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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA

CIDADE

FRANCISCO DE TAL, casado, comerciário, residente e


domiciliado na Rua Xista, nº
nº. 999, nesta Capital, inscrito no CPF(MF) sob o nº
nº.
333.444.555-66, com endereço eletrônico ficto@ficticio.com.br, vem, com o devido
respeito à presença de Vossa Excelência, por intermédio de seu patrono que ao
final subscreve -- instrumento procuratório acostado - causídico inscrito na Ordem
dos Advogados do Brasil, Seção do Paraná, sob o nº. 0000, com seu escritório
profissional consignado no mandato acostado, onde, em atendimento aos ditames
contidos no art. 106, inciso I do CPC, indica-o para as intimações necessárias,
para ajuizar a presente

AÇÃO REVISIONAL
“COM PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA”

contra BANCO ZETA ARRENDAMENTO MERCANTIL S/A, instituição financeira


de direito privado, inscrita no CNPJ/MF sob n° 00.111.222/0001-33,
estabelecida(CC, art. 75, § 1º), na Rua K, nº. 0000, em São Paulo (SP) – CEP nº.
33444-55, com endereço eletrônico ficto@ficticio.com.br, em decorrência das
justificativas de ordem fática e de direito abaixo delineadas.

27
INTROITO

( a ) Benefícios da justiça gratuita (CPC, art. 98, caput)

A parte Autora não tem condições de arcar com as


despesas do processo, uma vez que são insuficientes seus recursos financeiros
para pagar todas as despesas processuais, inclusive o recolhimento das custas
iniciais.

Destarte, o Demandante ora formula pleito de


gratuidade da justiça, o que faz por declaração de seu patrono, sob a égide do art.
99, § 4º c/c 105, in fine, ambos do CPC, quando tal prerrogativa se encontra
inserta no instrumento procuratório acostado.

( b ) Quanto à audiência de conciliação (CPC, art. 319, inc. VII)

A parte Promovente opta pela realização de audiência


conciliatória (CPC, art. 319, inc. VII), razão qual requer a citação da Promovida, por
carta (CPC, art. 247, caput) para comparecer à audiência designada para essa
finalidade (CPC, art. 334, caput c/c § 5º).

I - CONSIDERAÇÕES FÁTICAS

A Ré celebrou com o Autor, na data de 00/11/2222, um


pacto de leasing por meio do Contrato de Arrendamento Mercantil nº. 223344. O
mesmo tinha como propósito a aquisição de veículo automotor, celebrado para
pagamento em 48 (quarenta e oito) contraprestações sucessivas e mensais de R$
0.000,00( .x.x.x. ), consoante contrato ora acostado. (doc. 01)

27
Desse contrato, resulta a pretensão de arrendamento
do veículo marca Volkswagen, ano 2010/2010, tipo caminhão, modelo 13.180 tb-
ic(e) 6X2, de chassi nº. 0BXAA44556677J999.

Por conta dos elevados (e ilegais) encargos contratuais


cobrados, o Autor, já na parcela de nº. 14, não conseguiu pagar os valores
acertados contratualmente.

Restou-lhe, assim, buscar o Poder Judiciário, para


declarar a cobrança abusiva, ilegal e não contratada, afastando os efeitos da
inadimplência.

Com efeito, pretende-se a revisão das cláusulas


contratuais (e seus reflexos) que importam na remuneração e nos encargos
moratórios pela inadimplência:

Cláusula 3ª – Prazo e início do arrendamento, contraprestações e


valor residual garantido

Cláusula 11ª – Do inadimplemento

HOC IPSUM EST.

II - NO MÉRITO

( a ) ARRENDAMENTO MERCANTIL ( “LEASING” )


APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR (CDC)

É consabido que a prestação de serviços bancários


encontra-se regida pelas normas de proteção ao consumidor. Isso porque
27
plenamente cabível o enquadramento das instituições financeiras, prestadora de
serviços, na conceituação de fornecedor, preconizada no art. 3º, caput, da Lei n.
8.078/90. De igual sorte, perfeitamente compreendida a situação do aderente na
definição de consumidor, disposta no caput do art. 2º do mesmo ordenamento:

Art. 3º - Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,


nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que
desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização
de produtos ou prestação de serviços.

Art. 2º - Consumidor é toda a pessoa física ou jurídica que adquire ou


utiliza produto ou serviço como destinatário final.

Nesse passo, observa-se que ambos os dispositivos


remetem às expressões "produtos" ou "prestação de serviços" a fim de se aferir a
efetiva aplicabilidade da legislação protetiva às atividades desenvolvidas no
mercado.

E, também sob esse aspecto, inequívoco que as


atividades bancárias, financeiras e de crédito restam inseridas na enunciação de
produtos e serviços, por força de preceito legal expresso nesse sentido:

Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,


mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de
crédito ou securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista. (art. 3º, § 2º, do CDC).

27
Afora isso, a submissão das atividades bancárias às
normas protetivas consumeristas é entendimento já sumulado pelo Superior
Tribunal de Justiça:

Súmula 297 do STJ - O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às


instituições financeiras.

Acompanhando o preceito sumular, colhem-se os


seguintes precedentes emanados do Egrégio Superior Tribunal de Justiça :

REVISIONAL. CONTRATO BANCÁRIO. ARRENDAMENTO MERCANTIL.


DISPOSIÇÕES DE OFÍCIO. CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS JUROS. TARIFAS
BANCÁRIAS. MULTA CONTRATUAL. MORA. COMPENSAÇÃO DE
VALORES E RESTITUIÇÃO DO INDÉBITO. HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS.
1. Apesar de a relação jurídica existente entre o contratante e a
instituição financeira ser disciplinada pelo Código de Defesa do
Consumidor, a segunda seção do Superior Tribunal de Justiça entende
que o julgamento realizado de ofício pelo tribunal de origem ofende o
princípio tantum devolutum quantum appellatum, previsto no artigo 515
do CPC. Ficam arredadas as determinações referentes aà comissão de
permanência e à cláusula que obriga o arrendatário a pagar o VRG
mesmo na hipótese de não exercício da opção de compra do bem,
restando prejudicado o exame do mérito das matérias trazidas no
especial no tocante a tais disposições. 2. As instâncias ordinárias não se
manifestaram acerca da expressa pactuação da capitalização mensal de
juros, o que impossibilita a sua cobrança, já que, nesta esfera recursal
extraordinária, não é possível a verificação de tal requisito, sob pena de
afrontar o disposto nos Enunciados nºs 5 e 7 da Súmula do Superior
Tribunal de Justiça. 3. Autorizada a cobrança da comissão de
27
permanência, ficam afastados a correção monetária e os demais
encargos moratórios, inclusive a multa moratória. Súmulas nºs 30, 294 e
296/STJ. 4. O tema relativo à capitalização mensal dos juros não foi
conhecido. Logo, resta descaracterizada a mora do devedor. Outrossim,
não remanesce o fundamento para que o bem seja retirado da posse do
devedor. Também fica vedada a inscrição do nome do devedor nos
cadastros de inadimplência. (REsp n. 1.061.530, segunda seção, Rel. Min.
Nancy andrighi, julgado em 22/10/2008). 5. Fica autorizada a cobrança da
tarifa de abertura de crédito. 6. A jurisprudência deste sodalício superior
é assente no sentido de que a compensação de valores e a repetição de
indébito são cabíveis sempre que verificado o pagamento indevido, em
repúdio ao enriquecimento ilícito de quem o receber,
independentemente da comprovação do erro. Precedentes. 7. Recurso
Especial parcialmente conhecido e, na extensão, parcialmente provido
para afastar as disposições de ofício e para permitir a cobrança da tarifa
de abertura de crédito. (STJ; REsp 1.299.800; Proc. 2012/0003156-8; RS;
Quarta Turma; Rel. Min. Luis Felipe Salomão; DJE 28/09/2015)

