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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 00ª VARA CÍVEL DA CIDADE.

Embargos à Execução
Distribuição por dependência ao Proc. nº. 11111.22.3333.4.05.0001/0
( CPC, art. 914, § 1º)

EMPRESA DAS TANTAS, sociedade empresária de direito


privado, estabelecida na na Rua X, nº. 0000 – Curitiba (PR) – CEP nº 0000-00, possuidora do
CNPJ(MF) nº. 22.333.444/0001-55, com endereço eletrônico ficto@ficticio.com.br, razão qual
vem, com o devido respeito à presença de Vossa Excelência, por intermédio de seu patrono
que ao final subscreve -- instrumento procuratório acostado - causídico inscrito na Ordem dos
Advogados do Brasil, Seção do Ceará, sob o nº. 1122, com seu escritório profissional
consignado no mandato acostado, onde, em atendimento aos ditames contidos no art. 106,
inciso I c/c art. 187, ambos do CPC, indica-o para as intimações necessárias, para ajuizar, com
supedâneo nos arts. 914 e segs. c/c art. 917, inc. VI, ambos da Legislação Adjetiva Civil, a
presente

AÇÃO INCIDENTAL DE EMBARGOS À EXECUÇÃO

( COM PLEITO DE EFEITO SUSPENSIVO – CPC, art. 919, § 1º)


contra BANCO ZETA S/A, estabelecido na Rua Delta, nº. 000 – Natal(RN) – CEP 11333-444,
inscrito no CNPJ(MF) sob o nº 77.666.555/0003-99, com endereço eletrônico
ficto@ficticio.com.br, em decorrência das justificativas de ordem fática e de direito abaixo
delineadas.

INTROITO

( a ) Quanto à audiência de conciliação (CPC, art. 319, inc. VII)

O Embargante opta pela realização de audiência conciliatória


(CPC, art. 319, inc. VII c/c CPC, art. 771, parágrafo único), razão qual requer a intimação da
Embargada, por seu patrono, para comparecer à audiência designada para essa finalidade
(CPC, art. 334, caput c/c § 5º), devendo, antes, ser analisado o pleito de tutela de urgência
formulado.

(1) – DA TEMPESTIVIDADE DESTA AÇÃO(CPC, art. 915, caput)

A Embargante fora citada, por mandado, a pagar o débito


perseguido na ação executiva, no prazo de 3(três) dias, nos moldes do art. 829, do Código de
Ritos.

Referido mandado citatório, registre-se, fora juntado aos autos da


ação de execução na data de 00/11/2222, o que se constata pela cópia ora acostada. (doc. 01)

Dessa maneira, visto que a presente demanda é ajuizada em


22/33/4444, temos que a mesma é aforada tempestivamente. (CPC, art. 915 c/c art. 231, inc. II)
(2) – QUADRO FÁTICO
(CPC, art. 771, parágrafo único c/c art. 319, inc. III)

A Embargada celebrou com o Embargante, na data de 00/11/2222,


um empréstimo mediante a Cédula de Crédito Bancário nº. 11223344-55. Essa tinha como
propósito a abertura de crédito no importe de R$ 110.000,00(cento e dez mil reais) , a ser paga
em 36(trinta e seis) parcelas sucessivas e mensais. (doc. 02)

Em face dos elevados encargos contratuais, não acobertados pela


legislação, o Embargante, já na parcela de nº. 05, não conseguiu pagar mais os valores
acertados contratualmente. Veio, por consequência, a inserção do nome do mesmo nos órgãos
de restrições, bem como o ajuizamento da ação executiva a qual esta corre por dependência.
(docs. 03/04)

O Embargante ainda tentou formalizar administrativamente


composição com a Embargada – na angústia de ter seu nome preservado perante os órgãos de
restrições --, o que, entrementes, foi inviável novamente pela imputação mais gravosa de
encargos (sobre os outros encargos ilegais).

Diante da “pretensa” inadimplência, a Embargada ajuizou ação


executiva de título extrajudicial, a qual ora segue por dependência, tendo o Embargante
devidamente citado e, mais, tendo bem de sua propriedade penhorado. (docs. 05/06).

Restou ao Embargante, assim, buscar o Poder Judiciário, por meio


da presente ação incidental, para declarar a cobrança abusiva, ilegal e não contratada,
afastando, via reflexa, os efeitos da inadimplência, com a redução do débito ao valor justo e
dentro da legalidade.
HOC IPSUM EST.

(3) – DO DIREITO (CPC, art. 917, inc. VI)

DELIMITAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS CONTROVERTIDAS


CPC, art. 330, § 2º

Observa-se que a relação contratual entabulada entre as partes é


de empréstimo, razão qual o Embargante, à luz da regra contida no art. 330, § 2º, da
Legislação Adjetiva Civil, cuida de balizar, com a exordial, as obrigações contratuais alvo desta
controvérsia judicial.

O Embargante almeja alcançar provimento judicial de sorte a


afastar os encargos contratuais tidos por ilegais. Nessa esteira de raciocínio, a querela
gravitará com a pretensão de fundo para:

( a ) afastar a cobrança de juros capitalizados diários;


Fundamento: ausência de ajuste expresso nesse sentido e onerosidade excessiva.

( b ) reduzir os juros remuneratórios;


Fundamento: taxa que ultrapassa a média do mercado.

( c ) excluir os encargos moratórios;


Fundamento: o Autor não se encontra em mora, posto que foram cobrados encargos
contratuais ilegalmente durante o período de normalidade;

( d ) excluir a cobrança de registro de cadastro;


Fundamento: ausência de autorização contratual expressa;
( e ) excluir a cobrança de encargos moratórios, remuneratório e comissão de permanência;
Fundamento: colisão as súmulas correspondentes do STJ

Dessarte, tendo em conta as disparidades legais supra-


anunciadas, o Promovente acosta planilha provisória com cálculos (doc. 06) que demonstra,
por estimativa, o valor a ser pago:

( a ) Valor da obrigação ajustada no contrato R$ 0.000,00 ( .x.x.x. );

( b ) valor controverso estimado da parcela R$ 000,00 ( x.x.x. );

( c ) valor incontroverso estimado da parcela R$ 000,00 ( x.x.x. ).

Nesse compasso, com supedâneo na regra processual ora


invocada, o Autor requer que Vossa Excelência defira o depósito, em juízo, da parte estimada
como controversa. Por outro ângulo, pleiteia que a Promovida seja instada a acatar o
pagamento da quantia estimada como incontroversa, acima mencionada, a qual será paga
junto à Ag. 3344, no mesmo prazo contratual avençado.

No tocante ao depósito, feito por estimativa de valores, maiormente


no caso em espécie onde a relação contratual em espécie se originou nos idos de 2007, sem
qualquer sombra de dúvidas para se apurar os valores é uma tarefa que requer extremada
capacidade técnica. Além disso, isso demandaria no mínimo um mês de trabalho com um bom
especialista da engenharia financeira ou outra área equivalente. E, lógico, um custo
elevadíssimo para a confecção desse laudo pericial particular.
Nesse aspecto, há afronta a disposição constitucional de igualdade
entre os litigantes e, mais ainda, ao princípio da contribuição mútua entre todos envolvidos no
processo judicial (CPC, art. 6º) e da paridade de tratamento (CPC, art. 7º). Quando o autor da
ação é instado a apresentar cálculos precisos e complexos com sua petição inicial, como na
hipótese, afasta-o da possibilidade de se utilizar de um auxiliar da Justiça (contador) que
poderia fazer justamente esse papel, e muito bem desempenhado (CPC, art. 149). Assim, no
mínimo é essencial que se postergue essa tarefa de encontrar o valor correto a depositar (se
ainda tiver) para quando já formada a relação processual.

Ilustrativamente convém evidenciar o seguinte julgado:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO REVISIONAL.


Contrato de abertura de crédito em conta corrente (cheque especial) e contrato giro
parcelado (pré-fixado). Decisão que indeferiu a antecipação dos efeitos da tutela.
Proibição da inscrição do nome da agravante nos órgãos de proteção ao crédito.
Pretensão condicionada ao preenchimento dos requisitos necessários, dispostos no
art. 273, do código de processo civil [CPC/2015, art. 300]. Depósito incidental dos
valores incontroversos. Desnecessidade. Impossibilidade de se aferir o quantum
debeatur. Possibilidade de averiguação da verossimilhança das alegações. Recurso
provido. "Para a vedação da inscrição do nome do devedor nos órgãos de proteção
ao crédito deve-se ter, necessária e concomitantemente, a presença desses três
elementos: 1) ação proposta pelo devedor contestando a existência integral ou
parcial do débito; 2) haja efetiva demonstração de que a contestação da cobrança
indevida se funda na aparência do bom direito; 3) depósito do valor referente à parte
tida por incontroversa do débito ou caução idônea, ao prudente arbítrio do
magistrado. Em ação revisional de contrato de abertura de crédito em conta
corrente, quando, como na hipótese vertente, manifestar-se a impossibilidade de
se aferir o quantum debeatur, admissível vedar-se a inscrição do correntista nos
cadastros de proteção ao crédito, sem necessidade de depósito dos valores
incontroversos ou prestação de caução. (TJSC; AI 2013.043498-8; Itajaí; Terceira
Câmara de Direito Comercial; Rel. Des. Paulo Roberto Camargo Costa; Julg.
23/01/2014; DJSC 30/01/2014; Pág. 85)

Todavia, cabe aqui registrar o magistério de Nélson Nery Júnior, o


qual, acertadamente, faz considerações acerca da norma em espécie, chegando a evidenciar
que isso bloqueia o à Justiça, verbis:

“18. Bloqueio do acesso à Justiça e igualdade.


É interessante notar que a previsão constante desses dois parágrafos se aplica
apenas a ações envolvendo obrigações decorrentes de empréstimo, financiamento
ou alienação de bens. Mas por que isso se aplica apenas a esses casos? Ainda, pode
ocorrer de o autor não ter condições de quantificar o valor que pretende discutir,
bem como o valor incontroverso, já no momento da propositura da ação. A petição
inicial deve, portanto, ser indeferida, em detrimento do acesso à Justiça? Neste
último caso, nada impede que a discriminação cobrada por estes parágrafos seja
feita quando da liquidação da sentença (cf. Cassio Scarpinella Bueno. Reflexões a
partir do art. 285-B do CPC [RP 223/79]). Vale lembrar ainda que o § 3º é mais um
exemplo de norma constante do CPC que disciplina questões não ligadas ao processo
civil. Essa desorganização, se levada adiante, pode fazer com que tais exemplos se
multipliquem, dificultando a sistematização e a lógica processuais.” (in, Comentários
ao Código de Processo Civil. São Paulo: RT, 2015, p. 904)
(negritos e itálicos no texto original)
A ratificar os fundamentos acima mencionados, urge evidenciar
diversos julgados acolhendo o pleito de depósito do valor incontroverso, esse delimitado pelo
Autor com a inaugural, verbis:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO REVISIONAL DE CLÁUSULA CONTRATUAL.


