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AO JUÍZO DA VARA CRIMINAL

DA COMARCA DE SANTO ANTÔNIO DA PLATINA – PR

Autos nº: 0002621-77.2020.8.16.0153.

ANDRÉ SIQUEIRA, já devidamente qualificado nos autos em


epígrafe, a que responde perante este respeitável juízo, por seu procurador
devidamente infra-assinado (procuração já acostada aos autos), com esteio no
art. 600 do Código de Processo Penal, vem apresentar as suas RAZÕES DE
APELAÇÃO.
Requer, após a intimação do Ministério Público, a remessa do
autos ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, nos termos do rito
previsto.

Termos em que,
Pede e espera deferimento.

Santo Antônio da Platina – PR, 09 de dezembro de 2022.

(assinado digitalmente)
LYNCOLN DIAS MACHADO CABRAL
OAB/PR 112.628
RAZÕES DO RECURSO DE APELAÇÃO

Autos nº: 0002621-77.2020.8.16.0153.


Apelante: André Siqueira.
Apelado: Ministério Público do Estado do Paraná.
Origem: Vara Criminal da Comarca de Santo Antônio da Platina.

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ,


COLENDA CÂMARA CRIMINAL,
ÍNCLITOS JULGADORES,
DOUTA PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA,

Em que pese o notório saber jurídico da Douta Magistrada de


primeiro grau, a r. sentença condenatória proferida no mov. 109.1 merece ser
reformada, pelos motivos de fato e de direito adiante expostos.

1) DOS FATOS:

O apelante foi denunciado pelo Ministério Público em razão


da suposta prática do crime previsto no art. 33, caput da Lei nº 11.343/06.
O processo seguiu seus limites normais, culminando com a r.
sentença de fls., que julgou procedente a pretensão punitiva estatal deduzida na
denúncia, para condenar o apelante pela prática do crime ali descrito à pena de 7
(sete) anos, 03 (três) meses e 15 (quinze) dias de reclusão em regime fechado e
ao pagamento de 729 (setecentos e vinte e nove) dias-multa, no valor de um
trigésimo do maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato.
Em razão disso, a defesa interpôs recurso de apelação, cujas
razões são apresentadas a seguir.
Em síntese, estes são os fatos, Nobres Desembargadores.

2) DO DIREITO:

2.1) DA DESCLASSIFICAÇÃO PARA O CRIME DO ART. 28 DA LEI 11.343/06:

Em pormenorizado confronto dos elementos carreados ao


caderno processual, divisa-se que as provas produzidas ao longo da instrução
não idôneas a certificar – de forma induvidosa a materialidade e a autoria do
delito em apreço. Em razão disso, o apelante requer a desclassificação da
conduta a ele imputada para o tipo previsto no art. 28 da Lei 11.343/06.
Em juízo, o apelante afirmou que a droga apreendida em sua
residência não era de sua propriedade, que apenas a estava guardando para uma
moça, de nome Tatiana, que havia conhecido no mesmo dia em que a polícia fez
a apreensão, e que receberia uma quantidade para seu uso como forma de
pagamento pelo “serviço” prestado.
Do cotejo de tais excertos com os demais subsídios coligidos
aos autos, a versão apresentada pelo apelante exsurge extremamente plausível.
Ademais, ainda que a droga fosse de propriedade do
apelante, é compatível com o consumo.
Pairam dúvidas, portanto, acerca da intenção de difundir
ilicitamente a droga, de forma que merece ter aplicação, in casu, o princípio do in
dubio pro reo, uma vez que não foram encontrados outros materiais que
corroborem com a narrativa apresentada pelo parquet (como balança de precisão,
faca de corte, sacos plásticos para embalo, dentre outros materiais usados por
traficantes).
A intenção de difundir ilicitamente a droga deve ser
adequadamente comprovada, não sendo suficientes indícios ou em meras
presunções.
As provas acostadas aos autos, portanto, não permitem uma
ponderação definitiva acerca da destinação da droga amealhada.
Como é cediço, as provas da traficância devem ser
contundentes e incontrastáveis.
In casu, nota-se, às escâncaras, que não há rudimentos
bastantes a descortinar o mote da difusão ilícita. Muito pelo contrário, todas as
circunstâncias apontam para o exclusivo fito de uso conjunto da substância
coletada.
Em igual diapasão, a jurisprudência pátria já sedimentou o
entendimento de que a quantidade de droga, à míngua de outras evidências
indicativas de traficância, não se revela suficiente a sustentar uma condenação
pelo crime capitulado no artigo 33 da Lei 11.343/2006. Conforme jurisprudência
do Egrégio Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios:

TRÁFICO DE DROGAS. TER EM DEPÓSITO.