RECURSO ESPECIAL. CONTRATOS BANCÁRIOS. ARRENDAMENTO


MERCANTIL. AÇÃO REVISIONAL E AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE.
1. Apesar de a relação jurídica existente entre o contratante e a
instituição financeira ser disciplinada pelo Código de Defesa do
Consumidor, a Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça entende
que o julgamento realizado de ofício pelo tribunal de origem ofende o
princípio tantum devolutum quantum appellatum, previsto no artigo 515
do CPC. 2. Admite-se a comissão de permanência durante o período de
inadimplemento contratual, à taxa média dos juros de mercado, limitada
ao percentual fixado no contrato (súmula nº 294/STJ), desde que não
cumulada com a correção monetária (súmula nº 30/STJ), com os juros

27
remuneratórios (súmula nº 296/STJ) e moratórios, nem com a multa
contratual. 3. Derruídos os fundamentos que reformou a sentença de
procedência da ação de reintegração da posse, quais sejam, inexistência
de mora e indevida cobrança antecipada de VRG, deve ser reestabelecida
nesse ponto. 4. È devida a devolução das parcelas referentes ao VRG,
pagas antecipadamente, à conta de ser uma conseqüência da
reintegração do bem, somente se o produto da soma do VRG quitado
com o valor da venda do bem for maior que o total pactuado como VRG
na contratação. 5. Recurso Especial provido. (STJ; REsp 1.246.946; Proc.
2011/0073865-5; RS; Quarta Turma; Rel. Min. Luis Felipe Salomão; DJE
17/06/2015)

Nessa esteira de raciocínio, colecionamos as lições de


Cláudia Lima Marques:

“ A inclusã o do contrato de leasing no campo de aplicaçã o do CDC


nã o é mais polêmica. Os casos do leasing em dó lar consolidaram a
aplicaçã o do CDC ao arrendamento mercantil. Efetivamente, o contato
de leasing massificou-se no Brasil, as novas leis sobre consó rcio e
patrimô nio de afetaçã o tratam o leasing conjuntamente com outros
contratos de consumo e a pró pria jurisprudência propugna o diá logo
das fontes com o CDC. A verdade é que o leasing conquistou o
mercado de consumo (tanto em bens de pequeno valor, como nos de
grande valor), e a este leasing massificado perante os consumidores é
aplicá vel o CDC.
O contrato de leasing,
leasing, mesmo que regulado com a denominaçã o
de arrendamento mercantil está sendo utilizado como contrato de
consumo simples de pessoas física, especialmente no caso do leasing
de computadores, de eletrodomésticos e, em especial, de automó veis.
27
“ (MARQUES, Clá udia Lima. Contratos no Código de Defesa do
Consumidor. 6ª Ed. Sã o Paulo: RT, 2011. Pá gs. 573-574)

No mesmo sentido:

As operaçõ es bancá rias estã o abrangidas pelo regime jurídico do CDC,


desde que constituam relaçõ es jurídicas de consumo. [...] Nã o há
dú vida sobre a natureza jurídica da atividade bancá ria, que se
qualifica como empresarial. [...] Analisado o problema da classificaçã o
do banco como empresa e de sua atividade negocial, tem-se que é
considerado pelo art. 3º, caput, do CDC, como fornecedor, vale dizer,
um dos sujeitos da relaçã o de consumo. O produto da atividade
negocial do banco é o crédito; agem os bancos, ainda, na qualidade de
prestadores de serviço, quando recebem tributos mesmo de nã o
clientes, fornecem extratos de contas bancá rias por meio de
computadores etc. [...] Suas atividades envolvem, pois, os dois objetos
das relaçõ es de consumo: os produtos e os serviços. (GRINOVER, Ada
Pellegrini, et al.
al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: comentado
pelos autores do anteprojeto. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense
Universitá ria, 2004, p. 524/526).

Com a mesma sorte de entendimento, evidenciamos


julgados de diversos Tribunais:

APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSO CIVIL. INOVAÇÃO RECURSAL.


INADMISSIBILIDADE. REVISÃO DE CONTRATO DE ARRENDAMENTO
MERCANTIL. RELATIVIZAÇÃO DO PACTA SUNT SERVANDA.
CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS. COMPROVAÇÃO. AUSÊNCIA. ÔNUS
27
DA PARTE AUTORA. IMPROCEDÊNCIA. TARIFA DE CADASTRO.
LEGALIDADE, DESDE QUE COBRADA NO INÍCIO DO RELACIONAMENTO
ENTRE CONSUMIDOR E A INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. TARIFA DE
ABERTURA DE CRÉDITO. COBRANÇA NÃO DEMONSTRADA. REPETIÇÃO
DO INDÉBITO. INEXISTÊNCIA DE PROVA DA MÁ-FÉ DO CREDOR.
RESTITUIÇÃO NA FORMA SIMPLES.
De acordo com o Enunciado de Súmula nº 297, do Superior Tribunal de
Justiça, "o Código de Defesa do Consumidor é aplicável às Instituições
Financeiras". É admitida a revisão de cláusulas de Contrato bancário pelo
Poder Judiciário, por força da garantia do art. 5º, XXXV, da Constituição
Federal, e do direito assegurado no art. 6º, incisos V e VII, do Código de
Defesa do Consumidor, com relativização do Princípio do Pacta Sunt
Servanda. Não havendo, nos autos, prova de que a Instituição Financeira
praticou a cobrança de juros de forma capitalizada, ônus que competia
ao autor (art. 333, I, do CPC), deve ser mantida a improcedência do
pedido inicial quanto à questão. O Superior Tribunal de Justiça, no
julgamento do Recurso Especial nº 1.251.331/RS, consolidou o
entendimento sobre a legalidade da cobrança da Tarifa de Cadastro,
desde que no início do relacionamento entre o consumidor e a Instituição
Financeira. A devolução em dobro da quantia cobrada indevidamente,
prevista, atualmente, nos arts. 42, parágrafo único, do Código de Defesa
do Consumidor, e 940, do Código Civil (de redação praticamente
equivalente à do art. 1.531, do CCB/1916), depende de prova cabal da
má-fé do suposto credor. Recurso desprovido. (TJMG; APCV
1.0290.12.013556-8/001; Rel. Des. Roberto Vasconcellos; Julg.
27/10/2015; DJEMG 29/10/2015)

APELAÇÃO. ARRENDAMENTO MERCANTIL. O CÓDIGO DE DEFESA DO


CONSUMIDOR É APLICÁVEL AOS CONTRATOS DE ARRENDAMENTO

27
MERCANTIL. PORÉM, ISSO, POR SI SÓ, NÃO FAZ COM QUE O PEDIDO
SEJA TOTALMENTE PROCEDENTE. AS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NÃO
ESTÃO OBRIGADAS À OBSERVÂNCIA DAS TAXAS DE JUROS MÁXIMAS
FIXADAS EM LEI PARA OS NEGÓCIOS FORA DO SISTEMA FINANCEIRO, O
QUE É DE JURISPRUDÊNCIA ASSENTADA, RAZÃO PELA QUAL OS JUROS
PODIAM TER SIDO PACTUADOS LIVREMENTE. TENDO SIDO PREVISTA
NO CONTRATO A CAPITALIZAÇÃO MENSAL (A TAXA DE JUROS ANUAL É
EVIDENTEMENTE MAIOR QUE A MENSAL MULTIPLICADA POR DOZE),
CORRETA SUA APLICAÇÃO NO CASO SOB EXAME. NÃO TEM RAZÃO O
CONSUMIDOR AO INSURGIR-SE CONTRA OS JUROS UTILIZADOS NO
CÁLCULO DAS PRESTAÇÕES PREFIXADAS NO CONTRATO, UMA VEZ QUE
TEVE CIÊNCIA DA QUANTIA A SER PAGA MENSALMENTE E DO SEU
TOTAL.
"Nos contratos bancários celebrados até 30.4.2008 (fim da vigência da
Resolução CMN 2.303/96) era válida a pactuação das tarifas de abertura
de crédito (TAC) e de emissão de carnê (TEC), ou outra denominação para
o mesmo fato gerador, ressalvado o exame de abusividade em cada caso
concreto" (RESP nº 1.255.573-RS). É "forçoso reconhecer a abusividade
das cláusulas que transferem indevidamente ao consumidor os custos
inerentes à própria atividade desenvolvida pelo fornecedor (apelação nº
0007833-15.2011.8.26.0445, Relator Orlando Pistoresi). Apelação do
autor provida em parte. Apelação do réu desprovida. (TJSP; APL 1014151-
81.2014.8.26.0577; Ac. 8918947; São José dos Campos; Trigésima Câmara
de Direito Privado; Rel. Des. Lino Machado; Julg. 21/10/2015; DJESP
28/10/2015)