DEPÓSITO JUDICIAL DAS PARCELAS NO VALOR INCONTROVERSO. POSSIBILIDADE.
DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA. IMPOSSIBILIDADE. ART. 285-B DO
CPC[CPC/2015, art. 330, § 2º]. RECURSO NÃO PROVIDO.
Com a entrada em vigor do artigo 285-B do CPC [CPC/2015, art. 330, § 2º], nos
litígios que tenham por objeto obrigações decorrentes de empréstimo,
financiamento ou arrendamento mercantil, o autor-devedor deverá continuar
pagando o valor incontroverso. Assim, pode o devedor depositar judicialmente as
parcelas, no valor que entende devido, enquanto perdurar a ação revisional das
cláusulas contratuais. No entanto, esse depósito não elide ou suspende a mora.
(TJMG; AI 1.0702.14.088637-6/001; Rel. Des. Marcos Lincoln; Julg. 25/03/2015;
DJEMG 31/03/2015)

AÇÃO REVISIONAL DE CLÁUSULA CONTRATUAL COM PEDIDO DE TUTELA


ANTECIPADA. PRETENSÃO DO AGRAVANTE À CONSIGNAÇÃO DAS PARCELAS
MENSAIS NO VALOR INCONTROVERSO. INDEFERIMENTO EM PRIMEIRO GRAU.
POSSIBILIDADE DOS DEPÓSITOS. INOVAÇÃO INTRODUZIDA PELO ARTIGO 285-B
DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL [CPC/2015, art. 330, § 2º]. Reflexos da conduta do
recorrente, entretanto, que correrão por sua conta e risco, inclusive no que toca aos
efeitos da mora. Recurso parcialmente provido. (TJSP; AI 2010316-
19.2015.8.26.0000; Ac. 8240939; Itapetininga; Vigésima Segunda Câmara de Direito
Privado; Rel. Des. Sérgio Rui; Julg. 26/02/2015; DJESP 05/03/2015)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO BANCÁRIO.
Decisão que indeferiu pedido de depósito dos valores incontroversos e não
determinou que a ré se abstenha de negativar o nome do autor ou ajuizar ação de
busca e apreensão. Inconformismo. Reconhecimento da possibilidade de depósitos
parciais. Inteligência do art. 285-B do Código de Processo Civil [CPC/2015, art. 330, §
2º]. Consignação das parcelas a menor, porém, que não impedirá a caracterização da
mora, com os efeitos dela decorrentes. Valores que se mantêm devidos na sua
integralidade, ante a ausência, em sede de cognição sumária, de verossimilhança na
alegação de abusividade das cobranças questionadas. Direito de ação, ademais, que
é garantido constitucionalmente. Decisão reformada em parte. Agravo parcialmente
provido. (TJSP; AI 2207874-33.2014.8.26.0000; Ac. 8161535; Praia Grande; Vigésima
Segunda Câmara de Direito Privado; Rel. Des. Hélio Nogueira; Julg. 29/01/2015;
DJESP 04/02/2015)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL. CONTRATO DE FINANCIAMENTO. ART. 285-B


DO CPC[CPC/2015, art. 330, § 2º]. EMENDA INICIAL. ATENDIMENTO.
IMPUGNAÇÃO DOS ENCARGOS CONSIDERADOS ABUSIVOS E QUANTIFICAÇÃO DO
VALOR INCONTROVERSO. INDEFERIMENTO DA INICIAL. DESCABIMENTO.
Constante da inicial a indicação das cláusulas abusivas, com a quantificação do valor
incontroverso, bem como anexado cópia do contrato, incorreta a extinção do feito
sem julgamento de mérito, por atender os requisitos do art. 285-B do CPC[CPC/2015,
art. 330, § 2º]. (TJMG; APCV 1.0024.13.343946-3/001; Relª Desª Aparecida Grossi;
Julg. 01/07/2015; DJEMG 10/07/2015)

Ademais, é de toda conveniência revelar aresto no sentido da


possibilidade do valor incontroverso ser menor que aquele pactuado, a saber:
REVISIONAL DE CONTRATO BANCÁRIO. PRETENSÃO DO AGRAVANTE À
CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO DE PARCELAS MENSAIS EM VALOR INFERIOR AO
PACTUADO. POSSIBILIDADE. ARTIGO 285-B, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC.
[CPC/2015, art. 330, § 2º]
Discussão do contrato celebrado para efetuar depósito de valor mensal menor que o
pactuado, sem a inclusão de seu nome junto aos órgãos de proteção ao crédito.
Súmula nº 380 do STJ. Existindo a mora, é direito do credor adotar as medidas
cabíveis para evitar a inconstitucional vedação de seu acesso à jurisdição.
Inteligência dos artigos 273 do CPC[CPC/2015, art. 294], 5º, inciso XXXV, da CF, 585,
parágrafo 1º, do CPC e 43, parágrafos 1º e 4º, do CDC. Decisão mantida. Recurso
improvido, com ressalva. (TJSP; AI 2041259-53.2014.8.26.0000; Ac. 7497668; Jundiaí;
Vigésima Segunda Câmara de Direito Privado; Rel. Des. Sérgio Rui; Julg. 10/04/2014;
DJESP 22/04/2014)

APELAÇÕES CÍVEIS. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. AÇÃO REVISIONAL DE


CONTRATOS BANCÁRIOS DIVERSOS.
1. Admissibilidade recursal. 1.1. Tarifas bancárias. Questão estranha ao contexto da
lide, na medida em que ausente discussão a respeito desse tema no presente feito.
Matéria não incluída na causa de pedir inicialmente deduzida pelo autor. Interesse
recursal não evidenciado no ponto. Recurso do réu não conhecido nesse tópico. 1.2.
Comissão de permanência. A parte não possui interesse recursal quando requer a
reforma da decisão para obter vantagem que já lhe foi concedida no
pronunciamento recorrido. Recurso do autor não conhecido no ponto. 2. Código de
Defesa do Consumidor. Aplica-se, na espécie, o Código de Defesa do Consumidor. 3.
Juros remuneratórios. 3.1. Inexiste abusividade na cobrança de juros remuneratórios
superiores a 12% ao ano, considerando os percentuais usualmente praticados no
mercado. Precedentes do STJ. 3.2. No caso concreto, devida a redução dos juros à
média do mercado financeiro em um dos cartões de crédito controvertidos, por
exceder significativamente à taxa média divulgada pelo Banco Central do Brasil para
operações de cheque especial, parâmetro observado, na espécie, por analogia. A
respeito do outro pacto em discussão, porque ausente documento que indique as
taxas praticadas, os juros devem ser igualmente limitados à taxa média de mercado
registrada pelo BACEN. 4. Capitalização de juros. 4.1. Conforme orientação do RESP
nº 973.827/RS, para os contratos bancários posteriores à medida provisória nº 1.963-
17, publicada em 31 de março de 2000 (atual MP nº 2.170-36/2000), admite-se a
incidência da capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano, desde que
expressamente pactuada ou, ainda, se a taxa de juros anual for superior ao
duodécuplo da mensal. 4.2. Caso concreto em que é possível verificar, nas cláusulas
padronizadas dos cartões de crédito, estipulação expressa de capitalização mensal
dos juros, razão por que se impõe mantê-la. No outro ajuste discutido, contudo,
diante da falta de informações sobre as taxas de juros e sua forma de capitalização,
admite-se apenas a capitalização anual dos juros, que é a regra geral para os
contratos bancários. 5. Comissão de permanência. Somente é permitida a comissão
de permanência quando expressamente prevista e não cumulada com encargos
moratórios. Verificada a cobrança cumulativa, deve ser cobrada unicamente a
comissão de permanência, limitada à taxa contratada, se for menor que a taxa média
ou dela não discrepar significativamente. Ausente demonstração de contratação da
comissão de permanência, inviável sua cobrança. 6. Repetição do
indébito/compensação. Se houve pagamento a maior, considerando a solução
tomada no processo judicial, são devidas a compensação e a repetição do indébito,
nos termos dos artigos 368 e 876 do CCB. 7. Inscrição em cadastros restritivos e
mora. Reconhecida a abusividade descaracterizada a mora do devedor, ficando
vedada a inscrição ou manutenção do seu nome em cadastros de restrição ao
crédito. 8. Depósito em juízo. Não há óbice à realização de depósitos de parcelas
incontroversas pelo autor, desde que por sua conta e risco e sem efeito
liberatório. Valores consignados que poderão ser posteriormente compensados
com o saldo a ser apurado em liquidação. Apelações parcialmente conhecidas e,
nessa extensão, providas em parte. (TJRS; AC 0478544-39.2014.8.21.7000; Caxias do
Sul; Vigésima Terceira Câmara Cível; Rel. Des. Carlos Eduardo Richinitti; Julg.
31/03/2015; DJERS 09/04/2015)

Com esse exato enfoque são as lições de Guilherme Rizzo Amaral, ad


litteram:

“Regra mais delicada é a inserida no § 3º, do art. 330, que prevê o dever do autor em
continuar pagando o valor incontroverso no tempo e modo contratados. Sua
interpretação deve ser restrita. Nenhuma consequência advirá para o autor e sua
ação revisional caso ele deixe de pagar o valor incontroverso, especialmente porque
eventuais dificuldades financeiras não podem obstar o acesso à via jurisdicional. O
que a norma em comento determina é que o simplesmente ajuizamento da ação
revisional não serve para justificativa para a suspensão da exigibilidade do valor
incontroverso.” (in, Comentários às alterações do novo CPC. São Paulo: RT, 2015, p.
447)
(os destaques são nossos)

De igual modo é desnecessário o pagamento de valores prévios ao


ajuizamento da ação revisional, o que se depreende do julgado abaixo:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO. AÇÃO DE REVISÃO DE CONTRATO.
INDEFERIMENTO DA INICIAL. EXTINÇÃO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO. ARTIGO
285-B DO CPC. COMPROVAÇÃO DO PAGAMENTO DAS PARCELAS ANTERIORES AO
AJUIZAMENTO DA AÇÃO. PRESCINDIBILIDADE. QUESTÃO QUE AFETA APENAS A
AFERIÇÃO DA ELISÃO DA MORA PELA PARTE AUTORA E NÃO AS CONDIÇÕES DA
AÇÃO. ERROR IN PROCEDENDO. SENTENÇA CASSADA.
1. O artigo 285-b, caput, do código de processo civil[CPC/2015, art. 330, caput]
dispõe que. Nos litígios que tenham por objeto obrigações decorrentes de
empréstimo, financiamento ou arrendamento mercantil, o autor deverá discriminar
na petição inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende
controverter, quantificando o valor incontroverso. Seu parágrafo 1º[CPC/2015, art.
330, § 1º] acrescenta que. O valor incontroverso deverá continuar sendo pago no
tempo e modo contratados. 2. O referido artigo visa tão somente obrigar a parte a
apontar clara e precisamente a causa de pedir das ações revisionais, declarando qual
a espécie e o alcance do abuso contratual que fundamenta sua ação, bem como
explicitar a inadmissão do depósito judicial do valor incontroverso das obrigações
contratuais. 3. Tal artigo, não impõe a comprovação do pagamento das parcelas
anteriores ao ajuizamento da ação ou o mesmo o efetivo pagamento do valor
incontroverso como condição de procedibilidade da ação revisional. Caso assim o
fizesse, implicaria em nítida ofensa ao princípio constitucional do livre acesso ao
poder judiciário, previsto no artigo 5º, inciso XXXV da Constituição Federal, pois
impediria que o consumidor inadimplente e sem condições de promover o
pagamento das prestações contratadas, de discutir em juízo a legitimidade dos
valores que lhe estão sendo exigidos, por vícios insertos no contrato em que a
obrigação inadimplida foi convencionada. 4. A não comprovação, do pagamento das
prestações anteriores ao ajuizamento da ação revisional de contrato bancário, e a
ausência de continuidade do pagamento dos valores vincendos tidos como
incontroversos, não sendo circunstância que possa mitigar o direito constitucional de
ação, resulta apenas na impossibilidade de ser elidida a mora do consumidor, pelo
simples ajuizamento da pretensão revisional, não se tratando de circunstância que
autorize a extinção do processo sem o julgamento dos pedidos deduzidos em juízo,
volvidos a infirmar as disposições contidas no instrumento contratual. 5. In casu,
sendo desnecessária a comprovação do pagamento das parcelas contratadas a fim
de se constatar as condições de procedibilidade da ação revisional de contrato
bancário ajuizada pela autora, a extinção do processo pelo indeferimento da petição
inicial representa error in procedendo, devendo ser cassada a sentença recorrida. 6.
Apelação conhecida e provida. Sentença cassada. (TJDF; Rec 2014.09.1.019627-6; Ac.
846.624; Rel. Des. Alfeu Machado; DJDFTE 20/02/2015; Pág. 317)

A SITUAÇÃO EM DEBATE NÃO É CASO DE IMPROCEDÊNCIA LIMINAR DOS PEDIDOS


CPC, art. 332 c/c art. 918, inc. II

É de toda conveniência ofertarmos considerações acerca da


impossibilidade de julgamento de improcedência liminar dos pedidos aqui ofertados.

Existem inúmeras súmulas e outros precedentes sobre temas mais


diversos de Direito Bancário, seja no aspecto remuneratório, moratório e até diversos enlaces
contratuais. E isso, aparentemente, poderia corroborar um entendimento de que as pretensões
formuladas nesta querela afrontariam os ditames previstos no art. 332 do Código de Processo
Civil. É dizer, por exemplo, por supostamente contrariar súmula do STF ou STJ, ou mesmo
acórdãos proferidos em incidente de resolução de demandas repetitivas. Não é o caso, todavia.

( i ) Não há proximidade entre os fundamentos abordados e súmulas e/ou ações repetitivas


Os temas ventilados na exordial, como causas de pedir, não têm
qualquer identidade com as questões jurídicas tratadas nas súmulas que cogitam de assuntos
bancários. E isso se faz necessário, obviamente.

Empregando o mesmo pensar, vejamos o magistério de José


Miguel Garcia Medina:

“V. .... E a precisão da sentença de improcedência liminar, fundada em enunciado


de súmula ou julgamento de casos repetitivos. A rejeição liminar do pedido, por ser
medida tomada quando ainda não citado o réu, apenas com supedâneo no que
afirmou o autor, é medida excepcional, a exigir cautelar redobrada do magistrado
sentenciante. Tal como o enunciado de uma súmula, p. ex., não pode padecer de
ambiguidade (cf. comentário supra), exige-se da sentença liminar de improcedência
igual precisão: deverá o juiz identificar os fundamentos da súmula ( ou do julgamento
de caso repetitivo) e apresentar os porquês de o caso em julgamento se harmonizar
com aqueles fundamentos (cf. art. 489, § 1º, V do CPC/2015). “ (in, Novo Código de
Processo Civil Comentado. São Paulo: RT, 2015, p. 554)
(negritos no texto original)

Com efeito, inexistindo identidade entre os temas, inadmissível o


julgamento de improcedência liminar.

