Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Documento: 1850879 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 29/08/2019 Página 2 de 5
Superior Tribunal de Justiça
HABEAS CORPUS Nº 511.484 - RS (2019/0145252-0)
RELATÓRIO
Documento: 1850879 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 29/08/2019 Página 3 de 5
Superior Tribunal de Justiça
Argumenta-se que a aplicação da pena ocorreu de forma extremamente
severa, pois fixada acima mínimo legal sem fundamento idôneo e sem o
reconhecimento do privilégio.
Documento: 1850879 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 29/08/2019 Página 4 de 5
Superior Tribunal de Justiça
Segundo a Guia de Execução Penal do paciente, até a data de
27/5/2019, ele já havia cumprido 7 anos, 4 meses e 15 dias de um total de 25 anos
de reclusão (PEC n. 0138644-70.2014.8.21.0001 – fl. 183).
É o relatório.
Documento: 1850879 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 29/08/2019 Página 5 de 5
Superior Tribunal de Justiça
HABEAS CORPUS Nº 511.484 - RS (2019/0145252-0)
VOTO
Os autos não foram instruídos com cópia da denúncia, por isso, vou me
valer da transcrição feita na sentença a respeito dos fatos que deram ensejo à
condenação do paciente pelo crime de tráfico de drogas (fls. 143/144 – grifo nosso):
Fato 01
“Em data não determinada, até o dia 19 de agosto de 2011, na Rua
Ernesto Alves, 111, bairro Floresta, nesta capital, os denunciados
associaram-se em comunhão de esforços e conjugação de vontades para
o fim de vender, ministrar ou entregar a consumo, drogas sem autorização
ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, crimes
descritos no art. 33 da Lei n. 11.343/06. Tanto que no dia 19/8/2011
foram apreendidas (autos de apreensão inclusos) drogas em poder dos
denunciados”.
Fato 02
“No dia 19 de agosto de 2011, cerca de 01h, na Rua Ernesto Alves,
111, bairro Floresta, nesta capital, os denunciados, em comunhão de
esforços e conjugação de vontades, traziam consigo, para o fim de
vender, ministrar ou entregar a consumo, 03 buchas de cocaína,
pesando aproximadamente 2,80g e 1 tijolo de maconha, pesando
aproximadamente 1,26g (autos de apreensão e de constatação de
natureza da substância em anexo), sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar, presentes na Portaria n. 344/98
SVS/MS. Substâncias, essas, que causam dependência psíquica e física.
Na ocasião, policiais militares estavam em patrulhamento
quando avistaram o veículo VW/Gol, placas IGF0214, estacionado
na calçada. Foi efetuada a abordagem e encontrada a droga
embaixo do banco do motorista. Com o denunciado Flávio foi
apreendida, ainda, a quantia de R$642,00.
Um dos telefones celulares que foram apreendidos com o
denunciado Flávio tocou diversas vezes, tratavam-se de
consumidores querendo comprar drogas com os denunciados.
Uma das ligações foi feita a pedido de Daniel Knijnik, usuário de
entorpecentes, que solicitou a entrega de drogas na esquina entre
a Avenida Farrapos e a Rua Garibaldi.
Flávio Mendonça da Rosa é reincidente, conforme certidão de
antecedentes inclusa”.
Documento: 1850879 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 29/08/2019 Página 6 de 5
Superior Tribunal de Justiça
em juízo.
Documento: 1850879 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 29/08/2019 Página 9 de 5
Superior Tribunal de Justiça
provas já existentes acerca do tráfico de drogas perpetrados pelos réus,
pois o delito restou configurado ainda no momento em que os acusados
foram presos em posse das drogas, celulares e do dinheiro trocado.
Portanto, a abordagem foi precedida e amparada por lei, sendo
perfeitamente legal.
O simples fato de trazerem consigo a substância já caracteriza a
traficância, notadamente porque o tipo descrito no artigo 33, caput da Lei
nº 11.343/06, é daqueles de conteúdo variado, em que é desnecessária a
realização de todas as condutas nele previstas para configurar o fato
típico. Verificou-se, ainda, que o depoimento dos policiais foram
coerentes com aquele que instruiu o inquérito policial, e fornece
prova robusta para condenação pelo delito de tráfico de
entorpecentes, eis que foram os réus flagrados trazendo consigo 03
“buchas” de cocaína, pesando aproximadamente 2,80g e 01 tijolo de
maconha, pesando aproximadamente 1,26g para fins de venda a
consumo, conforme restou comprovado nos autos, o que tipifica o delito
do artigo 33, caput, da Lei nº 11.343/06.
O fato de serem os réus usuários de entorpecente, particularmente de
maconha e cocaína, não afasta a possibilidade do tráfico, sendo
conhecida a realidade de que os traficantes são, hoje, arregimentados
entre os próprios usuários, criando-se o chamado “tráfico-formiga” ou
“usuário traficante”.
