora e esta
sabia de todas as regras, o que só poderá ser considerado se apresentar có pia dos contratos
com assinaturas de testemunhas, conforme se verá abaixo, é de praxe que o tipo de
contrato objeto da lide foi feito para enganar o consumidor e induzi-lo a erro.
A Lei nº 13.183/2015 determina a possibilidade de desconto do benefício previdenciá rio
no limite de 35% do valor do benefício, sendo 30% para empréstimo e 5% destinado
exclusivamente para cartã o de crédito consignado.
No caso, o fornecedor, ao constatar a RMC de 30% de empréstimo já estava esgotada, induz
em erro o consumidor, que acredita contratar um serviço, enquanto outro é prestado.
Portanto, com a nítida intençã o de fechar mais um negó cio, o se aproveitou da fraqueza e
ignorâ ncia do hipervulnerá vel, para colher a assinatura em instrumento de contrato de
cartã o de crédito, configurando prá tica abusiva vedada pelo art. 39, IV do CDC.
É anulável o negócio jurídico, quando a declaração de vontade emana de erro
substancial, celebrado por vício de consentimento que poderia ser percebido por
pessoa de diligência normal, em face das circunstâ ncias do negó cio, nos termos do art.
138 e 171, II do Có digo Civil.
Neste sentido, Orlando Gomes leciona:
O erro é uma falta de representação que influencia a vontade no processo ou na fase da formação. Influi na
vontade do declarante, impedindo que se forme em consonância com sua verdadeira motivação. Tendo sobre um
fato ou sobre um preceito noção inexata ou incompleta, o agente emite sua vontade de modo diverso do que a
manifestaria, se deles tivesse conhecimento exato, ou completo. (in Introdução ao Código Civil, Vol. I, 5º Ed., 1977,
pág. 507)

Além do mais, a instituição financeira não informa clara e adequadamente a diferença


entre o contrato de mútuo e de cartão de crédito, juros de cada aplicação,
consequência do inadimplemento e o risco de não quitar a dívida utilizando a
margem disponível, descumprindo a expressa determinaçã o do art. 6º, III do CDC: a
informaçã o adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificaçã o
correta de quantidade, características, composiçã o, qualidade, tributos incidentes e preço,
bem como sobre os riscos que apresentem.
Ausente à informaçã o a consumidora quanto ao comprometimento da margem consigná vel,
deve-se reputar que a RMC constituída padece de ilegalidade, arbitrariedade e de
inexistência de contrataçã o.
De acordo com o art. 51, IV do CDC, sã o nulas de pleno direito as clá usulas contratuais
relativas ao fornecimento de produtos que estabeleçam obrigaçõ es iníquas, abusivas,
incompatíveis com a boa-fé e equidade, colocando o consumidor em desvantagem
exagerada.
Como ensina Clá udia Lima Marques:
Na formação dos contratos entre consumidores e fornecedores o novo princípio básico norteador é aquele
instituído pelo art. 4. º, caput, do CDC, o da Transparência. A ideia central é possibilitar uma aproximação e uma
relação contratual mais sincera e menos danosa entre consumidor e fornecedor. Transparência significa
informação clara e correta sobre o produto a ser vendido, sobre o contrato a ser firmado, significa lealdade e
respeito nas relações entre fornecedor e consumidor, mesmo na fase précontratual, isto é, na fase negocial dos
contratos de consumo. (MARQUES, Cláudia Lima; Manual de Direito do Consumidor. 1. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2008. 413 p.)

Desta feita, faz-se necessá ria a anulaçã o do contrato de cartã o de crédito da requerente,
tanto pela inexistência de contrataçã o, quanto pela tentativa de enganar a consumidora.
1. DA FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO - AUSÊNCIA DE CONCORDÂNCIA:
Conforme descrito acima, a autora nunca contratou os referidos empréstimos e caso a parte
ré alegue que houve a contrataçã o, esta só se admite ter ocorrido mediante fraude.
Como cediço, para que um negó cio jurídico alcance a eficá cia, primeiramente ele deve
cumprir requisitos de existência e de validade. É o que a doutrina pá tria denomina de
“Escada Ponteana”.
Trata-se de posicionamento que advém de liçã o de PONTES DE MIRANDA, que associa a
exigibilidade dos requisitos dos negó cios jurídicos estabelecidos no CC a três degraus de
uma escada.
Nesta metá fora, o primeiro degrau faz alusã o aos requisitos de existência, o segundo aos de
requisitos de validade e o terceiro aos requisitos de eficá cia [1]:
Ainda sobre FLÁ VIO TARTUCE, ao citar HANS KELSEN, interpreta que esse é um esquema
onde, para o legítimo alcance do topo (eficá cia), o negó cio jurídico necessariamente deve
perpassar pelos degraus anteriores (existência e validade). Caso contrá rio, nã o será apto a
produzir efeitos vá lidos e exigíveis no mundo jurídico, consequência esta que deve ser
aplicada à demanda da parte autora:
[...] ensina Pontes de Miranda que “existir, valer e ser eficaz são conceitos tão inconfundíveis que o fato jurídico
pode ser, valer e não ser eficaz, ou ser, não valer e ser eficaz. As próprias normas jurídicas podem ser, valer e não
ter eficácia (H. Kelsen, Hauptprobleme, 14). O que se não pode dar é valer e ser eficaz, ou valer, ou ser eficaz, sem
ser; porque não há validade, ou eficácia do que não é”. Na esteira das palavras de Pontes de Miranda, o esquema é
perfeitamente lógico, eis que, em regra, para que se verifiquem os elementos da validade, é preciso que o negócio
seja existente. Para que o negócio seja eficaz, deve ser existente e válido. Entretanto, nem sempre isso ocorre. Isso
porque é perfeitamente possível que o negócio seja existente, inválido e eficaz, caso de um negócio jurídico
anulável que esteja gerando efeitos. (TARTUCE, 2020, p. 356-357)

