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PODER JUDICIÁRIO
9ª VARA CRIMINAL DE CUIABÁ ESPEC. DELITOS DE TÓXICOS
SENTENÇA
Processo: 1004215-87.2023.8.11.0042.
AUTOR(A): POLÍCIA JUDICIÁRIA CIVIL DO ESTADO DE MATO GROSSO, MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE
MATO GROSSO
Vistos etc.
O Ministério Público do Estado de Mato Grosso, através de seu representante legal, no uso de suas
atribuições legais e constitucionais, ofertou denúncia em face de PABLO BRUNO CASTRO CAMPOS, brasileiro, solteiro,
nascido em 02/06/1999, filho de Jair Damasceno de Campos e Francisca Cristiane Castro Silva, portador do RG n.º 27008487
SSP/MT, inscrito no CPF sob o n.º 054.953.681-77, residente e domiciliado à rua 46, n. º 05, quadra 186, bairro Pedra 90,
Cuiabá-MT, imputando-lhe a prática delitiva capitulada no art. 33, caput, da Lei n.º 11.343/06,c/c art. 61, inc. I, do
Código Penal, pelos fatos que ocorreram, em síntese, da seguinte forma:
“No dia 08 de julho de 2022, por volta das 22h15min, na rua 46, s/n.º, bairro Pedra 90, na cidade de
Cuiabá-MT, o denunciado PABLO BRUNO CASTRO CAMPOS vendia e trazia consigo drogas, para
outros fins que não o consumo próprio, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar.
Segundo consta nos autos, a equipe GUPM do 24° BPM recebeu informações de que no endereço
supracitado, mais especificamente em uma distribuidora de bebidas, estaria ocorrendo o tráfico de drogas.
Munidos dessas informações, a fim de verificarem a veracidade da denúncia recebida, os policiais
militares se deslocaram até o endereço indicado, oportunidade em que avistaram dois indivíduos, o
usuário Andrian Ronam Pereira Silva e o denunciado PABLO BRUNO, proprietário da distribuidora.
Na ocasião, ainda foi visualizado o exato momento em que o usuário Andrian Ronam pegou algo das
mãos do denunciado, atitude que foi reputada suspeita pelos agentes.
Ante o contexto, a equipe se aproximou para realizar a abordagem, mas o denunciado empreendeu fuga
ao mesmo tempo que dispensou uma mochila ao solo; já o usuário Andrian Ronam foi abordado e
revistado pela guarnição, encontrando em sua posse 01 (um) porção de substância análoga a maconha e
01 (um) aparelho celular. Ao ser indagado a respeito do entorpecente apreendido, o usuário Andrian
Ronam confirmou que havia acabado de adquirir a droga com o denunciado.
Continuando as diligências, a equipe verificou a mochila dispensada pelo denunciado no ato da fuga, bem
como realizou buscas pelo local, apreendendo, no total, 155 (cento e cinquenta e cinco) porções de
substância análoga a cocaína, 04 (quatro) sacos contendo substância análoga a cocaína, 15 (quinze)
porções de substância análoga a pasta base de cocaína, 02 (dois) sacos contendo substância análoga a
pasta base de cocaína, 17 (dezessete) pedaços de substância análoga a pasta base de cocaína, 07 (sete)
pedaços grandes de substância análoga a maconha, 01 (um) pacote com pedaços e farelos de substância
análoga a maconha, 02 (duas) balanças de precisão, 01 (uma) faca, 04 (quatro) aparelhos celulares, a
quantia de R$ 855,00 (oitocentos e cinquenta e cinco reais) e 01 (um) documento de identidade em nome
do denunciado.
Posteriormente, foi realizada a checagem do nome do denunciado, ocasião em que foi descortinado que
ele possuía mandado de prisão em aberto.
