Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
I – Introdução
II – O Horror
- A concepção original do horror está ligada a um estado fisiológico (susto, pavor, repulsa,
aversão)
- O medo não é apenas uma reação individual, existem medos sociais “(...) também as
coletividades e as próprias civilizações estão comprometidas num diálogo permanente com o
medo”.
- Medo pode ser causa de involução dos indivíduos; aumenta risco de desagregação;
impressão de reconforto dada pelo mundo desaparece. No horror, o medo se alia à aversão.
- Aversão está relacionada ao nojo, reação ao impuro, podre, abjeto, sujo. Para Mary Douglas
isso está aliado a regiões e lócus fronteiriços, que colocam em “risco” a ordem social. fezes,
sangue, suor, vômito, tufos de cabelo, pedaços de carne, etc. aparecem de modo ambíguo
nas categorias eu/não eu; morto/vivo; dentro/fora etc Gerard Lenne tem proposta
semelhante morto/vivo, bestial/racional (pensei em o animal cordial!), humano/mecânico,
natural/artificial.
- Para Carrol, muitas vezes, a essas figuras “impuras” se atribui poder. daí a equação:
1. O Horror Artístico
2) o nível sensorial está ligado à capacidade da obra de provocar reações físicas e sensoriais
específicas Linda Williams – espetáculo do corpo sujeito a emoções e sensações intensas
marcado por inarticulados gemidos, gritos e lágrimas.
Isso tem uma relação com o baixo status que se atribuem a esses filmes que em teoria
“apelam” a uma camada mto sensorial extrema, como o pornô, por exemplo.
- “As histórias de horror também podem ser simbólicas no sentido de oferecerem uma
determinada compreensão do contexto social e político da sociedade racionalista e
capitalista na qual surgiram como gênero específico”
Junto com esses, as “personificações” do maior medo – A morte deram origem a dois
importantes gêneros que surgiram simultaneamente no teatro e na poesia no século XIII: A
dança da morte (ou Dança macabra) e A morte e a donzela; representações da morte em
Bosch.
Barroco (final do século XVI – meados do século XVIII):
No entanto, o que se chama de gênero horror tem origem mais recente, ligada à popularização
do romance na Europa a partir do final do séc XVIII. narrativas com códigos reconhecíveis
(muitos trazidos das experiências medievais). Divisão cronológica: (1) o horror gótico do séc
XVII, (2) o horror romântico do século XIX e (3) o horror moderno do século XX.
- Discurso literário que teve início com os romancistas ingleses na segunda metade do século
XVIII. habita as fissuras da Razão; nos transporta para além das fronteiras do conhecimento
O lento processo incorporou alguns monstros derivados do folclore e dos relatos orais
europeus – vampiros do leste; lobisomens, bruxas.
- Além desses monstros, emergia também no romantismo, com maior nitidez, a figura do
indivíduo cujo inconsciente se projeta pra fora como espectro, ou algo análogo, que o
assombra e o converte em seu joguete. Essa figura pode assumir diversas formas, como o
sósia/duplo/doppleganger ou a do pacto com forças anti-humanas e satânicas, personalizadas
ou não no Diabo.
- Dois escritores mais famosos do séc XIX: o alemão E.T.A Hoffman e o inglês Edgar Allan Poe.
- As obras de Hoffman faziam a súmula do pendor romântico pela efusão das paixões
violentas, a visão dissonante do mundo, ímpeto irracional e o lado noturno e tétrico da vida.
- Poe foi uma espécie de herói do romantismo tardio (existência perturbada e morte precoce)
temática fantástica e macabra; exploração da individualidade e dos sentimentos violentos,
interesse pelo onírico e pelo subconsciente, amor idealizado e morte.
- “Além de lidar com os temas do horror com enorme talento, Poe chamaria a atenção dos
artistas e estetas do final do século XIX por superar, em grande parte, as raízes góticas do
horror e do fantástico, retirando-os do passado medieval para trazê-los para o dia a dia do
mundo moderno, e fazendo com que homens comuns e os animais selvagens pudessem ser
tão brutais, misteriosos e malévolos quanto os vilões amaldiçoados, os castelos mal
assombrados e os bosques apavorantes da ficção gótica.”
