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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL

DA COMARCA DE GRANDES RIOS – ESTADO DO PARANÁ.

COCARI – COOPERATIVA AGROPECUÁRIA E


INDUSTRIAL, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no Cadastro Nacional de Pessoas
Jurídicas do Ministério da Fazenda sob n.º 78.956.968/0001-83, com sede na Rua Lord Lovat,
420, em Mandaguari-PR. (docs. inclusos), por intermédio de seus procuradores judiciais,
adiante assinados, advogados devidamente inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil,
Seção do Paraná, sob nºs 15.502 e 16.909 respectivamente, ambos com escritório profissional,
estabelecido na Rua João Ernesto Ferreira, 292, centro, em Mandaguari-PR, fone/pabx:
(0**44) 233-2233, e-mail: virtus@bwnet.com.br, CEP.86.975-000, onde recebem intimações
e demais comunicados judiciais (procuração anexa), vem à presença de Vossa Excelência,
respeitosamente, propor a presente

AÇÃO ORDINÁRIA DE IMISSÃO DE POSSE c/c PEDIDO DE


ANTECIPAÇÃO DA TUTELA

em face de:

LAUDEMIR LOPES DE SOUZA, brasileiro, portador da


Cédula de Identidade, RG. sob nº, inscrito no C.P.F./M.F. sob nº , residente e domiciliado -
PR, pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir exarados:
I – DOS FATOS

A Requerente é senhora e legítima possuidora do seguinte


imóvel:

“Subdivisão dos lotes nºs 49 e 49-A (quarenta e nove e quarenta e nove-A), com a
área de 41.500,00 m2 (quarenta e um mil e quinhentos metros quadrados), ou
sejam 4,15 (quatro vírgula quinze) hectares, situado na Gleba Rosário,
Loteamento Chácaras, neste Município e Comarca de Grandes Rios Estado do
Paraná, contendo as seguintes benfeitorias: Um escritório em alvenaria com 88
m2 (oitenta e oito metros quadrados) área construída; Um barracão de estrutura
metálica com 432 m2 (quatrocentos e trinta e dois metros quadrados), 06 (seis)
células metálicas de 600 toneladas cada e com 78,50 m 2 (setenta e oito vírgula
cinqüenta metros quadrados) cada um num total de 471 m 2 (quatrocentos e
setenta e um metros quadrados), dando um total geral construído 991 m 2
(novecentos e noventa e um metros quadrados); Uma casa em alvenaria medindo
105,00 m2 (cento e cinco metros quadrados); Uma casa em alvenaria medindo
80,19 m2 (oitenta vírgula dezenove metros quadrados); Um armazém em
alvenaria com 1.207,00 m2 (um mil e duzentos e sete metros quadrados); Um
escritório em alvenaria com 80,00 m2 (oitenta metros quadrados), 06 (seis) silos
metálicos com capacidade para 10.000 (dez mil) sacas cada um; Uma casa de
máquinas medindo 618,90 m2 (seiscentos e dezoito vírgula noventa metros
quadrados) de cobertura e duas moegas com capacidade para 1.000 (um mil)
sacas cada uma, dentro das seguintes divisas e confrontações: Partindo de um
marco cravado no alinhamento da Rua Amazo (prolongamento) dividindo com
terras da chácara nº 03. Deste segue por uma linha seca rumo magnético 0º20’NE
com uma distância de 420,0 metros, confrontando com terras das chácaras nºs 03,
02, 01 e 01-A, até novo marco; volvendo à direita, segue no rumo geral; 62º 43’
SE com uma distância de 160,20 metros, confrontando com terras do lote nº 70
(zona rural) até novo marco, desse segue no rumo SO11º45’ com uma distância
de 342,0 metros, confrontando com terras da chácara nº 52, até novo marco
cravado no alinhamento da Rua Amazona deste último, volvendo à direita segue
a referida rua no rumo SO 79º08’ com uma distância de 78,0 metros, indo assim
atingir o marco de partilha, fechando a área acima mencionada”, imóvel este
objeto da matrícula sob nº 1.192 do Cartório de Registro de Imóveis da Comarca de
Grandes Rios-PR, sendo parte das benfeitorias acima consignadas averbadas
posteriormente sob o nº 003.

