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AgRg no HABEAS CORPUS Nº 547920 - RJ (2019/0353526-1)

RELATOR : MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ


AGRAVANTE : PEDRO PAULO SOTO QUEVEDO
ADVOGADOS : FRANCISCO RAMALHO ORTIGÃO FARIAS - RJ110109
JOAQUIM JAIR XIMENES AGUIAR JUNIOR - DF028424
FREDERICO AUGUSTO COSTA E OUTROS - RJ154040
CAMILA MARIA DE MORAIS COTA - RJ213916
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO

EMENTA

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. CORRUPÇÃO


PASSIVA. GRAVAÇÃO AMBIENTAL REALIZADA POR UM DOS
INTERLOCUTORES. LICITUDE DA PROVA. PRECEDENTES.
AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. O paciente, no exercício do cargo de Fiscal de Atividades
Econômicas do Município do Rio de Janeiro, solicitou ao funcionário da
empresa Midas Rio Convention Suítes a quantia de R$ 80.000,00, para
regularizar supostas pendências.
2. A gravação, tida por ilegal na impetração, foi realizada por Paulo
Sérgio Reis (funcionário da empresa e um dos interlocutores) sob a
supervisão de agentes da Delegacia Fazendária.
3. É lícita a prova obtida mediante gravação ambiental realizada por um
dos interlocutores sem o conhecimento dos demais. Precedentes.
4. A jurisprudência desta Corte também é firme no sentido de que o fato
de a polícia ter fornecido e instalado o equipamento utilizado na
gravação não invalida a prova obtida.
5. Agravo regimental não provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da Sexta Turma, por unanimidade, negar provimento ao
agravo regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Antonio Saldanha Palheiro, Olindo Menezes
(Desembargador Convocado do TRF 1ª Região), Laurita Vaz e Sebastião Reis
Júnior votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 13 de setembro de 2022.

Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ


Relator
AgRg no HABEAS CORPUS Nº 547920 - RJ (2019/0353526-1)

RELATOR : MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ


AGRAVANTE : PEDRO PAULO SOTO QUEVEDO
ADVOGADOS : FRANCISCO RAMALHO ORTIGÃO FARIAS - RJ110109
JOAQUIM JAIR XIMENES AGUIAR JUNIOR - DF028424
FREDERICO AUGUSTO COSTA E OUTROS - RJ154040
CAMILA MARIA DE MORAIS COTA - RJ213916
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO

EMENTA

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. CORRUPÇÃO


PASSIVA. GRAVAÇÃO AMBIENTAL REALIZADA POR UM DOS
INTERLOCUTORES. LICITUDE DA PROVA. PRECEDENTES.
AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. O paciente, no exercício do cargo de Fiscal de Atividades
Econômicas do Município do Rio de Janeiro, solicitou ao funcionário da
empresa Midas Rio Convention Suítes a quantia de R$ 80.000,00, para
regularizar supostas pendências.
2. A gravação, tida por ilegal na impetração, foi realizada por Paulo
Sérgio Reis (funcionário da empresa e um dos interlocutores) sob a
supervisão de agentes da Delegacia Fazendária.
3. É lícita a prova obtida mediante gravação ambiental realizada por um
dos interlocutores sem o conhecimento dos demais. Precedentes.
4. A jurisprudência desta Corte também é firme no sentido de que o fato
de a polícia ter fornecido e instalado o equipamento utilizado na
gravação não invalida a prova obtida.
5. Agravo regimental não provido.

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO ROGERIO SCHIETTI (RELATOR):

PEDRO PAULO SOTO QUEVEDO agrava da decisão de fls. 1.208-


1.212, em que deneguei a ordem de habeas corpus.

O paciente foi condenado às penas de 2 anos de reclusão, no regime


aberto, e de 10 dias-multa pela prática do delito do art. 317, caput, do Código
Penal, substituída a pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos.

O Tribunal de origem, por sua vez, negou provimento à apelação


defensiva para manter incólume a sentença condenatória (fls. 799-809). Opostos
embargos de declaração, estes foram rejeitados (fls. 866-870).

Em suas razões recursais, o agravante reitera a alegação de que sua


condenação baseou-se em prova obtida por meio ilícito, consistente em gravação
ambiental sem a prévia autorização judicial, e assevera que todas as demais provas
carreadas aos autos decorrem desta, sendo todas inválidas.

Assevera que a "gravação ambiental clandestina, ou seja, aquela obtida


sem autorização judicial ou por terceiros, maxime quando realizada pelo órgão da
polícia judiciária, é ilícita e, como tal, deve ser imediatamente rechaçada do
processo penal, sob pena de macular de forma irremediável a imparcialidade
julgadora" (fl. 1.228).