( ii ) A hipótese em estudo requer a produção de provas

A situação em vertente demanda que sejam provados fatos, quais


sejam: a cobrança (ocorrência de fato) de encargos ilegais no período de normalidade, os
quais, via reflexa, acarretaria na ausência de mora.
Sustenta-se, como uma das teses da parte autora, que, ao revés
de existir a cobrança de juros capitalizados mensais há, na verdade, cobrança de juros
capitalizados diariamente. E isso, como será demonstrado no mérito, faz uma diferença
gigantesca na conta e, sobretudo, uma onerosidade excessiva.

Não é o simples fato de existir, ou não, uma cláusula mencionando


que a forma de capitalização é mensal, bimestral, semestral ou anual, seria o bastante. Claro
que não. É preciso uma prova contábil; um expert para levantar esses dados controvertidos
(juros capitalizados mensais x juros capitalizados diários).

Por esse norte, a produção da prova pericial se mostra essencial


para dirimir essa a controvérsia fática, maiormente quanto à existência ou não da cobrança de
encargos abusivos, ou seja, contrários à lei. Não é uma mera questão de direito que,
supostamente, afronta uma determinada súmula.

Pela necessidade de produção de prova pericial nos casos de


ações revisionais de contratos bancários, vejamos os seguintes julgados:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO BANCÁRIO. ALEGAÇÃO DE


NULIDADE DE CLÁUSULAS E ABUSIVIDADE DE ENCARGOS CONTRATUAIS. PROVA
PERICIAL CONTÁBIL. NÃO REALIZAÇÃO. CERCEAMENTO DE DEFESA.
CONFIGURAÇÃO. SENTENÇA CASSADA.
O julgamento do feito com fulcro no art. 285-A do CPC [CPC/2015, art. 332] e a
consequente ausência de realização de prova técnica necessária ao deslinde de
questões controvertidas nos autos viola o devido processo legal, no qual está
inserido o direito à produção probatória, e acarreta, portanto, cerceamento de
defesa. Em fiel observância ao devido processo legal, ao autor da ação incumbe fazer
prova acerca dos fatos alegados como fundamento do invocado direito, porque a lide
delineada nos autos não comporta qualquer exceção legal, permissiva da inversão
dos ônus da prova, assim como ao réu a produção de prova de fatos impeditivos,
modificativos ou extintivos. (TJMG; APCV 1.0024.14.094894-4/001; Rel. Des. Leite
Praça; Julg. 26/02/2015; DJEMG 10/03/2015)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO BANCÁRIO. PEDIDO DE


PRODUÇÃO DE PROVA PERICIAL. NÃO APRECIAÇÃO PELO JUÍZO A QUO
JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE COM RESOLUÇÃO DE MÉRITO PELA
IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO. NULIDADE DA SENTENÇA.
1. O juízo a quo ao decidir a demanda não levou em consideração as alegações
fáticas apresentadas pela autora em sua petição inicial. 2. Não se admite o
julgamento antecipado de improcedência da ação, nos termos do art. 285-a, do CPC
[CPC/2015, art. 332], sem examinar as alegações do autor e posteriormente
confrontá-las com a prova pericial requerida. Devendo ser apurado através de
planilha de cálculos necessária eventual aplicação de juros abusivos e capitalização
mensal de juros, resta inviabilizado, por este juízo ad quem, o exame das teses
levantadas por ambas as partes. 3. Sentença anulada, remessa dos autos ao d juízo
de origem com vistas à realização da regular instrução do feito para o julgamento da
ação revisional, em obediência ao devido processo legal (art. 5º, LIV, cf).
Jurisprudência do TJPI. Recurso conhecido e provido. (TJPI; AC 2010.0001.005308-3;
Segunda Câmara Especializada Cível; Rel. Des. Brandão de Carvalho; DJPI
09/03/2015; Pág. 14)

Convém ressaltar as lições de Teresa Arruda Alvim Wambier, ad


litteram:
“Por conseguinte, para fosse possível o julgamento prima facie de improcedência do
pedido, a relação conflituosa deveria assentar-se uma situação preponderantemente
de direito, isto é cujos fatos podem ser compreendidos com exatidão e grau máximo
de certeza através, tão somente, de prova pré-constituída. “ (Tereza Arruda Alvim
Wambier ... [et tal], coordenadores. Breves comentários ao novo código de processo
civil. São Paulo: RT, 2015, p. 856)
( itálicos do texto original )

Mais adiante arremata:

“Ou seja, antes de aplicar o art. 332 do CPC/2015, o juiz deve assegurar ao autor a
possibilidade de demonstrar porque sua petição inicial, v.g., não contraria súmula do
STF ou súmula do STJ. Somente após essa segunda manifestação do autor é que se
poderia cogitar da aplicação da referida técnica de forma constitucionalmente
adequada. “ (ob. aut. cits., p. 860)

Desse modo, impõe-se reconhecer a impossibilidade do


julgamento de improcedência liminar, visto que, havendo controvérsia a respeito de fatos, cuja
prova não se encontra nos autos, é imprescindível que este juízo viabilize à parte Autora a
produção da prova requerida. Além disso, a disposição contida no art. 373, I, do Código de
Processo Civil, dita que tal ônus a esse pertence.

( iii ) A inconstitucionalidade do art. 332 do Código de Processo Civil


De outro bordo, é inconteste que há inúmeras razões para receber
a norma acima mencionada como inconstitucional.

Ao subordinar o pedido de tutela jurisdicional do Estado aos


ditames do art. 332, sem ao menos antes ouvir-se a parte adversa, sucede-se, no mínimo,
afronta ao direito de ação consagrado pela Constituição da República.

Com esse enfoque, urge evidenciar as lições de Nélson Nery


Júnior, in verbis:

“3. Inconstitucionalidade. O CPC 332, tal qual ocorria com o CPC/1973 285-A, é
inconstitucional por ferir as garantias da isonomia (CF art. 5º caput e I), da legalidade
(CF art. 5º, II), do devido processo legal (CF art. 5º caput e LIV), do direito de defesa
(CF art. 5º, XXXV) e do contraditório e da ampla defesa (CF art. 5º LV), bem como o
princípio dispositivo, entre outros fundamentos, porque o autor tem o direito de ver
efetivada a citação do réu, que pode abrir mão de seu direito e submeter-se à
pretensão, independentemente do precedente jurídico de tribunal superior ou de
qualquer outro tribunal, ou mesmo do próprio juízo. “ (Nery Júnior, Nélson; de
Andrade Nery, Rosa Maria. Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: RT,
2015, p. 908)

Não fosse isso o suficiente, há identicamente inconstitucionalidade


na regra espécie, todavia sob o prisma de que essa norma adota como “súmula vinculante”
decisões não emanadas do STF. É dizer, impede-se o aprofundamento do mérito pelo simples
fato de contrariar, por exemplo, súmula do STJ, TJ´s ou até mesmo TRF´s.
É consabido que a edição de súmula vinculante é tarefa
constitucionalmente atribuída ao Supremo Tribunal Federal (CF, art. 103-A). Nesse passo, é
tarefa do STF editar súmulas, simples ou vinculantes, e essas devem orientar e vincular suas
teses a todo o Poder Judiciário Nacional, além de órgãos da administração direta e indireta, na
esfera federal, estadual e municipal.

Nesse diapasão, impende destacar o que aduz a doutrina:

“De início, cumpre esclarecer que o efeito vinculante previsto para todos os
provimentos elencados nos incs. I a IV do art. 332 do CPC/2015 – com exceção da SV
do STF – é inconstitucional porque essa atribuição (=de efeito vinculante) não pode
ser instituída mediante legislação ordinária. “ (Teresa Arruda Alvim Wambier ... [et
tal], coordenadores. Breves comentários ao Novo Código de Processo Civil. São
Paulo: RT, 2015, p. 859)

( iv ) A exordial traz pedido de fazer composição em audiência conciliatória

O Código preservou, ao máximo, a ideia da composição em


detrimento do litígio. Destacou, inclusive, uma seção inteira do Título I, do livro IV, do CPC,
para as tarefas dos mediadores e conciliadores (CPC, art. 165 e segs). E é também a previsão
estabelecida no art. 3º, §§ 2º e 3º, do CPC, bem assim aquela que determina que o
magistrado promova a qualquer tempo a conciliação (CPC, art. 139, inc. IV).

A interpretação do Código de Processo Civil deve ser sistemática,


vista como um todo, e não em função de uma única norma isolada. É absurdo exaltar-se o art.
332 em detrimento de todas essas regras que procuram a conciliação das partes. E muito
menos há, aqui, uma interpretação teleológica (CPC, art. 8º).
Desse modo, maiormente à luz da disciplina contida no art. 771,
parágrafo único, do CPC, de toda pertinência seja designada audiência conciliatória.

(3.1.) – DA IMPERTINÊNCIA DA COBRANÇA DE JUROS CAPITALIZADOS

Antes de tudo, convém ressaltar que, no tocante à capitalização


dos juros ora debatidos, não há qualquer ofensa às Súmulas 539 e 541 do Superior Tribunal
Justiça, as quais abaixo aludidas:

STJ, Súmula 539 - É permitida a capitalização de juros com periodicidade


inferior à anual em contratos celebrados com instituições integrantes do
Sistema Financeiro Nacional a partir de 31/3/2000 (MP 1.963-17/00,
reeditada como MP 2.170-36/01), desde que expressamente pactuada.

STJ, Súmula 541 - A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual


superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da
taxa efetiva anual contratada.

É dizer, os fundamentos lançados são completamente diversos dos


que estão insertos nas súmulas em apreço.

É consabido que a cláusula de capitalização, por ser de


importância crucial ao desenvolvimento do contrato, ainda que ajuste eventualmente existisse
nesse pacto, deve ser redigida de maneira a demonstrar exatamente ao contratante do que se
trata e quais os reflexos gerarão ao plano do direito material.
O pacto, à luz do princípio consumerista da transparência, que
significa informação clara, correta e precisa sobre o contrato a ser firmado, mesmo na fase pré-
contratual, teria que necessariamente conter:

1) redação clara e de fácil compreensão(art. 46);

2) informações completas acerca das condições pactuadas e seus


reflexos no plano do direito material;

3) redação com informações corretas, claras, precisas e ostensivas,


sobre as condições de pagamento, juros, encargos, garantia(art. 54,
parágrafo 3º, c/c art. 17, I, do Dec. 2.181/87);

4) em destaque, a fim de permitir sua imediata e fácil compreensão, as


cláusulas que implicarem limitação de direito(art. 54, parágrafo 4º)

Nesse mesmo compasso é o magistério de Cláudia Lima Marques:

“ A grande maioria dos contratos hoje firmados no Brasil é redigida


unilateralmente pela economicamente mais forte, seja um contrato aqui
chamado de paritá rio ou um contrato de adesã o. Segundo instituiu o CDC, em
seu art. 46, in fine, este fornecedor tem um dever especial quando da elaboração
desses contratos, podendo a vir ser punido se descumprir este dever tentando
tirar vantagem da vulnerabilidade do consumidor.

(...)
O importante na interpretaçã o da norma é identificar como será apreciada
‘a dificuldade de compreensão’ do instrumento contratual. É notó rio que a
terminologia jurídica apresenta dificuldades específicas para os nã o
profissionais do ramo; de outro lado, a utilizaçã o de termos atécnicos pode
trazer ambiguidades e incertezas ao contrato. “ (MARQUES, Clá udia Lima.
Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime das relações
contratuais. 6ª Ed. Sã o Paulo: RT, 2011. Pá g. 821-822)

Por esse norte, a situação em liça traduz uma relação jurídica que,
sem dúvidas, é regulada pela legislação consumerista. Por isso, uma vez seja constada a
onerosidade excessiva e a hipossuficiência do consumidor, resta autorizada a revisão das
cláusulas contratuais, independentemente do contrato ser "pré" ou "pós" fixado.

Desse modo, o princípio da força obrigatória contratual ( pacta sunt


servanda) deve ceder e coadunar-se com a sistemática do Código de Defesa do Consumidor.

Nesse ponto específico, ou seja, quanto à informação precisa ao


mutuário consumidor acerca da periodicidade dos juros, decidira o Superior Tribunal de Justiça
no seguinte sentido:

RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO.