Referido imóvel foi adquirido pela Requerente no dia 15 de


julho de 2004 em leilão judicial, conforme comprova a inclusa carta de arrematação, extraída
dos autos sob nº 094/1994 de Liquidação de Sentença, em que figura como requerente a
COOPERATIVA AGROPECUÁRIA CENTRO NORTE DO PARANÁ – CANORPA e
requerido o JUÍZO DE DIREITO DA 2ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE
APUCARANA-PR.

Muito embora tenha adquirido o bem, a Requerente até a


presente data não se imitiu na posse do mesmo, pois uma parte do imóvel – casa de alvenaria,
conforme mapa ilustrativo da área arrematada – vem sendo ocupada pelo Requerido, o qual
detém a posse em nome da antiga proprietária (CANORPA), tendo em vista que era
funcionário daquela cooperativa, e se recusa terminantemente em permitir que a Requerente
se imita na posse da área ocupada pelo mesmo.

A carta de arrematação ainda não foi registrada no competente


registro imobiliário, tendo em vista que foi requerido ao Juízo de Direito da 2ª Vara Cível de
Apucarana que seja determinada à baixa dos ônus que oneram o imóvel arrematado pela
Requerente, que pode ser facilmente observada na matrícula e também conforme comprova a
inclusa cópia da petição, devidamente protocolada. Todavia, até a presente data não houve
intimação a respeito do deferimento do pedido.

Desta feita, a Requerente encontra dificuldades para exercer


todos os poderes inerentes ao domínio, não tendo a segurança necessária sobre o bem
adquirido, nem tampouco podendo utilizá-lo para os fins que colima, especialmente aqueles
inerentes a sua atividade industrial, além do prejuízo que vem sofrendo diante da ocupação
indevida do imóvel.

Assim, a ação em questão, é de imissão de posse, onde pretende


a Requerente o provimento jurisdicional para o fim de imitir-se na posse do imóvel
arrematado na ação de liquidação de sentença, que ocorreu perante o Juízo da 2ª Vara Cível
de Apucarana, inclusive de forma antecipada (art. 273, I, CPC).

II – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

Muito embora não mais prevista em nossa legislação, consiste a


ação de imissão de posse, conforme ensina SILVIO DE SALVO VENOSA1:

“O anterior CPC, de 1939, trazia, como procedimento


especial, a ação de imissão de posse. Era reservada, na
realidade, a quem nunca tivera a posse. Não é ação
possessória. Três eram as hipóteses na lei revogada no art.
381:

‘I – aos adquirentes de bens, para haverem a respectiva


posse, contra os alienantes, ou terceiros, que os detenham;

II – aos administradores e demais representantes das


pessoas jurídicas de direito privado, para haverem dos seus
antecessores a entrega dos bens pertencentes à pessoa
representada;

III – aos mandatários, para receberem dos antecessores, a


posse dos bens do mandante.’

1
Direito Civil – 4. ed. – Direitos reais – Editora Atlas S/A – São Paulo – 2004 – p. 166/167.
Era necessário que o pedido viesse fundado no domínio, no
ius possidendi. Cuidava-se mesmo de juízo petitório.
No estatuto processual vigente não foi incluída a ação, como
procedimento especial. Não se nega que o processo comum
sirva para suas finalidades, mormente o caso mais
significativo, qual seja, ação do comprador para receber a
coisa adquirida. Trata-se de ação para dar coisa certa. No
entanto, nesse caso, não existe medida liminar. Se presentes
os requisitos, há que se recorrer às regras gerais de cautela
do processo cautelar no atual Código, que dá larga margem
protetiva, uma vez presentes o fumus boni iuris e periculum
in mora. No caso, porém, há que se obedecer aos arts. 796 ss
do CPC. Não se afasta, contudo, a possibilidade de ser
concedida a antecipação de tutela”.

Colhe-se da jurisprudência:

“O fato de o Código de Processo Civil em vigor não ter


disciplinado a antiga ação de imissão na posse, quer entre as
ações possessórias, quer como procedimento especial
autônomo, não retira dos titulares do direito de ação o
instrumento indispensável ao reconhecimento dos seus direitos
dominicais. (...)” (TJRJ – ACV nº 3463/96 – Rel. Des. Wilson
Marques).