DESCLASSIFICAÇÃO PARA USO. RECURSO DO MINISTÉRIO
PÚBLICO. INEXISTÊNCIA DE PROVAS DA TRAFICÂNCIA. "IN
DUBIO PRO REO". RECURSO DESPROVIDO.
1. Embora provado que o réu era o proprietário da droga
apreendida em sua residência (294,56g de maconha), impossível
a sua condenação pelo delito de tráfico (ar. 33 da Lei
11.343/2006), pois não há sequer indícios de que o entorpecente
seria destinado à difusão ilícita. Com efeito: não houve a
apreensão de quantia em dinheiro que pudesse denotar o
comércio do entorpecente; não houve, tampouco, a apreensão de
quaisquer instrumentos utilizados comumente na traficância de
droga; o réu não foi flagrado em situação típica de traficância; e
sequer havia notícias anônimas de eventual comercialização de
drogas por parte dele.2. Diante da dúvida quanto à traficância, em
homenagem ao princípio "in dubio pro reo", deve ser mantida a
sentença que desclassificou a conduta de tráfico de drogas para
porte destinado ao próprio consumo (artigo 28 da Lei nº
11.343/2006).
2. Diante da dúvida quanto à traficância, em homenagem ao
princípio "in dubio pro reo", deve ser mantida a sentença que
desclassificou a conduta de tráfico de drogas para porte
destinado ao próprio consumo (artigo 28 da Lei nº 11.343/2006).
3. Recurso desprovido (Acórdão 985683. TJ-DF
20150111200272 0028199-41.2015.8.07.0000, Relator: Des.
SILVANIO BARBOSA DOS SANTOS. Revisor: Des. JOÃO
TIMÓTEO DE OLIVEIRA. Data de Julgamento: 01/12/2016, 2ª
TURMA CRIMINAL, Data de Publicação: Publicado no DJE:
07/12/2016. Pág.: 111/130).
PENAL. TRÁFICO DE DROGAS. CONDUTA RECLASSIFICADA
PARA PORTE PARA AUTOCONSUMO. APELAÇÃO
ACUSATÓRIA PELA CONDENAÇÃO NOS TERMOS DA
DENÚNCIA. INSUFICIÊNCIA DE PROVAS. SENTENÇA
MANTIDA
1 Réu acusado de infringir o artigo 33 da Lei 11.343/2006, depois
de ter sido preso em flagrante na posse de dois gramas de crack e
maconha, sendo a conduta reclassificada para porte para
autoconsumo. O Ministério Público apela por condenação por
tráfico de droga.
2 O réu não foi visto, fotografado ou filmado em atividade de
mercancia, de sorte que a apreensão de uma quantidade ínfima
de drogas em via pública não confere a certeza necessária à
condenação por tráfico.
3. Apelação desprovida (Acórdão 1010741. TJ-DF
20160110005473APR. Relator: Des. GEORGE LOPES. Revisor:
Des. ROMÃO C. OLIVEIRA, 1ª TURMA CRIMINAL, data de
julgamento: 6/4/2017, publicado no DJE: 24/4/2017. Pág.:
112/119)

No mesmo sentido, é o entendimento deste Colendo Tribunal


Paranaense:

