Você está na página 1de 77

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Instituto de Ciências Humanas – ICH


Departamento de Educação – Curso de Pedagogia

Bárbara Meireles Novais


Ítala Fernanda Campolina

A VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR CONTRA A CRIANÇA:


percepções docentes sobre os impactos no processo de desenvolvimento a
aprendizagem

Belo Horizonte
2021
1

Bárbara Meireles Novais


Ítala Fernanda Campolina

A VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR CONTRA A CRIANÇA:


percepções docentes sobre os impactos no processo e desenvolvimento a
aprendizagem

Trabalho Final de Graduação


apresentado ao curso de Pedagogia da
Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais, como requisito parcial para
obtenção do grau de licenciatura em
Pedagogia.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Mariana


Veríssimo Soares de Aguiar e Silva.

Belo Horizonte
2021
2

AGRADECIMENTOS

Agradecemos primeiramente a Deus por nos ter sustentado, guiado e nos dado
forças durante todo o curso até a realização dessa pesquisa.
Agradecemos às nossas famílias que mesmo sem entender esse processo de
escrita, compreenderam nossos momentos de cansaço, de ansiedade, das ausências,
dos estresses e mesmo assim se preocuparam conosco, nos apoiando nessa caminhada
e acompanhando em toda a trajetória.
Agradeço a minha dupla e amiga por ter sido companheira de escrita durante todo
esse processo de pesquisa, auxiliando e dando força durante a escrita deste trabalho.
Todas as amizades formadas ao longo desse caminho, assim como as colegas do
grupo de orientandas da professora Mariana Veríssimo, que permitiram que essa
trajetória fosse mais suportável e trouxeram alegria durante os períodos que realizamos
nossas pesquisas. Agradecemos também o Daniel Ribeiro Victor, por ter nos auxiliado
com os vídeos feitos com as entrevistas durante este período pandêmico.
Gostaríamos de demonstrar nossa gratidão às professoras entrevistadas que
aceitaram contribuir com seus conhecimentos e vivência e que participaram da nossa
pesquisa. A participação delas foi fundamental para a elaboração deste trabalho, assim
como nos proporcionou a pensar as nossas atitudes como futuras docentes.
Por fim, agradecemos a nossa professora e orientadora Mariana Veríssimo por
todas as suas orientações e paciência conosco no processo de elaboração deste
Trabalho Final de Graduação.

Bárbara Meireles Novais e Ítala Fernanda Campolina.


3

RESUMO

Ao se falar de família, logo se pensa em um ambiente que seja agradável, acolhedor,


afetuoso e que estimule as crianças a se desenvolverem da melhor forma possível.
Porém, nesse âmbito ocorre situações de Violência Intrafamiliar, principalmente para com
as crianças. Questiona-se em que medida a Violência Intrafamiliar contra as crianças
impacta na vida escolar, quais as suas relações, como preparar os profissionais e como
evitar e auxiliar as crianças. Assim, a presente pesquisa se propôs a compreender e
explicar o fenômeno da Violência Intrafamiliar contra a criança e os impactos que essa
violência produz no desenvolvimento escolar dos alunos. O estudo está baseado na
abordagem qualitativa, pesquisa bibliográfica e realização de quatro entrevistas
semiestruturadas com profissionais do Ensino Fundamental I. A pesquisa constatou que
de fato a Violência Intrafamiliar produz efeitos negativos na vida escolar das crianças.
Estas sofrem em seu ambiente familiar e refletem comportamentos no ambiente escolar,
tendo baixo rendimento, baixa autoestima e relações e maiores agressividades. Os
professores quando vivenciam esses casos buscam amenizar a partir do cuidado,
sensibilizando-se com a situação que seus alunos passam. Conclui-se que a importância
dessa temática para o contexto escolar é essencial e que os professores precisam serem
capacitados para poderem identificar situações de negligência e outros tipos de
Violências Intrafamiliares contra as crianças, e que, cada vez mais, esses profissionais
aprendam a identificar, trabalhar e exercer seus papéis como responsáveis, por
realizarem essas denúncias e ao mesmo tempo sendo aqueles que irão contribuir com o
desenvolvimento desses alunos.

Palavras-chave: Violência Intrafamiliar; Impactos; Escola; Formação Docente.


4

ABSTRACT

When talk about family, one immediately thinks of an environment that is pleasant,
welcoming, affectionate and that encourages children to develop in the best possible way.
However, in this context, there is intrafamily violence, especially against children. It is
questioned to what extent the Intrafamily Violence against children impacts on school life,
what are their relationships, how to prepare professionals and how to avoid and help
children. Thus, this research aims to understand and explain the phenomenon of
Intrafamily Violence against children and the impacts that this violence reflects on
student’s school development. The study is based on a qualitative approach, bibliographic
research and the realization of four semi-structured structures with elementary school
professionals. The research found that, in fact, the Intrafamily Violence has negative
effects on children's school life. These children suffer in their family environment and
reflect performance in the school environment, with low performance, low self-esteem and
relationships and biggest aggressiveness. When teachers experience these cases, they
seek to soften from the care, to be sensitized with the situation that their students go
through. We conclude that the importance of this theme for the school context is essential
and that the teachers need to be trained to be able to identify situations of neglect and
other types of Intrafamily Violence against children, and that, increasingly, these
professionals learn to identify, work and exercise their roles as responsible for making
these complaints and at the same time as those who will contribute to the development of
these students.

Keywords: Intrafamily Violence; Impacts; School; Teacher Education.


5

LISTA DE SIGLAS

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente


TFG – Trabalho Final de Graduação
OMS – Organização Mundial da Saúde
PUC Minas – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
E.E.S – Escola Educacional Saber
C.C – Colégio Construir
E.M.A – Escola Municipal Aprender
EJA – Ensino de Jovens e Adultos
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
STF – Supremo Tribunal Federal
DCNEI – Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil
CEB – Câmara de Educação Básica
Unesp – Universidade Estadual Paulista
ONDH – Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos
CONANDA – Plano Nacional de Promoção, Defesa e Garantia do Direito de Crianças e
Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária
UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância
6

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Denúncias sobre a violência contra a criança e o adolescente no Brasil


........................................................................................................................................ 42
Quadro 2 - Denúncias de violações contra a criança e o adolescente no estado de
Minas Gerais …………………………………………..…………………………………….. 42
7

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ………………………………………………………………………...…... 09
1.1 Problema ………………………………………………………………...………..…...... 11
1.2 Objetivo Geral …………………...…………………………………………………...…. 12
1.3 Objetivos Específicos …………………………………………………………….....… 12
1.4 Justificativa …..…………………………………………………………………………. 12
1.5 Metodologia …………………………………………………………………………....... 13

2 A EVOLUÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO DE FAMÍLIA, INFÂNCIA E CRIANÇA


…………...…………………………………...…………………………………..…………..... 18
2.1 Conceito de Família …………….…..…………………………………………….......... 18
2.2 A reestruturação familiar a partir das mudanças na sociedade ……..…....….... 20
2.3 Novas configurações de Família ………………………………………….……….…. 23
2.3.1 Família Monoparental ……………………………………………….……………….... 24
2.3.2 Família Homoafetiva ………………………………………………….……………...... 25
2.3.3 Família Poliafetiva ………………………………………………….………………...... 25
2.4 A infância e a criança: concepções modificadas pelas sociedades …………... 26

3 VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR CONTRA A CRIANÇA: quando a violência invade o


ambiente familiar e escolar …………………………………………………....………..... 32
3.1 A violência e suas construções no contexto social ……………………...……… 32
3.1.1 A Violência Física: violação dos direitos humanos ….………………………........... 34
3.1.2 A Violência Psicológica: transtornos para o desenvolvimento …………..…......… 34
3.1.3 A Violência Sexual nega a dignidade do outro …………...………….……….....….. 35
3.1.4 A Negligência põe a mesa para a violência ……………………………………..…... 36
3.2 A Violência Doméstica e a Violência Intrafamiliar: os impactos na vida de
crianças ………………………………………………………………………………...…….. 37
3.3 Violências Intrafamiliar contra as crianças …………………………….……..…..... 39
3.4 A formação de professores para identificar e denunciar ….…………………...... 43
3.5 Uso da punição corporal contra criança como forma educativa ….………….... 45
8

4 PERCEPÇÕES DOS DOCENTES EM RELAÇÃO A VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR


CONTRA A CRIANÇA ………………………………………...…………….………………. 50
4.1 As percepções de Violência Intrafamiliar contra a criança na visão docente
……………………………………………………………………...…………….…………….. 50
4.2 Do ambiente familiar aos impactos na vida escolar da criança
………....………………..................................................................................……...…… 52
4.3 A relação entre os pais e professores das crianças vítimas de Violência
Intrafamiliar ……………………………………………………………....………………….. 54
4.4 Ações pedagógicas e Formação Docente: uma maneira de compreender os
tipos de Violência Intrafamiliar ……........………………………....……………………… 56
4.5 Notificações escolares: uma forma de proteção ………..…………………………. 60
4.6 A Violência Intrafamiliar no período de Isolamento Social …..………………….. 63

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS …………………………………………………………...…. 67

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ……………………………………....…....………. 69

APÊNDICE A - Roteiro de entrevista semiestruturada para profissionais da


educação …....…………...………………………………………………….……………..… 76
9

1 INTRODUÇÃO

Ao se falar de família, logo se pensa em um ambiente que seja agradável,


acolhedor, afetuoso e que estimule as crianças a se desenvolverem da melhor forma
possível. A família é vista como a primeira ligação que a criança tem no contexto social
e por ser/estar entrelaçada de fatores sociais, ela é considerada como uma estrutura que
está sempre em mudanças.
Atualmente, o conceito de família tem passado por diversas mudanças em relação
à ideia tradicional de que o núcleo familiar deve ser somente composto por pai, mãe e
filho(s), quando, na realidade atual, há uma diversidade e mescla de núcleos familiares,
como por exemplo, dois pais e um filho. A violência contra a criança pode ser configurada,
segundo Minayo (2001, p. 26) como “todo ato ou omissão cometido pelos pais, parentes,
outras pessoas e instituições capazes de causar dano físico, sexual e/ou psicológico à
vítima”.
Na grande maioria das situações de violência contra a criança, relaciona-se a uma
imposição de poder dos responsáveis sobre a criança ou pela quebra da expectativa que
os pais possuíam em relação às atitudes e conquistas dos filhos. Quando esses não
conseguem atingir as expectativas de seus pais, ocorrem castigos, sendo eles por meio
das violências físicas e/ou psicológicas.
A Violência Intrafamiliar é uma forma de violência contra a criança ainda
significativamente subnotificada, pelo motivo de ocorrer em um espaço privado,
constituído de regras próprias. Professores e toda a sociedade que acompanha as
crianças são responsáveis por denunciar qualquer tipo de violência contra estas, de
forma a assegurar que os direitos dessas crianças que convivem nos meios de Violência
Intrafamiliar sejam cumpridos pela lei.
Para que houvesse um suporte legal em relação aos direitos das Crianças e dos
Adolescentes, no que tange a relação às situações de maus tratos, abandono, exclusão
entre outros fatores que não proporcionam à criança uma vida digna, segura e saudável,
foi promulgada a Lei de nº 8.069 de 13 de julho de 1990, nomeada de Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA). Em seu artigo 4º, o texto que se refere ao fato de que:
10

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público


assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária. (ECA, 1990, p. 16).

As crianças que passam por essas situações no contexto familiar, costumam


apresentar ou não, alguns sinais sobre o que têm acontecido nos ambientes familiares,
refletindo assim suas atitudes nos ambientes escolares. Ainda assim, muitas crianças
preferem não comentar sobre as agressões sofridas por vergonha e/ou medo. De acordo
com Miller (2008), essas crianças, que conseguem comunicar-se de forma verbal ou não
depois de ocorrido tal fato, expressam-se através de poucas habilidades sociais, sendo
agressivas e hostis com outras pessoas ou também apresentando um comportamento
retraído e medroso.
O foco desta pesquisa volta-se para as crianças que sofrem violências dentro do
ambiente familiar (Violência Intrafamiliar). Deste modo, houve a necessidade de
pesquisar-se quais são os impactos que essa violência pode gerar na vida dessas
crianças, principalmente dentro do contexto escolar, tendo implicações na aprendizagem.
Nesse sentido, se pergunta se é possível que a escola seja um local de percepções de
casos de Violência Intrafamiliar contra os seus alunos, em razão de que este é o ambiente
no qual estes passam a maior parte de seu tempo.
É possível ainda, que os gestores de escolas e os docentes, devem se atentar a
esse problema social a fim de proteger os alunos, buscando desempenhar seu papel
pedagógico e a também se atentando aos casos de Violência Intrafamiliar contra seus
alunos, a fim de realizar denúncias caso seja necessário. A formação dos educadores os
prepara para identificar as mudanças comportamentais dos alunos, possibilitando nos
seus desenvolvimentos de habilidades e de maiores interesses pelas atividades
escolares, promovendo a aprendizagem.
Com isso, a pesquisa tem o intuito de discutir os conceitos de violência em sua
amplitude geral, a Violência Intrafamiliar e a violência contra a criança. Assim como o
Estatuto da Criança e do Adolescente trata os direitos e deveres que são relacionados à
fase infantil da vida. Bem como a escola e seus agentes educadores, identificam os sinais
da violência intrafamiliar que ocorre contra a criança.
11

1.1 Problema

A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2002, p. 5) define violência como uso


intencional da força física ou poder, real ou em ameaça, contra si próprio, outra pessoa
ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de
resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação.
Dentro desse conceito existem vários tipos de opressões, mas neste trabalho será
destacada apenas a Violência Intrafamiliar contra crianças, que envolve agressões
físicas, psicológicas, abandonos e sexuais, sendo que nesta última todas as agressões
estão relacionadas.
O público infantil, considerado vulnerável, frágil e pelo fato de não compreenderem
os seus direitos por lei, sofrem com esse tipo de ação do adulto. Somente no ano de
2018, de acordo com o Disque 100, canal de denúncias do Ministério da Mulher, da
Família e dos Direitos Humanos foram registradas 152.178 denúncias relacionadas à
Violência Intrafamiliar contra a criança, podendo gerar traumas ou formar outra pessoa
violenta.
Por isso, dentro do contexto escolar torna-se necessário desenvolver a empatia e
a capacidade de percepção por parte dos gestores e professores em relação a esses
casos. Pensando nesses pressupostos, quais seriam as medidas cabíveis que esses
profissionais da educação deveriam tomar ao lidar com esses problemas, que se passam
na vida familiar dessas crianças, e que de certa forma impactam suas vidas escolares?
Quais seriam as melhores formas de auxiliar a criança vítima de Violência Intrafamiliar
durante o processo de aprendizagem? Quais os impactos psicológicos que a Violência
Intrafamiliar pode causar no aluno? A Violência Intrafamiliar pode afetar o comportamento
das crianças na escola? Essa violência pode estar relacionada a questões
socioeconômicas? Pode causar dificuldades de aprendizagem no âmbito escolar? Frente
a tantas interrogações, a questão central desta pesquisa é: Quais seriam as medidas
cabíveis que esses profissionais da educação deveriam tomar ao lidar com os casos de
Violência Intrafamiliar contra as crianças no ambiente escolar?
12

1.2 Objetivo Geral

Analisar as implicações da Violência Intrafamiliar para o processo de


aprendizagem de crianças que são vítimas de agressões.

1.3 Objetivos Específicos

● Realizar um levantamento teórico-conceitual sobre a evolução, contextualização e


relação dos conceitos de família, infância, criança e Violência Intrafamiliar contra a
criança;
● Verificar a relação entre a dificuldade de aprendizagem e a Violência Intrafamiliar;
● Analisar os conhecimentos que as professoras entrevistadas possuem em relação a
Violência Intrafamiliar; e
● Identificar as atitudes realizadas pelas professoras entrevistadas e suas reações ao
verificar os alunos vítimas de Violência Intrafamiliar.

1.4 Justificativa

A Violência Intrafamiliar contra as crianças no Brasil tem chegado a números


desoladores. De acordo com o Portal G1 (2020), foram registradas 26.416 denúncias
apenas no período de março e junho do ano de 2020, ocorrendo sobretudo dentro do
contexto familiar. A imprensa denuncia que as crianças têm sido abusadas, violentadas
e maltratadas dentro das suas casas, por pessoas em quem confiam, as quais refletem
em diversos âmbitos de suas relações.
Trata-se de uma relação enfrentada por muitas crianças, principalmente de
escolas públicas localizadas em comunidades com um nível socioeconômico menos
favorecido. Esta pesquisa se justifica por destacar este fenômeno na escola. Ela contribui
para se compreender o fato de que essa temática abrange todo um contexto social, que
é marginalizado e que interfere na vida das crianças. Dessa forma, compreender as
percepções e ações que os docentes têm implementado diante dos casos ocorridos com
os alunos e as formas de auxiliá-los no processo de ensino-aprendizagem, pode
contribuir para o campo de formação docente.
13

Com isso, será possível que profissionais da área da educação tenham maior
conhecimento e informações sobre a Violência Intrafamiliar contra a criança. Da mesma
forma, a pesquisa auxiliará no seu desenvolvimento profissional, sabendo proceder em
casos de percepção de Violência Intrafamiliar contra a criança, realizando identificações
e denúncias, e encaminhando para os órgãos responsáveis.