- Na pintura, ímpetos fantásticos e românticos em Goya (ex; série de pinturas negras)
- Em meados do século XIX, o Romantismo começava a ser substituído por movimentos menos
irracionalistas como o Realismo e Naturalismo. deram novos elementos à ficção de horror
com maior apelo ao grotesco e ambientação das histórias no cotidiano. Substituiam-se, em
parte, os vilões medievais e homens lendários por homens comuns. Essa tendência cresceu
ainda mais com o aumento da violência nas cidades (crimes como de Jack, o estripador, na
Londres vitoriana)
- Final do séc XIX – Simbolistas horror como um dos elementos centrais da pauta – o
movimento se opunha a qualquer restrição estética, moral ou religiosa na arte que impedisse a
experiência do “horror e do êxtase da vida”. (ex: O retrato de dorian gray (1890) de oscar
wilde)
- Final do séc XIX – ficção de horror já era um gênero literário autônomo entre vários braços da
indústria cultural; nascimento do cinema
- Início séc XX – mudanças profundas no espaço urbano: padronização dos espaços privados;
massificações dos padrões culturais reflexo no imaginário social e artístico No horror:
massificação do horror e conceitos além do “sobrenatural” com as guerras, eventos de
destruição em massa e manifestação de barbáries sociais, a realidade passa a incluir a violência
inesperada, o estranhamento do outro, pressão pelo consumismo, transformando a vida diária
num potencial pesadelo.
Tendências:
O horror da ficção científica teve seu início com Mary Sheley e depois criou vida
própria pelas mãos de autores como Júlio Verne. A ficção científica criou vida própria,
aliando-se ocasionalmente ao horror. aspecto monstruoso do futuro, ameaça com
perversões da natureza. Ex. H.G. Wells (Guerra dos mundos, A Ilha do Dr. Moreau).
Essas histórias traziam a tona novas imaginários
O horror psicológico deriva das novas ciências da mente e cria um novo tipo de
monstro no contexto da convivência nas cidades: o psicopata assassino. Esse
fenômeno ganhou ainda mais força com as histórias reais de assassinos como Ted
Bundy e Edward Gein. Best Seller O Silêncio dos Inocentes (1988) de Tomas Harris e
Psycho (1958) de Robert Bloch) que deu origem a vários filmes de horror como Psicose
(1960) e O massacre da serra elétrica (1972). O horror escatológico também parece
estar ligado à violência anônima e destrinchada das cidades.
O cinema foi, possivelmente, o principal veículo para a ficção de horror no século XX,
absorvendo influências da literatura, do teatro, dos espetáculos urbanos, das histórias em
quadrinhos, do jornalismo etc.
- Embora o filme de horror tenha sido um dos mais populares de Hollywood desde os anos
1930, foi ao mesmo tempo um dos mais desqualificados.
- Muitos pesquisadores da área acreditam que o gênero horror deve ser definido “(...) a partir
de um imaginário em grande parte construído por uma audiência e por uma indústria que
buscam constantemente a novidade baseada no choque e na surpresa.”
- Se deve levar em conta não só os textos produzidos, mas também os seus consumidores e
produtores.
- 1920 – O gabinete do Dr. Caligari, Robert Wiene sombrio filme de mistério sobre
um sonâmbulo assassino controlado por um cientista louco.
- 1926 – The cat and the canary, Paul Leni (importado da Alemanha) sobre casa mal-
assombrada
- 1929 – The last Warning, Paul Leni sobre uma série de assassinatos num teatro
O horror B
- Características Cinema B: baixo custo de produção, passavam nos circuitos periféricos das
cidades antes dos lançamentos na sessão. Serviam como uma espécie de laboratório para
novos cineastas
- Os dois filmes deram origem ao “Universal Gothic” cinema de horror baseado nos
monstros clássicos da literatura do século XIX.
- Nos anos 1940 Universal abandonava gradualmente o cinema de horror, R.K.O o regatou
para escapar da falência.