APELAÇÃO CRIMINAL – TRÁFICO DE DROGAS (FATO 01) E


RECEPTAÇÃO (FATO 02). TRÁFICO DE DROGAS (FATO 01) –
INTENTO ABSOLUTÓRIO – POSSIBILIDADE – CONJUNTO
PROBATÓRIO FRÁGIL – PALAVRA DO POLICIAL ATUANTE NO
CASO, NESTE CASO, INSUFICIENTE PARA CARACTERIZAR A
OCORRÊNCIA DO DELITO – CIRCUNSTÂNCIAS QUE NÃO
PERMITEM A CONCLUSÃO ACERCA DA AUTORIA DELITIVA –
APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO ‘IN DUBIO PRO REO’.
RECEPTAÇÃO (FATO 02) – PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO POR
atipicidade da conduta ou desclassificação para a modalidade
culposa – RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO RETROATIVA
DA PRETENSÃO ESTATAL – SUPERAÇÃO DO LAPSO
PRESCRIBENTE – EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE – MÉRITO
RECURSAL PREJUDICADO, ANTE O RECONHECIMENTO DA
PRESCRIÇÃO PUNITIVA NA MODALIDADE RETROATIVA.
recurso conhecido e parcialmente provido, para absolver o réu do
crime de tráfico de drogas (TJ-PR 0000272-30.2013.8.16.0062.
Relator: Des. MARCUS VINÍCIUS DE LACERDA COSTA. 5ª
CÂMARA CRIMINAL, data de julgamento: 28/11/2022).

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ. APELAÇÃO


CRIMINAL. ABSOLVIÇÃO pela prática do CRIME DE tráfico de
drogas - ARTIGO 33, caput, DA LEI 11.343/2006. RECURSO
MINISTÉRIO PÚBLICO. rogo DE CONDENAÇÃO
FUNDAMENTADO EM PROVAS SUFICIENTES DA
MATERIALIDADE E AUTORIA. NÃO ACOLHIMENTO.
CONJUNTO PROBATÓRIO QUE SE MOSTRA INSUFICIENTE
PARA ESTABELECER A RESPONSABILIDADE DO APELADO.
PROVAS INSUFICIENTES PARA DEMONSTRAR O COMÉRCIO
ILÍCITO DE ENTORPECENTE. INTELIGÊNCIA DO ART. 386, VII,
DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. PRINCÍPIO IN DUBIO
PRO REO. ABSOLVIÇÃO SE IMPÕE. RECURSO CONHECIDO E
NÃO PROVIDO (TJ-PR 0030878-23.2015.8.16.0013. Relator: Juiz
de Direito Substituto em Segundo Grau PEDRO LUIS SANSON
CORAT. 4ª CÂMARA CRIMINAL, data de julgamento:
14/11/2022).

Em suma: nos autos nada há de concreto a apontar para


suposta ocorrência de traficância. De rigor, portanto, imediata desclassificação.
A versão sustentada em autodefesa pelo apelante, portanto,
não pode ser afastada, uma vez que não há elementos suficientes a indicar que
tenha intenção de difundir ilicitamente a droga encontrada em sua residência.
Registra-se que a condenação por tráfico de drogas não
parece ser a melhor forma de se recuperar uma pessoa dependente de drogas.
Encarcerá-la é diferente de recuperá-la; e mais, corre-se o risco de punir alguém
mais do que o necessário ou de se cometer injustiça pelo crime de tráfico que não
praticou; o melhor caminho é a desclassificação da conduta para aquela prevista
no art. 28 da Lei nº 11.343/2006.
Os fatos descritos na denúncia constituem apenas indícios e
não se pode proferir condenação com base em indícios, por mais veementes que
sejam, sob pena de se cometer injustiças. Indícios não são provas; na ausência
de prova concreta, surge a dúvida; no caso de dúvida, deve-se interpretá-la
favoravelmente ao apelante, desclassificando-se a conduta atribuída ao apelante
para aquela prevista no art. 28 da Lei nº 11.343/2006.
Nota-se, em uma análise mais apurada dos autos, que não
existem provas suficientes para permitir uma eventual condenação pelo crime de
tráfico. Assim, não havendo outros indícios que propiciem juízo de certeza quanto
à intenção de difundir ilicitamente a droga, requer a reforma da sentença e a
desclassificação da conduta de tráfico para a tipificada no art. 28 da Lei
11.343/06, com esteio no princípio do in dubio pro reo.
Pairam dúvidas, portanto, acerca da intenção de difundir
ilicitamente a droga, de forma que merece ter aplicação, in casu, o princípio do in
dubio pro reo.
2.2) DO AFASTAMENTO DOS MAUS ANTECEDENTES ATRIBUÍDOS AO
APELANTE:

Caso a desclassificação não seja o entendimento desta


Turma, a defesa requer a reforma da sentença condenatória na parte que
considerou desfavorável a circunstância judicial de maus antecedentes, que
culminaram na exasperação da pena-base cominada no delito do apelante foi
condenado, conforme se demonstrará a seguir.
Consta da sentença, às fls. 10, que:

Há registros de antecedentes desfavoráveis, (condenação


referente a fato(s) anterior(es) àquele(s) tratado (s) na presente
ação penal, transitada em julgado em 05/02/2013, nos autos de
número 0003874- 52.2012.8.16.0098, conforme informação
constante da pesquisa no sistema Oráculo de mov. 106.1, p. 21
/22 dos presentes autos)

Nesse ponto, o juízo a quo buscou fundamentar, por meio de


condenação antiga, a aplicabilidade de maus antecedentes no presente caso.
Com a devida licença, trata-se de equívoco, visto que a
condenação mencionada teve trânsito em julgado em 05/02/2013. Além disso a
execução que teve origem nessa condenação, já teve mais de 2/3 de seu
cumprimento, não havendo registros de mau comportamento do réu nesse
período, estando, inclusive, o mesmo em liberdade condicional.
Dessa forma, resta demonstrado que o processo utilizado
para justificar a aplicação de maus antecedentes encontra-se abarcado no
período depurador de 5 anos.
O trânsito em julgado da condenação e, posteriormente, da
sentença que extinguiu a punibilidade ocorreu há mais de cinco anos da prática
do novo fato.
Assim, considerando que se passaram mais de cinco anos
entre a condenação e o novo crime, não se pode conceber que essa anotação
seja utilizada como maus antecedentes.
Isto porque se condenações anteriores transitadas em
julgado, alcançadas pelo prazo depurador de 5 anos previsto no art. 64, inciso I
do Código Penal, não podem gerar efeitos de reincidência, não podem também
configurar maus antecedentes, sob pena de conceder efeitos perpétuos às
condenações.
Verifica-se que os maus antecedentes fundamentaram-se em
fatos ocorridos há anos, o que ofende não apenas o princípio da
proporcionalidade, mas o princípio constitucional da proibição das penas de
caráter perpétuo, previsto no art. 5º, inciso XLVII da Constituição Federal, uma
vez que não é razoável que condenações sejam utilizadas para prejudicar o réu
indefinidamente.
Portanto, houve excesso na dosimetria da pena, que
considerou transitada em julgado em 2013 para exasperar a pena-base. Esse
excesso foi desnecessário, uma vez que existe resposta estatal à conduta do
apelante, que foi efetivamente condenado pela prática do crime de tráfico de
drogas. A questão cinge-se ao fato de que o montante de pena aplicado é injusto
ante a conduta supostamente perpetrada pelo apelante e a única solução que
atenderia ao princípio da proporcionalidade é a não exasperação da pena com
fundamento em condenações antigas.
Assim, a condenação de fls. Não constitui fundamento idôneo
à exasperação da pena-base a título de maus antecedentes.
Nesse sentido, os seguintes julgados do Excelso Supremo
Tribunal Federal:

EMENTA Habeas corpus. Penal. Condenação. Tráfico e


associação para o tráfico de drogas (arts. 33 e 35 da Lei nº
11.343/06). Dosimetria. Fixação da pena-base acima do mínimo
legal. Valoração negativa da natureza e da quantidade da droga
(1.240 g de crack). Admissibilidade. Vetores a serem
considerados necessariamente na dosimetria, nos termos do art.
59 do Código Penal e do art. 42 da Lei nº 11.343/06. Precedentes.
Valoração negativa de condenações transitadas em julgado há
mais de 5 (cinco) anos como maus antecedentes. Impossibilidade.
Aplicação do disposto no inciso I do art. 64 do Código Penal.
Precedentes. Constrangimento ilegal configurado. Ordem
concedida. 1. É pacífico o entendimento do Supremo Tribunal
Federal de que a natureza e a quantidade da droga constituem
motivação idônea para a exasperação da pena-base, nos termos
do art. 59 do Código Penal e do art. 42 da Lei nº 11.343/06.
Precedentes. 2. Quando o paciente não pode ser considerado
reincidente, diante do transcurso de lapso temporal superior a 5
(cinco) anos, conforme previsto no art. 64, inciso I, do Código
Penal, a existência de condenações anteriores não caracteriza
maus antecedentes. 3. Ordem concedida tão somente para
determinar ao juízo da execução competente que, afastado o
aumento decorrente da valoração como maus antecedentes de
condenações pretéritas alcançadas pelo período depurador de 5
(cinco) anos, previsto no art. 64, inciso I, do Código Penal, refaça
a dosimetria da pena imposta ao paciente nos autos do processo
nº 02411025822-5 (HC 132600, Relator (a): Min. DIAS TOFFOLI,
Segunda Turma, julgado em 19/04/2016, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-109 DIVULG 27-05-2016 PUBLIC 30-05-
2016).

EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL.


CONDENAÇÃO TRANSITADA EM JULGADO HÁ MAIS DE
CINCO ANOS. IMPOSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO PARA
CARACTERIZAÇÃO DE MAUS ANTECEDENTES. ORDEM
CONCEDIDA. 1. Habeas corpus. 2. Tráfico de entorpecentes.
Condenação. 3. Aumento da pena-base. Não aplicação da causa
de diminuição do § 4º do art. 33, da Lei 11.343/06. 4. Período
depurador de 5 anos estabelecido pelo art. 64, I, do CP. Maus
antecedentes não caracterizados. Decorridos mais de 5 anos
desde a extinção da pena da condenação anterior ( CP, art. 64, I),
não é possível alargar a interpretação de modo a permitir o
reconhecimento dos maus antecedentes. Aplicação do princípio
da razoabilidade, proporcionalidade e dignidade da pessoa
humana. 5. Direito ao esquecimento. 6. Fixação do regime
prisional inicial fechado com base na vedação da Lei 8.072/90.
Inconstitucionalidade. 7. Ordem concedida (HC 126315, Relator
(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em
15/09/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-246 DIVULG 04-12-
2015 PUBLIC 07-12-2015).

EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL.


CONDENAÇÃO TRANSITADA EM JULGADO HÁ MAIS DE
CINCO ANOS. IMPOSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO PARA
CARACTERIZAÇÃO DE MAUS ANTECEDENTES. ORDEM
CONCEDIDA. 1. Condenação transitada em julgado há mais de
cinco anos utilizada nas instâncias antecedentes para
consideração da circunstância judicial dos antecedentes como
desfavorável e majoração da pena-base. Impossibilidade.
Precedentes. 2. Ordem concedida (HC 133077, Relator (a): Min.
CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, julgado em 29/03/2016,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-077 DIVULG 20-04-2016
PUBLIC 22-04-2016).

Vale salientar que consta do voto do acórdão proferido pelo


relator, Min. Gilmar Mendes, no HC 126315 os fundamentos:

Com efeito, é assente que a ratio legis consiste em apagar da vida


do indivíduo os erros do passado, considerando que já houve o
devido cumprimento da punição, sendo inadmissível que se
atribua à condenação aos status de perpetuidade, sob a pena de
violação aos princípios constitucionais e legais, sobretudo o da
ressocialização da pena.
A Constituição Federal veda expressamente, na alínea b do inciso
XLVII do artigo 5º, as penas de caráter perpétuo. Tal dispositivo
suscita questão acerca da proporcionalidade da pena e de seus
efeitos para além da reprimenda corporal propriamente dita.
Ora, a possibilidade de sopesarem-se negativamente
antecedentes criminais, sem qualquer limitação temporal ad
aeternum, em verdade, é a pena de caráter perpétuo mal
revestida de legalidade.

