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ESTADO DE MATO GROSSO

PODER JUDICIÁRIO
9ª VARA CRIMINAL DE CUIABÁ ESPEC. DELITOS DE TÓXICOS

SENTENÇA

Processo: 1004215-87.2023.8.11.0042.

AUTOR(A): POLÍCIA JUDICIÁRIA CIVIL DO ESTADO DE MATO GROSSO, MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE
MATO GROSSO

ACUSADO(A): PABLO BRUNO CASTRO CAMPOS

Vistos etc.

O Ministério Público do Estado de Mato Grosso, através de seu representante legal, no uso de suas
atribuições legais e constitucionais, ofertou denúncia em face de PABLO BRUNO CASTRO CAMPOS, brasileiro, solteiro,
nascido em 02/06/1999, filho de Jair Damasceno de Campos e Francisca Cristiane Castro Silva, portador do RG n.º 27008487
SSP/MT, inscrito no CPF sob o n.º 054.953.681-77, residente e domiciliado à rua 46, n. º 05, quadra 186, bairro Pedra 90,
Cuiabá-MT, imputando-lhe a prática delitiva capitulada no art. 33, caput, da Lei n.º 11.343/06,c/c art. 61, inc. I, do
Código Penal, pelos fatos que ocorreram, em síntese, da seguinte forma:

Narra à denúncia que:

“No dia 08 de julho de 2022, por volta das 22h15min, na rua 46, s/n.º, bairro Pedra 90, na cidade de
Cuiabá-MT, o denunciado PABLO BRUNO CASTRO CAMPOS vendia e trazia consigo drogas, para
outros fins que não o consumo próprio, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar.
Segundo consta nos autos, a equipe GUPM do 24° BPM recebeu informações de que no endereço
supracitado, mais especificamente em uma distribuidora de bebidas, estaria ocorrendo o tráfico de drogas.
Munidos dessas informações, a fim de verificarem a veracidade da denúncia recebida, os policiais
militares se deslocaram até o endereço indicado, oportunidade em que avistaram dois indivíduos, o
usuário Andrian Ronam Pereira Silva e o denunciado PABLO BRUNO, proprietário da distribuidora.
Na ocasião, ainda foi visualizado o exato momento em que o usuário Andrian Ronam pegou algo das
mãos do denunciado, atitude que foi reputada suspeita pelos agentes.
Ante o contexto, a equipe se aproximou para realizar a abordagem, mas o denunciado empreendeu fuga
ao mesmo tempo que dispensou uma mochila ao solo; já o usuário Andrian Ronam foi abordado e
revistado pela guarnição, encontrando em sua posse 01 (um) porção de substância análoga a maconha e
01 (um) aparelho celular. Ao ser indagado a respeito do entorpecente apreendido, o usuário Andrian
Ronam confirmou que havia acabado de adquirir a droga com o denunciado.
Continuando as diligências, a equipe verificou a mochila dispensada pelo denunciado no ato da fuga, bem
como realizou buscas pelo local, apreendendo, no total, 155 (cento e cinquenta e cinco) porções de
substância análoga a cocaína, 04 (quatro) sacos contendo substância análoga a cocaína, 15 (quinze)
porções de substância análoga a pasta base de cocaína, 02 (dois) sacos contendo substância análoga a
pasta base de cocaína, 17 (dezessete) pedaços de substância análoga a pasta base de cocaína, 07 (sete)
pedaços grandes de substância análoga a maconha, 01 (um) pacote com pedaços e farelos de substância
análoga a maconha, 02 (duas) balanças de precisão, 01 (uma) faca, 04 (quatro) aparelhos celulares, a
quantia de R$ 855,00 (oitocentos e cinquenta e cinco reais) e 01 (um) documento de identidade em nome
do denunciado.

Posteriormente, foi realizada a checagem do nome do denunciado, ocasião em que foi descortinado que
ele possuía mandado de prisão em aberto.
O laudo pericial n.º 33.14.2022.86878-01, acostado no ID. 112066960, concluiu que as porções
apreendidas, sendo 176 (cento e setenta e seis) porções de material de tonalidade amarelada e
esbranquiçada, na forma de pó e pedras, com massa de 267,77 g (duzentos e sessenta e sete gramas e
setenta e sete centigramas), apresentaram resultado POSITIVO para a presença de COCAÍNA, enquanto
que 02 (duas) porções de material vegetal, compacto, seco, de tonalidade castanho-esverdeada, pesando
238,86 g (duzentos e trinta e oito gramas e duas centigramas), apresentaram resultado POSITIVO para a
presença de Cannabis Sativa L. (MACONHA), substâncias entorpecentes, de uso proscrito no Brasil,
consideradas capazes de causarem dependência física e psíquica, elencadas nas listas F1, F2 e E da
Portaria n.º 344/ANVISA/MS.
Referido laudo ainda atestou que em relação a 02 (duas) porções de material de tonalidade esbranquiçada,
na forma de pó, acondicionada em “trouxa”, com massa de 117,50 g (cento e dezessete gramas e
cinquenta centigramas), uma delas apresentou resultado POSITIVO para a presença de COCAÍNA, já a
outra porção apresentou resultado POSITIVO para presença de ÍONS BORATO (ácido bórico), que é um
sal de caráter levemente ácido, comumente acrescentado à cocaína em sua forma final coadjuvante, com o
objetivo de aumentar os lucros da comercialização ilícita.
Ademais, o laudo pericial n.º 3.14.2022.86877-01, juntado no ID. 112066959, atestou que 01 (uma)
porção de material vegetal, compacto, seco, de tonalidade castanho-esverdeada, apreendida na posse do
usuário Andrian Ronam, com massa de 9,74 g (nove gramas e setenta e quatro centigramas), apresentou
resultado POSITIVO para Cannabis Sativa L. (MACONHA).
Em seu termo de declaração, conforme ID. 112066961, Andrian Ronam Pereira Silva declarou ser usuário
de maconha. Também disse que foi ao local para adquirir drogas, pois tinha conhecimento que lá era
ponto de venda de drogas, inclusive já havia adquirido entorpecentes com o denunciado em outras
ocasiões.
Posteriormente foi lavrado o TCO n.º 316.5.2022.7637, em desfavor de Andrian Ronam Pereira Silva, por
posse de drogas para consumo pessoal (ID. 112066959).
Mister destacar que o denunciado PABLO BRUNO foi intimado para comparecer à Delegacia
Especializada de Repressão a Entorpecentes – DRE, com a finalidade dele ser ouvido/interrogado pela
autoridade policial, contudo, ele não cumpriu nenhuma das intimações emitidas (ID. 112066969 e ID.
112066970). Em consulta aos antecedentes criminais do denunciado PABLO BRUNO, verificou-se que
ele é REINCIDENTE ESPECÍFICO, posto que registra condenação transitada em julgado pela prática do
crime de tráfico de drogas, conforme Executivo de Pena n.º 2000806-28.2019.8.11.0042, perante o Juízo
da 2ª Vara Criminal desta Comarca.
Além disso, o denunciado responde a outra ação penal por tráfico de drogas (autos n.º
0031559-70.2017.8.11.0042 – 9ª Vara Criminal), na qual já consta condenação em primeiro grau.
Com efeito, a denúncia recebida pelos policiais, informando sobre a ocorrência da traficância no local, a
qual restou confirmada quando os agentes visualizaram o momento em que ocorreu a entrega da droga
para o usuário Andrian Ronam e, ainda, o encontro de entorpecentes na posse de Andrian e a sua
declaração para os agentes e para a autoridade policial, informando que adquiriu o entorpecente com o
denunciado, somado ao ato da fuga e a dispensa da droga, além do denunciado ser REINCIDENTE
ESPECÍFICO, são fatos que revelam que as drogas apreendidas pertenciam ao denunciado e eram
destinadas ao comércio ilícito, apontando assim, a existência de indícios suficientes de materialidade e
autoria para o crime de tráfico de drogas, aptas a ensejar a instauração de procedimento criminal em
desfavor do denunciado”.