PROCESSO CIVIL. AÇÃO REVISIONAL CONTRATUAL. APLICAÇÃO DO


CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. LEASING. IMPOSSIBILIDADE DE
ANÁLISE DA CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. LEGALIDADE DA COBRANÇA DE

27
DESPESAS INCLUÍDAS NO CUSTO EFETIVO TOTAL. AUSÊNCIA DE
VANTAGEM EXCESSIVA. LEGALIDADE DA COMISSÃO DE PERMANÊNCIA
QUANDO PACTUADA. REPETIÇÃO DE INDÉBITO EM DOBRO DEPENDE DE
PROVA DO PAGAMENTO INDEVIDO E DA MÁ-FÉ. PEDIDO DE
HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS PREJUDICADO. RECURSO DESPROVIDO.
1) A jurisprudência do STJ pacificou-se no sentido de que, aplicável o
Código de Defesa do Consumidor aos casos que envolvem relação de
consumo, é permitida a revisão das cláusulas contratuais pactuadas,
diante do fato de que o princípio pacta sunt servanda vem sofrendo
mitigações, notadamente diante dos princípios da boa-fé objetiva, da
função social dos contratos e do dirigismo contratual. 2) O arrendamento
mercantil é instituto distinto dos financiamentos em geral e, por não se
enquadrar em operação financeira, o custo do dinheiro está embutido
nas contraprestações, sendo impossível discutir juros e capitalização de
juros. Precedentes TJES3) As verbas denominadas como tarifa de
cadastro, serviço de terceiros, inclusão de gravame eletrônico, tarifa de
avaliação de bens e custo de registro integram o chamado custo efetivo
total (CET) das operações de crédito bancário, conforme o disposto na
Resolução nº 3.517/2007 do CMN, razão pela qual a cobrança das
mesmas é considerada legitima. Somente poderiam ser afastadas se
demonstrada, de forma objetiva, a percepção de vantagem exagerada
pela instituição financeira e, por conseguinte, o desequilíbrio da relação
contratual, o que não se verifica na hipótese dos autos. 4) Na espécie,
não há pactuação de comissão de permanência cumulada a outros
encargos. 5) Não há que se falar em repetição em dobro do indébito,
prevista no parágrafo único do art. 42 do CDC, porquanto não
comprovada a existência de má-fé da instituição financeira, que efetuou
cobrança com lastro em contrato. 6) O não acolhimento das pretensões
recursais prejudica a análise dos pedidos de condenação da parte

27
adversa em honorários e, por conseguinte, de majoração da verba. 7)
Recurso desprovido. (TJES; AG-AP 0031217-10.2011.8.08.0024; Segunda
Câmara Cível; Rel. Des. José Paulo Calmon Nogueira da Gama; Julg.
20/10/2015; DJES 27/10/2015)

( b ) JUROS REMUNERATÓRIOS
SUA COBRANÇA EM CONTRATOS DE ARRENDAMENTO MERCANTIL

As instituições financeiras afirmam, máxime em suas


defesas, quanto ao pacto de arrendamento mercantil, a inexistência de cobrança
de juros remuneratórios. Segundo as mesmas, trata-se de contrato de locação de
bem, com possibilidade de sua aquisição ao final do pacto, não havendo, desse
modo, cobrança do encargo remuneratório (juros).

Há um engano nessa orientação.

No trato contrato em espécie, de arrendamento


mercantil financeiro, por suas características próprias, a retribuição financeira pelo
arrendamento é chamada de “contraprestação”. Essa nomenclatura inclusive é a
utilizada na Lei nº
nº. 6099/74, que cuida da questão tributária dos contratos em
espécie.

Dito isso, é necessário compreender quais os


componentes monetários que integram a contraprestação, o que extraímos do
magistério de José Francisco Lopes de Miranda Leão, verbo ad verbum:

“Isso significa que a somatória das contraprestações de arrendamento


pactuadas com o valor residual garantido do bem deve equivaler à

27
somatória do capital empregado pelo arrendador na aquisição, mais o
custo financeiro desse capital mais a renda bruta que deve ser produzida
pela atividade econômica.
econômica. Esta renda bruta irá cobrir os custos
administrativos, os custos tributários e as provisões de inadimplemento,
e proporcionar o lucro líquido da operação.
operação. “ (LEÃO, José Francisco
Lopes de Miranda. Leasing – O arrendamento financeiro.
financeiro. – São Paulo:
Malheiros Editores, 1999, pp. 24-25)
(destacamos)

Afinal de contas essa igualmente é a disciplina imposta


nº. 2.309/96, do Banco Central do Brasil, verbis:
pela Resolução nº

“Art. 5º - Considera-se arrendamento mercantil financeiro a modalidade


em que:
I – as contraprestações e demais pagamentos previstos no contrato,
devidos pela arrendatária, sejam normalmente suficientes para que a
arrendadora recupere o custo do bem arrendado durante o prazo
contratual da operação e, adicionalmente, obtenha um retorno sobre os
recursos investidos; “
(não existem os destaques no texto original)
original)

Esse ganho, essa recompensa financeira,


normalmente nos contratos de arrendamento é nominado de “ taxa de retorno do
arrendamento”. Essa taxa é expressa por percentual e equivale aos juros
remuneratórios.

É necessário não perder de vista que há inclusive


informação nesse sentido no próprio site do Bacen. É dizer, pode-se verificar a
27
taxa de juros remuneratória média cobrada pelas instituições financeiras ou
sociedades de arrendamento mercantil nas relações contratuais de “leasing”.

Nesse compasso, resulta das considerações retro que


não há, de fato, a cobrança direta dos juros remuneratórios nos contratos de
arrendamento mercantil. Todavia, é um dos componentes inarredável na
construção da parcela a ser cobrada do arrendatário.

A propósito, perceba que no campo 3.22.2.1 do


contrato em tablado é encontrada a expressão “ taxa de retorno do arrendamento ”,
com o respectivo percentual remuneratório (mensal e anual).

Desse modo, é inexorável a conclusão de que há sim


cobrança de juros remuneratórios nos contratos de arrendamento mercantil.
Inclusivamente faz parte da fórmula para encontrar-se o “valor ótimo” da
contraprestação.

( c ) JUROS REMUNERATÓRIOS
MONTANTE QUE SUPERA Á MÉDIA DO MERCADO

A margem de lucro aplicada pela Ré foi demasiada e


se afasta gritantemente da média do mercado para essa modalidade contratual e
para os períodos de pagamentos das contraprestações.

É comezinho que as instituições financeiras não se


submetem à limitação de taxa de juros remuneratórios de 12% a.a.. Nada
obstante, no caso em espécie, houve fixação de juros acima da média anual de
mercado. Assim, configura abusividade e, por isso, descaracteriza a eventual
mora.

