Você está na página 1de 17

Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS Nº 553.628 - RJ (2019/0381867-6)

RELATOR : MINISTRO RIBEIRO DANTAS


IMPETRANTE : FERNANDO TEIXEIRA MARTINS
ADVOGADOS : FERNANDO TEIXEIRA MARTINS - RJ201641
BRAULIO BICALHO CRUZ AMARAL QUIRINO - RJ205876
IMPETRADO : TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 2A REGIAO
PACIENTE : MARCO AURELIO DA SILVA CANAL (PRESO)
EMENTA

PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO


PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO. CRIMES CONTRA A ORDEM
TRIBUTÁRIA. LAVAGEM DE DINHEIRO. ORGANIZAÇÃO
CRIMINOSA. PRISÃO PREVENTIVA. AUSÊNCIA DE
FUNDAMENTAÇÃO. MEDIDAS CAUTELARES ALTERNATIVAS.
ADEQUAÇÃO AO CASO CONCRETO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
CARACTERIZADO. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM
CONCEDIDA, DE OFÍCIO.
1. Esta Corte e o Supremo Tribunal Federal pacificaram orientação no sentido de
que não cabe habeas corpus substitutivo do recurso legalmente previsto para a
hipótese, impondo-se o não conhecimento da impetração, salvo quando constatada
a existência de flagrante ilegalidade no ato judicial impugnado.
2. A prisão preventiva, como medida cautelar acessória e excepcional, que tem
por escopo a garantia do resultado útil da investigação, do posterior
processo-crime, da aplicação da lei penal ou, ainda, da segurança da coletividade,
exige a efetiva demonstração do periculum libertatis e do fumus comissi delicti,
nos termos do art. 312 do CPP.
3. Ademais, a custódia preventiva deve ser considerada como ultima ratio,
priorizando-se a aplicação das demais medidas cautelares previstas no art. 319 do
CPP. Não se pode admitir a prisão como uma punição antecipada ou uma
resposta aos anseios da sociedade.
4. In casu, o Juízo de primeira instância, ao reconhecer a imprescindibilidade da
segregação provisória do paciente, utilizou argumentos genéricos, valendo-se da
própria materialidade dos delitos imputados na ação penal e dos indícios de
autoria, para justificar o decreto de prisão preventiva. O Magistrado singular
serviu-se de meras conjecturas a respeito da probabilidade de que o paciente,
solto, venha a prejudicar as investigações e continuar a delinquir. Suas conclusões
são baseadas em presunções desacompanhadas da indicação de elementos
concretos que as justifiquem.
5. Apesar da alta reprovabilidade das condutas atribuídas ao paciente, não foram
apontados, concreta e especificamente, elementos que demostrem que a ordem
pública estaria em risco com a sua liberdade, não podendo, a simples indicação de
que ele seria integrante de organização criminosa voltada para a prática de delitos
contra a ordem tributária, servir de fundamento ao decreto de prisão preventiva,
por tempo indeterminado, sobretudo quando consideradas suas condições pessoais
favoráveis.
6. Assim, a submissão do paciente às medidas cautelares previstas no art. 319 do
CPP, menos gravosas que o encarceramento, é adequada e suficiente para
restabelecer ou garantir a ordem pública, assegurar a higidez da instrução criminal
Documento: 1940135 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 18/05/2020 Página 1 de 4
Superior Tribunal de Justiça
e a aplicação da lei penal, notadamente a proibição de acesso ou frequência a
qualquer repartição da Receita Federal, a proibição de manter contato com os
demais réus, bem como como servidores da Receita Federal, a proibição de
ausentar-se do Estado do Rio de Janeiro, sem autorização do Juízo, o
recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga, e o afastamento do
exercício de seu cargo de auditor fiscal.
7. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício, para, confirmando
a liminar anteriormente deferida, revogar a prisão preventiva imposta ao paciente,
com a aplicação das medidas cautelares previstas nos incisos II, III, IV, V e VI,
do art. 319, do Código de Processo Penal.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não
conhecer do pedido e conceder "Habeas Corpus" de ofício, nos termos do voto do Sr. Ministro
Relator. Os Srs. Ministros Joel Ilan Paciornik, Felix Fischer, Jorge Mussi e Reynaldo Soares da
Fonseca votaram com o Sr. Ministro Relator.
PRESENTE NA TELECONFERÊNCIA: DR. FERNANDO TEIXEIRA
MARTINS (P/PACTE)

Brasília (DF), 12 de maio de 2020 (data do julgamento)

MINISTRO RIBEIRO DANTAS


Relator

Documento: 1940135 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 18/05/2020 Página 2 de 4
Superior Tribunal de Justiça
HABEAS CORPUS Nº 553.628 - RJ (2019/0381867-6)
RELATOR : MINISTRO RIBEIRO DANTAS
IMPETRANTE : FERNANDO TEIXEIRA MARTINS
ADVOGADOS : FERNANDO TEIXEIRA MARTINS - RJ201641
BRAULIO BICALHO CRUZ AMARAL QUIRINO - RJ205876
IMPETRADO : TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 2A REGIAO
PACIENTE : MARCO AURELIO DA SILVA CANAL (PRESO)

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO RIBEIRO DANTAS:

Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de MARCO AURELIO DA


SILVA CANAL, contra acórdão proferido pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região, assim
ementado:

"DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS.