Devidamente notificado, o acusado apresentou sua resposta à acusação através da Defensoria Pública (ID
126030803).

Em 28/08/2023, a denúncia foi recebida em desfavor do acusado (ID 127316608).

Durante a instrução criminal foram realizadas as oitivas de duas testemunhas e o interrogatório do réu.

Em sede de alegações finais, o representante do Ministério Público, entendendo estarem comprovadas a


materialidade e a autoria delitiva, requereu a condenação do acusado nos termos da denúncia (ID 129855979).

Por sua vez, a defesa do acusado, requereu, preliminarmente a absolvição do réu em razão da ilegalidade
da busca domiciliar. No mérito, requereu a absolvição em razão da ausência de provas em desfavor do acusado, com fulcro no
artigo 386, inciso VII do Código de Processo Penal, embasado no princípio do in dubio pro reo. EM caso de entendimento
diverso, pugnou pela desclassificação do delito para o de porte de drogas para consumo próprio. Em caso de condenação,
pugnou para que a pena-base seja fixada em seu mínimo legal, reconhecendo-se o tráfico privilegiado e concedendo ao réu o
direito de recorrer em liberdade (ID 133799384).

Eis a síntese necessária.

Fundamento e DECIDO.

Pretende-se, nestes autos, atribuir ao acusado PABLO BRUNO CASTRO CAMPOS, brasileiro,
solteiro, nascido em 02/06/1999, filho de Jair Damasceno de Campos e Francisca Cristiane Castro Silva, portador do RG n.º
27008487 SSP/MT, inscrito no CPF sob o n.º 054.953.681-77, residente e domiciliado à rua 46, n. º 05, quadra 186, bairro
Pedra 90, Cuiabá-MT,a prática delitiva capitulada no art. 33, caput, da Lei n.º 11.343/06,c/c art. 61, inc. I, do Código
Penal.

1. DA PRELIMINAR
Dá análise dos autos, verifica-se que a defesa dos acusados arguiu em seus memoriais finais, em síntese, a
nulidade mediante a inviolabilidade do domicílio.

É cediço que garantia constitucional à inviolabilidade de domicílio comporta exceções, consoante


previsão esculpida no art. 5º, inciso XI, da Constituição Federal, in verbis:

“XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do
morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial”.

Desse modo, verifica-se do Boletim de Ocorrência que:

“A GUPM DO OFICIAL DE ÁREA 24°BPM, RECEBEU INFORMAÇÃO QUE EM UMA


DISTRIBUIDORA DE BEBIDAS NA RUA 46, SEGUNDA ETAPA DO BAIRRO PEDRA 90,
ESTAVA OCORRENDO UM CRIME DE TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS ; QUE NA
CHEGADA DA GUPM AO LOCAL INDICADO TERIAM VISUALIZADO O SUSPEITO
ADRIAN PEGANDO ALGO (CONSTATADO POSTERIOMENTE SE TRATAR DE UMA
PORÇÃO DE SUBSTÂNCIA ANÁLOGA A MACONHA) DAS MÃOS DO PROPRIETÁRIO DA
DISTRIBUIDORA, POSTERIORMENTE IDENTIFICADO COMO PABLO BRUNO CASTRO
CAMPOS; QUE O SUSPEITO PABLO EMPREENDEU FULGA A PÉ JOGANDO UMA
MOCHILA AO SOLO, LOGRANDO ÊXITO EM FORAGIR DA GUPM; QUE NA
ABORDAGEM E BUSCA PESSOAL FOI LOCALIZADO COM O SUSPEITO ADRIAN UMA
PORÇÃO DE SUBSTÂNCIA ANÁLOGA A MACONHA E 01 APARELHO CELULAR, TENDO
ELE CONFIRMADO TER ACABADO DE COMPRAR O MESMO NA DISTRIBUIDORA DAS
MAÕS DO SUSPEITO PABLO; QUE AO VERIFICAR A MOCHILA DEIXADA PARA TRÁS
FOI LOCALIZADO GRANDE QUANTIDADE DE ENTORPECENTES, CELULARES,
DINHEIRO, BALANÇA DE PRECISÃO E OUTROS ; QUE NO LOCAL AINDA FORAM
ENCONTRADOS MAIS ILÍCITOS QUE FORAM RECOLHIDOS; QUE TAMBÉM FOI
LOCALIZADO O RG DO SUSPEITO NO INTERIOR DA MOCHILA; QUE FOI FEITO A
CHECAGEM DO SUSPEITO PABLO CONSTATANDO QUE ELE POSSUIA UM MANDADO DE
PRISÃO EM ABERTO”.

Com efeito, ressalte que a garantia da inviolabilidade do domicílio é a regra, mas constitucionalmente
excepcionada quando houver flagrante delito.

Observe, que, porquanto os policiais tenham violado os domicílios, a conduta tipificada no art. 33 da Lei
n. 11.343/06 consiste em infração permanente, isso significando dizer que o autor de tal ilicitude está em constante estado de
flagrância, situação, essa, que autoriza a atuação policial a qualquer momento.

Assim, enquanto os agentes praticam a referida conduta proibida pela norma penal incriminadora, o delito
está sendo consumando, comportando o flagrante a qualquer momento, consoante se depreende do art. 303 do Código de
Processo Penal, in verbis:

“Art. 303. Nas infrações permanentes, entende-se o agente em flagrante delito enquanto não cessar a
permanência.”
A luz desse entendimento é como se posiciona o julgado do Tribunal de Justiça de Mato Grosso.
Vejamos:

EMENTA - APELAÇÃO CRIMINAL - TRÁFICO DE DROGAS E RECEPTAÇÃO - SENTENÇA


CONDENATÓRIA - NULIDADE DAS PROVAS DECORRENTES DA BUSCA E APREENSÃO,
INEXISTÊNCIA DE PROVAS DA TRAFICÂNCIA, DROGAS DESTINADAS AO CONSUMO
PRÓPRIO, RECONHECIMENTOS DOS MAUS ANTECEDENTES E DA REINCIDÊNCIA
CARACTERIZARIA BIS IN IDEM, A CONFISSÃO EXTRAJUDICIAL USADA NA SENTENÇA -
PEDIDO DE ANULAÇÃO DAS PROVAS, ABSOLVIÇÃO DO TRÁFICO, DESCLASSIFICAÇÃO
DO TRÁFICO PARA POSSE DE DROGAS PARA USO OU REDUÇÃO DAS PENAS E REGIME
SEMIABERTO - PRELIMINAR - NATUREZA PERMANENTE DO TRÁFICO DE DROGAS - JUSTA
CAUSA PARA O INGRESSO DOS AGENTES POLICIAIS NA RESIDÊNCIA [PRECEDIDA DE
FLAGRANTE] - ILEGALIDADE NA BUSCA E APREENSÃO DOMICILIAR NÃO IDENTIFICADA
- JURISPRUDÊNCIA DO STJ - PRELIMINAR REJEITADA - MÉRITO - DECLARAÇÕES DOS
INVESTIGADORES DE POLÍCIA E DA COMPANHEIRA DO APELANTE - DESTINAÇÃO
MERCANTIL DAS DROGAS ADMITIDA AOS AGENTES POLICIAIS - ENUNCIADO CRIMINAL
8 DO TJMT - FORMA DE ACONDICIONAMENTO DAS DROGAS [PORÇÕES INDIVIDUAIS] -
INDICATIVOS DE VENDA DIFUSA - TRAFICO FORMIGUINHA – CONDIÇÃO DE USUÁRIO
NÃO COMPROVADA - LIÇÕES DOUTRINARIAS - JULGADOS DO TJMT - ENUNCIADO
CRIMINAL 3 DO TJMT - PRETENSÕES DESCLASSIFICATÓRIAS/DESCLASSIFICATÓRIAS -
IMPROCEDÊNCIA - PENA-BASE - MAUS ANTECEDENTES CARACTERIZADOS - FRAÇÃO DE
AUMENTO DE 1/6 (UM SEXTO) PARA CADA CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL RAZOÁVEL E
PROPORCIONAL - ENTENDIMENTO DO STJ - EXISTÊNCIA DE DUAS CONDENAÇÕES
TRANSITADA EM JULGADO - BIS IN IDEM NÃO CARACTERIZADOS – ARESTO DO TJMG -
CONFISSÃO UTILIZADA PARA A FORMAÇÃO DO CONVENCIMENTO DO JULGADOR AINDA
QUE SIDO PARCIAL OU QUALIFICADA - RECONHECIMENTO DA ATENUANTE - SÚMULA
545 DO STJ - ACÓRDÃOS DO STJ E TJMT - COMPENSAÇÃO DA REINCIDÊNCIA COM
ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA - PREMISSA DO STJ - TRÁFICO PRIVILEGIADO
- INAPLICABILIDADE - NÃO PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS DOS BONS
ANTECEDENTES E PRIMARIEDADE - POSIÇÃO DO STJ - MAUS ANTECEDENTES E
REINCIDÊNCIA - REGIME INICIAL FECHADO JUSTIFICADO - ORIENTAÇÃO DO STJ -
RECURSO PROVIDO PARCIALMENTE PARA READEQUAR AS PENAS.
“Segundo jurisprudência firmada nesta Corte, o crime de tráfico de drogas de natureza
permanente, assim compreendido aquele cuja a consumação se protrai no tempo, não se exige a
apresentação de mandado de busca e apreensão ou autorização judicial para o ingresso dos
policiais na residência do acusado, quando se tem por objetivo cessar a atividade criminosa, dada a
situação de flagrância, conforme ressalva o art. 5º, XI, da Constituição Federal.” (STJ, AgRg no
HC 549.157/RS)
Sopesadas a natureza permanente do tráfico de drogas e a justa causa para o ingresso dos agentes
policiais na residência [precedida de flagrante], não se identifica qualquer ilegalidade na busca e
apreensão domiciliar, decorrente de fatos determinados e indicadores de comercialização ilícita de
entorpecentes.
Os depoimentos de agentes policiais, harmônicos com as demais provas, são idôneos para sustentar a
condenação criminal. (TJMT, Enunciado Criminal 8)
No conflito exercício de autodefesa, não se pode superestimar a versão do infrator, em
desprestígio/relativização à narrativa dos agentes de segurança pública, de modo a inverter os valores de
fé pública e idoneidade presumidas de servidor público que exerce a nobre função policial. (TJMT, AP
0019358-17.2015.8.11.0042)
A forma de acondicionamento das drogas [porções individuais] constitui indicativos de venda difusa,
visto que o fracionamento “em pequenas quantidades e em embalagem plástica demonstra que a droga foi
preparada para comercialização, de forma que sejam vendidas pequenas frações para cada usuário”
(BARBOZA, Bruna Santos. “Usuário ou Traficante?. Disponível em:
https://brunasbarboza.jusbrasil.com.br - acesso em: 30.11.2020).
A conduta do apelante [manter em depósito porções de cocaína e maconha e balança de precisão]
caracteriza tráfico “formiguinha”, cuja modalidade pressupõe pequena quantidade de droga para
distribuição no varejo a usuários indeterminados (TJMT, AP nº 54845/2016). Nesse tipo de tráfico
urbano, o agente costuma realizar idas e vindas às bocas-de-fumo com o objetivo de apanhar drogas para
fornecê-las conforme a procura dos usuários (OLIVEIRA, Adriano. As peças e os mecanismos do
fenômeno tráfico de drogas e do crime organizado. Disponível em: repositorio.ufpe.br). Mesmo não
pertencendo à estrutura do narcotráfico em larga escala, o tráfico “formiguinha”, após se fortalecer
economicamente mediante a conquista de clientela, pode vir a transformar-se em uma organização com
condições suficientes para legalizar o seu lucro através de “lavagem de dinheiro” (OLIVERA, Joselma
Gomes Pereira. O Adolescente e o Tráfico de Drogas na Cidade de Dourados: Sob uma perspectiva
subcultural. Disponível em: jspui/bitstream/prefix/967 - Acesso em 24.11.2020).
A propriedade das drogas e o envolvimento do apelante na traficância resultam demonstrados pelo
contexto das apreensões e pelas provas testemunhais produzidas. (TJMT, AP N.U
0000180-48.2019.8.11.0008)
A condição de usuário não elide a responsabilização do agente por comercializar drogas (TJMT,
Enunciado Criminal 3), notadamente por ser comum a figura do traficante-usuário ou usuário-traficante,
que vende a substância para sustentar o próprio vício (CONTE, Marta. HENN, Ronaldo César.
OLIVEIRA, Carmen Silveira de Oliveira. WOLFF, Maria Palma. “Passes e impasses: lei de drogas”.
Revista Latinoam Psicopat Fund., São Paulo, v. 11, n. 4, p. 602-615, dezembro 2008).
O c. STJ tem entendido razoável e proporcional a fração de aumento de 1/6 (um sexto) para cada
circunstância judicial. (HC 505.435/SP; AgRg no HC 600.179/SP)
A existência de duas condenações transitadas em julgado autoriza utilização de uma delas para os maus
antecedentes e a outra para a reincidência. “O bis in idem caracteriza-se somente quando a mesma
condenação anterior é utilizada para caracterizar a reincidência e os maus antecedentes” (TJMG, Ap nº
1.0461.17.002528-6/001).
A confissão utilizada para a formação do convencimento do julgador enseja o reconhecimento da
atenuante da confissão espontânea. (STJ, Súmula 545), ainda que tenha sido parcial ou qualificada (STJ,
HC nº 425.736/SP; STJ, HC nº 375.038/SP; TJMT, Ap nº 92768/2017; TJMT, Ap nº 138257/2017)
A existência de uma condenação caracterizadora da reincidência “possibilita a compensação integral com
a atenuante da confissão espontânea” (STJ, AgRg no AREsp 1727581/DF).
A minorante do tráfico privilegiado se mostra inaplicável diante do não preenchimento dos requisitos dos
bons antecedentes e primariedade (Lei nº 11.343/2006, art. 33, § 4º), consoante posição do c. STJ. (AgRg
no HC nº 603.339/SP; AgRg no AgRg no AREsp 1713569/SP)
A reincidência e os maus antecedentes justificam o regime inicial fechado, ex vi do art. 33, § 2º, ‘a’, e §
3º, do CP (STJ, HC nº 615.004/SP STJ, HC 606.112/SP)
(N.U 0003186-89.2019.8.11.0064, CÂMARAS ISOLADAS CRIMINAIS, MARCOS MACHADO,
Primeira Câmara Criminal, Julgado em 18/12/2020, Publicado no DJE 18/12/2020).

Inclusive, de se pontuar que, embora o Eg. Superior Tribunal de Justiça tenha um entendimento acerca
das provas obtidas mediante invasão de domicílio por policiais sem mandado de busca e apreensão, divirjo em relação a ele,
visto que referida matéria já foi debatida de forma exaustiva pelo SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, tanto que foi
fixado para essa tese o Tema 280 com Repercussão Geral.

Com isso, me filio ao entendimento do Pretório Excelso, o qual vem decidindo ser lícita a busca
domiciliar em caso de flagrante delito do tráfico de drogas, por causa do crime permanente.

