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As relações interétnicas. Minorias. As políticas de integração.

Comunidade étnica:
A adjetivo “étnico” deriva do termo grego “ethnos” e era usado pelos gregos
para se referir aos “outros”, ou seja, aos grupos humanos não-gregos.
Portanto, etnia, grupo étnico ou comunidade étnica referem-se a populações
que são culturalmente distintas entre si.
A comunidade étnica define-se a partir da cultura, mas também, a partir da
identidade étnica, que é a produção de um discurso de alteridade, através de uma
dinâmica de processos de pertença de exclusão, aos quais se identifica o “nós” por
oposição ao “outro”, estabelecendo assim, as fronteiras limites da comunidade
perante as demais.
O estudo da etnicidade, enquanto fenómeno social cada vez mais relevante nas
sociedades contemporâneas pluriculturais e pluriétnicas, quer por razoes que se
prendem com a ocorrência de conflitos étnicos, quer pela necessidade de integração
das comunidades étnicas de migrantes nas sociedades de acolhimento, a par doutras
temáticas como o género, tem preenchido uma parte significativa da agenda da
antropologia produzida atualmente.

Comunidade étnica e raça


A par da xenofobia – intolerância para com comunidades étnicas culturalmente
distintas, verifica-se também nas sociedades contemporâneas manifestações de
racismo – intolerância para com grupos que apresentam traços fenótipos (altura, cor
de pele, cor e textura do cabelo), diferentes fenómenos que podem estar associados
ou não.
O conceito de “raça” tem sido objeto de discussão no discurso das Ciências
Socias, em geral, e na Antropologia, em particular, devido à contradição entre o seu
uso quotidiano e a sua base científica (ou melhor, a ausência desta).
As teorias científicas da raça surgiram nos finais do século XVIII e princípios do
seculo XIX. Foram utilizadas para justificar a ordem social emergente à medida que a
Inglaterra e outras nações europeias se tornavam potenciai imperiais, governando
territórios e populações subjugadas.
O Conde Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882), designado por v ezes com pai
do racismo moderno, propôs a existência de três racas: branca (caucasiana), negra
(negroide) e amarela (mongoloide). Segundo o autor, a raça branca possui moralidade,
vontade e inteligência superiores, já os negros, são menos capazes, marcados por uma
natureza animal, pela falta de moralidade e pela instabilidade emocional.

Sistemas de relações raciais


A categorização racial e as relações raciais variam, portanto, de sociedade para
sociedade. Recorrentemente recorre-se à comparação entre os Estados Unidos e o
Brasil, sociedades que foram marcadas historicamente por duas colonizações
diferentes (a inglesa e a portuguesa), sendo o sistema de relações raciais
marcadamente birracial na primeira e na segunda multirracial.
Num estudo de Marvin Harris, o autor encontrou 492 termos diferentes para
designar a cor da pele. Os termos mais utilizados no Brasil são: “preto” (de origem
africana), “branco” (de origem europeia) e “índio” (de origem nativa).

Comunidade ética e minoria


Até à libertação de Nelson Mandela em 1990, a África do Sul foi governada pelo
apartheid, um sistema de segregação racial forçada. Os brancos – que constituem 13%
da população – dominava os não brancos (categoria que incluía o negro, o asiático e o
coloured, pessoa cuja ascendência provinha de membros de mais do que uma raça).
Os não-brancos não tinham direito a voto nem tinham representação no
governo central. Embora o grupo dos “não-brancos” constituísse maioria numérica, é
remetido para a posição de minoria, dada a sua condição de segmento subordinado na
sociedade em que se situa. Neste sentido, “minoria no sentido sociológico nem sempre
corresponde a uma minoria numérica da população” (Hutnik 1991:22).
A noção de minoria, numa perspetiva político-jurídica, faz situar um dado grupo
étnico num contexto de conflito e de luta pelo poder em que este não partilha do
conjunto de direitos e deveres da maioria. Numa perspetiva socioeconómica, estes
grupos são associados a ocupações profissionais mal remuneradas e não qualificadas.

Comunidade étnica e nação


O nacionalismo – o princípio político que defende a coincidência entre nação e
estado – surge historicamente com o advento da republica e foi responsável por uma
tentativa de homogeneização cultural e linguística nos diversos países da Europa
Ocidental.
Enquanto o nacionalismo era estudado pela história e pela ciência politica,
cujos especialistas se dedicavam ao estudo das nações e das comunidades étnicas
cujas fronteiras étnicas correspondiam a fronteiras politicas e a um Estado, a
etnicidade era estudada pelos antropólogos que se dedicavam, em particular, às
comunidades étnicas de migrantes no Ocidente.

Os paradigmas da etnicidade
Paradigma primordialista coloca o enfoque na inclusão na cultura de origem. Os
indivíduos pertencentes a uma dada comunidade étnica são o que são porque aí
nasceram e cresceram, portanto, a identidade pré-existe ao indivíduo e determina a
sua pertença ao grupo.
Paradigma instrumentalista, circunstancialista ou situacionista coloca o
enfoque não na inclusão na cultura de origem, mas na identidade definida por
exclusão.
Paradigma construvista, obrigam os conflitos interétnicos da sobre
modernidade, a repensar estes dois paradigmas como mutuamente exclusivos.
Atualmente, a teorização em torno da etnicidade permite conciliar e sintetizar os
principais contributos dos paradigmas primordialista e circunstancialista. Temos,
então, um novo paradigma da etnicidade: o paradigma construvista.

As migrações no mundo contemporâneo


A imigração, o movimento de pessoas para um país onde se estabelecem, e a
emigração, o processo pelo qual as pessoas deixam o país para de estabelecer noutro,
combinam-se para produzir padrões globais de migração que ligam entre si os países
de origem e os países de destino. Os movimentos migratórios aumentam a diversidade
étnica e cultural de muitas sociedades e ajudam a moldar as dinâmicas demográfica,
económica e social.
Portugal que era tradicionalmente pais de emigração, a partir de 25 de Abril
1974, tornou-se um país de imigração, tornando-se numa sociedade pluricultural e
pluriétnica.

A figura do mediador sociocultural


O estatuto do mediador sociocultural foi estabelecido em 2001. A introdução
de mediadores culturais nas escolas, recrutados nas comunidades étnicas ou nas
Associações de imigrantes, tem-se revelado muito positiva para a ligação das famílias
com a escola e para permitir o reforço do diálogo intercultural, o sucesso educativo e a
diminuição do abandono precoce do sistema escolar (exemplo: comunidade cigana).

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