- Ainda nos anos 1940 dois acontecimentos históricos marcam o cinema de horror: as bombas
de Hiroshima e Nagasaki em 1945 e o primeiro relato de aparecimento de um disco voador em
1947. Junto com a Guerra Fria, esses fatos estiveram presentes nas próximas produções que
uniam insistentemente o horror à ficção científica.
Em todos esses filmes: postura militarista anti-comunista por um lado e crítica aos
valores tradicionais masculinos, por outro. caráter relativamente transgressor que
os tornou objeto de culto até hj, influenciando o séc.XXI
- Mas em 1955, quando o horro parecia ter trocado o sobre natural pela ficção-científica, a
pequena companhia inglesa – Hammer Films – comprou alguns direitos da Universal.
- 1958 – Dracula
- 1959 – A múmia
- Dirigidos por Terence Fischer e protagonizados por Christopher Lee e Peter Cushing
O filme é considerado um ponto de virada – o filme que relacionou o horror com a psique
moderna, o mundo moderno, os relacionamentos modernos e a família (disfuncional)
moderna. inspirou os filmes de slasher, stalker e serial-killer nos anos 70, 80, 90.
- 1961 – O que terá acontecido a Baby Jane?, Robert Aldrich consagrado diretor de
filmes B e experimentais explora a loucura das famílias disfuncionais uma ex-
menina prodígio tortura até a morte a irmã aleijada.
- Ainda em 1963, o realizador e produtor Herschel Gordon Lewis acrescentaria a esses filmes
cenas de violência cada vez mais espetaculares e explícitas.
- Com essas produções, Lewis inaugurou os subgêneros gore (filmes que privilegiam a violência
extrema, geralmente dirigida à sexualidade) e slasher (tipo de filme muito barato, em geral
produzido de forma independente e estrelado por atores jovens e desconhecidos, que narra
uma série de assassinatos espetaculares em cenários isolados e, de preferência, interioranos).
No mesmo período, cineastas de outros países estavam fazendo coisas semelhantes:
- 1964 – À meia noite levarei sua alma, José Mojica Marins (Brasil)
- No final dos anos 1960 George A. Romero inaugurou no EUA seu primeiro longa
independente que popularizou no mundo o subgênero “filme de zumbi”.
- cult movie – o cinema de culto se dava em sessões públicas e periódicas dos mesmos filmes,
às quais a audiência comparecia regularmente e criava uma série de rituais para o evento; a
maioria tinha pendor pelo grotesco, violento e bizarro; circuito alternativo de cinemas, drive-
ins, principalmente de madrugada. envolve estratégia de leitura que busca o sublime no
ruim, no desviante e não na familiaridade estética da aberração e da variação estilística.
- Época do sexploitation (filmes que envolviam sexo e violência), blaxploitation (filmes
violentos interpretados por atores negros interpretando os heróis), nunxploitation (filmes
sobre sadismo e violência em conventos), WIP ou woman in prision (filmes sobre prisões
femininas), shockumentaries (documentários com cenas de mortes reais ou forjadas ao redor
do mundo), os filmes de zumbis, filmes de terror realizados em países de terceiro mundo,
filmes sobre canibalismo, etc.
- Com o advento do vídeo cassete nos anos 1980, as sessões da meia-noite, os drive-ins e os
“cinemas poeira” entraram em decadência o fenômeno cult se tornou mais “doméstico” e
disperso.
Horror Classe A
- Enquanto, por um lado, os filmes de culto e de exploração eram ritos de passagem para
adolescentes norte-americanos, por outro, os grandes estúdios perceberam que aquele era
um filão rentável e produziram centenas de filmes que mobilizaram plateias do mundo inteiro.
- Nos anos 2000, os monstros dos anos 1980 começaram a ser colocados juntos em vários
filmes:
- Filão espírita:
A invasão oriental
- Entrada dos filmes de terror orientais no cinema ocidental relevância da internet nesse
processo, que permitiu acesso a filmes de todo o planeta
- Abertura para um mercado de filmes de terror japoneses bem mais “radicais” (como os do
cultuado Takashi Miike) e para a entrada de filmes de terror de outros países orientais:
- Poeta árcade mineiro Silva Alvarenga primeiro a tratar do tema (metade do século XVIII
até começo do XIX.