PRISÃO PREVENTIVA DECRETADA EM SEDE DE INQUÉRITO
POLICIAL. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. INSTRUÇÃO
PROCESSUAL. APLICAÇÃO DA LEI PENAL. PRÁTICA DE CRIMES
CONTRA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. LAVAGEM DE DINHEIRO.
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. DENÚNCIA OFERECIDA.
CONTEMPORANEIDADE DOS FATOS. AUSÊNCIA DE
CONSTRANGIMENTO ILEGAL.
I - A prisão preventiva constitui providência excepcional e a sua
decretação, pela autoridade judicial, está autorizada nos casos em que
concretamcnte são demonstrados os seus requisitos, expressamente
estabelecidos no art. 312 e 313,1 do Código de Processo Penal.
II - Se os elementos coligidos na etapa inquisitiva, notadaniente a
interceptação telefônica e busca e apreensão que corroboraram os mesmos
fatos que foram objeto de delações premiadas, constituem concretos
indícios de reiteração da prática delituosa investigada, consubstanciadas em
exigências de vantagens indevidas para a não prática de atos de ofício por
parte de servidores públicos, participando o paciente intensamente em atos
de corrupção, resta evidenciado prima facie o requisito da garantia da
ordem pública, suficiente para justificar a decretação da prisão cautclar.
IV - Ordem denegada" (e-STJ, fl. 611).

Colhe-se dos autos que o paciente teve a prisão preventiva decretada pela
suposta prática dos delitos tipificados no art. 3º, II, da Lei n. 8.137/90, no art. 1º, § 4º, da Lei n.
9.613/98, por 4 vezes, no art. 1º, § 4º, da Lei n. 9.613/98 e no art. 2º, § 4º, II, III e IV, da Lei n.
12.850/2013.
O impetrante sustenta, em síntese, que: a) os fatos narrados na denúncia não
correspondem à verdade; b) "é inconcebível que uma decisão que versa sobre prisão cautelar
[...] trate da questão apenas sob o prisma do fumus comissi delicti, o que acaba levando
equivocadamente à exteriorização de um juízo de culpabilidade, e não, como deveria ser, de
cautelaridade" (e-STJ, fl. 13); c) "na decisão proferida pelo magistrado para decretar a prisão
preventiva de Marco Canal, foram utilizados apenas e tão-somente argumentos retóricos,
imbuídos de forte sentimento pessoal do magistrado, dissociados da objetividade e concretude
exigidas pela legislação processual penal" (e-STJ, fl. 15); d) não estão presentes os requisitos
Documento: 1940135 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 18/05/2020 Página 3 de 4
Superior Tribunal de Justiça
autorizadores da prisão preventiva; e) a esposa e o filho do paciente padecem de graves
enfermidades.
Pleiteia a revogação da prisão preventiva imposta ao paciente ou a substituição
dela por medidas cautelares diversas.
O pedido liminar foi deferido.
O Ministério Público Federal manifestou-se pela não concessão da ordem.
É o relatório.

Documento: 1940135 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 18/05/2020 Página 4 de 4
Superior Tribunal de Justiça
HABEAS CORPUS Nº 553.628 - RJ (2019/0381867-6)
RELATOR : MINISTRO RIBEIRO DANTAS
IMPETRANTE : FERNANDO TEIXEIRA MARTINS
ADVOGADOS : FERNANDO TEIXEIRA MARTINS - RJ201641
BRAULIO BICALHO CRUZ AMARAL QUIRINO - RJ205876
IMPETRADO : TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 2A REGIAO
PACIENTE : MARCO AURELIO DA SILVA CANAL (PRESO)

EMENTA

PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO


PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO. CRIMES CONTRA A ORDEM
TRIBUTÁRIA. LAVAGEM DE DINHEIRO. ORGANIZAÇÃO
CRIMINOSA. PRISÃO PREVENTIVA. AUSÊNCIA DE
FUNDAMENTAÇÃO. MEDIDAS CAUTELARES ALTERNATIVAS.
ADEQUAÇÃO AO CASO CONCRETO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
CARACTERIZADO. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM
CONCEDIDA, DE OFÍCIO.
1. Esta Corte e o Supremo Tribunal Federal pacificaram orientação no sentido de
que não cabe habeas corpus substitutivo do recurso legalmente previsto para a
hipótese, impondo-se o não conhecimento da impetração, salvo quando constatada
a existência de flagrante ilegalidade no ato judicial impugnado.
2. A prisão preventiva, como medida cautelar acessória e excepcional, que tem
por escopo a garantia do resultado útil da investigação, do posterior
processo-crime, da aplicação da lei penal ou, ainda, da segurança da coletividade,
exige a efetiva demonstração do periculum libertatis e do fumus comissi delicti,
nos termos do art. 312 do CPP.
3. Ademais, a custódia preventiva deve ser considerada como ultima ratio,
priorizando-se a aplicação das demais medidas cautelares previstas no art. 319 do
CPP. Não se pode admitir a prisão como uma punição antecipada ou uma
resposta aos anseios da sociedade.
4. In casu, o Juízo de primeira instância, ao reconhecer a imprescindibilidade da
segregação provisória do paciente, utilizou argumentos genéricos, valendo-se da
própria materialidade dos delitos imputados na ação penal e dos indícios de
autoria, para justificar o decreto de prisão preventiva. O Magistrado singular
serviu-se de meras conjecturas a respeito da probabilidade de que o paciente,
solto, venha a prejudicar as investigações e continuar a delinquir. Suas conclusões
são baseadas em presunções desacompanhadas da indicação de elementos
concretos que as justifiquem.
5. Apesar da alta reprovabilidade das condutas atribuídas ao paciente, não foram
apontados, concreta e especificamente, elementos que demostrem que a ordem
pública estaria em risco com a sua liberdade, não podendo, a simples indicação de
que ele seria integrante de organização criminosa voltada para a prática de delitos
contra a ordem tributária, servir de fundamento ao decreto de prisão preventiva,
por tempo indeterminado, sobretudo quando consideradas suas condições pessoais
favoráveis.
6. Assim, a submissão do paciente às medidas cautelares previstas no art. 319 do
CPP, menos gravosas que o encarceramento, é adequada e suficiente para
restabelecer ou garantir a ordem pública, assegurar a higidez da instrução criminal
Documento: 1940135 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 18/05/2020 Página 5 de 4
Superior Tribunal de Justiça
e a aplicação da lei penal, notadamente a proibição de acesso ou frequência a
qualquer repartição da Receita Federal, a proibição de manter contato com os
demais réus, bem como como servidores da Receita Federal, a proibição de
ausentar-se do Estado do Rio de Janeiro, sem autorização do Juízo, o
recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga, e o afastamento do
exercício de seu cargo de auditor fiscal.
7. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício, para, confirmando
a liminar anteriormente deferida, revogar a prisão preventiva imposta ao paciente,
com a aplicação das medidas cautelares previstas nos incisos II, III, IV, V e VI,
do art. 319, do Código de Processo Penal.

