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Processo Penal - Volume 3 | 6ª ed.

SUMÁRIO

1. QUESTÕES E PROCESSO INCIDENTES. 5

a) Questões Prejudiciais, Questões Preliminares e Processos Incidentes 5


b) Questões Prejudiciais 5
● Questões Prejudiciais Obrigatórias / Próprias / Devolutivas Absolutas 6
● Questões Prejudiciais Facultativas / Devolutiva Relativa 6

c)​ Q​ uestões Preliminares 7


d)​ E ​ xceções 7
e)​ ​Restituição de Coisas Apreendidas 12
● Considerações Gerais 12
● Momento da Restituição da Coisa Apreendida. 12
● Coisas que não Serão Objetos de Restituição. 12
● Decisão de Restituição 12
● Participação do Ministério Público 13
● Dúvida Sobre quem Seja o Verdadeiro Dono. 13
● Coisas Deterioráveis 13

f)​ ​Medidas Assecuratórias 13


● Sequestro 13
● Hipoteca Legal 14
● Arresto 15

g)​ I​ ncidente de Falsidade 17


h)​ I​ ncidente de Insanidade Mental 18
2. PRISÃO 19

a) Modalidades de Prisão 19
b) Modalidades de Prisões Processuais / Provisórias / Cautelares 20
● Prisão em Flagrante 20
● Prisão Preventiva 21
● Prisão Temporária 23
● Prisão Domiciliar 24

c)​ ​Medidas Cautelares (Diversas da Prisão) 26


d)​ ​Liberdade Provisória 27
e)​ ​Fiança 28
f)​ ​Liberdade Provisória sem Fiança 30

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3. PROCEDIMENTOS ESPECIAIS — TRIBUNAL DO JÚRI 30

a) Princípios Norteadores do Tribunal do Júri (Art. 5.º, XXXVIII, CF/88) 31


b) Características do Procedimento do Tribunal do Júri 31
c) Primeira Fase (Art. 406 a 412 da CPP) 31
● Pronúncia 32
● Impronúncia (Art. 414 do CPP) 33
● Absolvição Sumária 33
● Desclassificação (Art. 419 do CPP) 34

d)​ ​Segunda Fase 34


● Preparação para o Julgamento em Plenário 34
● Desaforamento (Arts. 427 e 428 do CPP) 35
● Alistamento dos Jurados (Arts. 425 e 426 do CPP) 36
● Sorteio dos Jurados 37
● Instrução em Plenário 37
● Debates 38
● Quesitos e Votação 39
● Sentença do Tribunal do Júri 40

4. NULIDADES 41

a) Princípios que Norteiam as Nulidades 45

5. Recursos 47

a) Conceito de Recurso 47
b) Características Fundamentais dos Recursos 47
c) Efeitos dos Recursos 48
d) Desistência e Renúncia ao Direito de Recorrer 48
e) Espécies de Recursos Criminais 48

5.1​. ​Recurso de Apelação 49

a) Hipóteses e Efeitos da Apelação 49


b) Tramitação 50
c) Súmulas (Apelação) 50

5.2.​ ​Recurso em Sentido Estrito 50

a) Prazos 53
b) Procedimento 53

5.3​. ​Embargos de Declaração 54

a) Conceito 54
b) Cabimento 54

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c) Prazo 54
d) Procedimento 55

5.4.​ ​Embargos Infringentes e de Nulidade 55

a) Cabimento 55

5.5.​ ​Carta Testemunhável 55

a) Cabimento 55
b) Efeito do Recurso 56
c) Procedimento 56

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1. QUESTÕES E PROCESSO INCIDENTES.


QUESTÕES PREJUDICIAIS, QUESTÕES PRELIMINARES E PROCESSOS INCIDENTES

As questões prejudiciais e preliminares são as que recaem sobre o processo principal e devem
ser resolvidas antes do julgamento da lide.

As ​questões prejudiciais têm natureza ​material e não são tratadas como processos incidentes
(no sentido formal).

Os ​processos incidentes discutirão, conforme Oliveira (2014, p. 293), acerca dos


procedimentos relacionados a:
a) Questões tipicamente ​preliminares (exceções de suspeição, incompatibilidade ou
impedimento, exceções de incompatibilidade de juízo, de litispendência, de
ilegitimidade de parte e de coisa julgada, bem como conflito de ​jurisdição​*), que
devam ser resolvidas antes do exame do mérito da ação penal;
b) Questões de natureza ​acautelatórias de cunho patrimonial, sem maiores interferências
na solução do caso penal (restituição de coisas apreendidas, medidas assecuratórias
— sequestro, arresto e inscrição de hipoteca);
c) Questões tipicamente ​probatórias​, seja no âmbito da aferição da culpabilidade
(incidente de insanidade mental), seja no da materialidade do delito (incidente de
falsidade documental).

*Grifo nosso: neste contexto, por “​Jurisdição”​ , também é possível dizer que se trata de competência, afinal, ​a
jurisdição é una.​

As ​questões preliminares têm natureza ​processual e impedem o julgamento do mérito quando


forem acolhidas pelo juiz.

QUESTÕES PREJUDICIAIS

Trata-se de questões jurídicas autônomas que necessitam de sentença de mérito diferente


daquela do processo principal (arts. 92, 93 e 94 do CPP). São resolvidas em outros juízos
geralmente e, em regra, não suspendem o curso da ação penal (art. 116, § 2.º, CPP).

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As questões prejudiciais têm ​autonomia​, ou seja, mesmo sem o processo penal, elas existiriam.
Ex.​: Há processo por crime de bigamia (art. 235, CP), mas há necessidade de o juiz
analisar a alegação de nulidade do primeiro casamento do acusado, pois, a decisão sobre a
validade do matrimônio (questão prejudicial) condiciona a decisão relativa à ocorrência do crime.
O prazo prescricional ficará suspenso enquanto não resolvida a questão no cível (art. 116, I, do
CP).

As questões prejudiciais devem ser analisadas ​preliminarmente​, visto que a sua sentença
afetará a decisão de mérito da ação penal.

QUESTÕES PREJUDICIAIS OBRIGATÓRIAS / PRÓPRIAS / DEVOLUTIVAS ABSOLUTAS

Nas questões obrigatórias, o juiz é ​obrigado a suspender o curso do processo para que seja
resolvida a questão prejudicial.
A prejudicial obrigatória deve ser:

● “Questão séria e fundada” sobre o estado ​civil das pessoas (casamento, filiação).
Art. 92, CPP​.
Ex.: Processo por crime de bigamia, mas há alegação de nulidade do primeiro casamento.

QUESTÕES PREJUDICIAIS FACULTATIVAS / DEVOLUTIVA RELATIVA

Nas questões prejudiciais facultativas, o juiz ​poderá suspender o processo (por prazo
determinado), a seu prudente arbítrio, se a matéria não disser respeito ao estado das pessoas
(art. 93, CPP).
São pressupostos para suspensão da ação penal quando houver questão prejudicial facultativa:

● Controvérsia tem que ser de difícil solução;

● Questão não pode versar sobre direito cuja prova a lei civil limite;

● Prévia existência de processo em curso na esfera cível.


Ex.: Discussão acerca da propriedade da coisa, em crimes contra o patrimônio.

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QUESTÕES PRELIMINARES

São questões de natureza processual que devem ser sanadas no próprio processo penal
principal. Não dependem de outro julgamento de mérito como as questões prejudiciais.
Ex.: Falta de citação, exceções (suspeição, incompetência de juízo, litispendência,
ilegitimidade de parte e coisa julgada), conflito de competências, etc.

EXCEÇÕES

Poderão ser opostas as ​exceções​ de (art. 95, CPP):

“A exceção é procedimento incidental suscitado em preliminar ou mediante simples objeção que


visa à extinção ou dilatação do processo” (SILVA & FREITAS, 2012, p. 197).

Nas palavras de Eugênio Pacelli as exceções, ao contrário das questões prejudiciais que se
desenvolvem em outro juízo, têm tramitação perante o Juiz Criminal, constituindo verdadeiro
procedimento incidental, isto é, procedimento da competência do juízo da ação penal.

As exceções (art. 95 do CPP) são o instrumento próprio para exercer uma ​defesa indireta,
buscando-se extinguir, modificar, impedir ou retardar o exercício da ação penal.

Há exceções dilatórias e peremptórias.


● Dilatórias:​ ​não​ extinguem o processo.
Ex.: Exceção de suspeição, de incompetência e de ilegitimidade de parte ​ad
processum (​ capacidade processual).
● Peremptórias: ​extinguem o processo se forem procedentes.

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Ex.: Exceção de coisa julgada, de litispendência e ilegitimidade de parte ​ad


causam (​ titularidade da ação).
As exceções processam-se em ​autos apartados e não suspenderão, em regra, o andamento da
ação penal (art. 111, CPP).
São modalidades de exceção: a ​suspeição​, o ​impedimento​, a ​incompetência de juízo​, a
litispendência​, a ​ilegitimidade de parte​ e a ​coisa julgada​.

SUSPEIÇÃO (ART. 95, I, CPP)

As causas de suspeição estão ligadas ao ​animus ​subjetivo do juiz quanto às partes, sendo
utilizadas para afastar o juiz que pode ser parcial no julgamento. Geralmente a suspeição é
externa ao processo. Uma decisão proferida por um juiz suspeito é causa de ​nulidade absoluta​.
O juiz pode se afastar de ofício ou por provocação das partes no processo (art. 254, CPP):
I — se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles;
II — se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo
por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia;
III — se ele, seu cônjuge, ou parente, consanguíneo, ou afim, até o terceiro grau,
inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer
das partes;
IV — se tiver aconselhado qualquer das partes;
V — se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes;
Vl — se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo.

● Nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo processo os juízes que forem
entre si parentes, consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral até o terceiro grau,
inclusive (art. 253, CPP).

● Pode-se opor exceção de suspeição também contra ​membros do MP​, ​servidores da


Justiça​, ​jurados​ e ​autoridade policial​ (arts. 104 a 107, CPP).
○ Se for arguida a suspeição do órgão do Ministério Público, o juiz, depois de
ouvi-lo, decidirá, sem recurso, podendo antes admitir a produção de provas
no prazo de ​3 dias​ (art. 104, CPP).

○ As partes poderão também arguir de suspeitos os peritos, os intérpretes e os


serventuários ou funcionários de justiça, decidindo o juiz de plano e sem
recurso, à vista da matéria alegada e prova imediata (art. 105, CPP).

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○ Não se poderá opor suspeição às ​autoridades policiais nos atos do ​inquérito​,


mas deverão elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo legal (art.
107, CPP).

● A exceção de suspeição é ​prioritária em relação às demais, daí porque sua arguição


precederá a qualquer outra, salvo quando fundada em motivo superveniente (art. 96,
CPP).

INCOMPETÊNCIA DE JUÍZO (ART. 95, II, CPP)

Utilizada para deslocar o processo, a outro órgão, por haver ofensa ao princípio do juiz natural.
Pode haver incompetência ​relativa (prazo para arguição), cuja nulidade é relativa, ou ​absoluta
(pode ser alegada a qualquer momento), cuja nulidade é absoluta.
A incompetência do juízo anula apenas os ​atos decisórios​ (art. 567, CPP).

