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Marizete Dill de Souza

A publicação Relações Raciais, editada pelo CFP, nos remete a conhecer um pouco
mais sobre a Dimensão histórico, Âmbitos do racismo Institucional, Pessoal e Interpessoal,
Contribuições da psicologia e a Promoção da igualdade racial.

Nem sempre a psicologia empregou esforços para as questões raciais que afligem a
extensa massa negra, por muito tempo, foi considerada uma ciência a serviço de uma elite
validando e empregando técnicas, para fortalecer as diferenciações étnicas e sociais. No
entanto, a psicologia ganha popularidade quando passa a se interessar por assuntos que
contemplam as necessidades, salvando-a de permanecer como prática a serviço de um
grupo fechado e privilegiado que não a sustentaria por muito tempo.
- Na historicidade do racismo no Brasil, destacaram-se as fugas, revoltas em larga
escala, rebeliões, agressões, suicídios, assassinatos, criação de quilombos (Reis, 1983).
Foram os negros que, desde sempre, atuaram na luta pela liberdade. Inclusive, segundo
Alonso (2010), no Brasil, libertos e escravizados participaram do Movimento Abolicionista.
A implantação de Política incentivadora imigratória começou por volta de 1850 bem
como a promulgação da lei 601, que, regulamentava a concessão e a expedição de títulos de
terras públicas, beneficiando estrangeiros, os quais passaram a assumir postos de trabalho
mais valorizados, tanto na indústria, bem como na agricultura, os quais segundo Kowarick
(1994), não necessitavam de mão de obra especializada, nem exigiam qualificação
profissional, culminando com a abolição do tráfico de escravos e o descarte daquela massa
populacional negra em uma competição de desigualdade com a mão de obra imigrante e
branca.
A falta de políticas públicas para a população negra, pós liberta, os contemplou com
atividades propícias de risco de morte, em regiões ruralistas e economicamente arruinadas.
Porém, excluir o negro de postos de trabalho digno não era o suficiente, era também,
necessário o embranquecimento de suas peles através da intensa miscigenação entre negros
e brancos, na intenção de branqueá-los e influenciá-los nas mudanças comportamentais e
culturais, com a finalidade de criar biologicamente intermediários, os de cor parda,
representando naquele momento, a transformação, a passagem da negrura para a brancura.
O discurso ideológico disseminou a imagem do negro como ‘moreno’ já a partir da
década de 1930, rearranjado pelo discurso da democracia racial, cujo principal mentor
intelectual foi Gilberto Freyre, desencadeando as expressões culturais negras como cultura
nacional, passando a ser vistos como parte da cultura brasileira elementos como o samba e a
capoeira.
Historicamente a democracia racial foi marcada por uma imposição política, a
proibição social de se falar em racismo, o que, poderia incorrer em custos políticos e sociais
elevados. Um desses custos é a sempre repetida acusação de se tentar importar um
problema que inexiste na sociedade brasileira” (Hasenbalg, 1996, p. 237). O mito da
democracia racial é também um discurso moral que afirma que o racismo é nocivo, e
contrário à brasilidade, de tal modo que os afro-brasileiros não podem aceitá-lo nem rejeitá-
lo.
- Pessoas podem trazer marcas do racismo desde à sua tenra idade, o racismo
Institucional pode ter início ainda na fase escolar, e seguir com a pessoa ainda na vida
adulta, refletindo no que diz respeito à saúde, educação, religião e segurança, tornando-as
seres excluídos. Uma carreira profissional de sucesso é um importante marco na vida de
jovens e adultos, seu ingresso no mercado de trabalho e sua ascensão muitas vezes está
enredada à muitos fatores, especialmente graduações, mestrados, cursos de qualificações.
Entretanto, atitudes preconceituosas e mascaradas como o racismo institucional
desapreciam a posição de algumas classes de trabalhadores, independentes de negros,
indígenas ou imigrantes, toda a preparação profissional e educacional não é garantia, além
das exigências pertinentes ao cargo, ainda passam pela seleção discriminatória, pela
condição de sua cor, e mesmo que melhor capacitados que indivíduos brancos, são
descartados, perdendo a oportunidade de mostrar sua capacidade e concorrer a um salário
justo.
Uma prática bem comum de racismo institucional pode ser vista através das ofertas
de emprego em que uma das exigências é que o candidato deve apresentar boa aparência,
bem como nas seleções domésticas, quando o padrão do candidato o define como o
empregado mais adequado a determinadas tarefas.
Não raro, o racismo Interpessoal pode ser determinado e alterado de acordo com o
conflito, e pode surgir de uma divergência entre dois ou mais indivíduos, ficando marcado
por contextualizações competitivas, oposições, injúrias e etc, ou pode ser concretizado pelo
incômodo que um branco demonstra em forma de inveja e ódio ao observar que negros,
indígenas e imigrantes ocupam espaços que outrora lhes têm sido negado. É desafiador ser
negro, se “aceitar” como tal e provar à sociedade que tem capacidade de se destacar
igualitariamente, quando o vírus do racismo se faz tão presente em diversos setores,
manifestando-se de diversas formas, inclusive nas relações interpessoais e pessoais, e pode
ser caracterizado pela falta de empatia bem como ser de diferentes níveis, envolvendo
sentimentos como, amor, amizade, caridade, entre outros.
[…] a forte ligação emocional com o grupo ao qual pertencemos nos
leva a investir nele nossa própria identidade. A imagem que temos de
nós próprios encontra-se vinculada à imagem que temos do nosso
grupo, o que nos induz a defendermos os seus valores. Assim,
protegemos o “nosso grupo” e excluímos aqueles que não pertencem
a ele. (BENTO, 2014, p. 29)

