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Com salas de cinemas lotadas e sessões extras marcadas, o XIX Panorama Coisa de Cinema

segue pelo fim de semana no Cine Glauber Rocha atraindo moradores e turistas na capital
baiana. Com mais de trinta metragens, entre eles curtas e longas, exibidos no sábado e
domingo, o festival reuniu realizadores e público em uma grande experiência coletiva
audiovisual.

Para um evento que já contou com uma abertura cheia, esse clima se mantém nos dias
posteriores, com as salas das competitivas tendo entradas esgotadas com um dia de
antecedência. Por conta da alta demanda, alguns dos longas exibidos estão tendo sessões
extras anunciadas, com seus horários novos anunciados no instagram do festival.

Trazer esse público empenhado é uma vitória não apenas para o cinema brasileiro, que têm
esse espaço popular para poder se difundir, mas também para os cineastas e realizadores
dessas obras poderem ter esse espaço de contato entre produtores e público.

“Admiro muito o Panorama porque é um evento super importante, é o maior festival que a
gente tem aqui em Salvador. É o mais antigo, o maior, internacional, então para nós que
somos diretores, cinéfilos e público e produção, a gente tem um espaço incrível pra poder
conhecer pessoas, ver o que está sendo produzido, tanto no mundo como no Brasil e na
Bahia, principalmente”, conta Vilma Carla Martins, diretora do curta experimental Lamento
Às Águas.

“É um espaço onde a gente pode ser conhecido, conhecer trabalhos e conhecer pessoas. Eu
acho muito bom que o panorama tenha essa abertura para os filmes baianos, porque é
necessário que a gente também veja os filmes que estão sendo produzidos aqui, seja
experimentais, documentários, ficções de gênero, o que isso for”, complementa.

Um festival para todos os gostos

Com suas três competições, além da programação extra, o Panorama segue com sua
programação muito variada, com diversos gêneros tendo espaço nos telões para a plateia.
Além dos dramas e dos documentários, gêneros poucos divulgados como o terror e a
animação também ganham destaque no festival, como o caso de Camaleoa, curta de terror
que fez enorme sucesso no festival.

A abertura do festival para esses gêneros que buscam maior espaço nos telões apresenta uma
oportunidade não apenas de divulgar novos nomes no meio, mas de também mudar a
percepção que esses gêneros carregam.

“Eu me sinto realmente muito honrado, assim, e muito sortudo também de poder desconstruir
um pouco essa ideia de que terror vem desse lugar do não elitizado, do não cult, né? A gente
consegue trazer o terror como uma forma de fazer cinema, como um gênero fantástico, para
falar sobre problemas sociais, para falar sobre inúmeras denúncias à nossa política, à nossa
sociedade, e então Camaleoa vem muito desse lugar também”, pontua Eduardo Tosta, diretor
de ‘Camaleoa’.

Foi um curta que eu comecei a escrever em 2020, quando a gente estava num período muito
complexo de pandemia e de confinamento, e ele só saiu alguns anos depois, e é muito incrível
quando eu assisto hoje, ele tem outra conotação, e foi um processo muito incrível, assim,
estar perto do gênero, poder desconstruir. Gravar de um gênero que você consome muito e de
repente você tá fazendo filme de terror pra poder as pessoas assistirem”, celebra Tosta.

A realidade em filme

Além dessa importante presença desses gêneros no festival, o Panorama se destaca nesse ano
pela sua presença massiva de documentários. Desde os mais sociais até os mais íntimos, os
espectadores são recebidos com esses filmes que viraram as câmeras para as milhares de
histórias que acontecem todos os dias. Um dos escolhidos para a mostra é ‘Comigo Num Se
Pode’, da piauiense Tássia Araújo, que traz uma mescla do social com o íntimo em seu
documentário sobre a cena LGBTQIA+ de Teresina, capital do Piauí, dos anos 80 até os anos
2000, trazendo relatos de resistência, triunfo e memória.

Nas sessões de ‘Comigo Num se Pode’, e em outros pontos da programação, além da


exibição, os espectadores são convidados para sessões de debates pós-filme. Nelas, não
apenas se discutem o que acabaram de assistir, mas compartilham suas experiências com o
audiovisual as diferentes formas que a paixão pelo cinema se manifesta, o que Tássia enfatiza
como importante na sua experiência com o festival.

“É muito bom poder ouvir essas pessoas e como as trajetórias assim são meio que similares,
cada um tem sua paixão pelo cinema de formas diferentes, de formas diversas e até iguais
também que é isso que nos move, que nos une aqui no festival, que é esse lugar amplo de
cultura”, comemora Araújo. “Fora a sala de cinema tem outros espaços aqui também no
cinema, no complexo desse cinema Glauber Rocha que é muito bom estar aqui, presenciar
tudo isso, o movimento das pessoas assistindo filmes, na livraria, um movimento de cultura
que pulsa, então isso é muito bom, vou voltar para Terezinha, para minha cidade onde eu
moro e onde eu nasci com muita coisa boa na bagagem”.

O cinema acessível

Por fim, a palavra que tem definido essa edição do Panorama é ‘Acessibilidade’. Este ano, o
festival também trouxe sua boa dose de ações para mostrar que cinema é um espaço para
todos, independente de origem ou questões físicas ou sociais.

Com destaques cinematográficos para alguns projetos que abordam o tema, como o
documentário Assexybilidade, de Daniel Gonçalves e algumas sessões com audiodescrição,
legendagem descritiva e até mesmo libras para os espectadores.
Além da acessibilidade para pessoas com deficiências físicas, o Panorama também se dedica
nela para populações vulneráveis. Na terça-feira (19) o festival abrirá suas portas para uma
parceria com as organizações Corra pro Abraço e do Consultório da Rua para trazer 80
pessoas em situação de rua que são assistidas para uma exibição de Café, Pepi e Limão, que
aborda o mesmo tema.

“O Panorama demonstrou que isso é possível, de forma acolhedora, de forma responsável,


inclusive se tornando uma referência para outros festivais”, declara o produtor de
mobilização social Tiago Zanette.

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