No presente litígio, o que se vê é que o empréstimo sub judice ilegalmente alcançou o topo
da Escada Ponteana, pois tornou-se eficaz ao atingir direitos da parte autora, todavia, por
estarem ausentes requisitos de existência (vontade) e de validade (consentimento),
o contrato em combate não poderia ter alcançado essa eficácia que alcançou,
portanto, todos os efeitos gerados são nulos e injustamente lesaram os direitos da parte
requerente.
A manifestaçã o de vontade é requisito de existência, numa relaçã o contratual legítima, é
notadamente vista na fase pré-contratual, também denominada de policitaçã o ou oblaçã o,
quando a parte contraente procura uma instituiçã o com potencial de ser contratada para
atender sua vontade.
Neste raciocínio, o consentimento em exaurir uma vontade, através da concretizaçã o de um
novo negó cio jurídico, é requisito de validade. Numa relaçã o contratual legítima, é
percebido quando a parte contratante, com sua pró pria grafia – para os contratos escritos –
ou através de seu livre aceite pessoal – para os contratos verbais – aceita a proposta da
parte contratada.
Todavia, nenhum dos pressupostos é encontrado no negócio jurídico que deu azo à
presente demanda judicial, logo, referido empréstimo é inexistente, nã o merecendo
alcançar a eficá cia, embora tenha alcançado.
CARLOS ROBERTO GONÇALVES [2] elucida o tema em aná lise lecionando que, para que um
contrato seja reputado existente e vá lido, impreterivelmente devem ser observadas duas
manifestaçõ es de vontade: a proposta do contratado e a livre aceitaçã o do contratante:
O contrato resulta de duas manifestações de vontade: a proposta e a aceitação. A primeira, também chamada de
oferta, policitação ou oblação, dá início à formação do contrato e não depende, em regra, de forma especial.
Aceitação é a concordância com os termos da proposta. É manifestação de vontade imprescindível para que se
repute concluído o contrato, pois, somente quando o oblato se converte em aceitante e faz aderir a sua vontade à
do proponente, a oferta se transforma em contrato. A aceitação consiste, portanto, “na formulação da vontade
concordante do oblato, feita dentro do prazo e envolvendo adesão integral à proposta recebida”. (GONÇALVES,
2014, p. 57; 60)
Neste sentido, havendo consentimento entre ambos os negociantes, inexistindo quaisquer
vícios no negó cio jurídico, a vontade dos dois é formalizada através da geraçã o de um
vínculo contratual, para que alcance a eficá cia que as partes esperam.
Infelizmente, não é o que se vê no objeto da presente demanda.
O CDC determina que é imprescindível, para a validade de um negó cio jurídico contratual, a
declaraçã o de vontade do consumidor em adquirir o produto do fornecedor, tanto é que
reputa como prática abusiva quando o fornecedor entrega ou executa, sem
solicitação ou autorização prévias do consumidor, produto ou serviço, pois os
contratos que regulam as relaçõ es de consumo nã o obrigarã o os consumidores se nã o lhes
for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteú do, arts. 39, III e VI e
46 do CDC.
Inclusive, nã o se pode olvidar que é vedado, na oferta de crédito ao consumidor, ocultar a
compreensã o da contrataçã o do crédito. A requerente nem sequer recebeu cópia do
contrato de empréstimo, o que realça a nulidade e sua ineficácia decorrente, Art. 54
do CDC.
No mesmo sentido, a Lei Federal nº 10.820/03, que dispõ e sobre a autorizaçã o para
desconto de prestaçõ es em folha de pagamento, determina que, para a realizaçã o de
contratos iguais aos em litígio, é imprescindível a autorizaçã o do pensionista ou do
aposentado mutuante. Com o mesmo escopo, a Instruçã o Normativa nº 28/2008 impõ e que
os empréstimos feitos por pensionistas do INSS sejam efetivados mediante contrato
firmado e assinado pelo consumidor, além de ser indispensá vel a autorizaçã o expressa do
mesmo:
Art. 6o. LEI FEDERAL nº 10.820/2003. Os titulares de benefícios de aposentadoria e pensão do Regime Geral de
Previdência Social poderão autorizar o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS a proceder aos descontos
referidos no art. 1o e autorizar, de forma irrevogável e irretratável, que a instituição financeira na qual recebam
seus benefícios retenha, para fins de amortização, valores referentes ao pagamento mensal de empréstimos,
financiamentos, cartões de crédito e operações de arrendamento mercantil por ela concedidos, quando previstos
em contrato, nas condições estabelecidas em regulamento, observadas as normas editadas pelo INSS.
Art. 3º. IN nº 28/2008. INSS. Os titulares de benefícios de aposentadoria e pensão por morte, pagos pela
Previdência Social, poderão autorizar o desconto no respectivo benefício dos valores referentes ao pagamento de
empréstimo pessoal e cartão de crédito concedidos por instituições financeiras, desde que:
I - o empréstimo seja realizado com instituição financeira que tenha celebrado Convênio e/ou Acordo com o
INSS/Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência – Dataprev, para esse fim;
II - mediante contrato firmado e assinado com apresentação do documento de identidade e/ou Carteira Nacional
de Habilitação - CNH, e Cadastro de Pessoa Física - CPF, junto com a autorização de consignação assinada, prevista
no convênio; e
III - a autorização seja dada de forma expressa, por escrito ou por meio eletrônico e em caráter irrevogável e
irretratável, não sendo aceita autorização dada por telefone e nem a gravação de voz reconhecida como meio de
prova de ocorrência

Dessa maneira, mesmo que o requerido venha a apresentar o contrato de empréstimo, há


de se verificar mais duas etapas, a primeira, se houve a devida autorizaçã o para averbaçã o
junto ao INSS, e a segunda, se realmente existem nos autos prova de que a parte autora
efetivamente contratou daquele serviço, juntamente com o intuito de fazê lo e nã o por i
realmente utilizou do serviço contrato.
Ademais, apenas para fins argumentativos, devenduçã o ao erro, ou seja, se se o contrato
apresentar todas as informaçõ es pertinentes a contrataçã o, vantagens e obrigaçõ es, para
assim permitir ao consumidor decidir se é ou nã o do seu interesse. Dito isso, o contrato
deve possuir informaçõ es como:
• Taxa de juros mensais
• CET
• Taxa de juros anuais
• Prazo de validade Forma de pagamento
• Reduçã o de juros em caso de pagamento antecipado
• Forma de entrega do cartã o de crédito consignado
• Valor da parcela fixa E EVENTUAL PREVISÃ O SE MUTÁ VEL
• Como proceder o cancelamento e quitaçã o
• Limite disponível para uso
• É sistemá tica da contrataçã o.
Consequentemente, o negó cio que preterir todos os requisitos indicados até aqui viola nã o
só os supracitados dispositivos da legislaçã o consumerista. É que o CC em seu art. 107
também determina que a declaração de vontade só será válida se observada a forma
expressamente exigida pelo legislador, o que não foi cumprido pelo réu.
Logo, consoante redigido nos pará grafos anteriores, restou claro que o contrato impugnado
pelo réu proferiu a manifestaçã o da vontade da autora, solenidade que os supratranscritos
artigos 6º da Lei Federal nº 10.820/03 e 3º, III, da IN nº 28/08 consideram essenciais para
a validade de um contrato de empréstimo consignado.
Fatalmente, o descumprimento dessa solenidade torna nulo o negócio jurídico sub
judice, motivo pelo qual se equipara à uma amostra grá tis sem obrigaçã o de pagamento:
Art. 166. CC. É nulo o negócio jurídico quando: [...] V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial
para a sua validade;
Art. 39. CDC. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: [...]
III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço; [...]
Parágrafo único. Os serviços prestados e os produtos remetidos ou entregues ao consumidor, na hipótese prevista
no inciso III, equiparam-se às amostras grátis, inexistindo obrigação de pagamento.