Nesse sentido, confiram-se os seguintes arestos:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO. TRÁFICO DE DROGAS. ALEGADA


AUSÊNCIA DE FUNDADAS RAZÕES PARA INGRESSO EM DOMICÍLIO. CRIME DE
NATUREZA PERMANENTE. DISPENSA DE MANDADO JUDICIAL. NECESSIDADE DE
REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. VIA INADEQUADA. 1. Em se tratando de
delito de tráfico de drogas praticado, em tese, na modalidade ter em depósito, a consumação se prolonga
no tempo e, enquanto configurada essa situação, a flagrância permite a busca domiciliar,
independentemente da expedição de mandado judicial, desde que presentes fundadas razões de que em
seu interior ocorre a prática de crime (RE 603.616/RO, Rel. Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno,
DJe de 10/5/2016). 2. A análise das questões fáticas suscitadas pela defesa, notadamente quanto à suposta
ausência de fundadas razões para proceder à busca domiciliar, demandaria o reexame do conjunto
probatório, providência incompatível com esta via processual. 3. Agravo Regimental a que nega
provimento. (RHC 229547 AgR, Órgão julgador: Primeira Turma do STF, Relator(a): Min.
ALEXANDRE DE MORAES, Julgamento: 22/08/2023, Publicação: 25/08/2023).

Ementa: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL.


HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. AUSÊNCIA DE FUNDADAS RAZÕES PARA
INGRESSO NO DOMICÍLIO DO PACIENTE. NECESSIDADE DE REEXAME DO CONJUNTO
FÁTICO-PROBATÓRIO. VIA INADEQUADA. CRIME DE NATUREZA PERMANENTE.
DISPENSA DE MANDADO JUDICIAL. INEXISTÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. 1. A
análise das questões fáticas suscitadas pela defesa, notadamente quanto à suposta ausência de fundadas
razões para proceder à busca domiciliar, demandaria o reexame do conjunto probatório, providência
incompatível com esta via processual (cf. HC 144.343-AgR, Rel. Min. ALEXANDRE DE MORAES,
Primeira Turma, DJe de 11/9/2017; HC 136.622-AgR, Rel. Min. ROBERTO BARROSO, Primeira
Turma, DJe de 17/2/2017; HC 135.748, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, DJe
de 13/2/2017; HC 135956, Rel. Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, DJe de 28/11/2016; HC
134445-AgR, Rel. Min. EDSON FACHIN, Primeira Turma, Dje de 27/9/2016). 2. A conclusão a que
chegou o Superior Tribunal de Justiça está alinhada ao entendimento jurisprudencial firmado por esta
CORTE, no sentido de que “[o]s crimes de tráfico de drogas e associação para o tráfico são de natureza
permanente. O agente encontra-se em flagrante delito enquanto não cessar a permanência” (HC 95.015,
Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, DJe de 24/4/2009). 3. Nesse contexto, em se
tratando de delito de tráfico de drogas praticado, em tese, na modalidade ter em depósito, a consumação
se prolonga no tempo e, enquanto configurada essa situação, a flagrância permite a busca domiciliar,
independentemente da expedição de mandado judicial, desde que presentes fundadas razões de que em
seu interior ocorre a prática de crime. Nesse sentido: RE 603616, Rel. Min. GILMAR MENDES,
Tribunal Pleno, DJe de 10/5/2016. 4. Embargos de Declaração recebidos como Agravo Regimental, ao
qual se nega provimento.( HC 203210 ED, Órgão julgador: Primeira Turma, Relator(a): Min.
ALEXANDRE DE MORAES, Julgamento: 17/08/2021, Publicação: 20/08/2021)

Portanto, o ingresso dos policiais nas residências, mostrou-se legítimo, restando configurada, no presente
caso, a exceção constitucionalmente prevista à inviolabilidade de domicílio, qual seja, o estado de flagrância.

Em vista disso, não vislumbrando ilegalidade na ação policial que ensejou a busca domiciliar, REJEITO
a nulidade arguida pela defesa.

2. DO MÉRITO

Em análise aos procedimentos realizados durante a persecução criminal, nada há que se possa ter
comprometido o bom andamento processual, ou mesmo, que porventura tenha gerado alguma nulidade passível de observância
ex officio.
A materialidade do crime de tráfico de drogas encontra-se devidamente comprovada pelo laudo pericial
n.º 33.14.2022.86878-1 (ID 112066960) restando-se incontestável que as substâncias apreendidas tratavam-se de
“MACONHA e COCAÍNA”, as quais eram ao tempo do fato e ainda são, de uso, porte e comercialização proibida no Brasil,
em conformidade com RDC n° 13 de 26.03.2010, o qual regulamenta a Portaria n° 344/98, da Secretaria de Vigilância
Sanitária do Ministério da Saúde, sendo inclusa na lista E de substâncias proscritas.

No que concerne à autoria do crime em questão, vejamos o que as provas colhidas na fase judicial,
subsidiam a respeito:

A testemunha THIAGO DE OLIVEIRA MACHADO, quando inquirida em juízo, relatou que:

“(...) Que já tínhamos informações de que naquela Distribuidora acontecia o tráfico de drogas; Que no
momento que a guarnição recebeu essa informação nos deslocamos para o local e conseguimos chegar
quando os dois se encontravam lá (...); Que a informação que chegou esse cidadão Pablo que
comercializava o entorpecente ali; Que a informação também era de o Pablo também era o proprietário da
distribuidora (...); Que moradores da rua que nos informaram no momento em que estávamos em rondas
(...); Que eu vi o Pablo evadindo, eu fiquei fora com o Adrian; Quem entrou atras do Pablo foi o tenente
(...); Que não conseguimos pegar o Pablo, ele fugiu; Que achamos o documento dele na mochila, ele
estava até com um mandado de prisão em aberto (...); Que o Adrian disse que o Pablo que fugiu e que ele
tinha adquirido com ele o entorpecente; Que achamos com o Adrian uma porção de droga, que ele disse
que tinha comprovado com o dono da distribuidora; Que mostramos a foto do documento do Pablo para o
Adrian e ele disse que era a mesma pessoa (...); Que a mochila/bolsa foi encontrada ao solo, em frente a
Distribuidora (...);Que eu só fui ter ciência do conteúdo da bolsa quando chegamos no CISC, que fomos
escrever o que tinha lá; Que tinham vários celulares, balança de precisão, uma quantidade grande de
droga (...); Que nós conseguimos ver o Adrian pegando alguma coisa do Pablo (...); Que tinha uma
quantidade grande de dinheiro (...); Que conversando com vizinhos e com o Adrian, os mesmos disseram
que ele já estava cometendo esse delito a um tempo (...): Que só de visualizar a Distribuidora dava para
ver que era de fachada, por causa dos poucos itens que tinha lá (...); Que os moradores foram saindo ali
naquele momento e disseram que ele realizava o tráfico no local (...)”

A testemunha HUGO RAFAEL CARVALHO NASCIMENTO, quando inquirida em juízo,


relatou que:

“(...) Que recebemos informações desse suposto tráfico de entorpecente; Que fomos até o local e
verificamos o que estava acontecendo na hora do fato, o que conseguimos apreender era o que estava
comprando e o outro fugiu; Que pegamos uma mochila que ficou para trás e tinha uma certa quantidade
de entorpecente; Que o que estava comprando tinha uma pequena porção de entorpecente (...); Que tinha
um documento do que tinha fugido na mochila e tinha um mandado de prisão em aberto para ele também
(...); Que visualizamos o que foragiu entregando algo para o usuário (...); Que ele saiu correndo e nós já
achamos uma mochila pelo caminho, ele saiu pulando muro e tentamos buscar ele e não localizamos
mais; Que verificamos o que tinha na mochila e era entorpecente (...); Que o usuário estava para fora e ele
(Pablo) para dentro; Que quando nós chegamos o que estava lá na frente tentou correr e vimos ele
correndo para o muro no fundo (...); Que vimos ele passando algo (...); Que pegamos o menino que estava
fora e já vimos que era droga; Que tinha um portão do lado (...), nós fomos pelo corredor lateral da casa
(...); Que no corredor tinha pedaço de maconha seca que deve ter sido dispensada por estar velha já; Que
dentro da mochila tinha droga; Que dentro da Distribuidora também tinha droga (...); Que se eu não me
engano lá era uma residência no fundo (...), se tinha mais gente lá correram antes da gente conseguir ver
(...); Que já eram porções preparadas para a venda (...); Que na hora não apareceu ninguém lá não, já
estava tarde (...)”.

