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Evolução.

Grosso modo, a evolução é a passagem do mais


simples para o mais complexo, do inferior para o
superior, do caos à ordem, da natureza selvagem ao
mundo civilizado.

O conceito de evolucionismo, em Sociologia, se


confunde com o de darwinismo social.

Darwinismo social. Aplicação da teoria evolucionista


de Charles Darwin ao estudo das sociedades humanas.

Charles Spencer e Thomas Malthus foram os principais


adeptos da teoria de Darwin no campo das sociedades.
Defendiam o capitalismo selvagem, contrário a qualquer
tipo de proteção pública ou social aos pobres, contra
qualquer ameaça à propriedade privada dos ricos.

A ideia chave do darwinismo social é a de que a


sociedade humana, assim como a natureza, é palco da
luta incessante pela vida.

Dentro dessa concepção, é justo que a elite ocupe os


postos de comando da sociedade e as posições de maior
prestígio ou importância social.

Essa concepção serviu para justificar uma sociedade de


livre mercado ou de livre concorrência. Nesse sentido,
o darwinismo social se confunde muito com o
liberalismo. A ideia básica do liberalismo é a de que
nada justifica a interferência do estado na economia,
à medida que esta é regida por leis próprias de
funcionamento – as leis de mercado (leis da oferta e
da procura, fundamentalmente) -, como a própria
natureza.

Levada ao extremo, o darwinismo social cai no racismo,


cuja premissa básica é a de que os seres humanos são
desiguais por natureza – uns possuindo qualidades
inatas superiores e outros inferiores.

Nesse sentido, o darwinismo social serviu para embasar


também políticas de eugenia (“melhoramento da raça”)
praticada por governos racistas, como o III Reich
alemão.

Mas há uma diferença entre o evolucionismo e o

racismo. O racismo é uma forma de determinismo.

Determinismo biológico. De acordo com o racismo, as

raças são eternas ou imutáveis. Já o evolucionismo,

embora etnocêntrico, acredita na perfectibilidade das

raças humanas: todos os povos poderiam, pelo menos em

tese, alcançar os níveis de civilização apresentados

pelos povos “mais avançados”, os europeus ocidentais.


Os racistas são eugenistas. Eugenia é a “ciência” de
“melhoria das qualidades hereditárias” das populações.
A eugenia tem a finalidade de reconhecer nas
sociedades os elementos mais dotados, física e
intelectualmente, para incentivar a sua reprodução e
identificar os elementos desfavorecidos a fim de
impedir a sua reprodução.

Esse trabalho de “aprimoramento” das raças não deveria


ser feito, entretanto, pela educação ou por meio de um
processo de seleção natural, mas através do trabalho
dos cientistas (segundo o próprio eugenista Francis
Galton, primo de Darwin).

De acordo com os eugenistas, o talento é


essencialmente determinado pela transmissão genética.

No Brasil, evolucionismo e determinismo biológico, ou


racismo, se misturaram. A elite intelectual
brasileira, de extração agrária e escravagista,
adaptou o evolucionismo às suas necessidades.

Os primeiros intérpretes da realidade social


brasileira, a elite pensante da época, eram
deterministas, tanto do ponto de vista biológico ou
racial, como do ponto de vista geográfico ou
climático. Assim, dois fatores fundamentais explicavam
o atraso da sociedade brasileira Clima e raça explicam
a natureza indolente do brasileiro, a sexualidade
desenfreada do mulato ou da mulata. Não é à toa que Os
sertões, o livro mais importante e famoso de Euclides
da Cunha, sobre a guerra de Canudos, começa com dois
capítulos (chatíssimos) sobre a terra e o homem.

A frase famosa de Euclides da Cunha em Os sertões é “o


nordestino é um forte” é de um determinismo geográfico
sem tamanho.

Euclides acredita que a força do mestiço do interior


vem da distância do sertão em relação ao litoral. O
sertanejo é forte porque foi obrigado a se adaptar às
condições existes da caatinga, do semiárido
nordestino.

Essa crença no determinismo provocado pelo meio


resulta aí numa perspectiva pessimista em relação às
possibilidades de realização do brasileiro como povo,
e do Brasil como país.

As teorias racistas europeias do século XIX e início


do XX não eram tanto contra os negros, que,
entretanto, não deixavam de ser notados como donos de
poucas qualidades positivas enquanto “raça”. Mas,
sobretudo, contra a mistura racial, a miscigenação.
As teorias racistas defendiam uma ordem natural que
graduava e hierarquizava as raças humanas, como se
dava com as outras espécies de animais e plantas. O
branco se situava no alto da escala, com o branco
europeu assumindo a posição de liderança da espécie
humana.

Um dos principais defensores dessas ideias racistas


foi o Conde de Gobineau, que, inclusive, morou no Rio
de Janeiro como cônsul da França e se tornou amigo e
interlocutor intelectual do imperador D. Pedro II.

Uma das previsões de Gobineua era a de que o Brasil


levaria menos de 200 anos para se acabar como povo,
com a mistura irresponsável entre as raças. A
miscigenação exterminaria a população brasileira, que
ele chamava de “multidão de macacos”.

Na teoria racista, o contato íntimo, sexual, entre


pessoas de raças diferentes levava à degeneração da
espécie. Daí a palavra “mulato”, que vem de mulo, o
animal que resulta do cruzamento de tipos genéticos
muito diferentes.