Neste cená rio, como a declaraçã o de vontade depende de formalizaçã o contratual onde a
parte consumidora, de maneira prévia, voluntá ria e expressa, aceite a proposta da parte
fornecedora, o empréstimo consignado sub judice é inexistente.
Ora, restou claro que foram preteridas solenidades essenciais à sua existência, o que torna
nulo o contrato imposto. Consequentemente, devem ser tomadas medidas que restaurem o
status quo ante, pois, de acordo com o Art. 169 do CC, o negó cio jurídico nulo nã o é
suscetível de confirmaçã o, nem convalesce pelo decurso do tempo.
Destarte, a declaraçã o de inexistência de relaçã o jurídica entre os litigantes, notadamente
no que envolve o empréstimo analisado na presente açã o, é medida de justiça que se impõ e
e requer. Para tanto, deverá ser prolatada sentença com fundamento legal no Art. 487, I, do
CPC, procedência que nã o deverá ser meramente declarató ria, conforme será exposto a
seguir.
Portanto, evidente que a ré falhou cabalmente na prestação do serviço, nã o bastasse o
inconveniente de abatimentos em sua aposentadoria indevidamente, a parte autora não
conseguiu solucionar o equívoco extrajudicialmente.
A ré nã o deu a correta assistência à autora, tã o pouco informou adequadamente sobre as
solicitaçõ es (art. 6º, III do CDC), sempre prometendo regularizar a situaçã o e nada
acontecia, retornando sempre as insistentes cobranças.
Os tribunais do país entendem que a empresa causa danos morais ao consumidor por
falha na prestação de serviço:
“APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. FUMO. INTERRUPÇÃO DO FORNECIMENTO
DE ENERGIA ELÉTRICA. FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO POR PARTE DA CONCESSIONÁRIA. DANOS MATERIAIS
COMPROVADOS. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. QUANTUM INDENIZATÓRIO MANTIDO. 1) Trata-se de ação
através da qual a parte autora pretende que a demandada seja condenada a realizar o pagamento de indenização
a título de danos morais e materiais, em virtude da falha na prestação de serviço e da interrupção de energia
elétrica, entre os dias 05/01 a 28/01/2022, julgada procedente na origem. 2) DEVER DE INDENIZAR - A
responsabilidade da empresa ré, na condição de concessionária de energia elétrica e prestadora de um serviço
público, é objetiva, nos termos do artigo 37, § 6º, da Constituição Federal, pelo que, responde pelos danos que
seus agentes derem causa, seja por ação ou omissão.(...)” (Apelação Cível, Nº XXXXX20228210026, Sexta Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Niwton Carpes da Silva, Julgado em: 29-09-2022)
“(...) É facultado ao consumidor, não solucionado o vício em 30 (trinta) dias, optar pela restituição do valor pago,
substituição do produto ou abatimento do preço, a teor do artigo 18, § 1º do CDC. Configura-se o dano moral
sofrido pelo consumidor que adquire automóvel com defeitos e é obrigado a suportar os inconvenientes de
sucessivas reclamações, idas à concessionária e privação da adequada utilização do produto adquirido. (...)” (TJMG
- Apelação Cível XXXXX-8/002, Relator (a): Des.(a) Maurício Pinto Ferreira , 10ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
16/07/2019, publicação da sumula em 26/07/2019) (G.N.)