1.5 Metodologia

A fim de identificar os impactos que a Violência Intrafamiliar contra a criança gera


tanto na vida escolar, e também, as percepções que os docentes possuem sobre essa
temática, bem como as melhores maneiras de auxiliar essas crianças e os devidos
encaminhamento aos serviços de proteção de crianças e adolescente, foram priorizadas
algumas etapas metodológicas necessárias para a realização dessa pesquisa.
Para a elaboração deste trabalho optou-se pela pesquisa qualitativa, não
desejando enumerar os fatores, mas procurando entendê-los da melhor maneira. De
acordo com Chizzotti (1995, p. 78): “a abordagem qualitativa parte do fundamento de que
há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre
o sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do
sujeito”. (CHIZZOTTI, 1995, p. 78).
Há a participação dos pesquisadores na investigação, observando, analisando e
atentando-se para as interconexões de relacionamento entre as pessoas de seu convívio
diário, de maneira que a pesquisa seja feita partindo dos conhecimentos que os
entrevistados têm acerca da temática da Violência Intrafamiliar, colaborando assim, para
a compreensão do problema da pesquisa.
Inicialmente, os instrumentos de coleta de dados seriam a pesquisa bibliográfica,
a pesquisa de campo, as entrevistas e as observações com educadores das escolas que
ofertam o Ensino Fundamental I. Porém, em função da pandemia da Covid-19 e todas as
consequências ocorridas devido a situação atual do Brasil, todas as escolas encontram-
se fechadas. Por esse motivo, a pesquisa foi realizada utilizando como instrumentos para
produção de dados, a pesquisa bibliográfica e entrevistas semiestruturadas virtuais,
ocorrendo por meio do aplicativo de videoconferência Google Meets®.
14

Com intuito de ampliar a compreensão do tema, investiu-se na pesquisa


bibliográfica, buscando a partir de artigos referentes à temática da Violência Intrafamiliar
contra crianças e referentes à percepção dos docentes acerca desse assunto. Lira (2014)
refere-se a pesquisa bibliográfica como aquela que se realiza, apenas, através, de livros,
jornais, revistas, folhetos, informativos, sites.
Para a realização da pesquisa bibliográfica, foi necessário que tivéssemos definido
o tema pelo qual a pesquisa foi desenvolvida, com isso escolhendo os melhores textos
que se encaixem dentro dos objetivos pré-estabelecidos para a elaboração do trabalho.
Para isso, utilizou-se a base de dados Scielo indicações de leituras feitas pela
orientadora e empréstimos de livros da Biblioteca Padre Alberto Antoniazzi localizada no
campus Coração Eucarístico da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC
Minas) em Belo Horizonte, a fim de utilizar os textos necessários para o desenvolvimento
do TFG.
Devido ao período de isolamento social, o contato com as professoras deu-se por
meio do aplicativo online de conferência de vídeo Google Meets®. A partir dessa
plataforma, foram realizadas utilizando-se o modelo de entrevistas semiestruturadas
virtuais. A entrevista semiestruturada para Triviños (1987):

[...] Tem como característica questionamentos básicos que são apoiados em


teorias e hipóteses que se relacionam ao tema da pesquisa. Os questionamentos
dariam frutos a novas hipóteses surgidas a partir das respostas dos informantes.
O foco principal seria colocado pelo investigador-entrevistador. Complementa o
autor, afirmando que a entrevista semi-estruturada “[...] favorece não só a
descrição dos fenômenos sociais, mas também sua explicação e a compreensão
de sua totalidade [...]” além de manter a presença consciente e atuante do
pesquisador no processo de coleta de informações. (TRIVIÑOS, 1987, p. 152).

A realização das entrevistas semiestruturadas nos possibilita a chegar a dados


que nos auxiliarão na análise e na conclusão da pesquisa, com o intuito de unir as teorias
com as realidades vivenciadas por essas profissionais da educação participante da
pesquisa, quando se referem a temática da Violência Intrafamiliar contra a Criança e as
Percepções dos docentes.
15

Essas entrevistas foram realizadas a partir de dezenove perguntas abertas pré-


definidas1 e que foram feitas às participantes do estudo. A partir de suas respostas
positivas para colaborar com a pesquisa, foi estabelecido uma relação de conforto para
que as participantes da pesquisa ficassem à vontade e levantassem diferentes
questionamentos e também pudessem compartilhar mais sobre as suas vivências.
As questões versaram sobre experiências das professoras em sala de aula, no
tocante a seus conhecimentos sobre a Violência Intrafamiliar contra a criança. Expôs
suas percepções sobre os comportamentos das crianças, sobre os melhores
procedimentos pedagógicos para auxiliar essas crianças vítimas de Violência
Intrafamiliar, e sobre as relações familiares com a escola e as medidas tomadas pela
escola.
Foram entrevistadas um total de quatro professoras regentes, que atuam na etapa
do Ensino Fundamental I - anos iniciais na rede pública em escolas municipais e
estaduais, localizadas nas regiões Norte e Oeste da cidade de Belo Horizonte/MG. Com
o intuito de preservar a identidade pessoal das participantes, foram atribuídos nomes
fictícios para cada uma delas, por ordem de entrevistas realizadas, sendo elas: Ana,
Maria, Rosa e Margarida.
As entrevistas foram realizadas no ano de 2020. Ana na data de vinte e um de
agosto, durando em torno de uma hora e vinte minutos; Maria no dia vinte e oito de
agosto, com duração média de duas horas e vinte minutos; Rosa no dia dezoito de
setembro, com duração em torno de quarenta e cinco minutos; e a entrevista de
Margarida ocorreu dia vinte e um de setembro, com duração média de cinquenta minutos.
As entrevistas executadas foram feitas por meio da plataforma online de
conferência de vídeo Google Meets®, foram gravadas pelo aplicativo “Gravador de Tela”
e, durante a entrevista semiestruturada, foram feitas anotações em cadernos a partir das
respostas elaboradas pelas professoras participantes. Depois de feitas, as entrevistas
foram transcritas e analisadas cuidadosamente pelas pesquisadoras.
Da mesma maneira, com o intuito de preservar o nome das instituições de ensino
que as entrevistadas atuam, sendo três escolas que oferecem o Ensino Fundamental I -

1
Ver apêndice.
16

anos iniciais, chamaremos de Escola Educacional Saber (E.E.S), Colégio Construir (C.C)
e Escola Municipal Aprender (E.M.A).
A professora Ana tem trinta e um anos, é graduada em Pedagogia, especialização
em Neuropsicopedagogia e em Programação na área da informática, com experiência
em coordenação escolar. É professora de uma turma do 3º ano do Ensino Fundamental
I e leciona na Escola Educacional Saber.
A professora Maria tem quarenta e três anos, é formada no Magistério do Ensino
Médio e no curso Normal Superior. Ela atua como professora do 3º ano do Ensino
Fundamental I e também leciona na Escola Educacional Saber.
A professora Rosa tem trinta e sete anos, é graduada em Pedagogia e fez
especialização em Psicopedagogia. Ela atuou como professora de Ensino de Jovens e
Adultos (EJA) em alfabetização e letramento, possui mestrado em Educação e está
realizando o doutorado em Estudos da Linguagem. Atua com alunos do 1° ano do Ensino
Fundamental I, no Colégio Construir.
A professora Margarida tem trinta e sete anos, é graduada em Pedagogia, tem
especialização em Psicopedagogia e em Alfabetização e Letramento. Ela cursa
especialização em Justiça Restaurativa e possui experiência na Diretoria de Educação
da Região Noroeste. Atualmente Margarida leciona para o quinto ano do Ensino
Fundamental I, na Escola Municipal Aprender.
Esta monografia está organizada em cinco capítulos. Iniciado pela Introdução, na
qual há uma breve discussão e referência sobre a temática principal que será abordada
ao decorrer de todo o Trabalho Final De Graduação (TFG), além de abordar a justificativa,
problemas, objetivos e metodologia que pautam esta pesquisa.
O Capítulo 2, aborda sobre a evolução dos sentimentos e ideias de família, criança
e infância, devido às mudanças ocorridas na sociedade e com isso as dando maior
importância ao sujeito central dessa pesquisa que é a criança. Nesse segundo capítulo,
focaliza-se esses sujeitos, por serem os principais envolvidos quando se aborda a
temática da Violência Intrafamiliar.
Para o Capítulo 3, a temática principal estrutura-se nos conceitos da violência
como um fator social e cultural, bem como a diferenciação de Violência Intrafamiliar e
17

doméstica, focalizando nos diversos tipos que atingem as crianças e seus impactos sobre
elas.
No Capítulo 3, remete-se a análise dos dados obtidos com as professoras
participantes da pesquisa, na qual aborda-se a percepção que elas têm acerca da
temática da Violência Intrafamiliar, baseando em suas experiências dentro de sala de
aula, suas opiniões sobre as formações e atitudes realizadas que tem o intuito de buscar
melhorar um pouco a vida e desenvolver o aprendizado dessas crianças vítimas.
Por fim, e não menos importante, as Considerações Finais, na qual é realizado
uma síntese de tudo o que foi abordado na pesquisa, dando o parecer sobre os objetivos
e questões que permearam a discussão acerca da temática de Violência Intrafamiliar
contra crianças.
18

2 A EVOLUÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO DE FAMÍLIA, INFÂNCIA E CRIANÇA

Para a construção desse segundo capítulo, serão abordadas as concepções e


conceitos elementares que farão parte desse trabalho, como os conceitos referentes à
família, tal como a grande diversidade de núcleos familiares existentes atualmente.
Introduzindo as concepções de criança e a infância como destaque para como elas foram
vistas no passado e como são compreendidas atualmente e como a criação de
documentos e leis que se preocupam com o bem estar e a proteção das crianças.
Essas crianças passaram a ser percebidos de formas diferenciadas devido às
mudanças de comportamento, estilo de vida que ocorreram na sociedade, o que permitiu
que os integrantes que compunham o núcleo familiar dessem maior importância ao
reconhecimento e ao cuidado com as crianças.

2.1 Conceito de Família

A família vem passando por mudanças ao longo dos tempos, tanto em seu
significado, quanto em sua composição. De acordo com o Ministério da Saúde (2002), a
família é o primeiro núcleo de socialização dos indivíduos; quem primeiro transmite os
valores, usos e costumes que irão formar as personalidades e o componente emocional
das pessoas. Chama-se de família ao grupo de pessoas com vínculos afetivos, de
consanguinidade ou de convivência.
Por essa razão, pode-se entender que nem sempre o conceito de família foi o
mesmo que se conhece atualmente. Por exemplo, a relação entre pais e filhos durante a
Idade Média era restrita à conservação de ofícios. De acordo com Ariès (1981):

A transmissão dos valores e dos conhecimentos, e de modo mais geral


a socialização das crianças, não eram asseguradas nem controladas
pelas famílias. [...] Essa família antiga tinha por missão a conservação
dos bens, a prática comum de um ofício, a ajuda mútua quotidiana num
mundo em que tem homem, e mais ainda uma mulher isolados não
podiam sobreviver, e ainda, nos casos de crise, a proteção da honra e
das vidas. Ela não tinha a função afetiva. (ARIÈS, 1981, p. 10).
19

Segundo Ariès (1981, p. 04), a passagem da criança pela família era muito breve
e muito insignificante para que tivesse tempo ou razão de forçar a memória e tocar a
sensibilidade dos envolvidos. Dessa forma, não se tinha tempo de criar laços afetivos
entre eles.
Todos os conhecimentos apreendidos pelas crianças juntamente com outras
pessoas que não eram de sua própria família, permitiam que estas participassem da vida
dos adultos sem nenhuma restrição ou impedimento. Por esse motivo, essas crianças
eram consideradas apenas como “adultos em miniatura”, já que o trabalho,
principalmente o doméstico, era uma forma muito comum de educação.
A escola tornou-se o lugar das aprendizagens e, portanto, levaria as crianças a
uma nova forma de aprendizagem. Assim elas não necessitavam mais ficar
acompanhando os adultos em seus afazeres, para aprender o trabalho e os saberes que
são restritos à família, diretamente com os familiares.
A partir da criação da escola, as crianças passaram a ser mantidas nos colégios,
começando assim o processo de escolarização. De acordo com Coelho (2007), o século
XVIII passa a ser o período de valorização das tarefas educativas, sendo a infância
considerada como um período de vida que exigia proteção. Deste modo, as famílias
passaram a se relacionar de maneira mais afetiva com as crianças, principalmente
quando se associavam à importância que passou a ser atribuída à educação escolar.
A partir dos estímulos que são oferecidos para a criança, será possível
desenvolver suas relações primordiais, baseando em seus aprendizados adquiridos no
ambiente familiar e na vivência com os próximos. Evidencia-se o ambiente familiar como
o local que representa os primeiros aprendizados de vida social dessas crianças. Para o
Ministério da Saúde (2002):

A dinâmica e a organização das famílias baseiam-se na distribuição dos afetos,


criando, no espaço doméstico, um complexo dinamismo de competições. Essas
disputas são orientadas pelas diferenças de poder entre os sexos e, no contexto
afetivo, motivadas pela conquista de espaços que garantam o amor, o
reconhecimento e a proteção, necessidade básica da condição humana.
(BRASIL, 2002, p. 13).

A família é aquela que tem o dever de proteger aqueles que são considerados os
mais frágeis, como as crianças e os adolescentes. Dessen e Braz (2005) definem família
20

como um agrupamento social complexo, composto por subsistemas integrados e


interdependentes, que estabelece um contato bidirecional e de mútua influência com o
contexto sócio-histórico onde está inserido. A Constituição Federal de 1988, no seu
capítulo VII da Família, da Criança e do Adolescente, no Art. 227, afirma que:

É dever da família, sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente


e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de
toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão. (BRASIL, 1988).

Neste sentido, segundo Coelho (2007), a família que pensamos hoje, do ponto de
vista da variação em sua forma e arranjos e em sua organização particular, não é a
mesma que existia no Brasil colônia, ou mesmo no início do século passado, bem como
a de outras sociedades e culturas. Verifica-se atualmente que com o passar dos anos, as
famílias têm se tornado menores, com pais e filhos se vendo poucas vezes durante o dia
no espaço familiar. De acordo com Coelho (2007):

Da mesma forma o “sentimento de família”, o significado dado ao “valor” da


família como lugar o de ser um lugar privado, de pertencimento, proteção, apoio
e segurança para o indivíduo, que promove sua individuação, também apresenta
sua diversidade nos diferentes segmentos de classe, na temporalidade e na
diversidade cultural. (COELHO, 2007, p. 194).

Dessa maneira, é importante considerar o fato de que a relação entre os membros


da família modifica-se de acordo com o momento e com a sociedade em que está sendo
organizada, enxergando a família como uma instituição social, respeitando as variações
que ocorre tanto no ambiente privado do lar, como no público da sociedade em que se
esteja inserida.

2.2 A reestruturação familiar a partir das mudanças na sociedade

Até o final do século XIX havia um conceito tradicional de família em que esta
deveria ser uma instituição natural que necessitaria de laços consanguíneos. Esta
composição definia que a família era formada por um pai, uma mãe e os filhos. Nesta
21

composição os encargos e deveres eram previamente determinados e as famílias que


não seguissem esse modelo, seriam consideradas uma aberração, por estar
transgredindo a ordem divina. Nessa concepção, o responsável é o pai e os outros
membros são apenas subordinados às suas ordens, constituem o modelo familiar
patriarcal.
A família tradicional era, assim, administrada pelo poder hierárquico do homem
para os demais. Segundo Coelho (2007), no ideal hierárquico, a família organiza-se por
relações de poder em que o homem era considerado superior à mulher e aos filhos,
cabendo a ele o sustento da família e, à mulher, submissa a ele, o cuidado da casa e das
crianças. Segundo Romanelli (1955, p. 75):

A família possui atributos básicos, isto é “uma estrutura hierarquizada”, no interior


da qual o marido/pai exerce autoridade e poder sobre a esposa e os filhos; a
divisão sexual do trabalho fica bastante rígida, separando de forma distinta as
atribuições masculinas e femininas. (ROMANELLI, 1955, p. 75)

Essa concepção tradicional de família revela o abuso de poder verticalizado que é


sempre proveniente do pai/marido para com os outros membros da família. Privilegia o
homem que obtém a obediência dos filhos e da esposa, baseado no medo e na
hierarquia. Porém, nas últimas décadas, com a expansão da escolaridade e também do
mercado de trabalho, pelas transformações econômicas, essa autoridade patriarcal
passou a ser questionada.
A partir da busca pela igualdade de direitos para as mulheres ao entrarem no
mercado de trabalho, cada vez mais o núcleo familiar foi se transformando. Entretanto
ainda existem diferenças e desigualdades relativas ao gênero que não foram abolidas.
Atualmente, o conceito de família tem passado por diversas mudanças em relação
à ideia tradicional. Essa ideia vem sendo desconstruída e há maior flexibilização em
relação a como pode ser a composição familiar. Portanto, verifica-se que há uma
diversidade de concepções e constituições familiares. De Acordo com a Augusto (2015):

A família passou a ser vista como um instrumento de desenvolvimento pessoal


de cada indivíduo, e não mais como uma instituição. Essa mudança filosófica e
institucional ainda não está completamente difundida na sociedade atual, porém
encontra-se em crescente consolidação. Tal mudança se deu principalmente pelo
princípio da dignidade da pessoa humana, vez que hoje há uma proteção maior
22

à pessoa, à sua felicidade e a seus direitos individuais. Não há mais que se falar
em obrigação matrimonial, hoje as pessoas podem se divorciar de forma imediata
caso queiram, inclusive, sem o consentimento do outro cônjuge ou da família,
não há mais a figura do chefe de família, sendo cada indivíduo responsável por
suas escolhas, possuindo o livre arbítrio e não há mais que se falar em uma
família patrimonializada, vez que a via que cria os laços familiares é subjetiva e
depende do elemento volitivo das partes. (AUGUSTO, 2015, p. 4).

Outra composição de núcleo familiar que atualmente é comum são as famílias


monoparentais. São aquelas famílias compostas por apenas um dos pais da criança ou
adolescente, sendo que majoritariamente essas famílias são compostas por mulheres e
filhos. Com o ingresso das mulheres no mercado de trabalho, elas passaram a assumir
dupla jornada de trabalho, no trabalho remunerado nas empresas e serviços contratados,
mas são elas também as responsáveis pelo trabalho doméstico ao voltarem para casa.
Segundo as Estatísticas de Registro Civil 2018 divulgadas pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) (2019), 9.520 casais homoafetivos decidiram se unir
formalmente, frente a 5.887 em 2017, o que representa um aumento de 61,7% dos
casamentos homoafetivos. Nos últimos anos, tem surgido um grande número de casais
homossexuais que decidem adotar crianças, construindo assim um novo núcleo familiar
homoparental, que tem crescido significativamente no Brasil. Segundo Sarti (1996) e
Machado (2001) citado por Coelho (2007, p. 205):

Na particularidade da instituição familiar, há uma variação tanto no aspecto


funcional da família como em seus valores e crenças, que fazem parte da
especificidade de sua cultura. Enquanto nas camadas média e alta da sociedade,
a emergência do individualismo se faz mais presentes, nas camadas populares
o valor da família como valor moral tem sido o da honra, da solidariedade e
reciprocidade, com os valores patriarcais e tradicionais predominantes sobre a
individualidade e constituintes das relações simbólicas. (SARTI, 1996;
MACHADO, 2001 apud COELHO, 2007, p. 205).

Portanto, a família é considerada um grupo de pessoas que pode sofrer alterações


de acordo com o tempo e com as mudanças culturais e sociais. Assim, a concepção de
família pode mudar em consonância com a própria vontade da população ou das
modificações que a sociedade vem sofrendo ao longo dos acontecimentos que são
gerados.
Trata-se de um conceito que vem se transformando de acordo com a necessidade
ou com as experiências das pessoas. E, o importante para a formação de um núcleo
23

familiar, é de que haja construção de afetividade, amorosidade e carinho entre os


envolvidos. Ao se remeter às famílias, deve-se considerar as particularidades da
sociedade brasileira que impactam diretamente no comportamento e estruturação
familiar.