O mestiço ou o mulato, enquanto produto do cruzamento


entre raças desiguais, apresenta todos os defeitos
transmitidos pela herança biológica. A apatia, a
imprevidência, o desequilíbrio emocional.
Essa tese será confrontada no Brasil, pela primeira
vez, por Gilberto Freyre, no livro Casa-grande &
Senzala. É o primeiro trabalho da sociologia
brasileira crítico ao racismo.

Freyre é um dos primeiros a reconhecer o papel


civilizador do negro no Brasil. Ele dirá que “a
formação social brasileira se deve ao negro”; que
“todo brasileiro é racial ou culturalmente negro”.

Nas palavras de Freyre: “todo brasileiro, mesmo o


alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não na
alma e no corpo, a sombra, ou pelo menos a pinta, do
indígena ou do negro (...) A influência, vaga ou
remota, do africano. (...) Na ternura ... na música,
no andar, na fala, no canto de ninar menino
pequeno ... da escrava ou sinhama que nos embalou, que
nos deu de mamar, da negra velha que nos contou as
primeiras histórias de bicho e de mal assombrado ...
da mulata que nos iniciou no amor físico e nos
transmitiu, ao ranger da cama-de-vento, a primeira
sensação completa de homem”.

O mito da democracia racial é atribuído à Casa Grande


& Senzala. Freyre considera que a miscigenação
diminuiu a distância social entre o negro e o branco,
entre a casa-grande e a senzala, integrando uma e
outra na base da estrutura social brasileira. A
miscigenação impediu que explodisse no Brasil o
conflito entre senhores e escravos, contribuindo para
uma “democratização racial” do país.

O organicismo. A Sociologia, como modelo de ciência, é


derivada das ciências da natureza. Não por acaso,
assim, a sociologia é organicista. Ou seja, a
sociedade é pensada pelos primeiros sociólogos como um
imenso organismo vivo.

Essa visão da sociedade será chamada de organicista. A


analogia entre o biológico e o social será proposta
por vários pensadores da época. Não por acaso também
esses pensadores chamarão a Sociologia de Fisiologia
Social.

A sociedade era compreendida por eles como um imenso


organismo vivo. As pessoas que fazem parte deste
grande organismo, que é a sociedade, não vivem como
querem, da maneira como bem entendem, mas são
interdependentes umas das outras, e tanto mais
interdependentes quanto maior o grau de complexidade
da vida social.

Essa ideia será desenvolvida, na virada do século, por


Émile Durkheim, que assinala a relação entre o aumento
da divisão do trabalho social, fruto da
industrialização e da urbanização das sociedades, e a
interdependência econômica dos indivíduos.
O organicismo vai se misturava com o evolucionismo.
Herbert Spencer, impactado por Darwin, dirá que, como
os organismos, as sociedades evoluem do homogêneo e
simples para o heterogêneo e complexo. O estado
industrial das sociedades modernas é encarado como o
ponto máximo da evolução humana.

Esta evolução, para Spencer, marcava a mudança das


sociedades militares do passado para as sociedades
industriais da etapa moderna, fundadas sobre a divisão
do trabalho.

Valendo-se da metáfora organicista, Spencer comparou


as instituições sociais com os órgãos do corpo, que
desempenham funções específicas e atuam juntos para
benefício do todo.

Nessa visão, não há, portanto, lugar para o conflito


nas sociedades industriais, já que os indivíduos, sem
abrir mão de seus assuntos particulares, cooperam
entre si e concorrem juntos para o equilíbrio e a
harmonia do “corpo social”. Daí se segue que, para
Spencer, a base da existência das sociedades é o
consenso.

Marx, outro evolucionista, não via consenso nas


sociedades, e sim conflito de classes. Mesmo que
forjado o consenso social, o conflito entre classes
inimigas é latente. Em momentos críticos e decisivos
da história, esse conflito se torna mais agudo e
explode em rupturas institucionais, as revoluções, ou
golpes de Estado, de uma classe contra outra classe. A
luta de classes é, pois, o motor da história.

À maneira de seus contemporâneos, contudo, não deixou


de enxergar a mudança social em termos de etapas
sucessivas e invariáveis. Também como eles, procurou
descobrir as leis gerais de funcionamento das
sociedades, dando ao socialismo do século dezenove
caráter marcadamente científico.

Marx considerou como as leis gerais do movimento


histórico o desenvolvimento das forças produtivas
(máquinas, técnicas) e o conflito entre classes
inimigas. Uma e outra lei, segundo ele, não podiam ser
entendidas separadamente, já que todo progresso das
forças produtivas era impulsionado pela ascensão de
uma nova classe social que reclamava um novo modo de
organização da produção. Nessa linha de entendimento,
com a ascensão da burguesia no seio da sociedade
feudal, o moinho manual foi substituído pelo moinho a
vapor, que permitiu o surgimento da sociedade
industrial, na qual o antagonismo de classes já não se
dava mais entre senhores e servos, mas entre burgueses
e proletários. O acirramento do conflito classista
ligado ao progresso contínuo das forças produtivas
provocaria, de acordo com Marx, a passagem do
capitalismo, baseado na exploração do trabalho, à
sociedade sem classes - numa palavra, o comunismo.

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