- Em suma, o século XIX para literatura de horror brasileira sem nenhum grande texto do
gênero, com alusões e promessas que poderiam ser reaproveitadas no século seguinte.
- 1944 – Nelson Rodrigues folhetim meu destino é pecar sucesso que teve versões no
rádio, cinema e TV.
- diferentemente do que se deu na alta literatura, as histórias de horror eram mto populares
no Brásil do séc XX na literatura pulp. se associou à indústria dos quadrinhos e à pornografia
- Escritor prolífico Rubens Francisco Lucheti publicou diversos contos, antologia, livros e
colaborou com o Mojica e Ivan Cardoso. Roteirizou alguns gibis e graphic novels.
- outro notório escritor de pulp fiction José Carlos Ryoki de Alpoim Inoue publicou mais
de mil livros de ficção barata
- década de 1970 diversos roteiristas de cinema brasileiros que trabalharam na Boca do Lixo
(como Luis Castelini) também fizeram incursões pela literatura de horror barata, adaptando
roteiros de seus filmes para livros feitos a toque de caixa, em papel jornal e vendidos em
bancas de revistas.
- 1950 pós-guerra EUA – Vault of Horror (EC Comics) nova era no mercado de
quadrinhos muitas revistas dedicadas exclusivamente ao horror
Macartismo barra mta publicações dos EUA começa a se incentivar a produção nacional
de quadrinhos no Brasil
- Início anos 1970 decreto-lei n°1070 instituía censura prévia a publicações que atentavam
contra a “moral e os bons costumes”. as cerca de 50 revistas dedicadas ao tema sumiram
do mercado.
- Final anos 1970 HQs ressurgiram com força duas grandes revistas: Spektro, lançou
revival das histórias nacionais em cenário brasileiro, Kripta, laçava histórias estrangeiras e
nacionais com destaque para algumas envolvendo lendas brasileiras.
- Nos anos seguintes, os gibis de horror passariam a ter uma vida um pouco mais estável,
multiplicando-se nas bancas e revistas. Destaque para Contos Bizarros (2003) que contava
histórias reais de serial killers e No Reino do Terror (2001), que apresenta dez histórias com
roteiros de Lucchetti com todos os desenhistas com quem trabalhou.
1967 – 1968 – Além, Muito Além do Além - Roteirizado por Lucchetti; Apresentado e dirigido
por Mojica (estava em seu auge), na TV Bandeirantes. contava histórias sobrenaturais
supostamente reais “reconstituídas”. Fez sucesso estrondoso
1968 – Tv Tupi contrata Mojica e sua equipe pelo dobro do salário para fazerem O Estranho
Mundo de Zé do Caixão, dirigido por Antonio Abujamra. tom surrealista programa foi um
fracasso.
A partir dos anos 1970 hegemonia da Rede Globo incluía histórias de horror na
teledramaturgia e em alguns programas jornalísticos
- Anos 2000 Linha Direta – Mistérios abordava histórias reais de crimes ou acidentes em
torno dos quais houve suspeita de causas sobrenaturais; Linha Direta – Justiça reconstituía
crimes famosos, alguns dos quais nunca solucionados.
- Novelas – elementos de horror de forma marginal, principalmente com abordagens “realista-
maravilhosa” e “espíritas”.
Destaques:
- Vamp (1991/1992), escrita por Antonio Calmon conta a história de uma cantora
seduzida por um Conde e condenada a espalhar sua praga vampírica na cidade, criando uma
“guerra” entre humanos e vampiros. fez muito sucesso
Rede Record:
1964 – À meia noite levarei sua alma, José Mojica Marins – Primeiro longa brasileiro a assumir-
se como um filme “de horror”.
Temática fantástica:
1925 – História de uma Alma, Pedro Vergueiro – biografia de Santa Teresa de Lisieux
1908 – A mala sinistra famoso crime em que um guarda-livros esquarteja seu patrão
e tenta despachar seu cadáver por navio no porto de Santos.