Ex.: Acidente de trânsito ocorrido em São José (SC). A vítima é encaminhada para Florianópolis
(SC) e não resiste aos ferimentos, vindo a falecer. O juízo competente é o de São José,
local onde ocorreram os fatos, não o local do resultado (Florianópolis), pois, há crime
contra a vida (teoria da atividade). Entretanto, se o feito tiver início em Florianópolis e as
partes se omitirem, a competência será prorrogada (​perpetuatio jurisdictionis)​ , pois, se
trata de nulidade relativa.

Ex.: O Tribunal de Justiça que julga desembargador por crime comum é absolutamente
incompetente​ ​para fazê-lo. Esta nulidade absoluta pode ser arguida a qualquer tempo.

LITISPENDÊNCIA (ART. 95, III, CPP)

Existe litispendência quando há duas ou mais ações idênticas (mesmo pedido, mesmas partes e
mesma causa de pedir) ​correndo concomitantemente em varas diferentes. Objetivo é extinguir
a segunda ação penal.

ILEGITIMIDADE DE PARTE (ART. 95, IV, CPP)

Oponível quando a parte não é titular da ação (ilegitimidade ​ad causam)​ ou quando não possui
capacidade processual (ilegitimidade ​ad processum)​ .
Ex.: MP inicia uma ação penal privada (ilegitimidade ​ad causam)​ .

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Ex.: Menor de 18 anos, sem assistência ou representação, ajuíza queixa-crime


(ilegitimidade ​ad processum)​ .

COISA JULGADA (ART. 95, V, CPP)

A exceção de coisa julgada somente poderá ser oposta em relação ao fato principal que tiver
sido objeto da sentença (art. 110, § 2.º, do CPP). Proíbe-se a imputação a alguém por mais de
uma vez o mesmo fato. Diferencia-se da litispendência por ​já existir sentença transitada em
julgado sobre o fato​.
Art. 5.º, XXXVI, CF​: “A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a
coisa julgada”.

IMPEDIMENTO OU INCOMPATIBILIDADE (ART. 252, CPP)

As causas de impedimento referem-se a ​vínculos objetivos do juiz com o processo,


independentemente de seu ânimo subjetivo, sendo encontradas, em regra, dentro do processo.
O juiz não poderá exercer jurisdição, ou seja, estará impedido, no processo em que:
I — tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral
até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do Ministério Público,
autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito;
II — ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como testemunha;
III — tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre
a questão;
IV — ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim em linha reta ou colateral até
o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito.

● Os atos praticados pelo juiz impedido são considerados inexistentes.


● Podem estar impedidos também os membros do MP, os serventuários e
funcionários da justiça.

CONFLITO DE COMPETÊNCIAS

O conflito de competências também é uma questão incidente (preliminar), assim como as


exceções, portanto, também deve ser arguida no prazo de resposta à acusação (10 dias).
Haverá conflito de ​competências​ (art. 113, CPP):

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● Quando duas ou mais autoridades judiciárias se considerarem competentes (​conflito


positivo​), ou incompetentes (​conflito negativo​), para conhecer do mesmo fato
criminoso;
● Quando entre elas surgir controvérsia sobre unidade de juízo, junção ou separação de
processos.

O conflito pode ser suscitado (art. 115, CPP):


a)​ pela parte interessada;
b)​ pelos órgãos do Ministério Público em qualquer dos juízos em dissídio;
c)​ por qualquer dos juízes ou tribunais em causa.

Órgão que determina o conflito de competências:

● Entre ​juízes de comarcas diferentes (em um mesmo Estado): ​Tribunal de Justiça ​(órgão
imediatamente superior).
Ex.: Conflito entre Juízes de Tubarão (SC) e Laguna (SC) será julgado pelo TJ/SC.
● Entre ​juízes federais de comarcas diferentes (em um mesmo Estado): ​Tribunal Regional
Federal​ da Região (órgão imediatamente superior).

● Entre ​juízes federais de Estados diferentes​: ​Tribunal Regional Federal da Região (órgão
imediatamente superior).
Ex.: Conflito entre Juiz Federal de Londrina (PR) e de Florianópolis (SC) será julgado pelo TRF
da 4.ª Região.

● Entre ​juízes​ de direito de ​Estados diferentes​: ​STJ


Ex.: Conflito entre Juiz de Direito em Londrina (PR) e Juiz de Brusque (SC).

● Entre ​juízes federais de Regiões diferentes​: ​STJ


Ex.: Conflito entre Juiz Federal de Londrina (PR) e de Ribeirão Preto (SP).

● Entre ​Tribunais Superiores​ ou entre ​Tribunais Superiores​ e qualquer outro ​Tribunal​: ​STF

O Supremo Tribunal Federal, mediante avocatória, restabelecerá a sua jurisdição, sempre que
exercida por qualquer dos juízes ou tribunais inferiores (art. 117, CPP).

ATENÇÃO:​ ​A Jurisdição é una​, a competência não!

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RESTITUIÇÃO DE COISAS APREENDIDAS

Considerações Gerais

Nas palavras de Eugênio Pacelli, “todas as coisas e bens que puderem constituir matéria de prova de
demonstração de fato ilícito deverão ser recolhidas e apreendidas pela autoridade policial, permanecendo
à disposição dos interesses da persecução penal”.

Somente deverão permanecer apreendidas enquanto não tiverem cumprido, ainda, a finalidade a que se
destinou a apreensão: o exame de sua pertinência e do seu conteúdo probatório (OLIVEIRA, 2019, p.
317).

Momento da Restituição da Coisa Apreendida.

As coisas apreendidas não poderão ser restituídas enquanto interessarem ao processo, antes de transitar
em julgado a sentença final. Considerando que a coisa apreendida é um elemento probatório, sendo,
portanto, valorado na sentença pelo Juiz.

Coisas que não serão objetos de restituição.

● instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou
detenção constitua fato ilícito.
● produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a
prática do fato criminoso.

Obs.: Os instrumentos do crime, cuja perda em favor da União for decretada, e as coisas confiscadas
serão inutilizados ou recolhidos a museu criminal, se houver interesse na sua conservação (Art. 124 do
CPP).

Decisão de Restituição

A decisão de restituição, em regra, poderá ser proferida pela:


a) Autoridade Policial
b) Juiz

Somente caberá ao juiz decidir quando:


➢ Duvidoso o direito de restituição (pedido de restituição autuar-se-á em apartado)
➢ Coisas forem apreendidas em poder de terceiro de boa-fé (pedido de restituição autuar-se-á em
apartado).

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Participação do Ministério Público

Sobre o pedido de restituição será sempre ouvido o Ministério Público.

Dúvida sobre quem seja o verdadeiro dono.

Em caso de dúvida sobre quem seja o verdadeiro dono, o juiz remeterá as partes para o juízo cível,
ordenando o depósito das coisas em mãos de depositário ou do próprio terceiro que as detinha, se for
pessoa idônea.

Coisas Deterioráveis

Tratando-se de coisas facilmente deterioráveis, serão avaliadas e levadas a leilão público,


depositando-se o dinheiro apurado, ou entregues ao terceiro que as detinha, se este for pessoa idônea e
assinar termo de responsabilidade.

MEDIDAS ASSECURATÓRIAS

O Código de Processo Penal prevê três espécies de medidas assecuratórias para garantir a
efetiva reparação do prejuízo causado ao ofendido:
a) Sequestro​ (arts. 125 e 132, CPP);
b) Hipoteca legal​ (art. 134, CPP);
c) Arresto​ (art. 136, CPP).

Estas medidas estão condicionadas à existência de ​risco de dano na demora da entrega da


prestação jurisdicional (​periculum in mora)​ e de que há razoável probabilidade de ser acolhida a
pretensão reparatória (​fumus boni iuris​).

Se a sentença penal for ​absolutória ou houver a ​extinção da punibilidade​, estas medidas


perdem a validade (art. 141, CPP).

SEQUESTRO

Consiste na “retenção judicial da coisa, para impedir que se disponha do bem” (REIS e
GONÇALVES, p. 210, 2014). Trata-se de incidente processual cujo objetivo é a retenção dos
bens adquiridos com os proventos da infração, para garantir as obrigações civis e penais.

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Características:
● O juiz decreta o sequestro quando houver a existência de indícios veementes da
proveniência ilícita dos bens (art. 126, CPP), objetivando assegurar a instrução criminal;
● Sequestram-se bens ​imóveis​ (art. 125, CPP);
● ​ ens móveis adquiridos com o produto do crime (art.
Só serão sequestrados b
132, CPP). Bens móveis que são produtos direto do crime serão passíveis de busca e
apreensão;
● Mesmo que os bens sejam vendidos/transferidos a terceiros, podem ser alvo de
sequestro;
● Cabível em qualquer fase do processo (até antes de oferecida a denúncia ou
queixa);
● O sequestro pode ser decretado:
○ De ofício pelo juiz, hipótese em que baixará portaria e ordenará sua
autuação em apenso;
○ A requerimento do Ministério Público;
○ A requerimento do ofendido;
○ Por representação da autoridade policial.
● Autua-se o sequestro em apartado, admitindo-se embargos;
● Pode ser ​levantado​ (perde a eficácia) o sequestro quando (art. 131, CPP):
○ A ação penal não for intentada no ​prazo de 60 dias​, contado da data em
que ficar concluída a diligência;
○ O terceiro, a quem tiverem sido transferidos os bens, garantir o valor que
constitua provento auferido pelo agente com a prática criminosa;
○ For julgada extinta a punibilidade ou absolvido o réu, por sentença transitada
em julgado.
● Os bens sequestrados serão vendidos em leilão público, se não houver embargos
ou estes forem rejeitados. O valor arrecadado irá cobrir os danos ao lesado e, caso haja
saldo, será revertido ao Tesouro Nacional.

HIPOTECA LEGAL

Busca a reparação do dano causado à vítima, bem como o pagamento de eventual pena de
multa e despesas processuais, tendo a primeira preferência sobre essas duas últimas (art. 140
do CPP).

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Características:
● Diferente do sequestro, a hipoteca legal recai sobre os ​bens imóveis que foram
adquiridos de forma lícita pelo agente​.
● Impossibilita a alienação dos bens imóveis do réu;
● Utilizada para assegurar uma possível ​ação civil​ de reparação de danos;
● Especialização da hipoteca legal: inscrever a hipoteca no registro de imóveis;

● Requisitos (art. 134, CPP):


○ Certeza da infração​; e
○ Indícios suficientes da autoria​.

● Pode ser requerida durante a fase processual:


○ Pelo ofendido, seu representante legal ou herdeiros;
○ Pelo ministério público, desde que o ofendido seja pobre e requeira a
efetivação da medida, ou se houver interesse da Fazenda Pública (art. 142
do CPP).
● A hipoteca legal será ​cancelada se, por sentença irrecorrível, o réu for absolvido ou for
extinta a punibilidade.

ARRESTO

Assim como na hipoteca legal, seu objetivo é assegurar o ressarcimento do dano à vítima,
impedindo a alienação dos ​bens lícitos do agente. Utilizado quando o réu não for proprietário de
bens imóveis ou se o valor deles for insuficiente e quando não couber busca e apreensão dos
bens.
Características:
● Bens móveis​ pertencentes ao agente ou réu (art. 137, CPP);
● Arresto também pode ser de ​bens imóveis (preparatório da hipoteca legal ou “arresto
preparatório”), devendo o interessado promover o procedimento concernente ao pedido
de inscrição da hipoteca, no prazo ​de 15 dias​ (art. 136, CPP);
● Não​ são passíveis de arresto os bens móveis:
○ Que constituam produto ou provento da infração, por se sujeitarem,
respectivamente, à busca e apreensão e ao sequestro;
○ Impenhoráveis (art. 137 do CPP).
● Têm legitimidade para requerer o arresto de móveis os mesmos legitimados para a
hipoteca legal (art. 142, CPP);

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● O arresto será ​levantado ​se, por sentença irrecorrível, o réu for absolvido ou for extinta
a punibilidade.