No mesmo sentido, a jurisprudência desse tribunal:

Apelação crime. Uso de documento falso (art. 304 do Código


Penal). Sentença condenatória. Autoria e materialidade
comprovadas. Apresentação de carteira de identidade falsificada.
Depoimento testemunhal do policial militar que realizou a
abordagem do réu, aliado ao exame pericial e reconhecimento das
fotografias. Falsidade constatada por outros meios idôneos de
prova. Conjunto probatório hígido e suficiente. Manutenção da
condenação. Pleito de redução da pena. Acolhimento. Aumento
da pena-base em relação aos maus antecedentes. Trânsito em
julgado posterior ao crime narrado nos autos. Contudo, data da
prática do crime anterior que não consta da certidão de
antecedentes criminais, não podendo afirmar que ocorreu
anteriormente ao delito em apreço. Dúvida que não permite a
configuração dos maus antecedentes. Impossibilidade de aumento
da pena-base. Pleito de reforma quanto à circunstância da
personalidade. Acolhimento. Condenação transitada em julgado
não é fundamento idôneo para valorar negativamente a
personalidade do agente. Precedentes do STJ. Recurso
parcialmente provido (TJ-PR 0034639-06.2018.8.16.0030. Relator:
Des. JOSÉ MAURÍCIO PINTO DE ALMEIDA. 2ª CÂMARA
CRIMINAL, data de julgamento: 19/09/2022).
.

APELAÇÃO CRIME – USO DE DOCUMENTO FALSO – ARTIGO


304, CAPUT, DO CÓDIGO PENAL – SENTENÇA
CONDENATÓRIA – IRRESIGNAÇÃO DA DEFESA. 1) PLEITO
DE AFASTAMENTO DA CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL RELATIVA
AOS MAUS ANTECEDENTES – PROVIMENTO – JUÍZO DE
ORIGEM QUE, AO REALIZAR O CÁLCULO DOSIMÉTRICO,
CONSIDEROU COMO DESFAVORÁVEL AO APELANTE A
CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL RELATIVA AOS MAUS
ANTECEDENTES – IMPOSSIBILIDADE - CONDENAÇÃO
TRANSITADA EM JULGADA UTILIZADA PELO JUÍZO A QUO
PARA O RECRUDESCIMENTO DA PENA-BASE, QUE NÃO SE
PRESTA PARA CONFIGURAÇÃO DOS MAUS
ANTECEDENTES, TENDO EM VISTA QUE SE REFERE A
CRIME PRATICADO EM 2016, OU SEJA, APÓS O DELITO
OBJETO DO PRESENTE FEITO, O QUAL OCORREU EM 2014 -
PRECEDENTES DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA –
REFORMA DO CÁLCULO DOSIMÉTRICO QUE SE IMPÕE –
PENA-BASE RECALCULADA E FIXADA EM SEU MÍNIMO
LEGAL – PRESENÇA DA CIRCUNSTÂNCIA ATENUANTE DA
CONFISSÃO – IMPOSSIBILIDADE DE REDUÇÃO DA PENA
INTERMEDIÁRIA ABAIXO DO MÍNIMO LEGAL – APLICAÇÃO DA
SÚMULA 231, DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA –
INEXISTÊNCIA DE CAUSAS ESPECIAIS DE AUMENTO OU DE
DIMINUIÇÃO – PENA DEFINITIVA FIXADA EM 02 (DOIS) ANOS
DE RECLUSÃO E MULTA DE 10 (DEZ) DIAS FIXADO PELO
JUÍZO DE ORIGEM QUE SE IMPÕE – POSSIBILIDADE DE
FIXAÇÃO DO REGIME INICIAL ABERTO, COM A
CONSEQUENTE SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE
LIBERDADE POR 02 (DUAS) RESTRITIVAS DE DIREITOS. 3)
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS – POSSIBILIDADE DE
FIXAÇÃO EM SEDE RECURSAL.RECURSO CONHECIDO E
PROVIDO. ARBITRAMENTO DE HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. MULTA. 2) REGIME E SUBSTITUIÇÃO. PENA
DEFINITIVA RECALCULADA – REFORMA DO REGIME (TJ-PR
0000958-53.2017.8.16.0071. Relator: Juiz de Direito Substituto em
Segundo Grau MAURO BLEY PEREIRA JUNIOR. 2ª CÂMARA
CRIMINAL, data de julgamento: 24/05/2021).

