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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ.

URGENTE – RÉU PRESO

1. A prisão em flagrante dos Pacientes foi


convertida em preventiva mediante o fundamento de
garantia da ordem pública.
2. Os Pacientes, contudo, ostentam boas condições
pessoais, quais sejam, primariedade, bons
antecedentes, residência fixa e ocupação lícita, que
afastam o suposto risco à ordem pública.

3. Além disso, o presente writ demonstra que a


adoção das medidas cautelares alternativas previstas
no artigo 319 do Código de Processo Penal se
mostram suficientes para conter os possíveis riscos
processuais.

Pacientes: Arildo de Lima Maciel e Fabrício de Souza Maciel


Impetrante: Diego Vinícius Cardoso
Autoridade Coatora: Excelentíssima Senhora Doutora Juíza de Direito
da Vara Criminal da Comarca de Campina Grande do Sul – Paula
Priscila Candeo
Autos Originário: 0002028-37.2022.8.16.0037

DIEGO VINÍCIUS CARDOSO, brasileiro, casado, advogado inscrito na

OAB/PR sob o nº 108.751, portador do RG nº 9.040.471-7 SSP/PR, inscrito

no CPF sob o nº 059.731.009-28, com endereço profissional na Rua 22 de

Março, nº 335, Jardim Santa Rita, Campina Grande do Sul, CEP 83430-000,

vem perante Vossa Excelência, com fundamento no artigo 5º, inciso LXVIII,
da Constituição Federal, combinado com os artigos 647 e 648, inciso I,

ambos do Código de Processo Penal, impetrar

HABEAS CORPUS COM PEDIDO DE ORDEM LIMINAR

Em favor de ARILDO DE LIMA MACIEL, brasileiro, solteiro, pedreiro,

portador da Cédula de Identidade nº 4.814.524-8 SSP/PR, residente e

domiciliado na BR116, km 05, nº 01, Bairro Terra Boa, no município de

Campina Grande do Sul/PR e, FABRÍCIO DE SOUZA MACIEL, brasileiro,

solteiro, portador da Cédula de Identidade nº 12.318.809-8 SSP/PR,

residente e domiciliado na Estrada do Barro Branco, s/n, bairro Paiol de

Baixo, no município de Campina Grande do Sul, atualmente ambos

recolhidos em Centro de Triagem – CT1 por for da decisão que converteu a

prisão em flagrante em preventiva proferida pela Autoridade apontada como

coatora EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA VARA

CRIMINAL DA COMARCA DE CAMPINA GRANDE DO SUL, DRA. PAULA PRISCILA

CANDEO nos autos n.º 0002028-37.2022.8.16.0037, pelos fundamentos de

fato e de direito expostos a seguir.

I. DO RESUMO DOS FATOS E OBJETO DO WRIT

Os pacientes se encontram presos desde 30/05/2022 junto ao

Centro de Triagem – CT1 de Curitiba/PR, em razão da prisão em flagrante

convertida em preventiva por ordem da Excelentíssima Juíza de Direito da

Vara Criminal de Campina Grande do Sul.


Isso porque os pacientes supostamente teriam praticado o crime

de tráfico de drogas capitulado no artigo 33 da Lei nº 11.343/06.

Em apertada síntese, os policiais adentraram nas residências

(casas separadas) dos requerentes sem qualquer tipo de consentimento ou

autorização judicial, tendo sido encontradas as substâncias entorpecentes e

apetrechos descritos no auto de exibição e apreensão juntado no mov. 1.13.

Na ocasião, os policiais encontraram na casa do Arildo 04 pés de

maconha, 481g dividas em tabletes, 1,272kg de maconha na forma de

murruga, 360g de maconha na forma de murruga congelada, 2gde maconha

em pó, 3 comprimidos de ecstasy, além de balança de precisão e máquina

de embalar a vácuo, cuja a plantação/propriedade foi assumida pelo

paciente que utiliza as substâncias para consumo próprio.

Na casa do Fabrício foi encontrado 11g de maconha, 5g de

haxixe, 01 cogumelo e 3g de semente de maconha (itens 7, 9, 10, 13 do

auto de exibição e apreensão, mov. 1.13), que também assumiu a

propriedade dessas drogas e alegou a utilização para consumo próprio.