27
Com esse entendimento é altamente ilustrativo
transcrever o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, verbis:

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL CUMULADA COM BUSCA E


APREENSÃO. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA. ART.
538 DO CPC. ABUSIVIDADE DOS JUROS REMUNERATÓRIOS.
DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA.
MORA. SÚMULA N. 83/STJ. BUSCA E
APREENSÃO. NÃO CABIMENTO.
1. Não viola o art. 535 do CPC o acórdão que, integrado pelo julgado
proferido nos embargos de declaração, dirime, de forma expressa,
congruente e motivada, as questões suscitadas nas razões recursais. 2.
Embargos de declaração não se prestam à manifestação de
inconformismo ou à rediscussão do julgado. O intuito procrastinatório da
parte enseja a multa prevista no art. 538, parágrafo único, do CPC.
Incidência da Súmula n. 83/stj. 3. É inviável a aplicação da taxa de juros
remuneratórios pactuada no contrato na hipótese em que a corte a quo
tenha considerado cabalmente demonstrada sua abusividade em relação
à taxa média do mercado. Incidência da Súmula n. 83/stj. 4. Evidenciada a
abusividade das cláusulas contratuais, afasta-se a mora do devedor
(recurso especial repetitivo n. 1.061.530/rs). 5. Afastada a mora, é
incabível a busca e apreensão. 6. Recurso Especial parcialmente
conhecido e desprovido. (STJ; REsp 1.409.353; Proc. 2013/0332801-3; SC;
Terceira Turma; Rel. Min. João Otávio de Noronha; DJE 27/08/2015)

( c ) JUROS “MORATÓRIOS” – CAPITALIZAÇÃO - ILEGALIDADE

Há igualmente outra cláusula abusiva no enlace


contratual em estudo, entrementes no período de anormalidade contratual
(inadimplência).
27
Vê-se da cláusula 29 do contrato de arrendamento a
seguinte redação, ad litteram:

“29. Atraso de pagamento e multa – Se houver atraso no pagamento ou


vencimento antecipado, o Arrendatário pagará juros moratórios de 0,49%
(zero vírgula quarenta e nove por cento) ao dia,
dia, capitalizados
mensalmente.
mensalmente. “ (sublinhamos)

Inexiste qualquer previsão legal quanto à possibilidade


da cobrança de juros moratórios capitalizados. Ao revés disso, há limite
expressamente estabelecido no montante de 1% a.m. ( CC, art. 406 e CTN, art.
161, § 1º
1º)

Bem a propósito a seguinte súmula do Superior


Tribunal de Justiça:

STJ, Súmula 379: Nos contratos bancários não regidos por legislação
específica, os juros moratórios poderão ser fixados em até 1% ao mês.
mês.

Não bastasse isso, a Resolução 2.309/96 do Bacen


igualmente limita os encargos do período de inadimplência, in verbis:

“Art. 7º - Os contratos de arrendamento mercantil . . .


(...)
XI – as obrigações da arrendatária, nas hipóteses de:

27
a) inadimplência, limitada a multa de mora de 2% (dois por cento) do valor em
atraso;
atraso;

Com efeito, a situação fere o quanto estabelecido no


art. 170, inc. V da Constituição Federal , além do art. 51, inc. IV, do Código de
Defesa do Consumidor.

Nesse sentido:

AÇÃO REVISIONAL DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS CUMULADA COM


REPETIÇÃO DE INDÉBITO E ANTECIPAÇÃO DE TUTELA.
Contrato de financiamento firmado em 20.10.2010.preliminar. Sentença
com relação a serviços de terceiros. Nulidade parcial da sentença.
Apelação cível 1. Leandro cagliari da cruz. Pleito de exclusão da cobrança
de juros capitalizados. Não acolhido. Contratação clara e expressa. Taxa
de juros anual superior ao duodécuplo da taxa de juros mensal. Contrato
celebrado após 31.03.2000.legalidade da cobrança. Limitação de juros
moratórios a taxa mensal de 1%. Possibilidade. Pactuação de juros
moratórios capitalizados mensalmente a taxa de 0,49% ao dia.
Abusividade. Súmula nº 379 do Superior Tribunal de justiça. Recurso
conhecido e parcialmente provido. Apelação cível 2. Banco itaucard s/a.
Revisão contratual. Suporte legal no inc. V, art. 6º, do Código de Defesa
do Consumidor. Tarifas de registro de contrato e de inclusão de gravame
eletrõnico pactuadas de forma clara. Legalidade. Cobrança não vedada
pelo ordenamento jurídico pátrio. Condição de eficácia do contrato. Valor
não abusivo. Tarifa de cadastro. Cobrança autorizada. Nº recurso
repetitivo 1.251.331/rs STJ e 1.255.573/rs. STJ. Repetição do indébito.
Desnecessária a prova de erro. Sucumbência mínima da parte requerida
(art. 21, parágrafo único do cpc). Condenação da parte autora a arcar
27
com a integralidade do ônus sucumbencial e honorários advocatícios.
Recurso conhecido e parcialmente. Provido. (TJPR; ApCiv 1323511-3;
Curitiba; Quarta Câmara Cível; Relª Desª Maria Aparecida Blanco de Lima;
Julg. 21/07/2015; DJPR 26/08/2015; Pág. 344)

JUROS. CAPITALIZAÇÃO. ENTIDADE PERTENCENTE AO SISTEMA


FINANCEIRO NACIONAL. POSSIBILIDADE. ENCARGOS MORATÓRIOS
CONTRATUAIS. JUROS MORATÓRIOS CAPITALIZADOS. ILICITUDE.
RAZÃO DE 0,49% AO DIA. ABUSIVIDADE.
É lícita a capitalização de juros em contratos firmados por entes que
integrem o Sistema Financeiro Nacional, desde que tenha expressa
pactuação neste sentido, e que seja posterior a 31 de março de 2000. Os
juros moratórios não são passíveis de capitalização e a sua incidência na
razão de 0,49% ao dia é abusiva.
abusiva. (TJMG; APCV 1.0428.11.000911-8/001;
Rel. Des. Cabral da Silva; Julg. 04/08/2015; DJEMG 14/08/2015)

( d ) EXCLUSÃO DA “CLÁUSULA MANDATO”

Ademais, ainda sob o ângulo da ilegalidade contratual,


o acerto contratual em espécie, em sua cláusula 27, reza a possibilidade da
instituição financeira bloquear eventual saldo em conta corrente para amortizar a
dívida.
Igualmente, em outra cláusula do contrato (cláusula
31), existe mais uma ilegalidade. Há disposição, na forma de mandato, conferindo
poderes à Ré para sacar Letra de Câmbio de qualquer quantia em atraso.

Obviamente, em ambas as situações, é uma


abusividade estampada e, por isso, devem ser extirpadas.
27
Sem sombra de dúvidas, no primeiro caso, a cláusula
em debate colide com princípio do devido processo legal, previsto na nossa Carta
Magna (art. 5º, inc. LIV). Não é possível, pois, o bloqueio de ativos financeiros em
conta corrente, para solucionar pretensa dívida, sem a existência de ordem judicial
nesse sentido.

É altamente ilustrativo transcrever o seguinte julgado:

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO MONITÓRIA. PROGRAMA DE


FINANCIAMENTO ESTUDANTIL (FIES). PROVA PERICIAL.
DESNECESSIDADE. INAPLICABILIDADE DO CDC. CAPITALIZAÇÃO MENSAL
DE JUROS. VEDAÇÃO. TABELA PRICE. REDUÇÃO DA TAXA DE JUROS. LEI
N. 12.202/2010. CLÁUSULA MANDATO. OFENSA AO DEVIDO PROCESSO
LEGAL. CUMULAÇÃO DE MULTA CONVENCIONAL E MORATÓRIA.
ESTIPULAÇÃO CONTRATUAL DE HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA.
CLÁUSULAS ABUSIVAS.
1. “Limitando-se a questão em debate ao exame da legalidade da
cobrança de encargos contratuais reputada excessiva pelo devedor não é
necessária a realização de perícia contábil”. (AC 0001260-
50.2005.4.01.3500 / GO, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL CARLOS
MOREIRA ALVES, Rel. Conv. JUIZ FEDERAL RODRIGO NAVARRO DE
OLIVEIRA (CONV. ), SEXTA TURMA, e-DJF1 p.71 de 27/09/2010) 2. Os
contratos firmados no âmbito do Programa de Financiamento Estudantil.
Fies não se subsumem as regras encartadas no Código de Defesa do
Consumidor, porquanto o financiamento em análise não encerra serviço
bancário, mas programa de governo em benefício de classe estudantil
específica. Precedentes do STJ e deste Tribunal. 3. O Colendo Superior
Tribunal de Justiça (STJ), após o julgamento do REsp 1.155.684/RN,
27
definido como parâmetro para o julgamento de feitos repetitivos,
previstos na Lei nº 11.672/2008, firmou o entendimento no sentido de
que a capitalização de juros somente é permitida nas hipóteses
expressamente autorizadas por norma específica, quais sejam,
exemplificativamente, mútuo rural, comercial, ou industrial. Precedentes
STJ e deste Tribunal. 4. A Lei n. 12.202/2010, ao alterar a Lei n.
10.260/2001, determinou que a redução dos juros do financiamento
incida sobre o saldo devedor dos contratos do Fies já formalizados, tendo
a Resolução n. 3.842/2010 do Banco Central estabelecido que, a partir de
sua publicação (10.03.2010), a taxa efetiva de juros seria de 3,4% a. a
(três vírgula quatro por cento ao ano) a incidir sobre os contratos já em
vigor. Precedentes. 5. É legítima a adoção da Tabela Price no contrato de
financiamento, notadamente quando prevista no contrato, pois constitui
mera fórmula matemática que não se destina a incorporar juros não
liquidados ao saldo devedor. Precedentes. 6. Incabível aplicação da multa
de 10% sobre o montante do débito, em caso de utilização de
procedimento judicial ou extrajudicial para cobrança das frações de juros.
Prevendo o contrato também incidência de 2% no caso de mora no
cumprimento da prestação, a aplicação de nova multa, pelo mesmo fato,
implicaria dupla penalização. (STJ: Ag 1.104.027/RS, Rel. MINISTRO
BENEDITO GONÇALVES, DJe de 01/04/2009; TRF1: AC 0025536-
86.2007.4.01.3400/DF, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL CARLOS
MOREIRA ALVES, SEXTA TURMA, e-DJF1 p.584 de 04/02/2014; AC
0023188-61.2008.4.01.3400/DF, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL JIRAIR
ARAM MEGUERIAN, Rel. Conv. JUÍZA FEDERAL HIND GHASSAN KAYATH
(CONV. ), SEXTA TURMA, e-DJF1 p.587 de 04/02/2014; AC 0007328-
72.2008.4.01.3900/PA, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL JOÃO BATISTA
MOREIRA, QUINTA TURMA, e-DJF1 p.622 de 14/01/2014) 7. É abusiva a
estipulação contratual que estabelece o pagamento, pela devedora, de

27
honorários advocatícios de 20% (vinte por cento) sobre o valor da dívida
em caso de execução ou qualquer outro procedimento judicial. Cabe ao
magistrado a fixação da verba honorária em juízo nos termos do art. 20
do CPC. A cláusula não encontra respaldo legal e cria a possibilidade do
devedor pagar em duplicidade de honorários advocatícios à parte
credora, caso esta venha a ter êxito judicial. (TRF1: AC
1999.33.00.006560-0/BA, Rel. Des. Federal Selene Maria de Almeida,
Quinta Turma, e-DJF1 17.12.2009). 8. Orientação jurisprudencial assente
neste Tribunal no sentido de que a denominada "cláusula mandato"
deve ser anulada, porquanto, ao permitir a utilização e o bloqueio pelo
agente financeiro do saldo de quaisquer contas ou aplicações de
titularidade do devedor, de seu representante legal ou do fiador para
amortizar ou liquidar as obrigações decorrentes do contrato do FIES,
contra a vontade do devedor e sem o devido processo legal, constitui
exercício arbitrário das próprias razões. (AC 0014928-
04.2008.4.01.3300/BA, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL JIRAIR ARAM
MEGUERIAN, SEXTA TURMA, e-DJF1 p.406 de 02/12/2014; e(AC 0009563-
50.2006.4.01.3813/MG, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL DANIEL PAES
RIBEIRO, Rel. Conv. JUÍZA FEDERAL DANIELE MARANHÃO COSTA
(CONV. ), SEXTA TURMA, e-DJF1 p.463 de 23/02/2015) 9. Apelação a que
se dá parcial provimento para: (I) determinar que se mantenha a
utilização da tabela price, afastando a capitalização mensal de juros; (II)
reduzir a taxa de juros, de 9% para 3,4%, somente sobre o saldo devedor
a partir de 10.03.2010 e (III) para reconhecer a abusividade da cláusula
contratual que dispõe sobre a incidência de pena convencional de 10%
sobre o valor do débito apurado e de honorários advocatícios à base de
20% sobre o valor da dívida na hipótese de cobrança ou execução judicial
e da cláusula mandato. (TRF 1ª R.; AC 0000153-23.2009.4.01.3308; Sexta
Turma; Rel. Des. Fed. Kassio Marques; DJF1 08/09/2015)

27
No segundo caso, tocante à emissão da Letra de
Câmbio, tal proceder ofende o quanto registrado na Súmula 60 do Egrégio
Superior Tribunal de Justiça:

STJ, Súmula 60: É nula a obrigação cambial assumida por procurador do


mutuário vinculado ao mutuante, no exclusivo interesse deste.

( e ) QUANTO À COMISSÃO DE PERMANÊNCIA

Extrai-se que no pacto em estudo houve ajuste de


cobrança de comissão de permanência (cláusula 28). De mais a mais, esse acerto
contratual possibilita, ilegalmente, a cobrança desse encargo cumulado com multa
contratual e juros moratórios.

Totalmente descabido.

( 1 ) Impossível a cobrança de comissão de permanência em contratos


de “leasing”

Não é adequada a cobrança de comissão de


permanência no acerto de arrendamento mercantil. E por vários motivos.

( 1.1.) Não há mútuo

É incontestável que o contrato de arrendamento


mercantil está longe de apresentar alguma forma de empréstimo sob a modalidade
de mútuo. A um, porquanto não se trata de empréstimo (“financiamento”) sob o

27
enfoque de mútuo, pois esse só se dá com bens fungíveis (CC, art. 586); a dois,
por que é da natureza desse contrato a presença de mútuo feneratício.

No julgamento do Recurso Especial nº 1.061.530 – RS,


o qual decidido sob o rito de recursos repetitivos em matéria bancária (CPC, art.
543-C), ficou estabelecido que comissão de permanência tem tríplice finalidade,
verbis:

“Esclareceu-se, portanto, que a natureza da cláusula de comissão de


permanência é tríplice: índice de remuneração do capital (juros
remuneratórios),
remuneratórios), atualização da moeda (correção monetária) e
compensação pelo inadimplemento (encargos moratórios). Assim, esse
entendimento, que impede a cobrança cumulativa da comissão com os
demais encargos, protege, como valor primordial, a proibição do bis in
idem.”
idem.”
(destacamos)

Ora, se a comissão de permanência tem, além de


outros propósitos, a finalidade de remunerar o capital emprestado, então
deduzimos pela não capacidade de utilizá-lo nos contratos de arrendamento
mercantil. É dizer, como não é mútuo oneroso (com remuneração de juros), mas
contraprestação pela utilização de bem alheio, torna-se totalmente imprestável
para esse propósito ao caso em estudo.

( 1.2.) Cumulação com outros encargos moratórios

27
De outra banda, como afirmado alhures, urge
evidenciar que a Ré estipulou condição para, também, haver cobrança de juros
moratórios e multa contratual.

Nesse passo, vai de encontro às seguintes Súmulas do


STJ:

Súmula 30: A comissão de permanência e a correção monetária são


inacumuláveis.
Súmula 296: Os juros remuneratórios, não cumuláveis com a comissão de
permanência, são devidos no período de inadimplência, à taxa média de
mercado estipulada pelo Banco Central do Brasil, limitada ao percentual
contratado.
Súmula 472: A cobrança de comissão de permanência – cujo valor não
pode ultrapassar a soma dos encargos remuneratórios e moratórios
previstos no contrato – exclui a exigibilidade dos juros remuneratórios,
moratórios e da multa contratual.

( 1.3.) Não há mora

De outro bordo, não há que se falar em mora do Autor.

A mora reflete uma inexecução de obrigação


diferenciada, maiormente quando representa o injusto retardamento ou o
descumprimento culposo da obrigação. Assim, na espécie incide a regra
estabelecida no artigo 394 do Código Civil, com a complementação disposta no
artigo 396 desse mesmo Diploma Legal.