Quadro Comparativo
Sequestro Hipoteca legal Arresto
Objeto​: bens imóveis (regra) Bens móveis; imóveis
e bens móveis adquiridos Bens imóveis (preparatório da
com proventos do crime. hipoteca legal)
Requisitos​: materialidade e
Materialidade do crime e
indícios veementes Materialidade do crime
indícios de autoria (mesmo
(aproximam da realidade) da e indícios de autoria
requisito da denúncia)
proveniência ilícita do bem.
Fase processual*** (há
Fase​: Inquérito e Fase Inquérito e Fase
entendimento de que seria
Processual Processual
possível na fase de inquérito)
Assegurar a
indenização de
natureza civil: recai
Assegurar a indenização de sobre bem móvel
Finalidade​: Expropriação de natureza civil (hipoteca): (quando não possuir
bem. Art. 91, II, “b”, do CP. recai sobre um bem bens imóveis ou o valor
adquirido licitamente. for insuficiente) e
imóvel (arresto
preparatório) adquiridos
licitamente.
O ofendido (e seu
O ofendido (e seu
procurador) ou seu
Quem pode solicitar​: juiz, de procurador) ou seu sucessor
sucessor e o MP (este
ofício; MP; ofendido (sendo e o MP (este só quando
só quando houver
ou não assistente); houver interesse da Fazenda
interesse da Fazenda
autoridade policial (mediante Pública ou quando o
Pública ou quando o
representação). ofendido for pobre e o
ofendido for pobre e o
requerer).
requerer).
Defesa​: Embargos do
Apelação para enfrentar a
acusado ou terceiro de Apelação para
decisão que concede a
boa-fé (arts. 129 e 130 enfrentar a decisão que
especialização de hipoteca
do CPP); e Apelação (art. concede o arresto.
legal.
593, II, CPP).

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APOSTILA 
 

Processo Penal - Volume 3 | 6ª ed.

Levantamento​: absolvição ou
extinção da punibilidade; não
Levantamento:
for proposta a ação penal no Cancelamento: absolvição ou
absolvição ou extinção
prazo de 60 dias; caução extinção da punibilidade.
da punibilidade.
prestada pelo terceiro em
favor da União.

INCIDENTE DE FALSIDADE

Trata-se de outra questão preliminar que pode ser verificada de ofício pelo juiz (art. 147, CPP)
ou em ​procedimento incidente (art. 145, CPP) quando uma das partes arguir, por escrito, a
falsidade de documento constante nos autos.

Para fins de instauração do incidente, não importa se a falsidade é material ou processual, se o


documento é público ou particular, pois, serve para a verificação de ​qualquer documento
(vídeo, fotografia, etc.).

Características:
● Pode ser suscitado desde o recebimento da denúncia até a sentença de primeiro grau,
pelo:
○ Réu ou querelado;
○ Ofendido (ainda que não habilitado como assistente);
○ Ministério público ou
○ Querelante.
● Quando arguido por procurador, este deve dispor de ​poderes especiais (art. 146,
CPP).

Processamento (art. 145, CPP):


i. Se deferida a arguição, o juiz mandará autuá-la em apartado, e em seguida ouvirá a
parte contrária, que, no prazo de ​48 horas​, oferecerá resposta;
ii. Assinará, o magistrado, o prazo de 3 dias, sucessivamente, a cada uma das partes,
para prova de suas alegações;
iii. Conclusos os autos, poderá o juiz ordenar as diligências que entender necessárias;

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APOSTILA 
 

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iv. Se reconhecida a falsidade por decisão irrecorrível, o juiz mandará desentranhar o


documento e remetê-lo-á, com os autos do processo incidente, ao Ministério Público,
para apuração da responsabilidade pela falsificação​.
v. Admite recurso em sentido estrito a decisão que julgar procedente ou improcedente o
incidente de falsidade (art. 581, XVIII, CPP).

Incidente de falsidade de documento

Falsidade material: é criar um documento, fazer um documento do nada ou alterar um


documento já existente. Alterar a ​forma​. Ex.: falsificar a assinatura do Prefeito.

​ onteúdo da declaração nele contida. Ex: pessoa casada


Falsidade ideológica: falsidade do c
informa ser solteira para efetuar rapidamente a venda de bem imóvel adquirido após o
casamento.

INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL

Art. 149. CPP​. ​Quando houver ​dúvida sobre a i​ ntegridade mental do acusado,​ o juiz
ordenará, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do
curador, do ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja este
submetido a exame médico-legal​.

Características:

● Dúvida fundada (relevante) sobre a capacidade mental do acusado;


● Incidente de insanidade mental pode ser instaurado em qualquer fase da investigação
ou do processo;
● Juiz ou autoridade policial pode negar a perícia médico-legal se não for necessária (art.
184, CPP);
● Será verificado o estado de saúde mental do acusado no ​momento da ação ou
omissão ​(art. 26, caput, CP);
● A decisão por meio da qual o juiz decide se instaura ou não o incidente é irrecorrível,
mas é possível impetrar ​habeas corpus​ se o indeferimento for ilegal.

ATENÇÃO: A doutrina tem entendido que o rol de legitimados para propor o


incidente de insanidade mental não é taxativo, incluindo-se os ​legitimamente
interessados​.

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APOSTILA 
 

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Processamento:
● Se for deferido o pedido de incidente de insanidade mental, o Juiz baixa ​portaria
determinando a autuação em apartado do procedimento e nomeia ​curador (podendo
ser o defensor público) ao acusado, para acompanhar os atos posteriores;
● No momento da instauração, o juiz determinará a suspensão da ação penal (as
diligências urgentes, que possam acarretar prejuízo ao processo, ainda poderão ser
realizadas) e nomeará dois peritos para realização do exame (prazo de ​45 dias para a
conclusão do laudo, podendo ser prorrogado), notificando as partes para que
apresentem quesitos;
● Se ficar comprovado:
○ Que o acusado era, ao tempo da infração, imputável​: o processo segue curso
normal;
○ Que o acusado era, ao tempo da infração, inimputável ou ​semi-imputável​: segue a
ação com interveniência do curador;
○ Que a ​doença mental ​é ​posterior ​à infração penal​: o processo continuará
suspenso até que o acusado se restabeleça (art. 152, caput, CPP), com
possibilidade de internação cautelar (art. 152, §1º, CPP), ou ocorra a prescrição;
○ Que a ​doença mental surgiu na fase de execução da pena privativa de liberdade
(art. 154, CPP): a decisão final poderá ser substituída por uma ​medida de
segurança (arts. 96 e seguintes do CP) de internação em manicômio judiciário, ou,
à falta, em outro estabelecimento adequado, onde Ihe seja assegurada a custódia
(art. 682, CPP).
● O juiz não fica restrito ao determinado no exame pericial, podendo afastar a conclusão
dos peritos, desde que fundamentadamente.

2. PRISÃO
MODALIDADES DE PRISÃO

● Civil (alimentos);
● Administrativa (disciplinar militar);
● Pena (após o trânsito em julgado);
● Processual / provisória / cautelar (antes do trânsito em julgado).

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APOSTILA 
 

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MODALIDADES DE PRISÕES PROCESSUAIS / PROVISÓRIAS / CAUTELARES

As prisões processuais possuem natureza cautelar, então servem para garantir a instrução
criminal e o trâmite adequado da ação penal. Não violam o princípio da presunção de inocência
(art. 5.º, LVII, da CF).
As prisões provisórias podem ser:
● Prisão em flagrante​ (art. 5.º, LXI, da CF; arts. 301 a 310 do CPP);
● Prisão preventiva​ (art. 311 do CPP);
● Prisão temporária​ (Lei 7.960/89).
● Prisão Domiciliar ​(Art. 317 do CPP)

ATENÇÃO: ​Prisão Especial (art. 295, CPP) é um modo de execução de uma


prisão processual/provisória.

PRISÃO EM FLAGRANTE

Prisão em flagrante é aquela que ocorre no momento da execução da infração penal. Pode ser
de três tipos:
I. Flagrante Próprio​ (art. 302, I e II, CPP): o agente está praticando a ação.
II. Flagrante Impróprio​ (art. 302, III, CPP): “perseguido logo após” a ação.
Obs.: Enquanto durar a perseguição, dura o flagrante, desde que não haja interrupção da
perseguição.
III. Flagrante Presumido (art. 302, IV, CPP): “encontrado logo após” com vestígios da
infração.

Flagrante Preparado ou Provocado: ​Súmula 145 STF​: “​Não há crime, quando a preparação do
flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação.​ ” Neste caso, o flagrante é nulo.

Flagrante Esperado: ​não há induzimento, apenas indícios de que o crime será praticado. Ex.: um
disque denúncia. A polícia, com base nos telefonemas, se prepara para prender os infratores,
mas isso dentro do exercício da atividade policial.

Flagrante Forjado: quando se cria prova de um crime inexistente para incriminar alguém.
Flagrante é nulo.

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Flagrante Prorrogado ou Diferido: ​faz parte da chamada “ação controlada”. Utilizado para
combater o crime organizado, especialmente quando se sabe que o delito ocorrerá, mas é
escolhido o momento mais adequado para se efetuar a prisão em flagrante. Flagrante válido.

Audiência de Custódia

De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), as audiências de custódia consistem na


rápida apresentação do preso a um juiz nos casos de prisões em flagrante, em uma audiência
onde também são ouvidas as manifestações do Ministério Público, da Defensoria Pública ou do
advogado do preso.

O juiz analisa a prisão sob o aspecto da legalidade, da necessidade e da adequação da


continuidade da prisão ou da eventual concessão de liberdade, com ou sem a imposição de
outras medidas cautelares. Avalia, ainda, eventuais ocorrências de tortura ou de maus-tratos,
entre outras irregularidades.

O Código de Processo Penal estabelece que após receber o auto de prisão em flagrante, no
prazo máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, o juiz deverá
promover audiência de custódia com a presença do acusado, seu advogado constituído ou
membro da Defensoria Pública e o membro do Ministério Público (Art. 310 do CPP)

Nessa audiência, o juiz deverá:


❏ relaxar a prisão ilegal;
❏ converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos constantes
do art. 312 do CPP, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares
diversas da prisão;
❏ conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.

O juiz não poderá conceder liberdade provisória ao flagranteado que:


❏ É reincidente
❏ Integra organização criminosa armada ou milícia
❏ Porta arma de fogo de uso restrito

Enseja em responsabilidade administrativa, civil e penalmente pela omissão de não realizar a


audiência de custódia, autoridade que deu causa, sem motivação idônea.

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Qual seria a consequência da não realização da audiência de custódia? a não realização de


audiência de custódia sem motivação idônea ensejará também a ilegalidade da prisão, a ser
relaxada pela autoridade competente, sem prejuízo da possibilidade de imediata decretação de
prisão preventiva (Art. 310, § 4º, do CPP).

PRISÃO PREVENTIVA

Conceito

A prisão preventiva revela a sua cautelaridade na tutela da persecução penal, objetivando


impedir que eventuais condutas praticadas pelo alegado autor e/ ou por terceiros possam
colocar em risco a efetividade da fase de investigação e do processo (PACELLI, 2019, p. 558).