O acusado PABLO BRUNO CASTRO CAMPOS, quando interrogado em juízo, relatou que:
“(...) Que eu fui preso depois de um ano, eu fiquei sabendo por que minha madrinha falou, eu não morava
mais no local (...); Que eu não morava lá, não tenho conhecimento dessa droga e pela lógica quem ia
andar com uma mochila com drogas e documento, não tem lógica (...); Que eu nunca vi esse usuário, eu
não morava mais lá; Que a Distribuidora já estava fechada a dois meses, eu não morava mais lá (...); Que
eu não estava com o usuário, eu não fugi da polícia (...); Que a identidade era minha, mas eu não tenho
conhecimento da droga; Que a identidade estava na minha casa; Que eu nunca me apresentei porque eu
estava trabalhando na chácara da minha tia (...); Que eu já estava trabalhando lá antes, eu vim para cá esse
ano; Que eu nego os fatos, eu não tenho conhecimento (...); Que a minha identidade estava na minha casa
(...); Que lá era minha casa, eu não morava mais lá (...); Que a identidade era minha, mas a droga não (...);
Que eu não tenho conhecimento da droga e nem da mochila, eu já tinha mudado de lá (...)”.

O acusado quando interrogado em juízo relatou que não morava mais no local e que os entorpecentes não
lhe pertenciam. Ainda, relatou que estava trabalhando na chácara de sua tia na época dos fatos e que não estava em Cuiabá. Já
em relação ao seu documento de RG localizado, ele informou que estava na residência e não na mochila como alegado pelos
policiais. Por fim, relatou que não conhece o usuário de drogas e que não era ele que fugiu quando os policiais chegaram no
local.

Por outro lado, cabe salientar que a defesa do acusado não produziu provas que o isentasse do crime.
Ainda, vale frisar que o ônus da prova compete à defesa, a fim de buscar isentar a responsabilidade do sentenciado pela prática
delitiva em testilha, o que não foi comprovado nos autos. Nesse sentido, verifica-se que não foram arroladas sequer
testemunhas que pudessem confirmar as alegações do réu em juízo.

Com efeito, ressalto que é o posicionamento do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, que o ônus da prova
caberá à defesa. Vejamos:

APELAÇÕES CRIMINAIS – TRÁFICO DE DROGAS, POSSE ILEGAL DE MUNIÇÕES DE USO


PERMITIDO E RECEPTAÇÃO – RECURSOS DEFENSIVOS – PRETENDIDA A ABSOLVIÇÃO OU
DESCLASSIFICAÇÃO DO DELITO DE TRÁFICO – IMPROCEDÊNCIA – CONJUNTO
FÁTICO-PROBATÓRIO ROBUSTO ALIADO ÀS CIRCUNSTÂNCIAS DA APREENSÃO –
FINALIDADE MERCANTIL DA DROGA – PLEITO DE ABSOLVIÇÃO DO CRIME DE POSSE
ILEGAL DE MUNIÇÕES – NÃO ACOLHIMENTO – MUNIÇÕES ENCONTRADAS NA
RESIDÊNCIA DO CASAL – CRIME DE PERIGO ABSTRATO – PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO OU
DESCLASSIFICAÇÃO DO CRIME DE RECEPTAÇÃO – INVIABILIDADE – MATERIALIDADE E
AUTORIA DELITIVAS COMPROVADAS – PRETENDIDA A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
CONSUNÇÃO ENTRE RECEPTAÇÃO E TRÁFICO DE DROGAS – INCOMPATIBILIDADE – NÃO
DEMONSTRADA A RELAÇÃO DE MEIO E FIM ENTRE OS DELITOS – PLEITO DE REDUÇÃO
DA PENA-BASE DE UM DOS RÉUS – NÃO ACOLHIMENTO – CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL
DESFAVORÁVEL – PEDIDO DE APLICAÇÃO DO TRÁFICO PRIVILEGIADO –
IMPROCEDÊNCIA – ENUNCIADOS N. 30 E 52 DO TJMT – PEDIDO DE SUSPENSÃO DA
EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA – INVIABILIDADE – CONDENAÇÃO CONFIRMADA EM
SEGUNDO GRAU – SENTENÇA MANTIDA – RECURSOS DESPROVIDOS. ComPROVAdas a
materialidade e a autoria do delito de tráfico de drogas, diante das PROVAS orais colhidas aliadas
às circunstâncias em que ocorreu a apreensão das drogas, não há falar em absolvição e tampouco
em desclassificação para o delito do art. 28, caput, da Lei n. 11.343/2006. A simples posse/guarda de
munição sem autorização e em desacordo com determinação legal é suficiente para caracterizar a figura
típica. Por ser crime de perigo abstrato, é irrelevante a concretude da ofensa ao bem jurídico penalmente
tutelado. A mera negativa do AGENTE sobre o conhecimento da origem ILÍCITA do bem não tem o
condão de descaracterizar a conduta criminosa. Além de que, uma vez APREENDIDO produto
ILÍCITOem PODER do AGENTE, INVERTE-se o ÔNUS da PROVA, portanto, cabe à defesa
apresentar justificativa idônea e comPROVAr a origem lícita do bem ou eventual boa-fé. Incabível a
aplicação do princípio da consunção, uma vez que não se verifica que a receptação foi o crime meio para
o cometimento do crime de tráfico de drogas, não havendo qualquer relação entre eles no caso.
Deve ser mantida a elevação da pena-base quando devidamente motivada com esteio nas particularidades
do caso concreto. A quantidade e a existência de apetrechos utilizados para comercialização de
substância ENTORPECENTES, bem como inquéritos policiais e ações penais não transitadas em julgado,
são fundamentos idôneos a evidenciar dedicação à atividade criminosa, de modo a afastar a aplicação da
causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4°, da Lei n. 11.343/2006 (Enunciados n. 30 e 52,
TJMT).A condenação do AGENTE confirmada em sede de segundo grau de jurisdição autoriza a
execução provisória da pena, consoante entendimento exposto pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal
que admitiu a execução provisória de acórdão penal condenatório proferido em segunda instância, em
grau de apelação, ainda que sujeito a recurso especial ou extraordinário. (STF, HC n. 126292/SP). (N.U
0001625-33.2017.8.11.0021, PEDRO SAKAMOTO, SEGUNDA CÂMARA CRIMINAL, Julgado em
17/04/2019, Publicado no DJE 02/05/2019).

Já os policiais militares inquiridos em juízo confirmaram a autoria delitiva, uma vez que relataram que
receberam informações de que estaria ocorrendo o comércio de drogas na Distribuidora e que foram até o local averiguar.
Assim, informaram que ao chegarem no local flagraram uma pessoa passando algo para outra, oportunidade em que realizaram
a abordagem da pessoa de Adrian, sendo que a outra pessoa que estava dentro da Distribuidora conseguiu foragir, deixando
uma mochila pelo caminho.