CÓDIGO CIVIL
27
Art. Art. 394 - Considera-se em mora o devedor que não efetuar o
pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma
que a lei ou a convenção estabelecer.

Art. 396 - Não havendo fato ou omissão imputável ao devedor, não incorre
este em mora.

Foram cobrados encargos abusivos durante o período


de normalidade contratual, o que descaracteriza a mora. Do mesmo teor a posição
do Superior Tribunal de Justiça :

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. SFH. RECONHECIMENTO


DA COBRANÇA DE ENCARGOS ABUSIVOS NO PERÍODO DA
NORMALIDADE. DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA.
Impossibilidade de cobrança de multa e de juros moratórios. Agravo
regimental desprovido. (STJ; AgRg-REsp 1.325.626; Proc. 2012/0109512-
9; DF; Terceira Turma; Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino; DJE
18/02/2015)

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE


REVISÃO DE CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO. DESCARACTERIZAÇÃO DA
MORA. COBRANÇA DE QUANTIAS INDEVIDAS NO PERÍODO DA
NORMALIDADE CONTRATUAL.
1. A constatação de abuso na exigência de encargos durante o período da
normalidade contratual afasta a configuração da mora. Na hipótese dos
autos, o acórdão declarou que foram cobradas quantias indevidas a título
de correção monetária e de despesas e honorários extrajudiciais. 2.
Agravo regimental não provido. (STJ; AgRg-AREsp 443.637; Proc.
27
2013/0399449-8; RS; Terceira Turma; Rel. Min. Ricardo Villas Boas Cueva;
DJE 12/02/2015)

( f ) DESPESAS EXTRAJUDICIAIS

Também abusiva é a cláusula 22. Essa impõe ao


arrendatário, ora Autor, a obrigação de ressarcir as despesas de cobrança judicial
e ou extrajudicial.

Inegavelmente essa situação traz uma desvantagem


gritante ao consumidor, consoante se depreende do Código de Defesa do
Consumidor:

Art. 51 - São nulas de pleno direito,


direito, entre outras, as cláusulas contratuais
relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
(...)
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que
coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam
incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;
(...)
XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua
obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor;

Lapidar nesse sentido o entendimento expendido nos


arestos abaixo:

APELAÇÃO CÍVEL. REVISÃO DE CONTRATO. FINANCIAMENTO


BANCÁRIO. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO. AUSÊNCIA DE INTERESSE
27
RECURSAL. CONHECIMENTO PARCIAL DO RECURSO DA AUTORA.
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. POSSIBILIDADE. ENCARGOS MORATÓRIOS.
JUROS DE MORA. MULTA CONTRATUAL E JUROS REMUNERATÓRIOS.
POSSIBILIDADE. DESPESAS DE COBRANÇA. IMPUTAÇÃO APENAS AO
CONSUMIDOR. IMPOSSIBILIDADE.
IMPOSSIBILIDADE.
1. Não se conheceda parte do recurso, na qual não tenha interesse
recursal manifesto (CPC, artigo 499). 2. Admite-se, no contrato de cédula
de crédito bancário, a capitalização mensal de juros (art. 28, § 1º, I, da Lei
nº. 10.931/2004). 3.A norma do § 3º do art. 192 da Carta Magna que
exigia a normatização da matéria referente ao Sistema Financeiro
Nacional por meio de legislação complementar, foi revogada pela
Emenda Constitucional nº 40/2003. 4. O STF ao julgar a ADIN 2.316-1,
autorizou a capitalização de juros em empréstimos bancários com
periodicidade inferior a um ano, entendendo que a Medida Provisória n.
2.170-36, que autorizou o cálculo de juros compostos, é constitucional.
5.É lícita a cumulação de juros remuneratórios, juros de mora de 1% AM
e multa contratual de 2%. 6. É nula a cláusula que prevê a
responsabilidade apenas do consumidor em relação às despesas com
honorários advocatícios e cobrança por inadimplemento (CDC, XII, art.
51). 7. Recurso da autora parcialmente conhecido e, na parte conhecida,
desprovido. Recurso do réu conhecido e desprovido. (TJDF; Rec
2013.04.1.008248-3; Ac. 882.889; Quinta Turma Cível; Rel. Des. Carlos
Rodrigues; DJDFTE 04/08/2015; Pág. 292)

APELAÇÃO CÍVEL.
Demanda revisional de contrato de financiamento para aquisição de
automotor. Sentença de parcial procedência da pretensão deduzida na
exordial. Irresignação da financeira. Código de Defesa do Consumidor.
Incidência. Exegese da Súmula nº 297 do Superior Tribunal de Justiça.

27
Princípios do pacta sunt servanda, ato jurídico perfeito e autonomia da
vontade que cedem espaço, por serem genéricos, à norma específica do
art. 6º, inciso V, da Lei nº 8.078/90. Possibilidade de revisão do contrato,
nos limites do pedido do devedor. Inteligência dos arts. 2º, 128, 460 e
515, todos do código de processo civil. Aplicação da Súmula nº 381 do
Superior Tribunal de Justiça e da orientação 5 do julgamento das
questões idênticas que caracterizam a multiplicidade oriunda do RESP n.
1.061.530/RS, relatado pela ministra nancy andrighi, julgado em
22/10/08. Cláusula resolutória expressa. Previsão no contrato sem,
contudo, dar opção ao consumidor entre a resolução do pacto ou sua
manutenção. Dever de alternatividade não respeitado. Afronta ao art. 54,
§ 2º, da Lei nº 8.078/90. Cláusula resolutiva abusiva. Sentença mantida
neste viés. Honorários extrajudiciais e despesas em razão de eventual
cobrança. Banco que almeja o reconhecimento da legalidade das
exigências. Inviabilidade. Imposição ao consumidor do montante pago
pela casa bancária a título de honorários advocatícios extrajudiciais e
despesas de cobrança. Ofensa ao art. 51, inciso XII, do pergaminho
consumerista. Nulidade estampada. Decisão inalterada nesta seara.
Repetição do indébito. Prescindibilidade de produção da prova do vício.
Inteligência do art. 42 do Código de Defesa do Consumidor. Aplicação do
verbete n. 322, do Superior Tribunal de Justiça. Permissibilidade na forma
simples. Compensação dos créditos. Partes reciprocamente credoras e
devedoras. Incidência do art. 368 do Código Civil. Quantum pago a maior.
Correção monetária conforme o INPC/IBGE desde o efetivo pagamento.
Provimento n. 13/95 da corregedoria-geral da justiça deste areópago
estadual. Juros moratórios limitados em 1% a. M. Exigíveis desde a
citação. Incidência dos arts. 406 do Código Civil, 161, § 1º, do Código
Tributário Nacional e 219 do código buzaid. Recurso improvido. (TJSC; AC
2015.048449-1; Criciúma; Quarta Câmara de Direito Comercial; Rel. Des.