Cabimento

A prisão preventiva poderá ser decretada como:


● garantia da ordem pública
● garantia da ordem econômica
● por conveniência da instrução criminal
● para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e
indício suficiente de autoria
● descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas
cautelares
● perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado

Requisitos de Admissibilidade

● crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro)
anos.
● reincidência em crime doloso, qualquer que seja o patamar de pena.
● crime que envolva violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente,
idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas
protetivas de urgência.
● havendo dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer
elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em
liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da
medida.

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Vedação da Prisão Preventiva

A prisão preventiva em nenhum caso será decretada se o juiz verificar pelas provas constantes
dos autos ter o agente praticado o fato em excludente de ilicitude (v.g., Legítima Defesa).

Outro vedação, trazida pela Lei 13.964 (pacote anticrime), diz respeito a não admissibilidade da
decretação da prisão preventiva com a finalidade de antecipação de cumprimento de pena ou
como decorrência imediata de investigação criminal ou da apresentação ou recebimento de
denúncia (Art. 313, § 2º, do CPP).

Forma de Decretação

A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão preventiva será sempre motivada pelo
Juiz de:
✓ A requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente.
✓ Representação da autoridade policial.

Obs.: Com o advento da Lei 13.964/19 (pacote anticrime), o juiz não poderá mais decretar prisão
preventiva por conta própria (de ofício), sem pedido das partes, do delegado ou do Ministério
Público.

Motivação

A regra trazida pelo Código de Processo Penal é que a decisão que decretar a prisão preventiva
deve ser motivada e fundamentada em receio de perigo e existência concreta de fatos novos ou
contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida adotada (Art. 312, § 2º, do CPP).

Não se considera uma decisão fundamentada quando o magistrado (Art. 315, § 2º, do CPP):
➔ limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua
relação com a causa ou a questão decidida;
➔ empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua
incidência no caso;
➔ invocar motivos que se prestam a justificar qualquer outra decisão;
➔ não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar
a conclusão adotada pelo julgador;

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➔ limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus


fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta
àqueles fundamentos;
➔ deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte,
sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do
entendimento

Revogação da Prisão Preventiva

O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no correr do processo, verificar a falta de motivo
para que subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.

A revogação poderá ser feita de ofício pelo juiz. Deve também o magistrado revisar a
necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada, de
ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal.

ATENÇÃO: Não existe prisão preventiva para contravenções penais, pois, a lei
exige ​CRIME​.
Não cabe prisão preventiva para ​crimes culposos​, não importam as consequências
deste crime e não importa a pena do crime.
Nos ​crimes dolosos​, deve-se analisar a pena, mas se houver reincidência, não importa a pena.

ATENÇÃO: ​Se cabe prisão preventiva, não cabe liberdade provisória.


Se desaparecerem os pressupostos da prisão preventiva, o juiz deverá ​revogá-la (art. 316,
CPP).

Prisão domiciliar​ (art. 317, CPP): pode substituir a prisão preventiva (art. 318, CPP).

PRISÃO TEMPORÁRIA

Conceito

A prisão temporária é uma espécie de prisão cautelar, exigindo, para a sua configuração, os
requisitos de toda e qualquer medida cautelar, quais sejam: o fumus boni iuris (fumus comissi
delicti) e o periculum in mora (periculum libertatis). Assim, deve-se investigar a presença desses
requisitos para a caracterização, ainda que tênue, da medida cautelar. Os requisitos não são

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idênticos aos da prisão preventiva, porém, existem e devem estar presentes para que a medida
seja decretada (RANGEL, 2019, p. 868).

Hipóteses de Cabimento

● quando imprescindível para as investigações do inquérito policial


● quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao
esclarecimento de sua identidade
● quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação
penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes.
➢ Crimes contra o Patrimônio (praticados com violência ou grave ameaça —- Roubo;
Extorsão; extorsão mediante sequestro).
➢ Sequestro ou cárcere privado
➢ Estupro
➢ Epidemia com resultado de morte
➢ Envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal
qualificado pela morte.
➢ Genocídio
➢ Tráfico de drogas
➢ Crimes contra o sistema financeiro
➢ Crimes previstos na Lei de Terrorismo.

Forma de Decretação

A prisão temporária não poderá ser decretada de ofício pelo Juiz, mas sim em face da
representação da autoridade policial ou de requerimento do Ministério Público.
Obs.: Na hipótese de representação da autoridade policial, o Juiz, antes de decidir, ouvirá o
Ministério Público.

O juiz terá um prazo de 24 (vinte e quatro) horas para decidir acerca da representação ou
requerimento de prisão temporária, sempre de forma fundamentada.

Prazo de Duração

A duração da prisão temporária será de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual período em caso de
extrema e comprovada necessidade. Decorrido o prazo de cinco dias de detenção, o preso
deverá ser posto imediatamente em liberdade, salvo se já tiver sido decretada sua prisão
preventiva.

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PRISÃO DOMICILIAR

Conceito

É uma hipótese de cumprimento da prisão preventiva em residência, fora do cárcere fechado. a


prisão domiciliar não é uma nova medida cautelar restritiva da liberdade; cuida-se, apenas, do
cumprimento da prisão preventiva em residência, de onde somente pode o sujeito sair com
autorização judicial (NUCCI, 2019, p. 818).

Cabimento

● Hipótese Genérica — O juiz somente deve autorizar a transferência ou o recolhimento do


agente quando decretada a prisão preventiva.
● Hipóteses Específicas
➢ agente maior de 80 (oitenta) anos
➢ extremamente debilitado por motivo de doença grave
➢ imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 (seis) anos ou com
deficiência;
➢ gestante
➢ mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos
➢ homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do filho de até 12 (doze)
anos de idade incompletos

Obs.: Para a substituição, o juiz exigirá prova idônea dos requisitos estabelecidos.

Prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou
pessoas com deficiência

A substituição deverá obedecer os seguintes requisitos.


● não ter cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa.
● não ter cometido o crime contra seu filho ou dependente.

ESQUEMA SIMPLIFICADO DA DECRETAÇÃO DE PRISÃO:


1)​ Supõe-se que haja um ​auto de prisão em flagrante​ (APF);
2)​ APF vai para o juiz, que analisa se é legal ou ilegal;

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3)​ Se for prisão ilegal:


3.1)​ Relaxa a prisão;
3.2)​ Antes de soltar o indiciado, o juiz verifica se é cabível a prisão preventiva;
3.2.1)​ Em cabendo preventiva, o juiz a decreta;
3.2.2)​ Não cabendo prisão preventiva, alvará de soltura.
4)​ Se for legal a prisão, o juiz tem três alternativas:
4.1) Converter em preventiva (se estiverem presentes os requisitos da preventiva e se uma
medida menos gravosa não for suficiente);
4.2)​ Aplica uma medida alternativa;
4.3)​ Concede a liberdade provisória (com ou sem fiança).

Figura ​1​ — Decretação de Prisão

MEDIDAS CAUTELARES (DIVERSAS DA PRISÃO)


A Lei 13964/2019 (pacote anticrime) inovou ao prever que o magistrado não poderá mais
decretar qualquer medida cautelar de ofício.

Assim, para que decrete uma medida cautelar é necessário provocação dos seguintes
legitimados:

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❖ Ministério Público
❖ Autoridade Policial
❖ O ofendido ou a vítima na qualidade de assistente de acusação

São medidas cautelares​ diversas da prisão​ (art. 319, CPP):


I — ​comparecimento periódico em juízo​, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para
informar e justificar atividades;
II — ​proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por
circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses
locais para evitar o risco de novas infrações;
III — ​proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante;
IV — ​proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou
necessária para a investigação ou instrução;
V — ​recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado
ou acusado tenha residência e trabalho fixos;
VI — ​suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica
ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais;
VII — ​internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência
ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável ​(art. 26 do
Código Penal)​ e houver risco de reiteração;
VIII — ​fiança​, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do
processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem
judicial;
 IX​ — ​monitoração eletrônica​.

As medidas cautelares:
● As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a requerimento das partes ou,
quando no curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial
ou mediante requerimento do Ministério Público. (art. 282, § 2.º, CPP);
● Não podem ser mais graves que a condenação posterior (art. 283, § 1.º, CPP);
● No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o juiz, mediante
requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou do querelante, poderá
substituir a medida, impor outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a
prisão preventiva, obedecidos os requisitos legais.​ ​(Art. 282, § 4.º, CPP).

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Processamento das Medidas Cautelares


❏ Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida, o juiz, ao
receber o pedido de medida cautelar, determinará a intimação da parte contrária, para se
manifestar no prazo de 5 (cinco) dias, acompanhada de cópia do requerimento e das
peças necessárias, permanecendo os autos em juízo, e os casos de urgência ou de
perigo deverão ser justificados e fundamentados em decisão que contenha elementos do
caso concreto que justifiquem essa medida excepcional. (Art. 282, § 4.º, CPP).

LIBERDADE PROVISÓRIA
Se estiverem ​ausentes os requisitos ​da prisão preventiva​, o juiz deverá conceder liberdade
provisória, embora ainda possa impor as medidas cautelares previstas no art. 319 do CPP (art.
321, CPP).

Liberdade provisória ​não​ se confunde com o ​relaxamento de prisão​ em flagrante.

LIBERDADE PROVISÓRIA RELAXAMENTO DE PRISÃO

- Pressupõe uma ​prisão legal​;


- Pressupõe ​prisão ilegal​;
- Obrigatória se não preenchidos os
- Obrigatório se houve ilegalidade na
requisitos da prisão preventiva;
prisão e não for caso de preventiva;
- Liberdade vinculada ​com ou sem
- Pessoa não fica vinculada ao juízo.
fiança​.

Existem duas modalidades de ​liberdade provisória​: ​com​ e ​sem fiança​.

FIANÇA
Art. 330, CPP​. ​A fiança, que será sempre definitiva, consistirá em depósito de dinheiro, pedras,
objetos ou metais preciosos, títulos da dívida pública, federal, estadual ou
municipal, ou em hipoteca inscrita em primeiro lugar.
§ 1.º A avaliação de imóvel, ou de pedras, objetos ou metais preciosos será feita imediatamente
por perito nomeado pela autoridade.
§ 2.º Quando a fiança consistir em caução de títulos da dívida pública, o valor será determinado
pela sua cotação em Bolsa, e, sendo nominativos, exigir-se-á prova de que se
acham livres de ônus.

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Fiança é uma forma de obtenção da liberdade onde o réu fica ​vinculado ao juízo em razão de
uma garantia que apresenta e de obrigação por ele assumida diante do juiz.

Essa garantia pode ser em ​dinheiro​, ​pedras​, ​objetos ou ​metais preciosos​, ​títulos da dívida
pública​, federal, estadual ou municipal, ou em hipoteca inscrita em primeiro lugar.

A fiança em dinheiro pode ser prestada não só pelo preso, mas por qualquer pessoa em favor
dele (art. 329, parágrafo único, CPP).

Quem pode conceder a fiança (competência):


● Delegado​ → em infrações penais de ​pena​ máxima ​não superior a 4 anos​.
● Juiz​ → nas ​demais infrações​ (exceto aquelas delimitadas no art. 323, CPP).
Infrações que​ ​não​ ​admitem a liberdade provisória mediante​ ​FIANÇA​ ​(art. 323, CPP):
● racismo;
● tortura;
● tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins;
● terrorismo;
● crimes hediondos (Lei 8.072/90);
● crimes cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático.