Em consequência, os pacientes foram presos em flagrante delito e

o Ministério Público se manifestou pela conversão do flagrante em prisão

preventiva.

A MM. Juíza de Direito converteu a prisão em preventiva com

fundamento na garantia da ordem pública, vejamos:

[...] “Quanto ao periculum libertatis, muito embora os indiciados


não ostentem maus antecedentes criminais, cumpre destacar que
eles foram abordados na posse de razoável quantidade de
substância entorpecente conhecida por “maconha”, “haxixe” e
“cogumelos, kits para preparo de haxixe, embalagens plásticas e
balança de precisão, indicando que fariam comércio das referidas
substâncias, além de haver comprovação de que plantavam e
produziam considerável quantidade de drogas no local. Tais
circunstâncias demonstram que se trata de uma conduta estável e
duradoura, em especial porque não exercem ocupação fixa e,
ainda, pela quantidade e variedade de drogas apreendidas,
revelando a habitualidade da conduta criminosa e sua
predisposição para a prática de crimes e que sua liberdade
representa risco à sociedade porque certamente voltarão a
delinquir dados os estímulos encontrados, notadamente para a
prática do tráfico, sendo certo que fazem do crime seu meio de
vida pois, repito, plantavam e fabricavam em sua residência, onde
mantinham inclusive uma estufa, aproveitando-se do fato de morar
em local ermo, dificultando a atuação da autoridade policial e
considerando o plantio de maconha no local, a apreensão de
várias espécies de substâncias entorpecentes e de petrechos
comumente utilizados para o tráfico [...]” (mov. 31.1).

Conforme se observa da decisão, o argumento utilizado para

justificar o requisito da garantia da ordem pública foi: uma a quantidade de

substância apreendida; duas a necessidade de privar a liberdade para evitar

a probabilidade de reincidência.

Por fim, a Culta Magistrada apontou que as medidas cautelares

alternativas seriam insuficientes para o caso concreto.

II. DA ILEGALIDADE DO INGRESSO DOS POLICIAIS NOS DOMICÍLIOS

Pois bem, os policiais ouvidos pela Autoridade Policial afirmaram

que a AÇÃO foi movida por “informação” (apenas) que na área rural de

Camina Grande do Sul, em uma pequena chácara com três residências seria

um ponto de venda de drogas. Afirmaram ainda que após breve vigilância


observaram indivíduos entrando e saindo do local (possíveis compradores), e

logo em seguida, prosseguiram e realizaram a invasão do domicílio,

efetuaram as apreensões, bem como as prisões.

A ação realizada pela polícia ostensiva se mostra indubitavelmente

descabida, ilegal e foi movida pura e simplesmente pelo instinto policial.

Na seara do Direto Penal e Processual Penal, a mera “informação”

ou denúncia “anônima”, por si só, não caracteriza sequer indício, e por isso,

não serve como justa causa para justificar a excepcionalíssima regra da

inviolabilidade de domicílio, mesmo se tratando de crime permanente.

É de sabença que o crime de tráfico de drogas é de natureza

permanente e que o estado de flagrância se perpetua no tempo enquanto

não cessar a atividade. Entretanto, o ingresso sem mandado judicial ou

autorização pelos agentes de segurança pública em domicílio motivado

apenas por mera suspeita instintiva de prática de crime, como no caso dos

autos, é situação corriqueira e inaceitável pela normativa constitucional.

Tanto que o tema foi submetido a debate no Supremo Tribunal Federal e,

em sede de repercussão geral (RE nº 603.616/RO Relator Ministro Gilmar

Mendes, j. 05/11/2015), foram estabelecidos balizadores para o controle

judicial, vejamos:

“Recurso extraordinário representativo da controvérsia. Repercussão


geral. 2. Inviolabilidade de domicílio art. 5º, XI, da CF. Busca e
apreensão domiciliar sem mandado judicial em caso de crime
permanente. Possibilidade. A Constituição dispensa o mandado
judicial para ingresso forçado em residência em caso de flagrante
delito. No crime permanente, a situação de flagrância se protrai
no
tempo. 3. Período noturno. A cláusula que limita o ingresso ao
período do dia é aplicável apenas aos casos em que a busca é
determinada por ordem judicial. Nos demais casos flagrante delito,
desastre ou para prestar socorro a Constituição não faz exigência
quanto ao período do dia. 4. Controle judicial a posteriori.
Necessidade de preservação da inviolabilidade domiciliar.
Interpretação da Constituição. Proteção contra ingerências
arbitrárias no domicílio. Muito embora o flagrante delito legitime o
ingresso forçado em casa sem determinação judicial, a medida
deve ser controlada judicialmente. A inexistência de controle
judicial, ainda que posterior à execução da medida, esvaziaria o
núcleo fundamental da garantia contra a inviolabilidade da casa
(art. 5, XI, da CF) e deixaria de proteger contra ingerências
arbitrárias no domicílio (Pacto de São José da Costa Rica, artigo
11, 2, e Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, artigo
17, 1). O controle judicial a posteriori decorre tanto da
interpretação da Constituição, quanto da aplicação da proteção
consagrada em tratados internacionais sobre direitos humanos
incorporados ao ordenamento jurídico. Normas internacionais de
caráter judicial que se incorporam à cláusula do devido processo
legal. 5. Justa causa. A entrada forçada em domicílio, sem uma
justificativa prévia conforme o direito, é arbitrária. Não será a
constatação de situação de flagrância, posterior ao ingresso, que
justificará a medida. Os agentes estatais devem demonstrar que
havia elementos mínimos a caracterizar fundadas razões (justa
causa) para a medida. 6. Fixada a interpretação de que a entrada
forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em
período noturno, quando amparada em fundadas razões,
devidamente justificadas a posteriori, que indiquem que dentro da
casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena de
responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da
autoridade e de nulidade dos atos praticados. 7. Caso concreto.
Existência de fundadas razões para suspeitar de flagrante de
tráfico de drogas. Negativa de provimento ao recurso.” – grifo meu

Neste caso concreto os agentes policiais deveriam ter

demonstrado que haviam elementos mínimos para caracterizar as fundadas


razões para o ingresso nos domicílios, mas não fizeram, mesmo tendo as

condições simples e necessárias para isso. A saber, a juntada do registro da

denúncia realizada no sistema ou disque denúncia, abordagem dos

“compradores” que entravam e saiam do imóvel observado momento antes

da invasão, bem como arrolando-os como testemunhas, tudo isso

resguardando a identidade dos envolvidos, mas nada disso foi feito, pois,

não haviam informações concretas, tampouco comércio de drogas no local,

repito, agiram por pura intuição policiais, situação que é execrada pelo

ordenamento constitucional.

A alegação do policial indicando que no período da noite foi

possível visualizar da porta (que estava aberta) um senhor na cozinha com

um pote de vidro de tamanho médio contendo maconha da qualidade

“murruga”, é surreal, que visão!, (AO CHEGAR NA PRIMEIRA RESIDÊNCIA A

PORTA DA SALA SE ENCONTRAVA ABERTA ONDE FOI POSSÍVEL VER UM


SENHOR SENTADO NA COZINHA E SOBRE A MESA UM POTE DE VIDRO DE
TAMANHO MÉDIO CONTENDO MACONHA DA QUALIDADE MORRUGA – mov.
1.2) situação que ensejou o “ingresso” dos policiais na residência.
O pior, o que motivou os policiais invadirem a segunda residência

(do Fabrício) que fica localizada nos fundos do terreno? Infelizmente é nítida

a ilegalidade cometida pelos agentes de segurança nesta ocasião.

As justificativas apresentadas pelos policiais de ter “informação” se

mostram pouco críveis e insuficiente para autorizar o ingresso sem ordem

judicial nos imóveis, caracterizando a arbitrariedade e ilegalidade da ação.