O laudo pericial n.º 33.14.2022.86878-01, acostado no ID. 112066960, concluiu que as porções
apreendidas, sendo 176 (cento e setenta e seis) porções de material de tonalidade amarelada e
esbranquiçada, na forma de pó e pedras, com massa de 267,77 g (duzentos e sessenta e sete gramas e
setenta e sete centigramas), apresentaram resultado POSITIVO para a presença de COCAÍNA, enquanto
que 02 (duas) porções de material vegetal, compacto, seco, de tonalidade castanho-esverdeada, pesando
238,86 g (duzentos e trinta e oito gramas e duas centigramas), apresentaram resultado POSITIVO para a
presença de Cannabis Sativa L. (MACONHA), substâncias entorpecentes, de uso proscrito no Brasil,
consideradas capazes de causarem dependência física e psíquica, elencadas nas listas F1, F2 e E da
Portaria n.º 344/ANVISA/MS.
Referido laudo ainda atestou que em relação a 02 (duas) porções de material de tonalidade esbranquiçada,
na forma de pó, acondicionada em “trouxa”, com massa de 117,50 g (cento e dezessete gramas e
cinquenta centigramas), uma delas apresentou resultado POSITIVO para a presença de COCAÍNA, já a
outra porção apresentou resultado POSITIVO para presença de ÍONS BORATO (ácido bórico), que é um
sal de caráter levemente ácido, comumente acrescentado à cocaína em sua forma final coadjuvante, com o
objetivo de aumentar os lucros da comercialização ilícita.
Ademais, o laudo pericial n.º 3.14.2022.86877-01, juntado no ID. 112066959, atestou que 01 (uma)
porção de material vegetal, compacto, seco, de tonalidade castanho-esverdeada, apreendida na posse do
usuário Andrian Ronam, com massa de 9,74 g (nove gramas e setenta e quatro centigramas), apresentou
resultado POSITIVO para Cannabis Sativa L. (MACONHA).
Em seu termo de declaração, conforme ID. 112066961, Andrian Ronam Pereira Silva declarou ser usuário
de maconha. Também disse que foi ao local para adquirir drogas, pois tinha conhecimento que lá era
ponto de venda de drogas, inclusive já havia adquirido entorpecentes com o denunciado em outras
ocasiões.
Posteriormente foi lavrado o TCO n.º 316.5.2022.7637, em desfavor de Andrian Ronam Pereira Silva, por
posse de drogas para consumo pessoal (ID. 112066959).
Mister destacar que o denunciado PABLO BRUNO foi intimado para comparecer à Delegacia
Especializada de Repressão a Entorpecentes – DRE, com a finalidade dele ser ouvido/interrogado pela
autoridade policial, contudo, ele não cumpriu nenhuma das intimações emitidas (ID. 112066969 e ID.
112066970). Em consulta aos antecedentes criminais do denunciado PABLO BRUNO, verificou-se que
ele é REINCIDENTE ESPECÍFICO, posto que registra condenação transitada em julgado pela prática do
crime de tráfico de drogas, conforme Executivo de Pena n.º 2000806-28.2019.8.11.0042, perante o Juízo
da 2ª Vara Criminal desta Comarca.
Além disso, o denunciado responde a outra ação penal por tráfico de drogas (autos n.º
0031559-70.2017.8.11.0042 – 9ª Vara Criminal), na qual já consta condenação em primeiro grau.
Com efeito, a denúncia recebida pelos policiais, informando sobre a ocorrência da traficância no local, a
qual restou confirmada quando os agentes visualizaram o momento em que ocorreu a entrega da droga
para o usuário Andrian Ronam e, ainda, o encontro de entorpecentes na posse de Andrian e a sua
declaração para os agentes e para a autoridade policial, informando que adquiriu o entorpecente com o
denunciado, somado ao ato da fuga e a dispensa da droga, além do denunciado ser REINCIDENTE
ESPECÍFICO, são fatos que revelam que as drogas apreendidas pertenciam ao denunciado e eram
destinadas ao comércio ilícito, apontando assim, a existência de indícios suficientes de materialidade e
autoria para o crime de tráfico de drogas, aptas a ensejar a instauração de procedimento criminal em
desfavor do denunciado”.
Devidamente notificado, o acusado apresentou sua resposta à acusação através da Defensoria Pública (ID
126030803).