Nesse diapasão, temos então que o Código de Processo Civil de


1973 não disciplina, quer entre as ações possessórias, quer como procedimento especial
autônomo, a antiga ação de imissão de posse. No entanto, como visto, isso não significa que
as pessoas acima relacionadas teriam ficado desamparadas da tutela judicial para se imitirem
na posse dos bens lá consignados, tendo em vista que, por óbvio, não há direito sem ação que
o assegure.

Desta forma, percebe-se que a ação em questão tem cunho


petitório, e que tem como fundamento o título de propriedade, in casu, exercido pela
arrematante, ora Autora. Daí o pedido ser dirigido contra quem estiver detendo a posse do
bem, sem considerar a situação jurídica em que se encontra o possuidor.

E esse é o entendimento da jurisprudência:

“AÇÃO DE IMISSÃO DE POSSE. CARTA DE


ARREMATAÇÃO. PROCEDIMENTO ADEQUADO. PEDIDO
FORMULADO CONTRA OS ATUAIS POSSUIDORES.
LEGITIMIDADE PASSIVA. APELO PROVIDO.
CONTINUIDADE DO FEITO. Ao arrematante, munido de carta
de arrematação devidamente registrada, é deferida a ação de
imissão de posse, quando esta é exercida por terceiros. A
qualidade de cessionários dos apelados não lhes retira a
legitimidade para residir no pólo passivo, pois o autor –
apelante não adquiriu dos cedentes, mas sim do estado, através,
de venda judicial. Como a ação é baseada no “ius possidendi”,
o pedido deve ser dirigido contra as pessoas que estão
exercendo a posse sobre o imóvel. Independentemente da
situação jurídica do ocupante do imóvel, a só ocupação o
legitima para responder aos termos da ação. Provimento do
recurso para afastar a carência de ação, e ordenar o
julgamento de mérito” (TAPR – 1ª C. Cív. – Ap. Cív. nº
0043507-8 – Acórdão nº 3.598 – Rel. Nei Guimarães – j.
10.11.1992)
“AÇÃO DE IMISSÃO DE POSSE. ARREMATAÇÃO DO
IMÓVEL EM HASTA REALIZADA PELO AGENTE
FIDUCIÁRIO COM BASE NO DL N. 70/66. O TERCEIRO
QUE OCUPA A COISA É PARTE LEGÍTIMA PARA FIGURAR
NO POLO PASSIVO DA AÇÃO DE IMISSÃO DE POSSE QUE
É ADEQUADA PARA A ESPÉCIE. PRECEDENTES DO STJ.
APELAÇÃO PROVIDA”. (TJRS – 18ª C. Cív. – Ap. Cív.
598134021 – Rel. Wilson Carlos Rodycz – j. 25.10.1999)

“IMISSÃO DE POSSE – ARREMATAÇÃO – PEDIDO


DIRIGIDO CONTRA OS ATUAIS POSSUIDORES –
ILEGITIMIDADE PASSIVA AFIRMADA. O fato de estarem os
apelados no imóvel, como locatários, não retira a condição de
legitimados no pólo passivo, pois o apelante não adquiriu do
locador e sim do Estado, mediante ato de venda judicial.
Desconhecendo o contrato, resta ao arrematante dirigir o
pedido contra quem exerce a posse direta sobre o imóvel, ainda
mais considerando-se que o contrato não contempla cláusula
quanto a sua permanência devidamente anotada no registro
público, como exigia o artigo 14, da Lei 6649/79” (Ac. 3460 –
2ª C. Cív. – Rel. Walter Borges Carneiro)

Por conseguinte, temos que a ação de imissão de posse baseia-


se no ius possidendi e, em conseqüência, o pedido deve ser dirigido em face das pessoas que
estão exercendo a ‘posse’ sobre o imóvel, independentemente da situação jurídica do
ocupante do imóvel. Tem legitimidade, portanto, para figurar no pólo passivo da ação de
imissão, aquele que detém a posse direta sobre o bem e que, conseqüentemente, esteja
impedindo o exercício do direito do proprietário.
Destarte, presente à legitimidade passiva no feito, eis que o
Requerido exerce e detém a posse direta do imóvel e obstaculiza a Requerente de dar início ao
exercício dos direitos inerentes ao domínio.

