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As mentiras da morte de Judas

Então Judas, que havia traído Jesus, vendo que este tinha sido condenado,
sentiu remorso e devolveu as 30 moedas de prata aos principais sacerdotes
e aos anciãos, dizendo: “Pequei quando traí sangue inocente.” Eles
disseram: “O que nós temos a ver com isso? Isso é com você!” De modo
que ele lançou as moedas de prata dentro do templo e saiu. Então foi se
enforcar. Mas os principais sacerdotes pegaram as moedas de prata e
disseram: “Não é permitido colocá-las no tesouro sagrado, porque são o
preço de sangue.” Depois de consultarem uns aos outros, usaram o
dinheiro para comprar o campo do oleiro, como lugar para sepultar
estranhos. Por isso, aquele campo é chamado de Campo de Sangue até o
dia de hoje. Mateus 27:3-8

Naqueles dias, Pedro se levantou no meio dos irmãos (os presentes ali
somavam cerca de 120 pessoas), e disse: “Homens, irmãos, era necessário
que se cumprisse o que o espírito santo, por meio de Davi, disse
profeticamente nas Escrituras a respeito de Judas, que se tornou guia dos
que prenderam Jesus. Pois ele foi contado entre nós e foi escolhido para
participar neste ministério. (Esse homem comprou um campo com o
salário da injustiça e, ao cair de cabeça, seu corpo rebentou e todas as suas
vísceras se derramaram. Todos os habitantes de Jerusalém ficaram sabendo
disso, de modo que aquele campo foi chamado na língua deles de
Acéldama, isto é, Campo de Sangue.). Atos 1:16-19

Acima vemos duas passagens conflitantes do Novo Testamento, ou seja,


contraditórias. Entretanto, os crentes como não aceitam dizer que na Bíblia
há contradições e erros, tentam conciliar ambas as narrativas dizendo que
foram os sacerdotes, de fato, que compraram o campo, mas como o
dinheiro havia sido de Judas, então indiretamente teria comprado o campo.
Em Atos, Lucas teria parafraseado Mateus e disse de uma outra forma que
os sacerdotes compraram o terreno. Em outras palavras, os crentes dizem
que Lucas usou de uma metonímia, ou melhor, usou uma figura de
linguagem.
Vejam duas explicações dadas pelos crentes para essas passagens:

“O nome “Campo de Sangue”, em aramaico Acéldama, foi aplicado pelos


judeus ao lote de terreno comprado com “o salário da injustiça” pago a
Judas Iscariotes por ter traído Cristo Jesus. (Atos 1:18,19) Pelo menos
desde o quarto século E.C. tem sido identificado com Hakk-ed-Dumm, do
lado meridional do Vale de Hinom, na “Colina do Mau Conselho”, que é
um terreno plano a pouca distância colina acima. Conforme salientam as
Notas de Barnes Sobre o Novo Testamento (em inglês), a declaração de
Atos 1:18, de que Judas “comprou um campo”, não significa que ele
fizesse o contrato e o pagamento, mas, antes, que ele proveu os meios ou
foi a causa da compra do campo. O registro de Mateus 27:3-10 mostra que
os sacerdotes usaram as trinta moedas de prata lançadas no templo por
Judas para fazer a compra, e que este “Campo de Sangue” havia sido antes
disso o campo dum oleiro, sendo comprado por eles “para enterrar os
estranhos”. O local sugerido tem sido usado como cemitério desde os
primeiros séculos. “ — Tirado de Ajuda ao Entendimento da Bíblia, em
inglês, p. 48, das Testemunhas de jeová

“Como Judas pode se enforcar e “precipitar-se” de modo que sua barriga


se abra e seus intestinos se espalhem pelo chão? Como conciliar essas
diferentes narrativas? Talvez Judas tenha se enforcado, a corda se rompeu
e ele caiu no chão e se partiu ao meio. Ou talvez ele tenha tentado se
enforcar e, como não funcionou, então ele subiu em um lugar alto e saltou
sobre o campo abaixo.” -Sites diversos