Nesse sentido:

Habeas corpus. Tráfico de entorpecentes e associação para o


tráfico. NULIDADE DA PRISÃO DIANTE DE PROVA OBTIDA
MEDIANTE INVASÃO DE DOMICÍLIO. Ocorrência. Ingresso de
policiais em imóvel sem autorização judicial, movidos somente por
denúncia anônima. Proprietário do imóvel (sítio) que inclusive
empreendeu fuga após a chegada dos policiais acreditando
tratar-se de assalto, o que revela a ausência de autorização para
ingresso no domicílio. Caso de relaxamento da prisão em
flagrante. PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO. Questão ainda não apreciada
pelo juízo de origem. Supressão de instância. Ordem concedida
em parte. (TJ-SP - HC: 22723948920208260000 SP 2272394-
89.2020.8.26.0000, Relator: Amable Lopez Soto, Data de
Julgamento: 08/03/2021, 12ª Câmara de Direito Criminal, Data
de Publicação: 08/03/2021).

Desse modo, requer-se o reconhecimento da ilegalidade da prisão

em flagrante em razão da violação de garantia constitucional, sendo de

rigor o relaxamento da prisão ou a revogação da medida cautelar extrema,

bem como seja declarada a nulidade das provas obtidas.

III. DO RISCO À GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA

DA NECESSÁRIA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS E DAS

CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS DOS PACIENTES

Com o objetivo de melhor expor os motivos pelos quais os

Pacientes não apresentam risco à garantia da ordem pública, analisaremos,

de forma separada, as razões apresentadas pela Julgadora como

caracterizadoras desse risco processual.

A nobre julgadora apontou a quantidade aliada a pluralidade de

substâncias apreendidas como fatores que indicam que se trata de uma

conduta estável e duradoura e que em liberdade os pacientes irão encontrar

estímulos para voltar a reincidir no mesmo crime dada a falsa sensação de

impunidade.
Preambularmente, importante destacar que os pacientes não

ostentam qualquer macula ao longo da vida, não registram antecedentes

criminais, possuem família constituída, exercem profissão informal licita e

residem no mesmo endereço a mais de 30 (trinta) anos, ou seja, não existe

nenhum elemento que indique que em liberdade os pacientes irão reincidir

em crime.

Cabe aqui consignar que a Julgadora não considerou em nenhum

momento as circunstâncias pessoais positivas do Paciente, como a

primariedade, a não reincidência, os bons antecedentes, a ocupação lícita e

a residência fixa, todos esses fatores benéficos indicam que os pacientes

não representam risco à garantia da ordem pública.

Ademais, se faz necessária a individualização das condutas dos

pacientes, não observada na decisão do juízo a quo.

Importante destacar que os pacientes apesar de se tratar de pai e

filho não possuem qualquer tipo de ligação por diferenças familiares, que

não vem ao caso, mas restou evidente nos autos (mov. 1.2). O senhor

Arildo mora em uma residência e seu filho Fabrício em outra. Fabrício

declarou ser usuário de substâncias entorpecentes, a saber, 11g de

maconha, 5g de haxixe, 01 cogumelo e 3g de semente de maconha (itens 7,

9, 10, 13 do auto de exibição e apreensão, mov. 1.13), condizente com a

sua alegação que os produtos apreendidos eram destinados a seu consumo.

Com relação ao senhor Arildo, necessária mencionar que também

é usuário da droga vulgarmente conhecida como maconha e apesar de ser

uma quantia relevante, a substância apreendida é de menor potencial lesivo

a saúde humana, já legalizada em diversos países do mundo, além de ser


utilizada de forma crescente como medicamento para diversas patologias,

que de fato, eram cultivadas em seu terreno e destinado ao seu consumo

apenas, tanto que não foram localizadas porções fracionadas, dinheiro

trocado, etc, indícios característicos da mercancia, ao contrário, foram

apreendidas a substância, em tese, de baixa qualidade (murruga) in natura e

na forma congelada, visando conservação do produto por longo período,

indicando que o pleiteante não se utilizam da comercialização de drogas

como meio de subsistência.

Por fim, convém destacar, repito, os investigados são réus

primários, sem qualquer tipo de histórico criminal, não fazem parte

de qualquer organização criminosa, muito menos, se dedicam a atividades

criminosas, sequer possuem ligação entre eles, exercem o estilo de vida

Hippie (conforme se observa pelas imagens do interrogatório), pregam por

uma vida mais simples, de respeito a natureza e sem preocupações

consumistas ou financeiras, portanto, não representam risco algum para a

sociedade, a não ser para eles mesmos.