- A contribuição da psicologia nas relações étnico-raciais pode ser compreendida com


bases na análise de artigos de periódicos nacionais de psicologia, publicados numa ordem
cronológica que compreende respectivamente os anos de 1970 a 2012 e 2014 a 2016. Vários
artigos foram categorizados e analisados conforme seus conteúdos acerca de produções da
Psicologia na área, inclusive por autores que estão na base da Psicologia Social brasileira,
porém pouco conhecidos.
Entre elas podemos destacar as contribuições que estão voltadas especificamente
para produções de programa de pós-graduação onde foram analisadas teses e dissertações
que utilizaram as categorias raça e racismo para compreensão dos fenômenos da
subjetividade, com cunho social e político. Com relevante compreensão das relações étnico-
raciais esses artigos dedicam-se à construção de saberes sobre a violência psicológica do
preconceito e do racismo; o legado social do branqueamento e seus efeitos psicossociais
sobre a identidade étnico-racial de negros e brancos; saúde psíquica; e o monitoramento
dos efeitos das políticas e dos programas de promoção da igualdade étnico-racial.
Podemos destacar figuras importantes como Raul Carlos Briquet (1887-1953); Donald
Pierson (1900-1995); Aniela Meyer Ginsberg (1902-1986); Arthur Ramos de Araújo Pereira
(1903-1949); Virgínia Leone Bicudo (1915-2003); e Dante Moreira Leite (1927-1976), como
os principais responsáveis pela organização dos primeiros cursos de Psicologia Social no
Brasil e, consequentemente, pela primeira delimitação do campo da Psicologia Social.
Contudo, nem tudo eram flores, se Ginsberg e Bicudo reconheciam a questão da
desigualdade política pela qual a população negra passava, ao contrário, Arthur Ramos, ao
deslocar a questão da raça para a da cultura, fez apenas um rearranjo, alterando o foco mas
não o seu fundamento, continuando assim, propagar um olhar racista sobre o negro,
validando cientificamente estereótipos infundados por meio de teorias eurocêntricas
discriminatórias, tomando por padrões uma realidade que não contemplava a diversidade
brasileira.
Contribuições significativas foram abordadas também por psicólogos africanos com
abordagens de enfrentamentos e superações. Bóia Efraime Júnior (2013) trabalha na
restauração de traumas de crianças em função da guerra em Moçambique, na defesa de que
a superação e elaboração psíquica demandam ações psicoterapêuticas e psicossociais o que
propicia para o restabelecimento do vínculo familiar e comunitário, permitindo
reorganização psíquica, bem como o fortalecimento de vínculos sentimentais.
Também ouve contribuições através de pesquisas no contexto de gênero, porém,
com menos empenho, neste quesito, onde o racismo e o sexismo são elementos que
compõem o contexto a que estão expostas as mulheres negras.
Do ponto de vista regional, a região norte e nordeste não ficaram de fora, o primeiro
é uma região onde há a maior concentração da população negra e indígena do Brasil,
notadamente no Amazonas e em Roraima, estudos realizados por psicólogos acerca dos
indígenas indicam que os mesmos não estão incluídos na categoria de racismo e preconceito
racial, abrindo um parêntese para a importância de estudos na área. Já o segundo tem se
destacado, com a organização de referências relacionadas à temática das relações raciais em
Psicologia, o Guia de Referências ‘Psicologia e Relações Raciais’, entretanto, em sua segunda
edição, organizado pelo Grupo de Trabalho Psicologia e Relações Raciais da Comissão de
Direitos Humanos do Conselho Regional /de Psicologia da Bahia. Dispondo de referenciais
bibliográficos em seu site, traz uma relação de livros, artigos, legislação e documentos da
Psicologia, leituras complementares, indicação de sites, publicações on-line, filmes,
documentários, museus e locais onde pesquisar.
No campo da Psicologia, algumas hipóteses foram feitas para justificar a falta de
estudos que contemplem a branquitude, sendo, a primeira o fato de que a grande maioria
dos psicólogos é de cor branca, colaborando para a concretização da ideia de que quem tem
raça é o outro, preservando a branquitude como identidade racial normativa. A segunda
hipótese é a de que desvelar a branquitude é expor os privilégios simbólicos e materiais que
os(as) brancos(as) obtêm em uma estrutura racista.
- A desigualdade racial é um tema que nos direciona a reflexões sobre as diversas
dimensões e as consequências negativas que o racismo provoca. Segundo Silva (2001, p. 17),
a psicologia poderá contribuir para melhor compreensão, enfrentamento e superação de
sentimentos envolvidos em relações raciais racistas, além de colocar sua teoria e técnica a
serviço da compreensão sobre a “construção subjetiva da negritude”.
Especificamente a atuação do psicólogo pode ser representada nas ações que
compreendam a promoção da igualdade racial e combate ao racismo para que este também
ocorra junto à elitizada população branca, conscientizando-a dos prejuízos que seus valores
conservadores, e a intolerância religiosa provoca a esse grupo racial.
Outro fator também pertinente ao profissional da psicologia é investigar o
dimensionamento do impacto psicológico, cabendo a ele o acolhimento, o diagnóstico, a
orientação, a avaliação e um possível encaminhamento para outro profissional com o intuito
de uma resolução definitiva.
Tal qual, auxiliar na conscientização dos prejuízos culturais que supostamente o
branqueamento possa trazer para aquela sociedade ou indivíduo, bem como, trabalhar a
ressignificação do valor histórico da raça, para assim ascender a identidade racial, a
valorização da estética ou a restauração da autoestima da população, garantindo assim, a
manutenção do pertencimento de uma identidade. Por fim, assegurar uma prática inclusiva
que promova mudanças de caráter estrutural, com efeitos sociais, nas dimensões
socioeconômico como acesso à educação, avanço escolar, renda, postos de trabalho e
moradia, bem como de sobre maneira nos efeitos da promoção da igualdade e o
desenvolvimento de mulheres e homens em suas universalidades.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Livro Relações Raciais: REFERÊNCIAS TÉCNICAS PARA ATUAÇÃO DE PSICÓLOGAS/OS. Conselho Federal de
Psicologia – CFP; Conselhos Regionais de Psicologia – CRP’s; Centro de Referências Técnicas em Psicologia e
políticas públicas – CREPOP