27
José Carlos Carstens Kohler; Julg. 25/08/2015; DJSC 31/08/2015; Pág.
480)

APELAÇÃO CÍVEL. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. PROCESSO DE


CONHECIMENTO. PEDIDO REVISIONAL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO.
JULGAMENTO CONJUNTO. PARADIGMAS DO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA.
Observância das teses emanadas dos processos repetitivos, julgados na
forma do art. 543-c do CPC. Código de Defesa do Consumidor e pedido
revisional. O CDC é aplicável as instituições financeiras, nos termos da
Súmula nº 297 do STJ. É possível o pedido de revisão das cláusulas
contratuais, com fundamento no art. 6º, inciso V, do CDC. A incidência do
CDC e a possibilidade do pedido revisional não asseguram a procedência
dos pedidos formulados pelo consumidor. Juros remuneratórios. Tese
paradigma. Recurso Especial nº 1.061.530/RS. É admitida a revisão da
taxa de juros remuneratórios quando a abusividade fique cabalmente
demonstrada. Caso concreto. Percentual que não discrepa
substancialmente da taxa média de mercado do período. Inexistência de
abusividade. Capitalização dos juros. Constitucionalidade do art. 5º da
medida provisória nº 2.170. Recurso extraordinário nº 592.377.
Repercussão geral. Tema 33. As entidades integrantes do Sistema
Financeiro Nacional estão sujeitas ao art. 5º da medida provisória nº
2.170, que autoriza a capitalização dos juros em periodicidade inferior a
anual. Súmula nº 539 do STJ. Inaplicabilidade do art. 591 do Código Civil.
Prevalência da Lei Especial. Forma de contratação. Tese paradigma.
Recurso Especial nº 973.827/RS. A capitalização pode ser demonstrada
pela redação das cláusulas convencionadas ou quando a taxa anual dos
juros é superior ao duodécuplo da taxa mensal. Súmula nº 541 do STJ.
Caso concreto. Capitalização contratada. Mantida a forma de composição

27
das parcelas na forma contratada. Descaracterização da mora. Tese
paradigma. Recurso Especial nº 1.061.530/RS. A constatação de encargos
abusivos durante o período da normalidade afasta a caracterização da
mora. Caso concreto. Encargos da normalidade mantidos conforme
contratados. Inexistência de motivo que justifique o afastamento da
mora. Comissão de permanência e demais encargos cobrados no período
da inadimplência. Caso concreto. Inexistência de previsão de incidência
da comissão de permanência. Contratação de cobrança de juros
remuneratórios, além da multa de 2% e dos juros moratórios em 1% ao
mês. Possibilidade de incidência de juros remuneratórios de acordo com
a taxa média de mercado, observado o percentual contratado, nos
termos da Súmula nº 296 do STJ. Encargos da inadimplência limitados aos
termos da fundamentação. Tarifa de abertura de crédito (tac), tarifa de
emissão de carnê (tec) ou outra denominação cobrada pelo mesmo fato
gerador. Tese paradigma. Recurso Especial nº 1.251.331/RS e nº
1.255.573/RS. Desde a entrada em vigor da resolução nº 3.518/2007 do
Conselho Monetário Nacional, a cobrança por serviços bancários
prioritários ficou limitada às hipóteses taxativamente previstas em norma
padronizadora expedid inexistência de previsão contratual da cobrança.
Carência de interesse. Apelo não conhecido no tópico. Tarifa de cadastro.
Tese paradigma. Recurso Especial nº 1.251.331/RS e nº 1.255.573/RS. É
válida a tarifa de cadastro expressamente tipificada em ato normativo, a
qual somente pode ser cobrada no início do relacionamento entre o
consumidor e a instituição financeira. Caso concreto. Mantida a validade
da cobrança. Ressarcimento de despesas decorrentes de prestação de
serviços por terceiros. A resolução nº 3.518/64 do Conselho Monetário
Nacional autoriza a cobrança, desde que devidamente explicitado. Caso
concreto. Contrato não especifica as despesas que englobam o valor
cobrado. Ausência de transparência. Art. 52, inciso III, do CDC. Declarada

27
a ilegalidade. Tarifa de avaliação do bem dado em garantia. O art. 5º,
inciso V, da resolução nº 3.518/2007 do Conselho Monetário Nacional
admite a cobrança, desde que explicitado ao cliente. Caso concreto.
Inexistência de previsão contratual da cobrança. Carência de interesse.
Apelo não conhecido no tópico. Despesas com o registro do contrato e
inclusão de gravame. A resolução nº 3.518/2007 do Conselho Monetário
Nacional não proíbe o repasse das despesas administrativas ao
consumidor, se houver a devida especificação do valor e da finalidade
correspondente. Caso concreto. Inexistência de previsão contratual da
cobrança. Carência de interesse. Apelo não conhecido no tópico. Imposto
paradigma. Recurso Especial nº 1.251.331/RS e nº 1.255.573/RS. As
partes podem convencionar o pagamento do imposto sobre operações
financeiras e de crédito (IOF) por meio de financiamento acessório ao
mútuo principal, sujeitando-o aos mesmos encargos contratuais. Caso
concreto. Mantida a validade da cobrança na forma contratada. Despesas
de cobrança judicial e/ou extrajudicial. É abusiva a cláusula que obriga o
consumidor a ressarcir as despesas de cobrança judicial e/ou
extrajudicial. A condição imposta fere as disposições do art. 51, IV do
CDC. Desvantagem exagerada do consumidor. Declarada a nulidade da
cláusula contratual. Compensação e/ou repetição de valores. Caso
concreto. A alteração dos encargos contratados justifica o deferimento
do pedido de compensação e, caso quitado o débito, a restituição dos
valores pagos a maior, na forma simples. Indeferida a antecipação de
tutela. Ação de busca e apreensão. Caso concreto. Ajuizamento da ação
antes da entrada em vigor da Lei nº 10.043/14. Ausência da notificação
regular do devedor em mora. Desatendimento das formalidades exigidas
pela legislação pertinente. Notificação não foi enviada por intermédio do
cartório de títulos e documento. Extinção da ação por ausência da
notificação regular do devedor em mora. Art. 267, IV, do CPC. Apelo

27
conhecido em parte e, na parte conhecida, parcialmente provido. (TJRS;
AC 0269218-05.2015.8.21.7000; Alvorada; Décima Terceira Câmara Cível;
Relª Desª Angela Terezinha de Oliveira Brito; Julg. 13/08/2015; DJERS
28/10/2015)

( g ) PRODUÇÃO DE PROVAS

Nesse diapasão, temos que a matéria aduzida pelo


Promovente necessita, certamente, -- o que de logo requer -- ser provada por meio
de:
 ( a ) prova pericial contábil

Assim, pretende-se provar que: ( i ) o pacto na


verdade, desde o seu nascedouro, já trouxera encargos contratuais excessivos,
perdurando pois durante o “período de normalidade”, o que descaracterizará a
mora do Autor; ( ii ) houvera cobrança de juros remuneratórios abusivos e
mascarados no pacto de leasing;

Não há como este Julgador proferir sentença


destacando a eventual cobrança de encargos excessivos, no “ período da
normalidade”, bem como destacar a existência de juros remuneratórios no pacto
de arrendamento mercantil, sem o que os mesmos sejam comprovados pela prova
pericial, ora requerida.

Desse modo, constitui fragrante cerceamento de


defesa o indeferimento e/ou julgamento antecipado da lide , caso não seja acolhido
o presente pedido de produção de prova pericial, devidamente justificado.

27
Ante o exposto, requer o Promovente que Vossa
Excelência se digne de admitir a produção da prova pericial aqui requerida ,
delimitando, também, na oportunidade processual pertinente, os pontos
controvertidos desta pendenga judicial.

Diante da hipossuficiência técnica, pede seja invertido


o ônus da prova (CDC, art. 6º
6º, inc. VIII).

( h ) – PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA

Ficou destacado claramente nesta peça processual,


em tópico próprio, que a Ré cobrou juros remuneratórios indevidamente, encargo
esse, pois, arrecadado do Promovente durante o “ período de normalidade”
contratual. E isso, segundo que fora debatido também no referido tópico, ajoujado
às orientações advindas do c. Superior Tribunal de Justiça, afasta a mora do
devedor.

Nesse ponto, deve ser excluído o nome do Autor dos


órgãos de restrições, independentemente do depósito de qualquer valor, pois não
se encontra em mora contratual.

De outro norte, o Código de Processo Civil autoriza o


Juiz conceder a tutela de urgência quando “ probabilidade do direito” e o “perigo de
dano ou o risco ao resultado útil do processo” :

Art. Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver


elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de
dano ou o risco ao resultado útil do processo.

27
Há nos autos “prova inequívoca” da ilicitude cometida
pela Ré, fartamente comprovada por documentos imersos nesta querela,
maiormente pela perícia particular apresentada com a presente peça vestibular.
(doc. 02)

Entende-se por “prova inequívoca” aquela deduzida


pelo autor em sua inicial, pautada em prova preexistente – na hipótese laudo
pericial particular feito por contador devidamente registrado no CRC --, capaz de
convencer o juiz de sua verossimilhança, de cujo grau de convencimento não se
possa levantar dúvida a respeito.