Em casos análogos, assim tem se posicionado a jurisprudência:

[...] 2. Na espécie, realizada a prisão em flagrante, a prisão


preventiva foi decretada porque o paciente e corréu foram
apreendidos com "93 porções de maconha (120 g), 48 de cocaína
(30 g) e 89 de crack (19 g), além de R$ 46,00, um rádio
comunicador e dois celulares", concluindo haver indícios de
dedicação às atividades criminosas. 3. Embora a fundamentação
apresentada demonstre o periculum libertatis, a medida extrema
não se mostra proporcional, notadamente considerando a
quantidade não exacerbada de droga apreendida e, especialmente,
porque o paciente é primário e portador de bons antecedentes,
justificando-se, tão somente, a imposição de medidas cautelares
alternativas. 4. Assim, as particularidades do caso demonstram a
suficiência, adequação e proporcionalidade da imposição das
medidas menos severas previstas no art. 319, em atenção ao
preceito de progressividade das cautelas disposto no art. 282, §§
4º e 6º, todos do Código de Processo Penal. 5. Ordem concedida
para substituir a prisão preventiva por medidas cautelares diversas
a serem fixadas pelo Juiz singular. (HC n. 573.677/SP, de minha
relatoria, SEXTA TURMA, julgado em 2/6/2020, DJe 9/6/2020 -
grifei) [...] 2. Na espécie, realizada a prisão em flagrante, a prisão
preventiva foi decretada em razão da quantidade das drogas
apreendidas - 93g (noventa e três gramas) de maconha - e da
reiteração delitiva. 3. Em razão da atual pandemia de Covid-19 e
ante os reiterados esforços do Poder Público para conter a
disseminação do novo coronavírus, inclusive nas unidades
prisionais, esta Casa e, especialmente, este relator vêm olhando
com menor rigor para casos como o presente, flexibilizando,
pontualmente, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça na
hipótese de crimes praticados sem violência ou grave ameaça
e/ou que não revelem, ao menos neste momento, uma maior
gravidade e uma periculosidade acentuada do agente, como é o
caso dos autos, em que se está diante do crime de tráfico de
entorpecentes. 4. Assim, as particularidades do caso demonstram a
suficiência, adequação e proporcionalidade da imposição das
medidas menos severas previstas no art. 319, em atenção ao
preceito de progressividade das cautelas disposto no art. 282, §§
4º e 6º, todos do Código de Processo Penal. 5. Recurso provido
para substituir a prisão preventiva por medidas cautelares diversas
a serem fixadas pelo Juiz singular. (RHC n. 128.910/MG, de minha
relatoria, SEXTA TURMA, julgado em 8/9/2020, DJe 14/9/2020).

Ademais, conforme dito alhures e se comprova nos documentos

anexos, os requerentes são primários e de bons antecedentes, isto é, jamais

foram envolvidos em qualquer ocorrência policial, tampouco condenados

criminalmente por quaisquer crimes, conforme se constata nos antecedentes


criminais (mov. 17.1 e mov. 19.1), possuem boa conduta social, uma vez que

se trata de pessoa com ótimo comportamento em seu meio social e em

suas atividades concernentes ao trabalho na construção civil, na modalidade

informal, como grande parte da população brasileira (40,6%) em tempos de

crise (2021)1.

Além disso, os pacientes possuem residência fixa no mesmo

endereço por toda a vida (único endereço), família constituída, ocupação

lícita, conforme indicam os documentos que instruir o presente pedido.

Isto posto, pleiteia-se pela revogação da prisão preventiva face a

ausência dos motivos ensejadores do encarceramento preventivo., vez que

não existem elementos indicativos concretos que os requerentes irão

reincidir em crime, sendo de rigor o reestabelecimento da liberdade.

IV. DA AUSÊNCIA DE QUAISQUER REQUISITOS AUTORIZADORES DO

DECRETO DE PRISÃO PREVENTIVA

Ainda que de forma exaustiva, cumpre mais uma vez ressaltar que

a ordem pública não se encontra comprometida em uma provável soltura

dos requerentes. Sabe-se que este fundamento consiste em buscar impedir

que os agentes continuem a delinquir, colocando em risco a segurança da

sociedade. Ora, não é razoável pensar que os cidadãos com 53 (cinquenta

e três) anos de idade e o outro com mais 30 (trinta) anos de idade, que

jamais foram envolvidos em qualquer tipo de ocorrência policial sequer,

primários, de bons antecedentes, venham a colocar em risco a ordem

pública.