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO RIBEIRO DANTAS:

Esta Corte e o Supremo Tribunal Federal pacificaram orientação no sentido de


que não cabe habeas corpus substitutivo do recurso legalmente previsto para a hipótese,
impondo-se o não conhecimento da impetração, salvo quando constatada a existência de
flagrante ilegalidade no ato judicial impugnado.
Passo à análise das razões da impetração, de forma a verificar a ocorrência de
flagrante ilegalidade a justificar a concessão do habeas corpus de ofício.
In casu, o paciente, investigado na denominada "Operação Armadeira", teve a
prisão preventiva decretada pelos seguintes fundamentos:

"Inicialmente, cumpre reiterar o que tenho afirmado quanto à importância


de não tratar os casos de corrupção e correlatos como crimes menores,
pois a gravidade de ilícitos penais não deve ser medida apenas sob o
enfoque da violência física imediata.
Reafirmo que os casos que envolvem corrupção de agentes públicos têm
enorme potencial para atingir, com severidade, um número infinitamente
maior de pessoas. Basta considerar que os recursos públicos que são
desviados por práticas corruptas deixam de ser utilizados em serviços
públicos essenciais, como saúde e segurança públicas. Nesse caso
específico, verifica-se que quem deveria fiscalizar a arrecadação de
impostos, que movimentam a máquina pública, estaria, em tese, exigindo
vantagem para não realizar seu serviço.
Por isso a sociedade internacional, reunida na 58ª Assembleia Geral da
ONU, pactuou a Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção,
promulgada no Direito brasileiro através do Decreto nº 5.687, de 31 de
janeiro de 2006. Já em seu preâmbulo é declarada a preocupação mundial
'com a gravidade dos problemas e com as ameaças decorrentes da
corrupção, para a estabilidade e a segurança das sociedades, ao enfraquecer
Documento: 1940135 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 18/05/2020 Página 6 de 4
Superior Tribunal de Justiça
as instituições e os valores da democracia, da ética e da justiça e ao
comprometer o desenvolvimento sustentável e o Estado de Direito'.
No mesmo sentido, a Convenção Interamericana Contra a Corrupção, aqui
promulgada pelo Decreto nº 4.410, de 7 de outubro de 2002, deixa claro o
entendimento comum dos Países de nosso continente de 'que a corrupção
solapa a legitimidade das instituições públicas e atenta contra a sociedade, a
ordem moral e a justiça, bem como contra o desenvolvimento integral dos
povos'.
[...]
Em outras palavras: a repressão à organização criminosa que teria se
instalado no governo federal há de receber deste Juízo Federal o rigor
previsto no Ordenamento Jurídico nacional e internacional, sem esquecer
da necessária e urgente atuação tanto para a cessação de atividades
criminosas que estejam sendo praticadas (concussão, corrupção e
branqueamento de valores obtidos criminosamente, por exemplo) como
para a recuperação dos valores desviados da fazenda pública federal.
Trata-se, pois, de supostos delitos de corrupção, concussão, organização
criminosa e lavagem de dinheiro praticados, em tese, pelos auditores fiscais
da Receita Federal em desfavor de alguns agentes investigados na Operação
Lava-Jato do Rio de Janeiro.
Pois bem, em abril de 2018, foi deflagrada a Operação Rizoma, na qual foi
determinada a prisão preventiva de RICARDO SIQUEIRA pelos delitos, em
tese, de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, tráfico de influência e
organização criminosa; todos relacionados às pretensões de investimentos
do Fundo de Pensão SERPROS em favor das empresas de Arthur
Machado.
Posteriormente, em novembro de 2018, Ricardo compareceu ao Ministério
Público Federal assinalando que estaria sofrendo pressão dos auditores da
Receita Federal para que pagasse um valor especifico, a fim de evitar que
fossem lavrados Autos de Infração com valores mais elevados em razão
dos fatos apurados na Operação Rizoma.
No depoimento de RICARDO, ele narra toda a suposta dinâmica do delito
de concussão supostamente praticado pelos fiscais, especificamente, sobre
as investidas do auditor fiscal, identificado como MARCIAL PEREIRA DE
SOUZA, que se iniciaram em agosto de 2018, por meio de contato com o
contador do colaborador, RILDO ALVES DA SILVA.
Pois bem, nesse contexto iniciou-se a presente investigação da Receita
Federal em conjunto com o MPF e com a Polícia Federal, a fim de
localizarem outros integrantes da suposta ORCRIM atuante no seio da
Receita Federal.
Assim, o órgão ministerial identificou três principais agentes públicos que
estariam envolvidos nos fatos até agora apurados: MARCIAL PEREIRA DE
SOUZA, MARCO AURELIO DA SILVA CANAL e DANIEL MONTEIRO
GENTIL.
Nessa toada, entendo por bem individualizar a suposta atuação de cada um,
ainda que as condutas descritas pelo órgão ministerial estejam interligadas.
Ademais, em cada situação ventilada pelo MPF, verifica-se a participação
de outros sujeitos que auxiliaram na suposta empreitada criminosa.
É ver que MARCIAL parece estar envolvido juntamente com MARCO
CANAL nos supostos delitos de corrupção em desfavor de Ricardo
Siqueira e da FETRANSPOR. Já CANAL e GENTIL estão supostamente
unidos na prática de dissimulação e ocultação de capital.
Documento: 1940135 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 18/05/2020 Página 7 de 4
Superior Tribunal de Justiça
Desse modo, inauguro a explanação sobre cada situação relatada pelo MPF
destacando, pois, a participação de cada agente ora investigado.
[...]
- MARCO AURELIO DA SILVA CANAL Com efeito, conforme
documentação acostada pelo MPF, CANAL é auditor fiscal atualmente