O objeto da lide não foi solucionado por falha exclusiva da ré, que se omitiu em
resolver a questão e se manteve inerte ante as diversas reclamações, sendo causa de
danos morais conforme entendimento jurisprudencial pacifico, art. 389 do CC e art.
6º, VI do CDC.
1. DO CONTRATO FIRMADO POR PESSOA ANALFABETA FUNCIONAL
Nã o é forçoso ressaltar que estamos diante de uma relaçã o típica de consumo, hipó tese em
que o ô nus da prova deve ser invertido, cabendo, assim, ao Banco provar a existência do
contrato e que o mesmo foi celebrado com todas as observâ ncias das formalidades legais
nos casos de contrataçã o com analfabetos, tais como representaçã o/assistência de
procurador constituído através de procuraçã o pú blica ou, assinatura a rogo, e testemunhas
do círculo de convivência do contratante e, se for o caso, seu registro em cartó rio.
Analisando o caso em tela, é evidente que nada disso ocorre.
Conhecida prática abusiva dos bancos e financeiras cada vez mais comum no país,
mediante esquema de concessão de empréstimos consignados a aposentados e
pensionistas sem o prévio requerimento do consumidor, que se dá basicamente por
duas razõ es: a falta de controle e rigores de segurança dos bancos (compliance) na
concessã o de empréstimos e a ocorrência de fraudes realizadas por meio de documentos
falsos, extraviados ou por engenharia social.
Nã o é de hoje que pessoas simples como a parte autora, com parca escolaridade, idade
avançada e analfabeta costumam ser alvo de FRAUDES por parte de indivíduos que se
dizem representantes dessas Instituiçõ es Financeiras, por serem hipossuficientes em
excelência, tornam-se fáceis de ludibriar, e por vezes acabam apostando suas digitais
em papéis sem ter noçã o do conteú do de tais documentos, ou seja, sem ter a real noçã o do
contratado por este ato. Se já nã o bastasse serem vítimas de fraudes, ainda sofrem com as
ilegalidades perpetradas pelas Instituiçõ es Financeiras.
Sendo assim, ainda que tivesse havido a formalizaçã o de contrato comprovada pelo Banco –
o que não houve - sem tais formalidades, em decorrência de sua responsabilidade objetiva
e a inversã o do ô nus da prova, a sua nulidade seria medida que se impõ e. Nesse caso é bem
mais grave, pois inexistem os contratos.
Mesmo que a có pia do suposto contrato e do comprovante de depó sito (em favor da parte
autora) do valor objeto do mesmo venha a ser anexado pelo requerido, isso não implica a
realização do negócio jurídico, uma vez que é preciso manifestação de vontade
válida e formal de ambas as partes, o que não aconteceu.
Caso o requerido anexe o comprovante de depó sito dos contratos objeto desta, importante
destacar que a vontade de contratar apenas existiu com relaçã o à Instituiçã o Financeira,
que até poderá ter depositado o valor na conta da parte autora, mas não aconteceu por
parte desta, uma vez que não se procedeu da forma determinada pela norma
jurídica, expressa nos normativos de regência do instituto, verdadeira prática
abusiva!
Importante ressaltar que, tendo em vista as condiçõ es pessoais do Requerente, em caso de
contrataçã o, além de a legislaçã o pá tria exigir o registro pú blico, deve o contrato atender
a sua função social, e aos princípios da boa fé objetiva, da vulnerabilidade da parte
hipossuficiente a fim de evitar onerosidade excessiva e enriquecimento sem causa.
Em se tratando de pessoa ANALFABETA, a colocaçã o de impressã o digital nã o é assinatura,
logo, é preciso que se adote as medidas determinadas para sua validade, conforme
inteligência dos arts. 104, III, 166, IV, 215 e 595, ambos do CC, e art. 221, § 1º da Lei
nº 6.015/73.
Por outro lado, o ANALFABETO FUNCIONAL que nã o sabe ler também é parte
hipossuficiente e deve ter assistência devida no ato de contratação. Nã o se pode
aceitar como iguais o ALFABETIZADO e a pessoa que assina seu nome, pois comumente,
pessoas analfabetas em nossa sociedade foram induzidas a “assinar seu nome”, muitas
sequer sabem ler! Sobretudo na Zona Rural ou periferias, onde existem pessoas com
origem humilde, que durante toda a vida labutaram, nunca foram à escola, e hoje,
aposentados e idosos, sabendo repetir o desenho de seu nome, verdadeiros analfabetos
funcionais nã o podem ter o ô nus de conhecer um contrato, quiçá saber interpretá -lo.
Por deduçã o ló gica, aqueles que nã o têm escolaridade, porém, assinam seu nome com
muita dificuldade, que nã o tiveram acesso à Educaçã o, sã o presas fá ceis de empresas que
realizam contrato, fazem o aposentado assinar um documento sem testemunhas e depois
utilizam o mesmo documento para outras finalidades. E a partir daí se inicia as fraudes. É
tã o patente, que muitos bancos negociam cessã o de crédito para dificultar ainda mais a
descoberta dos responsá veis pelas fraudes!
Certo, portanto, que a realizaçã o de negó cio jurídico com analfabeto merece cuidados e o
cumprimento de certas formalidades, sob pena de nã o se considerar eficaz e vá lido pela
ausência de manifestaçã o de vontade.
IV – DOS DANOS:
1. DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA
Reza a Sú mula 479, refere: “As instituiçõ es financeiras respondem objetivamente pelos
danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no
â mbito de operaçõ es bancá rias“.
Continuamente, é o entendimento prevalente no â mbito deste E. Tribunal de Justiça. Veja-
se:
Ação declaratória de nulidade de cláusulas abusivas c.c. revisional de contrato e repetição de indébito. Contrato de
empréstimo pessoal. R. sentença de procedência. Apelo só do Banco réu. Plena aplicação do Código de Defesa do
Consumidor, bem assim de seu artigo 6º VIII. Intelecção da Súmula 297, do C. Superior Tribunal de Justiça. Embora
seja sabido que as instituições financeiras não se sujeitam à limitação dos juros remuneratórios estipulada na Lei
de Usura e no art. 591 c/c o art. 406 do CC/02 (recurso repetitivo REsp XXXXX/RS), no caso em tela se vislumbra a
cobrança de juros abusivos (mensais de 8,99% ao mês e 180,96% ao ano). Prática abusiva (art. 39, IV e V, CDC).
Plausível a adequação perseguida, nos termos do quanto decidido pelo C. Superior Tribunal de Justiça no
julgamento do REsp repetitivo 1.061.530/RS. Necessidade de determinar o recálculo do contrato para adequação à
taxa média de mercado indicada pelo BACEN, apontada pelo autor. Restituição do importe indevidamente
descontado do acionante que deve ser feita de forma simples, autorizada a compensação. Recurso desprovido.
(TJSP; Apelação Cível XXXXX-67.2022.8.26.0032; Relator (a): Roberto Mac Cracken; Órgão Julgador: 22ª Câmara de
Direito Privado; Foro de Araçatuba - 4ª Vara Cível; Data do Julgamento: 08/11/2022; Data de Registro: 08/11/2022)

Indubitá vel, portanto, que em situaçõ es como do presente caso se afigura para o banco/réu
a responsabilidade objetiva, uma vez que deixou de liberar o valor referente ao
financiamento contratado pelos autores, mesmo que eles tenham pago duas parcelas
referentes ao mesmo.
1. DA DEVOLUÇÃO EM DOBRO DOS VALORES PAGOS:
O dano ao patrimô nio da parte autora está nítido. Ora, o contrato de empréstimo analisado
nesta demanda foi realizado de maneira fraudulenta.
Para agravar, a modalidade de quitaçã o “contratada” fora os descontos mensais
consignados em sua aposentadoria.
Por sua vez, o requerente é hipossuficiente economicamente. Logo, a verba alimentar que
ele aufere mal é suficiente apenas para arcar com suas responsabilidades
domiciliares e pessoais básicas, como alimentação, saúde e moradia.
Os descontos do empréstimo que sequer contratou afetam bastante a verba que recebe
para seu sustento, o que torna simples a interpretaçã o do dano ao seu patrimô nio.
Diante deste entrave, necessá rio trazer à tona que, para a justa indenizaçã o deste dano
material, deve o réu ser condenado à repetiçã o do indébito em dobro, art. 42, pará grafo
ú nico do CDC.
Ademais, o STJ sumulou o entendimento de que, para que essa repetiçã o ocorra, nã o é
necessá rio demonstrar o erro cometido pela instituiçã o financeira, SÚ MULA nº 322.
Também é simples a verificaçã o de aplicabilidade dos dispositivos acima à presente
demanda, a parte autora/consumidora foi vítima de fraudulento empréstimo que nunca
contratou, para quitaçã o deste mú tuo, o estelionatá rio estipulou que seria feita através de
descontos consignados na aposentadoria que o consumidor vítima recebe.
Portanto, o requerente sequer tem a faculdade de pagar ou nã o, sendo fato notó rio que
cada um dos descontos consignados é feito sem prévia concordâ ncia mensalmente feita
pelo “mutuante”.
Neste sentido, FLÁ VIO TARTUCE e DANIEL AMORIM ASSUMPÇÃ O NEVES lecionam que a
repetiçã o em dobro do indébito é uma puniçã o estabelecida pela legislaçã o consumerista
que independe de demonstraçã o de dano. Vá lido realçar a lucidez dos doutrinadores, posto
que, enquanto eminentes juristas, reforçam a ideia da necessidade dessa penalidade para
desestimular que a parte fornecedora reincida em prá ticas lesivas aos consumidores:
A repetição em dobro representa uma punição contra o fornecedor ou prestador, independente da prova de
prejuízo para a sua aplicação. Por essa sua natureza, a repetição em dobro não afasta o direito de o consumidor
pleitear outros prejuízos do pagamento do indevido, caso de danos materiais e morais, premissa retirada do
princípio da reparação integral dos danos (art. 6º, inc. VI, do CDC). Como se nota, a punição introduzida pelo CDC é
maior do que a tratada pelo Código Civil, uma vez que a repetição da norma geral privada somente abrange o valor
da dívida paga acrescida de correção monetária e juros legais (arts. 876 e 884 do CC/2002). (TARTUCE; NEVES,
2020, p. 889-890)