2.3 Novas configurações de Família

Essas mudanças ocorridas de acordo com as mudanças da sociedade produz uma


categoria de família divergente da tradicional, sendo grupos familiares minoritários, que
passam a ser mais violentados, tanto fisicamente, quanto psicologicamente. Em razão
disso, por não apresentarem seus direitos solidificados, a necessidade de conquistar e
apoderar-se de suas garantias efetivas.
De acordo com a Constituição de 1988, no artigo 226 parágrafo 3º, que para efeito
da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como
entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. A união estável é
similar ao casamento, pode ser considerado como um casamento informal, pelo fato de
existir uma união entre um homem e uma mulher, duradoura e com testemunhas; a
família monoparental
Conforme citado na Constituição de 1988, no artigo 226 parágrafo 4°, “entende-
se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus
descendentes”, se refere a presença de um pai ou de uma mãe responsabilizado por
todos os cuidados com a criança, podendo advir de abandono, divórcio ou até mesmo
morte de um dos pais. Essas são as configurações de famílias estabelecidas no direito
brasileiro.
Mesmo com a diversidade de núcleos familiares que são encontrados no Brasil
atualmente, a forma de encarar a criança como uma fase natural da vida humana, em
que sua dependência é muito acentuada, pouco mudou com o passar do tempo. A partir
disso, encontram-se alguns dos conceitos que se referem aos núcleos familiares
presentes na sociedade.
24

2.3.1 Família Monoparental

Uma das configurações familiares mais encontradas atualmente, é a família


monoparental, na qual pode se constituir de apenas um representante, seja a mãe ou o
pai, e com o descendente ou descendentes, e só foi reconhecida como família pela
Constituição de 1988, para garantir os direitos desse núcleo. De acordo com Leite (2003)
considera a família monoparental, aquela em se encontra o pai ou a mãe, responsável
por uma ou mais crianças, sem a presença de um (a) parceiro (a).
Esse núcleo pode se formar pela morte de um dos pais, pelo divórcio, por
abandono, inseminação artificial e outros meios que podem causar ou passar a
responsabilidade para apenas um dos progenitores.

Muitas vezes essas mães, que também são o “pai” e chefe de família, saem de
casa bem cedo, para trabalhar e ficam afastadas da vida cotidiana de seus filhos,
retornando às suas casas apenas à noite. [...] Os relatos evidenciam dificuldades
financeiras e o reduzido contato entre mãe e filho(s), sendo a falta de tempo um
elemento forçosamente incorporado à rotina da mulher, que tem como prioridade
sair de casa para trabalhar. (BRITO, 2008, p. 44).

Sobre os dizeres de Brito (2008, p. 46), a família monoparental, formada por


apenas um dos pais, pode apresentar alguns obstáculos no seu cotidiano. Esse chefe
familiar, pode enfrentar muitos problemas e dificuldades, dentre eles encontra-se o
preconceito.
As famílias compostas por mães solteiras geravam escândalo, tais mulheres eram
discriminadas por não terem um marido presente em sua composição familiar. Por mais
que a sociedade tenha se desconstruído sobre a família tradicional, ainda podem ser
vistos comentários maliciosos.
Outra dificuldade encontrada, seria no crescimento de responsabilidades por parte
do “chefe” da família. O responsável, além de ter que trabalhar fora para sustentar a
família, ao chegar em casa, ainda deve se preocupar com os afazeres domésticos e com
os cuidados com os filhos, tendo de alimentar, acompanhar nos estudos, dar atenção
para o filho em diversos aspectos.
25

2.3.2 Família Homoafetiva

Essa composição familiar pode ser constituída por duas mulheres ou dois homens
e o(s) filho(s), contanto que exista afetividades na relação. Assim como para Costa e
Filho (2015) o termo usado para esse grupo era “homossexual”, a palavra “homo” tem
origem no grego antigo significa igual e a palavra “sexus” que tem origem do latim,
significando sexo, ou seja, juntando os temos se torna “mesmo sexo”.
De acordo com Alves (2014, p. 31), “esta configuração familiar é constituída pela
união de duas pessoas de mesmo sexo (gênero), as quais formam entre si laços afetivos.”
Para a formação desse grupo, é importante, assim como o nome do núcleo projeta, que
haja afetividade entre os envolvidos. Este grupo familiar, apesar de já ser reconhecido
como família pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e mesmo pelo seu crescente
aparecimento nos últimos anos, como exibido nesta pesquisa, foi, e ainda é, alvo de muito
preconceito e repugnação. Atualmente, essa composição ainda não é completamente
aceita pela sociedade, mas em comparação há anos, pode ser observado a
desconstrução dessa ideia.
Outro motivo que pode gerar preconceito é pela questão religiosa. Os valores
pregados por algumas crenças, podem tornar-se verdade absoluta para alguns fiéis, e
estes não aceitam a contrariedade que os indivíduos vivem fora da verdade de seus
fundamentos. Dessa forma, os indivíduos que não respeitassem tais princípios, poderiam
não ser bem vistos e/ou serem considerados pecadores.

2.3.3 Família Poliafetiva

A poliafetividade também é um núcleo familiar, porém não são vistas


frequentemente quanto às demais. Segundo Brando (2018), são laços afetivos entre mais
de duas pessoas, como por exemplo, dois homens e uma mulher, dois homens e duas
mulheres, que vivem uma relação conjugal juntos em uma casa, sem a necessidade da
realização de um casamento civil, apenas a junção informal.

A palavra “poliafetividade” é, em si, um neologismo cunhado para designar casos


em que há um único relacionamento afetivo entre mais de duas pessoas, que se
26

aceitam e convivem entre si, em configurações que, muitas vezes, assumem o


caráter de um núcleo familiar. (CARIGÉ, 2019, s/p).

A poliafetividade, trata-se de uma configuração diferente da poligamia, na qual se


define como permissão para a pessoa realizar mais de um matrimônio. No núcleo
poliafetivo é necessário ter a união estável dos envolvidos. Essa união não é tão comum
quanto às demais, de ser vista, mas, assim como a família homoafetiva, é necessário que
na relação haja afetividade e carinho entre os envolvidos.

2.4 A infância e a criança: concepções modificadas pelas sociedades

De forma a iniciar a discussão sobre a infância, Silva e Souza (2008) afirmam que
“A palavra Infância é composta pelo prefixo de negação in, e pelo radical fante, particípio
passado do verbo latino fari, significando falar, dizer. Então a infância em sua origem
significa aquele que não fala, que não tem palavra, que não tem voz”. (SILVA; SOUZA,
2008, p. 22).
De acordo com o dicionário online Michaelis (2020), o termo infância possui cinco
significados, o primeiro deles diz que infância é o "período da vida, no ser humano, que
vai desde o nascimento até o início da adolescência; meninice, puerícia" (MICHAELIS,
2020, s/p). Esse significado há algumas décadas atrás não representava o que se
pensava sobre a infância. Para Antunes (2010), a construção do sentimento de infância
começa a surgir a partir do século XVII, juntamente com o processo de transição para a
sociedade moderna. A história da infância é marcada pela discriminação, pela
marginalização e pela exploração.
Nesse contexto, ao imaginar a criança como um adulto em miniatura, fez com que
elas fossem alvos de relações de maus tratos e agressões em diversas instituições
sociais. Muitas crianças trabalhavam para complementar a renda familiar por causa do
baixo salário dos pais. Com isso, as indústrias justificavam a exploração do trabalho
infantil como sendo uma proteção para evitar que essas crianças ficassem nas ruas,
sendo assim a composição de seus futuros.
Dessa maneira, é necessário compreender que “o olhar sobre a infância e a
criança e ainda sua valorização na sociedade não ocorrem nem ocorreram sempre da
27

mesma maneira, e sim da forma como a organização de cada sociedade e suas


estruturas culturais, sociais estavam no momento”. (MAIA, 2012, p. 30). O conceito de
infância muda de acordo com o contexto social, histórico e econômico, por isso é
importante ser analisado de acordo com o período vivenciado.
Em linguagem coloquial e no discurso científico, a infância é comumente
caracterizada como um período (QVORTRUP, 2010, p. 634). A fase compreendida como
a infância, no período da idade antiga e média, não tinha a atenção necessária com a
criança, que após os 7 (sete) anos de idade era enviada para outra família com o intuito
de ser educada.
O primeiro sentimento de infância, conforme descrito por Ariès (1981), dá-se a
partir da “paparicação", no qual a criança nos seus primeiros anos de vida, era uma forma
de distrair o adulto, enquanto ainda era engraçadinha. “O sentimento de infância não
significa o mesmo que afeição pelas crianças: corresponde à consciência da
particularidade infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a criança do
adulto, mesmo jovem.” (ARIÈS, 1981, p. 156). As pessoas se divertiam com a criança
pequena, como um animalzinho, um macaquinho impudico, não havendo apego
emocional com essas crianças, já que conforme Ariès (1981), elas poderiam ser
substituídas caso chegassem a falecer, o que era bastante comum na época.
A noção de infância que existe hoje, torna-se mais conhecida a partir do século
XVI e XVII, no qual ensinavam-se as maneiras de disciplinar e formar uma criança.
Conforme Ariès (1981):

É entre os moralistas e os educadores do século XVII que vemos formar-se esse


outro sentimento da infância que estudamos no capítulo anterior e que inspirou
toda a educação até o século XX, tanto na cidade como no campo, na burguesia
como no povo. O apego à infância e à sua particularidade não se exprimia mais
através da distração e da brincadeira, mas através do interesse psicológico e da
preocupação moral. (ARIÈS, 1981, p. 163).

Durante o século XVIII, as tarefas educativas tiveram uma grande valorização e


com isso a infância passou a ser um período que necessitava de proteção. Essa
valorização das atividades educativas foi se estendendo até o século XIX, com a
preocupação da saúde e com a influência negativa da educação por parte das instituições
de ensino. Segundo Coelho (2007):
28

No Brasil Império, o modelo da família hierárquica predomina, mas a autoridade


do pai começa a ser diminuída pela presença maior do Estado no controle da
família. A ideia de moldar a natureza da criança através da disciplina, influência
da cultura europeia, era presente nos espaços destinados à criança - família e
escola. (COELHO, 2007, p. 209).

Esse fator demonstra a importância da escolarização sobre a vida das crianças, a


partir do momento em que o Estado passa a ter maior controle sobre a vida educativa
das crianças, grande parte das famílias ricas passaram a buscar as escolas com o intuito
de discipliná-las e educá-las de acordo com os padrões europeus.
Em relação às crianças escravizadas, a oportunidade de estarem em um ambiente
escolar era inexistente. Para Coelho (2007, p. 209) “[…] a criança da família escrava, que
convivia, ao mesmo tempo, na senzala e na família do senhor, tendo que obedecer ao
senhor e/ou seu filho e cedo tinha que iniciar a aprendizagem de um ofício, não indo à
escola”. Nota-se que a situação vivenciada pelas crianças de famílias escravizadas
remete-se à situação vivenciada pelas crianças abordadas por Ariès (1981), que não
possuíam outras atividades, além dos ofícios que eram aprendidos com os adultos.
Desviante da palavra infância, surge outro significado que vem dar origem à
palavra infantil, que de acordo com o dicionário Michaelis (2020, s/p), possui o significado
“[...] que é o próprio da criança que mostra pouco juízo e maturidade; imaturo, ingênuo,
tolo”. Em todos esses casos, retorna ao sentido anterior daquele que não fala, por isso,
a ingenuidade é relacionada a esse conceito.
Existem diversos significados para essa fase. Assim, esse conceito é determinado
pela forma que a percepção diz a respeito das práticas sociais, no qual “a infância é,
também, o que as pessoas consideram que ela é. As imagens e significados
compartilhados coletivamente determinam muitas formas de tratamento dadas a essa
faixa etária.” (SILVA; SOUZA, 2008, p. 26).
Para Silva e Souza (2008) a importância da infância não está em si mesma, mas
no seu futuro, de criança mais velha, de adolescente, de adulto. Sendo assim, demonstra-
se que a criança é tratada somente com o ideal do que ela virá a ser, sendo ignorado
todas as suas contribuições, enquanto crianças. Para Silva e Souza (2008, p. 30), “o
29

conceito dessa faixa etária como um ‘vir a ser’ tem um especial interesse para o campo
de formulações execuções políticas para essa idade”.
Ao abordar a condição de criança, de acordo com as Diretrizes Curriculares
Nacionais da Educação Infantil (DCNEI), pela Resolução Câmara de Educação Básica
(CEB) nº 5/2009, definem a criança como:

[...] sujeito histórico e de direitos, que, nas interações, relações e práticas


cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca,
imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e
constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura. (BRASIL,
2010, p. 12).

Partindo desse conceito de infância tem-se a compreensão sobre essa fase da


vida nos dias atuais, principalmente como a criança deve ser vista no ambiente social e
no ambiente escolar. Segundo Coelho (2007), a representação da criança é a de que ela
é totalmente moldável pelo ambiente.
No período da revolução industrial, principalmente nas camadas mais pobres da
sociedade, a criança era vista como uma mão de obra barata, nesse contexto surgiu a
“criança operária”. Assim, a partir desse momento, a criança deixou de ser vista como
um ser incapaz, como era anteriormente:

[...] nasceu a criança operária, potencial vítima das transformações econômicas,


sociais e familiares impulsionadas pela referida revolução. A sua mão de obra
era aproveitada e assumia-se muitas vezes como fundamental na manutenção
econômica do agregado familiar. (CASTRO, 2017, p. 8).

Somente a partir de movimentos filantrópicos, que visavam o bem estar da


criança, que a exploração da mão de obra infantil no contexto industrial foi diminuindo.
Outro conceito de criança, compreendido, baseia-se na definição descrita pelo
ECA (1990, p. 10) tratando a criança como “a pessoa até doze anos de idade
incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.” Sendo
considerado assim o fator da idade.

Até então a orientação da família e da escola ocorria dentro do ideal hierárquico;


os menos (imaturos - criança e adolescente) ocupavam o lugar de submissão, a
serviço do poder paterno, com aprendizagem de papéis diferenciados por sexo:
30

menino, para substitui o pai; menina: para aprender com a mãe. (COELHO, 2007,
p. 210).

A partir das mudanças ocorridas nos ambientes familiares e escolares, passou a


ter-se um enfoque maior no ideal igualitário, ressignificando o local da criança e a
colocando no lugar central, considerando todas as suas particularidades. Para Coelho
(2007, p. 211), “tanto a família quanto a escola enfatizam o lugar da criança como sujeito
de desejo e de direito, evidenciando-a como construtora de sua individualidade,
valorizando concepções como cooperação, autonomia e socialização."
Dessa forma, percebe-se que a concepção de infância e de criança, passou a ser
modificada variando com o contexto social, espacial e temporal, de acordo com a cultura,
entre as sociedades, até mesmo de acordo com a posição socioeconômica da família.
Para Moukachar (1996) citado por Coelho (2007) o tratamento de infância foi tornando-se
cada vez mais igualitário, com a atenção aos filhos passando a ocupar um lugar
privilegiado na mente dos pais.
O significado de criança ainda é muito recente e principalmente pelo fato de se
pensar nesses sujeitos como sujeitos sociais, que necessitam de cuidados especiais,
afeto e uma família que os permita se desenvolverem de forma saudável, feliz e
principalmente em um ambiente sem violência. A infância, diferentemente do que é vista
hoje, foi uma fase no qual a criança não possuía o reconhecimento como sujeito e sendo
assim, a forma de cuidado e tratamento se modificou com o passar do tempo.
Essa fase da vida ganhou notoriedade através dos estudos de Ariès (1981) e
tantos outros pesquisadores do campo da infância. A partir desses estudos, como
também a instauração dos colégios e instituições educacionais, as crianças passaram a
ser reconhecidas como sujeitos de direito. Com as mudanças ocorridas na sociedade,
passaram a receber maiores cuidados e afetividade de seus pais e responsáveis.
A partir de então, o ambiente familiar torna-se o local onde a criança deveria se
sentir segura, cuidada e se desenvolver enquanto sujeito para então ter os primeiros
contatos com as normas da sociedade. Isso tornou possível perceber as diferenciações
dos núcleos familiares existentes no Brasil, assim como em todas as partes do mundo.
Assim como a sociedade está em constantes mudanças, da mesma forma os membros
da família são influenciados de acordo com as situações vivenciadas na sociedade.
31

Dessa forma, a família deve cuidar e proteger as crianças, com o intuito de


proporcionar-lhes um ambiente que lhes permitam desenvolver-se sem nenhuma
complicação passada, presente ou futura.
O capítulo seguinte apresenta uma discussão sobre a Violência Intrafamiliar contra
as crianças, os principais tipos de violência que são cometidos contra elas, assim como
o uso da violência como uma forma educativa utilizada pelos pais e seus impactos no
desenvolvimento psicológico e escolar das crianças.
32

3 VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR CONTRA A CRIANÇA: quando a violência invade o


ambiente familiar e escolar

Neste capítulo, será abordado o conceito de violência e suas modificações com o


passar do tempo, visando o fato dela ser uma construção sociocultural que permanece
até os dias de hoje na sociedade.
Na segunda sessão será abordado a diferenciação entre Violência Intrafamiliar e
a violência doméstica, suas principais variantes e os impactos que ela gera para o
desenvolvimento da criança. Será tratado ainda os efeitos que essa violência gera no
contexto familiar quando utilizada como uma forma de ensino para disciplinar e punir as
crianças.

3.1 A violência e suas construções no contexto social

A partir da reportagem da Universidade Estadual Paulista (Unesp) (2014), desde


os primórdios da humanidade, existiu a violência, seja como uma forma de sobrevivência,
como posse ou como forma de demonstrar superioridade e controle. Na época atual, essa
temática vem sendo amplamente discutida em diversas áreas de conhecimento, como
na área da saúde, das sociais, da educação e outras. De acordo com o Ministério da
Saúde (2002):

A violência é um fenômeno que se desenvolve e dissemina nas relações sociais


e interpessoais, implicando sempre uma relação de poder que não faz parte da
natureza humana, mas que é da ordem da cultura e perpassa todas as camadas
sociais de uma forma tão profunda que, para o senso comum, passa a ser
concebida e aceita como natural a existência de um mais forte dominando um
mais fraco. (BRASIL, 2002, p. 19).

A violência no Brasil tornou-se parte da cultura, principalmente ao se relacionar a


violência com fatores de ordem social, política e subjetiva. A violência se encontra
principalmente nos ambientes onde há problemas sociais propícios ao seu
desenvolvimento. Quando ela não é questionada, acaba por ser banalizada e negada de
várias maneiras. Para Faleiros e Faleiros (2008):
33

[...] violência, aqui, não é entendida como um ato isolado, psicologizado pelo
descontrole, pela doença, pela patologia, mas como um desencadear de relações
que envolvem a cultura, o imaginário, as normas, o processo civilizatório de um
povo. (FALEIROS; FALEIROS, 2008, p. 30).

Pensando dessa maneira, a violência torna-se uma questão com raízes profundas
marcadas historicamente, socialmente e principalmente culturalmente. Não se limita ao
ato de agressão física e psicológica, mas também em diversas outras vertentes, tais
como: a desigualdade socioeconômica definida também como violência, caracteriza-se:
“[...] pelo destaque na atuação das classes, grupos ou nações econômicas ou
politicamente dominantes, que se utilizam de leis e instituições para manter sua situação
privilegiada, como se isso fosse um direito natural”. (MINAYO, 2010 apud FALEIROS;
FALEIROS, 2008, p. 32).
A violência além de ser uma expressão cultural é também uma maneira de
demonstrar poder ou controle sobre algo ou alguém. Pode ser um sentimento de
superioridade das pessoas em qualquer classe social e cultural. O conceito de violência,
de Michaud (1989) considera que há violência quando:

Numa situação de interação, um ou vários atores agem de maneira direta ou


indireta, maciça ou esparsa, causando danos a uma ou mais pessoas em graus
variáveis, seja em sua integridade física, seja em sua integridade moral, em suas
posses, ou em participações simbólicas e culturais. (MICHAUD, 1989, p. 11).