 Situações que não comportam​ ​fiança, independente do crime (art. 324, CPP):
● Em caso de​ prisão civil ​(prisão por alimentos);
● Em caso de​ prisão por crime militar​;
● Se estiverem presentes os​ requisitos da prisão preventiva​;
● Em caso​ ​de​ quebra de fiança​.

Quebramento de fiança: ​É o descumprimento das obrigações assumidas pelo réu nas


hipóteses dos artigos 327, 328 e 341 do CPP:

Ocorre a quebra da fiança quando o réu:


● Deixar de comparecer, sem motivo justo, a ato do processo a que tenha sido intimado;
● Mudar-se de residência sem autorização judicial ou dela ausentar-se por mais de 8 dias
sem comunicar o local onde poderá ser encontrado;
● Praticar ato para obstruir o processo;
● Resistir injustificadamente a ordem judicial;

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● Praticar nova infração dolosa;


● Descumprir medida cautelar imposta cumulativamente com a fiança.
 

ATENÇÃO: Em caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por


força de outras medidas cautelares, a prisão preventiva também poderá ser
decretada (art. 312, parágrafo único, CPP).

Consequências ao quebrar a fiança​ (art. 343 do CPP):


● Perde-se metade (1/2) do valor;
● O juiz poderá decidir por outras medidas cautelares;
● Em último caso, o juiz pode decretar a preventiva.

Cassação da fiança

Será cassada a fiança quando:


● For ​incabível​ na espécie (art. 338, CPP);
● For reconhecida a existência de ​delito inafiançável​, no caso de inovação na
classificação do delito (art. 339, CPP);
● O afiançado ​não pagar o reforço​ da fiança (art. 340, parágrafo único, CPP).

Consequência da cassação da fiança: ​Devolução do valor integral da fiança a quem houver


efetuado o seu pagamento e o recolhimento do réu à prisão.

Perdimento da fiança: ​Ocorre a perda total do valor da fiança na hipótese de, proferida a
condenação​ definitiva, o ​acusado não se apresentar para cumprir a pena​ (art. 334 do CPP).

Destino da fiança

● Réu condenado: ​o valor será utilizado para pagamento das custas, da indenização do
dano, da prestação pecuniária e da multa (art. 336 do CPP);
● Réu absolvido:​ o valor pago é devolvido integralmente (art. 337 do CPP).

LIBERDADE PROVISÓRIA SEM FIANÇA


Quando o juiz, ao receber o auto de prisão em flagrante:
● Verificar que o preso praticou o fato sob causa ​excludente de ilicitude (art. 310,
parágrafo único, do CPP);

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● Concluir pela ​inocorrência de qualquer das situações autorizadoras da ​prisão em


flagrante​ (art. 310, inc. III, c/c art. 321 do CPP);
● Perceber que o preso, por motivo de ​pobreza​, não pode prestar fiança, sujeitando-o,
então, a outras medidas cautelares (art. 350 do CPP).

3. PROCEDIMENTOS ESPECIAIS — TRIBUNAL DO JÚRI


O procedimento relativo aos crimes da competência do Tribunal do Júri (órgão de primeira
instância) é escalonado (bifásico) e será aplicado quando houver uma acusação da prática de
crime doloso contra a vida, consumado ou tentado​, e também quando existir crime comum
praticado em ​conexão​.

São 4 os crimes dolosos contra a vida (art. 74, § 1.º, CPP):


● homicídio​ (art. 121, CP);
● induzimento​, ​instigação​ ou ​auxílio a suicídio​ (art. 122, CP);
● infanticídio​ (art. 123, CP);
● aborto​ em todas as suas modalidades (arts. 124 a 127, CP), consumado ou tentado.

Exemplo de ​crime praticado em conexão com crime doloso contra a vida: homicídio (art. 121,
CP) e ocultação de cadáver (art. 211, CP). Ambos serão submetidos ao procedimento do
tribunal do júri.

PRINCÍPIOS NORTEADORES DO TRIBUNAL DO JÚRI (ART. 5.º, XXXVIII, CF/88)

● Plenitude de defesa: defesa ainda mais ampla, inclusive, as teses defensivas do réu,
mesmo que incompatíveis com as do defensor técnico, devem constar nos autos.
● Sigilo das votações: os jurados proferirão seus votos em segredo, sendo recolhidos em
local separado do público (sala secreta).
● Soberania dos veredictos: a decisão dos jurados é imperativa, não podendo ser
modificada nem mesmo pelo juiz presidente.

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CARACTERÍSTICAS DO PROCEDIMENTO DO TRIBUNAL DO JÚRI

Função jurisdicional temporária: o jurado é considerado funcionário público temporariamente


para fins penais;
Serviço obrigatório: ​a recusa injustificada de servir como jurado acarretará multa no valor de 1 a
10 salários mínimos, a critério do juiz, de acordo com a condição econômica do jurado;
Composição: o tribunal do júri é composto por ​1 (um) magistrado de carreira e, inicialmente, ​25
(vinte e cinco) juízes leigos​, dos quais serão sorteados apenas 7 para julgar a causa;
Conselho de Sentença (órgão julgador): ​formado por ​7 (sete) jurados​;
Decisão majoritária: ​alcançando 4 votos, a matéria está decidida.

Procedimento Escalonado
2 fases
● Primeira fase:​ ​Juízo de admissibilidade​ (ou ​juízo de prelibação​)
● Segunda fase:​ ​Juízo da causa​ (ou ​juízo de delibação​)

PRIMEIRA FASE (ART. 406 A 412 DA CPP)

A primeira fase do procedimento do Tribunal do Júri respeitará regras muito semelhantes


àquelas do procedimento comum ordinário (arts. 394 a 405 do CPP).

O art. 412 do CPP, entretanto, estabelece que a primeira fase do procedimento deva ser
concluída em até ​90 dias​.

Pode-se resumir a primeira fase do procedimento do júri nos seguintes atos:


I. Denúncia / queixa (rol com até 8 testemunhas);
II. Recebimento denúncia / queixa;
III.Citação;
IV.Resposta escrita (rol com até 8 testemunhas e prazo de 10 dias);
V.Réplica MP;
VI. Audiência de instrução, debates e julgamento (audiência una — art. 397, CPP).
➢ Depoimento do​ ​ofendido/vítima (se for possível)​;
➢ Inquirição das​ ​testemunhas de acusação;
➢ Inquirição das​ ​testemunhas de defesa;
➢ Realização de diligências requeridas;
➢ Esclarecimentos do perito (se requerido);
➢ Acareações (se for o caso);

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➢ Reconhecimento de pessoas e coisas (se for o caso);


➢ Interrogatório do réu;
➢ Alegações finais — da acusação (20 minutos + 10 minutos);
➢ Alegações finais — da defesa (20 minutos + 10 minutos);
➢ Decisão:
● Pronúncia OU
● Impronúncia OU
● Absolvição sumária OU
● Desclassificação.

Ao final da primeira fase do rito do tribunal do júri, o juiz tomará uma das seguintes decisões: de
pronúncia​, de ​impronúncia​, de ​absolvição sumária​ ou de ​desclassificação​.

PRONÚNCIA

É a decisão interlocutória de natureza mista ​não terminativa que julga ​admissível a acusação
perante o tribunal do júri. É por meio da decisão de pronúncia que se encaminha o réu a
julgamento popular. Então, ​se o réu for a júri é porque ele foi​ ​pronunciado​.

Requisitos da Pronúncia:
Indícios suficientes de​ autoria​ e ​materialidade​.

Lembrete​: a decisão de pronúncia não condena nem aplica a pena, apenas admite que estão
presentes os requisitos de autoria e materialidade.

Nesta fase do tribunal do júri, não vigora o princípio “​in dubio pro reo​”, mas o “​in dubio pro
societate​” (“na dúvida, em favor da sociedade”).

O ​excesso de eloquência acusatória (ênfase da acusação que possa influenciar os jurados),


caso fique constatado, acarretará nulidade da sentença.

Efeitos da decisão de pronúncia:


● Determina que o réu será submetido ao julgamento no plenário do Júri (Conselho de
Sentença);
● Interrompe o prazo prescricional (art. 117, II, CP);
● Limitar a acusação em plenário (Art. 413, § 1.º, do CPP).
○ Exemplo: o réu é acusado de um homicídio simples. A pronúncia jamais poderia
ser por homicídio qualificado.

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Contra a decisão de pronúncia cabe ​recurso em sentido estrito​ (art. 581, IV, CPP).

IMPRONÚNCIA (ART. 414 DO CPP)

É a decisão interlocutória de natureza mista ​terminativa​, proferida quando estiverem ausentes os


indícios de autoria ou materialidade, acarretando no ​fim do processo​.

Ao impronunciar o réu, este não é absolvido, podendo ser processado novamente se emergirem
novas provas (art. 414, parágrafo único, CPP).

Nos casos de crimes em ​conexão​, se o juiz impronunciar o acusado, de maneira que exclua a
competência do júri, remeterá o processo ao juízo competente (art. 81, parágrafo único, CPP).

Contra a decisão de impronúncia cabe recurso de ​apelação​ (art. 416, CPP).

ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA

É decisão ​definitiva de mérito​, devendo o juiz absolver o acusado quando verificar uma das
hipóteses do art. 415 do CPP:
● Se houver prova da ​inexistência do fato​;
● Se ficar comprovado que o ​réu não foi autor ou partícipe​ do fato;
● Se o fato ​não constituir infração penal​;
● Se ficar demonstrada causa de ​isenção de pena ​(art. 21, 22 e 26, CP) ​ou de exclusão
do crime​ (art. 23, CP).
a. Causas de exclusão do crime.
i. legítima defesa;
ii. estado de necessidade;
iii. exercício regular de direito;
iv. cumprimento do dever legal.
b. Causas que excluam a culpabilidade:
i. coação moral irresistível;
ii. obediência hierárquica;
iii. embriaguez completa;
iv. caso fortuito ou força maior;
v. Inimputabilidade*

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*ATENÇÃO: Não será absolvido sumariamente o réu quando a ​inimputabilidade por doença
mental ​NÃO for a única tese defensiva​. Portanto, o réu será sumariamente absolvido por
doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, se não existir outra tese
defensiva (art. 415, parágrafo único, CPP).

Contra a decisão de absolvição sumária do réu cabe recurso de ​apelação​ (art. 416, CPP).

DESCLASSIFICAÇÃO (ART. 419 DO CPP)

É ​decisão interlocutória simples​, na qual o juiz se convence, discordando da acusação, da


inexistência de crime doloso contra a vida. O magistrado, então, remeterá os autos ao juiz
competente (se não o for), sem capitular a infração.

Contra a decisão de desclassificação cabe ​recurso em sentido estrito​ (art. 581, II, CPP).

SEGUNDA FASE

A segunda fase do procedimento do Tribunal do Júri ocorrerá quando o acusado for pronunciado
e tal decisão transitar em julgado, iniciando-se, assim, o juízo da causa.

PREPARAÇÃO PARA O JULGAMENTO EM PLENÁRIO

O presidente do Tribunal do Júri receberá os autos e determinará a intimação do órgão do


Ministério Público ou do querelante, no caso de queixa, e do defensor, para, no ​prazo de 5 dias​,
apresentarem rol de ​testemunhas até o máximo de 5​, oportunidade em que poderão juntar
documentos e requerer diligência (art. 422, CPP).