Outrossim, o que corrobora a tese acima transcrita é a ordem indicada pelo Art. 14 do CDC.
É um dispositivo que expõ e a teoria do risco integral, por meio da qual se impõ e, aos
fornecedores de serviços, a total responsabilizaçã o pelos danos que causarem aos
consumidores. Infelizmente, a condenaçã o em testilha é tema de frequente enfrentamento
no Judiciá rio.
Como forma de desestimular a reincidência destes fornecedores, tornou-se uníssono na jurisprudência pátria que,
nos contratos de empréstimos fraudulentos como o sub judice, o consumidor cobrado em quantia indevida tem
direito à repetição do indébito correspondente ao dobro do que pagou (TJPR - Recursos XXXXX-
75.2016.8.16.0127, XXXXX-63.2016.8.16.0018, XXXXX-73.2016.8.16.0030):
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO- DESCONTO EM FOLHA DE
PAGAMENTO - ILEGITIMIDADE PASSIVA - PREJUDICIAL DE MÉRITO DE PRESCRIÇÃO - PRECLUSÃO PRO JUDICATO -
CERCEAMENTO DE DEFESA - PRELIMINAR REJEITADA - EMPRÉSTIMO CONSIGNADO - DESCONTO EM BENEFÍCIO
PREVIDENCIÁRIO - CONTRATOS INEXISTENTES - QUESTÃO INCONTROVERSA - DESCONTOS INDEVIDOS - REPETIÇÃO
EM DOBRO DO INDÉBITO - DANOS MORAIS CONFIGURADOS - QUANTUM INDENIZATÓRIO - RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO. (...) Diante do inequívoco desconto indevido, de valores no benefício de INSS da parte
autora, em virtude de contrato inexistente, configurada está a má-fé da Instituição financeira autorizando a
repetição em dobro dos valores debitados. - Os descontos sofridos pela parte autora, em seu benefício, de
valores referentes a contrato não autorizado, caracteriza falha na prestação de serviços, e, inegavelmente,
causa-lhe aflição, restando manifesta a configuração de dano moral. (TJMG - Apelação Cível XXXXX-4/002,
Relator (a): Des.(a) Shirley Fenzi Bertão , 11ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 24/11/2021, publicação da sumula em
24/11/2021) (g.n.)

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. CONTRATAÇÃO FRAUDULENTA DE EMPRÉSTIMO BANCÁRIO.


DESCONTOS CONSIGNADOS EM PENSIONAMENTO. REPETIÇÃO DE INDÉBITO EM DOBRO. DANOS MORAIS
CONFIGURADOS. - Não é necessária a caracterização de má-fé do fornecedor para que a repetição do indébito seja
em dobro, nos moldes do que estabelece o art. 42, parágrafo único, do CDC (...) (Apelação Cível Nº 70079781035,
Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Carlos Eduardo Richinitti, Julgado em 25/01/2019). (TJ-RS -
AC: XXXXX RS, Relator: Carlos Eduardo Richinitti, Data de Julgamento: 25/01/2019, Nona Câmara Cível, Data de
Publicação: Diário da Justiça do dia 01/02/2019)

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO E REPETIÇÃO DE INDÉBITO EM DOBRO – EMPRÉSTIMO


CONSIGNADO FRAUDULENTO EM SALDO DE APOSENTADORIA – SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA – APELAÇÃO DO RÉU
(...) Restituição em dobro da quantia indevidamente descontada da aposentadoria do autor – Inteligência do art.
42, parágrafo único, do CDC – Sentença mantida. Recurso não provido. (TJ-SP - APL: XXXXX20148260625 SP
XXXXX.2014.8.26.0625, Relator: Marino Neto, Data de Julgamento: 10/03/2016, 11ª Câmara de Direito Privado,
Data de Publicação: 11/03/2016) (g.n.)

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. CONTRATAÇÃO FRAUDULENTA DE EMPRÉSTIMO BANCÁRIO.


DESCONTOS CONSIGNADOS EM BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. REPETIÇÃO DE INDÉBITO EM DOBRO. DANOS
MORAIS CONFIGURADOS. INDENIZAÇÃO MANTIDA. QUANTUM REDUZIDO. - Cabe à instituição financeira
responder objetivamente pelos danos oriundos do mau funcionamento dos serviços. Dever de segurança (Súm.
479/STJ). Caso concreto em que correta a suspensão dos descontos consignados em benefício previdenciário
referentes à contrato celebrado mediante fraude em nome da autora.- Não é necessária a caracterização de má-fé
do fornecedor para que a repetição do indébito seja em dobro, nos moldes do que estabelece o art. 42,
parágrafo único, do CDC (...) (TJ-RS - AC: XXXXX RS, Relator: Carlos Eduardo Richinitti, Data de Julgamento:
26/06/2019, Nona Câmara Cível, Data de Publicação: 28/06/2019)(g.n.)

Enunciado n 1.8: Cobrança de serviço não solicitado – dano moral – devolução em dobro: A disponibilização e
cobrança por serviços não solicitados pelo usuário caracteriza prática abusiva, comportando indenização por dano
moral e, se tiver havido pagamento, restituição em dobro, invertendo-se o ônus da prova, nos termos do art. 6º,
VIII, do CDC, visto que não se pode impor ao consumidor a prova de fato negativo.”