Algumas formas de violências não são reconhecidas por todas as pessoas de um


mesmo grupo como tal, devido à falta de conhecimento ou a naturalização e banalização.
Assim, além da violência física, também podem estar associadas a violência verbal,
psicológica, sexual, negligência ou abandono, moral e social. Por consequência a falta
de conhecimento das diversas formas de violência, vários cidadãos deixam de denunciar
atos violentos banalizados e naturalizados.
Os grupos familiares podem ser um centro para a execução da violência contra a
criança. Portanto, torna-se necessário compreender esse fenômeno, chamado violência.
De acordo com o Ministério da Saúde (1997), os principais tipos de violências
intrafamiliares sofridas pelas crianças são: as violências física, psicológica, sexual e
negligência. A caracterização de cada uma dessas formas de violência será tratada a
seguir.
34

3.1.1 A Violência Física: violação dos direitos humanos

Essa violência pode ser usada como um modo de demonstrar quem possui o
poder, a superioridade e a inferioridade de alguém, na qual deve respeitar a qualquer
custo. De acordo com o Ministério da Saúde (1997, p. 11), “corresponde ao uso de força
física no relacionamento com a criança ou o adolescente por parte de seus pais ou por
quem exerce autoridade no âmbito familiar.” A violência física também pode ser usada
como uma forma de correção, vista pelos pais e/ou responsáveis como punição para a
criança pelos erros cometidos.
Segundo Faleiros e Faleiros (2008, p. 35), “essa violência é acompanhada pelo
medo, pelo terror, pela submissão, pelo espanto, pelo sofrimento psíquico, constituindo-
se ao mesmo tempo em violência psicológica”.
Mesmo com a presença de marcas que ficam no corpo dessas crianças, como
lesões, machucados, traumatismos, arranhões e diversos hematomas, desnutrição e até
a morte. A violência física é acobertada pelo silêncio, negação ou mentiras (FALEIROS;
FALEIROS, 2008).
A prática desse tipo de violência contra a criança é uma violação dos direitos
humanos universais e dos direitos peculiares à pessoa em desenvolvimento, sendo
assegurado na Constituição Brasileira, no ECA e também na Normativa Internacional.
Previstas como crimes as lesões corporais dolosas e culposas, o Código Penal em seu
artigo 129 de 1940 corresponde a “ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem”.
Na maioria dos casos, as situações de Violência Intrafamiliar contra a criança são
principalmente notadas por profissionais da saúde, mas podem ser observadas por
pessoas como: professores, familiares, sociedade em geral. Neste sentido, qualquer
pessoa tem o dever de realizar a denúncia ao Conselho Tutelar e por se tratar de um
crime, a denúncia deve ser notificada aos órgãos policiais.

3.1.2 A Violência Psicológica: transtornos para o desenvolvimento

Qualquer comportamento que tende a ferir alguém emocionalmente, danificando


35

a autoestima, causando constrangimento, humilhação, ameaças ou qualquer outra ação


que cause danos psicológicos é identificado como violência psicológica. Segundo o
Ministério da Saúde, (1997, p. 13), “evidencia-se como a interferência negativa do adulto
sobre a criança e sua competência social, conformando um padrão de comportamento
destrutivo.” É o ato, partindo do adulto, que cause traumas na região psíquica da criança,
que seja desfavorável a ela, provocando algum desconforto e incômodo, sendo
prejudicial ao seu desenvolvimento, que possa originar transtornos imediatos ou no
futuro.
A violência psicológica, diferentemente da violência física, não deixa marcas
visíveis no corpo, mas acaba por destruir a autoimagem da criança que foi violentada.

Essa violência provoca traumas psicológicos que afetam o psiquismo, as


atitudes, as emoções, traduzindo-se até mesmo na incapacidade da criança em
interagir socialmente dentro das condições consideradas próprias de sua idade,
podendo-se tornar passiva ou agressiva. (FALEIROS; FALEIROS, 2008, p. 36).

A violência psicológica compromete diretamente o rendimento escolar da criança,


visto que a criança pode vir a diminuir a sua interação social, o comprometimento com as
notas e acaba não conseguindo acompanhar o restante da turma devido a internalização
do que tem vivenciado, impedindo que ela consiga focar diretamente em seus estudos.

3.1.3 A Violência Sexual nega a dignidade do outro

A Violência sexual caracteriza-se como:

[...] uma violação dos direitos humanos universais e dos direitos peculiares à
pessoas em desenvolvimento: direito à integridade física e psicológica, ao
respeito à dignidade, ao processo de desenvolvimento físico, psicológico, moral
e sexual sadio e à proteção integral. (FALEIROS; FALEIROS, 2008, p. 38).

A violência sexual ocorre em situações como estupro, sexo forçado no casamento,


abuso sexual infantil, abuso incestuoso e assédio sexual. Ou seja, qualquer ação que a
criança seja colocada em situação sexual, tendo contato ou não com suas partes íntimas
ou nas partes íntimas de quem pratica esse ato, ou sendo exposta.
36

O abuso sexual infantil é uma forma de violência que envolve poder, coação e/ou
sedução. É uma violência que envolve duas desigualdades básicas: de gênero e
geração. O abuso sexual infantil é frequentemente praticado sem o uso da força
física e não deixa marcas visíveis, o que dificulta a sua comprovação,
principalmente quando se trata de crianças pequenas. O abuso sexual pode
variar de atos que envolvem contato sexual com ou sem penetração a atos em
que não há contato sexual, como o voyeurismo e o exibicionismo. (ARAÚJO,
2002, p. 5).

Araújo (2002) não considera que na violência sexual ocorra força física, pois a
criança pode não ter o entendimento e a compreensão do que aquela situação possa
significar e com isso. A violência sexual nega a dignidade do outro, o ponto de vista de
sua integridade física e psicológica (FALEIROS; FALEIROS, 2008).

3.1.4 A Negligência põe a mesa para a violência

A negligência é a omissão de cuidados. Ocorre quando o adulto (ou a instituição)


priva a criança ou o adolescente de algo que necessita, que é essencial ao seu
desenvolvimento saudável (PERES, 2008, p. 122).
Crianças que são negligenciadas sentem-se sozinhas e se isolam de outras
pessoas que estão ao seu redor. Para Martins (2015, p. 50), "as mais diversas formas de
violência podem destruir por completo o ser, deixando consequências de diversas
ordens, sendo que as psicológicas podem levar à decadência do sujeito e, portanto, à
fragilidade dos relacionamentos". Segundo Faleiros e Faleiros (2008):

As consequências e sequelas físicas, psicológicas e sociais da negligência


sofrida na infância e na adolescência são extremamente graves, pois se
configuram como ausência ou vazio de afeto, de reconhecimento, de valorização,
de socialização, de direitos (filiação, convivência familiar, nacionalidade,
cidadania e de pleno desenvolvimento). (FALEIROS; FALEIROS, 2008, p. 35).

É necessário repensar os casos de negligência como sendo unicamente de


responsabilidade das mães, excluindo-se assim esse preconceito de que, somente a
mulher é responsável pelo abandono. Mas deve-se levar em consideração, que de
acordo com o artigo 4° do ECA, a família, a comunidade, a sociedade em geral e o Poder
Público são responsáveis pela proteção das crianças e devem assegurar a efetivação de
seus direitos.
37

A negligência, de acordo com serviços de proteção e denúncia contra a criança,


disque-denúncias e SOS tem sido destacada como uma das formas de violência mais
frequentes.
Quando a criança é protegida, cuidada, amada e respeitada, dificilmente serão
expostos a alguma forma de violência. Destaca-se o fato de que a negligência é
considerada como o fator inicial para as diversas violências praticadas contra as crianças
(FALEIROS; FALEIROS, 2008, p. 34).

3.2 A Violência Doméstica e a Violência Intrafamiliar: os impactos na vida de


crianças

Autores que estudam esse fenômeno da violência no ambiente familiar, atribuem


diferentes significados a ele, definindo-os como violência doméstica ou Violência
Intrafamiliar. Aqui nessa pesquisa, atribuímos o conceito de Violência Intrafamiliar,
embora sejam tratados os dois conceitos a fim de que fique clara a sutil diferença entre
eles.
A Violência Doméstica, diferentemente da Violência Intrafamiliar, Faleiros e
Faleiros (2008, p. 50) definem-a como a violência que se “refere aos laços parentais que
unem as vítimas e os autores da violência” a violência doméstica “refere-se ao lugar onde
ela ocorre, na casa, no lar”. Sendo assim, elas não são meramente sinônimas e sim tipos
de violências diferentes que ocorrem contra os grupos considerados “mais fracos” nessas
relações. De acordo com Marmo, Davoli e Ogido (1995):

O conceito de violência doméstica envolve uma relação interpessoal, em que a


força, a intimidação ou a ameaça subjugam a criança ao autoritarismo do adulto.
Esta é a violência da qual trataremos, pela sua importância estatística. Ocorre
nos lares, no convívio familiar, onde tem sua ecologia predominante. (MARMO;
DAVOLI; OGIDO, 1995, p. 313).

A violência doméstica, diferente da Intrafamiliar, é provocada por qualquer pessoa,


que pode não ser parente, como um vizinho, companheiro, padrasto, madrasta, babás
(mulheres contratadas para cuidar das crianças), porém essa violência é realizada dentro
do ambiente de convívio. Essa violência pode ocorrer dentro da própria casa da criança,
38

sendo que deveria ser um lugar seguro, acolhedor, aconchegante, confortável e que
garantisse proteção.
Ao abordarmos essa violência primeiramente é necessário que tenhamos uma
definição clara do seu significado, como já explicado há uma pequena sutileza em relação
à diferença entre à Violência Doméstica e Intrafamiliar. O Ministério da Saúde (2002)
conceitua Violência Intrafamiliar como:

Toda ação ou omissão que prejudique o bem-estar, a integridade física,


psicológica ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de outro membro
da família. Pode ser cometida dentro ou fora de casa por algum membro da
família, incluindo pessoas que passam a assumir função parental, ainda que sem
laços de consanguinidade, e em relação de poder à outra. (BRASIL, 2002, p. 15).

A Violência Intrafamiliar possui certos agravantes que fazem com que uma pessoa
parta de uma ação mais branda até uma agressão mais grave. Em grande parte das
situações, a Violência Intrafamiliar desenvolve-se pela falta de estrutura familiar, como
por exemplo, famílias que são baseadas em uma distribuição desigual de autoridade e
poder, conforme papéis de gênero, sociais ou sexuais, idade etc., atribuídos a seus
membros.
A esse respeito é possível perceber as relações de poder que se tem em uma
família, principalmente quando esta é formada com base no conceito patriarcal, no qual
o pai é o responsável pela renda familiar ou no qual há sempre uma disputa de poder e
de autoridade entre os seus membros, o que também influencia para que a violência seja
perpetuada. No que tange a essa situação:

A violência intrafamiliar expressa dinâmicas de poder/afeto, nas quais estão


presentes relações de subordinação-dominação. Nessas relações -
homem/mulher, pais/filhos, diferentes gerações, entre outras – as pessoas estão
em posições opostas, desempenhando papéis rígidos e criando uma dinâmica
própria, diferente em cada grupo familiar. (BRASIL, 2002, p. 16).

A partir dessa concepção a Violência Intrafamiliar é percebida como uma relação


de poder e autoridade através da violência e do medo, no qual há a representação da
opressão do adulto sobre a criança. Se tratando de Brasil, a violência Intrafamiliar é algo
que está ancorada na história e na cultura do país, mesmo que para Faleiros e Faleiros,
39

A grande maioria das famílias no Brasil são protetoras, milhões delas ao custo
de enormes sacrifícios. No entanto, também nessas famílias protetoras
encontram-se traços culturais, em diferentes graus, de relações familiares
etnocêntricas, machistas, autoritárias, que as tornam mais ou menos violentas.
(FALEIROS E FALEIROS, 2008, p. 49).

Dessa forma, é possível compreender que o motivo que gera a Violência


Intrafamiliar são as condições de repetição de ciclos de violências aprendidos nos
ambientes familiares dos responsáveis pelas crianças, assim como, os ensinamentos que
são passados socialmente para a conservação do silêncio e disciplina das crianças. Pode
ser que a violência só seja perpetuada por não haver algo que os leve a quebrar esse
ciclo vicioso. Pode estar relacionado a fatores que de certas maneiras são estressantes
para os membros familiares. Como, por exemplo, situações de separação conjugal, crise
financeira, perdas, desemprego. A violência é um fato cultural que geralmente é passado
de pais para filhos como a única solução de se resolver conflitos.

3.3 A Violência Intrafamiliar contra as crianças

Desde a Grécia Antiga, as crianças passaram por situações de violências e direitos


negados, principalmente pelo fato de serem reconhecidas como “sujeitos de direitos'' há
pouco tempo. Isto foi efetivado após a mobilização de diferentes grupos da sociedade
civil. A concepção de que a violência contra a criança é cabível de uma ação que diz
respeito a todos permeiam esses aspectos. Sendo assim, “o processo histórico permite
visualizar como crianças e adolescentes foram, ao longo do tempo, envolvidos em
relações de agressões e maus tratos por diversas instituições sociais.” (FALEIROS E
FALEIROS, 2008, p. 15).
A Violência Intrafamiliar contra a criança não é um fato isolado na modernidade,
trata-se de um fenômeno social que ocorre desde o início dos tempos remotos.
Atualmente vem ganhando maior visibilidade e notoriedade, devido ao aumento do
número de casos referentes às agressões cometidas contra crianças e adolescentes por
membros da família, como mostrado no quadro 1 e quadro 2. No momento atual, essa
discussão tem sido centro de diversas pesquisas, pelo fato dos altos números de
40

proporções epidêmicas de casos contra as crianças em situação de Violência


Intrafamiliar.
Vale aqui ressaltar que a Violência Intrafamiliar contra a criança não é uma
situação nova, mas fruto da violência social que possui marcas de uma tradição histórica,
econômica e cultural. Na sociedade contemporânea, a violência é uma ação presente e
visível na vida de todos, independentemente de fatores espaciais, financeiros, sociais e
raciais.
As questões raciais e socioeconômicas não impedem que a Violência Intrafamiliar
ocorra contra crianças, independentemente se a família possui condições financeiras
favoráveis ou se é desprovida deste recurso. O número comparativo de crianças negras
que sofrem algum tipo de violência no ambiente familiar é superior ao número de crianças
brancas. Isto pode ser percebido pelas formas como as sociedades hoje são compostas
e de como essa diferenciação está relacionada ao grande número de cidadãos negros
que vivem no país.
Perceber como as crianças lidam com essa situação é essencial na luta pela
atenuação de sua perpetuação e efeitos. Para Brino e Souza (2016), a criança vítima de
violências, pode causar impactos no desenvolvimento, podendo afetar a aprendizagem,
o comportamento e até mesmo as emoções.
A fim de possibilitar que as crianças e adolescentes fossem reconhecidos e
protegidos, foi criado em 1990, o ECA (Lei 8069/90). A partir dessa política pública, as
crianças e adolescentes passaram a ser vistos, do ponto de vista legal na sociedade,
como sujeitos ativos, de direitos e deveres, permitindo que a infância seja um período de
desenvolvimento saudável na vida das pessoas. Com o ECA, os direitos dos sujeitos que
se encontram nessas faixas etárias são assegurados, e da mesma maneira é ressaltado
o conceito de família como o local onde a criança deve se sentir segura, cuidada,
protegida e acolhida. A violência intrafamiliar não é um fenômeno atual, ela sempre existiu
e de acordo com Peres (2008):

Novas são a visibilidade, a exposição, mediante denúncias e debates na


sociedade. Em muitos casos, a violência contra as crianças (surras) como
punição ainda é encarada por algumas famílias como processo de ensinamento.
São métodos hoje criticados e rejeitados como prática educativa. (PERES, 2008,
p. 131).
41

A Violência Intrafamiliar contra a criança tem aumentado consideravelmente no


Brasil, principalmente neste tempo de isolamento social, gerado pelo proliferamento do
Corona Vírus, diz a pesquisa da Agência Brasil (2021). A maneira como ela ocorre não é
expressa apenas no local onde a violência acontece, mas por quem a pratica contra as
crianças. Dentre as principais formas de Violência Intrafamiliar contra as elas estão a
violência física, sexual, psicológica e o abandono.
Pais ou responsáveis justificam essas violências e agressões como uma medida
educativa contra as crianças, sendo esses responsáveis os maiores autores de violências
contra essas crianças e adolescentes.
O quadro abaixo (quadro 1) refere-se aos dados de denúncias sobre violência
contra as crianças e adolescentes coletados pelo site do Disque 100, no Relatório de
2019, no Brasil. A fim de reduzir a quantidade de dados e trazer para análises atuais, foi
optado por permanecer com as denúncias feitas nos anos de 2018 e de 2019. De acordo
com o relatório feito pela Equipe da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH), do
Disque 100:

Ao comparar com os dados do exercício de 2018, além de se observar que a


“negligência” foi a violação mais praticada em face de crianças e adolescentes,
verifica-se o agravamento desse quadro, senão vejamos: em 2018 essa espécie
de violação correspondeu a 21,23% do total; em 2019, tal espécie de violação
representou 38% do total registrado para esse grupo. (BRASIL, 2019, p. 42).

De acordo com o mesmo relatório, as principais violações contra a criança e ao


adolescente foram a negligencia, violência psicológica, violência física e a violência
sexual.
42

Quadro 1 - Denúncias sobre a violência contra a criança e o adolescente no Brasil


Porcentagem da
Tipo de Número de Número de
alteração do número de
Violência Denúncias (2018) Denúncias (2019)
caso entre os anos (%)

Física 55.375 62.019 12

Negligência 37.160 36.304 -2

Psicológica 30.962 32.374 8

Sexual 17.073 17.029 0


Fonte: MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITOS HUMANOS (2019).

O quadro abaixo (quadro 2) refere-se aos dados de denúncias sobre violência


contra as crianças e adolescentes coletados pelo site do Disque 100. Estes dados
constam do Relatório de 2019, no estado de Minas Gerais. Pode ser visto, que em
convergência com o contexto nacional, no contexto estadual mineiro também houve um
crescimento entre os anos abarcados. Essa situação é problema, pois, tende a continuar
aumentando os casos, principalmente tendo em vista o isolamento social proporcionado
pela pandemia do Novo Corona Vírus.
De acordo com o mesmo relatório, as principais violências cometidas contra a
criança e ao adolescente foram a negligencia, violência psicológica, violência física e a
violência sexual.