As explicações dos crentes, aparentemente, são muito boas. E conseguem


convencer muitos de dentro de suas próprias fileiras. Porém, só convencem
esses!
Analisemos as passagens: Mateus nos fala que foram os sacerdotes que
haviam comprado um terreno que passou a ser chamado de campo de
sangue em virtude de ter sido comprado com dinheiro usado para trair
Jesus e consequentemente derramar seu sangue. Porém, em Atos, vemos
um relato totalmente novo e diferente do que é contado por Mateus, Lucas
nos diz que o campo de sangue recebera esse nome não por causa de ter
sido comprado com moedas oriundas de um assassinato, mas sim, porque
nele, Judas havia derramado seu próprio sangue, quando teria caído de
cabeça e seu corpo se despedaçado, sabendo de que aquele campo foi onde
Judas derramou seu sangue ao cair de cabeça, o povo de jerusalém passou
a chamar aquele lugar de campo de sangue.
Percebam mais esse detalhe, em Mateus o campo receberia esse nome
porque teria sido comprado com moedas sujas de sangue, ou seja, o preço
daquele campo, na realidade, foi ao custo de uma vida, no caso a de Jesus,
enquanto no relato de Lucas o campo recebeu o nome “campo de sangue”
não por causa do sangue de Jesus, mas pelo do próprio Judas, que teria
morrido ali e tido seu sangue derramado e vísceras expostas. Além de que,
em Atos, o comprador do campo do oleiro foi Judas e não os sacerdotes.
Os motivos pelos quais o campo recebera aquele nome, portanto, são
diferentes em cada um dos relatos. E isso, os torna, sim, contraditórios.
E mais, Lucas nos informa que Judas morreu naquele campo, só que não
tem sentido algum, pois Judas jogou as moedas dentro do templo e saiu
para se suicidar, assim nos diz Mateus. Logo, o suicídio de Judas ocorre
muito tempo antes de os sacerdotes comprar aquele campo.
Na narrativa de Atos, não há menção alguma ou mesmo indícios de que ali
se tratou de um suicídio.
Mesmo que admitamos que Lucas queria dizer que Judas havia se jogado
do alto de um morro ou precipício, ou que a corda na qual estava
supostamente pendurado se rompera, os relatos não se combinam.
Pelo texto de Mateus, percebemos que o ato de trair fora realizado de
forma secreta entre Judas e os sacerdotes, portanto, é uma mentira a
afirmação desse evangelista, quando diz que o povo de Jerusalém passou a
chamar aquele lugar comprado pelos sacerdotes de campo de sangue, já
que ninguém sabia que o campo teria sido comprado com o dinheiro
rejeitado por Judas.
Poderiam alguns dizer, mas Jesus disse aos discípulos que havia um traidor
entre eles e que as escrituras também apontavam as trintas moedas de prata
na profecia de Jeremias e/ ou Zacarias.
Realmente, há essas duas situações que podem ser levantadas, entretanto,
isso não tira as contradições nos textos de Mateus e de Lucas, mas
justamente o contrário é que acontece.
Primeiramente, se olharmos a profecia mencionada por Mateus, veremos
mais ainda o quanto este escritor é um charlatão, mentiroso. Seu evangelho
está repleto de supostas profecias. Todas foram aplicadas na vida de Jesus
para parecer que ele era o Messias.
Mateus menciona Jeremias, mas a menção de 30 moedas não ocorre no
livro desse profeta, mas em Zacarias 11:12,13. Mateus menciona as 30
moedas faladas por Zacarias e as relacionam ao que é dito por Jeremias
32.
Mateus inventou essa profecia. Zacarias fala, na verdade, de um mau
presságio contra o Líbano, onde os filhos de Judá se encontram, não tem
nada que ver com qualquer traição de alguém que seria vendido por 30
moedas. Já Jeremias, embora fale de 17 siclos de prata, estas também não
tem nada que ver com traição. Jeremias também está a se referir a uma
profecia que envolvia o rei de Babilônia. Em ambos os textos, quer no de
Jeremias, quer no de Zacarias, não existem a figura de algum campo ou
terreno. Jeremias ao mencionar as 30 moedas, deixa claro que elas seriam
o preço pelo qual o deus de Israel teria sido avaliado pelo seu povo Israel,
quer dizer, os judeus menosprezaram seu deus por nada!
Mateus quando menciona supostas profecias do velho testamento sempre
as desconfigura e as aplica de forma descontextualizada.
São os crentes que, na tentativa de conciliar os textos, colocam, na
passagem de Lucas, a estória de suicídio. O que é relatado, na verdade, por
Lucas é um possível acidente ocorrido com o traidor, Judas.
Os sacerdotes não compraram o campo logo que Judas entregou-lhes as
moedas de prata, a preocupação deles, naquele momento, era a
condenação de Jesus e não comprar um campo para se livrar das moedas
que não poderiam ficar no tesouro do templo, isso poderia ficar facilmente
para outro momento.
Lucas diz que Judas morreu naquele campo, mas isso é um absurdo, pois
como já dito, o campo só foi comprado muito tempo depois de seu suicídio
registrado por Mateus pelos sacerdotes. Judas não ficou esperando que os
sacerdotes comprassem um campo para só depois entrar nele e assim se
suicidar.
Por mais que se tente ajustar os textos um ao outro, mais contraditórios
ficam.
Mas o que poderia ter levado escritores cujos escritos supostamente
inspirados por uma divindade cometerem tamanha contradição?
Simplesmente, porque esses escritores nunca foram inspirados por
nenhuma divindade, aquilo que escreviam, se é que podemos dizer que
escreveram de fato alguma coisa, (pelos menos, os apóstolos, não), tinha
como fonte a mente humana, a mesma que criou a ideia de deus.
A discrepância entre os relatos bíblicos está no fato de que muitos dos
escritores nunca se conheceram. Eram todos de diferentes lugares e
épocas, suas estórias teriam sido escritas por ouvir dizer. Nunca viram
nada daquilo que dizem ter visto, não foram testemunhas oculares de nada
daquilo que escreveram.
Ainda pesa o fato de que os escritores, quando transcreveram as estórias
que ouviram dizer, nunca imaginaram que esses seus escritos fossem,
algum dia, reunidos em um único compêndio, ou num único livro.
Eram muitas as estórias orais, então ficava difícil separar o que poderia ser
verdade ou invenção. Se é que os que as escreveram se preocuparam com
isso.
A Igreja primitiva formada por cristãos, que resolveu reunir esses escritos
num livro que hoje chamamos de Bíblia e pouco se preocupou se esses
relatos eram ou não contraditórios. Ademais, quem é que sabia ler
naqueles tempos?

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