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO C/C REPETIÇÃO DE VALORES E


REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS - SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA - INSURGÊNCIA DO AUTOR - PROPOSTA DE
EMPRÉSTIMO CONSIGNADO - CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO E DÉBITO BMG - ALEGAÇÃO DE MÁ-FÉ DO
FORNECEDOR – VALORES LIBERADOS EM CONTA BANCÁRIA - PAGAMENTO DO VALOR MÍNIMO DA FATURA
MEDIANTE DÉBITO EM FOLHA DE PAGAMENTO – INCIDÊNCIA DOS JUROS DO CRÉDITO ROTATIVO – EVIDENTE
VIOLAÇÃO AO DEVER DE INFORMAÇÃO – APLICAÇÃO DOS JUROS REMUNERATÓRIOS À TAXA MÉDIA DE MERCADO
PARA AS OPERAÇÕES DE CRÉDITO CONSIGNADO - RESTITUIÇÃO EM DOBRO DOS VALORES INDEVIDAMENTE
DEBITADOS - VIOLAÇÃO A DIREITO FUNDAMENTAL - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - (....) (TJPR - 14ª C.Cível -
AC - 1610962-1 - Região Metropolitana de Londrina - Foro Central de Londrina - Rel.: José Hipólito Xavier da Silva -
Unânime - J. 02.08.2017) (g.n.)

Portanto, é medida de justiça, e é o que se requer, a condenaçã o do requerido para que


repita o indébito, em dobro, em favor da requerente.
Outrossim, impende ressaltar que, dada a responsabilidade extracontratual dos danos
materiais em voga, a parte requerida constituiu-se em mora desde o efetivo prejuízo da
requerente.
Consequentemente, quando de sua condenaçã o ao pagamento dos valores devidos, deverã o
incidir juros de mora e correçã o monetá ria a partir de cada desconto efetuado:
Art. 398. CC. Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em mora, desde que o praticou.
SÚMULA nº 43. STJ. Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo.
SÚMULA nº 54. STJ. Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade
extracontratual.