- década de 1920 – chegada do cinema falado; exigia adaptações caras e complicadas nas salas
de exibição e nos equipamentos de captação. solução: comédia musical, estilo importado
dos EUA comédias musicais tornaram-se a marca principal do cinema de ficção brasileiro
nessa época.
1937 – O jovem tataravô, Luis “Lulu” Barros um “novo rico” carioca promove um
ritual egípcio no qual ressucita um tataravô falecido que, após causar uma série de
problemas, é enviado de volta para o além através de um ritual de macumba.
1946 – Fantasma por acaso, Moacyr Fenelon estrelada por Oscarito (então, um
astro em ascensão) conta a história de um zelador recém-falecido obrigado a
retornar ao mundo dos vivos para auxiliar o filho do ex-patrão.
1952 – Os três vagabundos, José Carlos Burle baseado nos sucessos B dos EUA de
ficção científica comédia com elementos de horror e ficção científica (casa mal-
assombrada, cientista maluco, troca de cérebros) estrelada por Oscarito, Grande
Othelo e José Lewgoy.
- Além das comédias musicais e da consagração dos estúdios cariocas, os anos 1950 viram
crescer no Brasil, especialmente em São Paulo, o sonho do cinema industrial e uma produção
de linhagem hollywoodiana cinebiografias, westerns, filmes policiais, melodramas femininos
etc.
companhias cinematográficas do período: Vera Cruz (fund. Por Franco Zampari e Francisco
Matarazzo Sobrinho em 1949); Maristela (fund. Pela família Audrá em 1950); Multifilmes
(fund. Por Anthony Assumpção em 1952). Vera Cruz era símbolo da prosperidade italiana na
capital paulista.
- Maristela
- 1952 – Meu destino é pecar, Manuel Peluffo melodrama com ares góticos
- 1956 – Leonora dos Sete Mares, Carlos Hugo Christensen mistério envolvendo
mulher morta.
- Multifilmes
- 1959 – Ravina, Rubem Biáfora – uma moça de família rica e decadente acredita ser
portadora de uma maldição
2.3.1.4 Obscuridades
- 1951 – Alameda da Saudade 113, Carlos Ortiz baseado numa lenda urbana em que
um rapaz se apaixona por uma moça que já esta morta e o leva a cometer suicídio.
- 1952 – Noivas do Mal , George Dusek sobre um serial killer que estrangula jovens
moças com meias de nylon.
No final da década de 1950 o Brasil foi cenário de dois filmes dos EUA de horror
1960 – Mistério da Ilha de Vênus, Douglas Fowley trata de uma perigosa seita de
vudu que envolvia os nativos de uma fictícia ilha.
2.3.2 O auge do horror
- Entre 1963 e 1983 – primeira época “de ouro” do cinema nacional florescimento de uma
extensa e variada cinematografia de horror propostas marcadamente autorais e outras
derivadas do filme erótico explorado à exaustão por produtores cariocas e paulistas.
- Noção de cinema de autor construída nos anos 1950 surgimento de um novo grupo de
jovens cineastas comprometidos com a ideia de cinema autoral
1964 – À meia noite levarei sua alma, José Mojica grande sucesso de bilheteria,
chamou a atenção de Glauber Rocha e Rogério Sganzerla. caráter inventivo e experimental;
contato iconoclasta com a cultura popular.
- Na boca do lixo (quadrilátero de ruas do bairro da Luz, no centro de São Paulo), região sede
de mais de uma dezena de produtoras de filmes entre os anos 1960 e 1980, foram produzidos
diversos filmes de horror eróticos. A região atraía produtoras desde os anos 1920 pela
proximidade do trem e a partir dos anos 1950 foi transformada em zona de meretrício e tráfico
de drogas.
- A partir dos anos 1960 os filmes ali produzidos ficaram conhecidos como “pornochanchadas
paulistas” filmes eróticos populares cujos roteiros eram baseados nos gêneros
cinematográficos clássicos, dentre os quais o horror era um dos mais frequentes.
1974 – O Exorcismo Negro, dirigido e estrelado por Mojica – Produzido por Anibal
Massaini na esteira de O Exorcista.