lotado na SRRF07, em exercício no Serviço Regional de Programação,
Avaliação e Controle da Atividade Fiscal (SEPAC) e figura como Chefe do
SEPAC.
Assim, diante da suposta participação de CANAL nos delitos relatados por
RICARDO SIQUEIRA, determinei, após requerimento do MPF, o
levantamento dos sigilos fiscal, bancário, telefônico e telemático do
investigado.
Entretanto, o Ministério Público Federal aponta que no curso dessa
investigação, foi homologada pelo STJ acordo de colaboração premiada
com Lelis Marcos Teixeira (PET 12.672/DF), no qual ele relata o
pagamento de propina aos auditores fiscais da Receita Federal.
Cabe rememorar que LELIS TEIXEIRA foi denunciado no âmbito da
Operação Ponto Final, juntamente com outros empresários do ramo dos
transportes do Estado do Rio de Janeiro, pelo pagamento de propina aos
agentes públicos pertencentes à ORCRIM liderada por SERGIO CABRAL
(0505914-23.2017.4.02.5101 e 0505915-08.2017.4.02.5101).
Posteriormente, LELIS também foi denunciado e condenado na Operação
Cadeia Velha (ação penal n° 0502138-78.2018.4.02.5101), em razão do
pagamento de vantagens indevidas a deputados estaduais e seus assessores.
Pois bem, segundo o colaborador, no início de 2016, NARCISO
GONÇALVES DO SANTOS, advogado e empresário do setor de
transportes, apresentou a ele e a Jose Carlos Lavouras o ex-auditor da
Receita Federal ELIZEU MARINHO, sob o argumento de que o ex-fiscal
era pessoa influente e capaz de convencer seu colega a retirar recente
autuação em desfavor da FETRANSPOR, veja depoimento:
[...]
O colaborador ainda relata que, após algumas reuniões, autorizou ELIZEU a
pagar R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais) ao auditor fiscal MARCO
AURÉLIO DA SILVA CANAL, a fim de impedir a autuação da
FETRANSPOR no procedimento fiscal que se encontrava em curso.
Acrescenta LELIS, que, pela negociação, ELIZEU recebeu a quantia de R$
520.000,00 (quinhentos e vinte mil reais), colaciono parte do depoimento:
[...]
Com o fito de corroborar o depoimento do colaborador, o MPF acostou
informação da Corregedoria da Receita Federal a qual identificou a
constituição de sociedade individual de advocacia por ELIZEU, em março
de 2017, a qual emitiu cinco notas de prestação de serviços para a
FETRANSPOR no total de R$ 390.000,00.
Destaca-se que, em depoimento complementar na sede do MPF, LELIS
reconheceu a foto de MARCO AURELIO CANAL e ELIZEU, como sendo
o fiscal e o ex- auditor da Receita com os quais ele negociou.
Ademais, a Corregedoria da Receita Federal localizou o Termo de Diligência
Fiscal referente à federação de transportes, no qual é possível identificar
MARCO CANAL como o chefe da equipe responsável por acompanhar a
situação fiscal da FETRANSPOR, tendo, inclusive, em junho de 2017,
determinado o encerramento do referido procedimento fiscal.
No mais, consoante dados acostados pelo MPF, ELIZEU, de fato, foi
Documento: 1940135 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 18/05/2020 Página 8 de 4
Superior Tribunal de Justiça
servidor da Receita Federal até agosto de 2013. E, os dados obtidos com o
afastamento do sigilo telemático de MARCOS e de ELIZEU demonstram
que eles possuem o registro do número telefônico um do outro gravados
em suas respectivas agendas desde 2014, antes mesmo do ano da citada
fiscalização (2016).
No que tange ao vínculo entre ELIZEU e NARCISO, o MPF apontou as
mensagens eletrônicas trocadas entre eles que narram a prestação de
serviços de consultoria do primeiro para o segundo, pelo menos desde
2011. Ou seja, conforme apurado pela Corregedoria da Receita Federal,
ELIZEU prestava consultoria a NARCISO e as suas empresas de ônibus
antes mesmo de sua exoneração em 2013.
Também com o resultado dos dados telemáticos, o MPF acostou diálogo
entabulado pelo aplicativo whatsapp entre NARCISO e ELIZEU marcando
reuniões exatamente nas datas indicadas por LELIS no seu depoimento
(outubro de 2016 a março de 2017). Cabe notar, ainda, que, além de
LELIS, as reuniões contavam com a presença LAVOURAS, como se
observa das conversas entre NARCISO e o próprio LAVOURAS (celular
apreendido no âmbito da Operação Quinto do Ouro).
Também foi acostada pelo MPF, cópia da conversa entre NARCISO e
LAVOURAS, sobre reunião desses com a presença de FERNANDO
BARBOSA, ocorrida poucos meses antes da deflagração da Operação
Ponto Final.
Ressalta-se que NARCISO é advogado e sócio de FERNANDO JOSÉ
BARBOSA DE OLIVEIRA no escritório OLIVEIRA & GONÇALVES –
ADVOGADOS, CONSULTORES E ASSOCIADO, sendo tais advogados e
endereço destinatários, segundo o colaborador ALVARO NOVIS, de R$ R$
18.769.240,00, provenientes do caixa 2 da Fetranspor, entre os anos de
2010 e 2016.
Dessa forma, os elementos probatórios acostados pelo MPF (diálogos e
dados telemáticos) somados aos depoimentos dos colaboradores LELIS
TEIXERIA e ALVARO NOVIS, mormente sobre as movimentações de
dinheiro em espécie, corroboram a tese de que JOSÉ CARLOS
LAVOURAS e LÉLIS TEIXEIRA, por intermédio de NARCISO
GONÇALVES e com o conhecimento de FERNANDO BARBOSA,
pagaram, no período de novembro de 2016 a outubro de 2017, vantagem
indevida a ELIZEU MARINHO e ao auditor fiscal MARCO AURÉLIO
CANAL, com o fito de impedir, ou minimizar, autuação em desfavor da
FETRANSPOR.
[...]
Destarte, diante da análise do suporte probatório acostado pelo MPF, cabe
destacar que o ordenamento jurídico estabelece genericamente que, para a
concessão da prisão cautelar, de natureza processual, faz-se necessária a
presença de pressupostos e requisitos legais, que uma vez presentes
permitem a formação da convicção do julgador quanto à prática de
determinado delito por aquela pessoa cuja prisão se requer.