Em continuação, relataram que encontraram com a pessoa de Adrian uma porção de entorpecente,
oportunidade em que ele relatou que teria acabado de comprar com o dono da Distribuidora de nome Pablo. Ainda, relataram
que ao verificarem o conteúdo da mochila localizaram dentro da mesma vários celulares, entorpecentes, balança de precisão,
grande quantidade de drogas e valores em dinheiro e ainda uma carteira de identidade do acusado. Além disso, relataram que
ao realizarem buscas na Distribuidora também localizaram entorpecentes.

Ademais, o policial Thiago foi incisivo ao relatar em juízo que a informação recebida dava conta de que a
pessoa de Pablo era quem realizava o comércio de drogas e era o dono da Distribuidora. Ainda, também relatou que os
vizinhos do local e o usuário de drogas apreendido também confirmaram que o réu realizava o comércio de drogas.

Desse modo, lembro que os depoimentos de policiais não servem para descrédito pelo simples fato de
serem policiais, ainda mais que não há prova em contrário, trazendo outra verdade para os fatos.

Nesse sentido é como ensina o doutrinador NUCCI:

“(...) para comprovação da prática do crime de tráfico ilícito de entorpecentes (e de outros tipos penais
previstos nesta Lei), exigia-se, no passado, prova testemunhal considerada isenta, vale dizer, distintas dos
quadros da polícia, pois esta, através dos seus agentes, se responsável pela prisão ou investigação, logo
teria interesse em mantê-la, justificando seus atos e pretendendo a condenação do réu. Não mais vige esse
pensamento, como majoritário, nos tribunais brasileiros. Preceitua o art. 202 do CPP que ‘toda pessoa
poderá ser testemunha’, logo, é indiscutível que os policiais, sejam eles autores da prisão do réu ou
não, podem testemunhar, sob o compromisso de dizer a verdade e sujeitos às penas do crime de
falso testemunho (...)” (Nucci, Guilherme de Souza – Leis penais e processuais penais comentadas -; 7.
Ed. ver. atual. e ampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p. 319).

Nesta trilhar, tem-se o entendimento do Tribunal de Justiça de Mato Grosso a respeito:


RECURSO DE APELAÇÃO CRIMINAL – TRÁFICO DE DROGAS – SENTENÇA
CONDENATÓRIA – IRRESIGNAÇÃO DEFENSIVA – ALMEJADA ABSOLVIÇÃO POR
INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA – IMPOSSIBILIDADE – MATERIALIDADE E AUTORIA
DELITIVAS SOBEJAMENTE COMPROVADAS – DEPOIMENTO SEGURO E COERENTE DO
POLICIAL MILITAR EM HARMONIA COM AS DEMAIS PROVAS DOS AUTOS –
CONDENAÇÃO MANTIDA – SENTENÇA INALTERADA – APELO DESPROVIDO.
1. Restando sobejamente comprovadas no acervo probatório a materialidade e a autoria delitivas
em relação ao crime de tráfico de drogas imputado ao increpado, descabe cogitar sua absolvição
por insuficiência de provas, sobretudo porque, a teor da jurisprudência deste Sodalício, “os
depoimentos de policiais, desde que harmônicos com as demais provas, são idôneos para sustentar a
condenação criminal” (Enunciado Orientativo n.º 8, TCCR.)
2. Apelo defensivo conhecido e desprovido.
(N.U 1001068-24.2021.8.11.0042, CÂMARAS ISOLADAS CRIMINAIS, GILBERTO GIRALDELLI,
Terceira Câmara Criminal, Julgado em 13/06/2022, Publicado no DJE 15/06/2022)

“RECURSO DE APELAÇÃO CRIMINAL – TRÁFICO DE DROGAS – CONDENAÇÃO –


IRRESIGNAÇÃO DEFENSIVA – 1. PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO – ALEGADA INSUFICIÊNCIA
PROBATÓRIA ACERCA DA AUTORIA DELITIVA – INACOHIMENTO – MATERIALIDADE E
AUTORIA COMPROVADAS – DEPOIMENTOS COERENTES DOS POLICIAIS MILITARES QUE
EFETUARAM A PRISÃO EM FLAGRANTE DA APELANTE – CONDENAÇÃO MANTIDA – 2.
POSTULADA RETIFICAÇÃO DA PENA AMBULATORIAL APLICADA – INVIABILIDADE –
DOSIMETRIA ESCORREITA – 3. PEDIDO DE READEQUAÇÃO DA PENA PECUNIÁRIA –
IMPOSSIBILIDDE – NECESSIDADE DE ANÁLISE CONJUGADA DOS ARTS. 59 E 68 DO
CÓDIGO PENAL – PENA DE MULTA FIXADA EM QUANTITATIVO PROPORCIONAL À
SANÇÃO PRIVATIVA DE LIBERDADE IMPOSTA À APELANTE – 4. RECURSO DESPROVIDO.
1. É inviável o acolhimento da pretensão defensiva almejando a absolvição do crime de tráfico de
drogas, porquanto os elementos probatórios produzidos nestes autos evidenciam a materialidade e
autoria delitivas, mormente pelo depoimento dos policiais militares que efetuaram a prisão em
flagrante da apelante, devendo, pois, ser mantida a sua condenação por este injusto penal.
2. A pena privativa de liberdade não merece reparo, eis que a pena-base foi fixada no quantitativo mínimo
e a exasperação, na terceira fase dosimétrica, se deu, igualmente, na menor fração permitida por lei.
3. A sanção pecuniária deve guardar proporcionalidade com a privativa de liberdade, quando aplicada
cumulativamente, devendo, o magistrado, considerar, na fixação daquela, além dos critérios estabelecidos
nos arts. 49, caput e § 1º, e 60, do Código Penal, as circunstâncias do art. 59 do referido diploma legal,
respeitando, sempre, o critério trifásico de imposição de pena previsto no art. 68 do Código Penal e a
situação econômica do condenado.
4. Recurso desprovido.
(N.U 1000147-70.2021.8.11.0008, CÂMARAS ISOLADAS CRIMINAIS, LUIZ FERREIRA DA
SILVA, Segunda Câmara Criminal, Julgado em 13/06/2022, Publicado no DJE 16/06/2022)