Filmes paródicos:
No mesmo período, muitos filmes que exploram o horror pela via da violência irracional
- Destaque para Walter Hugo Khouri, que fazia incursões nem particulares no gênero.
1978 – As filhas do fogo
- No RJ, os filmes de horror começaram a dar seus primeiros passos ligados à comédia
- Adolpho Chadler
- Na pornochanchada carioca
- Advento do videocassete e filmes pornográficos hard core importados dos EUA mudam
mercado consumidor de cinema no Brasil
- Maior liberdade com a abertura política; crescimento do filão juvenil com a explosão da
música pop; surgimento de uma importante escola de curta-metragens, explosão da lucrativa
indústria pornográfica. No entanto, para o cinema de horror foi uma época pouco prolífica.
- Filmes produzidos de forma dispersa, sem buscar formar um filão os mais bem-sucedidos
foram os do carioca Ivan Cardoso, que já havia feito alguns curtas nos anos 1970
Fez três comédias de horror; grande apelo de pública e crítica; participou de festivais
internacionais nessas comédias repletas de música pop e de mulheres seminuas,
misturavam-se quiproquós chanchadescos, trechos de antigos filmes de monstros,
histórias em quadrinhos e novelas radiofônicas mosaico lúdico conhecido como
terrir.
- Começo da década de 1990, Collor extinguiu os principais órgãos estatais ligados ao cinema
nacional: Embrafilme, Concine e Fundação do cinema brasileiro. grande crise do cinema
brasileiro produção de longas despenca, inviabilização de festivais tradicionais como o de
Gramado e o de Brasília
- Com o impeachment de Collor, seu sucessor, Itamar Franco, assina em 1993 a Lei do
Audiovisual trazia mecanismos capazes de financiar a produção de longas por meio de
incentivos fiscais. esse processo ficou conhecido como Retomada do Cinema Brasileiro.
- Tematização dos problemas sociais brasileiros sob um viés menos engajado politicamente
1999 – Gêmeas, Andrucha estrelado por Fernanda Torres, conta a história de duas
gêmeas obcecadas pelo mesmo homem e capazes de crimes horríveis para conquista-
lo.
Corrente de filmes sobre serial-killers, com recorte ligado ao gênero policial tratam com
humor, mas com uma dose considerável de violência, o assassinato de mulheres.
Filmes de lobisomem
2005 – O coronel e o lobisomem, Maurício Farias – Estrelado por Diogo Villela; tom
alegórico
2005 – Um lobisomem na Amazônia, Ivan Cardoso – Sua primeira ficção desde os anos
1990; terrir
O longa de Mojica
2003 – Amor só de Mãe, Dennison Ramalho (gaúcho) o curta teve muita visibilidade
- Divisão geográfica/cartográfica
Horror de autor: território que pertence a uma contribuição autoral para o cinema
brasileiro de horror, inaugurando tendências e dando ao gênero um tratamento
deliberadamente pessoal e distintivo. Trabalho de Mojica.
Horror clássico: abrange diversos títulos realizados por diferentes cineastas em várias
épocas, de acordo com parâmetros tradicionais de histórias de horror, concentrados
mais na criação de atmosferas ambíguas do que na exposição detalhada e explícita
dos fatos horroríficos. Teve início nos filmes góticos femininos dos estúdios paulistas
nos anos 1950, foi retomada de maneira autoconsciente por importantes autores do
cinema brasileiro nos anos 1970 e retornou nos anos 1980 em filmes erótico-
fantásticos.
Horror de exploração: filmes de horror brasileiros que adotaram uma estética mais
chocante e mesmo escandalosa, articulando horror com sexploitation e
teensploitation. Ligados em sua maioria ao ciclo da pornochanchada, mas também
presentes nos anos 50 e no cinema da retomada dialogam com uma tendência
verificada em vários países do mundo com abordagens sensacionalistas, títulos
sugestivos de temas polêmicos e extremamente violentos.