À luz da garantia constitucional da não presunção de culpabilidade,
nenhuma medida cautelar deve ser decretada sem que estejam presentes os
pressupostos do fumus comissi delicti e do periculum libertatis. Entende-se
por fumus comissi delicti a comprovação da existência de crime e de
indícios suficientes de sua autoria e por periculum libertatis, o efetivo risco
que o agente em liberdade pode criar à garantia da ordem pública, da ordem
econômica, da conveniência da instrução criminal e à aplicação da lei penal
Documento: 1940135 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 18/05/2020 Página 9 de 4
Superior Tribunal de Justiça
(artigo 312 do Código de Processo Penal).
No que toca especialmente ao fundamento da garantia da ordem pública, o
Supremo Tribunal Federal já assentou que esta envolve, em linhas gerais: a)
necessidade de resguardar a integridade física ou psíquica do preso ou de
terceiros; b) necessidade de assegurar a credibilidade das instituições
públicas, em especial o Poder Judiciário, no sentido da adoção tempestiva
de medidas adequadas, eficazes e fundamentadas quanto à visibilidade e
transparência da implementação de políticas públicas de persecução
criminal; e c) objetivo de impedir a reiteração das práticas criminosas,
desde que lastreado em elementos concretos expostos fundamentadamente.
Como já dito linhas acima, e reiterando decisões cautelares anteriores, em
se confirmando as suspeitas inicialmente apresentadas, as quais seriam
suportadas pelo conjunto probatório apresentado em justificação para as
graves medidas cautelares requeridas, estaremos diante de graves delitos de
concussão, corrupção, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
Dessa forma, após a explanação sobre os requeridos, tenho por
evidenciados os pressupostos para o deferimento da medida cautelar
extrema, consubstanciados na presença do fumus comissi delicti, ante a
aparente comprovação da materialidade delitiva e de indícios suficientes que
apontam para a autoria de crimes graves.
Encontra-se também presente o segundo pressuposto necessário à
decretação da cautelar, qual seja, o periculum libertatis, nestes autos
representado pelo risco efetivo que os requeridos em liberdade possa
criar à garantia da ordem pública, da conveniência da instrução
criminal e à aplicação da lei penal (artigo 312 do Código de Processo
Penal).
Veja-se que se trata de investigados que, a despeito de todo trabalho
reconhecidamente profícuo da Polícia Federal, do Ministério Público
Federal e da Justiça Federal do Brasil na apuração e no
processamento de tantos escândalos de corrupção, aparentemente
continuam praticando atos criminosos nos dias atuais e, pior, atuando
no rastro das investigações que estão sendo realizadas para dar
prosseguimento a saga criminosa a que estariam acostumados.
Com a atuação recente e efetiva desses investigados na intimidade de
repartições públicas da Receita Federal, parece óbvio que, em
liberdade, é grande e real a possibilidade de que venham a prejudicar
as investigações ora iniciadas.
Nos três casos narrados, o MPF acostou arcabouço probatório capaz de
subsidiar a tese acusatória. Assim, é plausível que MARCIAL, com auxílio
de RILDO, tenha exigido de Ricardo Siqueira vantagem indevida para
retirar autuações excessivas, sendo certo, que o valor foi pago em conta
em nome de MONICA, cônjuge de MARCIAL.
De igual modo, é provável que MARCO CANAL, por intermédio de
ELIZEU, tenha solicitado vantagem indevida para facilitar a situação
fiscal da FETRANSPOR, que foi paga por LAVOURAS e NARCISO.
E, também é possível que as transações imobiliárias realizadas por DANIEL
GENTIL e SUELI GENTIL sejam voltadas para a dissimulação de capital
ilícito recebido pela suposta organização criminosa.
É ver que os fatos são contemporâneos e vêm ocorrendo, pelo menos
desde 2016, independente das operações deflagradas por essa 7ª Vara
Federal Criminal, os investigados sequer se preocupam em serem
Documento: 1940135 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 18/05/2020 Página 10 de 4
Superior Tribunal de Justiça
descobertos diante das inúmeras investigações e prisões efetivadas no país
e ações penais em andamento sobre corrupção e crimes correlatos.
Como eloquente exemplo, veja-se o relato do colaborador Ricardo Siqueira,
em que afirma que tinha reunião agendada com MARCIAL para o dia
08/11/2018 no Aeroporto Santos Dumont, contudo, nesse mesmo dia, foi
deflagrada a Operação Furna da Onça; diante disso, MARCIAL teria
remarcado a reunião para o dia seguinte, a fim de evitar encontrar com
alguma autoridade. Ou seja, a ocorrência de operação investigativa nem
sequer abalou a intenção do auditor de praticar, em tese, o delito. Ele
simplesmente transferiu a suposta reunião das tratativas de propina para o
dia seguinte.
Mais frustrante é notar que os agentes públicos responsáveis pela
fiscalização de tributos que seriam direcionados para os cofres públicos,
servidores que deveriam prezar pela moral, probidade, e legalidade no
serviço público, se utilizam justamente de sua posição de autoridade para
cometer delitos.
Reafirmo, pelo que acima consignei, a necessidade da prisão preventiva,
que não é atendida por nenhuma outra medida cautelar alternativa, mesmo
as estipuladas no art. 319 do CPP, ante o comportamento acima descrito
dos investigados requeridos.
Nesse contexto, a segregação cautelar dos investigados, tal como requerida
pelo MPF, é medida que se impõe, seja para garantir a ordem pública,
como por conveniência da instrução criminal, nos termos do art. 312 do
CPP" (e-STJ, fls. 585-597, grifou-se).