CAPITALIZAÇÃO DIÁRIA. TAXA NÃO INFORMADA. DESCABIMENTO. VIOLAÇÃO A
DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS. DESCABIMENTO.
1. Controvérsia acerca da capitalização diária em contrato bancário.
2. Comparação entre os efeitos da capitalização anual, mensal e diária de uma dívida,
havendo viabilidade matemática de se calcular taxas de juros equivalentes para a
capitalização em qualquer periodicidade (cf. RESP 973.827/rs).
3. Discutível a legalidade de cláusula de capitalização diária de juros, em que pese a
norma permissiva do art. 5º da Medida Provisória nº 2.170-36/2001. Precedentes do
STJ.
4. Necessidade, de todo modo, de fornecimento pela instituição financeira de
informações claras ao consumidor acerca da forma de capitalização dos juros
adotada.
5. Insuficiência da informação a respeito das taxas equivalentes sem a efetiva
ciência do devedor acerca da taxa efetiva aplicada decorrente da periodicidade de
capitalização pactuada.
6. Necessidade de se garantir ao consumidor a possibilidade de controle a priori do
contrato, mediante o cotejo das taxas previstas, não bastando a possibilidade de
controle a posteriori.
7. Violação do direito do consumidor à informação adequada.
8. Aplicação do disposto no art. 6º, inciso III, combinado com os artigos 46 e 52, do
código de defesa do consumidor(cdc).
9. Reconhecimento da abusividade da cláusula contratual no caso concreto em
que houve previsão de taxas efetivas anual e mensal, mas não da taxa diária. 10.
Recurso Especial desprovido. (STJ; REsp 1.568.290; Proc. 2014/0093374-7; RS;
Terceira Turma; Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino; DJE 02/02/2016)

Além disso, a relação contratual também deve atender à função


social dos contratos, agora expressamente prevista no artigo 421 do Código Civil, "a liberdade
de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato".

De outra banda, é certo que o Superior Tribunal de Justiça já


consagrou entendimento de que “a previsão no contrato bancário de taxa de juros anual
superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual
contratada.” (Súmula 541)

No entanto, na hipótese fere a boa-fé objetiva prevista no Código


de Defesa do Consumido. De regra, nessas situações, há uma relação de consumo firmada
entre banco e mutuário. Destarte, resta comprometido o dever de informação ao consumidor no
âmbito contratual, maiormente à luz dos ditames dos artigos 4º, 6º, 31, 46 e 54 do CDC.

Ademais, a forma de cobrança dos juros, sobretudo nos contratos


bancários, é incompreensível à quase totalidade dos consumidores. É dizer, o CDC reclama,
por meio de cláusulas, a prestação de informações detalhadas, precisas, corretas e ostensivas.

Todavia, no pacto em debate houvera sim cobrança indevida da


capitalização de juros, porém fora adotada outra forma de exigência irregular; uma “outra
roupagem”.

Observe-se que a legislação que trata da Cédula de Crédito


Bancário admite a cobrança de juros capitalizados, mas desde que expressamente pactuados
no contrato e indicada sua periodicidade:

Lei nº. 10.931/04

Art. 28 – A Cédula de Crédito Bancário é título executivo extrajudicial e representa


dívida em dinheiro, certa, líquida e exigível, seja pela soma nela indicada, seja pelo
saldo devedor demonstrado em planilha de cálculo, ou nos extratos da conta
corrente, elaborados conforme previsto no § 2º.
§ 1º - Na Cédula de Crédito Bancário poderão ser pactuados:
I – os juros sobre a dívida, capitalizados ou não, os critérios de sua incidência e, se
for o caso, a periodicidade de sua capitalização, bem como as despesas e os demais
encargos decorrentes da obrigação. “

( os destaques são nossos )

É cediço que essa espécie de periodicidade de capitalização


(diária) importa em onerosidade excessiva ao consumidor, causando, com isso, um
desequilíbrio contratual de sorte a contrariar normas do Código de Defesa do Consumidor (art.
6º, inc. IV e V, e 51, inc. IV).

Nesse sentido:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REVISÃO.


Contratos de abertura de crédito em conta corrente do tipo cheque especial e de
empréstimo pessoal e cédula de crédito bancário e instrumento particular de
confissão e renegociação de dívidas. Autos que vieram acompanhados apenas da
cédula de crédito bancário, do instrumento particular de confissão de dívidas e dos
extratos de movimentação da conta corrente e das operações de empréstimo
pessoal. Determinação de exibição, pela instituição financeira, de documentos que
são comuns às partes. Artigo 358, inciso III, do código de processo civil.
Descumprimento que acarreta a admissão dos fatos alegados como sendo
verdadeiros. Artigo 359, inciso I, do código de processo civil. Incidência do Código de
Defesa do Consumidor. Revisão que é possível em face da onerosidade excessiva.
Artigos 6º, incisos IV e V, e 51, inciso IV, ambos do Código de Defesa do
Consumidor. Juros remuneratórios. Enunciado N. I do grupo de câmaras de direito
comercial. Ausência de prova do pacto em relação ao cheque especial que acarreta a
aplicação da taxa média de mercado divulgada pelo Banco Central, contanto que
inferior à exigida. Nova orientação da câmara, a partir da sessão do dia 21.5.2015.
Súmula n. 530 do Superior Tribunal de Justiça. Observância da taxa média de
mercado também como critério para a aferição da abusividade nos demais contratos
examinados, ainda que não tenha sido informada a taxa praticada. Capitalização
diária dos juros. Cláusula da cédula de crédito bancário que é declarada nula
porque importa em onerosidade excessiva ao consumidor. Impossibilidade de ser
cobrada na modalidade mensal porque não foi convencionada, sendo vedada a
interpretação extensiva ao contrato. Precedentes da câmara. Exigência do encargo
na periodicidade anual que foi autorizada na sentença. Conformismo da mutuária.
Câmara que não pode piorar a situação da recorrente. Ausência de prova do pacto
expresso que inviabiliza a cobrança de juros capitalizados nos outros contratos
submetidos à revisão. Manutenção da periodicidade anual também em razão de ter
sido autorizada na sentença. Recurso provido em parte. (TJSC; AC 2016.005054-7;
Balneário Camboriú; Quinta Câmara de Direito Comercial; Rel. Des. Jânio Machado;
Julg. 15/02/2016; DJSC 18/02/2016; Pág. 216)

APELAÇÃO CÍVEL. DECLARATÓRIA. PURGAÇÃO DA MORA POSSIBILIDADE. ART. 34


DO DECRETO-LEI N. 70/66/ART. 26 DA LEI N. 9.514/97. CAPITALIZAÇÃO DIÁRIA DE
JUROS. ABUSIVIDADE. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE BEM IMÓVEL. LEI Nº 9.514/97.
REVISÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS. FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO. ART. 6º,
V E ART. 51, IV/CDC. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO.
O artigo 34 do Decreto-Lei nº 70/66 aplicado subsidiariamente à Lei nº 9514/97,
possibilita ao devedor purgar a mora após a consolidação do bem nas mãos do
credor, ressalvado que a purgação se dê antes da realização do leilão. Não havendo a
alienação dos bens imóveis, faculta-se ao devedor a possibilidade de proceder
purgação da mora (art. 34 do Decreto-Lei n. 70/66; art. 39 da Lei nº 9.514/97). Ainda
que seja cabível a capitalização dos juros em periodicidade mensal, a previsão de
capitalização diária acarreta onerosidade excessiva e causa desequilíbrio na
relação jurídica. O procedimento de alienação fiduciária de bem imóvel é
perfeitamente legal (lei nº 9.514/97). O principio da força obrigatória dos contratos
não impede a revisão daquelas cláusulas consideradas abusivas, nos termos do art.
6º, V e art. 51, IV, cdc. (TJMT; APL 96338/2015; Cáceres; Rel. Des. Sebastião Barbosa
Farias; Julg. 26/01/2016; DJMT 01/02/2016; Pág. 27)

APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO.


CAPITALIZAÇÃO DIÁRIA. PACTUAÇÃO EXPRESSA. ABUSIVIDADE. PERIODICIDADE
MENSAL. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
1. É inadmissível a capitalização diária dos juros, uma vez que tal exigência é
desprovida de respaldo legal, impondo-se o reconhecimento da ilegalidade da
cláusula e a estipulação da capitalização em sua periodicidade mensal. 2. Recurso
parcialmente provido. Acórdão. (TJMS; APL 0804935-49.2014.8.12.0002; Dourados;
Quinta Câmara Cível; Rel. Des. Vladimir Abreu da Silva; DJMS 21/10/2015; Pág. 19)

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. EXECUÇÃO DE TÍTULO


EXTRAJUDICIAL. EMBARGOS. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO. EMPRÉSTIMO.
CHEQUE ESPECIAL/CRÉDITO ESPECIAL. PESSOA FÍSICA. INÉPCIA DOS EMBARGOS,
AUSÊNCIA DE DEMONSTRATIVO DO VALOR QUE ENTENDE COMO DEVIDO.
DISPENSA. CASO CONCRETO. DISCUSSÃO ACERCA DE JUROS REMUNERATÓRIOS E
CAPITALIZAÇÃO DIÁRIA DE JUROS. AUSÊNCIA DE CÓPIA DO TÍTULO EXECUTIVO
EXTRAJUDICIAL EXEQUENDO. DESNECESSIDADE. EMBARGOS EM APENSO À
EXECUÇÃO. CAPITALIZAÇÃO DIÁRIA DE JUROS. AFASTADA. PERMITIDA A
CAPITALIZAÇÃO MENSAL. INÉPCIA DA INICIAL DOS EMBARGOS. AFASTADA. NO
QUE TANGE À AUSÊNCIA DE CÁLCULO, NO QUAL CONSTASSE O VALOR QUE A
EXECUTADA ENTENDIA COMO DEVIDO, EM NADA AFETA A PROCEDIBILIDADE DO
PEDIDO INICIAL E A FORMAÇÃO DA RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL, POIS HÁ
PERFEITAS CONDIÇÕES PARA QUE A PARTE ADVERSA EXERÇA O CONTRADITÓRIO
E A AMPLA DEFESA, UMA VEZ QUE AS QUESTÕES DEBATIDAS NOS EMBARGOS À
EXECUÇÃO ERAM TÃO SOMENTE QUANTO AOS JUROS REMUNERATÓRIOS E
ACERCA DA CAPITALIZAÇÃO DIÁRIA DE JUROS. ADEMAIS, EM QUE PESE NÃO
TENHA SIDO JUNTADO AOS AUTOS DESTES EMBARGOS O DOCUMENTO
APONTADO PELO APELANTE/EMBARGADO, TAL PODE SER ENCONTRADO NOS
APENSOS AUTOS DE EXECUÇÃO, MOTIVO PELO QUAL SOMENTE COM O
DESAPENSAMENTO DO PROCESSO ORIGINÁRIO É QUE A FALTA DA CÉDULA DE
CRÉDITO BANCÁRIO PODERIA COMPROMETER O DESENVOLVIMENTO DESTES
EMBARGOS. CAPITALIZAÇÃO DIÁRIA DE JUROS. AFASTADA. ONEROSIDADE
EXCESSIVA.
1. No que tange à capitalização de juros, a periodicidade diária, no caso
contratualmente prevista, revela-se abusiva, por implicar ônus excessivo para a
contratante em flagrante desequilíbrio contratual. 2. No caso, observa-se que a
taxa anual (179,11%) supera o duodécuplo da taxa mensal (8,93%), o que demonstra
a efetiva previsão de capitalização mensal de juros. Admitida, pois, a capitalização
mensal. Rejeitaram a preliminar e proveram, em parte, o recurso de apelação. (TJRS;
AC 0421342-07.2014.8.21.7000; Santana do Livramento; Décima Quinta Câmara
Cível; Relª Desª Adriana da Silva Ribeiro; Julg. 17/12/2014; DJERS 22/01/2015)

REVISIONAL. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS.


COMISSÃO DE PERMANÊNCIA.
1. A capitalização de juros em contrato bancário firmado após edição da MP 1.963-
17/2000 (reeditada sob nº 2.170-36/2001), desde que prevista expressamente, é
válida. Nova orientação, baseada no julgamento do RESP 973.827/RS
(2007/0179072-3), processado nos termos do art. 543-C do CPC. 2. Porém, acarreta
onerosidade excessiva a previsão de capitalização diária, causando desequilíbrio
na relação jurídica. E não cabendo substituir a capitalização diária pela mensal, de
se determinar sua incidência anual, legalmente prevista (art. 591, CC). 3. A validade
da cláusula que estipula comissão de permanência, dependia de sua não cumulação
com outros encargos de mora, consoante entendimento consolidado pelo STJ, com
repercussão geral da matéria (RESP 1.063.343/RS). Invalidade verificada. 4. Recurso
do autor provido, desprovido o do réu. (TJSP; APL 0155060-40.2012.8.26.0100; Ac.
7161828; São Paulo; Décima Quarta Câmara de Direito Privado; Rel. Des. Melo
Colombi; Julg. 06/11/2013; DJESP 18/02/2015)

Obviamente que uma vez identificada e reconhecida a ilegalidade


da cláusula que prevê a capitalização diária dos juros, esses não poderão ser cobrados em
qualquer outra periodicidade (mensal, bimestral, semestral, anual ). É que, lógico, inexiste
previsão contratual nesse sentido; do contrário, haveria nítida interpretação extensiva ao acerto
entabulado contratualmente.