1
https://www.istoedinheiro.com.br/pais-tem-38578-milhoes-de-trabalhadores-atuando-na-informalidade-diz-
ibge/.
Vale mencionar que a quantidade de droga, por si só, não

suficiente para demonstrar a periculosidade do requerente ou a gravidade

concreta da conduta.

Em recente julgado, o STJ assim decidiu em caso semelhante:

AgRg no HABEAS CORPUS Nº 616.961 - PR (2020/0259460-4)


RELATOR : MINISTRO ANTONIO SALDANHA PALHEIROAGRAVANTE :
VINICIUS RIBEIRO DE SOUZA (PRESO) ADVOGADOS : EDUARDO
SANZ DE OLIVEIRA E SILVA - PR038716 LUIZ HENRIQUE MERLIN -
PR044141 THIAGO TIBINKA NEUWERT - PR061638 RODRIGO JACOB
CAVAGNARI - PR090081 AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ
EMENTA AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE
ENTORPECENTES. PRISÃO EM FLAGRANTE CONVERTIDA EM
PREVENTIVA. SÚMULA N. 691/STF. SUPERAÇÃO. FUNDAMENTAÇÃO
DEFICIENTE. GRAVIDADE ABSTRATA. 1. Embora a Súmula n. 691 do
Supremo Tribunal Federal vede a utilização de habeas corpus
impetrado ante decisão de relator que, em writ impetrado perante
o Tribunal de origem, indefere o pedido liminar, admite-se, em
casos excepcionais, configurada flagrante ilegalidade, a superação
do entendimento firmado no referido enunciado sumular. 2. A
validade da segregação cautelar está condicionada à observância,
em decisão devidamente fundamentada, aos requisitos insertos no
art. 312 do Código de Processo Penal, revelando-se indispensável
a demonstração de em que consiste o periculum libertatis. 3. No
caso, o decreto de prisão preventiva é genérico, nele não havendo
nenhuma menção a fatos que justifiquem a imposição da prisão
cautelar. Carece, portanto, de fundamentação concreta, pois se
limita a invocar a gravidade abstrata da conduta atribuída ao
paciente. 4. Ademais, a quantidade de droga apreendida não é
suficiente para demonstrar a periculosidade do paciente ou a
gravidade concreta da conduta. 5. Agravo regimental parcialmente
provido para substituir a prisão preventiva do paciente por outras
medidas cautelares diversas a serem definidas pelo Juízo local.
ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são
partes as acima Documento: 1996528 - Inteiro Teor do Acórdão -
Site certificado - DJe: 29/10/2020 Página 1de 4 Superior Tribunal
de Justiça indicadas, acordam os Ministros da Sexta Turma do
Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar parcial
provimento ao agravo regimental nos termos do voto do Sr.
Ministro Relator. Os Srs. Ministros Laurita Vaz, Sebastião Reis
Júnior, Rogerio Schietti Cruz e Nefi Cordeiro votaram com o Sr.
Ministro Relator. Brasília, 27 de outubro de 2020 (data do
julgamento). Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO Relator.

Inclusive, o entendimento do STJ é no sentido de que “a prisão

para garantir a ordem pública tem por escopo impedir a prática de novos

crimes (…) Clamor popular, isoladamente, e gravidade do crime, com

proposições abstratas, de cunho subjetivo, não justificam o ferrete da prisão,

antes do trânsito em julgado de eventual sentença condenatória”.


Assim, pode-se concluir que no caso em análise não há que se

falar em manutenção da prisão pelo argumento da ordem pública, uma vez

que se trata de réus primários e de bons antecedentes, que jamais

cometeram qualquer outro crime. O E. TJPR não pode manter detido

indivíduos sem qualquer histórico de violação da paz social e de prática de

outros crimes.

Caso contrário, todo cidadão que, por algum motivo, vier a

cometer algum delito teria que ficar detido preventivamente, uma vez que

recairia sobre ele a dúvida quanto à obstrução da instrução criminal, o que

não se mostra razoável em nosso Estado Democrático de Direito que tem

como princípio fundamental o da Presunção de Inocência.