Como é sabido, a prisão preventiva, como medida cautelar acessória e


excepcional, que tem por escopo a garantia do resultado útil da investigação, do posterior
processo-crime, da aplicação da lei penal ou, ainda, da segurança da coletividade, exige a efetiva
demonstração do periculum libertatis e do fumus comissi delicti, nos termos do art. 312 do
Código de Processo Penal.
Ademais, com o advento da sistemática trazida pela Lei n. 12.403/2011, a
custódia preventiva deve ser considerada como ultima ratio, priorizando-se a aplicação das
demais medidas cautelares previstas no art. 319 do CPP. Não se pode admitir a prisão como uma
punição antecipada ou uma resposta aos anseios da sociedade.
Verifica-se, no caso dos presentes autos, que o Juízo de primeira instância, ao
reconhecer a imprescindibilidade da segregação provisória do paciente, considerou o "risco
efetivo que os requeridos em liberdade possam criar à garantia da ordem pública, da
conveniência da instrução criminal e à aplicação da lei penal". Justificou a segregação ao
fundamento de que os investigados "aparentemente continuam praticando atos criminosos nos
dias atuais e, pior, atuando no rastro das investigações que estão sendo realizadas para dar
prosseguimento a saga criminosa a que estariam acostumados", afirmando, por derradeiro, que
"parece óbvio que, em liberdade, é grande e real a possibilidade de que venham a prejudicar as
investigações ora iniciadas".
Por fim, especificamente com relação ao ora paciente, aduziu que "é provável que
MARCO CANAL, por intermédio de ELIZEU, tenha solicitado vantagem indevida para facilitar
a situação fiscal da FETRANSPOR, que foi paga por LAVOURAS e NARCISO" (e-STJ, fl.
597).
Entendo que o Juízo de primeiro grau utilizou argumentos genéricos, valendo-se da
própria materialidade dos delitos imputados na ação penal e dos indícios de autoria, para justificar
o decreto de prisão preventiva. O Magistrado singular serviu-se de meras conjecturas a respeito
Documento: 1940135 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 18/05/2020 Página 11 de 4
Superior Tribunal de Justiça
da probabilidade de que o paciente, solto, venha a prejudicar as investigações e continuar a
delinquir. Suas conclusões são baseadas em presunções desacompanhadas da indicação de
elementos concretos que as justifiquem.
Assim, diante dessas considerações, entendo que, apesar da alta reprovabilidade
das condutas atribuídas ao paciente, não foram apontados, concreta e especificamente, elementos
que demostrem que a ordem pública estaria em risco com a sua liberdade, não podendo, a
simples indicação de que ele seria integrante de organização criminosa voltada para a prática de
delitos contra a ordem tributária, servir de fundamento ao decreto de prisão preventiva, por tempo
indeterminado.
Consoante precedentes desta Corte, "a mera indicação de circunstâncias que já
são elementares do crime perseguido, nada se acrescendo de riscos casuísticos ao processo ou à
sociedade, não justifica o encarceramento cautelar, e também não serve de fundamento à prisão
preventiva a presunção de reiteração criminosa dissociada de suporte fático concreto" (RHC
63.254/RJ, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 07/04/2016, DJe
19/04/2016).
Ademais, "a gravidade genérica do delito, a repetição de elementos inerentes
ao próprio tipo penal e a repercussão social dos fatos, dissociadas de quaisquer elementos
concretos e individualizados que indiquem a necessidade da rigorosa providência cautelar,
geram constrangimento ilegal" (RHC 67.556/RJ, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA
FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 05/04/2016, DJe 13/04/2016).
Acrescente-se que, apesar de o paciente ser apontado como um dos líderes do
esquema delituoso, ocupando aparente posição de destaque na organização criminosa, verifica-se
que ele possui condições pessoais favoráveis, vale dizer, tem residência fixa, é primário e não
ostenta antecedentes criminais, além de ter permanecido preso por mais de 3 (três) meses, até a
concessão da medida liminar nestes autos.
Assim, no caso em exame, com relação especificamente ao ora paciente, entendo
que, a despeito da gravidade dos fatos a serem apurados, a submissão do paciente às medidas
cautelares previstas no art. 319 do CPP, menos gravosas que o encarceramento, é adequada e
suficiente para restabelecer ou garantir a ordem pública, assegurar a higidez da instrução criminal
e a aplicação da lei penal, notadamente aquelas previstas nos incisos: II (proibição de acesso
ou frequência a qualquer repartição da Receita Federal); III (proibição de manter
contato com os demais réus, bem como como servidores da Receita Federal); IV
(proibição de ausentar-se do Estado do Rio de Janeiro, sem autorização do Juízo); V
(recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga); e VI
(suspensão/afastamento do exercício de seu cargo de auditor fiscal).
Nesse sentido, os seguintes julgados:

"RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE


RECURSO ORDINÁRIO. PECULATO. LAVAGEM DE DINHEIRO.
FALSIDADE IDEOLÓGICA. SUPRESSÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO.
PRISÃO PREVENTIVA. SERVIDOR TITULAR DE CARGO
COMISSIONADO. FUNDAMENTAÇÃO. IMPRESCINDIBILIDADE
NÃO DEMONSTRADA. MEDIDAS CAUTELARES. ADEQUAÇÃO E
SUFICIÊNCIA. RECURSO ORDINÁRIO PROVIDO. SUBSTITUIÇÃO
DA PRISÃO PREVENTIVA POR OUTRAS MEDIDAS CAUTELARES.
[...]
3. Na espécie, em que pese a reprovabilidade das condutas imputadas, a
prisão preventiva mostra-se excessiva, uma vez que os crimes foram
praticados em razão da condição de agente público, no exercício do cargo