“RECURSO DE APELAÇÃO CRIMINAL – SENTENÇA CONDENATÓRIA –ART. 33, CAPUT C/C


ART. 40, INCISOS V E VI DA LEI Nº 11.343/2006 – PRETENSA ABSOLVIÇÃO –
IMPROCEDÊNCIA – MATERIALIDADE E AUTORIA INCONTESTÁVEIS – DEPOIMENTOS
POLICIAS EM HARMONIA COM O CONJUNTO PROBATÓRIO – ENUNCIADO 08 DO TJMT –
CONFISSÃO DO APELANTE – CONDENAÇÃO MANTIDA – DOSIMETRIA – PRETENDIDA
REDUÇÃO DA PENA-BASE AO PATAMAR MÍNIMO – INVIABILIDADE – EXISTÊNCIA DE
CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL DESFAVORÁVEL – CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME –
FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA – FRAÇÃO DE 1/6 (UM SEXTO) USUALMENTE APLICADA PELA
DOUTRINA – PRECEDENTES DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (V. G. AGRG NO ARESP
1823762/PR, AGRG NO ARESP 1241587/MG) – ANÁLISE DO ART. 42 DA LEI ANTIDROGAS –
APREENSÃO DE GRANDE QUANTIDADE DE ENTORPECENTE – ACRÉSCIMO NA PENA
INICIAL QUE NÃO SE MOSTRA DESPROPORCIONAL OU DESARRAZOADO –
DISCRICIONARIEDADE VINCULADA DO JUÍZO SENTENCIANTE – DECISÃO
FUNDAMENTADA – ART. 93, INCISO IX DA CF/88 – CAUSA ESPECIAL DE DIMINUIÇÃO DE
PENA – ART. 33, § 4º DA LEI ANTIDROGAS – PRETEXTADO RECONHECIMENTO –
IMPROCEDÊNCIA – DEDICAÇÃO ESTÁVEL ÀS ATIVIDADES CRIMINOSAS – MANUTENÇÃO
INTEGRAL DA SENTENÇA – SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR
RESTRITIVA DE DIREITOS – IMPOSSIBILIDADE – NÃO PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS
DO ART. 44 DO CÓDIGO PENAL – RECURSO DESPROVIDO.
Inviável o pleito absolutório, quando a autoria e materialidade do crime em comento estão
devidamente comprovadas pelo lastro probatório produzido nos autos, mormente nas declarações
dos policiais em ambas as fases, além da confissão do apelante.
As circunstâncias judiciais devem ser devidamente fundamentadas para exasperação da pena-base acima
do mínimo legal, sob pena de afronta aos princípios constitucionais da motivação das decisões judiciais e
do Estado Democrático de Direito.
Existindo circunstância judicial desfavorável, está autorizado o distanciamento da pena-base do patamar
mínimo.
A fração utilizada para majorar a pena no tocante às circunstâncias do delito (1/6) é aceita pela
jurisprudência majoritária, diante do silêncio da Lei Penal.
A grande quantidade de substância entorpecente apreendida (10,677 kg) presta a justificar a majoração
em 02 (dois) anos da pena-base, nos termos do artigo 42 da Lei nº 11.343/2006.
Inviável a aplicação da causa especial de diminuição de pena prevista no parágrafo 4º do artigo 33 da Lei
nº 11.343/2006, eis que demonstrado nos autos que o apelante se dedica às atividades criminosas.
Não foi considerada apenas a quantidade e natureza do entorpecente, mas a forma de acondicionamento
da droga, que estava oculta em local previamente preparado no banco traseiro do veículo, sendo
substituído todo o forro, a fim de obstar eventual fiscalização pelo Estado.
Não há que se falar em substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, na medida em
que não restaram satisfeitos os critérios do artigo 44 do Código Penal.
(N.U 1001705-89.2021.8.11.0004, CÂMARAS ISOLADAS CRIMINAIS, RUI RAMOS RIBEIRO,
Segunda Câmara Criminal, Julgado em 08/06/2022, Publicado no DJE 13/06/2022).

Com efeito, verifico que o conjunto probatório produzido nos autos se mostrou verossímil e sólido,
portanto, não sendo possível acolher a tese da defesa para absolver o réu, uma vez que restou demonstrado claramente o crime
de tráfico de drogas, já que vendia, trazia consigo e guardavaentorpecentes sem autorização ou em desacordo com
determinação legal o regulamentar, destinados à venda.

ISTO POSTO e por tudo mais que dos autos consta, com as fundamentações necessárias, JULGO
PROCEDENTE A DENÚNCIA para CONDENAR o denunciado PABLO BRUNO CASTRO CAMPOS, brasileiro,
solteiro, nascido em 02/06/1999, filho de Jair Damasceno de Campos e Francisca Cristiane Castro Silva, portador do RG n.º
27008487 SSP/MT, inscrito no CPF sob o n.º 054.953.681-77, residente e domiciliado à rua 46, n. º 05, quadra 186, bairro
Pedra 90, Cuiabá-MT, pelaprática delitiva capitulada no art. 33, caput, da Lei n.º 11.343/06,c/c art. 61, inc. I, do Código
Penal.

DOSIMETRIA DA PENA

Primeira fase:

Destaco que a pena cominada para o crime do art. 33, caput, da Lei de Drogas é de 05 (cinco) a 15
(quinze) anos de reclusão e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (hum mil e quinhentos) dias-multa.
De acordo com o art. 68 do Código Penal, a aplicação da pena ocorre em três fases. Na primeira delas,
deve o Magistrado avaliar as circunstâncias judiciais trazidas no artigo 59, do mesmo codex (culpabilidade, antecedentes,
conduta social e personalidade do sentenciado; motivos, circunstâncias e consequências do crime; e o comportamento da
vítima) e fixar a pena-base, a qual, por sua vez, servirá de marco inicial para a próxima fase da dosimetria.

Em se tratando de tráfico de drogas, o Magistrado também deverá observar o art. 42 da Lei 11.343/06,
que orienta: "O juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância sobre o previsto no art. 59 do Código Penal, a
natureza e quantidade da substância ou do produto, personalidade e a conduta social do agente".

Observando, pois, com estrita fidelidade, as regras do art. 42 da Lei n. 11.343/06, que impõe ao Juiz levar
em consideração, com preponderância sobre o previsto no art. 59 do Código Penal, a natureza e a quantidade da droga, na
fixação da pena base, NÃO há razão para exasperar a reprimenda.

Acerca da conduta social e personalidade do condenado, não há elementos e respaldo técnico apto a
lastrear consideração em seu prejuízo.

Quanto à culpabilidade, tem-se que, nesta etapa, deve-se abordar o menor ou maior índice de
reprovabilidade da agente, não só em razão de suas condições pessoais, mas também levando em consideração a situação em
que o fato delituoso ocorreu.

Após um estudo detalhado dos autos, entendo que a conduta do condenado não deve ser tida com grande
reprovabilidade, sendo, pois, normal à espécie.

No que tange aos antecedentes criminais, compreende-se, através de detida análise dos autos, que o
acusado possui em seu desfavor uma condenação transitada em julgado, a qual será considerada na Segunda Fase da
Dosimetria da Pena.

As demais circunstâncias judiciais (motivo, circunstâncias e consequência do crime e comportamento da


vítima), são peculiares ao delito em comento e nada influenciou para prática do crime em apreço, por isso, DEIXO de
pronunciar a respeito.

Assim, FIXO a pena-base em 05 (cinco) anos de reclusão e 500 (quinhentos) dias-multa.

Segunda fase:
Inexistem atenuantes a serem consideradas.

De outra banda, reconheço a agravante da reincidência, prevista no artigo 61, inciso I, do Código Penal,
em virtude da condenação do réu nos autos n°
0002598-51.2019.811.0042, perante o juízo da 13ª Vara Criminal de Cuiabá – MT, a qual está sendo fiscalizada pelo juízo da
2ª Vara Criminal de Cuiabá, na Guia de Execução nº 2000806-28.2019.911.0042/SEEU.

Por isso, MAJORO a pena-base em 1/5 (um quinto), ou seja, em 01 (um) ano de reclusão e 100 (cem)
dias-multa, considerando que se trata de reincidência específica, de modo que encontro a pena de 06 (seis) anos de reclusão e
600 (seiscentos) dias-multa.

Terceira fase:

Nesta fase, não há que se falar em aplicação do benefício previsto no §4º do art. 33 da Lei de Drogas,
posto que o condenado não ostenta bons antecedentes e se dedica à atividade criminosa, considerando que ele é reincidente
específico (Executivo de Pena nº 2000806-28.2019.911.0042/SEEU).