Isto posto, requer que Vossa Excelência condene o réu a ter que repetir os valores
descontados do autor, em dobro, na quantia de R$ __________, ou seja, R$_________ conforme
planilha em anexo.
1. DO DANO MORAL:
É notó rio que os aposentados têm sido vítimas de fraudes na contrataçã o de empréstimos
consignados devido à vulnerabilidade em que se encontram.
Acrescenta-se o fato de que o público alvo dessa prática são pessoas idosas, por
vezes pouco instruídas, que acreditam contratar um empréstimo, quando em
verdade, contratam outro serviço, por omissão de informações, induzindo essas
pessoas em erro.
A induçã o do consumidor em erro ofende os direitos à personalidade da requerente,
especificamente a honra (objetiva e subjetiva), protegida pelos art. 5º, X, da CF, e 11, 16, 20,
21, do CC, corolá rio da dignidade da pessoa humana, valor fundamental do Estado
Democrá tico de Direito, conforme art. 1º, III, CF.
De início, no que tange ao dano moral, evidencia-se que este decorre do pró prio ato ilícito
praticado pela ré: demora na liberaçã o do empréstimo contratado pelos autores, sendo que
já realizaram o pagamento de duas parcelas referentes ao contrato.
Assim, o princípio da Política Nacional das Relaçõ es de Consumo de coibir e repreender
eficientemente os abusos no mercado de consumo, presente no art. 4º, VI do CDC, e o
direito bá sico do consumidor à efetiva prevençã o e reparaçã o de danos, disposto no art. 6º,
VI do CDC, impede o aviltamento da verba indenizató ria.
Neste sentido, os precedentes das Turmas Recursais reconhecem a existência do chamado
dano moral presumido ou in re ipsa, decorrentes dessa prá tica abusiva:
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÍVIDA C/C DANOS MORAIS.
RETENÇÃO SALARIAL. EMPRÉSTIMO E CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADOS. CONTRATAÇÃO. PROPOSTA DE
ADESÃO OBSCURA. AUSÊNCIA DE INFORMAÇÃO SOBRE A OPERAÇÃO DE CRÉDITO E SUA DINÂMICA. DESCONTOS
REFERENTES À CARTÃO DE CRÉDITO E NÃO À EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. CONTRATANTE INDUZIDO EM ERRO.
CARTÃO DE CRÉDITO NÃO RECEBIDO E NÃO UTILIZADO. DESCONTOS EFETIVADOS NA FOLHA DE PAGAMENTO.
INSCRIÇÃO INDEVIDA. ATO ILÍCITO CONFIGURADO. DANO MORAL DEVIDO. APELAÇÃO NÃO PROVIDA. RECURSO
ADESIVO NÃO PROVIDO. (TJPR - 15ª C.Cível - AC - 1677648-2 - Região Metropolitana de Londrina - Foro Central de
Londrina - Rel.: Hayton Lee Swain Filho - Unânime - J. 14.06.2017)(g.n.)
RECURSO INOMINADO. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. CARTÃO DE CRÉDITO. RESERVA DE
MARGEM CONSIGNÁVEL (RMC). ALEGAÇÃO DE CONTRATAÇÃO EM MODALIDADE DIVERSA. DEFEITO DO NEGÓCIO
JURÍDICO NO MOMENTO DA EXECUÇÃO. DÉBITO IMPAGÁVEL. ONEROSIDADE EXCESSIVA. DECLARAÇÃO DE
NULIDADE DE CLÁUSULA. ABUSIVIDADE DE DISPOSIÇÃO QUE PREVÊ DESCONTO CONTÍNUO DE VALOR
PROPORCIONAL AO EMPRÉSTIMO PELO PAGAMENTO MÍNIMO DE CARTÃO DE CRÉDITO. DETERMINAÇÃO DE
READEQUAÇÃO DO INSTRUMENTO CONTRATUAL. REPETIÇÃO DO INDÉBITO DOS VALORES ADIMPLIDOS A
MAIOR. DANO MORAL CONFIGURADO. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE
PROVIDO. (TJPR - 3ª Turma Recursal - XXXXX-92.2021.8.16.0137 - Porecatu - Rel.: JUIZ DE DIREITO DA TURMA
RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS FERNANDO SWAIN GANEM - J. 13.02.2023)(g.n.)
RECURSO INOMINADO. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. CARTÃO DE CRÉDITO. RESERVA DE
MARGEM CONSIGNÁVEL (RMC). ALEGAÇÃO DE CONTRATAÇÃO EM MODALIDADE DIVERSA. DEFEITO DO NEGÓCIO
JURÍDICO NO MOMENTO DA EXECUÇÃO. DÉBITO IMPAGÁVEL. ONEROSIDADE EXCESSIVA. DECLARAÇÃO DE
NULIDADE DE CLÁUSULA. ABUSIVIDADE DE DISPOSIÇÃO QUE PREVÊ DESCONTO CONTÍNUO DE VALOR
PROPORCIONAL AO EMPRÉSTIMO PELO PAGAMENTO MÍNIMO DE CARTÃO DE CRÉDITO. DETERMINAÇÃO DE
READEQUAÇÃO DO INSTRUMENTO CONTRATUAL. REPETIÇÃO DO INDÉBITO DOS VALORES ADIMPLIDOS A
MAIOR. DANO MORAL CONFIGURADO. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE
PROVIDO.
(TJPR - 3ª Turma Recursal - XXXXX-92.2021.8.16.0137 - Porecatu - Rel.: JUIZ DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS
JUIZADOS ESPECIAIS FERNANDO SWAIN GANEM - J. 13.02.2023)
RECURSO INOMINADO. BANCÁRIO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO
COM RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL (RMC) E INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS. DESCONTOS EM MARGEM CONSIGNÁVEL DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO SEM A UTILIZAÇÃO DO
CARTÃO. AUSÊNCIA DE CONTRAPRESTAÇÃO. DESCONTOS INDEVIDOS. DEVER DE RESTITUIR. REPETIÇÃO EM
DOBRO. DICÇÃO DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 42 DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. MÁ-FÉ QUE NÃO
CARECE DE DEMONSTRAÇÃO. PRECEDENTE DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. CONSUMIDOR INDUZIDO A
ERRO SUBSTANCIAL POR CORRESPONDENTE BANCÁRIO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO BANCO. DANO
MORAL CONFIGURADO NO CASO CONCRETO. INDENIZAÇÃO FIXADA COM RESPEITO AOS PRINCÍPIOS DA
PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO.1.
Ajuizada ação Declaratória de Nulidade de Contrato de Cartão de Crédito com Reserva De Margem Consignável
(RMC) e Inexistência de Débito c/c Indenização por Danos Morais sob o fundamento de que lhe foi informado por
conversa telefônica de que estava sendo descontados mensalmente valores em seu benefício previdenciário,
decorrente da margem consignável.Preposto do banco que informa expressamente que tais descontos, porém sem
a utilização do cartão de crédito, geraram um crédito em favor da Consumidora e que tal valor estava a disposição,
alertando que nada mudaria se fosse aceito o crédito.Realização de empréstimo (Cédula de Crédito).2. In casu,
verifico que o autor se desincumbiu de seu ônus probatório, pois demonstrou a ocorrência de descontos em seu
benefício sem qualquer contraprestaçao, além de ter sido categórico em seu depoimento pessoal e nos áudios
apresentados na inicial, no sentido de negar a contratação do cartão de crédito e/ou qualquer empréstimo com a
requerida.(...) Realidade em que foi lavrada uma cédula de crédito justificadora de um empréstimo na modalidade
saque em cartão de crédito com margem consignada.3. Correto o entendimento de que a parte consumidora foi
indevidamente cobrada, mediante descontos em seu benefício e que foi induzida a erro por ocasião da
contratação do empréstimo na modalidade cédula de crédito. Cabendo a obrigação de restituir.4. Danos morais.
Os danos morais são devidos ante a flagrante violação da boa-fé objetiva por parte da instituição bancária que,
ao arrepio da lei, e infringindo os princípios da bilateralidade e da autonomia de vontade que regem os contratos,
primeiramente descontou valores sem qualquer contraprestação e, posteriormente induziu a parte consumidora a
erro, contratando um empréstimo sob a alegação de que havia gerado um crédito em favor dela. (...) RECURSOS
INOMINADOS. BANCÁRIO. CONSUMIDOR. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. DESNECESSIDADE DE PERÍCIA
GRAFOTÉCNICA. PECULIARIDADE DOS AUTOS A INDICAR AUSÊNCIA DE CONTRATAÇÃO. LIBERAÇÃO DE CRÉDITO NA
CONTA DA AUTORA SEM SOLICITAÇÃO. REQUERENTE QUE EFETUA DEPÓSITO JUDICIAL DO VALOR QUESTIONADO
A INDICAR SUA BOA FÉ. FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. DEVOLUÇÃO EM DOBRO. DANOS MORAIS
CONFIGURADOS NO CASO CONCRETO. RECURSO DO BANCO DESPROVIDO. RECURSO DA PARTE AUTORA
PROVIDO. (TJPR - 2ª Turma Recursal - XXXXX-32.2021.8.16.0130 - Paranavaí - Rel.: JUIZ DE DIREITO DA TURMA
RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS MARCEL LUIS HOFFMANN - J. 27.06.2022) (...) A Corte Especial do Superior
Tribunal de Justiça, em julgamento proferido no EAREsp 676.608, em 21/10/2020, firmou entendimento de que
a restituição em dobro do indébito ( parágrafo único do artigo 42 do CDC) independe da natureza do elemento
volitivo do fornecedor que cobrou valor indevido, revelando-se cabível quando a cobrança indevida
consubstanciar conduta contrária à boa-fé objetiva.Portanto, entendo que deve ser de forma dobrada a
restituição conforme consta da sentença haja vista que os descontos se efetivaram sem lastro.6. Sentença
mantida.7. Recurso conhecido e não provido. (TJPR - 2ª Turma Recursal - XXXXX-55.2021.8.16.0018 - Maringá -
Rel.: JUIZ DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS IRINEU STEIN JUNIOR - J. 10.02.2023)
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO E NULIDADE CONTRATUAL C/C RESTITUIÇÃO
DE VALORES E INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO COM
RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL (RMC). SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA. IRRESIGNAÇÃO DA PARTE
AUTORA. ALEGAÇÃO DE QUE FOI INDUZIDA EM ERRO. PRETENSÃO DE CONTRATAR EMPRÉSTIMO CONSIGNADO
PADRÃO. CONTRATO NÃO COLACIONADO AOS AUTOS E AUSÊNCIA DE PROVA DO DEPÓSITO DE VALORES EM
FAVOR DA PARTE. RESTITUIÇÃO EM DOBRO DOS VALORES DESCONTADOS. CONFIGURAÇÃO DE MÁ-FÉ. DANO
MORAL CONFIGURADO. DANO IN RE IPSA. (...) (TJPR - 13ª Câmara Cível - XXXXX-72.2020.8.16.0073 -
Congonhinhas - Rel.: JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO EM SEGUNDO GRAU VICTOR MARTIM BATSCHKE - J.
16.12.2022)