Documento: 1940135 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 18/05/2020 Página 12 de 4
Superior Tribunal de Justiça
comissionado de contador da Casa legislativa local. Logo, o respectivo
afastamento das funções públicas, em princípio, é suficiente para proteger
a ordem pública. Ademais, não há registros de que o paciente tenha coagido
ou ameaçado testemunhas, ou mesmo tentado interferir no regular
desenvolvimento do processo.
4. "A prisão preventiva somente se justifica na hipótese de impossibilidade
que, por instrumento menos gravoso, seja alcançado idêntico resultado
acautelatório" (HC n. 126.815, Relator Ministro MARCO AURÉLIO,
Relator p/ Acórdão Ministro EDSON FACHIN, Primeira Turma, julgado em
04/08/2015, publicado em 28/8/2015).
5. A prevalência dos critérios da necessidade e da adequação das cautelares
pressupõem a proporcionalidade da medida frente a sua razão de ser. Além
disso, a aplicação das medidas está submetida ao poder geral de cautela do
magistrado levando em conta as condições pessoais do acusado. Na
espécie, os crimes imputados não envolvem violência ou grave ameaça e o
paciente é primário, reside em local conhecido, condições subjetivas que
também devem ser devidamente sopesadas para fins de abrandamento da
sua situação prisional.
6. Recurso ordinário em habeas corpus provido para substituir a prisão
preventiva do paciente pelas medidas cautelares relacionadas no voto, as
quais deverão ser rigorosamente fiscalizadas pelo Juízo de primeiro grau,
inclusive notificando o paciente de que o descumprimento ensejará a
decretação da prisão preventiva."
(RHC 97.239/MG, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
QUINTA TURMA, julgado em 05/02/2019, DJe 14/02/2019).

"HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO ORIGINÁRIA. SUBSTITUIÇÃO AO


RECURSO ORDINÁRIO CABÍVEL. IMPOSSIBILIDADE. CRIME DE
RESPONSABILIDADE DE PREFEITO, FALSIDADE IDEOLÓGICA E
QUADRILHA. PRISÃO TEMPORÁRIA CONVERTIDA EM
PREVENTIVA. SEGREGAÇÃO JUSTIFICADA À LUZ DO ART. 312 DO
CPP. DESPROPORCIONALIDADE DA MEDIDA EXTREMA.
PROVIDÊNCIAS CAUTELARES DIVERSAS. ART. 319 DO CPP.
ADEQUAÇÃO E SUFICIÊNCIA. COAÇÃO ILEGAL DEMONSTRADA.
ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.
1. O STF passou a não mais admitir o manejo do habeas corpus originário
em substituição ao recurso ordinário cabível, entendimento que foi aqui
adotado, ressalvados os casos de flagrante ilegalidade, quando a ordem
poderá ser concedida de ofício.
2. A prisão somente será determinada quando não for cabível a sua
substituição por outra medida cautelar e quando realmente mostre-se
necessária e adequada às circunstâncias em que cometido o delito e às
condições pessoais do agente. Exegese do art. 282, § 6º, do CPP.
3. Evidenciado que a manutenção da custódia antecipada do réu é medida
excessiva diante do tempo de prisão já cumprido e que a finalidade almejada
quando da ordenação da preventiva pode ser atingida com a aplicação de
providências cautelares alternativas, presente o constrangimento ilegal
apontado na inicial.
4. Observado o binômio proporcionalidade e adequação, infere-se, diante
das particularidades do caso concreto, ser devida e suficiente a imposição
de medidas cautelares diversas à prisão para garantir a ordem pública.
5. Habeas corpus não conhecido, concedendo-se, contudo, a ordem de
Documento: 1940135 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 18/05/2020 Página 13 de 4
Superior Tribunal de Justiça
ofício, para substituir a custódia preventiva do paciente pelas medidas
alternativas à prisão previstas no art. 319, I, IV, V e VIII, do Código de
Processo Penal, fixando-se o valor da fiança em 100 (cem) salários
mínimos, devendo ser expedido o competente alvará de soltura em seu
favor, salvo se por outro motivo estiver preso."
(HC 401.867/SP, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, Rel. p/ Acórdão
Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 14/09/2017, DJe
16/10/2017).

"HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO ORIGINÁRIA. SUBSTITUIÇÃO