V. DA APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA HOMOGENEIDADE,

RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE.

O princípio em voga se trata de uma construção jurisprudencial e

consiste na ilegalidade da prisão preventiva quando a medida cautelar se

demonstrar mais severa que eventual pena aplicada em eventual processo

criminal.

No caso concreto, em eventual condenação pelo crime de tráfico

privilegiado previsto no artigo 33, §4º, da Lei 11.343/06, é de conhecimento

notório na comunidade jurídica que o em casos semelhantes com réu

primário que não integra associação criminosa o E. Tribunal de Justiça do

Estado do Paraná tem fixado o regime aberto, com pena corpórea não

superior a dois anos e oito meses de reclusão.

Nessa mesma linha jurisprudencial:


DIREITO PROCESSUAL PENAL. ILEGALIDADE DE PRISÃO PROVISÓRIA
QUANDO REPRESENTAR MEDIDA MAIS SEVERA DO QUE A OSSÍVEL
PENA A SER APLICADA. É ilegal a manutenção da prisão
provisória na hipótese em que seja plausível antever que o início
do cumprimento da reprimenda, em caso de eventual
condenação, dar-se-á em regime menos rigoroso que o fechado.
De fato, a prisão provisória é providência excepcional no Estado
Democrático de Direito, só sendo justificável quando atendidos os
critérios de adequação, necessidade e proporcionalidade. Dessa
forma, para a imposição da medida, é necessário demonstrar
concretamente a presença dos requisitos autorizadores da
preventiva (art.  312  do  CPP)— representados pelo fumus comissi
delictie pelo periculum libertMatis — e, além disso, não pode a
referida medida ser mais grave que a própria sanção a ser
possivelmente aplicada na hipótese de condenação do acusado. É
o que se defende com a aplicação do princípio da
homogeneidade, corolário do princípio da proporcionalidade, não
sendo razoável manter o acusado preso em regime mais rigoroso
do que aquele que eventualmente lhe será imposto quando da
condenação. Precedente citado:  HC 64.379-SP, Sexta Turma, DJe
3/11/2008.  HC182.750-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
14/5/2013.

Em outras palavras, significa dizer que mesmo que os requerentes

venham a ser condenados, não sofrerão à pena privativa de liberdade, ou

seja, a atual situação será mais gravosa que em eventual condenação. A


prisão cautelar e a pena devem ser vistas como partes de um todo

(homogênea) e não como partes distintas.

Desta forma, data máxima vênia à douta juíza, a prisão preventiva

deve ser revogada, na forma do artigo 316 do Código de Processo Penal,

eis que ausentes os motivos para a subsistência da prisão cautelar de

urgência.

VI. DA POSSIBLIDADE DE SUBSTITUIÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA

POR OUTRAS MEDIDAS CAUTELARES ALTERNATIVAS

A prisão preventiva é a ultima ratio das medidas cautelares e

somente deve ser decretada quando absolutamente necessária, já que

configura uma exceção à regra da liberdade.

Nesse sentido, o artigo 282, § 6º, do Código de Processo Penal

enuncia que a prisão preventiva somente será aplicada quando não for

cabível a sua substituição por outras medidas cautelares. Se é possível,

então, a substituição por medidas cautelares alternativas, é dever do juiz

assim proceder, sob pena da segregação cautelar figurar como verdadeira

antecipação de pena. Ainda com fulcro no mesmo artigo, a adoção da

medida prisional preventiva não foi justificada de forma individualizada, o

que também é dever do juiz.

Tal entendimento é adotado pelo Supremo Tribunal Federal

conforme se observa dos seguintes precedentes: HC 160.280, Rel. Min.

GILMAR MENDES, j. 23/07/2020; HC 146.666. Rel. Min. GILMAR MENDES, j.

10/10/2017; HC 123.235, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, j. 04/12/2014; HC

106.446, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, j. 04/09/2012.


Este também é um dever imposto pelo artigo 321 do Código de

Processo Penal, segundo o qual: “Ausentes os requisitos que autorizam a

decretação da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória,

impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no artigo 319 deste

Código e observados os critérios constantes do art. 282 deste Código”.