Por outro lado, patente também à legitimidade ativa da


Requerente para ajuizar ação de imissão de posse.

No caso concreto, a Requerente adquiriu o imóvel, objeto da


lide, em venda judicial, conforme comprova a carta de arrematação.

A titularidade do domínio sobre o bem vem bem demonstrada,


mediante carta de arrematação extraída dos autos sob nº 94/1994 de Liquidação de Sentença,
expedida pelo Juízo da 2ª Vara Cível de Apucarana, porquanto “Assinado o auto de
arrematação, na forma prescrita em lei, a arrematação é considerada perfeita, acabada
e irretratável, nos termos do art. 694 do CPC” (Ap. 244.147-1/4 – 1ª C. Cív. TJSP – Rel.
Des. Guimarães e Souza – RT 728/238).

E assim é porque, “um dos efeitos gerados pela arrematação


perfeita e acabada, consiste em transferir o domínio do bem ao arrematante, e também,
obrigar o depositário judicial ou particular, eventualmente o próprio devedor, a
transferir a posse dos bens arrematados, e conseqüentemente, o direito do arrematante
em imitir-se na posse do bem adquirido judicialmente” (TAPR – 3ª C. Cív. – Agravo de
instrumento nº 0246143-0 – trechos do voto do Rel. Jurandyr Souza Junior – j. 10.08.2004 –
DJ. 6690).

No entanto, não houve, ainda, o registro do título translativo da


propriedade no competente registro de imóveis, tendo em vista que a Requerente, como visto
acima, aguarda pronunciamento do juízo da arrematação, relativo aos ônus que incidem sobre
a matrícula do imóvel adquirido, conforme petição anexa e matrícula acostada nos autos.
Por outro lado, isso não descaracteriza a condição de
proprietário do bem, eis que não é demais mencionar, ainda, como efeitos da arrematação, que
“o sistema processual considera a arrematação como ato de alienação que se processa
sob a garantia do Judiciário, sendo que o objeto do negócio é a transmissão do domínio
da coisa penhorada a terceiro, ou seja, o Estado transmite ao arrematante os direitos do
executado na coisa penhorada desde a assinatura do auto, nos termos do art. 694, do
CPC” (TAPR – 3ª C. Cív. – Agravo de instrumento nº 0246143-0 – Rel. Jurandyr Souza
Junior – j. 10.08.2004 – DJ. 6690).

Desta forma, diante da legitimidade da venda judicial operada


no caso concreto, a carta de arrematação, por si só, outorga a Requerente à titularidade e
conservação de todos os direitos sobre o bem arrematado.

Comprovada a aquisição do imóvel, tem o proprietário o direito


de exercer todos os poderes inerentes ao domínio2, inclusive de ser imitido na posse.

In casu, o imóvel vem sendo ocupado irregularmente pelo


Requerido, que se nega a desocupá-lo, alegando que possui créditos junto à antiga
CANORPA.

Referido imóvel trata-se de uma residência, conforme se vê pelo


mapa ilustrativo anexo, e se encontra dentro da sede da antiga CANORPA, agora de
propriedade da Requerente, sendo que o Requerido já detinha a posse da residência antes da
alienação judicial, em virtude de que era funcionário daquela cooperativa, desconhecendo a
Requerente qual a relação jurídica que justificava a ocupação, se de natureza locatícia ou
empregatícia, porém que detinha o bem em nome daquela cooperativa.

Em razão disso, a Requerente não consegue haver para si a


posse daquela parte do imóvel arrematado.

2
Usar, gozar e dispor da coisa (art. 1.228, CC).
Desta feita, como ainda não exerceu a posse sobre o bem,
adequada a ação de imissão de posse para tal fim.

Nesse sentido:

“AÇÃO DE IMISSÃO DE POSSE. BEM IMÓVEL.