AO RECURSO ORDINÁRIO CABÍVEL. IMPOSSIBILIDADE.
CORRUPÇÃO, ADULTERAÇÃO, FALSIFICAÇÃO OU ALTERAÇÃO DE
SUBSTÂNCIA OU PRODUTO ALIMENTÍCIO DESTINADO A
CONSUMO (LEITE). PRISÃO PREVENTIVA.
DESPROPORCIONALIDADE DA CONSTRIÇÃO. AGENTES
PRIMÁRIOS, DE BONS ANTECEDENTES E COM RESIDÊNCIA FIXA.
CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS. MEDIDAS CAUTELARES
ALTERNATIVAS. ADEQUAÇÃO E SUFICIÊNCIA. COAÇÃO ILEGAL
EM PARTE DEMONSTRADA. WRIT NÃO CONHECIDO. LIMINAR
CONFIRMADA. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.
[...]
2. A aplicação de medidas cautelares, aqui incluída a prisão preventiva,
requer análise, pelo julgador, de sua necessidade e adequação, a teor do art.
282 do CPP, observando-se, ainda, se a constrição é proporcional ao
gravame resultante de eventual condenação posterior.
3. A prisão preventiva somente será determinada quando não for cabível a
sua substituição por outra medida cautelar e quando realmente mostre-se
necessária e adequada às circunstâncias em que cometido o delito e às
condições pessoais do agente. Exegese do art. 282, § 6º, do CPP.
4. No caso, a segregação antecipada mostra-se desproporcional,
revelando-se devida e suficiente a imposição de medidas cautelares
alternativas, dadas as circunstâncias do crime imputado, cometido sem
violência ou grave ameaça a pessoa, e às condições pessoais dos agentes,
primários, sem registro de antecedentes criminais e com residência fixa no
distrito da culpa.
5. Condições pessoais favoráveis, mesmo não sendo garantidoras de
eventual direito à soltura, merecem ser devidamente valoradas, quando
demonstrada possibilidade de substituição da prisão por cautelares diversas,
proporcionais, adequadas e suficientes aos fins a que se propõem.
6. Habeas corpus não conhecido, concedendo-se, contudo, a ordem de
ofício para, confirmando-se a liminar anteriormente deferida, revogar a
prisão preventiva dos pacientes, mediante a imposição das medidas
alternativas previstas no art. 319, incisos I, III, IV, V, VI e VIII, do CPP,
devendo o Juízo singular determinar a devida distância que os réus deverão
manter das testemunhas de acusação, suspendendo ainda o exercício da
atividade econômica que desenvolvem junto à Cooperativa Tritícola
Erechim Ltda. - COTREL, arbitrando-se a fiança no valor de 10.000,00
(dez mil reais)."
(HC 316.777/RS, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado
em 19/05/2015, DJe 28/05/2015).

Saliente-se, por fim, o fato de que as condutas imputadas ao paciente teriam sido
Documento: 1940135 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 18/05/2020 Página 14 de 4
Superior Tribunal de Justiça
praticadas no exercício de suas funções no cargo de auditor fiscal. Assim, o afastamento dele de
seu cargo público atinge a finalidade pretendida pelo Juízo de origem, que seria impossibilitar a
reiteração delitiva, cautelar que vem surtindo os efeitos desejados, desde 19/12/2019, quando foi
deferida a medida liminar nestes autos.
Ante o exposto, não conheço do habeas corpus. Contudo, concedo a ordem,
de ofício, para, confirmando a liminar anteriormente deferida, revogar a prisão preventiva
imposta ao paciente, com a aplicação das medidas cautelares previstas nos incisos II, III, IV, V e
VI, do art. 319, do Código de Processo Penal.
Comunique-se ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região e ao Juízo da 7ª Vara
Federal Criminal do Rio de Janeiro.
É como voto.

Documento: 1940135 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 18/05/2020 Página 15 de 4
Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

Número Registro: 2019/0381867-6 PROCESSO ELETRÔNICO HC 553.628 / RJ


MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 50092761120194020000 50608101720194025101 50621404920194025101

EM MESA JULGADO: 12/05/2020

Relator
Exmo. Sr. Ministro RIBEIRO DANTAS
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RIBEIRO DANTAS
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ROBERTO LUIS OPPERMANN THOMÉ
Secretário
Me. MARCELO PEREIRA CRUVINEL

AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : FERNANDO TEIXEIRA MARTINS
ADVOGADOS : FERNANDO TEIXEIRA MARTINS - RJ201641
BRAULIO BICALHO CRUZ AMARAL QUIRINO - RJ205876
IMPETRADO : TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 2A REGIAO
PACIENTE : MARCO AURELIO DA SILVA CANAL (PRESO)
CORRÉU : DANIEL MONTEIRO GENTIL
CORRÉU : ELIZEU DA SILVA MARINHO
CORRÉU : JOAO BATISTA DA SILVA
CORRÉU : RILDO ALVES DA SILVA
CORRÉU : ALBERTO SODRÉ ZILE
CORRÉU : LEONIDAS PEREIRA QUARESMA
CORRÉU : ALEXANDRE FERRARI ARAUJO
CORRÉU : MONICA DA COSTA MONTEIRO DE SOUZA
CORRÉU : NARCISO GONCALVES DOS SANTOS
CORRÉU : SUELI MONTEIRO GENTIL
CORRÉU : FABIO DOS SANTOS CURY
CORRÉU : GLYCERIO DEPRA
CORRÉU : MARCUS BRUNO DE OLIVEIRA RIOS MOTA
CORRÉU : MARCIO DE MELLO MATTOS
CORRÉU : ADRIANA SILVARES GONCALVES CANAL
CORRÉU : LEONARDO DA GAMA E ABREU PACIELLO
CORRÉU : ELUIZA ELENA PEREIRA DA ROCHA DA SILVA
CORRÉU : PEDRO AUGUSTO SARMENTO MARQUES DE ALMEIDA GUIMARAES
CORRÉU : ANA LUCIA OSORIO TABET
CORRÉU : JOÃO PAULO MENNA BARRETO DE CASTRO FERREIRA
CORRÉU : SEBASTIAO JOSE DANTAS MESSIAS
CORRÉU : FERNANDO JOSE BARBOSA DE OLIVEIRA
CORRÉU : JOSE CARLOS REIS LAVOURAS
CORRÉU : MARCIAL PEREIRA DE SOUZA
Documento: 1940135 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 18/05/2020 Página 16 de 4
Superior Tribunal de Justiça

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes Previstos na Legislação Extravagante - Crimes de "Lavagem" ou


Ocultação de Bens, Direitos ou Valores

SUSTENTAÇÃO ORAL
PRESENTE NA TELECONFERÊNCIA: DR. FERNANDO TEIXEIRA MARTINS (P/PACTE)

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, não conheceu do pedido e concedeu "Habeas Corpus" de
ofício, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator."
Os Srs. Ministros Joel Ilan Paciornik, Felix Fischer, Jorge Mussi e Reynaldo Soares da
Fonseca votaram com o Sr. Ministro Relator.

Documento: 1940135 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 18/05/2020 Página 17 de 4

Você também pode gostar