O acusado será intimado, em regra, ​pessoalmente (art. 420, I, CPP), mas, se estiver solto e não
for localizado, será intimado por edital (art. 420, parágrafo único, CPP), com prazo de 15 dias
(arts. 370 e 361 do CPP), sem qualquer prejuízo para o prosseguimento do feito;
O ​defensor dativo​ será intimado pessoalmente (art. 420, I, CPP);
O ​defensor constituído​, o querelante e o assistente serão intimados pela imprensa;
O ​Ministério Público​ será sempre intimado pessoalmente.

Tendo manifestado-se a defesa e a acusação, o juiz deliberará sobre os requerimentos de


provas a serem produzidas ou exibidas no plenário do júri, e adotará as seguintes providências
(art. 423, CPP):

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● Ordenará as diligências necessárias para sanar qualquer nulidade ou esclarecer fato que
interesse ao julgamento da causa;
● Fará relatório sucinto do processo, determinando sua inclusão em pauta da reunião do
Tribunal do Júri.

DESAFORAMENTO (ARTS. 427 E 428 DO CPP)

É a possibilidade de se ​deslocar o julgamento do Tribunal do Júri para outra comarca da


mesma região, quando houver:

● Interesse da ordem pública: risco para a paz social;


● Dúvida sobre a imparcialidade do juiz: favoritismo ou perseguição;
● Risco à segurança pessoal do acusado;
● Excesso de serviço que impossibilite a realização do julgamento em até 6 meses após o
trânsito em julgado da decisão de pronúncia: nã​o serão computados os adiamentos ou
diligências e incidentes de interesse da defesa.

Podem requerer o desaforamento:


● MP;
● Assistente de acusação;
● Querelante;
● Acusado;
● Juiz competente (exceto se o motivo alegado for o excesso de serviço — art. 427, ​caput​,
CPP).

ATENÇÃO: ​A decisão que determina o desaforamento de processo da competência


do júri ​sem audiência da defesa​ é nula (Súmula 712 do STF).

ALISTAMENTO DOS JURADOS (ARTS. 425 E 426 DO CPP)

Todos os anos as varas devem fazer indicações de pessoas que possam ser juradas. O número
de jurados varia segundo o número de habitantes de cada comarca (art. 425, CPP).

Lista de Jurados

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A ​lista geral dos jurados, com indicação das respectivas profissões, será publicada até o dia 10
de outubro de cada ano e divulgada em editais afixados à porta do Tribunal do Júri (art. 426,
caput,​ CPP). Até o dia 10 de novembro a lista poderá ser alterada.

Fica ​excluído da lista o jurado que tiver integrado o Conselho de Sentença nos ​12 meses
anteriores (art. 426, § 4.º, CPP).

A lista geral de jurados será completada anualmente (art. 426, § 5.º, CPP).

Jurados

Para ser ​jurado é preciso​:


● Ser brasileiro nato ou naturalizado;
● Ser maior de 18 anos;
● Estar no exercício de seus direitos políticos;
● Ter notória idoneidade;
● Residir na comarca do julgamento;
● Ser alfabetizado;
● Dispor de plena capacidade mental.

Estão ​isentos do serviço do júri​ (art. 437, CPP):


● O Presidente da República e os Ministros de Estado;
● Os Governadores e seus respectivos Secretários;
● Os membros do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas e das Câmaras
Distrital e Municipais;
● Os Prefeitos;
● Os Magistrados e membros do Ministério Público e da Defensoria Pública;
● Os servidores do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública;
● As autoridades e os servidores da polícia e da segurança pública;
● Os militares em serviço ativo;
● Os cidadãos maiores de 70 (setenta) anos que requeiram sua dispensa;
● Aqueles que o requererem, demonstrando justo impedimento.

Não​ podem ser jurados​ (art. 449, CPP):


Se tiver funcionado em julgamento anterior do mesmo processo, independentemente da causa
determinante do julgamento posterior;
Se, no caso do concurso de pessoas, houver integrado o Conselho de Sentença que julgou o
outro acusado;
Se tiver manifestado prévia disposição para condenar ou absolver o acusado.

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SORTEIO DOS JURADOS

Dentre os jurados alistados, ​25 (vinte e cinco) serão sorteados para a reunião periódica​.
Destes, ​7 (sete) constituirão o Conselho de Sentença em cada sessão de julgamento (art.
447, CPP).
Antes do sorteio dos membros do Conselho de Sentença, o juiz esclarecerá sobre os
impedimentos​, a ​suspeição e as ​incompatibilidades constantes dos arts. 448 e 449 do CPP (art.
446, CPP). O juiz presidente também advertirá os jurados de que, uma vez sorteados, não
poderão comunicar-se entre si e com outrem sobre o processo (art. 466, § 1.º, CPP).

Para que sejam instalados os trabalhos, basta o ​comparecimento de 15 jurados​, contados


neste número os excluídos por impedimento ou suspeição (art. 463, CPP).

Recusas peremptórias ​(art. 468, CPP): trata-se da possibilidade, tanto da defesa quanto do
MP, de recusar, sem justificativa, até 3 jurados cada.

Após a formação do Conselho de Sentença, os jurados prestarão o ​compromisso de examinar a


causa com imparcialidade (art. 472, ​caput,​ do CPP) e será iniciada a instrução plenária (art. 473,
caput,​ CPP).

Então:
● Composição do Tribunal do Júri: ​1 juiz togado (juiz presidente) e ​25 jurados (juízes
leigos), dos quais 15 devem estar presentes.
● Composição do Conselho de Sentença:​ ​7 jurados​.

INSTRUÇÃO EM PLENÁRIO

A instrução probatória em plenário, iniciando pelos questionamentos do ​juiz presidente e,


posteriormente, pelo ​Ministério Público​, ​assistente de acusação​, ​querelante​, ​defensor e ​jurados​,
se estes tiverem questionamentos (art. 473 do CPP), observará a seguinte ordem:

● Inquirição da vítima (se possível);


● Inquirição das testemunhas de acusação;
● Inquirição das testemunhas de defesa;
● Acareações;
● Reconhecimento de pessoas e coisas;
● Esclarecimento dos peritos, se requeridos pelas partes ou jurados (art. 473, § 3.º, CPP);

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● Leitura de peças referentes às provas colhidas por carta precatória e às provas


cautelares, antecipadas e não repetíveis, também a requerimento das partes ou jurados
(art. 473, § 3.º, CPP);
● Interrogatório do réu (art. 474, ​caput​ e § 1º, CPP).

LEMBRETE​: os jurados deverão formular perguntas por intermédio do juiz presidente (art. 474, §
2º, CPP).

ATENÇÃO: O ​uso de algemas no acusado não é permitido enquanto estiver no


plenário do júri, salvo se absolutamente necessário à ordem dos trabalhos, à
segurança das testemunhas ou à garantia da integridade física dos presentes (art.
474, § 3º, do CPP e Súmula Vinculante n.º 11).

DEBATES

Quando for encerrada a etapa de coleta da prova, seguem-se os ​debates​, nesta ordem:
● Acusação (art. 476, ​caput e § 1º, CPP): O ​MP tem 1h30min (​uma hora e meia​) para
produzir a acusação, nos limites da pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram
admissível a acusação, sustentando, se for o caso, a existência de circunstância
agravante.
○ Tratando-se de ação penal privada subsidiária da pública, o querelante se
manifestará antes do MP, salvo se este tiver retomado a titularidade da ação (art.
476, § 2º, CPP).
● Defesa (art. 476, § 3º, CPP): finda a acusação, a defesa terá 1h30min para se pronunciar
e rebater as teses apresentadas pela acusação.
● Réplica ​(art. 477, ​caput,​ CPP): assim que a defesa concluir sua exposição, pode o MP
retomar a palavra para réplica por ​1 hora​. Mesmo que o MP não utilize esta faculdade,
pode o assistente da acusação fazer uso da palavra.

Tréplica ​(art. 477, ​caput​, CPP): só é possível fazer uso da tréplica se a acusação tiver replicado.

Debates 1 réu Mais de 1 réu


Acusação Até 1h30min 2h30min
Defesa Até 1h30min 2h30min
Réplica 1h 2h
Tréplica 1h 2h

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No decorrer dos debates será permitida às partes a reinquirição de testemunha já ouvida em


plenário (art. 476, § 4º, do CPP).

Apartes​: são as ​intervenções que uma parte faz durante a exposição do oponente. Para não
haver prejuízo, essas interferências não poderão perdurar mais que 3 (três) minutos, que serão
acrescidos ao tempo de exposição da parte que tem a palavra (art. 497, XII, do CPP).

As partes e os jurados (por intermédio do juiz) podem, a qualquer momento, pedir ao orador que
indique a folha dos autos onde se encontra a peça por ele lida ou citada. Aos jurados, ainda
é facultado ​solicitar o esclarecimento​ de fato alegado pelo orador (art. 480, ​caput​, CPP).

Caso reste algum ​fato essencial para o julgamento, mas cuja verificação dependa da realização
de diligência que não possa ser efetuada de imediato, o juiz presidente, então, ​dissolverá o
Conselho​ e determinará a ​produção da prova​ (art. 481, ​caput​, CPP).

Nulidades nos debates

Durante os debates é ​proibido às partes, sob pena de nulidade, fazer referências (art. 478 do
CPP):
● À decisão de pronúncia;
● Às decisões posteriores que julgaram admissível a acusação;
● À determinação do uso de algemas;
● À utilização do direito ao silêncio;
● À ausência de interrogatório por falta de requerimento.

QUESITOS E VOTAÇÃO

Findos os debates, e se os jurados já se sentirem habilitados a julgar o acusado, inicia-se a fase


de elaboração dos ​quesitos​. O Conselho de Sentença, então, será questionado sobre matéria
de fato e se o acusado deve ser absolvido (art. 482, CPP). Se houver mais de um réu, os
questionários serão individuais e em séries distintas (art. 483, § 6º, CPP).

Os quesitos serão redigidos em ​proposições afirmativas​, ​simples e ​distintas​, de modo que cada
um deles possa ser respondido com suficiente clareza e necessária precisão, indagando-se, na
seguinte ordem:

● Sobre a ​materialidade​ do fato;


● Sobre a ​autoria​ ou ​participação​;

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● Se o ​acusado deve ser absolvido​;


● Se existe ​causa de diminuição de pena​ alegada pela defesa;
● Se existem ​circunstâncias qualificadoras ou ​causas de aumento de pena
reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a
acusação.

Se ​mais de 3 jurados responderem ​negativamente quanto à ​materialidade e autoria​,


encerra-se a votação e o ​acusado é absolvido​ (art. 483, § 1º, CPP).

ATENÇÃO: A ​falta de quesito obrigatório acarreta ​nulidade absoluta do processo


(Súmula 156 do STF).

Não havendo dúvidas no final do questionário, o juiz, os jurados, o MP, o assistente, o


querelante, o defensor, o escrivão e o oficial de justiça dirigir-se-ão à sala especial para proferir
a votação (art. 485, ​caput​, CPP). Após a verificação dos votos, não havendo contradição com
respostas de outros quesitos, o presidente encerrará a votação (art. 491, CPP) e proferirá a
sentença​.