ARREMATAÇÃO. COMPETÊNCIA. JUSTIÇA ESTADUAL.
ADQUIRIDO O IMÓVEL EM HASTA PÚBLICA, E NÃO
OBTENDO, O ARREMATANTE, POSSE SOBRE ELE,
CORRETA A PROPOSITURA DE AÇÃO DE IMISSÃO NA
POSSE COMO DIREITO A AQUISIÇÃO DA POSSE AINDA
NÃO DESFRUTADO. DIREITO A POSSE QUE EMERGE DO
TÍTULO, INDEPENDENTEMENTE DE SUA ORIGEM, E
CUJA COMPETÊNCIA É DA JUSTIÇA ESTADUAL.
APELAÇÃO PROVIDA”. (TJRS – 2ª C. Férias Cív. – Ap. nº
599445947 – Rel. Jorge Luís Dall’agnol – j. 21.12.1999)

“A ação de imissão de posse é própria àquele que detém o


domínio e pretende haver a posse dos bens adquiridos, contra o
alienante ou terceiros, que os detenham”. Nesse sentido: STJ –
3ª Turma – REsp. 404.717/MT – Rel. Min. Nancy Andrighi – j.
27.08.2002 – DJ. 30.09.2002; TAPR – 3ª C. Cív. – Ap. Cív. nº
0245364-5 – Rel. Jurandyr Souza Junior – j. 10.08.2004 – DJ.
6695.

“O remédio processual para o arrematante haver a posse do


imóvel arrematado é a ação de imissão de posse” (Alexandre de
Paula, O Processo Civil à Luz da Jurisprudência, p. 2.751).

Acentua, ainda, o prestigiado Ovídio A. Baptista da Silva:


“Daí porque, entre as duas correntes extremas – a que
admite a imissão de posse como decorrência de um simples
expediente judicial subseqüente à assinatura da carta, e a
que sugere a propositura de uma ação de reivindicação, ou
uma nova e curiosa “execução para entrega de coisa certa” –
julgamos que a admissão da ação de imissão de posse, nesse
caso, seria a única solução cabível e capaz de assegurar a
indispensável coerência com os princípios”. (A Ação de
Imissão de Posse, Saraiva, São Paulo, 1981, págs. 188/189)

Objetiva, assim, a Requerente, na qualidade de arrematante e


titular do domínio – fato suficientemente demonstrado pela carta de arrematação, a entrada na
posse direta do bem arrematado.

II.1. DA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA

Ressalte-se que a ação de imissão de posse possui natureza


petitória e não possessória, pois é manejada por aquele que detém a propriedade e busca a
posse, como confirma a jurisprudência dominante do e. STJ:

“Execução de sentença. Ação reivindicatória rotulada de


imissão de posse. Sentença determinando a entrega do bem em
trinta dias. Art. 621 do Código de Processo Civil. 1. Dúvida não
há sobre a natureza petitória da ação imissão de posse, já não
mais agasalhada na disciplina positiva brasileira. (...)” (REsp.
264.554/MG – 3ª Turma – Rel. Min. Carlos Alberto Menezes
Direito – DJ. 04.02.2002). Nesse sentido: REsp. 107.966/SP –
Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito – 3ª Turma – DJ.
04/10/1999; REsp. 111.919/BA – Rel. Min. Ruy Rosado de
Aguiar – 4ª Turma – DJ. 19/05/1997.
Não estando prevista pelo Código de Processo Civil em vigor
como sujeita a procedimento especial, aplica-se-lhe o rito comum (procedimento ordinário),
neste incluído o art. 273 daquele diploma processual, que trata da tutela antecipada.

Assim se pronunciou o e. STJ:

“Processual Civil. Recurso Especial. Ação de imissão de posse.


Acórdão. Omissão. Inexistência. Tutela antecipada.
Pressupostos. Reexame de prova. Cabimento em ação de
imissão de posse. Terceiro possuidor. Legitimidade passiva ad
causam. (...) Não prevista pelo CPC em vigor como ação sujeita
a procedimento especial, aplica-se à ação de imissão de posse,
de natureza petitória, o rito comum (procedimento ordinário);
cabível, em conseqüência, o pedido de tutela antecipada, a qual
será deferida desde que preenchidos os requisitos que lhe são
próprios. (...)” (3ª Turma – REsp. 404.717/MT – Rel. Min.
Nancy Andrighi – j. 27.08.2002 – DJ. 30.09.2002).