Com efeito, a corroborar as motivações retro, convém ressaltar os


ditames estabelecidos na Legislação Substantiva Civil:

CÓDIGO CIVIL
Art. 843. A transação interpreta-se restritivamente, e por ela não se transmitem,
apenas se declaram ou reconhecem direitos.

Nesse passo, é altamente ilustrativo transcrever o seguinte aresto:

Agravo de instrumento Ação de execução por título judicial Incidente de execução


Decisão proclamando o valor atualizado do débito Irresignação parcialmente
procedente Antecedente título executivo extrajudicial substituído por transação
Incabível, assim, o cômputo da multa moratória prevista no primitivo título Aplicação
do art. 843 do CC, a dispor que a transação não comporta interpretação extensiva
Juros previstos no instrumento da transação, de 1,5% a.m., incidindo até o efetivo
cumprimento da obrigação Evidente a má-fé processual na conduta da credora, por
ter computado os juros de modo mensalmente capitalizado, em total infração ao
ordenamento jurídico da época e sem que o instrumento da transação isso
autorizasse Quadro ensejando a aplicação da multa do art. 18 do CPC, de 1% sobre o
valor atualizado da execução. Agravo a que se dá parcial provimento. (TJSP; AI
2187868-05.2014.8.26.0000; Ac. 8269858; São Paulo; Décima Nona Câmara de
Direito Privado; Rel. Des. Ricardo Pessoa de Mello Belli; Julg. 23/02/2015; DJESP
13/03/2015)

Diante disso, conclui-se que declarada nula a cláusula que estipula


a capitalização diária, resta vedada a capitalização em qualquer outra modalidade.
Subsidiariamente (CPC, art. 326), seja definida a capitalização de juros anual (CC, art. 591),
ainda assim com a desconsideração da mora pelos motivos antes mencionados.

(3.2.) – JUROS REMUNERATÓRIOS ACIMA DA MÉDIA DO MERCADO


Não fosse bastante isso, Excelência, concluímos que a Embargada
cobrara do Embargante, ao longo de todo trato contratual, taxas remuneratórias bem acima da
média do mercado.

Tais argumentos podem ser facilmente constatados com uma


simples análise junto ao site do Banco Central do Brasil. Há de existir, nesse tocante, uma
redução à taxa de XX% a.m., posto que foi a média aplicada no mercado no período da
contratação. Não sendo esse o entendimento, aguarda seja apurado tais valores em sede de
prova pericial, o que de logo requer.

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO.


ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. JUROS REMUNERATÓRIOS LIMITADOS À TAXA MÉDIA DE
MERCADO.
1. - Mantém-se a limitação dos juros remuneratórios à taxa média de mercado
quando comprovada, no caso concreto, a significativa discrepância entre a taxa
pactuada e a taxa de mercado para operações da espécie. 2. - agravo regimental
improvido. (STJ - AgRg-REsp 1.423.475; Proc. 2013/0401171-1; SC; Terceira Turma;
Rel. Min. Sidnei Beneti; DJE 13/03/2014)

AGRAVO REGIMENTAL EM APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL C/C


CONSIGNATÓRIA. POSSIBILIDADE DE REVISÃO. JUROS REMUNERATÓRIOS. TAXA
MÉDIA DE MERCADO. NEGATIVA DE SEGUIMENTO. AUSÊNCIA DE FATO NOVO.
1. Tendo em vista a natureza bancária do contrato realizado entre as partes, são
plenamente cabíveis as regras do Código de Defesa do Consumidor, conforme
evidenciado por seu art. 3º, § 2º, e inciso V, do art. 6º, bem como pela Súmula nº 297
do STJ; 2. É pacífico o entendimento do Superior Tribunal de justiça no sentido de
que os juros remuneratórios devem ser fixados na taxa média do mercado, inclusive
nos contratos de cartão de crédito, quando não for possível aferir a taxa acordada,
pela falta de pactuação expressa; 3. Ao interpor agravo regimental devem as partes
agravantes sustentarem as razões de sua insurgência em elementos novos que
justifiquem o pedido de reconsideração, e não reiterar os fundamentos formulados
na petição do recurso originário, os quais já foram devidamente apreciados. Agravo
regimental conhecido e desprovido. Decisão mantida. (TJGO - AC 0420538-
11.2007.8.09.0051; Goiânia; Quinta Câmara Cível; Rel. Des. Itamar de Lima; DJGO
13/03/2014; Pág. 275)

Outrossim, há excesso na cobrança dos juros remuneratórios,


todavia quando levado em conta um fictício indexador de correção monetária da dívida.

A instituição financeira ré, levianamente, corrigira os valores se


utilizando do CDI (Certificados de Depósitos Interbancários), e isso cumulativamente com a
cobrança dos juros remuneratórios. A CDI é apurada e divulgada pela Central de Liquidação e
de Custódia de Títulos – CETIP.

Há muito tempo a incidência de encargos contratuais atrelados à


CETIP já foram considerados ilegais, senão vejamos:

STJ, Súmula 176 - É nula a cláusula que sujeita o devedor à taxa de juros divulgada
pela ANDIB/CETIP.

Esses certificados são utilizados como parâmetro para medir o


custo do dinheiro entre os bancos do setor privado. Desse modo, não guarda a mínima relação
com o fator correção monetária da moeda, de se evitar o aviltamento dessa. Na verdade, é
índice de remuneração de capital.
Nesses moldes, houve um bis in idem em relação à remuneração
do capital, o que, obviamente, afronta gritantemente a legislação em vigor.

A corroborar o exposto acima, faz-se mister trazer à colação as seguintes


ementas:

EMBARGOS DO DEVEDOR. CÉDULA DE CRÉDITO RURAL. INDEXADOR. CDI.


Impossibilidade. Súmula nº 176 STJ. A taxa de Certificado de Depósito Interbancário
não se presta à atualização monetária, na medida em que em sua composição traz
conjuntamente taxas de remuneração de capital e correção monetária, impondo-se
sua substituição pelo INPC. Apelação não provida. (TJPR; ApCiv 1354022-4; Goioerê;
Décima Quinta Câmara Cível; Rel. Des. Hamilton Mussi Correa; Julg. 17/06/2015;
DJPR 29/06/2015; Pág. 504)

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. EMBARGOS À EXECUÇÃO.


CÉDULA RURAL PIGNORATÍCIA. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA.
ALTERAÇÃO DE VENCIMENTO.
A simples prorrogação do prazo de pagamento da cédula rural pignoratícia, sem a
assinatura dos avalistas no aditivo, não afasta a sua legitimidade. O oferecimento de
nova causa de pedir em sede de apelação constitui afronta ao princípio da
estabilidade objetiva da demanda. Preliminar de inépcia da petição inicial. A petição
inicial preencheu os requisitos do art. 282 do CPC. Importa vencimento de cédula de
crédito rural independentemente de aviso ou interpelação judicial ou extrajudicial, a
inadimplência de qualquer obrigação convencional ou legal do emitente do título ou,
sendo o caso, do terceiro prestante da garantia real (art. 11 do Decreto-Lei n.
167/1967). Preliminar rejeitada cláusula abusiva. Certificados de depósito
interbancário - CDI. Vedada a incidência do CDI como indexador. Inteligência da
Súmula nº 176 do STJ. Descaracterização da mora. O reconhecimento da abusividade
contratual implica descaracterização da mora. Excesso de execução. A revisão de
cláusulas abusivas da cédula de rural pignoratícia que embasa a execução não
acarreta iliquidez do título executado, porquanto possível a adequação do valor da
execução ao montante apurado nestes embargos. Ônus da sucumbência. Se cada
litigante for em parte vencedor e vencido, serão recíproca e proporcionalmente
distribuídos e compensados entre eles os honorários e as despesas. Manutenção da
distribuição dos ônus da sucumbência definidos na sentença. Apelação dos
embargantes parcialmente provida. Apelação do embargado desprovida. (TJRS; AC
0417426-62.2014.8.21.7000; Tapejara; Décima Nona Câmara Cível; Rel. Des. Marco
Antonio Angelo; Julg. 11/06/2015; DJERS 16/06/2015)

(3.3.) – DA AUSÊNCIA DE MORA

De outro bordo, não há que se falar em mora do Embargante.

A mora reflete uma inexecução de obrigação diferenciada,


maiormente quando representa o injusto retardamento ou o descumprimento culposo da
obrigação. Assim, na espécie incide a regra estabelecida no artigo 394 do Código Civil, com a
complementação disposta no artigo 396 desse mesmo Diploma Legal.

CÓDIGO CIVIL
Art. Art. 394 - Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o
credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção
estabelecer.
Art. 396 - Não havendo fato ou omissão imputável ao devedor, não incorre este em
mora

Do mesmo teor a posição do Superior Tribunal de Justiça:

BANCÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. REVISÃO CONTRATUAL.


DISPOSIÇÕES DE OFÍCIO. IMPOSSIBILIDADE. JUROS REMUNERATÓRIOS.
LIMITAÇÃO. TAXA MÉDIA DE MERCADO. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. COMISSÃO DE
PERMANÊNCIA. DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA. REPETIÇÃO DO INDÉBITO.
POSSIBILIDADE. CADASTROS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. INSCRIÇÃO. REEXAME DE
FATOS. INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS. INADMISSIBILIDADE.
1. É vedado aos juízes de primeiro e segundo graus de jurisdição julgar, com
fundamento no art. 51 do CDC, sem pedido expresso, a abusividade de cláusulas nos
contratos bancários. 2. A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao
ano, por si só, não indica abusividade. 3. Os juros remuneratórios incidem à taxa
média de mercado em operações da espécie, apurados pelo Banco Central do Brasil,
quando verificada pelo tribunal de origem a abusividade do percentual contratado
ou a ausência de contratação expressa. 4. Admite-se a capitalização mensal dos juros
nos contratos bancários celebrados a partir da publicação da MP 1.963-17 (31.3.00),
desde que seja pactuada. 5. É admitida a incidência da comissão de permanência
desde que pactuada e não cumulada com juros remuneratórios, juros moratórios,
correção monetária e/ou multa contratual. 6. Reconhecida a abusividade dos
encargos exigidos no período de normalidade contratual, descarateriza-se a mora. 7.
A repetição simples e/ou compensação dos valores pagos a maior, nos contratos
bancários, independe da prova de que o devedor tenha realizado o pagamento por
erro. 8. A abstenção da inscrição/manutenção em cadastro de inadimplentes,
requerida em antecipação de tutela e/ou medida cautelar, somente será deferida se,
cumulativamente: a) a ação for fundada em questionamento integral ou parcial do
débito; b) houver demonstração de que a cobrança indevida se funda na aparência
do bom direito e em jurisprudência consolidada do STF ou STJ; c) houver depósito da
parcela incontroversa ou for prestada a caução fixada conforme o prudente arbítrio
do juiz. 9. O reexame de fatos e a interpretação de cláusulas contratuais em Recurso
Especial são inadmissíveis. 10. Recurso Especial parcialmente conhecido e provido.
(STJ - REsp 1.430.348; Proc. 2014/0008686-5; RS; Relª Minª Nancy Andrighi; DJE
14/02/2014)

Nesse sentido é a doutrina de Washington de Barros Monteiro:

“ A mora do primeiro apresenta, assim, um lado objetivo e um lado


subjetivo. O lado objetivo decorre da nã o realizaçã o do pagamento no tempo,
lugar e forma convencionados; o lado subjetivo descansa na culpa do devedor.
Este é o elemento essencial ou conceitual da mora solvendi. Inexistindo fato ou
omissã o imputá vel ao devedor, nã o incide este em mora. Assim se expressa o art.
396 do Có digo Civil de 2002. “ (MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de
Direito Civil. 35ª Ed. Sã o Paulo: Saraiva, 2010, vol. 4. Pá g. 368)

Como bem advertem Cristiano Chaves de Farias e Nélson


Rosenvald:

“ Reconhecido o abuso do direito na cobrança do crédito, resta


completamente descaracterizada a mora solvendi. Muito pelo contrá rio, a mora
será do credor, pois a cobrança de valores indevidos gera no devedor razoá vel
perplexidade, pois nã o sabe se postula a purga da mora ou se contesta a açã o. “
(FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito das Obrigações. 4ª
Ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010. Pá g. 471)

Em face dessas considerações, conclui-se que a mora cristaliza o


retardamento por um fato, quando imputável ao devedor. É dizer, quando o credor exige o
pagamento do débito, agregado com encargos excessivos, retira-se do devedor a possibilidade
de arcar com a obrigação assumida. Por conseguinte, não pode lhes ser imputados os efeitos
da mora.

