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DIVERSIDADE E INCLUSÃO NA SOCIEDADE

Diversidade Étnico-Racial
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DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL
Na aula de hoje, abordar-se-á a temática da diversidade étnico-racial, enfocando-a
a partir de uma perspectiva social de análise. As questões étnico-raciais e a construção
dessa categoria como elemento analítico serão discutidas, considerando os fenômenos
sociais que permeiam a sociedade brasileira.
O conteúdo abordado, embora possa não figurar como o mais preponderante, certa-
mente abarcará transversalmente os demais temas constantes no edital, a serem abor-
dados em sua avaliação.

DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL
O termo RAÇA tem sua origem datada do século XVII (MARTINS, 1985, p.182). Com o
passar do tempo, mais especificamente a partir do século XIX, passou a ser utilizado no
sentido de justificar as diferenças fenotípicas entre seres humanos e marcar relações de
dominação político-cultural de um grupo sobre outro.
Santos e Marques.

A partir do século XVII, registrou-se a datificação da definição de raça, sendo apenas


no século XIX que passou a ser empregada para justificar as diferenças fenotípicas. As
diferenças fenotípicas referem-se precisamente às variações manifestas em nosso
fenótipo, ou seja, em nossa aparência. Na biologia, o fenótipo está associado à apresen-
tação de nossas características físicas, como nariz, boca, olhos, cor da pele, textura do
cabelo, estatura e forma do corpo.
Foi a partir do século XIX, período marcado pela Revolução Industrial e pela expansão
do capitalismo, que o termo “raça” consolidou-se, justificando essas diferenças fenotí-
picas em um contexto histórico específico. Nesse período, a narrativa racial foi empre-
gada para afirmar a superioridade de uma raça sobre a outra, estabelecendo que certos
atributos de determinada raça eram considerados mais relevantes e significativos do
que os de outras raças.
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No século XIX, com a expansão do capitalismo monopolista, observa-se a adoção
da expressão “raça” para descrever as diferenças fenotípicas manifestadas pelos seres
humanos. Essa utilização reforça a dominação político-cultural de um grupo sobre outro.
O grupo que era dominante, sobretudo em relação aos africanos e latino-americanos,
foi o grupo europeu. Essa dominação manifestou-se, principalmente, por meio da colo-
nização realizada pelos portugueses, da instituição da escravidão, da catequização atra-
vés da religião, entre outros elementos.

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Há uma linha de intelectuais, dentre eles Paul Gilroy, que argumentam SOBRE A NÃO
EXISTÊNCIA DE RAÇA, visto que, no tocante à espécie humana, não existem “’raças’ bio-
lógicas, ou seja, não há um mundo físico e material nada que possa ser corretamente
classificado como ‘raça’”. (GILROY apud GUIMARÃES, 2006, p. 46).
É relevante salientar que existe um argumento de diversos intelectuais no sentido
de que não existe um conceito de raça, pois a raça é somente uma, a raça humana. Esse
argumento é questionado por uma outra parcela de intelectuais.
Mas, esse argumento fica no campo biológico, porque no mundo social, raça, além de
ser uma categoria política, é analítica também, pois “é a única que revela que as discrimi-
nações e desigualdades, que a noção brasileira de ‘cor’ enseja, são efetivamente raciais
e não apenas de ‘classe” (GUIMARÃES, 2006, p.46).
Santos e Marques.

É necessário entender que a questão de raça não é apenas uma questão biológica,
mas sim social.
Com isso, o sentido biológico do termo raça foi abandonado e está passando por res-
significações, por meio do movimento negro brasileiro e das ciências sociais.
O movimento negro utiliza-se desse termo de forma estratégica, pois assim, con-
segue valorizar o legado deixado pelos africanos, inclusive, informando como que nas
relações sociais brasileiras, algumas características físicas, por exemplo: formato do
nariz e da boca, cor da pele, tipo de cabelo, dentre outras, exercem ascendência, inter-
vém e até mesmo, decidem o rumo e o espaço que os sujeitos ocuparão na sociedade
(GOMES, 2004).
Santos e Marques.

Portanto, o termo raça no sentido biológico está em desuso sendo considerado anti-
quado. Esse termo foi apropriado pelo movimento negro para aflorar a questão da iden-
tidade do povo.
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Outro conceito bastante utilizado nos estudos sobre as relações raciais é o de ETNIA.
O termo é derivado do grego ethnikos, adjetivo de ethos, e se refere a povo, nação.
Portanto é possível considerar etnia:
• Judeus;
• Ciganos;
• Quilombolas;
• Indígenas;
• Outros.