É preciso afirmar que não estão presentes os requisitos do artigo

312 do Código de Processo Penal, como já fundamentado, logo, de rigor a

concessão da liberdade provisória, mediante aplicação de medidas

cautelares menos gravosas.

Ademais, eventual descumprimento das medidas cautelares

ocasionará o retorno imediato à segregação cautelar, maior castigo possível

de ser sofrido pelos pacientes, o que evidencia a inexistência de risco de

descumprimento.

Este inclusive é o entendimento mais recente do Superior Tribunal

de Justiça, vejamos:

HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. PRISÃO PREVENTIVA.


QUANTIDADE NÃO RELEVANTE DE DROGAS. SUFICIÊNCIA DAS
CAUTELARES DIVERSAS DE PRISÃO. HABEAS CORPUS CONCEDIDO.
1. Ainda que corretamente o decreto de prisão preventiva indique
a gravidade do crime, não é razoável a prisão processual quando
não expressiva essa quantidade, tratando-se de aproximadamente
72g de cocaína e 79,54g de maconha e assim sendo suficientes
as medidas cautelares diversas de prisão. 2. Habeas corpus
concedido, para a soltura da paciente, e determinar o
cumprimento da medida cautelar de apresentação a cada 2
meses, proibição de mudança de domicílio sem prévia autorização
judicial e de ter contato pessoal com pessoas envolvidas com o
tráfico de drogas e com outras atividades
criminosa; o que não impede a fixação de outras medidas
cautelares
diversas da prisão, por decisão fundamentada. (STJ - HC: 582483
SP 2020/0116543-3, Relator: Ministro NEFI CORDEIRO, Data de
Julgamento: 18/08/2020, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação:
DJe 27/08/2020).

Portanto, sendo a prisão preventiva uma medida excepcionalíssima

que, in casu, não se justifica, necessária a substituição da prisão preventiva

pelas medidas cautelares elencadas.

Em caso de denegação da ordem, pugna o impetrante para que

seja realizado o distinguishing, isto é, a apresentação dos motivos pelos

quais os casos apresentados se distinguem do presente writ em julgamento,

conforme enuncia o art. 315, § 2º, inciso VI, do Código de Processo Penal.

VII. DO PEDIDO LIMINAR

Conforme demonstrado, a prisão preventiva dos pacientes não é

necessária, ainda mais quando analisadas de forma individualizada, uma vez

que eles apresentam situações fáticas distintas, ambos ostentam

circunstâncias pessoais positivas, quais sejam, primariedade, bons

antecedentes, ocupação lícita e residência fixa. Ademais, as medidas

cautelares sugeridas, de forma combinada, fulminam qualquer risco à ordem

pública.

O periculum in mora decorre do fato dos pacientes se

encontrarem preso em virtude de decisão ilegal, já que há a possibilidade

concreta de substituição por medidas cautelares diversas da prisão.


Desse modo, requer-se a concessão da medida liminar, para que

seja expedido o Alvará de Soltura aos Pacientes, a fim de revogar o

mandado de prisão preventiva e conceder a liberdade fiscalizada pelas

medidas cautelares alternativas previstas no artigo 319, incisos I, II, V, IX, do

Código de Processo Penal.

VIII. DOS PEDIDOS

Ante todo o exposto, requer-se a concessão do pleito para que os

pacientes sejam postos em liberdade, mediante a expedição do competente

Alvará de Soltura.

IX. DOS DOCUMENTOS

Este pedido é acompanhado pelos seguintes documentos:

a) Procuração dos pacientes;

b) Auto de prisão em flagrante e Boletim de Ocorrência;

c) Pedido de relaxamento/revogação da prisão

a) Ato coator;

b) Certidão de antecedentes criminais;

c) Documentos Pessoais de Identificação;

d) Comprovação de trabalhos anteriores;

e) Comprovante de Residência

Termos em que,

Pede e Espera Deferimento.


De Campina Grande do Sul/PR para Curitiba/PR, na data de

inserção no sistema.

DIEGO VINÍCIUS CARDOSO

ADVOGADO – OAB/PR 108.751

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