Entende-se, uma vez constatado a cobrança de encargos abusivos


durante o “período da normalidade” contratual, restará afastada eventual condição de mora do
Promovente.

O Superior Tribunal de Justiça, ao concluir o julgamento de recurso


repetitivo sobre revisão de contrato bancário (REsp nº. 1.061.530/RS), quanto ao tema de
“configuração da mora” destacou que:

“ORIENTAÇÃO 2 – CONFIGURAÇÃO DA MORA

a) O reconhecimento da abusividade nos encargos exigidos no período


da normalidade contratual(juros remuneratórios e capitalização)
descaracteriza a mora;
b) Não descaracteriza a mora o ajuizamento isolado de ação revisional,
nem mesmo quando o reconhecimento de abusividade incidir sobre os
encargos inerentes ao período de inadimplência contratual. “
( os destaques são nossos )
E do preciso acórdão em liça ainda podemos destacar que:

“Os encargos abusivos que possuem potencial para descaracterizar a mora


são, portanto, aqueles relativos ao chamado ‘período da normalidade’, ou
seja, aqueles encargos que naturalmente incidem antes mesmo de
configurada a mora. “ ( destacamos )

Por todo o exposto, de rigor o afastamento dos encargos


moratórios, ou seja, comissão de permanência, multa contratual e juros moratórios.

(3.4.) – DA COMISSÃO DE PERMANÊNCIA E OUTROS ENCARGOS

Entende o Embargante, inclusive fartamente alicerçado nos


fundamentos antes citados, que o mesmo não se encontra em mora, razão qual da
impossibilidade absoluta da cobrança de encargos moratórios.

Caso este juízo entenda pela impertinência destes argumentos, o


que se diz apenas por argumentar, ressaltamos que é abusiva a cobrança da comissão de
permanência cumulada com outros encargos moratórios/remuneratórios. Ainda que
expressamente pactuada há uma ilegalidade, como bem assim entende o Colendo Superior
Tribunal de Justiça. Para essa Corte, no caso de previsão contratual para a cobrança de
comissão de permanência, cumulada com correção monetária, juros remuneratórios, juros de
mora e multa contratual, impõe-se a exclusão da incidência desses últimos encargos
moratórios. Em verdade, a comissão de permanência já possui a dupla finalidade de corrigir
monetariamente o valor do débito e de remunerar o banco pelo período de mora contratual.
Perceba que no pacto há estipulação contratual pela cobrança de
comissão de permanência com outros encargos moratórios, os quais devem ser afastados pela
via judicial.

Com esse enfoque:

APELAÇÕES CÍVEIS. REVISIONAL DE CONTRATO DE FINANCIAMENTO ATRELADO A


CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO. DECADÊNCIA INOCORRENTE. INAPLICABILIDADE DO
ARTIGO 26, INCISO II, DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. LEI DE USURA.
INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NÃO SE SUBMETEM AOS SEUS LIMITES. SÚMULAS NºS.
596, 648 E VINCULANTE N. 7, TODAS DO C. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. POSSIBILIDADE EM CONTRATOS REGIDOS POR LEIS
ESPECIAIS QUE A AUTORIZEM, ASSIM TAMBÉM EM PACTOS CELEBRADOS AO DEPOIS
DA EDIÇÃO DA MEDIDA PROVISÓRIA N. 2.170-36/01 E DESDE QUE EXPRESSAMENTE
AVENÇADA. COBRANÇA DE COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. REGULARIDADE SE NÃO
CUMULADA COM JUROS REMUNERATÓRIOS/MORATÓRIOS, CORREÇÃO MONETÁRIA
E/OU MULTA CONTRATUAL. TARIFAS BANCÁRIAS. CADASTRO. LEGALIDADE.
COBRANÇA AUTORIZADA PELA NORMA REGULAMENTADORA DO CONSELHO
MONETÁRIO NACIONAL. PRECEDENTE DO E. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.
AVALIAÇÃO DE BEM. CONSISTÊNCIA. SERVIÇO CONTRATADO E PRESTADO AO
REQUERENTE, COM COBRANÇA AUTORIZADA PELO CONSELHO MONETÁRIO
NACIONAL E BANCO CENTRAL. REGISTRO DE CONTRATO. Ausente previsão expressa
em norma padronizadora, ao que se agrega a indevida transferência ao consumidor
de custos atrelados a interesses do agente financeiro. Serviços de terceiro. Exigência
indevida, despida de maiores informes ao devedor. Repetição simples. Sentença
reformada. Recurso do autor improvido, com parcial provimento do aparelhado pela
acionada, anotada observação. (TJSP; APL 0005666-95.2014.8.26.0032; Ac. 8660097;
Araçatuba; Décima Segunda Câmara Extraordinária de Direito Privado; Rel. Des.
Tércio Pires; Julg. 31/07/2015; DJESP 06/08/2015)

(4) – NECESSIDADE DE CONCESSÃO DE


EFEITO SUSPENSIVO
REQUISITOS DO ART. 919, § 1º PREENCHIDOS

O art. 919, § 1º do CPC confere ao juiz a faculdade de imputar o


efeito suspensivo aos Embargos à Execução, quando constatadas as condições dispostas em
seu parágrafo primeiro.

Art. 919. Os embargos à execução não terão efeito suspensivo.

§ 1º - O juiz poderá, a requerimento do embargante, atribuir efeito suspensivo aos


embargos quando verificados os requisitos para a concessão da tutela provisória e
desde que a execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução
suficientes.
(destacamos)

As questões destacadas na presente Ação de Embargos à


Execução são de gravidade extremada e reclama, sem sombra de dúvidas, a atribuição de
efeito suspensivo. Inquestionável que a hipótese ora trazida à baila preenche os requisitos
exigidos pelo art. 919, § 1º, do Estatuto de Ritos.
Convém ressaltar que a Embargante, ao requerer o efeito
suspensivo à ação, pondera que preenche todos os requisitos legais para tal desiderato.

Tais pressupostos, a saber, fundamentos relevantes e perigo de


dano, são bem elucidados pelo professor Marcelo Abelha:

“ Para a sua concessã o, o executado deve indicar na sua oposiçã o os


fundamentos relevantes e o tal risco de que a execuçã o poderá causar-lhe grave
dano de difícil ou incerta reparação.
Os requisitos compõ em o que se chama de conceitos vagos ou conceitos jurídicos
indeterminados, que deverã o, em cada caso concreto, ser analisados mediante
diversos elementos contextuais da pró pria causa.
Não é possível estabelecer com segurança – senã o em raros casos – um rol de
hipó teses que de antemã o ensejariam a concessão do efeito suspensivo. Nã o é
isso que quer o legislador, pois o seu desejo é que o juiz, segundo as provas
constantes dos autos, os elementos trazidos na oposiçã o e as suas má ximas de
experiência., verifique em cada caso se deve ou não conceder o efeito suspensivo.
“ (ABELHA, Marcelo. Manual de execução civil. 5ª Ed. Rio de Janeiro: Forense,
2015, p. 503)

Demonstrado, pois, o preenchimento dos requisitos do “ risco de


lesão grave e de difícil reparação” e da “fundamentação relevante”, há de ser concedido efeito
suspensivo à ação em debate.

Como bem enfatiza Humberto Theodoro Júnior, também no tocante


aos referidos pressupostos, esse leciona que:
“Em caráter excepcional o juiz é autorizado a conferir efeito suspensivo aos
embargos do executado (art. 919, § 1º). Não se trata, porém, de um poder
discricionário. Para deferimento de semelhante eficácia, deverão ser conjugados os
mesmos requisitos para concessão de tutela provisória de urgência (NCPC, art. 300)
ou de evidência (NCPC, art. 311). “ (THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito
Processual Civil . . . vol. III. 47ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 660)

Seguramente o Embargante demonstrou o requisito da


“fundamentação relevante”, porquanto cristalinamente ficou comprovado que, sobretudo
alicerçado em decisão proferida em sede de Recurso Repetitivo em matéria bancária no
Superior Tribunal de Justiça (REsp nº. 1.061.530/RS): a) existiu que a cobrança ilegal de juros
capitalizados; b) que a cobrança de encargos contratuais indevidos, no período de normalidade
contratual, afasta a mora do devedor; c) a cláusula 17ª da Cédula de Crédito Comercial
anuncia, expressamente, a possibilidade da cobrança de comissão de permanência, juros
moratórios e multa contratual, ofuscando à diretriz da Súmula do 472 do STJ .

Ademais, além da “fundamentação relevante”, devidamente fixada


anteriormente, a peça recursal preenche o requisito do “ risco de lesão grave e difícil
reparação”, uma vez que, tratando-se de título executivo extrajudicial, a execução terá seu
seguimento normal. (CPC, art, 919, caput)

O bloqueio dos ativos financeiros bancários da Embargante, o qual


alcançou a cifra elevadíssima de R$ 00.000,00 ( .x.x.x. ), qualifica-se como perigoso gravame à
saúde financeira da empresa executada. Verdade seja dita, a simples penhora de 20%(vinte
por cento) sobre o faturamento bruto de uma sociedade empresária já o suficiente para
provocar desmesurados danos financeiros. Na realidade, pouquíssimas são as empresas
brasileiras que suportariam isso, vez que, no caso, inexiste sequer a dedução dos custos
operacionais. É que a margem de lucro das empresas, como consabido, é diminuta, chegando
quase a esse patamar de percentual acima destacado.

A constrição judicial ocorrida em face do despacho mencionado,


como se percebe, voltou-se exclusivamente aos ativos financeiros da Embargante. Com isso,
máxime em função do expressivo montante, certamente trará consequências nefastas e
abruptas, como o não pagamento das suas obrigações sociais, sobretudo folha de pagamento,
fornecedores, encargos tributários, consumo de energia e água etc.

E essas circunstâncias, como meio probatórios, de logo se


acostam documentos. É dizer, a Embargante traz à colação documento que comprova a
projeção de receita da empresa; totalidade dos funcionários e a respectiva soma necessária
para pagamento desses; as despesas fiscais mensais; as despesas operacionais permanentes;
despesas mensais com fornecedores nos últimos 3 meses; contrato social da empresa em que
se evidencia um capital social diminuto; além de outros documentos diversos que sustentam a
dificuldade financeira que passa a empresa Recorrente.

De outro turno, é inconteste (CPC, art. 374, inc. I) que o cenário


atual das finanças do País é um dos piores de todos os tempos.

Nesse passo, urge evidenciar o teor substancial inserto na


Legislação Adjetiva Civil:

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Art. 1º - O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os


valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República
Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código.
Art. 8º - Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às
exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa
humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a
publicidade e a eficiência.

Em abono ao exposto acima, urge transcrever o magistério de José


Miguel Garcia Medina:

“No contexto democrático, o modo como se manifestam e relacionam os sujeitos do


processo deve observar as garantias mínimas decorrentes do due process of law.
Assim, interessam, evidentemente, as regras dispostas no Código de Processo Civil
em outras leis, MS, sobretudo, a norma constitucional. Entendemos que os princípios
e valores dispostos na Constituição Federal constituem o ponto de partida do
trabalho do processualista. A atuação das partes e a função jurisdicional devem ser
estudadas a partir da compreensão de que o processo é um espaço em que devem
ser estudas a partir da compreensão de que o processo é um estado em que se
devem se materializar os princípios inerentes a um Estado que se intitula
‘Democrático de Direito’ ...” (MEDINA, José Miguel Garcia. Novo Código de Processo
Civil comentado: ... -- São Paulo: RT, 2015, p. 31)

E isso, igualmente, nos remete aos preceitos legais que preservam


a função social dos contratos (CC, art. 421).

No plano constitucional observemos que:


CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Art. 1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos


Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de
Direito e tem como fundamentos:
(...)
III - a dignidade da pessoa humana;
(...)
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

E ainda no mesmo importe:

LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO

Art. 5º - Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às
exigências do bem comum.

Destarte, a prova documental ora colacionada comprova, sem


qualquer dúvida, que a decisão que determinou o bloqueio dos ativos financeiros da Autora e
certamente inviabilizará suas atividades. E isso poderá concorrer também para a quebra da
mesma, o que, como se viu, não é o propósito da Lei.

E foi justamente com esse salutar propósito, a evitar quebras de


empresas, que o Egrégio Tribunal Superior do Trabalho acolheu o entendimento salutar de que
é aconselhável a constrição de uma pequena parcela do faturamento da empresa. E isso para
atender, mesmo que parcialmente, o direito a crédito alimentar do trabalhador.
Com efeito, cabe ao magistrado, inexistindo suporte sumular nesse
tocante, tomar por analogia a seguinte Orientação Jurisprudencial:

OJ nº 93 -SDI-2: É admissível a penhora sobre a renda mensal ou faturamento da


empresa, limitada a determinado percentual, desde que não comprometa o
desenvolvimento regular de suas atividades.