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O conceito de etnia baseado no pensamento de Cashmore (2000), diz respeito a um


grupo que possui algum grau de coerência, solidariedade, origens e interesses comuns.
Um grupo étnico é mais do que um ajuntamento de pessoas, às pessoas deve ser
agregado seu pertencimento histórico e cultural.
Gomes (2004) destaca que, “o uso do termo etnia ganhou força para se referir aos
ditos povos diferentes: judeus, índios, negros, entre outros.
A intenção era enfatizar que os grupos humanos não eram marcados por caracterís-
ticas biológicas herdadas dos seus pais, mães e ancestrais, mas sim, por processos his-
tóricos e culturais”. (2004, p.50)
Santos e Marques.

O termo “etnia” passa a denotar, a partir desse ponto, as características, o pertenci-


mento, a identidade e a origem cultural. Não se trata meramente de uma agregação de
indivíduos, mas sim de um conjunto de fenômenos políticos, sociais e culturais que oca-
siona a identificação do povo por sua etnia. Isso é observado nos casos dos povos judai-
cos, indígenas, quilombolas, negros, ciganos, entre outros. Essas comunidades possuem
características fenotípicas distintas, costumes, herança cultural e, frequentemente,
uma forma específica de prática religiosa. Nesse contexto, já se evidenciam as caracte-
rísticas que delineiam a identidade desses povos e que introduzem os aspectos culturais
particulares de cada grupo.

Raça e Etnia

Assim, o termo “raça” diz respeito aos atributos dispensados a certo grupo e “grupo
étnico” se refere a uma resposta original de um povo quando, em alguma situação, se
sente marginalizado pela sociedade.
Um vocábulo que passou a ser utilizado no Brasil e merece destaque é a expressão
etnicorracial.
Seu sentido determina que as tensas relações raciais estabelecidas no país, vão para
além das diferenças na cor da pele e traços fisionômicos, mas correspondem também
à raiz cultural baseada na ancestralidade afro-brasileira que difere em visão de mundo,
valores e princípios da origem europeia (Brasil, 2004, p.13-14)
Santos e Marques.

É interessante destacar que os conceitos de raça e etnia são conceitos que se fundem.
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Nesse sentido, RAÇA E ETNIA são expressões que se fundem no contexto social bra-
sileiro, visto que ambos os termos são carregados de significações e podem determinar
o pensamento, a atitude e forma de ser e pensar o mundo e as nuances que o cercam.
Santos e Marques.

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É necessário destacar que o fato de termos tido um período de escravidão forçada


de povos africanos no Brasil fez com que a população negra estivesse cada vez mais ali-
jada do processo de produção social.
Isso significa que durante muitos anos em nosso país, a população negra trabalhou
de forma livre, sem salário, políticas públicas ou proteção social.
A abolição da escravidão não permitiu que a população negra fosse acolhida pelo
estado a inserindo na educação, saúde e frentes de trabalho. A abolição da escravatura
fez com que o trabalho escravo deixasse de existir em decorrência de uma exigência da
Inglaterra sob pena de bloqueio comercial.
A distinção entre os termos PRECONCEITO, DISCRIMINAÇÃO E RACISMO é fundante
para o entendimento dos processos psicossociais em que tais comportamentos se assen-
tam. O preconceito, segundo Jones, “é o julgamento negativo e prévio dos membros de
uma raça, uma religião ou um dos ocupantes de qualquer outro papel social significativo,
e mantido apesar de fatos que o contradizem” (JONES, 1973, p.54), sendo assim, o pre-
conceito tem a ver com um conceito anterior, um julgamento prévio que grupos majori-
tários ou dominantes encontram para manterem sua supremacia.
O preconceito origina-se da formação de conceitos prévios. Ao considerar um cenário,
como dirigir um carro e observar um motociclista ao lado, percebemos que o preconceito
pode surgir, manifestando-se no sentimento de alerta em relação à aparência do indivíduo,
especialmente se este for negro, dependendo de suas características fenotípicas.
O racismo, como construção histórica, exerce influência na subjetividade, levando à
reprodução de preconceitos. É essencial compreender que essas atitudes discriminató-
rias estão arraigadas em pensamentos preestabelecidos.
Gomes afirma que o “preconceito é um juízo de valor ou opinião que são formados
antecipadamente, sem haver conhecimento dos fatos ou ponderação” (Gomes, 2004,
p.54). O preconceito tem uma dinâmica capaz de criar uma rede de relações entre as pes-
soas que, de maneira gradativa, ganha corpo e transforma-se em percepções de mundo.
O maior problema é que essa dinâmica gera atitudes diante das variadas situações
e pessoas, produzindo deformidades nas relações sociais, como: o homofobismo, o
racismo, a discriminação, o sexismo, dentre outros (SANT’ANA, 2005).
Quanto à palavra DISCRIMINAR que significa “estabelecer diferenças”, “diferençar”,
“discernir”, “distinguir” é possível, a partir disso, verificar que há uma relação entre a prá-
tica do racismo e o ato dinâmico do preconceito.
Enquanto o racismo e o preconceito encontram-se no âmbito das doutrinas e dos
julgamentos, das concepções de mundo e das crenças, a discriminação é a adoção de
práticas que os efetivam (GOMES, 2004).