APELAÇÃO CRIME – CONDENAÇÃO PELOS CRIMES


PREVISTOS NOS ARTS. 157, 213 E 329, TODOS DO CP) –
PLEITO DE RECONHECIMENTO DA TENTATIVA EM RELAÇÃO
AO CRIME DE ESTUPRO – ACOLHIDO – CRIME NÃO SE
CONSUMOU POR CIRCUNSTÂNCIAS ALHEIAS À VONTADE
DO APELANTE – APELANTE APENAS INICIOU O ITER
CRIMINIS – PLEITO DE AFASTAMENTO DAS
CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME DE ROUBO – NÃO
ACOLHIMENTO – UTILIZAÇÃO DE FACA QUE AUTORIZA A
VALORAÇÃO NEGATIVA – PLEITO DE AFASTAMENTO
DOS MAUS ANTECEDENTES EM RELAÇÃO A TODOS OS
CRIMES – ACOLHIDO – EXISTÊNCIA DE UMA
ÚNICA CONDENAÇÃO TRANSITADA EM JULGADO –
IMPOSSIBILIDADE DE SUA UTILIZAÇÃO COMO MAUS
ANTECEDENTES E REINCIDÊNCIA, SOB PENA DE BIS IN
IDEM – REDIMENSIONAMENTO DA PENA – RECURSO
CONHECIDO E PARCIALMENTE ACOLHIDO (TJ-PR
0000416-25.2019.8.16.0084. Relator: Des. João Domingos Küster
Puppi. 3ª CÂMARA CRIMINAL, data de julgamento: 21/04/2020).

Assim, considerando a ofensa aos princípios da


proporcionalidade, da individualização da pena e da proibição de penas de caráter
perpétuo, requer a defesa a reforma da sentença condenatória, para que a
exasperação advinda da condenação de mov. 109.1. Seja decotada da pena
aplicada pelo juízo a quo, fixando-se a pena-base no mínimo legal.
2.3) DA POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO § 4 º DO ART. 33 DA LEI Nº
11.343/2006:

Por consequência do afastamento dos maus antecedentes


pleiteado em tópico anterior, requer ainda reforma da sentença para que seja aplicada a
causa de diminuição de pena prevista no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006.
A sentença do juízo a quo restringiu-se à apontar que não haviam
causas de diminuição de pena aplicáveis ao caso, o que, como demonstrado, trata-se de
equívoco.
Ocorre que, como já devidamente demonstrado na tópico anterior, o réu não é portador
de maus antecedentes, visto que sua condenação anterior foi abarcada pelo período
depurador.
Dessa forma, não há fundamento para não aplicar o § 4º do art. 33
da lei nº 11.343/06, pois o afastamento dos maus antecedentes torna a não aplicação da
causa de diminuição desarrazoada e desproporcional, violando princípios constitucionais
e o preceito de caráter não perpétuo da pena.
Cumpre ainda salientar que não é possível se afirmar que o réu se
dedica a atividades criminosas, uma vez que suas anotações se tratam de fatos ocorridos
há quase 10 anos.
Assim, pugna a defesa pela reforma da sentença para que seja
aplicada a causa de diminuição da pena do § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006, em sua
fração máxima (2/3), considerando que, além do preenchimento dos demais requisitos,
não há prova idônea da dedicação a atividades criminosas.

3) DOS PEDIDOS:

Ante o exposto, requer o apelante o conhecimento da


presente apelação e, no mérito, o seu total provimento, com a reforma da
sentença condenatória, pelos argumentos fático-jurídicos acima alinhavados, com
o consequente acatamento dos seguintes pedidos:

a. Seja desclassificado o crime imputado ao apelante para a conduta


prevista no art. 28 da Lei 11.343/06
b. Subsidiariamente, seja afastada a circunstância judicial de maus
antecedentes atribuída ao apelante, com o redimensionamento da pena-
base e a consequente aplicação da causa de diminuição de pena do § 4º
do art. 33 da Lei nº 11.343/2006, em sua fração máxima (2/3).

Termos em que,
Pede e espera deferimento.

De Santo Antônio da Platina – PR p/ Curitiba – PR,


Em 09 de dezembro de 2022.

(assinado digitalmente)
LYNCOLN DIAS MACHADO CABRAL
OAB/PR 112.628

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