Quadro 2 - Denúncias de violações contra a criança e o adolescente no estado de


Minas Gerais
Porcentagem da
Número de Número de
Estado alteração do número de
Denúncias (2018) Denúncias (2019)
caso entre os anos (%)

Minas Gerais 8.656 10.611 18%


Fonte: MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITOS HUMANOS (2019).

Pode ser visto assim, que em ambos contextos, as violências contra as crianças e
aos adolescentes são crescentes e necessitam de toda atenção possível a fim de evitar
suas perpetuações e traumas, que afetam todo o ambiente de convívio, seja familiar ou
não.
43

3.4 A formação de professores para identificar e denunciar

Pelo fato de a escola ser o local em que as crianças passam grande parte de seu
dia, é necessário que todos os profissionais da educação estejam atentos a mudanças
no comportamento dos alunos. É responsabilidade da escola trabalhar no processo
ensino-aprendizagem, garantindo aos alunos a aquisição dos saberes historicamente
construídos, mas isso não a autoriza a “fechar os olhos”, a descuidar e desinteressar para
esses aspectos e condições de vida dos seus educandos (GUIMARÃES et al., 2008).
Para que assim, qualquer comportamento diferente do aluno possa ser observado e o
funcionário possa intervir, oferecendo ajuda ao aluno, conversando com os familiares e
até mesmo encaminhando o caso para os órgãos que estejam preparados para lidar com
a Violência Intrafamiliar sofrida pela criança.
O ECA (1990), em relação às escolas, espera que a instituição seja uma
importante colaboradora e fonte de denúncias caso ocorra a percepção de sinais que
remeta a alguma vítima de violência intrafamiliar dentro do ambiente escolar. Este
regulamenta que:

Art. 245. Deixar o médico, professor, ou responsável por estabelecimento de


saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade
competente os casos de que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou
confirmação de maus tratos contra a criança ou adolescentes terá como pena o
pagamento de uma multa de três a vinte salários mínimos de referência,
aplicando-se o dobro de reincidência. (ECA, 1990, s/p).

Com esse documento, elevou ainda mais a responsabilidade do professor que


assume a função de comunicar situações de perigo vivenciadas pelas crianças que são
vítimas de Violência Intrafamiliar. Com isso, tornou-se necessário que esses profissionais
denunciem a seus superiores, para que estes encaminhem para os órgãos responsáveis,
que deverão fazer a verificação e resolução dos casos denunciados.
Portanto, a formação do professor para lidar com os casos de violências
intrafamiliares cometidas contra os seus alunos, se torna necessária. Segundo
Guimarães e outros (2008, p.12), é necessária a formação dos professores para que:
44

[…] eles se sensibilizem e compreendam a temática e o real prejuízo das


violências sofridas pelas crianças e adolescentes para o seu desenvolvimento
em todos os níveis (cognitivo, afetivo, social…) é que irá capacitá-los para cumprir
verdadeiramente o seu papel como professores. (GUIMARÃES et al., 2008, p.
12).

O ambiente escolar é considerado como o segundo maior lugar de convívio social


da criança, logo após a residência familiar. Sendo um ambiente em que a criança possui
maiores contatos com o professor, dessa forma, torna-se favorável para a percepção e
notificação de situações que envolvam maus tratos contra as crianças.
Os estudantes que sofrem esse tipo de violência, por vários fatores que os fazem
ocorrer, podem apresentar hematomas, cortes, mordidas, vergões e fraturas, mas
também podem apresentar sintomas de outra ordem, como comportamento agressivo,
baixa autoestima, desânimo, abatimento, tristeza ou até mesmo depressão. Podem ter
também pensamentos de fugir de casa, automutilação, falta de interesse nas atividades
propostas pelos docentes e/ou em outras atividades quaisquer. Enfim, vários sinais que
podem levar a se perceber que a criança está sendo vítima de Violência Intrafamiliar
O educador que se sensibiliza e compreende que o aluno não se resume somente
a sala de aula, consegue identificar que o contexto familiar (e outros) é fator importante
para o desempenho escolar dos estudantes. Assim como o professor pode ser capaz de
fazer com que situações de violências ocorridas no ambiente familiar possam ser
superadas. Para Almeida e outros (2010):

[...] a necessidade dos educadores compreenderem que sua atuação não pode
ser neutra, que sua atuação não deve ser a favor do nada. É preciso romper com
esse ciclo de violências, de crueldade e de opressão. Superar a ideia de que a
relação do educador-educando se dá meramente através da transmissão do
conhecimento erudito. (ALMEIDA et al. 2010, p.10).

Pelo fato de lidar com crianças, é necessário que os professores além dos
conteúdos, tenham o cuidado e a sensibilidade para cuidar de vidas. Com isso, devem
prestar atenção às diversas situações que indicam que esses alunos sofrem Violência
Intrafamiliar que pode prejudicá-los em seu desenvolvimento.
O ambiente educacional é imprescindível para o enfrentamento de situações de
violência contra as crianças e necessita, através dos diversos setores, estar envolvido
numa perspectiva de interação para que os casos sejam abordados com a devida
45

atenção que merece.

É importante esclarecer que não cabe à escola o papel de investigar a veracidade


das informações ou se realmente as suspeitas têm fundamento, nem de punir os
agressores, mas, para que os órgãos competentes cumpram esse papel, é
necessário que haja a comunicação por parte da escola. (RISTUM, 2010, p. 239).

Dessa maneira, é necessário que o profissional docente que acompanha o aluno


durante o seu dia, cumpra com o requisito básico de prestar atenção aos sinais corporais
e comportamentais, que indiquem alguma situação de violência ocorrida contra os
alunos. Para Bueno (2002, p. 22):

É preciso pensar a formação do professor como um processo, cujo início situa-


se muito antes do ingresso nos cursos de habilitação, ou seja, desde os
primórdios até a sua escolarização (até mesmo antes) e, depois destes tem
prosseguimento durante todo o percurso profissional do docente. (BUENO, 2002,
p. 22).

Assim, verifica-se como necessário que o gestor e todos os membros do corpo


docente para serem agentes de identificação e denúncia da Violência Intrafamiliar
tenham capacitação para identificar casos e denunciar com o intuito de proteger e
melhorar o rendimento dos alunos no ambiente escolar.
Essa formação deve acontecer a partir de formações continuadas oferecidas pelas
escolas e secretarias de Educação juntamente com a área da Saúde de forma a
possibilitar que os conhecimentos aprendidos sejam aplicados no contexto escolar, visto
que ainda há uma falta de conhecimento acerca da atuação do docente em relação de
casos de Violência Intrafamiliar contra a Criança.

3.5 Uso da punição corporal contra criança como forma educativa

Dentre os diferentes tipos de Violência Intrafamiliar contra as crianças, estão os


maus tratos físicos. Nesse caso, o Plano Nacional de Promoção, Defesa e Garantia do
Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária - CONANDA
(2006) destacou que a violência em muitos lares é um fenômeno muito frequente e
geralmente cíclico, ou seja, se reproduz por várias gerações. Com isso, é importante ter-
46

se uma retrospectiva de como eram as relações no contexto familiar do passado até


chegar aos dias atuais. Isso para se compreender a forma como as crianças eram
tratadas e corrigidas no ambiente familiar, visto que se observa que em sua maioria ainda
ocorre a violência física contra as crianças, com o intuito de discipliná-la e corrigi-la.
No Brasil, nos séculos XVII e XIX, somente os filhos dos senhores de elite tinham
acesso à instituição educacional, que foi trazida pelos padres Jesuítas, com o intuito de
ensinar os costumes e morais cristãos.

Assim, o contexto do Brasil, em relação às elites do século XVII e a parte do XIX,


temos o modelo patriarcal estava presente, e com isso a educação das crianças
passava era algo que ia se “constituindo um universo familiar centrado no adulto,
com rígida demarcação de papéis, valorização da formação moral, da obediência,
da autoridade e do pouco espaço para a afetividade.” (OLIVEIRA E CALDANA,
2009, p. 681).

O uso de punições físicas era totalmente aceito e difundido como método de


disciplinar as crianças que deveriam seguir um preceito moral, de respeito e de
obediência, principalmente quando se tem a percepção de que essas crianças e
adolescentes são propriedades de seus pais.

O padrão de criação infantil utilizado socialmente poderia ser considerado, na


atualidade, inclusive como característico de maus tratos. Esse padrão foi-se
modificando com o tempo, mas ainda se encontra enraizada na sociedade a
cultura da violência, entendida como forma de educação dos filhos. (PATIAS;
SIQUEIRA; DIAS, 2012, s/p).

Mesmo com o diverso cenário cultural e as mudanças que ocorreram desde aquela
época até os dias atuais, a utilização da violência física contra a criança, tem como
justificativa a forma de ensinar, tornou-se algo que permaneceu na cultura de muitas
famílias e gerações. Dessa forma, as famílias aderiram a essa alternativa de correção,
por julgarem ser o único método de ensino eficaz quando se objetiva disciplinar.
Isso sucedeu-se, principalmente, naqueles núcleos familiares onde havia o maior
abuso do poder entre os adultos sobre as crianças em relação à obediência e o respeito
aos adultos, que, de certa forma, constituía um ambiente no qual o diálogo e a autonomia
das crianças não eram considerados pelos pais. Assim, verifica-se que a punição como
forma de educação não se origina com os pais.
47

Sendo assim, é praticamente impossível aos pais e/ou responsáveis,


compreenderem sozinhos que, punindo as crianças, elas ficarão marcadas, fisicamente
e/ou psicologicamente, por tempo indeterminado. Por isso, é imprescindível que eles
sejam orientados, pelos organismos de protocolo à criança ou outras pessoas, a fim de
perceber e compreender que há outras formas de advertir as crianças, sem o uso da
violência. Isso evitará que esse ciclo de agressões cesse e não seja perpetuado da
mesma forma que tem sido. Para que assim, as crianças não desenvolvam experiências
emocionais desagradáveis no decorrer de sua vida.
Muitos casos de violência contra a criança, são resultados do reflexo do que os
adultos vivenciaram durante a infância. Assim, eles reproduzem as mesmas atitudes e
vivências com as gerações posteriores, como nos filhos, em sobrinhos e também em
outras crianças conhecidas por eles.
Dentro desses contextos de Violência Intrafamiliar, é importante ressaltar que os
pais são aqueles que leem o mundo para as crianças e os ensinam como este funciona.
Portanto, os pais são responsáveis por estabelecer as relações iniciais e primordiais para
a criança construir a convivência em sociedade. Costa e Teixeira (s/d) afirmam que:

[...] quando o ambiente familiar é marcado pela violência, onde os pais são
agressivos entre si, ou mesmo com os filhos, há uma predisposição para
transformar a violência em algo natural, em que o apanhar passa a não simbolizar
desamor, mas, sim, uma forma natural de agir, um processo de aprendizagem
desenvolvido na infância (COSTA; TEIXEIRA, s/d, p.10).

As pessoas não percebem o quanto a violência pode ser marcante e nem o que
pode acarretar no modo em que a criança vê o mundo, gerando a naturalização e
perpetuação da violência. Essas formas de punições contra as crianças não desenvolvem
apenas a dor física, mas também produzem efeitos psicológicos que irão ser carregados
durante a adolescência e até mesmo serão levados para a vida adulta. O Projeto de Lei
7.672/2010 que altera a lei 8.069 de 13 de julho de 1990, do ECA, estabelece o direito
da criança e do adolescente de serem educados e cuidados sem o uso de castigos
corporais ou de tratamento cruel ou degradante. Esta dispõe em seu Artigo 17-A:

A criança e o adolescente têm o direito de serem educados e cuidados pelos pais,


pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis ou por qualquer
pessoa encarregada de cuidar, tratar, educar ou vigiar, sem o uso de castigo
48

corporal ou de tratamento cruel ou degradante, como formas de correção,


disciplina, educação, ou qualquer outro pretexto. (BRASIL, 2010, s/p).

No Brasil, toda forma de punição corporal contra a criança, mesmo sendo em


forma de castigos que podem ser considerados de moderados a imoderados, sob
qualquer motivo, mesmo por ser vista como uma forma pedagógica encontrada pelos
pais, de acordo com essa lei, passou a ser considerado como violência.

A partir desse Projeto de Lei, define-se como castigo corporal a ação de natureza
disciplinar ou punitiva com o uso da força que resulte em dor ou lesão à criança
ou adolescente, também considera como tratamento cruel ou degradante a
conduta que humilhe, ameace gravemente ou ridicularize a criança e o
adolescente. (BRASIL, 2010, s/p).

Muitos pais utilizam a violência como uma forma de disciplinar o comportamento


da criança, através do uso de “palmadas”. Essa atitude pode tanto representar uma
humilhação para a criança, quanto um impedimento para seu desenvolvimento. De
acordo com Weber, Viezzer e Brandenburg (2004):

A punição corporal tem um efeito imediato – a supressão imediata do


comportamento – e eficaz para o agressor, o que reforça o seu comportamento
de bater. Quem recebe a punição corporal geralmente sente dor física e também
seus subprodutos emocionais, tais como raiva, culpa, vergonha, medo e
ansiedade, que podem demorar a cicatrizar. (WEBER; VIEZZER;
BRANDENBURG, 2004, p. 235).

A utilização do uso da punição como forma de conseguir a obediência das


crianças, funciona como efeito imediato, para que assim, os pais consigam fazer com que
a criança obedeça-os. Em grande parte dos casos, o uso das punições coercitivas contra
as crianças são apenas uma forma que os adultos usam para moldar o comportamento
e como uma forma de educar os filhos. Porém, para a criança, pode gerar consequências
negativas para toda a vida.
Usar da punição corporal como forma de correção não impedirá que a criança não
realize a ação novamente. Se não houver diálogo, esta não compreenderá o porquê
apanhou e consequentemente cometerá o mesmo erro. Mas a criança também pode
entender o porquê apanhou, porém continuar cometendo o erro e evitando que o agressor
a veja, a fim de não ser punida novamente.
49

A partir dessas formas de punições que são aplicadas às crianças, verifica-se a


necessidade de formação para os profissionais da educação e da psicologia. Essa
formação inclui a capacidade de interação com os familiares, que os possibilitem mostrar
a esses responsáveis as novas modalidades de ensino que não sejam agressões físicas
e psicológicas contra as crianças (mesmo com todas as dificuldades para tal). Como
alternativa pode-se apresentar o diálogo como uma metodologia de ensino, que promove
a aproximação familiar e que torna possível a resolução de conflitos. Segundo Ribeiro
(2012):

A mudança pode ser facilitada por meio do diálogo entre educadores e crianças
na escola, na família e na comunidade, com atitudes tais como: a valorização da
criança e do adolescente como seres humanos e não como objetos ou
propriedades; a implementação de políticas públicas de valorização do
trabalhador para que este possa ter mais tempo para dedicar-se à família como
grupo primeiro de socialização e educação; a implementação de políticas
públicas de planejamento familiar; a realização de pesquisas científicas que
fomentem novas possibilidades de educação e cuidados para com as crianças e
adolescentes, dentre outras possibilidades. (RIBEIRO, 2012, p. 56).

Assim, os pais podem aprender a orientar as crianças, sem partir da violência, mas
as encorajando, as incentivando para que elas possam desenvolver sua autonomia, sua
autoestima, sua coragem e sua determinação, e com isso, preparando-as para o mundo,
sem que haja a necessidade do uso da punição como forma educativa ou como forma de
se ter obediência.
No próximo capítulo, serão tratados os conhecimentos que as professoras
entrevistadas possuem sobre a temática da Violência Intrafamiliar, sobre suas atuações
quando percebidos os sinais nas crianças e outras questões relacionadas à Violência
Intrafamiliar, escola, família e Pandemia.

4 PERCEPÇÕES DOS DOCENTES EM RELAÇÃO A VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR


CONTRA A CRIANÇA

Este capítulo tem como objetivo apresentar resultados da pesquisa, a partir das
entrevistas feitas com as professoras participantes. Deve-se lembrar que os nomes das
professoras e das escolas serão fictícios, como explicitado na metodologia da pesquisa,
50

nas páginas da introdução, garantindo assim seu anonimato e sua liberdade de poder
expressar sem medo. Foram definidos assim os nomes de Ana (31 anos), Maria (43
anos), Rosa (37 anos) e Margarida (37 anos).
O capítulo está dividido em seis sessões. A primeira trata das percepções das
professoras acerca da Violência Intrafamiliar contra a criança e se estas já presenciaram
alunos nesta situação. Em seguida, se apresenta a compreensão das professoras sobre
os comportamentos apresentados pelas crianças vítimas de Violência Intrafamiliar. A
terceira sessão aborda as relações entre os pais das crianças e professoras, assim como
a compreensão desses docentes frente aos comportamentos desses responsáveis. A
quarta sessão, se relaciona com as ações pedagógicas que são desenvolvidas pelas
professoras com o intuito de trabalhar os conteúdos com as crianças vítimas da Violência
Intrafamiliar, visto que o trabalho realizado não possui uma estrutura fixa, variando de
caso em caso, assim como é abordada a situação das formações sobre a Violência
Intrafamiliar para os docentes. A quinta sessão se relaciona com as formas de
notificações da Violência Intrafamiliar, quando a mesma é percebida pelas professoras,
quais as atitudes e os passos que devem ser tomados para a realização da denúncia.
Por fim, na sexta sessão é abordado a questão da Violência Intrafamiliar contra crianças
e a Pandemia, devido ao momento atual vivenciado, sendo relatadas as preocupações e
medos das docentes pelas situações que seus alunos podem estar vivenciando.

4.1 As percepções de Violência Intrafamiliar contra a criança na visão docente

Os professores são fundamentais para a percepção da Violência Intrafamiliar


contra as crianças. Por isso, possuem papel fundamental na identificação de crianças em
situação de violências, principalmente por passarem muitos dias da semana junto com
os alunos, durante o ano letivo. As perguntas que se faz é se elas conseguem identificar
as diversas formas de violência às quais esses alunos são submetidos. E ainda se as
docentes conhecem os conceitos referentes a Violência Intrafamiliar. Dessa forma, ao
ser perguntada sobre o que entendia por Violência Intrafamiliar, a professora Ana afirma
que:
51

Violência Intrafamiliar para mim é aquela que ocorre no âmbito familiar, né? (sic)
(...) então, a violência intrafamiliar, que ocorre no…no interior, né? (sic) Dentro
da família, com os membros da família, é o que eu talvez né? (sic) Tenha de
definição, é isso. (ANA, ago., 2020).

Já para a professora Maria, ao responder essa questão, refere-se à violência


intrafamiliar como:

Ah, a violência intrafamiliar no meu ponto de vista é aquela que a criança sofre,
né? (sic) Dentro do seu âmbito familiar e ela acaba externando isso pra suas
vivências externas, na escola, ou seja na sociedade, né? (sic) Como os lugares
que frequentam, ela acaba externando isso, o que sofre dentro da família, né?
(sic) (MARIA, ago., 2020).