Há, assim, fortes possibilidades dos pedidos formulados nesta


ação serem julgados procedentes, razão qual merecida a concessão de efeito suspensivo ao
mesmo.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EMBARGOS À EXECUÇÃO. EFEITO SUSPENSIVO.


POSSIBILIDADE. ART. 739-A, DO CPC. DANO DE DIFÍCIL OU INCERTA REPARAÇÃO. A
concessão do efeito suspensivo aos embargos do devedor é medida excepcional após
a nova sistemática processual instituída pela Lei n. 11.382/06 e somente poderá ser
atribuída pelo juiz quando forem relevantes os fundamentos dos embargos, houver
perigo de grave dano de difícil ou incerta reparação ao executado com o
prosseguimento da execução e o juízo estiver devidamente garantido, tratando-se de
requisitos necessários e cumulativos, previstos no art. 739, §1º do Código de
Processo Civil. VV:. À luz do § 1º, art. 739-A, do CPC, o magistrado poderá conceder
efeito suspensivo aos embargos quando, relevantes seus fundamentos, e o
prosseguimento da execução manifestamente possa causar ao executado grave dano
de difícil ou incerta reparação e desde que o valor exeqüendo esteja garantido por
penhora, depósito ou caução suficiente. O perigo de dano de difícil ou incerta
reparação ao qual estaria submetido o embargante "deve ser caracterizado a partir
da qualidade especial do bem sujeito à execução" (Luiz GUILHERME MARINONI e
DANIEL MITIDIERO. Código de Processo Civil comentado artigo por artigo. RT: São
Paulo, 2008, p. 703). (Des. Cláudia Maia) (TJMG; AI 1.0525.15.006979-3/001; Rel.
Des. Valdez Leite Machado; Julg. 28/01/2016; DJEMG 05/02/2016)

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. EMBARGOS DO


DEVEDOR. AGRAVO DE INSTRUMENTO. PRETENDIDA REFORMA DA DECISÃO QUE
INDEFERIU O EFEITO SUSPENSIVO AOS EMBARGOS. POSSIBILIDADE.
CONSIGNAÇÃO EXTRAJUDICIAL DO DÉBITO. AUSÊNCIA DE RECUSA FORMAL DO
CREDOR. ARTS. 739-A [CPC/2015, art. 919] E 890 DO CPC. RECEIO DE DANO GRAVE
ÀS ATIVIDADES DA AGRAVANTE COM A CONTINUIDADE DOS ATOS DE
CONSTRIÇÃO PATRIMONIAL PRÓPRIOS DO PROCESSO DE EXECUÇÃO. ATRIBUIÇÃO
DE EXCEPCIONAL EFEITO SUSPENSIVO AOS EMBARGOS. AGRAVO CONHECIDO E
PROVIDO.
1. Perfectibilizada a garantia do juízo pela consignação, em parcelas, do débito,
consoante arts. 739-a [CPC/2015, art. 919] e 890 do código de processo civil, bem
como considerando a possibilidade de ocorrência de dano grave à continuidade das
atividades empresariais da recorrente pela prática dos atos de constrição patrimonial
próprios da execução, especialmente diante do valor elevado do débito exequendo,
estar-se diante da hipótese de excepcional atribuição de efeito suspensivo aos
embargos do devedor. 2. Precedente desta corte (tjrn, agravo de instrumento com
suspensividade nº 2014.020820-7, relator juiz convocado Francisco seráphico da
nóbrega coutinho, Câmara Cível, j. /11/2014). 3. Agravo conhecido e provido. (TJRN;
AI 2014.007372-1; Natal; Segunda Câmara Cível; Rel. Des. Virgílio Macêdo Jr.; DJRN
15/01/2015)

RECURSO.
Agravo Regimental Decisão monocrática que manteve concessão do efeito
suspensivo aos embargos à execução Inconformismo Ausência de fundamentação da
decisão agravada. Presentes os requisitos ensejadores previstos no art. 739-A, § 1º
[CPC/2015, art. 919, § 1º], do CPC. Decisão mantida Recurso não provido. (TJSP; AgRg
0086319-20.2013.8.26.0000/50000; Ac. 7042987; Pindamonhangaba; Décima
Terceira Câmara de Direito Privado; Rel. Des. Heraldo de Oliveira; Julg. 24/09/2013;
DJESP 14/01/2015)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.


EFEITO SUSPENSIVO NÃO CONCEDIDO. INSURGÊNCIA DA IMPUGNANTE.
Presença dos requisitos autorizadores à suspensão da demanda executiva.
Inteligência do art. 475-m do código buzaid [CPC/2015, art. 525, § 6º]. Fundamentos
relevantes, risco de dano de difícil reparação e garantia do juízo. A defesa do
executado, seja por meio de impugnação ao cumprimento da sentença (art. 475-m),
[CPC/2015, art. 525, § 6º]ou pelos embargos ao título extrajudicial (art. 739-a)
[CPC/2015, art. 919], é desprovida de efeito suspensivo, podendo o juiz conceder tal
efeito se o executado requerer e desde que preenchidos os pressupostos do fumus
boni iuris e periculum in mora e, como regra, garantido integralmente o juízo,
consoante a nova sistemática do processo satisfativo, introduzida pelas Leis n.
11.232/05 e 11.382/06 (...) (STJ, RESP 1065668/SC, Rel. Ministro Luiz fux, j. 25-08-
2009). Reclamo conhecido e provido. (TJSC; AI 2014.034572-5; Concórdia; Câmara
Especial Regional de Chapecó; Rel. Des. Edemar Gruber; DJSC 07/01/2015; Pág. 764)

Com esse enfoque é altamente ilustrativo transcrever as lições de


Luiz Guilherme Marinoni, quando, ponderando argumentos quanto à concessão do efeito
suspensivo almejado, assim avalia:
“ Por óbvio, este perigo não se caracteriza tão só pelo fato de que bens do devedor
poderão ser alienados no curso da execução, ou porque dinheiro do devedor pode
ser entregue ao credor. Fosse suficiente este risco, toda execução dever ser
paralisada pelos embargos, já que a execução que seguisse sempre conduziria à
prática destes atos expropriatórios e satisfativos;
O perigo a ser exigido é outro, distinto das consequências – naturais – da execução,
embora possa ter nelas a sua origem. Assim, por exemplo, a alienação de um bem
com elevado valor sentimental (v.g. joia de família) ou de que dependa o sustento da
família do executado. Nestes casos, o dano não está propriamente na alienação do
bem penhorado, mas advém da qualidade especial do bem que, ao ser retirado do
patrimônio do devedor, ocasionará o prejuízo grave e difícil ou incerta reparação;
“ (MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo
curso de processo civil: ... Vol. III. – São Paulo: RT, 2015, p. 113)
(negritamos e sublinhamos)

Não bastasse isso, a execução deverá ser conduzida de sorte a


ser o quanto menos gravosa à parte executada (CPC, art. 805).

Nesse sentido:

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. Pretensão


recursal de afastamento da ordem de restrição aos veículos localizados em seu nome
via sistema renajud. Acolhimento. Ordem restritiva de circulação. Medida severa que
não garante a satisfação do crédito exequendo e causa evidente prejuízo ao
desenvolvimento da atividade empresarial do executado. Ordem restritiva à
transferência e alienação dos bens que atinge o interesse do credor (CPC, art. 612) e
se revela menos gravosa ao executado (CPC, art. 620). Precedentes 1. O envio de
ordem judicial eletrônica de restrição de circulação de veículos automotores via
sistema renajud, autorizada no regulamento próprio do sistema (art. 6º), é medida
extrema que se justifica apenas em situações excepcionais; 2. Inexistindo justo
motivo, a ordem restritiva de circulação deve ser afastada, inclusive nos casos em
que o bem é utilizado para o desempenho da atividade empresarial do executado; 3.
A simples proibição de alienação e transferência dos bens é meio igualmente eficaz à
tutela do direito de crédito, uma vez que garante ao credor o direito de protestar
pela penhora dos direitos do devedor fiduciante, e atende ao princípio da menor
onerosidade da execução (art. 620). Decisão reformada. Decisão conhecido e
provido. (TJPR; Ag Instr 1356489-7; Maringá; Décima Sexta Câmara Cível; Rel. Juiz
Conv. Francisco Eduardo Gonzaga de Oliveira; Julg. 18/11/2015; DJPR 27/11/2015;
Pág. 292)

E, note-se, há aresto inclusive obstando a inclusão do nome do


devedor nos órgãos de restrições, quando a execução já esteja garantida:

PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. PENHORA INTEGRAL DO VALOR


DEVIDO. MANUTENÇÃO DO NOME DO DEVEDOR EM CADASTRO DE
INADIMPLENTES. IMPOSSIBILIDADE. MEDIDA MAIS GRAVOSA. APLICAÇÃO ART.
620, CPC.
1. Quando por vários meios o credor puder promover a execução, o juiz mandará
que se faça pelo modo menos gravoso para o devedor. Art. 620 do Código de
Processo Civil. 2. Havendo a penhora da integralidade do valor devido, a manutenção
do nome da recorrente nos órgãos de proteção ao crédito é medida por demais
onerosa, pois se trata de alternativa menos eficiente e mais prejudicial ao devedor.
3. Recurso conhecido e desprovido. (TJDF; Rec 2015.00.2.013246-2; Ac. 879.649;
Segunda Turma Cível; Rel. Des. Mario-Zam Belmiro; DJDFTE 14/07/2015; Pág. 117)
Diante disso, ou seja, o preenchimento dos requisitos para
concessão de efeito suspensivo à presente ação incidental, a mesma deverá ser concedida até
o deslinde de mérito da mesma.

(5) – O DEBATE NÃO É ÚNICO DE EXCESSO DE EXECUÇÃO


IMPOSSIBILIDADE DE EXTINÇÃO DO PROCESSO
(CPC, art. 917, § 4º, inc. I, parte final C/C art. 917, inc. VI,)

De outra banda, o debate levado a efeito na presente ação


incidental, não se limita a evidenciar exclusivamente excesso de execução, hipótese que
levaria a extinção do efeito, à luz do que dispõe o art. 917, § 4º, do Código de Ritos.

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. EMBARGOS À EXECUÇÃO.


DESCONSTITUIÇÃO DA SENTENÇA.
É de ser acolhido o recurso para desconstituir a sentença, pois não houve o
enfrentamento das preliminares de mérito formuladas na inicial dos embargos à
execução. Improcedência dos embargos fundamentada no art. 739-a, §5º do CPC
[CPC/2015, art. 917, §5º] somente se justifica quando o excesso de execução for o
único fundamento apresentado pela defesa. Recurso provido. Sentença
desconstituída. (TJRS; AC 0171472-40.2015.8.21.7000; Santa Rosa; Décima Sexta
Câmara Cível; Relª Desª Catarina Rita Krieger Martins; Julg. 16/07/2015; DJERS
23/07/2015)

APELAÇÃO CÍVEL.
Embargos à execução. Feito extinto sem julgamento do mérito. Memória de cálculos
não juntada quando da oposição dos embargos. Excesso de execução que não é
fundamento principal ou único da defesa. Pleitos de nulidade da execução e de
remissão ou liquidação da dívida. Inaplicabilidade do artigo 739-a, § 5º, do código de
processo civil [CPC/2015, art. 917, §5º]. Desconstituição da sentença que se impõe.
Precedentes. Apelo conhecido e provido. (TJRN; AC 2013.000649-7; Acari; Segunda
Câmara Cível; Relª Desª Judite de Miranda Monte Nunes; DJRN 01/07/2015)

Uma das teses defendidas nestes Embargos, em plano de fundo,


diz respeito à ilegalidade na cobrança de vários encargos contratuais. Assim, a orientação
reservada pelo art. 917, § 4º, inc. I, do Estatuto de Ritos não se aplica ao caso em vertente. A
rejeição liminar dos embargos, como disciplina a regra supra-aludida, somente ocorrerá
quando a parte alegar unicamente excesso na execução. No caso em liça, ao revés disso, em
nenhum foi argumento lançado contra o memorial (cálculos) da execução, inserto com a inicial
executiva. Na verdade, defendeu-se abuso dos mecanismos ilegais utilizados para resultar a
conta, o que, por consequência, resultou no excesso da cobrança. Tal conduta, portanto,
conforta-se aos ditames prescritos no art. 917, inc. VI, da Legislação Adjetiva Civil, e não do §
4º, inc. I, do art. 917 do CPC.