Nesse sentido:

APELAÇÃO CRIMINAL – CONDENAÇÃO PELO DELITO TIPIFICADO NO ARTIGO 33, CAPUT


DA LEI N.º 11.343/2006 – IRRESIGNAÇÃO DEFENSIVA – 1) PRELIMINARES – 1.1) NULIDADE
DAS PROVAS PELA VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO – REJEIÇÃO – ESTADO DE FLAGRÂNCIA
QUE SE PROTRAI NO TEMPO - BUSCA DOMICILIAR REALIZADA MEDIANTE FUNDADA
SUSPEITA – EXCESSO POLICIAL, QUANDO EVIDENCIADO, QUE DEVE SER APURADO EM
PROCEDIMENTO PRÓPRIO SEM IMPLICAR NA AUTOMÁTICA NULIDADE DA PROVA - 1.2)
NULIDADE DAS PROVAS PELA QUEBRA DA CADEIA DE CUSTÓDIA – AFASTAMENTO -
QUEBRA DA CADEIA DE CUSTÓDIA NÃO IDENTIFICADA - 2) MÉRITO – 2.1) ESCORREITO
AFASTAMENTO DA ESPECIAL DIMINUTIVA DO ARTIGO 33, § 4.º DA LEI N.º 11.343/2006 –
RÉU REINCIDENTE - 2.2) PRETENDIDA IMPOSIÇÃO DE REGIME MENOS GRAVOSO PARA O
CUMPRIMENTO DA PENA COM DETRAÇÃO – REGIME MAIS GRAVOSO DECORRENTE DA
REINCIDÊNCIA DO RÉU – DETRAÇÃO QUE NÃO TEM O CONDÃO DE ALTERAR O REGIME
INICIAL DE CUMPRIMENTO DA PENA E QUE COMPETE AO JUÍZO DA EXECUÇÃO – APELO
DESPROVIDO.
1.1) Considerando a sequência dos fatos e os elementos que compunham o cenário de flagrância,
ainda que a i. Defesa concentre esforços na suposta ocorrência da violação de domicílio, todo o contexto
traduz inequívoca fundada suspeita para a busca domiciliar do crime permanente em questão, o que veio a
ser corroborada pela apreensão das substâncias proscritas, inexistindo prova de eventual excesso
cometido por agentes policiais o que, quando verificado, inclusive deve ser apurado em procedimento
próprio, não gerando a invalidade automática da prova obtida;
1.2) Não se verifica a quebra da cadeia de custódia quando nenhum elemento sobreveio aos autos para
demonstrar eventual adulteração, inversão da cronologia dos procedimentos ou mesmo interferência de
qualquer ordem, a ponto de invalidar a prova;
2.1) Escorreito o afastamento da causa de diminuição referente ao tráfico privilegiado em razão
da reincidência, a qual também revela dedicação à atividade criminosa, exigindo-se para o alcance
da referida benesse que o agente seja primário, de modo que pouco importa se o réu é reincidente
específico ou não;
2.2) Não merece reparo o regime mais gravoso fundamentado na reincidência do réu, cabendo ao
MM. Juiz da Execução Penal, após a observância dos requisitos necessários, aferir os requisitos para
futura progressão de regime, de modo que o período de prisão cautelar, embora não se destine, neste caso,
a assegurar ao apelante um regime inicial mais benéfico, será devidamente considerado no âmbito da
execução penal, nos termos do art. 42 do Código Penal e art. 66, III, c, da Lei n.º 7.210/84. (N.U
1010297-14.2021.8.11.0040, CÂMARAS ISOLADAS CRIMINAIS, GILBERTO GIRALDELLI,
Terceira Câmara Criminal, Julgado em 24/05/2023, Publicado no DJE 26/05/2023).

Por essa razão, DEIXO de aplicar o benefício previsto no §4º, do art. 33 da Lei de Drogas em favor do
réu.

Não havendo causa de aumento de pena a ser considerada, TORNO A PENA CONCRETA em
DEFINITIVO em desfavor de PABLO BRUNO CASTRO CAMPOS, brasileiro, solteiro, nascido em 02/06/1999, filho de
Jair Damasceno de Campos e Francisca Cristiane Castro Silva, portador do RG n.º 27008487 SSP/MT, inscrito no CPF sob o
n.º 054.953.681-77, residente e domiciliado à rua 46, n. º 05, quadra 186, bairro Pedra 90, Cuiabá-MT, no patamar de 06 (seis)
anos de reclusão e 600 (seiscentos) dias-multa, que fixo no valor de 1/30 (um trinta avos) do salário mínimo vigente à época
dos fatos.

Por isso, em observância aos critérios previstos no art. 59 c/c art. 33, §2º e §3º, ambos do Código Penal
c/c art. 42 da Lei de Drogas, FIXO o regime prisional de início em FECHADO, visto ser reincidente.

Em relação ao crime de tráfico de drogas e, ainda, para fins de detração de pena, em observação ao
disposto no artigo 387, §2º do Código de Processo Penal, sua progressão de regime se dará após o cumprimento de 60% da
pena, ressalto que ele alcançará o requisito objetivo para progressão de pena para regime semiaberto em 16/02/2027.

DA MANUTENÇÃO DA PRISÃO

No atual cenário processual, vejo que o réu não poderá apelar desta sentença em liberdade, porquanto a
razão que ensejou a sua custódia cautelar ainda se faz presente, e, ainda, em razão da reincidência, somada com o fato de ter
sido condenado ao regime inicialmente fechado, fatos este, que, por si só, ratificam a manutenção de sua custódia cautelar, a
fim de prevenir a reprodução de novos fatos criminosos e acautelar o meio social, visto que, se posto em liberdade,
possivelmente encontrara estímulos para voltarem a delinquir.

Agregado a isso, vale anotar que o Superior Tribunal de Justiça firmou compreensão de que o réu que
permaneceu custodiado durante toda a instrução criminal, como na hipótese dos autos, assim continuará como um dos
consectários lógicos e necessários da condenação. Nesse sentido, eis a recente ementa:

STJ: SE O ACUSADO PERMANECEU PRESO DURANTE TODA A INSTRUÇÃO CRIMINAL,


ELE NÃO PODERÁ RECORRER EM LIBERDADE. Tendo o recorrente permanecido preso
durante toda a instrução processual, não deve ser permitido recorrer em liberdade, especialmente
porque, inalteradas as circunstâncias que justificaram a custódia, não se mostra adequada à soltura
dele depois da condenação em Juízo de primeiro grau. (STJ - Processo RHC 127561 / GO -
RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUS - 2020/0123148-4 - Relator(a) Ministro JOEL ILAN
PACIORNIK (1183) - Órgão Julgador T5 - QUINTA TURMA - Data do Julgamento 23/06/2020 - Data
da Publicação/Fonte DJe 29/06/2020).

Por todas essas razões, ratifico o decreto prisional e, por conseguinte, nego ao réu o direito de apelar em
liberdade.

Por se tratar de processo que o condenado aguardará preso o processo e julgamento de eventual recurso e
o seu regime inicial foi fixado no fechado, nos termos do art. 8ª da Resolução n. 113/2010 do CNJ, DETERMINO a
expedição de Guia de Execução Provisória.

Nos termos do item 7.42.2 da CNGC/MT, parte judicial, providencie a entrega ao apenado, por oficial de
justiça, de um exemplar da CARTILHA DO APENADO, sob recibo.

Da sentença, intimem-se o Ministério Público, a defesa e o condenado, pessoalmente, indagando este


sobre o desejo de recorrer, o que será feito mediante termo, tudo a teor do artigo 1.421, caput, e parágrafo único da
CNGCGJ/MT.

Após o trânsito em julgado:

1. COMUNIQUE-SE ao Tribunal Regional Eleitoral, ao Cartório Eleitoral,


respectivo, aos Institutos de Identificação e demais órgãos de praxe.
2. EXPEÇA-SE a guia definitiva. Observe-se a detração penal.
3. PROCEDA-SE a incineração das substâncias entorpecentes e a
destruição da balança de precisão apreendidas.
4. DETERMINO a destruição da balança de precisão;
5. DECRETO PERDIMENTO dos valores e celulares apreendidos em
favor do FUNESD, visto que não há comprovação de suas origens lícitas.
6. CONDENO o réu ao pagamento das custas e despesas processuais, no
entanto, deixo de cobrá-la na forma do artigo 98, § 3º, do Código de Processo Civil.
7. Após, ao arquivo com as baixas e anotações de praxe.

P.I.C.

Cuiabá, data de assinatura do sistema.

Renata do Carmo Evaristo Parreira


Juíza de Direito

(Assinado Digitalmente)

Assinado eletronicamente por: RENATA DO CARMO EVARISTO PARREIRA


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PJEDASRJKJQTT

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