Verifica-se que há um consenso entre as participantes da pesquisa que ao se


referirem a Violência Intrafamiliar, elas são levadas automaticamente a compreenderem
e expressarem como situações ocorridas no ambiente familiar e cometidas por pessoas
da família. Entretanto, a professora Rosa, não define exatamente o que ela entende por
Violência Intrafamiliar. Ao invés disso, ela citou exemplos de violências que são
decorrentes da Violência Intrafamiliar. Nesse sentido ela abordou o fato de haver uma
separação entre a violência psicológica e a violência emocional:

Então, a primeira coisa que a gente tem que entender é que violência não é só
violência física, violência é também a violência emocional, né? (sic) A violência
psicológica. Então, mais do que a questão física ela está relacionada a situações
psicológicas. (ROSA, set., 2020).

Em relação a violência emocional, a professora Rosa ressalta a forma como alguns


dos pais relacionam-se com as crianças e como eles maltratam os próprios filhos através
de palavras, chamando-os de “burros” e, os ameaçando. Todas essas situações para ela
são acontecimentos bastante comuns.
A definição de Violência Intrafamiliar de acordo com o posicionamento da
professora Margarida, ultrapassa um conceito exato, mas ela associa-o a diversos outros
fatores que a leva a considerar que:

“Na verdade, a violência em si é (...) são todas essas práticas, dessas maneiras
que nos distanciam da nossa dignidade humana mesmo, né? (sic) Então todas
as vezes que uma criança sofre qualquer tipo de violência, eu acho que a
52

violência intrafamiliar, ela não é uma coisa fragmentada, sabe? Não é só uma
coisa que acontece só dentro daquela família, ela é um reflexo também social de
forma que a gente vive em si essa violência num campo mais estrutural, né (sic),
num campo social, cultural, então eu entendo a violência de uma forma muito
ampla e muito complexa. (MARGARIDA, set., 2020).

Dessa maneira, o entendimento das participantes da pesquisa em relação a


Violência Intrafamiliar, de uma forma geral refere-se à violência que ocorre no ambiente
familiar sem distinção de sujeitos autores da violência. Mas também como um reflexo do
que tem sido vivenciado pela sociedade durante vários séculos de violências nos diversos
ambientes sociais, estruturais que influenciam a organização e o comportamento dos
familiares.

4.2 Do ambiente familiar aos impactos na vida escolar da criança

Com as referências e dados levantados nessa pesquisa, permite afirmar que a


estrutura familiar sofre as interferências da maneira como a sociedade comporta-se em
relação aos aspectos econômicos, culturais e sociais. Em contexto social e cultural de
poder, no qual o mais forte pode exercer sua força sobre o mais fraco, torna-se
necessário a compreensão sobre a violência exercida pelo adulto sobre a criança. De
acordo com o Faleiros e Faleiros (2008):

A grande maioria das famílias no Brasil são protetoras, milhões delas ao custo
de enormes sacrifícios. No entanto, também nessas famílias protetoras,
encontram-se traços culturais, em diferentes graus, de relações familiares
adultocêntricas, machistas, autoritárias, que as tornam mais ou menos violentas.
(FALEIROS; FALEIROS, 2007, p. 49).

Neste sentido, percebe-se que o docente deve estar atento a toda e qualquer
mudança, para perceber qualquer sinal suspeito que os alunos possam, eventualmente,
exibir. Os dados revelam que os alunos apresentam sinais variados e diferentes, visto
que cada um reage de forma diferente face às situações. Assim, uns indicam de forma
mais intensa e deixam mais evidente alguma situação de violência vivenciada. Outros
dão sinais que podem ser mais difíceis de serem percebidos, o que exige maior atenção
dos professores no sentido de estarem alertas a qualquer detalhe que revela mudança
53

de comportamento. De acordo com Azevedo e Guerra (1989) citado por Veiga e outros
(2009):

“Nas escolas, a violência doméstica pode ser detectada a partir de algumas


ocorrências escolares como: ausências frequentes, baixo rendimento, falta de
atenção e concentração e comportamentos como apatia, passividade,
agressividade e choro podem ser indicadores significativos de abuso.”
(AZEVEDO; GUERRA, 1989, apud VEIGA et al., 2009, p. 01).

Portanto, a pesquisa possibilita afirmar que muitas das situações que as crianças
vivenciam no ambiente familiar podem ter repercussão na escola. Isto pode ser
observado por meio de alterações em suas atitudes, ações, humores e comportamentos.
As vítimas da Violência Intrafamiliar podem apresentar diversos comportamentos,
tornando-se crianças agressivas ou apresentando sinais de introspecção. As crianças
manifestam determinadas atitudes por meio de conversas, pela fisionomia e até mesmo
pelo rendimento escolar.
Ao tratarem da questão relativa aos principais comportamentos e sinais que
indicam que as crianças são ou podem ser vítimas da Violência Intrafamiliar, houve uma
repetição considerável dos sinais mais percebidos pelas professoras.

A gente vê que essas crianças geralmente têm baixo rendimento, têm dificuldade
de realizar trabalho em grupo, têm dificuldade do toque, né? (sic) Às vezes o
professor chega e fala oi, ele já assusta. Às vezes cê (sic) vai olhar no olho, ele
não dá conta de te olhar no olho o tempo inteiro, essas crianças tendem a ser
violentas, a hora que cê (sic) tenta se aproximar elas tentam te afastar, sai fora,
né? (sic) Umas se afastam de você, pra você conseguir, de alguma maneira com
seu vínculo afetivo com eles, é muito difícil, [..]” (ROSA, set., 2020).

A professora Rosa explicita a dificuldade de interagir com essas crianças. Afirma


também que elas não têm facilidade para relacionar-se com outras crianças, o que acaba
por influenciar em seu comportamento no ambiente escolar. Tratam-se de crianças que
não conseguem realizar tarefas simples, são desconfiadas em excesso ou até mesmo
assumem papéis violentos no ambiente escolar, tornando-se agressivas.
A pesquisa evidencia outra maneira de se perceber os sinais de que a criança está
sendo vítima de Violência Intrafamiliar, que é observar o momento em que a criança inicia
as suas atividades escolares. A professora passa a perceber esses sinais pelo fato de
que algumas crianças não se sentem capazes de ou estimuladas o suficiente para
54

realizar as tarefas, impondo barreiras para não fazerem as atividades e veem-se como
incapazes. Nesse sentido, a professora Margarida relata que percebe esses sinais
quando:

[...] ela é muito calada na sala, quando ela fica muito isolada, quando ela é muito
tímida, quando ela realmente começa a apresentar dificuldade de aprendizagem,
né? (sic) Muito acentuada, que tá ali sempre com uma desatenção, que tá sempre
ali parecendo que tá num outro mundo, a tanto também como ele pode é (…) às
vezes manifestar essa violência a partir também de um comportamento violento
na escola, às vezes numa agressividade, numa situação de brigas constantes,
de se envolver sempre em conflitos. (MARGARIDA, set., 2020).

A professora Margarida também ressalta as diferenças entre cada criança, ao


considerar que:

[...] cada criança, ela vai manifestar de uma maneira, né? (sic) (…) se é uma
criança que sofre muitas violências psicológicas, é uma criança que ela vai tá
apresentando ali sinais de baixa estima, de achar que não consegue fazer nada,
né? (sic) De (...) de sempre, às vezes, durante uma atividade, tá sempre colocando
dificuldade pra poder conseguir realizar. E então essas são algumas
possibilidades, não quer dizer também que todas as crianças vão apresentar esses
sinais, né? (sic) (MARGARIDA, set., 2020).

Todo esse comportamento de baixa autoestima são alguns dos efeitos que podem
evidenciar a violência psicológica contra a criança, fazendo com que esses maus tratos
acabem provocando sentimento de insegurança, de solidão, dificultando ainda mais os
processos de aprendizagem e de criar novas relações sociais.

4.3 A relação entre os pais e professores das crianças vítimas de Violência


Intrafamiliar

A relação família-escola deve ser construída para que haja uma relação de
parceria entre os pais e professores. Torna-se, assim, de grande importância que exista
uma conexão saudável de diálogo, de comunicação e de empatia entre a escola, os
responsáveis e os alunos.
A escola deve garantir a segurança do aluno e ficar atenta a qualquer
comportamento fora do normal. Para tanto é necessário conhecer bem os alunos e
55

proporcionar situações em que a criança desenvolva confiança na escola. A escola


também tem a função de manter a família informada sobre qualquer componente que
possa revelar sintoma que indica possibilidade de a criança estar sendo vítima de
Violência Intrafamiliar. Tais sintomas podem ser a queda das notas, o excesso de faltas
à escola, mudanças em seu comportamento e demais outros sinais. Segundo a
Constituição da República Federativa do Brasil (1988):

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao


adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de
toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão. (BRASIL, 1988).

A família tem o dever de acompanhar o desempenho escolar da criança com a


responsabilidade de intermediar sua prática no dia a dia. É papel dos pais/responsáveis,
acompanharem o processo de aprendizagem dos filhos, assessorar no que for
necessário, observar se o aluno apresenta alguma mudança que possa indicar algum
tipo de violência. Manter a linha de comunicação com a criança aberta para que ela possa
ter confiança de contar sobre a violência que está a sofrer dentro de casa é primordial.
Entretanto, de acordo com o que fora relatado pelas professoras participantes da
pesquisa, nem sempre esse bom relacionamento entre os pais e os docentes acontece.
Conforme afirma a professora Maria sobre esse relacionamento entre os familiares e a
escola:

Alguns pais tão sempre participativos, outros não. Infelizmente, os pais mais
negligentes, que não são participativos, que não procuram escola, que os alunos
não fazem “para a casa''. Os pais participativos os alunos vão muito melhores,
mesmo que eles tenham dificuldade, os que participam, mesmo os filhos tendo
dificuldades, eles têm às vezes um êxito muito bom, sabe?” (MARIA, ago., 2020).

A partir do momento em que os responsáveis familiares agem tendo maior


participação na vida escolar dos filhos, oferecendo auxílio e assessoria, observando seu
desenvolvimento escolar e acompanhando-os nas tarefas e dando assistência, o seu
progresso e sucesso na escola é garantido. Quando os pais participam das reuniões,
ficam cientes dos planejamentos que os professores e a escola organizaram, ficam
56

inteirados das intenções que foram construídas e pré-estabelecidas. Sendo, deste modo,
uma construção coletiva do bem comum para todos ali atribuídos.

É uma incógnita, gente, porque nós temos os dois lados, nós temos aquele que
vem, fingem que tá tudo lindo e fala que o menino tem minhoca na cabeça, que
vive inventando coisa e ainda fala, “lá em casa também ele tem falado isso e isso,
falou até que a professora bateu nele”, né? (sic) Pra tentar esconder ou ele
simplesmente não aparece na escola. (MARIA, ago., 2020).

Porém, as participantes da pesquisa afirmam que há muitos pais que não


participam da vida escolar do filho, seja por falta de tempo por estarem ocupados com o
trabalho, por terem que dar atenção a outros filhos, por falta de interesse, por ser “perda
de tempo”, por falta de compreensão da importância que é realizar esses
acompanhamentos do filho, por acharem que não acarreta em nada essas reuniões ou
por outros motivos. A pesquisa revela que essa falta de acompanhamento, pode revelar
certo desinteresse dos pais pelos estudos dos filhos. Assim, o aluno pode pensar que
estudar seja algo desnecessário e isto terá implicações no seu processo de
aprendizagem.

4.4 Ações pedagógicas e Formação Docente: uma maneira de compreender os


tipos de violência intrafamiliar

As professoras participantes da pesquisa afirmam que existem ações


desenvolvidas na sala de aula que podem contribuir para que os estudantes consigam
identificar se estão sendo vítimas de algum tipo de Violência Intrafamiliar.
Com o intuito de possibilitar ao aluno compreender melhor o tipo violência que ele
vivencia, as professoras e a escola podem realizar trabalhos que levam os estudantes a
pensar e refletir desde cedo sobre essa temática. Entretanto, segundo as professoras, a
Violência Intrafamiliar nunca é tratada diretamente, afirmam que não existe uma “receita”,
visto que cada aluno é diferente. Por isso é necessário buscar metodologias pedagógicas
diferentes, por isso utilizam recursos como textos, jogos, brincadeiras que os fazem
refletir sobre o que tem acontecido com os mesmos. Conforme afirma a professora Ana,
ela trabalha essa temática a partir da construção de cartazes:
57

[...] a gente faz construção de cartazes, com figuras de revistas, é por exemplo,
eu gosto de fazer (...) eu divido a turma em grupos e a gente faz cartaz de quem
tá tendo os direitos e quem não tá né? (sic) Por exemplo, aí tem uma campanha
lá na revista, “violência não”, aí eles acham, muitas vezes a gente coloca revista
assim já é de propósito pra ver quem acha e fala: nossa professora é essa, por
isso que é bom quando eles já tão pelo menos no segundo ano, por que muitos
interpretam, já lê e interpreta. (ANA, ago., 2020).

Na maioria das vezes, a professora ao perceber que pode estar acontecendo


algum caso ou suspeita de algo relacionado a Violência Intrafamiliar, ela realiza esse
trabalho com os alunos. Seu objetivo é identificar os alunos que irão escolher essa
temática e com isso ela fica atenta às justificativas e ao que eles comentam sobre isso,
o tema da violência que escolheram. Para a professora Ana (2020), em muitos casos a
medida pedagógica primordial é a paciência, principalmente com esses alunos que foram
ou são vítimas dessas violências, que sofrem ou sofreram algum outro tipo de violência,
principalmente ao avaliá-los a fim de não os deixar com a autoestima ainda mais baixa.
A Professora Rosa vê como medidas pedagógicas o cuidado e o olhar respeitoso
para essa criança. Essas medidas pedagógicas, segundo a professora Rosa podem ser:

O cuidado que a gente oferece, o estabelecimento do vínculo, estratégias


diferenciadas, ouvir essa criança, aproximar essa criança de você né? (sic) Fazer
com que de alguma maneira ela desenvolva a autoestima porque se ela não tiver
auto estima ela também não tem aprendizagem. (ROSA, set., 2020).

Verifica-se que por meio desse olhar é possível elaborar estratégias e reconduzir
a criança novamente para desenvolver sua aprendizagem. E considerando que não há
uma estratégia única e pronta para o trabalho, é preciso sempre reinventar novas
oportunidades para despertar novamente o interesse das crianças pela escola e por
aprender coisas novas e diferentes. Essas estratégias devem ter sempre uma
perspectiva da especificidade de cada situação.
A professora Margarida também ressalta que cada criança é única e cabe a
professora ter um olhar mais cuidadoso para cada criança vítima de Violência
Intrafamiliar. Assim, é possível perceber qual é o apoio que ela precisa. Como medida
pedagógica, assim como a Ana, a professora Margarida busca trabalhar a temática, por
exemplo, com a língua portuguesa:
58

Então, eu sempre tento trazer para o contexto de sala de aula, textos e imagens
né? (sic) Pra projetos a gente vai trabalhar a questão da violência numa
abordagem macro. Então, é a gente trabalhando a questão da diversidade, né?
(sic) Das questões étnicas, a questão do bullying, a questão (…) é, dos direitos
humanos, então eu sempre tento trazer para minha prática esse elemento,
discutindo né? (sic) (MARGARIDA, set., 2020).

A partir desses projetos e das discussões que são desenvolvidas com os alunos,
a professora Margarida busca ajudar os alunos a estabelecerem relação entre os
conteúdos pedagógicos e as situações concretas que vivenciam no dia a dia.
Em relação a como preparar-se para conseguir identificar as crianças vítimas de
Violência Intrafamiliar, as professoras participantes da pesquisa consideram que os
profissionais deveriam estar preparados, atentos e analisando todo e qualquer tipo de
sinal e/ou detalhe que venha a aparecer. Elas consideram que o docente deve estar
preparado para saber lidar com a situação, como abordar o aluno, como proporcionar um
diálogo com a criança, para compreender e buscar estabelecer uma relação de confiança
com ela.
Outras questões relevantes a serem objeto de conhecimento dos professores
referem-se a: quem deve ser a primeira pessoa a ser alertada? Para onde encaminhar a
criança? Quais órgãos que tratam especificamente do cuidado e da segurança da
criança? Como abordar os pais? Em relação às questões acima, pergunta-se: os
docentes receberam uma preparação adequada para tratarem essa situação quando
estiverem atuando na escola?
Dentre as instituições principais de convívio social, “a violência quando identificada
pelo sistema educacional traz importantes elementos para as autoridades competentes
atuarem no combate ao problema”. (GARBIN et al., 2010, p. 214). Sendo assim, as
participantes da pesquisa apresentaram seus pontos de vista acerca da preparação
durante a formação inicial de professores. Nesse sentido, a professora Rosa faz a
seguinte afirmação:

Então, gente, antes eu diria que não, até uns três anos atrás, sabe? Mas hoje em
dia tem sido feito um trabalho muito cuidadoso de formação de professores.
Então, hoje em dia a gente tem dito muito da comunicação não violenta, né? (sic)
E dentro desse tema maior de comunicação não violenta, a gente passa por
formações que trabalham também essa questão de como acolher, de como
59

cuidar dessa criança que sofre violências diversas e um tema que tem sido muito
trabalhado foi a, é o desenvolvimento socioemocional, né? (sic) [...] (ROSA, set.,
2020).

Ela ressalta que hoje em dia a formação tem sido um pouco mais cuidadosa no
que se refere aos cuidados que os profissionais devem ter ao tratar com alunos vítimas
da Violência Intrafamiliar. Segundo a professora Rosa, a partir de discussões realizadas
no ambiente acadêmico, surgiram assuntos sobre a questão de como promover a
segurança do aluno, abordagens que diminuam o impacto das falas dos professores com
essas crianças e ainda completa, dizendo que:

[...] quando a gente trabalha isso, a gente pensa estratégias pra trabalhar com
essa criança também, que é agressora. Então, hoje eu vejo assim, é muito bom.
Ainda não é na medida que deveria ser, eu acho que não é sobre educação não,
é pra todas as esferas, né (sic), de trabalho. A gente precisa disso, mas eu
percebi que a gente tem tido um cuidado maior no tratamento desse tema no
sentido de olhar pra esse sujeito e pensar o que fazer. (ROSA, set., 2020).

Em relação a formação dos docentes para trabalharem com a temática da


Violência Intrafamiliar, a professora Margarida afirma:

Eu acho que a gente já avançou muito, nós estamos no processo, né? (sic) Mas
eu acho que são questões tão complexas que (...) que ainda nos falta, formação
pra isso, sabe? Acho que ainda a gente precisa ter um investimento, assim, mais
informação pra professores. (MARGARIDA, set., 2020).

Essa informação complementa o que afirmou a professora Rosa, de que ainda não
há preparação para que os profissionais da educação tratem a temática em sala de aula
com os devidos cuidados. Ela considera ainda que embora tenha tido um expressivo
avanço nos últimos anos, a complexidade do problema impõe maior investimento no
preparo docente.