FACULDADE CATÓLICA DE RONDÔNIA


Disciplina: RELAÇÕES ÉTNICAS RACIAIS
Docente: SÂMIA LAISE
Discente: Jéssica Mariana Ramos
Ativ. 2 – Substitutiva N1 e N2

O Livro “Psicologia e Povos Indígenas” nos remete a conhecer o Lugar do Psicólogo e a


Promoção da Saúde Mental Indígena, bem como, refletir sobre as Experiências vivenciadas
na Casa de Saúde do Índio de São Paulo, apresentada na Faculdade de Saúde Pública da USP
em agosto de 2007.

Com base no artigo indicado, embora, a proposta da promoção da saúde mental


ocorra fora do ambiente natural do índio (Casai) é possível observarmos traços muito
particulares para que um atendimento profissional atinja o sucesso inerente à saúde mental
da população indígenas. De fato, é uma proposta complexa que indica a necessidade de uma
reflexão interdisciplinar versada com a antropologia, para que o acolhimento não se limite
exclusivamente à dimensão individual ou cultural, e sim incidam sobre ambas, na medida em
que se apresentam complementares e indissociáveis.

Uma característica relevante do trabalho com relação à Saúde Mental Indígena é o


emprego do conhecimento do psicólogo, na busca da compreensão da subjetividade da
cultura indígena e seus aspectos, desde o acolhimento até a identificação das necessidades
apresentadas pelos índios, que geralmente são das mais variadas etnias e de todas as
regiões do Brasil, e em situações culturais diferentes da sua realidade.

O contato entre índios e não índios é inevitável, e é neste contexto que o psicólogo
deve intervir para minimizar o preconceito, com o objetivo de melhorar a relação e a
inserção social em ambientes inerentes à essa parcela tão vulnerável. É primordial a
interação entre os setores administrativos e a equipe interdisciplinar para que dispensem
um olhar mais humanizado aos indígenas, o que certamente refletirá positivamente na
socialização, e no relacionamento interpessoal, bem como, na superação de obstáculos
encontrados pela subjetividade e nas diversidades de ocorrências estressantes e
reinvindicações que se apresentam.

Por fim, o artigo sugere que o lugar do psicólogo no contexto indígena é de


interlocutor nos projetos e políticas públicas que atendam a demanda de uma sociedade
cada vez mais vulnerável. Apoiar a criação de espaços destinados à escuta, com a presença
de grupos terapêuticos, oficinas de artesanatos e outras expressões junto à rede de serviços
sociais, públicos e comunitários, objetivando o diálogo recíproco e a interação, tendo como
meta minimizar o preconceito, fortalecer, manter, e preservar os aspectos culturais. De um
modo mais amplo, no campo para a manutenção da saúde mental indígena, ressalta-se a
importância da participação do Psicólogo nas formulações das políticas que versem sobre as
angústias vividas, doenças psicossomáticas, distúrbios mentais, e nos conflitos com etnias
opostas, bem como, a mediação e resolução de conflitos no tocante a demarcação de terras,
preservação de reservas, pois está é uma das questões que aflige muito os povos indígenas.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Livro Psicologia e Povos Indígenas: Conselho Regional de Psicologia – CRP-SP. Março 2010

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