Desse modo, à guisa de sumariedade de cognição, os


elementos indicativos de ilegalidades contido na prova ora imersa e até mesmo da
análise das cláusulas contratuais antes mencionadas, traz à tona circunstâncias de
que o direito muito provavelmente existe.

Acerca do tema do tema em espécie, é do magistério


de José Miguel Garcia Medina as seguintes linhas:

“. . . sob outro ponto de vista, contudo, essa probabilidade é vista como


requisito, no sentido de que a parte deve demonstrar, no mínimo,
mínimo, que o
direito afirmado é provável (e mais se exigirá, no sentido de se
demonstrar que tal direito muito provavelmente existe, quanto menor
for o grau de periculum.
periculum. “ (MEDINA, José Miguel Garcia. Novo código de
processo civil comentado ... – São Paulo: RT, 2015, p. 472)
(itálicos do texto original)

27
Com esse mesmo enfoque, sustenta Nélson Nery
Júnior, delimitando comparações acerca da “probabilidade de direito” e o “ fumus
boni iuris”, esse professa, in verbis:

“4. Requisitos para a concessão da tutela de urgência: fumus boni iuris:


Também é preciso que a parte comprove a existência da plausibilidade
do direito por ela afirmado (fumus
(fumus boni iuris). Assim, a tutela de urgência
visa assegurar a eficácia do processo de conhecimento ou do processo de
execução...” (NERY JÚNIOR, Nélson. Comentários ao código de processo
civil. – São Paulo: RT, 2015, p. 857-858)
(destaques do autor)

Diante dessas circunstâncias jurídicas, faz-se


necessária a concessão da tutela de urgência antecipatória , o que também
sustentamos à luz dos ensinamentos de Tereza Arruda Alvim Wambier:

"O juízo de plausibilidade ou de probabilidade – que envolvem dose


significativa de subjetividade – ficam, ao nosso ver, num segundo plano,
dependendo do periculum evidenciado. Mesmo em situações que o
magistrado não vislumbre uma maior probabilidade do direito invocado,
dependendo do bem em jogo e da urgência demonstrada (princípio da
proporcionalidade), deverá ser deferida a tutela de urgência, mesmo que
satisfativa. “ (Wambier, Teresa Arruda Alvim ... [et tal]. – São Paulo: RT,
2015, p. 499)

No tocante ao periculum na demora da providência


judicial, urge demonstrar que o nome do Autor se encontra inserto nos órgãos de
restrições (docs. 17/19). Não há qualquer dificuldade que essa inclusão traz
transtornos imensuráveis. Tanto é assim que nas ações de reparação, onde já
27
negativação indevida, sequer se faz necessário produzir provas quanto ao abalo
moral.

Ademais, a medida em liça é completamente


reversível, maiormente quando o Promovido, se vencedor, poderá tornar a inserir o
nome do Autor junto aos órgãos de restrições, em face de eventual débito
remanescente em seu favor.

Diante disso, o Autor vem pleitear, sem a oitiva prévia


da parte contrária (CPC, art. 9º, parágrafo único, inc. I c/c art. 300, § 2º),
independente de caução (CPC, art. 300, § 1º), tutela de urgência antecipatória no
sentido de:

a) suspender a exigibilidade das parcelas contratuais até que


seja apurado, junto ao setor de Contadoria, o valor controverso
e incontroverso a ser pago pelo Promovente;

b) determinar que a Ré exclua, no prazo de cinco (5) dias, o


nome do Promovente dos órgãos de restrições, inclusive junto
ao BACEN, referente ao pacto ora debatido, até que a
Contadoria apure e indique o valor correto a pagar, sob pena
de pagamento de multa diária (CPC, art. 297);

c) seja o mesmo manutenido na posse do veículo em espécie,


expedindo-se, para tanto, o devido MANDADO DE
MANUTENÇÃO DE POSSE.

27
III – PEDIDOS E REQUERIMENTOS

POSTO ISSO,
como últimos requerimentos desta Ação Revisional, o Autor expressa o desejo que
Vossa Excelência se digne de tomar as seguintes providências:

3.1. Requerimentos

( i ) O Autor opta pela realização de audiência conciliatória (CPC,


(CPC, art. 319, inc.
VII),
VII), razão qual requer a citação da Promovida, por carta (CPC,
(CPC, art. 247, caput)
caput)
para comparecer à audiência designada para essa finalidade (CPC,
(CPC, art. 334,
caput c/c § 5º),
5º), devendo, antes, ser analisado o pleito de tutela de urgência;

( ii ) requer a concessão dos benefícios da Justiça Gratuita e, igualmente, a


inversão do ônus da prova.

3.2. Pedidos

( i ) pede, mais, que sejam JULGADOS PROCEDENTES OS PEDIDOS


FORMULADOS PELO AUTOR, declarando nulas as cláusulas que
estejam afrontando a legislação, e, via de consequência:

( a ) excluir a cobrança de juros capitalizados, seja mensal e/ou


diário;

( b ) com o reconhecimento da cobrança de juros remuneratórios


neste pacto de leasing,
leasing, pede sejam reduzidos os juros à taxa
média do mercado para esta modalidade operação financeira,
reconhecendo-se, por conseguinte, a cobrança abusiva durante o
período de normalidade contratual;

( c ) sejam afastados todo e qualquer encargo contratual


moratório, visto que o Autor não se encontra em mora, ou, como
27
pedido subsidiário (CPC, art. 326), a exclusão do débito de juros
moratórios, juros remuneratórios, correção monetária e multa
contratual, em face da ausência de inadimplência, possibilitando,
somente, a cobrança de comissão de permanência, limitada à taxa
contratual;

( d ) que a Ré seja condenada, por definitivo, a não inserir o nome


do Autor junto aos órgãos de restrições, bem como a não
promover informações à Central de Risco do BACEN, com a
manutenção definitiva do veículo na posse do Autor;

( e ) pleiteia, igualmente, seja anulada parcialmente a cláusula que


estipula juros moratórios capitalizados, reduzindo-o para 1%(um
por cento) ao mês, salvo se não acolhido o pleito de exclusão de
todos encargos de mora e/ou da comissão de permanência;

( f ) pede, caso seja encontrado valores cobrados a maior durante


a relação contratual, sejam os mesmos devolvidos ao Promovente
em dobro (repetição de indébito), ou subsidiariamente, sejam
compensados os valores encontrados(devolução dobrada) com
eventual valor ainda existe como saldo devedor; ainda como
pedido subsidiário em relação aos anteriores, pede seja a Ré
condenada à devolução simples dos valores encontrados a maior;

( g ) solicita, mais, sejam anuladas as cláusulas que afrontam o


Código de Defesa do Consumidor, aqui defendidas, ou seja, (a)
cláusula mandato, (b) cláusula de despesas extrajudiciais
imputadas ao Autor

( ii ) protesta provar o alegado por toda espécie de prova admitida (CF,


art. 5º, inciso LV), nomeadamente pelo depoimento do representante
legal da Ré (CPC, art. 75, inciso VIII), oitiva de testemunhas a serem
arroladas opportuno tempore,
tempore, juntada posterior de documentos como

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contraprova, perícia contábil(com ônus invertido), exibição de
documentos, tudo de logo requerido;

( iii ) seja a Ré condenada a pagar o todos os ônus pertinentes à


sucumbência, nomeadamente honorários advocatícios, esses de já
pleiteados no patamar máximo de 20%(vinte por cento) sobre o proveito
econômico obtido pelo Autor ou, subsidiariamente, não sendo possível
mensurá-los, sobre o valor atualizado da causa (CPC, art. 85, § 2º).

Atribui-se à causa o valor do contrato ( CPC, art. 292,


inc. II), resultando na quantia de R$ 00.000,00 ( .x.x.x. ).

Respeitosamente, pede deferimento.

Cidade, 00 de dezembro de 0000.

Beltrano de Tal
Advogado – OAB/PR 0000

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