É não temos muita não, a gente vai tentando é o que nossa formação (...) nós
não temos (...) nós temos às vezes a experiência, né? (sic) De vividos por
algumas situações, mas falar que nós temos sabemos como agir de forma
concreta e tudo (...) nem sempre. (MARIA, ago., 2020).
60

Percebe-se entre as falas das professoras Ana e Maria, que ainda não há de fato
uma preparação ou formação adequada sobre a temática da Violência Intrafamiliar contra
as crianças, e que o que as levam a atuar de forma eficaz, é o conhecimento que a própria
experiência profissional lhes proporciona.
Segundo a Professora Ana, a formação sobre a Violência Intrafamiliar também
deixa bastante a desejar,

Acredito que não, acho que falta muito. Na verdade, a gente enquanto na
caminhada, assim, né (sic), profissional, muitas vezes a gente tem que correr
atrás daquilo que a gente sente que tá precisando é melhorar e aquilo que a gente
não domina, só que muitas coisas caem no colo e a gente tem que buscar ajuda,
buscar informação, buscar estudar, não temos formação. (ANA, ago., 2020).

Portanto, esses profissionais conseguem algumas vezes identificar e lidar com as


situações de Violência Intrafamiliar vivenciadas pelos alunos. Entretanto, elas
aprenderam essas habilidades fazendo cursos extracurriculares ou ainda por terem
vivenciado isso por diversas vezes durante sua experiência profissional. Entretanto,
durante a formação inicial não foram preparadas para trabalhar essa temática em sala
de aula. Nesse sentido, evidencia-se a extrema e urgente necessidade deste tema ser
trabalhado nos cursos de graduação na formação inicial dos docentes.

4.5 Notificações escolares: uma forma de proteção

Assim como os professores, o Ministério da Educação (2007), considera que a


escola também tem a função de atender e proteger seus estudantes contra qualquer
violação de seus direitos e de oportunizar condições de pleno desenvolvimento escolar,
mental, psicológico, sexual, moral e social. A escola tem papel fundamental para a
denúncia de casos de Violência Intrafamiliar, desde o momento em que suspeita que algo
diferente ocorreu com a criança, até verificar e se constatado, denunciar. Tomando assim,
todas as medidas cabíveis para não ter uma piora da situação.
Para as professoras participantes da pesquisa, as notificações e denúncias são
importantes e, por isso, devem ser realizadas pela escola. De acordo com a professora
Rosa, as notificações devem ser feitas da seguinte forma:
61

Então, na verdade, tem dois passos, porque a gente precisa ter cuidado também
com essa ficha de notícia, já teve casos de menino chegar machucado, que não
é comum. (...) mas nos casos em que a gente sabe que são constantes que são
reincidentes, bem, a gente preenche na ficha que a gente chama de lista de
notificação, a gente fala tudo que a gente observou, do comportamento do
menino, antes disso claro a gente chama a família como eu disse pra vocês, aí a
gente põe que sempre que a família vai ou tem desculpa que se chama, a família
não vai e aí vai prum (sic) outro órgão, né? (sic) Passa por alguns órgãos, vai pro
conselho tutelar, vai pra outros órgãos que for necessário, chegando inclusive a
um órgão jurídico […] (ROSA, set., 2020).

Ela adverte que é necessário cuidados com o que relata, porque seres vivos
sempre estão propensos a machucarem-se, seja propositalmente ou não, caso isso
ocorra, irá surgir alguma ferida ou mancha. Se isso ocorre com seres humanos, logo,
acontece com as crianças, e nelas podem aparecer com maior frequência, pelo fato delas
serem mais agitadas e curiosas, então, estão ainda mais predispostas a se machucarem.
Assim, estão mais predispostas a sofrerem mais,
Como afirma a professora Rosa, assim que é notado que o aluno apresenta algum
ferimento, logo deve ficar mais atento ao aluno, por ter a chance de ser um hematoma
que pode ter sido ocasionado sem querer ou por ter sido originado por algum tipo de
violência.
Caso seja constatado que realmente ocorre violência contra a criança (de qualquer
que for), a escola convoca a família com o objetivo de compreender e explicar o que vem
acontecendo com o discente. Se for violência dos pais contra a criança, os pais são
orientados a eliminar esse tipo de ação, mas caso a violência continue, os funcionários
escolares são instruídos a preencherem uma lista de notificação, contendo informações
sobre o que foi observado no aluno vítima da violência intrafamiliar e seus
comportamentos. Se esses eventos se agravarem, a notificação é encaminhada para
outros órgãos, como conselho tutelar ou até mesmo um órgão jurídico.
Outra questão relevante a ser mencionada, e que também foi citada pela
professora Maria, refere-se ao medo que alguns professores têm de fazer as denúncias:

Hoje em dia eu consigo levar isso com um pouco mais de tranquilidade, mas
ainda tenho medo por mim, sabe? Porque a gente não sabe com quem que a
gente tá lidando, né? (sic) Uma instrução que cê (sic) dá pro filho dessa pessoa,
que ele não fica satisfeito, cê (sic) não sabe o que ele pode fazer com você.
62

Então, a gente até para lidar com as violências que essas crianças sofrem, a
gente tem que ter cuidado né? (sic). (MARIA, ago., 2020).

Não só a professora Maria, mas alguns outros professores e funcionários, tem


receio de fazer a notificação para os pais, já que alguns podem não gostar dos
comentários feitos e causar algum dano a professora ou a escola.

Infelizmente, gente, às vezes muitas situações dentro da escola também, elas


são veladas mesmo. As escolas no geral, elas têm medo, porque por exemplo,
aconteceu isso lá na minha escola, se isso for divulgado o nome da escola vai
embora. É um pouco difícil pra escola e é isso casos são tudo abafado, entendeu?
Então, às vezes essas experiências não é que eles também têm que sair sendo
exposto pra todo mundo não, sabe? Mas as coisas são tratadas com tanta, assim,
como se fosse o absurdo do absurdo e as coisas não podem ser tratadas entre
os próprios professores, né? (sic). (MARIA, ago., 2020).

A pesquisa permite afirmar que em algumas escolas a própria gestão também tem
medo de denunciar os casos relacionados a violência e por isso deixam velados alguns
eventos. Quando a Violência Intrafamiliar é identificada e a escola procura os pais e/ou
responsáveis para dialogar e esclarecer as dúvidas, com o objetivo de solucionar o
problema, alguns pais ameaçam o professor e a escola.
Outras escolas não denunciam não por terem medo das ameaças, mas para não
manchar o nome da escola. Assim que é comentado que algum aluno é violentado, o
assunto logo circula e pode acontecer dos outros pais pedirem que a escola afaste os
filhos da criança vítima de violência.
Em outros casos, pais trocam os filhos de escola por não quererem que os filhos
frequentem a escola onde podem conviver com vítimas de violência. Então, para que a
instituição não seja mal vista pela população e para que não haja uma rejeição à escola,
a gestão da escola evita que esse tipo de assunto venha à tona, para que ela não seja
vista como um ambiente problemático.
De acordo com as participantes da pesquisa, o principal motivo desse medo citado
é atribuído ao fato desses profissionais terem que lidar com pais que são violentos ou
que vieram de uma comunidade que possui um comportamento agressivo. Devido a esse
receio “comumente as pessoas não querem se envolver em questões desta natureza,
seja por medo das ameaças que são feitas ou mesmo por terem a opinião de que não
devem se intrometer em assuntos pessoais”. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002, p. 38).
63

4.6 A Violência Intrafamiliar no período de Isolamento Social

Atualmente, toda a sociedade está passando pelos inconvenientes da pandemia


da Covid-19, que impõe o isolamento social e o consequente fechamento das escolas.
Este isolamento está mudando o dia a dia das pessoas, suas rotinas, seus trabalhos,
impedindo os encontros presenciais sociais em família, amigos e outros. O Coronavírus,
ou também chamado Covid-19, de acordo com o Ministério da Saúde (s/d, s/p), é um
vírus que pode ser transmitido pela saliva por meio de gotículas eliminadas quando se
fala, espirra, tosse ou outras formas e ainda pelo toque de outra pessoa ou objetos
contaminados. Esse vírus tem sido responsável pela morte de milhares de pessoas em
todo o mundo, sejam crianças, jovens, adultos ou idosos.
Devido a essa pandemia mundial, escolas do mundo inteiro tiveram que ser
fechadas, sendo realizadas atividades de forma online, síncronas ou assíncronas pelos
alunos e professores. Dessa maneira, professores que tinham contato e que eram os
principais agentes para a identificação de casos de Violência Intrafamiliar contra essas
crianças ficaram sem ter como realizar as notificações (ou com grandes dificuldades). A
Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) (2020), durante o início da Pandemia
de Covid-19, indicou que:

Centenas de milhões de crianças em todo o mundo provavelmente enfrentarão


ameaças crescentes a sua segurança e ao seu bem-estar - incluindo maus tratos,
violência de gênero, exploração, exclusão social e separação de cuidadores - por
causa de ações tomadas para conter a propagação da pandemia de Covid-19.
(UNICEF, 2020, s/p).

Ao apresentar essas informações para as participantes desta pesquisa, as


professoras afirmam que sentem que esse aumento realmente é algo próximo das suas
realidades e ao mesmo tempo sentem-se mais impotentes e impossibilitadas de ajudar
os alunos nesse sentido. Segundo a professora Ana, em relação aos casos de Violência
Intrafamiliar durante a pandemia de Covid-19:

As crianças estão mais expostas e vulneráveis devido aos momentos de tensão


familiar que se tornaram mais intensos pelo aumento do tempo de convivência
64

em casa. Vários fatores contribuem e agravam os casos de violência intrafamiliar,


principalmente pelo fato das crianças, durante o ensino remoto, não terem a
oportunidade de serem observadas e de conversarem com os profissionais da
escola, diminuindo as chances de serem amparadas. (ANA, ago., 2020).

A professora Ana associa as dificuldades de comunicação com as crianças ao fato


de que as atividades são enviadas diretamente para os pais através dos grupos em
celulares e quase não mantém contatos com as crianças. Neste sentido ela afirma que:

[...´] e tá (sic) muito mais difícil da gente identificar, por que aquilo que a gente vê
é somente aquilo que passam pra (sic) gente pelo celular ou pela plataforma que
tiver, que a gente estiver usando, então a gente não tá tendo a visão do aluno, a
visão dos direitos. (ANA, ago., 2020).

A professora Maria, relata também que durante esse período de pandemia, está
vivendo uma preocupação com os alunos em relação aos seus pais, porque:

Os pais tão passando por uma certa pressão porque tão (sic) tendo que assumir
um papel de professor. (...) essas crianças que já passam por algum tipo de
violência, elas devem estar mais agudas nesse momento que as pessoas estão
mais sensíveis, tão mais estressadas também né? (sic) E acabam às vezes
descontando no que não deve, que são as crianças, seus filhos né? (sic) (MARIA,
ago., 2020).

Devido a essa pressão que os pais vêm sentido por exercerem muitas tarefas ao
mesmo tempo, uma das soluções que algumas das professoras tiveram foi a redução de
atividades ou uma simplificação das mesmas, de forma a facilitar para que os alunos
consigam fazer sozinhos, sem causar mais estresses para ambas as partes. Em relação
às dificuldades que algumas crianças e familiares tiveram durante o isolamento social, a
professora refere-se às situações econômicas precárias do núcleo familiar no qual essas
crianças estão inseridas.
Para a professora Rosa, esse período de isolamento tem sido doloroso para ela,
principalmente quando ela relata sobre a situação em que muitos alunos podem estar
passando, o que se reflete nos questionamentos feitos por ela: “será que ele já está
usando drogas, ou trabalhando de aviãozinho, entregando drogas […]” (ROSA, 2020).
Isso pelo fato de que a família inteira usa. Ela relata que sabia de casos de crianças em
que a escola era o único local onde a criança se alimentava e com certo pesar na sua
65

fala ela complementa “ainda agora, muita gente perdendo emprego, então aumentou o
uso de álcool, então esses meninos estão apanhando" (ROSA, 2020).
Esse período de pandemia, tem sido um período de sofrimento para muitas
crianças que perderam o contato com a escola e os seus professores, já que eram, muitas
vezes, os únicos que poderiam aliviar ou perceber alguma situação de violência contra
os alunos. Isso pode ser reforçado com o que a Childhood Brasil (2021), diz:

Por isso, muito além do óbvio prejuízo ao processo de aprendizagem, o período


de fechamento das escolas pode ter levado mais crianças e adolescentes à
exposição a violências, estresse mental e emocional, além de acentuar
vulnerabilidades preexistentes. (CHILDHOOD BRASIL, 2021, p. 03).

Dentre as participantes da pesquisa, a professora Rosa foi a que mais mostrou-se


preocupada e sensibilizada com a situação que essas crianças estão vivenciando,
sempre expressando que “é um tema que eu nem gosto de falar” ou “eu fico até
emocionada” (ROSA, 2020). Mas, por fim, afirma que:

[...] com certeza absoluta (...). Essa taxa aumentou muito, e aí agora eles não
têm as pessoas que de repente poderiam de alguma maneira cuidar dele, né?
(sic). Então, eu só peço a Deus para cuidar desses meninos, pra aparecer um
anjo na vida deles pra tirar eles dessa situação, ou diminuir, mas está muito maior
agora, com certeza. (ROSA, set., 2020).

A pesquisa revela que a profissão do docente está muito além de possibilitar


acesso aos conteúdos, mas também que se importa com o bem estar e a segurança dos
seus alunos. A preocupação e envolvimento dos professores com os alunos é tanto que
afeta emocionalmente a professora, que só de pensar em como seus alunos estão
lidando com essa situação de violência intrafamiliar, sem poder contar com alguém e sem
um lugar para “escapar” da situação, ela sofre.
Este capítulo tratou das percepções das professoras participantes da pesquisa,
sobre a Violência Intrafamiliar. Estas percebem a importância deste assunto ser abordado
na formação inicial do curso de graduação em Pedagogia, já que as professoras não
recebem orientações sobre como lidar com estas questões. Além também de perceberem
na grande parcela dos benefícios atribuídos a utilização desses conhecimentos na
diminuição e/ou extinção deste tipo de violência e seus traumas.
66

A partir de suas experiências e da análise feita, não há uma receita para resolver
essas situações, nem em como abordar os alunos, e também, não há uma fórmula que
possibilita identificar os alunos vítimas de Violência Intrafamiliar. Esses cenários podem
não ter um padrão, porém, todos os envolvidos devem estar atentos a qualquer que seja
o sinal, mesmo sendo algo mínimo, pois pode indicar algo grande. E, para que dessa
forma, tomar providências o quanto mais cedo, maior será a taxa de diminuição dos
traumas.
67

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa realizada constatou que de fato a Violência Intrafamiliar produz efeitos


negativos na vida escolar das crianças. Estas sofrem em seu ambiente familiar,
manifestando comportamentos diversos no ambiente escolar, que se expressam em
tendo baixo rendimento, na grande maioria dos casos e, baixa autoestima e relações,
maiores agressividades. Em algumas exceções, os alunos encontram no ambiente
escolar uma forma de escapar do sofrimento que vivenciam em casa.

Assim, as professoras, quando percebem que seus alunos vivenciam casos


semelhantes de violência, buscam amenizar a situação a partir do cuidado,
sensibilizando-se com a situação que seus alunos passam.

Como foi constatado, a partir das entrevistas realizadas e documentos lidos,


embora tenha aumentado a distribuição de conteúdos, no meio eletrônico e também por
distribuição em formações continuadas, dado maior visibilidade às questões relacionadas
a violência contra a criança, ainda não é o suficiente para que professores saibam como
agir e trabalhar da melhor maneira com alunos vítimas de violência. Portanto, de acordo
com as professoras entrevistadas, as formações sobre essa temática ainda são
significativamente escassas e que deveriam ter mais e maiores formações dentro da
graduação sobre as formações continuadas para os professores. É uma necessidade
evidenciada pela pesquisa que as melhores formas de realizar o processo de ensino
dessas crianças e as capacitações dos professores sobre a temática e as formas de
denúncias em caso de percepção de Violências Intrafamiliares, sejam de fato ampliadas
e repassadas a esses profissionais da educação.

Os professores têm papel fundamental na denúncia da Violência Intrafamiliar


contra as crianças, e devem notificar qualquer suspeita de violência, para que assim os
órgãos responsáveis pela segurança e o bem-estar da criança tomem as devidas
providências e precauções.

Torna-se importante que não só os alunos e alguns de seus membros familiares,


mas que esses mesmos professores e gestores também sejam resguardados a fim de se
protegerem, pois muitos profissionais da área de educação ainda temem ações violentas
68

vindos de pais agressivos, que possam ameaçá-los e/ou agredi-los por realizar as
denúncias de violências contra seus filhos.

Visto que as mudanças nas sociedades transformaram as relações sociais e as


relações familiares, a família passou a ser vista como responsável pelo cuidado e
proteção das crianças. Em muitos casos, os pais acabam por negligenciar, maltratar e
violar os direitos das crianças de diversas formas, gerando nas crianças medos,
inseguranças, mudanças no comportamento, baixa autoestima, que impactam no
desenvolvimento e possivelmente no futuro dessas crianças.

As relações de violências cometidas pelos pais contra as crianças, são um reflexo


das vivências que esses tiveram quando crianças. Por não terem conhecimento sobre
formas de educar as crianças, eles reproduzem o que conhecem e que surte efeito
imediato, que é a prática da violência. Atrelado a isso, há o fato de tradições e costumes
serem mais difíceis de serem perpassados.
A partir dessa pesquisa, constatou-se a importância do professor para a vida dos
alunos que sofrem com a Violência Intrafamiliar, como um protetor. Como aquela pessoa
que, em muitos casos, são os principais agentes de percepção e de conhecimentos sobre
as situações vivenciadas pelas crianças. Além de ser o adulto que, muitas vezes é
considerado, como uma fonte de afeto, pelas crianças, por cuidarem quando os próprios
responsáveis não o fazem.
Conclui-se que essa temática precisa ser tratada no contexto escolar e ainda que
professores sejam cada vez mais capacitados para identificar situações de negligência e
outros tipos de Violências Intrafamiliares contra as crianças. Assim, esses profissionais
serão capazes de identificar, trabalhar e exercer o papel como responsáveis por
realizarem as denúncias de Violência Intrafamiliar contra as crianças. Nesse sentido, os
professores irão contribuir para o desenvolvimento desses alunos em sua integridade,
bem como para a aprendizagem escolar.

Os objetivos desta pesquisa foram alcançados. Entretanto, a pesquisa aponta para


a realização de outras pesquisas que objetivam identificar como os professores tem sido
preparados para trabalhar com a temática da Violência Intrafamiliar.
69

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Laura Isabel Marques Vasconcelos de et al. O papel do educador diante


da violência doméstica contra crianças e adolescentes. Faculdades Integradas
Mato-grossense. 2010. Disponível em: https://docplayer.com.br/6547627-O-papel-do-
educador-diante-da-violencia-domestica-contra-criancas-e-adolescentes.html. Acesso
em: 14 maio 2020.