SENTENÇA DO TRIBUNAL DO JÚRI

Após a decisão do Tribunal do Júri, o magistrado indicará o resultado e adotará uma das
seguintes providências:

Quando o Júri decidir pela ​condenação ​(art. 492, I, CPP):


O juiz presidente fixará a pena-base, considerará a aplicabilidade das agravantes e atenuantes
suscitadas nos debates, aumentará ou diminuirá a pena, dependendo do que decidiram os
jurados, verificará se estão presentes os requisitos da prisão preventiva para deliberar sobre a
segregação do condenado, estabelecerá os efeitos genéricos e específicos da condenação,
observará as demais disposições do art. 387 do CPP;

Quando o Júri decidir pela ​absolvição ​(art. 492, II, CPP):


O juiz presidente mandará colocar em liberdade o acusado se por outro motivo não estiver
preso, revogará as medidas restritivas provisoriamente decretadas ou imporá, no caso de
absolvição imprópria, a medida de segurança cabível.

Quando houver ​desclassificação para infração de competência do juízo singular (art. 492, § 1º,
CPP):

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Havendo a desclassificação para delito de menor potencial ofensivo, o juiz aplicará as regras do
art. 69 e seguintes da Lei n. 9099/95 (art. 492, § 1º, do CPP). Se, por outro lado, o crime tiver
sido desclassificado para delito que não seja doloso contra a vida, o juiz presidente julgará o
crime conexo, se houver (art. 492, § 2º, CPP).

SAIBA QUE: A decisão dos jurados pode ser anulada quando manifestamente contrária aos
autos.

4. NULIDADES
Nulidade é um vício proveniente da inobservância de uma norma processual que pode invalidar
o processo no todo ou em parte.

É possível classificar os atos viciados em:


● Atos irregulares:​ não causam prejuízo ao andamento do processo.
Exemplo​: MP não encaminha documentos no prazo.

● Atos inexistentes: não existem no mundo jurídico, portanto, ignora-se tudo aquilo que
for praticado em sequência.
Exemplo​: sentença assinada por pessoa que não é juiz.

● Nulidades relativas: são vícios sanáveis que só podem ser arguidos pelas PARTES se
houver ​comprovado prejuízo​. As nulidades relativas têm momento oportuno para serem
arguidas, sob pena de serem convalidadas (preclusão temporal).

● Nulidades absolutas: são vícios de interesse público, nos quais o ​prejuízo é presumido​.
Por não se convalidarem com o tempo, as nulidades absolutas podem ser alegados por
qualquer das partes, pelo juiz ou pelo Tribunal a qualquer momento, inclusive após o
trânsito em julgado (desde que não seja sentença absolutória).

Os casos de nulidade previstos no ​art. 564 do CPP​ são exemplificativos:


I —​ Por incompetência, suspeição ou suborno do juiz:

● Incompetência territorial: ​nulidade relativa​.


● Incompetência em razão da matéria, funcional ou por prerrogativa de função: ​nulidade
absoluta​.
● Suspeição ou suborno do juiz: ​nulidade absoluta​.

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● Impedimento do juiz: ​ato inexistente​.

II — ​Por ilegitimidade de parte:

● Ilegitimidade​ ad causam​ (réu ou autor não são legitimados): ​nulidade absoluta​.


● Ilegitimidade a​ d processum​ (falta de capacidade postulatória): ​nulidade relativa​.

III -​ Por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:

● A falta da denúncia ou a queixa e a representação e, nos processos de contravenções


penais, a portaria ou o auto de prisão em flagrante: ​nulidade absoluta​.
● A falta do exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios (ou prova
testemunhal, caso não haja mais vestígios): ​nulidade absoluta​.
● A falta de nomeação de defensor ao réu presente, que o não tiver, ou ao ausente, e de
curador ao menor de 18 anos: ​Súmula 523 do STF​: “No processo penal, a falta da defesa
constitui ​nulidade absoluta​, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de
prejuízo para o réu.”
● A falta intervenção do Ministério Público em todos os termos da ação por ele intentada e
nos da intentada pela parte ofendida, quando se tratar de crime de ação pública: ​nulidade
relativa (art. 572, CPP)​.
● A falta ou nulidade de citação do réu para se ver processar, o seu interrogatório, quando
presente, e os prazos concedidos à acusação e à defesa:
○ Se prejudicar a defesa do acusado: ​nulidade absoluta​;

Se o acusado comparecer antes de o ato consumar-se (art. 570, CPP): ​nulidade relativa​.
● A falta da sentença de pronúncia, com o rol de testemunhas, nos processos perante o
Tribunal do Júri: ​nulidade absoluta​.
● A falta de intimação do réu para julgamento no Júri: ​nulidade absoluta​.

ATENÇÃO: O julgamento não será adiado pelo não comparecimento do acusado


solto, do assistente ou do advogado do querelante, que tiver sido regularmente
intimado (art. 457, ​caput​, do CPP).

● Não estando presentes, pelo menos, 15 jurados para a constituição do júri: ​nulidade
absoluta​.
● A falta ou irregularidade no sorteio dos jurados do conselho de sentença em número legal
e sua incomunicabilidade: ​nulidade absoluta​.
● Erro na elaboração dos quesitos e incompatibilidade nas respectivas respostas: ​nulidade
absoluta​;

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● A falta das figuras da acusação e a da defesa, na sessão de julgamento: ​nulidade


absoluta​.
● A falta de sentença: ​nulidade absoluta​.
● Se faltar recurso de ofício, nos casos em que a lei o tenha estabelecido: é ​inexistente a
certidão de trânsito em julgado. ​Súmula 423 do STF​: “Não transita em julgado a sentença
por haver omitido o recurso “​ex officio​”, que se considera interposto “​ex lege”​ .
● A falta de intimação, nas condições estabelecidas pela lei, para ciência de sentenças e
despachos de que caiba recurso: ​nulidade absoluta​.
● Falta, no Supremo Tribunal Federal e nos Tribunais de Justiça, do ​quorum legal para o
julgamento: ​nulidade absoluta​.

IV -​ Por omissão de formalidade que constitua ​elemento essencial do ato​: ​nulidade absoluta​.

Nulidade Absoluta Nulidade Relativa


O prejuízo é evidente, presumido, O prejuízo precisa ser demonstrado.
axiomático.
Decorre da violação de norma Decorre da violação da norma
processual Constitucional. processual Infraconstitucional.
Pode ser reconhecida a qualquer tempo, Deve ser arguida no momento oportuno
até mesmo após o trânsito em julgado de (art. 571, CPP), sob pena de preclusão.
sentença penal condenatória.

PRINCÍPIOS QUE NORTEIAM AS NULIDADES

● Princípio do prejuízo (art. 563, CPP);

“Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para a acusação
ou para a defesa”. Trata-se do princípio “​pos nulitè sans grièf​”, ou seja, se não houver
prejuízo, não há nulidade. Nas nulidades absolutas, o prejuízo é presumido.
● Princípio da não preclusão;

As nulidades ​absolutas podem ser arguidas por qualquer das partes, inclusive pelo juiz
ou Tribunal, a qualquer tempo.

● Princípio da instrumentalidade ou economia processual (art. 566, CPP, 572, CPP);

A forma não é obstáculo intransponível no processo penal, não sendo declarada a


nulidade de ato que não prejudique a verdade substancial ou a decisão da causa.

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● Princípio da causalidade (art. 573, § 1º, CPP);

A declaração de nulidade (vício) de um ato processual acarreta a nulidade de todos os


seus consequentes.

● Princípio do interesse (art. 565, CPP);

Não se alega nulidade relativa que só interesse à parte contrária.

● Princípio da convalidação (art. 571 e 572, I, CPP).

Se as nulidades relativas não forem arguidas no momento adequado, serão consideradas


sanadas.

5. Recursos
Conceito de Recurso

Recurso é um instrumento jurídico processual destinado a correção de defeitos de uma decisão


ou da injustiça da decisão.

Guilherme de Souza Nucci,conceitua recurso ​“como o direito que possui a parte, na relação
processual, de se insurgir contra as decisões judiciais, requerendo a sua revisão, total ou parcial,
em instância superior”.​

É possível ocorrer a revisão de uma decisão na instância inferior, ​v.g.​, no caso de embargos de
declaração.

● Obs.: Existe uma corrente minoritária na doutrina que entende não ser correto classificar
recurso como “instrumento processual voltado ao mesmo órgão prolator da decisão, para
que a reveja ou emende” (v.g., NUCCI, 2020, p. 536).

Características Fundamentais dos Recursos

1. Voluntariedade - ​Os recursos, em regra, serão voluntários (Art. 574 do CPP). Isto é: “​a
sua interposição depende, exclusivamente, do desejo da parte de contrariar a decisão
proferida”​ (​NUCCI, 2020, p. 537)​.

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2. Tempestividade ​- Os recursos deverão ser apresentados dentro do prazo legal, sob pena
de inadmissibilidade.
3. Taxatividade - O recurso deve estar previsto em Lei. Não existe recurso por mera
vontade das partes, mas sim por força ​ex lege​.

Efeitos dos Recursos

Basicamente, existem ​três​ efeitos recursais:

● Efeito Devolutivo - É a regra geral. Permite que o tribunal superior reveja integralmente a
matéria controversa, sobre a qual houve o inconformismo (NUCCI, 2020).
● Efeito Suspensivo​ - É exceção. Impede que a decisão produza consequências desde
logo (NUCCI, 2020).
● Efeito Regressivo - consiste na devolução ao mesmo órgão prolator da decisão a
possibilidade de seu reexame, v.g., ​Embargos de Declaração​. (NUCCI, 2020).

Desistência e Renúncia ao Direito de Recorrer

● Renúncia - é considerado um ​fato impeditivo do direito de recorrer. Nas palavras de


Norberto Avena, “​a renúncia do direito à interposição recursal consiste na manifestação
de vontade da parte, realizada antes da interposição do recurso, no sentido de abrir mão
desta faculdade, antecipando o trânsito em julgado da decisão judicia​l”.
● Desistência - é considerado um ​fato extintivo do direito de recorrer​. Ainda nas lições de
Avena, “​é a manifestação de vontade do recorrente, depois de ter interposto seu recurso,
no sentido do desinteresse no seguimento, processamento e julgamento​”.

Obs1.: ​A renúncia é irretratável (não pode voltar atrás). Já desistência é retratável, somente
dentro da fluência do prazo recursal.

Obs2.:​ O Ministério Público não poderá desistir de recurso que haja interposto (Art. 576 do CPP)

Espécies de Recursos Criminais

● Recurso de Apelação
● Recurso em Sentido Estrito (RESE)
● Embargos de Declaração
● Embargos Infringentes e de Nulidade

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● Carta Testemunhável

5.1. Recurso de Apelação

1 Hipóteses e Efeitos da Apelação

Hipótese Exemplo Efeito

Sentença Absolutória Própria Sentença que absolve o réu apelação da sentença


com fundamento no Art. 386 absolutória própria não possui
do CPP. efeito suspensivo

Sentença Absolutória Sentença que impõe Medida apelação da absolvição


Imprópria de Segurança imprópria possui efeito
suspensivo (Art. 597 do
CPP)

Sentença Condenatória Sentença que condena o réu apelação da sentença


pelo crime de Roubo condenatória ​sempre
suspende a execução da
pena (Art. 597 do CPP)

Decisões Interlocutórias É o caso da impronúncia, que não possui efeito suspensivo


Mistas Terminativas (quando implica extinção do processo
não for o caso de RESE)

Decisões Interlocutórias Rejeição da Defesa não possui efeito suspensivo


Mistas não Terminativas Preliminar nos Processos de
(quando não for o caso de Julgamento de Crimes
RESE) Funcionais

2 - Prazos

● Crime​ - 05 (cinco) dias de prazo para interposição de recurso + 08 (oito) dias de prazo
para razões recursais
● Contravenção​ - 05 (cinco) dias de prazo para interposição de recurso + 03 (três) dias de
prazo para razões recursais.