Assim, o deslinde se resume nos depoimentos dos policiais que
efetivaram a prisão e apreensão da droga contra os relatos dos acusados
e testemunhas arroladas pelas Defesas. No entanto, diante dos
depoimentos convincentes apresentados pelos agentes do Estado, que
vieram a corroborar aqueles prestados no IP, não teria porque não dar
credibilidade aos seus relatos, levando em conta ainda possuir seus
informes presunção juris tantun de idoneidade.
Dito conflito, todavia, não é novo. É, ao revés, corriqueiro no manejo do
processo criminal. Qualquer interpretação do conjunto da prova,
entretanto, não deve estar dissociada das regras da experiência. A
exegese se inicia com uma pergunta óbvia: porque não crer na palavra
acusatória dos agentes policiais?
Impensável responder, nesse caso, que a dúvida sobre a abrangência
desse elemento acusatório se dá por conta de sua só e isolada condição.
Assim fosse, concluiríamos que essa só condição gera suspeição ipso
facto, tese insustentável.
O testemunho aludido, por representar elemento probatório lícito, deve
receber o valor que possa merecer dentro do sistema do livre
convencimento e da persuasão racional conferida ao Juiz, só sendo lícito
sobrestar seu valor se existirem elementos concretos da vinculação dos
agentes com uma tese acusatória espúria. Não é o que se observa.
Observe-se que a narrativa dos PM'S, em linhas gerais, não
apresenta distorção de conteúdo, tendo sido reproduzida em juízo,
confirmando os dizeres inquisitoriais, ainda inexistindo relação
prévia entre eles que permitisse aventar de uma deliberada e
espúria intenção incriminatória especialmente contra o acusado.
Ditos elementos, ao sentir desse julgador, permitem valorizar a carga
de veracidade que merece o testemunho dos policiais militares
responsáveis pela prisão, especialmente diante do fato das apreensões e
da ausência de prova acerca do interesse destes na incriminação dos
Documento: 1850879 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 29/08/2019 Página 10 de 5
Superior Tribunal de Justiça
acusados que apresentaram um discurso fantasioso na tentativa de
tentarem eximir-se da responsabilidade pelo tráfico de drogas.
Transparece inaceitável, a propósito, que o Estado fosse executar o
serviço de persecução por meio de seus servidores e, durante este, retire
a credibilidade de suas palavras. [...]
Para mim, está evidente que toda a prova está contaminada pela
ilicitude, sobretudo o testemunho dos policiais.
Documento: 1850879 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 29/08/2019 Página 11 de 5
Superior Tribunal de Justiça
O outro policial confirmou que, no decorrer da lavratura do auto de
prisão em flagrante, aconteceram várias outras ligações telefônicas para o tal
celular solicitando drogas (fl. 83). Mas como saberiam que eram para pedir drogas?
Não pode ser tida como legítima essa conduta do policial nem a de obter
acesso, sem autorização pessoal nem judicial, aos dados do aparelho de telefonia
móvel em questão. Também não se pode afirmar que o vício ocorrido na fase
investigativa não atinge o desenvolvimento da ação penal, como quer fazer crer o
Ministério Público Federal no parecer (fl. 208). Que base teria a denúncia ou a
condenação se não fossem os testemunhos dos policiais contaminados pelas
provas que obtiveram ilegalmente? Não se trata de prova produzida por fonte
independente ou cuja descoberta seria inevitável.
Documento: 1850879 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 29/08/2019 Página 13 de 5
Superior Tribunal de Justiça
por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins
de investigação criminal ou instrução processual. Vê-se que, mesmo na
exceção, a Constituição preordenou regras estritas de garantias, para que
não se a use para abusos. O 'objeto de tutela é dúplice: de um lado, a
liberdade de manifestação de pensamento; de outro lado, o segredo,
como expressão do direito à intimidade'.
A suspensão, sustação ou interferência no curso da correspondência, sua
leitura e difusão sem autorização do transmitente ou do destinatário, assim
como as interceptações telefônicas, fora das hipóteses excepcionais
autorizadas no dispositivo constitucional, constituem as formas principais de
violação do direito protegido. A legislação penal (Código Penal) e a especial
(Código das Comunicações) prevêem sanções aplicáveis a esses crimes.
(Curso de Direito Constitucional Positivo. 34ª ed., Malheiros, pág. 439 –
grifo nosso)
Documento: 1850879 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 29/08/2019 Página 15 de 5
Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro NEFI CORDEIRO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. JOSE ADONIS CALLOU DE ARAUJO SA
Secretário
Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA
AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : ANDREA GARCIA LOBATO
ADVOGADA : ANDRÉA GARCIA LOBATO - RS069836
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PACIENTE : FLAVIO MENDONCA DA ROSA (PRESO)
CORRÉU : LUCAS PEREIRA SOUTO
ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes Previstos na Legislação Extravagante - Crimes de Tráfico Ilícito e
Uso Indevido de Drogas - Tráfico de Drogas e Condutas Afins
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Sexta Turma, por unanimidade, concedeu a ordem, nos termos do voto do Sr.
Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Rogerio Schietti Cruz, Nefi Cordeiro, Antonio Saldanha Palheiro e
Laurita Vaz votaram com o Sr. Ministro Relator.
Documento: 1850879 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 29/08/2019 Página 16 de 5