Neste diapasão:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE IMISSÃO DE


POSSE – EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL – INSTITUIÇÃO
ADJUDICANTE ALIENA IMÓVEL A TERCEIRO – IMISSÃO
DE POSSE DESTE – TUTELA ANTECIPADA – PRESENÇA
DOS PRESSUPOSTOS LEGAIS – NEGADO PROVIMENTO
AO RECURSO” (TAPR – 8ª C. Cív. – Agravo de instrumento nº
0228885-5 – Rel. Antenor Demeterco Junior – j. 16.09.2003 –
DJ. 6463)

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE IMISSÃO DE


POSSE C/C PERDAS E DANOS. SFH. IMÓVEL
ADJUDICADO PELO CREDOR IMOBILIÁRIO E VENDIDO À
AUTORA. POSSE. IMISSÃO CONCEDIDA EM SEDE DE
ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. INSURGÊNCIA. LEILÃO
ADMINISTRATIVO. DL 70/66. INCONSTITUCIONALIDADE.
DESACOLHIMENTO. POSIÇÃO ALINHADA EM
REMANSOSA JURISPRUDÊNCIA. TUTELA ANTECIPADA.
REQUISITOS. VEROSSIMILHANÇA. FUMAÇA DO BOM
DIREITO. CONFIGURAÇÃO. POSTULAÇÃO ASSENTADA
EM PROVA DE DOMÍNIO. AUTORA. TERCEIRO DE BOA-
FÉ. POSSE INJUSTA. CARACTERIZAÇÃO. PERIGO NA
DEMORA. CONSTATAÇÃO. POSSIBILIDADE DE
DETERIORAÇÃO AOS DIREITOS DE PROPRIEDADE.
TEMAS DIVERSOS. IMPROPRIEDADE DE ABORDE
PORQUANTO, NA DEMANDA PROPOSTA COMPORTA
DISCUTIR APENAS A PROVA DA PROPRIEDADE, A
INDIVIDUALIZAÇÃO DO IMÓVEL E A POSSE INJUSTA DO
RÉU, DO PONTO DE VISTA DOMINIAL. NADA MAIS.
DECISÃO MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO” (TAPR – 5ª
C. Cív. – Agravo de instrumento nº 0266723-4 – Rel. Edson
Vidal Pinto – DJ. 6.707 – 17.09.2004)

Nesse sentido a lição de SILVIO DE SALVO VENOSA 3, in


verbis:

“No estatuto processual vigente não foi incluída a ação, como


procedimento especial. Não se nega que o processo comum
sirva para suas finalidades, mormente o caso mais
significativo, qual seja, ação do comprador para receber a
coisa adquirida. Trata-se de ação para dar coisa certa. No
entanto, nesse caso, não existe medida liminar. Se presentes

3
Direito Civil – 4. ed. – Direitos reais – Editora Atlas S/A – São Paulo – 2004 – p. 166/167.
os requisitos, há que se recorrer às regras gerais de cautela
do processo cautelar no atual Código, que dá larga margem
protetiva, uma vez presentes o fumus boni iuris e periculum
in mora. No caso, porém, há que se obedecer aos arts. 796 ss
do CPC. Não se afasta, contudo, a possibilidade de ser
concedida a antecipação de tutela”. (destacamos)

Desta feita, presentes os requisitos do art. 273 do CPC é de se


conceder antecipadamente os efeitos da tutela pretendida em ação de imissão de posse, os
quais podem ser vislumbrados no caso sub judice. Vejamos.

Nos termos do inciso I, do artigo 273, do CPC, o juiz poderá, a


requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no
pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da
alegação e haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação.

Através de cognição sumária dos autos já é possível vislumbrar


a prova inequívoca capaz de convencer Vossa Excelência da plausibilidade do direito
invocado, onde a titularidade do domínio por parte da Requerente, materializada pela carta de
arrematação, reflete o suficiente fumus boni iuris para a concessão da tutela, aliada, ainda, à
‘posse’ injusta do Requerido.

Como visto, a Requerente adquiriu a propriedade do imóvel,


objeto da lide, em venda judicial, conforme comprova a carta de arrematação trazida aos
autos.

Assim, como efeito da arrematação perfeita e acabada,


transferiu-se o domínio do bem a Requerente arrematante, tendo esta o direito de imitir-se na
posse do bem adquirido judicialmente.