Durante a instrução criminal foram realizadas as oitivas de duas testemunhas e o interrogatório do réu.
Por sua vez, a defesa do acusado, requereu, preliminarmente a absolvição do réu em razão da ilegalidade
da busca domiciliar. No mérito, requereu a absolvição em razão da ausência de provas em desfavor do acusado, com fulcro no
artigo 386, inciso VII do Código de Processo Penal, embasado no princípio do in dubio pro reo. EM caso de entendimento
diverso, pugnou pela desclassificação do delito para o de porte de drogas para consumo próprio. Em caso de condenação,
pugnou para que a pena-base seja fixada em seu mínimo legal, reconhecendo-se o tráfico privilegiado e concedendo ao réu o
direito de recorrer em liberdade (ID 133799384).
Fundamento e DECIDO.
Pretende-se, nestes autos, atribuir ao acusado PABLO BRUNO CASTRO CAMPOS, brasileiro,
solteiro, nascido em 02/06/1999, filho de Jair Damasceno de Campos e Francisca Cristiane Castro Silva, portador do RG n.º
27008487 SSP/MT, inscrito no CPF sob o n.º 054.953.681-77, residente e domiciliado à rua 46, n. º 05, quadra 186, bairro
Pedra 90, Cuiabá-MT,a prática delitiva capitulada no art. 33, caput, da Lei n.º 11.343/06,c/c art. 61, inc. I, do Código
Penal.
1. DA PRELIMINAR
Dá análise dos autos, verifica-se que a defesa dos acusados arguiu em seus memoriais finais, em síntese, a
nulidade mediante a inviolabilidade do domicílio.
“XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do
morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial”.
Com efeito, ressalte que a garantia da inviolabilidade do domicílio é a regra, mas constitucionalmente
excepcionada quando houver flagrante delito.
Observe, que, porquanto os policiais tenham violado os domicílios, a conduta tipificada no art. 33 da Lei
n. 11.343/06 consiste em infração permanente, isso significando dizer que o autor de tal ilicitude está em constante estado de
flagrância, situação, essa, que autoriza a atuação policial a qualquer momento.
Assim, enquanto os agentes praticam a referida conduta proibida pela norma penal incriminadora, o delito
está sendo consumando, comportando o flagrante a qualquer momento, consoante se depreende do art. 303 do Código de
Processo Penal, in verbis:
“Art. 303. Nas infrações permanentes, entende-se o agente em flagrante delito enquanto não cessar a
permanência.”
A luz desse entendimento é como se posiciona o julgado do Tribunal de Justiça de Mato Grosso.
Vejamos:
Inclusive, de se pontuar que, embora o Eg. Superior Tribunal de Justiça tenha um entendimento acerca
das provas obtidas mediante invasão de domicílio por policiais sem mandado de busca e apreensão, divirjo em relação a ele,
visto que referida matéria já foi debatida de forma exaustiva pelo SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, tanto que foi
fixado para essa tese o Tema 280 com Repercussão Geral.
Com isso, me filio ao entendimento do Pretório Excelso, o qual vem decidindo ser lícita a busca
domiciliar em caso de flagrante delito do tráfico de drogas, por causa do crime permanente.
Portanto, o ingresso dos policiais nas residências, mostrou-se legítimo, restando configurada, no presente
caso, a exceção constitucionalmente prevista à inviolabilidade de domicílio, qual seja, o estado de flagrância.
Em vista disso, não vislumbrando ilegalidade na ação policial que ensejou a busca domiciliar, REJEITO
a nulidade arguida pela defesa.
2. DO MÉRITO
Em análise aos procedimentos realizados durante a persecução criminal, nada há que se possa ter
comprometido o bom andamento processual, ou mesmo, que porventura tenha gerado alguma nulidade passível de observância
ex officio.