De toda sorte, o Embargante, por mero desvelo ardente de sua


parte, almejando que a pretensa dívida seja examinada (CPC, art. 917, § 4º, inc. II), aponta
como correto a quantia de R$ 0.000,00 (.x.x.x.), valor esse apurado provisoriamente para efeito
de depósito das parcelas incontroversas e controversas, consoante memorial atualizado anexo.
(doc. 02)

(6) – RESTITUIÇÃO EM DOBRO DO QUE FOI COBRADO A MAIOR


A cobrança de juros capitalizados nos pactos originários de Cédula
de Crédito Bancário, somente é admitida se estiver previamente ajustada(Lei nº. 10.931/04, art.
28, § 1º e inc. I).

Na hipótese em estudo, como visto, foram cobrados juros


capitalizados diariamente. Discrepou, portanto, do que rege mencionada Lei. Cabível, então, a
devolução em dobro do que foi cobrado a maior, consoante abaixo se evidencia:

Lei nº. 10.931/2004

Art. 28. A Cédula de Crédito Bancário é título executivo extrajudicial e


representa dívida em dinheiro, certa, líquida e exigível, seja pela soma nela
indicada, seja pelo saldo devedor demonstrado em planilha de cálculo, ou nos
extratos da conta corrente, elaborados conforme previsto no § 2o.
[...]
§ 3o O credor que, em ação judicial, cobrar o valor do crédito
exeqüendo em desacordo com o expresso na Cédula de Crédito Bancário,
fica obrigado a pagar ao devedor o dobro do cobrado a maior, que poderá
ser compensado na própria ação, sem prejuízo da responsabilidade por perdas
e danos.

(7) – PLEITO DE TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA

Ficou destacado claramente nesta peça processual, em tópico


próprio, que a Embargada cobrou juros capitalizados indevidamente, encargo esse, pois,
arrecadado do Embargante durante o período de normalidade contratual. E isso, segundo que
fora debatido também no referido tópico, ajoujado às orientações advindas do c. Superior
Tribunal de Justiça, afasta a mora do devedor.

Nesse ponto, deve ser excluído o nome do Embargante dos órgãos


de restrições, independentemente do depósito de qualquer valor, pois não se encontra em
mora contratual, maiormente porquanto a ação já se encontra garantida por penhora.

Convém ressaltar nota de jurisprudência nesse sentido:

MEDIDA CAUTELAR INCIDENTAL. LIMINAR DEFERIDA. EXCLUSÃO DO NOME DOS


ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. EMBARGOS À EXECUÇÃO. GARANTIA DO
MONTANTE TOTAL DEVIDO. DESNECESSIDADE DA CONSTRIÇÃO. PRESENTES OS
REQUISITOS. DECISÃO MANTIDA. AGRAVO DESPROVIDO.
Questão que não se submete aos requisitos consolidados pela jurisprudência do STJ,
por não se tratar de tutela antecipada em sede de ação revisional, mas de ação
cautelar incidente em embargos à execução. Montante da dívida suficientemente
garantido em penhora realizada em ação de execução de título extrajudicial. Torna-
se desnecessária a inscrição ou manutenção do nome no cadastro de inadimplentes
se o adimplemento da dívida restou suficientemente garantido por penhora em ação
de execução. Sendo constatada a presença destes requisitos, a manutenção da
decisão que determinou a vedação ou exclusão do nome do cadastro de
inadimplentes é medida que se impõe. (TJMT - AI 120696/2011; Primavera do Leste;
Quinta Câmara Cível; Rel. Des. Carlos Alberto Alves da Rocha; Julg. 14/03/2012;
DJMT 02/04/2012; Pág. 46)

TUTELA ANTECIPADA. DEFERIMENTO. INSURGÊNCIA. EXECUÇÃO GARANTIDA POR


PENHORA. EMBARGOS. NEGATIVAÇÃO OBSTADA. DECISÃO MANTIDA.
A exclusão do nome do embargante dos cadastros restritivos de crédito é viável
enquanto pendente discussão sobre abusividade de encargos. (TJSC; AI 2014.040358-
4; Lages; Quarta Câmara de Direito Comercial; Rel. Des. José Inacio Schaefer; Julg.
21/10/2014; DJSC 29/10/2014; Pág. 220)

De outro norte, o Código de Processo Civil autoriza o Juiz


conceder a tutela de urgência quando “ probabilidade do direito” e o “perigo de dano ou o risco
ao resultado útil do processo”:

Art. Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado
útil do processo.

Há nos autos “prova inequívoca” da ilicitude cometida pela


Embargada, fartamente comprovada por documentos imersos nesta querela.

Desse modo, à guisa de sumariedade de cognição, os elementos


indicativos de ilegalidades contido na prova ora imersa e até mesmo da análise das cláusulas
contratuais antes mencionadas, traz à tona circunstâncias de que o direito muito provavelmente
existe.

Acerca do tema do tema em espécie, é do magistério de José


Miguel Garcia Medina as seguintes linhas:

“. . . sob outro ponto de vista, contudo, essa probabilidade é vista como requisito, no
sentido de que a parte deve demonstrar, no mínimo, que o direito afirmado é
provável (e mais se exigirá, no sentido de se demonstrar que tal direito muito
provavelmente existe, quanto menor for o grau de periculum. “ (MEDINA, José
Miguel Garcia. Novo código de processo civil comentado ... – São Paulo: RT, 2015, p.
472)
(itálicos do texto original)

Com esse mesmo enfoque, sustenta Nélson Nery Júnior,


delimitando comparações acerca da “probabilidade de direito” e o “ fumus boni iuris”, esse
professa, in verbis:

“4. Requisitos para a concessão da tutela de urgência: fumus boni iuris: Também é
preciso que a parte comprove a existência da plausibilidade do direito por ela
afirmado (fumus boni iuris). Assim, a tutela de urgência visa assegurar a eficácia do
processo de conhecimento ou do processo de execução...” (NERY JÚNIOR, Nélson.
Comentários ao código de processo civil. – São Paulo: RT, 2015, p. 857-858)
(destaques do autor)

Diante dessas circunstâncias jurídicas, faz-se necessária a


concessão da tutela de urgência antecipatória, o que também sustentamos à luz dos
ensinamentos de Tereza Arruda Alvim Wambier:

"O juízo de plausibilidade ou de probabilidade – que envolvem dose significativa de


subjetividade – ficam, ao nosso ver, num segundo plano, dependendo do periculum
evidenciado. Mesmo em situações que o magistrado não vislumbre uma maior
probabilidade do direito invocado, dependendo do bem em jogo e da urgência
demonstrada (princípio da proporcionalidade), deverá ser deferida a tutela de
urgência, mesmo que satisfativa. “ (Wambier, Teresa Arruda Alvim ... [et tal]. – São
Paulo: RT, 2015, p. 499)

No tocante ao periculum na demora da providência judicial, urge


demonstrar que há fundado receio de dano irreparável, porquanto o Embargante se encontra
com seu nome inserto nos órgãos de restrições (sem estar legalmente em mora, frise-se), o
que lhe vem trazendo sequelas irreparáveis, sobretudo no campo profissional(quando está
impedido de obter novos trabalhos, visto que, em regra, as empresas consultam antes os
órgãos de restrições antes de admitir o empregado); no campo financeiro(porquanto está
impedido de obter novo(s) empréstimo(s) e sequer obter um talonário de cheque, por uma
questão de procedimento interno do banco que tem conta corrente) e na seara emocional
(jamais terá de volta a paz e a tranquilidade que antes a tinha, quando não havia registrado seu
nome “negativado” nos órgãos de restrições). (docs. 12/13).

Com efeito, a retomada do bem seguramente trará maiores danos


patrimoniais, nada beneficiando ambas as partes, uma vez que o mesmo não é capaz de cobrir
todo o montante do débito discutido.

Diante disso, o Autor vem pleitear, sem a oitiva prévia da parte


contrária (CPC, art. 9º, parágrafo único, inc. I c/c art. 300, § 2º), independente de caução (CPC,
art. 300, § 1º), tutela de urgência antecipatória no sentido de:

a) determinar que a Embargada exclua, no prazo de cinco(5) dias, o


nome do Embargante dos órgãos de restrições, sob pena de pagamento
da multa abaixo mencionada. Subsidiariamente (CPC, art. 326), pede
seja autorizado o depósito das parcelas incontroversas e, empós disso,
seja determinada a exclusão supra-aludida;

b) que a Embargada se abstenha, sob pena da multa diária de R$


1.000,00(mil reais), de fornecer informações acerca desse débito à
Central de Riscos do Banco Central do Brasil – BACEN.

(8) – P E D I D O S e R E Q U E R I M E N T O S

Em arremate, requer o Embargante que Vossa Excelência se digne


de:

8.1. Requerimentos

( i ) O Embargante opta pela realização de audiência conciliatória (CPC, art. 319, inc. VII
c/c CPC, art. 771, parágrafo único), razão qual requer a intimação da Embargada, por seu
patrono, para comparecer à audiência designada para essa finalidade (CPC, art. 334, caput
c/c § 5º), devendo, antes, ser analisado o pleito de tutela de urgência;

( ii ) conceder efeito suspensivo à presente Ação Incidental de Embargos à Execução;

( iv ) determinar a intimação da Embargada, por seu patrono regularmente constituído nos


autos da Execução, para, no prazo de 15(quinze dias), querendo, vir impugnar a presente
Ação Incidental (CPC, art. 920, inc. I);

8.2. Pedidos

( i ) julgar procedentes os pedidos formulados na presente Ação Incidental de Embargos à


Execução, nos termos do quanto pleiteado, definindo-se que:
( a ) sejam excluídos do encargo contratual, juros capitalizados de forma
mensal e/ou diário. Subsidiariamente (CPC, art. 326), pede seja acolhido
juros capitalizados de forma anual (CC, art. 591), ainda assim sendo
descaracterizada a mora;

( b ) reduzir os juros remuneratórios à taxa média do mercado, apurado no


período do pagamento das parcelas, excluindo, também, o indexador CDI;

( c ) sejam afastados todo e qualquer encargo contratual moratório, visto que


o Embargante não se encontra em mora, ou, como pedido subsidiário (CPC,
art. 326), a exclusão do débito de juros moratórios, juros remuneratórios,
correção monetária e multa contratual, em face da ausência de inadimplência,
possibilitando, somente, a cobrança de comissão de permanência, limitada à
taxa contratual;

( d ) que a Ré seja condenada, por definitivo, a não inserir o nome do Autor


junto aos órgãos de restrições, bem como a não promover informações à
Central de Risco do BACEN e seja o mesmo manutenido na posse do imóvel
alvo de constrição, sob pena de pagamento de multa;

( e ) pede, caso seja encontrado valores cobrados a maior durante a relação


contratual (CDC, art. 42), sejam os mesmos devolvidos ao Embargante em
dobro (repetição de indébito), ou sucessivamente, sejam compensados os
valores encontrados(devolução dobrada) com eventual valor ainda existe
como saldo devedor;

( f ) sob o ângulo da relação contratual (Cédula de Crédito Bancário), pede


igualmente seja a Embargada condenada a devolver em dobro o que fora
cobrado a maior (Lei nº. 10.931/2004, art. 28,§ 3º);
( g ) pleiteia, ainda, seja liberada de pronto a referida constrição, ordenando
que essa seja processada por meio da penhora de renda da empresa
Embargante, limitada a 10%(dez por cento) do seu faturamento mensal,
observando-se a forma preceituada no art. 866, § 1º, do CPC;

( ii ) protesta provar o alegado por toda espécie de prova admitida (CF, art. 5º, inciso
LV), nomeadamente pelo depoimento do representante legal da Ré (CPC, art. 75,
inciso VIII), oitiva de testemunhas a serem arroladas opportuno tempore, juntada
posterior de documentos como contraprova, perícia contábil (com ônus invertido),
exibição de documentos, tudo de logo requerido;

( iii ) seja a Ré condenada a pagar o todos os ônus pertinentes à sucumbência,


nomeadamente honorários advocatícios, esses de já pleiteados no patamar máximo
de 20%(vinte por cento) sobre o proveito econômico obtido pelo Autor ou, não
sendo possível mensurá-los, sobre o valor atualizado da causa (CPC, art. 85, § 2º).

Concede-se à causa o valor de R$ .x.x.x ( .x.x.x.x.x.), o qual


correspondente ao valor controvertido (CPC, art. 292, inc. II).

Respeitosamente, pede deferimento.

Cidade, 00 de agosto de 0000.

Beltrano de tal
Advogado – OAB(PR) 112233

A presente Ação Incidental é instruída com cópia integral do


processo de execução nº. 111.222.333.444, onde se declara como sendo autênticos e
conferidos com os originais todos os documentos ora colacionados, sob as penas da lei (CPC,
art. 914, § 1º c/c art; 425, inc. IV).

Data Supra

Beltrano de tal
Advogado – OAB(PR) 112233

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