ALVES, Júlio Henrique de Macêdo. A evolução nas definições de família, suas


novas configurações e o preconceito. 2014. Monografia (Graduação em Direito) -
Universidade Federal Rio Grande do Norte, Natal, 2014. Disponível em:
https://pt.scribd.com/document/370608794/5-A-EVOLUCAO-NAS-DEFINICOES-DE-
FAMILIA-CONFIGURACOES-E-O-PRECONCEITO-pdf. Acesso em: 15 set. 2020.

ANTUNES, Helenise Sangoi (Org). Escola que Protege: dimensões de um trabalho em


rede. Porto Alegre: Asterisco, 2010.

ARAÚJO, Maria de Fátima. Violência abuso sexual na família. Psicologia em Estudo,


Maringá, v. 7, n. 2, p. 5, jul/dez. 2002. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722002000200002.
Acesso em: 31 mar. 2020.

ARIÈS, Philipe. História Social da Criança e da Família. Tradução de Dora Flaksman.


2. ed. Rio de Janeiro: Editora S.A, 1981. Disponível em: http://files.grupo-educacional-
vanguard8.webnode.com/200000024-07a9b08a40/Livro%20PHILIPPE-ARIES-Historia-
social-da-crianca-e-da-familia.pdf. Acesso em: 23 de maio 2020.

AUGUSTO, Luis Fernando. A evolução da ideia e do conceito de família. Jusbrasil,


2015.. Disponível em: https://advocaciatpa.jusbrasil.com.br/artigos/176611879/a-
evolucao-da-ideia-e-do-conceito-de-familia. Acesso em: 15 set, 2020.

BRANDO, Guilherme Martinelli. A possibilidade de regulamentação das relações


poliafetivas no ordenamento jurídico brasileiro. 2018. Monografia (Graduação em
Direito) - Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, 2018. Disponível em:
https://repositorio.ucs.br/xmlui/bitstream/handle/11338/4052/TCC%20Guilherme%20Mar
tinelli%20Brando.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 25 maio 2020.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência


da República, 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 15
out. 2020.

BRASIL. Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do


Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do
Brasil, Brasília, DF, 16 jul. 1990. Disponível em:
70

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm#art266. Acesso em: 23 de maio de


2020

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes


curriculares nacionais para a educação infantil/ Secretaria de Educação Básica.
Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009. P. Brasília: MEC, SEB, 2010. Disponível
em: http://www.uac.ufscar.br/domumentos-1/diretrizescurriculares_2012.pdf. Acesso
em: 17 maio 2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Violência Doméstica Contra Criança e Adolescentes.


Recife/PE: EDUPE, 2002. Disponível em:
https://www.passeidireto.com/arquivo/85274746/violencia-domestica-contra-criancas-e-
adolescentes. Acesso: 14 mar. 2021.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de saúde. Violência


intrafamiliar: orientações para prática em serviço. Brasília, DF, 2002. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd05_19.pdf. Acesso em: 08 dez. 2019.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de saúde. Sobre a doença.


Disponível em: https://coronavirus.saude.gov.br/sobre-a-
doenca#:~:text=As%20evid%C3%AAncias%20atuais%20indicam%20que,do%20nariz%
20ou%20dos%20olhos. Acesso em: 13 fev. 2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Violência contra criança e o adolescente: Proposta


Preliminar e assistência à violência doméstica. 2. ed. Brasília, 1997. Disponível em:
bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/0220violencia.pdf. Acesso em: 08 de dez. 2019.

BRASIL. Ministério da da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Ouvidoria


Nacional de Direitos Humanos (ONDH). Relatório 2019. Disponível em:
https://www.gov.br/mdh/pt-br/centrais-de-conteudo/disque-100/relatorio-2019_disque-
100.pdf. Acesso em: 16 de abr. 2021.

BRASIL. Projeto de Lei n° 7.672, 2010. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do


Adolescente, para estabelecer o direito da criança e do adolescente de serem
educados e cuidados sem o uso de castigos corporais ou de tratamento cruel ou
degradante. Brasília: DF. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=483933.
Acesso em: 24 de maio 2020.

BRINO, Rachel Faria; SOUZA, Mayra Aparecida de Oliveira. Concepções sobre


Violência Intrafamiliar na área Educacional. Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 41,
n. 4, out./dez. 2016. Disponível em: www.scielo.br/pdf/edreal/v41n4/2175-6236-edreal-
53298.pdf. Acesso em: 18 maio. 2020.

BRITO, Flávio dos Santos. Mulher chefe de família: um estudo de gênero sobre a
família monoparental feminina. Revista Urutágua, Paraná, a. 15, abr./mai./jun./jul.
71

2008. Disponível em: http://www.urutagua.uem.br/015/15brito.htm. Acesso em: 19 abr.


2020.

BUENO, Belmira Oliveira. O método autobiográfico e os estudos com histórias de vida


de professores: a questão da subjetividade. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 28, n.
1, p.11-30, jan./jun, 2002. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/ep/v28n1/11653.pdf.
Acesso em: 23 maio 2020.

CARIGÉ, Silvio Dayube. A poliafetividade no direito de família. A possibilidade de


reconhecimento jurídico das entidades familiares poliafetivas no direito brasileiro.
Revista Jus Navigandi, Teresina, a. 24, n. 5739, 19 mar. 2019. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/72773. Acesso em: 25 maio 2020.

CASTRO, Michele G. Bredel de. Noção de Criança e Infância: Interlocuções. 16º


Congresso de Leitura do Brasil, UNICAMP, Campinas, SP, 10 a 13 de julho de 2017
Anais [...]. Disponível em:
https://www.academia.edu/36508006/ARTIGO_DE_ESTUDO_SOBRE_CRIANCA_E_IN
FANCIA. Acesso em: 13 set. 2020.

CHILDHOOD. Preparando escolas para a volta às aulas presenciais: Um olhar para


as crianças e os adolescentes vítimas de violência. Disponível em:
https://www.coalizaobrasileira.org.br/wp-
content/uploads/2021/02/Orientac%CC%A7o%CC%83es_Volta-a%CC%80s-Aulas-
Presenciais.pdf. Acesso em: 24 abr. 2021.

CHIZZOTI, Antônio. Pesquisa em ciências humanas. 2a ed. São Paulo: Cortez


Editora, 1995. Disponível em:
https://www.academia.edu/38702337/Ant%C3%B4nio_Chizzotti_PESQUISA_EM_CI%C
3%8ANCIAS_HUMANAS_E_SOCIAIS_2a_edi%C3%A7%C3%A3o_CORTEZ_EDITOR
A. Acesso em: 24 out. 2020.

COELHO, Sônia Vieira. Família Contemporânea e a Concepção Moderna de Criança e


Adolescente. In: Instituto da Criança e do Adolescente (Org.). Criança e Adolescente:
prioridade absoluta. Belo Horizonte: Editora PUC Minas, 2007.

Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente - CONANDA. Plano


Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes
à Convivência Familiar e Comunitária. Brasília, DF: Presidência da República. 2006.
Disponível em: http://www.mp.rs.gov.br/areas/infancia/arquivos/planonacional.pdf.
Acesso em: 20 out. 2020.

COSTA, Andréia de Lana; TEIXEIRA, Karla Maria Damiano. O comportamento dos


Alunos na escola e sua relação com violência doméstica na Percepção dos
Educadores. Revista Brasileira de Economia Doméstica, Viçosa, v. 28, n. 1, p. 22-42,
2017. Disponível em:
http://www.conhecer.org.br/enciclop/2017b/sau/violencia%20intrafamiliar.pdf. Acesso
em: 20 out. 2020.
72

COSTA, Hélio de Sousa; FILHO, Francisco Edilson Loiola. A união homoafetiva e sua
regulamentação no Brasil. Revista Jus Navigandi,, Teresina, a. 20, n. 4361, 2015.
Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/39874>. Acesso em: 12 maio 2020.

DESSEN, Maria Auxiliadora; BRAZ, Marcela Pereira. A família e suas inter-relações


com o desenvolvimento humano. In: DESSEN, M. A; COSTA Jr., Á. L. (Orgs.). A
ciência do desenvolvimento humano: tendências atuais e perspectivas futuras. Porto
Alegre: Artmed, 2005, p.113-131.

FALEIROS, Vicente de Paula; FALEIROS, Eva Silveira. Escola que Protege:


enfrentando a violência contra crianças e adolescentes. 2.ed. Brasília: Ministério da
Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2008.

GANDRA, Alana. Agressões contra crianças aumentaram na pandemia, diz


especialista. AGÊNCIA BRASIL, Rio de Janeiro, 2021. Disponível em:
https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2021-04/agressoes-contra-
criancas-aumentaram-na-pandemia-diz-especialista. Acesso em: 11 mar. 2021.

GARBIN, Cléa Adas Saliba et al. Formação e atitude dos professores de educação
infantil sobre violência familiar contra criança. Educar em Revista, Curitiba, n. especial
2, 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-
40602010000500012&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 24 de abr. 2021.

GUIMARÃES, Sandra Regina Kirchner; MINDAL, Clara Brenner; SILVA Paulo Vinicius
Baptista. Escola que protege: muito além da sala de aula. In: SILVA, Paulo Vinicius
Baptista; LOPES, Jandicleide Evangelista; CARVALHO, Arianne. Por uma escola que
Protege: a educação e o enfrentamento à violência contra crianças e adolescentes.
Ponta Grossa: Editora UEPG, Curitiba, Cátedra UNESCO de Cultura da Paz UFPR, p.
198, 2008.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Casamentos Homoafetivos


crescem 61,7% em ano que queda total de uniões. Agência IBGE Notícias, 2019
Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-
noticias/noticias/26192-casamentos-homoafetivos-crescem-61-7-em-ano-de-queda-no-
total-de-unioes. Acesso em: 24 abr. 2021.

LEITE, Eduardo Oliveira. Famílias Monoparentais. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2. ed. 2003.

LIRA, Bruno Carneiro. O passo a passo do Trabalho Científico. 2. ed. Petrópolis:


Editora Vozes, 2014.

MAIA, Janaína Nogueira. Concepções de criança, infância e educação dos


professores da educação infantil. 2012. Dissertação (Mestrado em Educação) –
Programa de Pós-graduação em Educação, Universidade Católica Dom Bosco, Campo
73

Grande - MS, 2012. Disponível em: https://site.ucdb.br/public/md-dissertacoes/11459-


janaina-nogueira-maia.pdf. Acesso em: 14 de set. 2020.

MARMO, Denise Barbieri; DAVOLI, Adriana; OGIDO, Rosalina. Violência Doméstica


Contra a Criança (Parte 1). 1955. Disponível em:
https://www.semanticscholar.org/paper/Viol%C3%AAncia-dom%C3%A9stica-contra-a-
crian%C3%A7a-(Parte-I)-Marmo-
Davoli/a923e9171c0435c39c690041c6cd0ff6210e2f33. Acesso em: 23 out. 2020.

MARTINS, Fernanda Flaviana de Souza. Análise institucional na saúde: o impacto da


violência intrafamiliar nas crianças e adolescentes. 1. ed. Curitiba: Editora CRV, 2015,
p. 170.

MICHAELIS. Infância. 2020. Disponível em: <https://michaelis.uol.com.br/moderno-


portugues/busca/portugues-brasileiro/Infancia/>. Acesso em: 06 abr. 2020.

MICHAUD, Yves. A violência. Tradução de L Garcia. São Paulo. Editora Ática S.A.
1989. Disponível em:
<https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4674952/mod_resource/content/1/A%20viol%
C3%AAncia.pdf>. Acesso em: 14 maio 2020.

MILLER, Karen. Educação Infantil: como lidar com situações difíceis. Porto Alegre:
ArtMed, 2008.

MINAYO, Maria. Violência contra crianças e adolescentes: questão social, questão de


saúde. Revista Brasileira de Saúde Materna Infantil, v. 1, n. 2, Recife, maio/ago.
2001. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-
38292001000200002&lng=pt&tlng=pt. Acesso em: 20 de maio 2020.

OLIVEIRA, Thaís Thomé Seni S. e; CALDANA, Regina Helena Lima. Educar é punir?
Concepções e práticas educativas de pais agressores. Estudos e Pesquisas em
Psicologia, Rio de Janeiro, v. 9 n. 3, 2009 Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-
42812009000300009. Acesso: 20 de ago. 2019.

PATIAS, Naiana Dapieve; SIQUEIRA, Aline Cardoso; DIAS, Ana Cristina Garcia. Bater
não educa ninguém! Práticas educativas parentais coercitivas e suas repercussões no
contexto escolar. Educação e Pesquisa, v. 38, n. 4, São Paulo, out./dez. 2012.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1517-
97022012000400013&script=sci_arttext&tlng=pt. Acesso em: 20 maio. 2020.

PERES, Emerson Luiz. Da violência estrutural à violência doméstica contra crianças e


adolescentes: aspectos conceituais. In: SILVA, Paulo Vinicius Baptista da; LOPES,
Jandicleide Evangelista; CARVALHO Arianne (orgs.). Por uma escola que Protege: A
educação e o enfrentamento à violência contra crianças e adolescentes. Ponta Grossa:
Editora UEPG, 2008. Cap.6, p.111-124.
74

QVORTRUP. Jens. A infância enquanto categoria estrutural. Educação e Pesquisa,


São Paulo, v. 36, n.2, p. 631-643, maio/ago. 2010. Disponível em:
www.scielo.br/pdf/ep/v36n2/a14v36n2.pdf. Acesso em: 12 de abr. 2021

REPÓRTER UNESP - Universidade Estadual Paulista. Sequelas da violência na história


da humanidade. UNESP, 2014. Disponível em:
http://reporterunesp.jor.br/2014/05/02/sequelas-da-
violencia/#:~:text=A%20viol%C3%AAncia%20%C3%A9%20t%C3%A3o%20antiga,%C3
%A0%20sua%20iner%C3%AAncia%20%C3%A0%20esp%C3%A9cie.&text=Nos%20pri
m%C3%B3rdios%20da%20civiliza%C3%A7%C3%A3o%20humana,%C3%A0s%20adv
ersidades%20impostas%20pelo%20ambiente. Acesso em: 14 mar. 2020.

RIBEIRO, Janille Maria Lima. Uso da Palmada como Ferramenta Pedagógica no


Contexto Familiar: Mania de Bater ou Desconhecimento da Outra Estratégia de
Educação? Pesquisas e Práticas Psicossociais 7(1), São João del-Rei, janeiro/junho
2012. Disponível em: https://www.ufsj.edu.br/portal2-
repositorio/File/revistalapip/Volume7_n1/Ribeiro.pdf. Acesso em: 23 maio 2020.

RISTUM, Marilena. A violência doméstica contra crianças e as implicações da escola.


Temas em Psicologia, [S.l.], v. 18, n. 1, 2010. Disponível em:
pepsic.bvsalud.org/pdf/tp/v18n1/v18n1a19.pdf. Acesso em: 14 maio 2020.

ROMANELLI, Geraldo. Autoridade e poder na família. In: CARVALHO, Maria do Carmo


Brant de. (Org.). A família contemporânea em debate. São Paulo: EDUC/Cortez,
1955.

SILVA, Maria Alice da. A Família Brasileira Contemporânea e a Concepção Moderna de


Criança e Adolescente. In: Instituto da Criança e do Adolescente (org.). Criança e
adolescente: prioridade absoluta. Belo Horizonte: Editora: PUC Minas, 2007, cap. 3.

SILVA, Paulo Vinícius Baptista da; SOUZA, Gizele de. Notas sobre estudos da Infância.
In: SILVA, Paulo Vinicius Baptista da Silva; LOPES, Jandicleide Evangelista;
CARVALHO, Arianne. (org). Por uma escola que protege: A educação e o
enfrentamento à violência contra a criança e adolescentes. Ponta Grossa: Editora
UEPG; Curitiba, Cátedra UNESCO de Cultura da Paz UFPR, 2008. cap. 1.

TRIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais. São Paulo:


Editora Atlas S. A. 1987. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4233509/mod_resource/content/0/Trivinos-
Introducao-Pesquisa-em_Ciencias-Sociais.pdf. Acesso em: 24 out. 2020.

UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância. COVID-19: Crianças em risco
aumentado de abuso, negligência, exploração e violência em meio a intensificação de
medidas de contenção. 2020. Disponível em:
https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/covid-19-criancas-em-risco-
aumentado-de-abuso-negligencia-exploracao. Acesso em: 14 mar. 2021.
75

VEIGA, Daphne Lúcia da Veiga; SILVA, Márcia Aparecida da; SILVA, Priscila Andrezza
da. A influência da violência doméstica no processo de aprendizagem do aluno: estudo
de caso- Projeto Aquarela. XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e
IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do
Paraíba, 2009. Disponível em:
http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2009/anais/arquivos/RE_1223_1331_01.pdf.
Acesso em: 4 abr. 2021.

VIERIA, Bárbara M; PINHONI, Marina; MATARAZZO, Renata. Denúncias de violência


contra crianças e adolescentes caem 12% no Brasil durante a pandemia. Portal G1.
Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/09/10/denuncias-de-
violencia-contra-criancas-e-adolescentes-caem-12percent-no-brasil-durante-a-
pandemia.ghtml. Acesso em: 10 maio 2021.

WEBER, Lídia Natália Dobrianskyj; VIEZZER, Ana Paula; BRANDENBURG, Olivia


Justen. O uso de palmadas e surras como prática educativa. Estudos da Psicologia,
Paraná, v. 9, n. 2, p. 235, 2004. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-294X2004000200004&script=sci_arttext.
Acesso em: 23 de maio 2020.
76

APÊNDICE A - Roteiro de entrevista semiestruturada para profissionais da


educação

PERFIL DO (A) PROFISSIONAL:


1. Nome:
2. Idade:
3. Qual sua formação acadêmica?
4. Quanto tempo de docência?
5. Quanto tempo trabalha na escola atual?
6. O que é violência intrafamiliar?
7. Conhece algum caso de aluno que sofre essa violência?
8. Você observa os comportamentos dos alunos? Com qual frequência?
9. Quais tipos de comportamentos são notados?
10. Quais os principais sinais que a (o) levam a suspeitar que esse aluno pode sofrer
violência intrafamiliar?
11. Quais são as dificuldades enfrentadas para ensinar essas crianças vítimas?
12. Como é a relação dos pais com a escola e os professores?
13. Quais são os procedimentos tomados por você após a confirmação de algum caso
de violência intrafamiliar contra algum aluno?
14. Quais seriam as medidas pedagógicas necessárias para o processo de ensino-
aprendizagem de crianças vítimas de violência intrafamiliar?
15. Você considera que os profissionais da educação possuem alguma formação ou
capacitação para poder lidar com esse tema?
16. Você trabalha com a temática de violência doméstica com seus estudantes? Se
sim, como é trabalhado esse tema?
17. A violência intrafamiliar pode não mostrar sinais, como os professores,
coordenadores e a instituição podem contribuir para evitar essa violência?
18. Qual ou quais são os principais tipos de violência intrafamiliar notadas pelos
professores através dos alunos?

( ) Violência física ( ) Sexual ( ) Negligência/Abandono ( ) Psicológica

19. Há mais alguma observação que gostaria de destacar?

Você também pode gostar