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A Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de [...] qualquer


distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou
origem nacional ou étnica que tem por objetivo ou efeito anular ou restringir o reco-
nhecimento, gozo ou exercício num mesmo plano (em igualdade de condição) de direi-
tos humanos no domínio político, social, cultural ou em qualquer outro domínio da vida
pública (Art. 1º).
Santos e Marques.

Por um longo período, algumas lojas mantiveram critérios específicos na seleção


de vendedores. Atualmente, em virtude das ações afirmativas, observa-se que algu-
mas estabelecimentos têm incluído vendedores negros em sua equipe, embora essa não
fosse a realidade há alguns anos.
Similarmente, na esfera televisiva, durante muito tempo, a presença de pessoas
negras em papéis de destaque nas novelas das oito, sete e seis era limitada, sendo reser-
vada, em sua maioria, para personagens em posições de subserviência.
A discriminação, conforme evidenciado, manifesta-se em diversos contextos. Em
Salvador, por exemplo, alguns blocos de carnaval, em tempos passados, impunham res-
trições à participação de foliões negros, exigindo uma foto três por quatro para avaliar a
compatibilidade do indivíduo com as expectativas do bloco.
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O RACISMO é uma construção ideológica que afirma ser uma raça superior a outra.
São vários os racismos.
As primeiras manifestações racistas aconteceram no século XVI; dos colonizadores
europeus contra as populações nativas das Américas e contra os negros africanos.
Mas, foi no século XIX, a partir da expansão do capitalismo industrial, que o racismo
se transformou numa política justificada ideologicamente e praticada pelos Esta-
dos Europeus.
Santos e Marques.

Lembre-se de que o preconceito e o racismo estão no campo da subjetividade. Por


outro lado, a discriminação está no lado da objetividade.

HISTÓRICO DAS AÇÕES AFIRMATIVAS NO BRASIL


As políticas de ações afirmativas são instrumentos de reparação social, objetivando
endereçar a exclusão histórica da população negra. Tais políticas expressam o compro-
metimento do Estado brasileiro em corrigir socialmente essas situações, proporcio-
nando oportunidades de inserção dessa população em diversos âmbitos da vida social,
incluindo mercado de trabalho, saúde, educação, Previdência, entre outros.

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O histórico de ações afirmativas no Brasil é recente. Embora comumente associado


ao governo de Lula, a discussão sobre ações afirmativas teve início no governo de Fer-
nando Henrique Cardoso. Em 1995, durante sua gestão, foi estabelecido um grupo de
trabalho institucional que reconhecia a necessidade de implementar ações afirmativas.
No entanto, de 1995 a 1998, sob o governo de FHC, não foram efetivamente implemen-
tadas legislações que formalizassem tais ações como medidas legais. A efetivação das
ações afirmativas como medidas legais ocorreu apenas no governo de Lula, em 2003,
com a publicação do Estatuto da Igualdade Racial. Para fins de prova, vale ressaltar que
a discussão sobre ações afirmativas teve início durante o governo FHC.
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Para atender as reinvindicações de grupos sociais por políticas específicas que
pudesse diminuir as desigualdades foi criado, por Decreto Presidencial de 20 de novem-
bro de 1995, o Grupo de Trabalho Interministerial (GTI). Este Grupo apresenta o conceito
de ações afirmativas, como:
Medidas especiais e temporárias, tomadas ou determinadas pelo estado, espontânea
ou compulsoriamente, com o objetivo de eliminar desigualdades historicamente acumu-
ladas, garantindo a igualdade de oportunidades e tratamento, bem como de compensar
perdas provocadas pela discriminação e marginalização, decorrentes de motivos raciais,
étnicos, religiosos, de gênero e outros. Portanto, as ações afirmativas visam combater
os efeitos acumulados em virtude das discriminações ocorridas no passado. (GTI, 1997;
SANTOS, 2001;SANTOS, 2005).
O GTI foi encarregado de formular políticas públicas para valorização e promoção dos
direitos dos afro-brasileiros e para a valorização da população negra. Foi o primeiro ato
de reconhecimento do racismo pelo Estado Brasileiro.
As ações afirmativas não são necessariamente desenvolvidas pelo Estado, elas podem
partir de instituições da sociedade civil, que tenham autonomia suficiente para decidir por
meio de seus regimentos internos, tais como: centrais sindicais, escolas, igrejas, partidos
políticos, sindicatos, instituições privadas, dentre outras. Portanto, as ações afirmativas,
podem ser temporárias ou não, isso fica a critério dos princípios em que foram pautadas.
Observa-se que as ações afirmativas não se restringem exclusivamente ao âmbito
estatal; as organizações sociais, sejam com ou sem fins lucrativos, também podem incluir
em seus regimentos a temática das ações afirmativas.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Concursos, de acordo com a aula
preparada e ministrada pela professora Aline Menezes.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do con-
teúdo ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela lei-
tura exclusiva deste material.

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