A materialidade do crime de tráfico de drogas encontra-se devidamente comprovada pelo laudo pericial
n.º 33.14.2022.86878-1 (ID 112066960) restando-se incontestável que as substâncias apreendidas tratavam-se de
“MACONHA e COCAÍNA”, as quais eram ao tempo do fato e ainda são, de uso, porte e comercialização proibida no Brasil,
em conformidade com RDC n° 13 de 26.03.2010, o qual regulamenta a Portaria n° 344/98, da Secretaria de Vigilância
Sanitária do Ministério da Saúde, sendo inclusa na lista E de substâncias proscritas.
No que concerne à autoria do crime em questão, vejamos o que as provas colhidas na fase judicial,
subsidiam a respeito:
“(...) Que já tínhamos informações de que naquela Distribuidora acontecia o tráfico de drogas; Que no
momento que a guarnição recebeu essa informação nos deslocamos para o local e conseguimos chegar
quando os dois se encontravam lá (...); Que a informação que chegou esse cidadão Pablo que
comercializava o entorpecente ali; Que a informação também era de o Pablo também era o proprietário da
distribuidora (...); Que moradores da rua que nos informaram no momento em que estávamos em rondas
(...); Que eu vi o Pablo evadindo, eu fiquei fora com o Adrian; Quem entrou atras do Pablo foi o tenente
(...); Que não conseguimos pegar o Pablo, ele fugiu; Que achamos o documento dele na mochila, ele
estava até com um mandado de prisão em aberto (...); Que o Adrian disse que o Pablo que fugiu e que ele
tinha adquirido com ele o entorpecente; Que achamos com o Adrian uma porção de droga, que ele disse
que tinha comprovado com o dono da distribuidora; Que mostramos a foto do documento do Pablo para o
Adrian e ele disse que era a mesma pessoa (...); Que a mochila/bolsa foi encontrada ao solo, em frente a
Distribuidora (...);Que eu só fui ter ciência do conteúdo da bolsa quando chegamos no CISC, que fomos
escrever o que tinha lá; Que tinham vários celulares, balança de precisão, uma quantidade grande de
droga (...); Que nós conseguimos ver o Adrian pegando alguma coisa do Pablo (...); Que tinha uma
quantidade grande de dinheiro (...); Que conversando com vizinhos e com o Adrian, os mesmos disseram
que ele já estava cometendo esse delito a um tempo (...): Que só de visualizar a Distribuidora dava para
ver que era de fachada, por causa dos poucos itens que tinha lá (...); Que os moradores foram saindo ali
naquele momento e disseram que ele realizava o tráfico no local (...)”
“(...) Que recebemos informações desse suposto tráfico de entorpecente; Que fomos até o local e
verificamos o que estava acontecendo na hora do fato, o que conseguimos apreender era o que estava
comprando e o outro fugiu; Que pegamos uma mochila que ficou para trás e tinha uma certa quantidade
de entorpecente; Que o que estava comprando tinha uma pequena porção de entorpecente (...); Que tinha
um documento do que tinha fugido na mochila e tinha um mandado de prisão em aberto para ele também
(...); Que visualizamos o que foragiu entregando algo para o usuário (...); Que ele saiu correndo e nós já
achamos uma mochila pelo caminho, ele saiu pulando muro e tentamos buscar ele e não localizamos
mais; Que verificamos o que tinha na mochila e era entorpecente (...); Que o usuário estava para fora e ele
(Pablo) para dentro; Que quando nós chegamos o que estava lá na frente tentou correr e vimos ele
correndo para o muro no fundo (...); Que vimos ele passando algo (...); Que pegamos o menino que estava
fora e já vimos que era droga; Que tinha um portão do lado (...), nós fomos pelo corredor lateral da casa
(...); Que no corredor tinha pedaço de maconha seca que deve ter sido dispensada por estar velha já; Que
dentro da mochila tinha droga; Que dentro da Distribuidora também tinha droga (...); Que se eu não me
engano lá era uma residência no fundo (...), se tinha mais gente lá correram antes da gente conseguir ver
(...); Que já eram porções preparadas para a venda (...); Que na hora não apareceu ninguém lá não, já
estava tarde (...)”.
