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Dá para liquidar.

59ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro


ATSum 0100134-97.2023.5.01.0059
RECLAMANTE: LARISSA DE OLIVEIRA COSTA DOS SANTOS
RECLAMADO: SOCIEDADE CIVIL CONSERVATORIO BRASILEIRO DE
MUSICA
ATA DE JULGAMENTO

Aos ... dias do mês de abril de 2023, às ... horas, na


sala de audiência desta Vara, na presença da Dra. Débora
Blaichman Bassan, Juíza Titular de Vara do Trabalho, foram
apregoadas as partes, LARISSA DE OLIVEIRA COSTA DOS SANTOS,
reclamante, e SOCIEDADE CIVIL CONSERVATORIO BRASILEIRO DE
MUSICA, reclamada.
Partes ausentes.
Preenchidas as formalidades legais, foi proferida a
seguinte

SENTENÇA

Vistos, etc.
Relatório dispensado na forma do artigo 852-I, da CLT.

DECIDO

DA RESCISÃO INDIRETA E DAS VERBAS RESILITÓRIAS


A reclamante foi admitida em 10.02.2020, na função de
auxiliar de coordenação, com a última remuneração mensal de
R$ 1.224,12.
Pretende a declaração da rescisão indireta do contrato
de trabalho, com a consequente quitação das verbas
resilitórias, sob a alegação de que o FGTS nunca foi
recolhido, além de ausência de pagamento do 13º durante
todo contrato e por estar com férias vencidas.
A reclamada, em defesa, sustenta que “a saída do
emprego deu-se por iniciativa do próprio empregado, que
deixou de comparecer ao trabalho sem qualquer
justificativa. Dessa forma tem-se caracterizado o abandono
de emprego, uma vez que o Reclamante não retornou ao
trabalho e não deu qualquer retorno” (id 0e5db99 / fl. 59).
Contudo, admite que “(...) em razão de dificuldades
financeiras não pode arcar com algumas das respectivas
verbas” (id 0e5db99 - Pág. 4 / fl. 60).
Argumenta ainda que “Constata-se pelo extrato que é
incontroverso que houve alguns atrasos de depósitos da
verba fundiária, contudo não é motivo suficiente para o
pedido de rescisão indireta” (id 0e5db99 - Pág. 7 / fl.
63).
A tese defensiva de abandono de emprego não prospera
minimamente uma vez que a ação trabalhista foi ajuizada em
19.02.2023, último dia trabalhado narrado na inicial, sendo
aplicada a dispensa por justa causa naquele mesmo dia,
conforme TRCT no id c872ed4, o que evidencia a inexistência
de animus abandonandi.
Por outro lado, o C. TST já sedimentou entendimento de
que a irregularidade no recolhimento do FGTS, por si só e
isoladamente, é suficiente para a declaração da justa causa
patronal. Nesse sentido:
"II) RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO -
AUSÊNCIA DE RECOLHIMENTO DOS DEPÓSITOS DO FGTS - APLICAÇÃO
DO ART. 483,"D", DA CLT - VIOLAÇÃO CONFIGURADA. 1. O
entendimento da SBDI-1 desta Corte Superior é o de que a
ausência de recolhimento dos depósitos de FGTS na conta
vinculada do empregado, ou seu recolhimento irregular,
configura ato faltoso patronal suficiente para ensejar a
rescisão indireta do contrato de emprego, a teor do art.
483, "d", da CLT. 2. No caso, o 12º Regional afastou a
rescisão indireta ao fundamento de que a simples ausência
de recolhimento dos depósitos fundiários, por si só, não
configura falta grave apta a ensejar a rescisão indireta do
contrato de emprego, consoante entendimento cristalizado em
sua Súmula 126. 3. Ante a manifesta divergência entre a
tese jurídica adotada pelo regional e remansosa
jurisprudência da SBDI-1 do TST acerca da aplicação do art.
483, "d", da CLT, impõe-se o provimento do recurso de
revista, a fim de que seja respeitado o entendimento
pacificado por esta Corte Superior. Recurso de revista
provido" (RR-280-33.2018.5.12.0049, 4ª Turma, Relator
Ministro Ives Gandra Martins Filho, DEJT 20/09/2019).
Diante disso e considerando que a defesa admite a
inadimplência do FGTS, declaro a rescisão indireta do
contrato de trabalho havido entre as partes, por força do
disposto no artigo 483, §3º, “d”, da CLT, com a data de
19.02.2023.
Consequentemente, prosperam os seguintes pedidos:
- Anotação da baixa na CTPS com a data de 19.02.2023.
Na falta ou no descumprimento da obrigação de fazer, caberá
a Secretaria desta MM. Vara do Trabalho procedê-la, nos
termos do art. 39, §2º da CLT (item b);
- aviso prévio proporcional indenizado de 39 dias
(item e)
- férias do período 2022/2023, de forma simples, e
proporcionais (1/12), ambas acrescidas de 1/3 (item g);
- 11/12 de décimo terceiro salário proporcional de
2020, integral de 2021 e 2022, além de 03/12 proporcional
de 2023 (item f); e
- indenização dos depósitos mensais de FGTS de todo o
contrato e da multa de 40% sobre o FGTS (itens d e h).
Desacolho o pedido de pagamento da multa dos artigos
467 e 477 da CLT, considerando que a rescisão do contrato
de trabalho é objeto da presente sentença (itens i e l).
Após o trânsito em julgado, expeça-se ofício para
habilitação no seguro-desemprego e alvará para saque do
FGTS (itens c e j).

DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS


Improspera a pretensão (item k do rol), considerando-
se que o mero descumprimento de obrigações pecuniárias, por
si só e isoladamente, não enseja a cominação de qualquer
indenização por danos morais e seja ainda, em que valor
for.
Não há como banalizar-se o instituto da indenização
por danos morais, como se trata a hipótese dos autos, pois,
a falta do pagamento de verbas salariais e rescisórias, ou
então, a de qualquer obrigação de fazer, não poderá trazer
qualquer ato atentatório a dignidade da pessoa da
reclamante, que pudesse, de outro lado, trazer qualquer
dor, humilhação, vexame ou sofrimento, entendimento
cristalizado pela Tese Jurídica Prevalecente nº 1 do E. TRT
da 1ª Região.

DOS RECOLHIMENTOS FISCAIS


Observe-se a incidência de contribuição previdenciária
sobre as parcelas deferidas na presente sentença na forma
do artigo 28 da Lei 8.212/1991, com cálculo pelo critério
de competência e cada parte responsável pela sua cota-
parte.
Indefere-se, de plano, a responsabilização exclusiva
da reclamada, por falta de fundamentação legal que subsidie
a pretensão.
Ademais, caberá à reclamada reter a cota da parte
autora, juntamente com a sua, recolhendo-a no prazo do
artigo 30 da Lei 8.212/1991, realizando a sua comprovação
nos autos em cinco dias, sob pena de execução.

DA LIQUIDAÇÃO
Liquidação por simples cálculos.
A correção monetária adotará o IPCA-E na fase pré-
judicial e, a partir do ajuizamento da ação, será utilizada
a taxa SELIC (art. 406 do Código Civil), nos termos das
decisões proferidas pelo STF nas ADCs 58 e 59, e nas ADIs
5867 e 6021, que conferiram interpretação conforme a
Constituição aos artigos 879, § 7º, e 899, § 4º, ambos da
CLT, na redação dada pela Lei 13.467/2017.
Ademais, levando em conta que a taxa SELIC engloba os
juros de mora, não será aplicada a regra prevista no artigo
39 da Lei 8.177/1991.

DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS


Considerando os critérios previstos no art. 791-A, §
2º, da CLT, arbitro os honorários advocatícios em 5% sobre
o valor de liquidação da sentença (honorários advocatícios
da parte reclamante) e 5% dos valores dos pedidos
rejeitados, devidamente atualizados (honorários
advocatícios da parte reclamada).

DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA À AUTORA


Considerando a remuneração inferior ao marco de 40% do
limite máximo do RGPS, defiro a gratuidade de justiça à
parte autora, nos termos da nova redação do artigo 790, §
3º, da CLT.

DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA À RÉ
Indefiro o requerimento, porquanto a mera alegação de
insuficiência econômica, por si só, não autoriza presumir
ser a ré incapaz de arcar com as despesas do processo.
Para a concessão do benefício previsto no artigo 790,
§4º, da CLT, cabe à pessoa jurídica, com ou sem fins
lucrativos, a efetiva comprovação da ausência de condições
de arcar com tais despesas, acompanhada dos devidos
esclarecimentos.

CONCLUSÃO

POSTO ISSO, JULGO PROCEDENTES EM PARTE os pedidos


articulados na presente ação trabalhista, para condenar a
ré na obrigação de fazer referente à anotação de baixa na
CTPS da parte autora com a data de 19.02.2023, ficando
certo, outrossim, que na falta ou no seu descumprimento,
caberá a Secretaria desta MM. Vara do Trabalho procedê-la;
e a pagar para a autora as parcelas acima deferidas,
deduzidas, no entanto, as verbas já pagas ou adiantadas aos
mesmos títulos, tudo ainda não só nos termos da
fundamentação supra e que passa a integrar este decisum.
Os pedidos deferidos seguem liquidados, observados os
índices fixados pelo C. TST.
Custas pela ré no importe de R$ XXX, calculadas sobre
R$ XXX, valor da condenação, conforme memória de cálculo
anexa e que integra o presente dispositivo.
Não havendo pagamento, fica a parte autora ciente de
que deverá requerer o que entender cabível, observando-se
os termos do artigo 11-A da CLT.
Cumpra-se em oito dias.
Intimem-se as partes do teor desta decisão.
Após o trânsito em julgado, expeça-se ofício para
habilitação no seguro-desemprego.

DÉBORA BLAICHMAN BASSAN


JUÍZA TITULAR DE VARA DO TRABALHO

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