Nesse sentido:
“1. ACAO DE IMISSÃO DE POSSE - ARREMATAÇÃO. Um dos
efeitos da arrematação e o de gerar, para o arrematante, o
direito de imitir-se na posse do bem arrematado. Conforme
lições de Humberto Theodoro Junior, a arrematação "obriga o
depositário judicial ou particular, ou eventualmente o devedor,
a transferir ao arrematante a posse dos bens arrematados"
("Comentários ao Código de Processo Civil", vol. IV.Forense,
1979. pág. 485). 2. (...) 3. (...). DOUTRINA E
JURISPRUDENCIA. RECURSOS DESPROVIDOS POR
UNANIMIDADE DE VOTOS”. (TAPR – 4ª C. Cív. – Ap. Cív. nº
0063470-2 – Rel. Ulysses Lopes – j. 02.03.1994)

Tais documentos, por conseguinte, atesta inequivocamente a


propriedade da Requerente sobre o imóvel objeto da lide.

Desta forma, o fato da Requerente ter adquirido o imóvel


judicialmente, por si só, autoriza a antecipação dos efeitos da tutela em seu favor.

No caso vertente, ademais, vislumbra-se a possibilidade da


Requerente sofrer dano irreparável ou de difícil reparação (periculum in mora), mormente a
demora na imissão de posse deteriora o seu direito, pois tendo esta, na condição de terceira de
boa-fé, adquirido, sob a égide do Judiciário, o imóvel em questão, a falta de garantia de sua
posse tem que ser colimada juridicamente como conseqüência lógica de seu domínio.

Ademais, justifica-se, ainda, porque sem a posse da residência


ocupada pelo Requerido poderá resultar em danos aquele imóvel, acrescentando que a entrega
posterior acarretará onerosidade a Requerente, que se encontra impedida de usufruir o bem,
conforme é de direito, como proprietária.
A Requerente está sendo prejudicada porquanto pretende
utilizar o bem na sua atividade industrial, alugando-o ou transformando-o em escritório ou
laboratório, porém não tem possibilidade de fazê-lo, diante da ocupação indevida do
Requerido.

Ante a isso, a verossimilhança das alegações se encontra


delineada nos autos, impondo-se a concessão, de forma antecipada, do próprio provimento
jurisdicional, para o fim de imitir a Requerente na posse do imóvel ocupado pelo Requerido,
até final julgamento da lide, determinando prazo para desocupação do imóvel, sob pena de
multa diária a ser fixada por este juízo, conforme autoriza o § 3º do artigo 273 do CPC que
remete aos artigos 461-A e 461, § 4º, ambos daquele diploma legal.

III – DO PEDIDO

Diante do exposto requer a Vossa Excelência se digne em:

1. nos termos do art. 273, I, do CPC, conceder, de forma antecipada, o provimento


jurisdicional, para o fim de imitir a Requerente na posse do imóvel ocupado pelo
Requerido, até final julgamento da lide, determinando prazo para desocupação
do imóvel, sob pena de multa diária a ser fixada por este juízo, conforme autoriza
o § 3º do artigo 273 do CPC que remete aos artigos 461-A e 461, § 4º, ambos
daquele diploma legal;

2. julgar procedente a presente ação, para o fim de imitir a Requerente na posse da


área ocupada, condenando o Requerido ao pagamento das custas processuais,
honorários advocatícios e demais cominações legais.

IV – DOS REQUERIMENTOS
Isto posto, requer, a citação do Requerido, no endereço acima
consignado, para, querendo, contestar a presente ação, sob pena de revelia e confissão.

V – DAS PROVAS

Prova o alegado por todo o gênero de provas em direito


admitidas, em especial pelo depoimento pessoal do Requerido, sob pena de confissão, pelos
documentos acostados e, se necessário, a juntada de novos, pela oitiva de testemunhas e pela
prova pericial.

VI – DO VALOR DA CAUSA

Atribui à causa o valor de

Nestes termos,
Pede deferimento.

Mandaguari, 28 de outubro de 2004.

ANACLETO GIRALDELI FILHO JOSÉ MARCOS CARRASCO


O.A.B./PR. 15.502 ADVOGADO OAB/PR. 16.909 ADVOGADO

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