O acusado PABLO BRUNO CASTRO CAMPOS, quando interrogado em juízo, relatou que:
“(...) Que eu fui preso depois de um ano, eu fiquei sabendo por que minha madrinha falou, eu não morava
mais no local (...); Que eu não morava lá, não tenho conhecimento dessa droga e pela lógica quem ia
andar com uma mochila com drogas e documento, não tem lógica (...); Que eu nunca vi esse usuário, eu
não morava mais lá; Que a Distribuidora já estava fechada a dois meses, eu não morava mais lá (...); Que
eu não estava com o usuário, eu não fugi da polícia (...); Que a identidade era minha, mas eu não tenho
conhecimento da droga; Que a identidade estava na minha casa; Que eu nunca me apresentei porque eu
estava trabalhando na chácara da minha tia (...); Que eu já estava trabalhando lá antes, eu vim para cá esse
ano; Que eu nego os fatos, eu não tenho conhecimento (...); Que a minha identidade estava na minha casa
(...); Que lá era minha casa, eu não morava mais lá (...); Que a identidade era minha, mas a droga não (...);
Que eu não tenho conhecimento da droga e nem da mochila, eu já tinha mudado de lá (...)”.
O acusado quando interrogado em juízo relatou que não morava mais no local e que os entorpecentes não
lhe pertenciam. Ainda, relatou que estava trabalhando na chácara de sua tia na época dos fatos e que não estava em Cuiabá. Já
em relação ao seu documento de RG localizado, ele informou que estava na residência e não na mochila como alegado pelos
policiais. Por fim, relatou que não conhece o usuário de drogas e que não era ele que fugiu quando os policiais chegaram no
local.
Por outro lado, cabe salientar que a defesa do acusado não produziu provas que o isentasse do crime.
Ainda, vale frisar que o ônus da prova compete à defesa, a fim de buscar isentar a responsabilidade do sentenciado pela prática
delitiva em testilha, o que não foi comprovado nos autos. Nesse sentido, verifica-se que não foram arroladas sequer
testemunhas que pudessem confirmar as alegações do réu em juízo.
Com efeito, ressalto que é o posicionamento do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, que o ônus da prova
caberá à defesa. Vejamos:
Já os policiais militares inquiridos em juízo confirmaram a autoria delitiva, uma vez que relataram que
receberam informações de que estaria ocorrendo o comércio de drogas na Distribuidora e que foram até o local averiguar.
Assim, informaram que ao chegarem no local flagraram uma pessoa passando algo para outra, oportunidade em que realizaram
a abordagem da pessoa de Adrian, sendo que a outra pessoa que estava dentro da Distribuidora conseguiu foragir, deixando
uma mochila pelo caminho.
Em continuação, relataram que encontraram com a pessoa de Adrian uma porção de entorpecente,
oportunidade em que ele relatou que teria acabado de comprar com o dono da Distribuidora de nome Pablo. Ainda, relataram
que ao verificarem o conteúdo da mochila localizaram dentro da mesma vários celulares, entorpecentes, balança de precisão,
grande quantidade de drogas e valores em dinheiro e ainda uma carteira de identidade do acusado. Além disso, relataram que
ao realizarem buscas na Distribuidora também localizaram entorpecentes.
Ademais, o policial Thiago foi incisivo ao relatar em juízo que a informação recebida dava conta de que a
pessoa de Pablo era quem realizava o comércio de drogas e era o dono da Distribuidora. Ainda, também relatou que os
vizinhos do local e o usuário de drogas apreendido também confirmaram que o réu realizava o comércio de drogas.
Desse modo, lembro que os depoimentos de policiais não servem para descrédito pelo simples fato de
serem policiais, ainda mais que não há prova em contrário, trazendo outra verdade para os fatos.