Requer a reconsideração da decisão agravada ou a submissão do feito ao


colegiado para que seja concedida a ordem.

VOTO

O SENHOR MINISTRO ROGERIO SCHIETTI (RELATOR):

Em que pesem as alegações despendidas pela defesa, entendo que não


lhe assiste razão.

O Tribunal de origem, ao julgar a apelação defensiva, consignou (fl.


801):

Quanto à segunda arguição de nulidade de ilicitude da prova


colhida por meio de escuta ambiental, sem autorização judicial, tal
tese não deve prosperar, já que não há violação aos direitos à
intimidade ou à privacidade na gravação ambiental feita. E, diante
do virtual conflito entre valores igualmente resguardados pela
Constituição, deve prevalecer um juízo de ponderação, admitindo-
se a prova colhida, mormente quando colhida pela Polícia, isso
porque ainda que fosse realizada a escuta ambiental por terceiros,
não identificado, não tornaria a prova ilegal.

Segundo os argumentos explanados na decisão agravada, assentei que no


caso em exame, o paciente, no exercício do cargo de Fiscal de Atividades
Econômicas do Município do Rio de Janeiro, solicitou ao funcionário da empresa
Midas Rio Convention Suítes a quantia de R$ 80.000,00, para regularizar supostas
pendências.

Destaquei que, nos depoimentos transcritos no acórdão combatido (fls.


802-805), consta que a gravação, tida por ilegal na impetração, foi realizada
por Paulo Sérgio Reis (funcionário da empresa e um dos interlocutores) sob a
supervisão de agentes da Delegacia Fazendária.

A respeito do tema, Gabriel Silveira de Queirós Campos leciona que a "


gravação telefônica ou ambiental, por outro turno, consiste na captação feita
diretamente por um dos comunicadores, sem o conhecimento do(s) demais. Tal
meio de prova, contudo, não se submete aos ditames da Lei nº 9.296/96,
inexistindo norma no direito positivo brasileiro que cuide das gravações" (Provas
ilícitas e ponderações de interesses no processo penal. Salvador: Editora
JusPodivm, 2015, p. 288).

Ada Pellegrini Grinover, Antonio Magalhães Gomes Filho e Antonio


Scarance Fernandes afirmam que a gravação, "quando realizada por um dos
interlocutores que queria documentar a conversa tida com terceiro, não configura
nenhum ilícito, ainda que o interlocutor não tenha conhecimento de sua ocorrência"
(As nulidades no processo penal. 11. ed. rev. e atual. São Paulo: RT, 2010, p. 186).

Humberto Theodoro Júnior ressalta ser "intuitivo que, na busca da


verdade real, tão cara à missão processual de realizar justiça, não pode o juiz
abdicar dos meios que a tecnologia moderna concebeu para documentação de fatos
e eventos. Sempre, portanto, que o emprego de gravadores se faça sem dolo ou
malícia, mas de forma natural e em resguardo de um direito, seu resultado poderá
ser aproveitado pelo julgador" (Juris Plenum. Ano IV - Número 22. A gravação de
mensagem telefônica como meio de prova no processo civil. Caxias do Sul:
Editora Plenum Ltda., 2008, p. 92).

A jurisprudência desta Corte Superior, por sua vez, é firme em assinalar


que, "dando-se a gravação clandestina por um dos interlocutores, válida é a
prova obtida" (RMS n. 49.277/SP, Rel. Ministro Nefi Cordeiro, 6ª T., DJe
26/4/2016, destaquei).

Ilustrativamente:

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS.


GRAVAÇÃO AMBIENTAL POR UM DOS
INTERLOCUTORES. AUTORIZAÇÃO JUDICIAL.
DISPENSÁVEL. PROVA LÍCITA. NO MAIS, NÃO
ENFRENTAMENTO DOS FUNDAMENTOS DA DECISÃO
AGRAVADA. SÚMULA 182/STJ. AGRAVO DESPROVIDO.
I - Nos termos da jurisprudência consolidada nesta eg. Corte,
cumpre ao agravante impugnar especificamente os fundamentos
estabelecidos na decisão agravada.
II - No caso concreto, como decidido anteriormente, não restou
configurada qualquer flagrante ilegalidade, tendo em vista que o
meio de prova impugnado consiste em gravação ambiental
realizada por um dos interlocutores, a qual, além de ser prova
lícita, não se confunde com interceptação telefônica e, portanto,
prescinde de autorização judicial.
III - Com efeito, assente nesta eg. Corte Superior que, "Conforme
entendimento do Supremo Tribunal Federal firmado sob a
sistemática da repercussão geral, 'é lícita a prova consistente em
gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem
conhecimento do outro' (RE n. 583.937 QO-RG, Relator Ministro
CEZAR PELUSO, julgado em 19/11/2009, REPERCUSSÃO
GERAL -MÉRITO DJe-237 de 18/12/2009)" (RHC n.
102.240/PA, Sexta Turma, Rel. Min. Antônio Saldanha Palheiro,
DJe de 27/6/2019).
[...]
Agravo regimental desprovido.
(AgRg no HC n. 699.677/RS, Rel. Ministro Jesuíno Rissato -
Desembargador Convocado do TJDFT, 5ª T., DJe de 15/2/2022,
grifei)