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● Assistente de Acusação​ - Em caso de inércia do MP, o prazo para interposição desse


recurso será de quinze dias e correrá do dia em que terminar o do Ministério Público.

3 - Tramitação

1. I​nterposição da Apelação (Prazo do 05 dias)​ - O apelante poderá escolher apresentar


as razões recursais em juízo no prazo de 08 dias.
2. Remessa dos Autos à Instância Superior ​- Findos os prazos para razões, os autos
serão remetidos à instância superior, com as razões ou sem elas, no prazo de 5 (cinco)
dias
3. O Tribunal ou turma julgará a Apelação
4. Após, ordenará a descida dos autos para que se cumpra a Decisão da Apelação​.

4 - Súmulas (Apelação)

● Súmula 347 do STJ: O conhecimento de recurso de apelação do réu independe de sua


prisão.
● Súmula 705 do STF​: A renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada sem a
assistência do defensor, não impede o conhecimento da apelação por este interposta.

5.2. Recurso em Sentido Estrito

Hipótese Observações Efeito

Decisão que ​não​ receber a ● Notar que se refere à Efeito Devolutivo e


denúncia ou a queixa decisão que NÃO Regressivo (o juiz pode
recebe a denúncia ou mudar sua decisão)
a queixa.
● Súmula 709 do
Supremo Tribunal
Federa​l: “​salvo quando
nula a decisão de
primeiro grau, o
acórdão que provê o
recurso contra a
rejeição da denúncia
vale, desde logo, pelo
recebimento dela​”

Decisão que que concluir pela ● Notar que se refere à Efeito Devolutivo e
in​competência do juízo decisão que conclui Regressivo (o juiz pode

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pela INcompetência do mudar sua decisão)


juízo.
● não se refere ao
julgamento de exceção
de incompetência, mas
sim da decisão do
magistrado que, ex
officio, conclui no
sentido da
incompetência do juízo
(AVENA, 2019)
● Súmula 33 do STJ -“​a
incompetência relativa
não pode ser
declarada de ofício”​

Decisão que que julgar Quais são as exceções no Efeito Devolutivo e


procedentes​ as exceções, CPP Regressivo (o juiz pode
salvo a de suspeição​; mudar sua decisão)
● suspeição;
● incompetência de
juízo;
● litispendência;
● ilegitimidade de parte;
● coisa julgada.

Quando o julgamento for


procedente entende a
jurisprudência dominante ser
cabível a impetração de
habeas corpus.

Decisão que pronunciar o réu ● A decisão que Efeito Devolutivo e


pronunciar o réu Regressivo (o juiz pode
caberá Apelação. mudar sua decisão)

Obs.: ​O recurso da pronúncia


suspenderá tão-somente o
julgamento

Decisão que ​conceder,​ ​negar,​ ● Se refere a medidas ● No casos de perda da


arbitrar​,​ cassar​ ou​ julgar cautelares fiança terá o efeito
inidônea​ a fiança, indeferir suspensivo.
requerimento de prisão

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preventiva ou revogá-la,
conceder liberdade provisória
ou relaxar a prisão em
flagrante;

Decisão que julgar quebrada ● O recurso do despacho


a fiança ou perdido o seu que julgar quebrada a
valor fiança ​suspenderá
unicamente o efeito de
perda da metade do
seu valor.

Decisão que decretar a Trata-se de decisão Efeito Devolutivo e


prescrição ou julgar, por outro interlocutória mista Regressivo (o juiz pode
modo, extinta a punibilidade terminativa, pois extingue o mudar sua decisão)
procedimento antes da fase
sentencial (AVENA, 2019)

Decisão que ​conceder​ ou Trata-se de decisões Efeito Devolutivo e


negar​ a ordem de habeas interlocutórias mistas Regressivo (o juiz pode
corpus terminativas, pois, uma vez mudar sua decisão)
transitadas em julgado,
acarretam a extinção do
processo de habeas corpus
deduzido pelo impetrante
(AVENA, 2019).

Decisão que anular o ● Se a decisão for Efeito Devolutivo e


processo da instrução indeferindo a Regressivo (o juiz pode
criminal, no todo ou em parte anulação, será cabível mudar sua decisão)
HC.

Decisão que incluir jurado na ● Lista do art. 426, § 1º, Efeito Devolutivo e
lista geral ou desta o excluir do CPP Regressivo (o juiz pode
mudar sua decisão)

Decisão ​que denegar a ● Nas palavras de Efeito devolutivo, regressivo e


apelação ou a julgar deserta Norberto Avena, “​A suspensivo.
apelação será
denegada (ou não
recebida) pela
ausência dos
pressupostos recursais
objetivos e subjetivos
que compõem a sua

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admissibilidade. Por
outro lado, será
julgada deserta por
falta de preparo
(quando se tratar de
apelação intentada
pelo querelante)”​

Decisão que ordenar a ● Arts. 92 a 94 do CPP Efeito Devolutivo e


suspensão do processo, em Regressivo (o juiz pode
virtude de questão prejudicial mudar sua decisão)

Decisão que decidir o ● Nas palavras de Efeito Devolutivo e


incidente de falsidade Norberto Avena, “​É Regressivo (o juiz pode
cabível a interposição mudar sua decisão)
de recurso em sentido
estrito, tanto na
hipótese de
procedência como no
caso de improcedência
do incidente de
falsidade documental”​ .

Decisão que que recusar ● acordo de não Efeito Devolutivo e


homologação à proposta de persecução penal foi Regressivo (o juiz pode
acordo de não persecução introduzido pela Lei mudar sua decisão)
penal pela Lei nº 13.964, de
2019 (Pacote
Anticrime)

2 - Prazos

● O recurso em sentido estrito (RESE) poderá ser interposto ​no prazo de cinco dias​.
● No caso de incluir jurado na lista geral ou desta o excluir, o prazo de interposição será o
será de vinte dias​, contado da data da publicação definitiva da lista de jurados.
● O prazo para o oferecimento das razões recursais será de ​dois dias​.

3 - Procedimento

Utilizando-se das lições do professor Norberto Avena, tem-se o seguinte procedimento


esquematizado do RESE:

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1. Interposto o recurso no prazo de cinco dias, serão os autos conclusos ao juiz para
verificação de sua admissibilidade.
2. O juiz receberá a inconformidade, notificando-se as partes – primeiro recorrente, depois o
recorrido – para apresentação de razões e contrarrazões, respectivamente, cada qual no
prazo de dois dias (Art. 588 do CPP).
3. Apresentados ou não esses arrazoados, retornará o recurso ao juiz para o juízo de
retratação (art. 589, caput, do CPP).
4. Não se retratando, deverá o juiz encaminhar o recurso ao juízo ad quem para julgamento.
5. Retratando-se, terá sido alcançado o resultado prático desejado, esgotando-se aí, em
princípio, a tramitação do RESE.
6. A parte prejudicada com a nova decisão provocada pela retratação do magistrado poderá
não se conformar com essa solução, exsurgindo-se daí duas possibilidades: a) requerer a
remessa do recurso já processado à instância superior; b) recurso prejudicado (se a nova
decisão do juiz não couber RESE, ​v.g​., improcedência de exceção).

5.3. Embargos de Declaração

a) Conceito

Definem-se como o instrumento facultado às partes visando à integração (não à substituição) de


decisões judiciais, sejam estas acórdãos, sentenças ou decisões interlocutórias (AVENA, 2019).

b) Cabimento

Ambiguidade​ - A sentença ou decisão permite uma duplicidade de interpretações.

Obscuridade​ - A sentença ou decisão não reflete a realidade dos fatos.

Omissão​ - A sentença ou decisão é omissa em relação a determinado ponto que deveria


enfrentar.

Contradição - A sentença ou decisão é contraditória, ​v.g.​, sentença que na fundamentação diz


que não há provas para condenar o réu e na parte dispositiva condena o mesmo.

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c) Prazo

● No prazo de dois dias contados da sua publicação, quando houver na sentença


ambiguidade, obscuridade, contradição ou omissão (Art. 619 do CPP)

d) Procedimento

Ainda nos ensinamentos do professor Norberto Avena, tem-se o seguinte procedimento dos
Embargos de Declaração:

1. Devem ser opostos em dois dias, contados da intimação da sentença ou publicação do


acórdão embargado.
2. Devem ser deduzidos por petição já acompanhada das respectivas razões, não se
admitindo o termo.
3. Não há intimação da parte contrária para contra-arrazoar os embargos, salvo se pretender
o órgão julgador atribuir efeitos modificativos e não meramente integrativos da decisão
embargada.

5.4. Embargos Infringentes e de Nulidade

a) Cabimento

Os recursos, apelações e embargos serão julgados pelos ​Tribunais de Justiça,​ ​câmaras ou


turmas criminais,​ de acordo com a competência estabelecida nas leis de organização judiciária
(Art. 609 do CPP)

É nesse cenário que surge os Embargos Infringentes e de Nulidade:

● “​quando ​não for unânime a decisão de segunda instância,​ desfavorável ao réu,


admitem-se embargos infringentes e de nulidade, que poderão ser opostos dentro de 10
(dez) dias, a contar da publicação de acórdão”​ (Art. 609, p.ú., do CPP)

5.5. Carta Testemunhável

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a) Cabimento

A Carta Testemunhável será cabível (Art. 639 do CPP):

● da decisão que denegar o recurso;


● da que, admitindo embora o recurso, obstar à sua expedição e seguimento para o juízo
ad quem.

b) Efeito do Recurso

● A carta testemunhável não terá efeito suspensivo (Art. 646 do CPP)

c) Procedimento

1. A carta testemunhável será requerida ao escrivão, ou ao secretário do tribunal, conforme


o caso, nas quarenta e oito horas seguintes ao despacho que denegar o recurso​,
indicando o requerente as peças do processo que deverão ser trasladadas.
2. O escrivão, ou o secretário do tribunal, dará recibo da petição à parte e, no prazo máximo
de cinco dias, no caso de recurso no sentido estrito, ou de sessenta dias, no caso de
recurso extraordinário, fará entrega da carta, devidamente conferida e concertada.
3. A carta testemunhável será requerida ao escrivão, ou ao secretário do tribunal, conforme
o caso, nas quarenta e oito horas seguintes ao despacho que denegar o recurso,
indicando o requerente as peças do processo que deverão ser trasladadas.
4. O tribunal, câmara ou turma a que competir o julgamento da carta, se desta tomar
conhecimento, mandará processar o recurso​, ou, se estiver suficientemente instruída,
decidirá logo, de meritis.
5. O processo da carta testemunhável ​na instância superior seguirá o processo do recurso
denegado.

Referências​:

AVENA, Norberto. ​Processo Penal​. Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: MÉTODO, 2019.
CAPEZ, Fernando.​ Curso de processo penal.​ 19ª edição, São Paulo: Saraiva, 2012.
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. ​Curso de processo penal. 18ª edição. Atlas, 2014. VitalBook
file.
REIS, Alexandre Cebrian Araian; GONÇALVES, Victor Eduardo Rios; coordenador Pedro Lenza.
Direito processual penal esquematizado​. 3. ed. rev.. e atual. São Paulo: Saraiva, 2014.
SILVA, Marco Antônio Marques da. FREITAS, Jayme Walmer de. ​Código de processo penal
comentado​. Saraiva, 2012. E-book coleção Minha Biblioteca.

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