“(...) para comprovação da prática do crime de tráfico ilícito de entorpecentes (e de outros tipos penais
previstos nesta Lei), exigia-se, no passado, prova testemunhal considerada isenta, vale dizer, distintas dos
quadros da polícia, pois esta, através dos seus agentes, se responsável pela prisão ou investigação, logo
teria interesse em mantê-la, justificando seus atos e pretendendo a condenação do réu. Não mais vige esse
pensamento, como majoritário, nos tribunais brasileiros. Preceitua o art. 202 do CPP que ‘toda pessoa
poderá ser testemunha’, logo, é indiscutível que os policiais, sejam eles autores da prisão do réu ou
não, podem testemunhar, sob o compromisso de dizer a verdade e sujeitos às penas do crime de
falso testemunho (...)” (Nucci, Guilherme de Souza – Leis penais e processuais penais comentadas -; 7.
Ed. ver. atual. e ampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p. 319).
Com efeito, verifico que o conjunto probatório produzido nos autos se mostrou verossímil e sólido,
portanto, não sendo possível acolher a tese da defesa para absolver o réu, uma vez que restou demonstrado claramente o crime
de tráfico de drogas, já que vendia, trazia consigo e guardavaentorpecentes sem autorização ou em desacordo com
determinação legal o regulamentar, destinados à venda.
ISTO POSTO e por tudo mais que dos autos consta, com as fundamentações necessárias, JULGO
PROCEDENTE A DENÚNCIA para CONDENAR o denunciado PABLO BRUNO CASTRO CAMPOS, brasileiro,
solteiro, nascido em 02/06/1999, filho de Jair Damasceno de Campos e Francisca Cristiane Castro Silva, portador do RG n.º
27008487 SSP/MT, inscrito no CPF sob o n.º 054.953.681-77, residente e domiciliado à rua 46, n. º 05, quadra 186, bairro
Pedra 90, Cuiabá-MT, pelaprática delitiva capitulada no art. 33, caput, da Lei n.º 11.343/06,c/c art. 61, inc. I, do Código
Penal.
DOSIMETRIA DA PENA
Primeira fase:
Destaco que a pena cominada para o crime do art. 33, caput, da Lei de Drogas é de 05 (cinco) a 15
(quinze) anos de reclusão e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (hum mil e quinhentos) dias-multa.
De acordo com o art. 68 do Código Penal, a aplicação da pena ocorre em três fases. Na primeira delas,
deve o Magistrado avaliar as circunstâncias judiciais trazidas no artigo 59, do mesmo codex (culpabilidade, antecedentes,
conduta social e personalidade do sentenciado; motivos, circunstâncias e consequências do crime; e o comportamento da
vítima) e fixar a pena-base, a qual, por sua vez, servirá de marco inicial para a próxima fase da dosimetria.
Em se tratando de tráfico de drogas, o Magistrado também deverá observar o art. 42 da Lei 11.343/06,
que orienta: "O juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância sobre o previsto no art. 59 do Código Penal, a
natureza e quantidade da substância ou do produto, personalidade e a conduta social do agente".
Observando, pois, com estrita fidelidade, as regras do art. 42 da Lei n. 11.343/06, que impõe ao Juiz levar
em consideração, com preponderância sobre o previsto no art. 59 do Código Penal, a natureza e a quantidade da droga, na
fixação da pena base, NÃO há razão para exasperar a reprimenda.
Acerca da conduta social e personalidade do condenado, não há elementos e respaldo técnico apto a
lastrear consideração em seu prejuízo.
Quanto à culpabilidade, tem-se que, nesta etapa, deve-se abordar o menor ou maior índice de
reprovabilidade da agente, não só em razão de suas condições pessoais, mas também levando em consideração a situação em
que o fato delituoso ocorreu.
Após um estudo detalhado dos autos, entendo que a conduta do condenado não deve ser tida com grande
reprovabilidade, sendo, pois, normal à espécie.
No que tange aos antecedentes criminais, compreende-se, através de detida análise dos autos, que o
acusado possui em seu desfavor uma condenação transitada em julgado, a qual será considerada na Segunda Fase da
Dosimetria da Pena.
Segunda fase:
Inexistem atenuantes a serem consideradas.