[...]
2. O STJ entende que a gravação ambiental, realizada por um dos
interlocutores, é lícita, tendo como condição apenas causa legal de
sigilo ou reserva de conversação (AgRg nos EDcl no REsp n.
1.843.519/MA, Rel. Ministro Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma,
DJe 7/6/2021).
3. A via estreita do habeas corpus não permite o aprofundado
revolvimento do quadro fático-probatório dos autos originais.
4. Recurso improvido.
(RHC n. 127.477/PB, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior, 6ª T.,
DJe de 16/8/2021)

O mesmo entendimento foi firmado pelo Supremo Tribunal Federal, em


repercussão geral:

AÇÃO PENAL. Prova. Gravação ambiental. Realização por um


dos interlocutores sem conhecimento do outro. Validade.
Jurisprudência reafirmada. Repercussão geral reconhecida.
Recurso extraordinário provido. Aplicação do art. 543-B, § 3º, do
CPC. É lícita a prova consistente em gravação ambiental realizada
por um dos interlocutores sem conhecimento do outro. (QO-RG
no RE n. 583.937/RJ, Rel. Ministro Cezar Peluso, Tribunal Pleno,
DJe de 18/12/2009, destaquei)

Finalmente, é importante destacar que a jurisprudência desta Corte


também é firme no sentido de que o fato de a polícia ter fornecido e instalado o
equipamento utilizado na gravação não invalida a prova obtida.

Nesse sentido:

[...]
4. A circunstância de a polícia haver fornecido o equipamento
usado para a gravação também não macula o procedimento,
porque a lei não exige autorização judicial para a gravação
ambiental, realizada por um dos interlocutores, na condição de
vítima, a fim de resguardar direito próprio. Diante disso, mostra-se
irrelevante a propriedade do gravador. Até porque, no presente
caso, não foram os policiais que induziram ou instigaram o réu
para que ele cometesse o delito de corrupção passiva, tampouco
criou a conduta por ele praticada, mas ele próprio que iniciou a
empreitada, uma vez que já havia combinado com a vítima o
recebimento do valor.
[...]
7. Recurso especial não provido.
(REsp n. 1.689.365/RR, Rel. Ministro Reynaldo Soares da
Fonseca, 5ª T., DJe de 18/12/2017)

Assim, constato que não há razões para modificar o entendimento


firmado na decisão agravada.

À vista do exposto, nego provimento ao agravo regimental.


Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA

AgRg no
Número Registro: 2019/0353526-1 HC 547.920 / RJ
MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 00505793220148190203 0063954302014819000 505793220148190203


63954302014819000
EM MESA JULGADO: 13/09/2022

Relator
Exmo. Sr. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ
Presidente da Sessão
Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MOACIR MENDES SOUSA
Secretário
Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA
AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : FREDERICO AUGUSTO COSTA E OUTROS
ADVOGADOS : FRANCISCO RAMALHO ORTIGÃO FARIAS - RJ110109
JOAQUIM JAIR XIMENES AGUIAR JUNIOR - DF028424
FREDERICO AUGUSTO COSTA - RJ154040
CAMILA MARIA DE MORAIS COTA - RJ213916
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
PACIENTE : PEDRO PAULO SOTO QUEVEDO
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes Praticados por Funcionários Públicos Contra a
Administração em Geral - Corrupção passiva

AGRAVO REGIMENTAL
AGRAVANTE : PEDRO PAULO SOTO QUEVEDO
ADVOGADOS : FRANCISCO RAMALHO ORTIGÃO FARIAS - RJ110109
JOAQUIM JAIR XIMENES AGUIAR JUNIOR - DF028424
FREDERICO AUGUSTO COSTA E OUTROS - RJ154040
CAMILA MARIA DE MORAIS COTA - RJ213916
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Sexta Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos
termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Antonio Saldanha Palheiro, Olindo Menezes (Desembargador
Convocado do TRF 1ª Região), Laurita Vaz e Sebastião Reis Júnior votaram com o Sr.
Ministro Relator.

C5425064 91221:05<0074@ 2019/0353526-1 - HC 547920 Petição : 2022/0066152-7 (AgRg)

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