3. Horror de Autor
O choque fascinante do primitivo encontra o cinema na era da viagem à Lua. (...) A descoberta de uma
linguagem secreta, transfigurante, dos rituais de uma seita de pobres iniciados que lutam para sobreviver
metendo a cara numa tela. (...) Vinte e cinco ou mais longas-metragens feitos com técnica alternativa fazem
uma surpreendente cultura de pobre para pobre. Thanatos e Eros em uma criação exacerbada. É o cinema
de terror brasileiro, um espantoso kitsch. (PIGNATARI, em texto feito para o documentário O UNIVERSO DE
JOSE MOJICA MATINS, 1978, de Ivan Cardoso).
Desmedida, horror e brutalidade são traços distintivos das rústicas fábulas cinematográficas de José Mojica
Marins, as quais abordam temas como o sobrenatural, a violência e as pulsões sexuais. Autodidata, Mojica
filma de maneira intuitiva, sem esconder as deficiências técnicas e a falta de recursos. Sua mise-en-scène
combina pretensão, grandiloqüência, precariedade material e inépcia, o que torna seu “estilo” único e
atraente. Os transbordamentos estão por todo lado: nos cenários grosseiros; na fotografia suja; nos diálogos
inverossímeis que mesclam uma retórica ao mesmo tempo pomposa e simplória; no
amadorismo dos atores, que adotam um tom declamatório, como se recitassem suas falas. A falta de
comedimento prossegue nas situações excessivas propostas pelos filmes, nos quais canibalismo, mutilações,
blasfêmias e sadismo são moeda corrente. Visto sob esse prisma, o cinema de Mojica parece algo
totalmente artificial. No entanto, ele mantém uma relação estreita com o real, pois os excessos,
apresentados muitas vezes com uma ingenuidade desconcertante, surgem com freqüência em situações
caracterizadas por pretensões de verossimilhança. (...) Os atores parecem representar a si mesmos,
sensação reforçada pela espontaneidade do sotaque e pelos erros de sintaxe. A coexistência paradoxal de
artificial e natural, convenção e autenticidade, imaginação e realidade, permite dois modos de expressão. O
primeiro é o choque, caro aos surrealistas, em que a anormalidade, o excesso, o sonho, o irracional ou o
sobrenatural surgem em um contexto estável e corriqueiro. (...) O segundo modo de expressão é a
comicidade involuntária. (ABAGIBTI, Um arranjo prosaico e extravagante, 2007)
Cinema de autor conceito derivado da literatura e desenvolvido pelos críticos da revista francesa
Cahiers du Cinema nos anos 1950 modo de fazer e “ler” filmes a partir da noção de uma “escrita”
individual cujo domínio pertence ao diretor recorrência de certos temas; configurações iconográficas.
- Primeiro no país a fazer filmes auto-intitulados “de horror” reconhecido como tal pela crítica e pelo
público; influencio próximas gerações de cineastas.
- Criou um personagem muito original, quase sem paralelo no repertório canônico dos monstros do
horror: o Zé do Caixão, coveiro psicopata. postura aristocrática, se veste como um exu, (capa e
cartola), comporta-se como um bandido de western e se diverte de forma sádica torturando pessoas
numa cidade do interior subverte a ordem vigente e ataca superstições, religiões e a mediocridade.
(Agrega elementos muito distintos, alguns notadamente brasileiros). Embora tenha aparecido em
poucos filmes, tornou-se uma figura midiática muito popular.
- Entre os mestres do horror, ele é um dos únicos que se apresenta nas telas interpretando o próprio
monstro, produzindo deliberadamente tanto em seus filmes como em sua vida uma confusão entre
autor e personagem
- Para contar as histórias do coveiro, Mojica sobrepõe de maneira muito particular, os elementos
fantásticos aos da sociopatia Zé do Caixão é um ente mortal mas é visto como poderoso diante
daqueles com quem contracena; as figuras sobrenaturais entram em cena para punir o próprio Zé do
Caixão interferência moralizante e sobrenatural proveniente dos melodramas religiosos (cultura
brasileira sobrenatural não é um elemento desviante) Inventou um personagem que não crê no
sobrenatural e que, com isso, pode se espantar e apavorar com sua interferência.
- Ideia de “justiça divina” e resposta sobrenatural para os problemas do mundo dos homens presente
na filmografia do autor