De outra banda, reconheço a agravante da reincidência, prevista no artigo 61, inciso I, do Código Penal,
em virtude da condenação do réu nos autos n°
0002598-51.2019.811.0042, perante o juízo da 13ª Vara Criminal de Cuiabá – MT, a qual está sendo fiscalizada pelo juízo da
2ª Vara Criminal de Cuiabá, na Guia de Execução nº 2000806-28.2019.911.0042/SEEU.
Por isso, MAJORO a pena-base em 1/5 (um quinto), ou seja, em 01 (um) ano de reclusão e 100 (cem)
dias-multa, considerando que se trata de reincidência específica, de modo que encontro a pena de 06 (seis) anos de reclusão e
600 (seiscentos) dias-multa.
Terceira fase:
Nesta fase, não há que se falar em aplicação do benefício previsto no §4º do art. 33 da Lei de Drogas,
posto que o condenado não ostenta bons antecedentes e se dedica à atividade criminosa, considerando que ele é reincidente
específico (Executivo de Pena nº 2000806-28.2019.911.0042/SEEU).
Nesse sentido:
Por essa razão, DEIXO de aplicar o benefício previsto no §4º, do art. 33 da Lei de Drogas em favor do
réu.
Não havendo causa de aumento de pena a ser considerada, TORNO A PENA CONCRETA em
DEFINITIVO em desfavor de PABLO BRUNO CASTRO CAMPOS, brasileiro, solteiro, nascido em 02/06/1999, filho de
Jair Damasceno de Campos e Francisca Cristiane Castro Silva, portador do RG n.º 27008487 SSP/MT, inscrito no CPF sob o
n.º 054.953.681-77, residente e domiciliado à rua 46, n. º 05, quadra 186, bairro Pedra 90, Cuiabá-MT, no patamar de 06 (seis)
anos de reclusão e 600 (seiscentos) dias-multa, que fixo no valor de 1/30 (um trinta avos) do salário mínimo vigente à época
dos fatos.
Por isso, em observância aos critérios previstos no art. 59 c/c art. 33, §2º e §3º, ambos do Código Penal
c/c art. 42 da Lei de Drogas, FIXO o regime prisional de início em FECHADO, visto ser reincidente.
Em relação ao crime de tráfico de drogas e, ainda, para fins de detração de pena, em observação ao
disposto no artigo 387, §2º do Código de Processo Penal, sua progressão de regime se dará após o cumprimento de 60% da
pena, ressalto que ele alcançará o requisito objetivo para progressão de pena para regime semiaberto em 16/02/2027.
DA MANUTENÇÃO DA PRISÃO
No atual cenário processual, vejo que o réu não poderá apelar desta sentença em liberdade, porquanto a
razão que ensejou a sua custódia cautelar ainda se faz presente, e, ainda, em razão da reincidência, somada com o fato de ter
sido condenado ao regime inicialmente fechado, fatos este, que, por si só, ratificam a manutenção de sua custódia cautelar, a
fim de prevenir a reprodução de novos fatos criminosos e acautelar o meio social, visto que, se posto em liberdade,
possivelmente encontrara estímulos para voltarem a delinquir.
Agregado a isso, vale anotar que o Superior Tribunal de Justiça firmou compreensão de que o réu que
permaneceu custodiado durante toda a instrução criminal, como na hipótese dos autos, assim continuará como um dos
consectários lógicos e necessários da condenação. Nesse sentido, eis a recente ementa:
Por todas essas razões, ratifico o decreto prisional e, por conseguinte, nego ao réu o direito de apelar em
liberdade.
Por se tratar de processo que o condenado aguardará preso o processo e julgamento de eventual recurso e
o seu regime inicial foi fixado no fechado, nos termos do art. 8ª da Resolução n. 113/2010 do CNJ, DETERMINO a
expedição de Guia de Execução Provisória.
Nos termos do item 7.42.2 da CNGC/MT, parte judicial, providencie a entrega ao apenado, por oficial de
justiça, de um exemplar da CARTILHA DO APENADO, sob recibo.
P.I.C.
(Assinado Digitalmente)
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