Cumpre destacar, mais uma vez, que a aposentada jamais autorizou tais descontos em seu
benefício previdenciá rio, visto que nem mesmo houve informaçã o pela instituiçã o
financeira acerca da constituiçã o da RMC, inclusive sobre o percentual a ser averbado em
seu benefício, que via de regra é 5%, sendo que daí decorre a abusividade da instituiçã o
financeira na relaçã o jurídica.
A parte autora vem experimentando uma situaçã o desagradá vel e que nã o pode ser
caracterizada como mero abalo do diaadia. O banco está agindo com manifesta negligência
e evidente descaso com a autora, que se vê presa a um empréstimo eterno que nunca
contratou.
No fim de sua vida, momento de descanso, a autora é colocada em situação
vexaminosa, não conseguindo honrar com suposto empréstimo, vendo sua condição
financeira diminuir drasticamente sem entender, se vê vergonhosamente como
devedora que não consegue pagar suas dívidas, quão séria é tal situação que causa
um abalo psíquico imenso à idosa.
Passados todos estes sentimentos, descobre que caiu em um golpe do próprio banco,
quão inútil e humilhado se sente um idoso nessa situação, que jamais poderá ser
considerada apenas mero dissabor.
Sem dú vidas, merece prosperar o direito bá sico da autora de ser indenizada pelos danos
sofridos, em face da conduta negligente do réu.
Em prosseguimento, em relaçã o ao dano moral, faz-se mister salientar que nossa
Constituiçã o Federal estabelece também o dever de indenizar, onde há violaçã o da honra e
da imagem, sendo cristalino no caso em comento, do qual vejamos:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

Ademais, acerca da ilicitude do ato, nosso Có digo Civil prevê em seus artigos, a seguir
mencionados, a obrigaçã o de indenizar:
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo
único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem. Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

É notó rio, pois, que os prejuízos suportados pela autora sã o incontestá veis quanto a sua
reparaçã o, bem como restará demonstrado que o dano ocorreu por ato ilícito da parte ré
que desconta há anos valores indevidos da conta da autora.
Para fixaçã o do quantum indenizató rio a título de dano moral, deve-se sempre ponderar o
ideal da reparaçã o integral e da devoluçã o das partes ao status quo ante, segundo rezam os
artigos 944 e. 947 do Có digo Civil e o art. 6º, VI do Có digo de Defesa do Consumidor.
No entanto, nã o sendo possível medir-se sua extensã o, a obrigaçã o de indenizar é vista
como forma de compensar a vítima pelos abalos sofridos em razã o da conduta ilícita
praticada pela ré. Sendo assim, o valor dos danos morais deve levar em consideraçã o o
comportamento dos envolvidos, as condiçõ es econô micas e sociais das partes e a
repercussã o do fato, além da proporcionalidade e da razoabilidade.
Desta feita, o quantum indenizató rio deve atender os parâ metros da compensaçã o
adequada e da puniçã o com intuito de prevençã o geral. Requer, assim, a condenaçã o da
instituiçã o requerida ao pagamento de indenizaçã o a título de danos morais em montante
nã o inferior a R$ _________ (_________reais), haja vista que o valor do financiamento ainda nã o
foi liberado.
IV – DA TUTELA DE URGÊNCIA:
Conforme o artigo 300 do CPC, a tutela de urgência será concedida quando houver
elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado ú til do processo.
Pelo narrado, demonstra-se a probabilidade, já que a parte autora nunca contratou
empréstimo de cartã o de crédito com a ré.
Já o perigo de dano se observa em tudo o que aqui foi narrado, principalmente no fato
de os descontos estarem causando enorme prejuízo à vida da autora, que nã o consegue
mais pagar suas contas devido aos descontos indevidos.
Ante ao exposto, requer-se a conceã o de tutela de urgência, art. 300 e ssss., CPC, para
determinar o réu a se abster de realizar qualquer desconto ou cobrança relativa em
empréstimos, bem como qualquer tipo de vinculação e/ou restrição no CPF da
autora.
Para garantir a efetivação da medida, requer-se a imposição de multa no valor de
R$_________ (_________reais) por dia pelo descumprimento, levando-se em consideração
o porte financeiro da empresa ré, e ressaltando que valor inferior a este seria
irrisório para coagi-la a cumprir a obrigação e tal montante jamais causaria um
enriquecimento ilícito ao autor, art. 301, CPC.
IV – DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS:
Diante do exposto, requer:
1. A concessã o da tutela de urgência para determinar o réu a se abster de realizar
qualquer desconto ou cobrança relativa em empréstimos, bem como qualquer
tipo de vinculação e/ou restrição no CPF da autora, sob pena de multa diá ria por
descumprimento, conforme art. 301, CPC /15.
2. O recebimento da presente açã o, com a designaçã o de audiência prévia de conciliaçã o
e a citaçã o/intimaçã o do requerido para que compareça à solenidade e, querendo,
apresente defesa, no prazo legal, sob pena de confissã o e revelia;
3. A inversã o do ô nus da prova, na forma do art. 6º, VII, do Có digo de Defesa do
Consumidor, ficando ao encargo do réu a produçã o de todas as provas que se fizerem
necessá rias ao andamento do feito;
4. A citaçã o do réu para, querendo, apresentar resposta no prazo legal, sob pena de
confissã o e revelia;
5. A total procedência da açã o, a fim de que seja:
1 – Sejam declarados nulos todos os empréstimos que envolvam os litigantes a título de
cartã o de crédito e RMC, exceto o de nº _________.
2 - o réu condenado à repetiçã o do indébito, nos termos do artigo 42, § ú nico, do Có digo de
Defesa do Consumidor, a ressarcir em dobro eventual valor cobrado a título de
empréstimos indevidos, que totaliza R$_________, acrescido de juros e correçã o monetá ria;
2 – o réu condenado ao pagamento no montante nã o inferior a R$ _________a título de
indenizaçã o por danos morais, acrescidos de juros e correçã o monetá ria;
1. Eventualmente, havendo recurso, seja o requerido condenado ao pagamento de custas
processuais e honorá rios advocatícios.
2. A produçã o de todos os meios de prova admitidas em direito.
3. Requer seja deferida a prioridade de tramitaçã o, por ter o autor idade superior a 60
anos, conforme documentaçã o anexa, nos termos do art. 1048, I do CPC.
4. Requer-se também a concessã o do benefício da assistência judiciá ria gratuita, por ser
pobre no sentido legal e nã o poder arcar com os custos da demanda, conforme
declaraçã o em anexo, nos termos da Lei nº 1.060/50 e principalmente do art. 5º, inciso
I do Có digo de Defesa do Consumidor.
Dá -se à causa o valor de R$_________ (___________________________).
1. TARTUCE, Flá vio. Manual de direito civil: volume ú nico. 10ª ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020. ↑
2. TARTUCE, Flá vio. Manual de direito civil: volume ú nico. 10ª ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020. ↑

Você também pode gostar