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DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
BALSAS-MA
2022
1
FERNANDA DE LURDES MOREIRA MOREIRA
BALSAS-MA
2022
2
3
FINGIR NÃO VER É SER CUMPLICE!
A URGÊNCIA DA EDUCAÇÃO SEXUAL NO COTIDIANO EDUCATIVO
Banca Examinadora:
______________________________________
Prof. Dr. Leonardo Mendes Bezerra
Universidade Estadual do Maranhão
Presidente da Banca
______________________________________
Profa. M.a Ana Maria Marques de Carvalho
Universidade Estadual do Maranhão
Avaliadora Interna
______________________________________
Profa. Esp. Laélia Leite Pinto Bertoldo
Universidade Estadual do Maranhão
Avaliadora Interna
4
Dedico a pesquisa à todas as vítimas de abuso sexual,
meninos, meninas, crianças e adolescentes. Minha
solidariedade a todos que tiveram que passar por algumas
dessas experiências traumáticas, as quais desejo que um dia
possa chegar ao fim.
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AGRADECIMENTOS
6
RESUMO
A Educação Sexual é importante a medida que nos últimos anos grande parte das
pessoas e dos políticos conservadores veem as temáticas sexuais no âmbito escolar
como uma desinformação que corrompe a moral, os bons costumes sociais e culturais
dos estudantes, além de ser vista como ações de libertinagem que estimulam a
pornografia e aos péssimos costumes, comportamentos e ações. Por acreditar que a
Educação Sexual é importante em suas múltiplas vertentes, ela está muito além de
falar sobre sexo, e sim como elemento conscientizador, libertador, esclarecedor e que
ensina às pessoas os direitos humanos e a dignidade pessoal e coletiva. A partir disso,
esta monografia tem o objetivo de apontar a urgência no cotidiano educativo da
Educação Sexual como ferramenta que potencializa a defesa da dignidade humana.
Metodologicamente adotou-se a pesquisa bibliográfica, a pesquisa de campo com
estudantes dos cursos de licenciatura em Pedagogia, Matemática e Letras de uma
universidade pública com a aplicação de questionário virtual em que os dados foram
analisados de forma quantitativa por meio da estatística descritiva; além disso,
também utilizou-se na pesquisa qualitativa a elaboração de micronarrativas ficcionais
com dados lidos, ouvidos e vistos na mídia, essa proposta foi analisada de forma ética
e várias histórias foram embaralhadas para depois serem remontadas com a criação
de personagens fictícios. Os resultados apontaram a necessidade urgente em
trabalhar com educação sexual nas escolas e principalmente nos cursos de formação
de professores.
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ABSTRACT
Sex Education is important as, in recent years, most people and conservative
politicians see the themes in the school environment as disinformation that corrupts
the morals, good social and cultural customs of students, in addition to being seen as
actions of debauchery that encourage pornography and bad dress, behavior and
actions. Believing that Sexual Education is important in its multiple aspects, it goes far
beyond talking about sex, but as an awareness-raising, liberating, enlightening
element that teaches people human rights and personal and collective empowerment.
From this, this monograph aims to meet the urgency in the educational routine of
Sexual Education as a tool that enhances the defense of human nature.
Methodologically, bibliographical research was adopted, field research with students
of the degree courses in Pedagogy, Mathematics and Letters of a public university with
the application of a virtual class in which the data were analyzed quantitatively through
descriptive statistics ; in addition, the elaboration of fictional micronarratives with data
read, heard and seen in the media was also used in the qualitative research, this
proposal was ethically preserved and several stories were shuffled to later be
reassembled with the creation of fictional characters. The results pointed to an urgent
need to work with sex education in schools and especially in teacher training courses.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................... 10
1.1 Motivos para a escolha do tema Educação Sexual...................... 10
1.2 Questões que direcionaram o estudo............................................ 11
1.3 Objetivos........................................................................................... 12
1.3.1 Objetivo Geral................................................................................... 12
1.3.2 Objetivos Específicos...................................................................... 12
1.4 Percurso metodológico................................................................... 12
1.5 Apresentação do texto monográfico.............................................. 16
2 VIOLÊNCIA FÍSICA E PSICOLÓGICA DE CUNHO SEXUAL COM
CRIANÇAS E ADOLESCENTES...................................................... 18
2.1 Formas de violência sexual............................................................. 21
2.1.1 Violência sexual com contato físico............................................... 22
2.1.2 Violência sexual sem contato físico............................................... 28
3 A EDUCAÇÃO SEXUAL E PROTEÇÃO DOS JOVENS ................... 36
4 URGENTE, EDUCAÇÃO SEXUAL PODE SALVAR VIDAS............. 39
5 A URGENCIA DA EDUCAÇÃO SEXUAL NA FORMAÇÃO DE
PROFESSORES................................................................................ 51
5.1 Opiniões reveladas dos professores em formação na UEMA...... 51
5.2 Educação sexual de qualidade nas escolas.................................. 61
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................... 61
REFERÊNCIAS................................................................................. 70
APÊNDICE.......................................................................................... 76
Apêndice 1 – Roteiro de perguntas do formulário......................... 77
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1 INTRODUÇÃO
10
Em um processo de Estágio na Educação Infantil com uma turma de 3° ano
ouço a seguinte pergunta de uma aluna de apenas 9 anos, “professora, depois que a
gente menstrua a gente pode ficar grávida?”. Em seguida ela corre para um grupo de
colegas para levar a informação sobre o assunto. Em outra ocasião uma outra aluna
me questiona, “professora, qual o tipo de fruta que se tira a semente para ter um
neném?”
São perguntas como estas que nos fazem pensar a importância de se saber
como argumentar sobre assuntos que para muitos pode parecer inadequados para a
idade da criança, mas que apenas fazem parte do desenvolvimento e a curiosidade
em saber o seu funcionamento. Falar sobre ESex é alertar sobre quais
partes do corpinho da criança podem ou não ser tocados, a forma como é tocado, e
os limites, para que ela entenda que situações de abuso não é algo natural como o
abusador as vezes diz ser para convencer a criança de que está tudo bem e não
despertar o interesse da mesma em comunicar a alguém o ocorrido.
Uma qualificação dos profissionais educadores sobre como trabalhar
ESex com crianças serve para alertar a criança quando o fato ocorrer, trazendo a
concepção da criança de que aquilo é errado, não só o contato físico, mas
gestos obscenos que o abusador possa fazer para aliciar a criança, essa formação
deve ocorrer não só para o pedagogo, mas, para todo profissional docente, pois os
demais professores passam a maior parte do tempo em sala de aula em contato direto
com as crianças.
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A criança vítima por muitas vezes não entende o que está acontecendo, e traz
então consigo muitas dúvidas que através do amparo escolar pode ser possível a
identificação de uma possível violência.
Diante disso questionamos: O que as referências teóricas tem a
informar sobre abuso sexual infantil? Qual é o papel da escola frente a prevenção de
abusos sexuais as crianças? Os temas relacionados a educação sexual trabalhados
na escola podem conscientizar as crianças sobre as ações e atitudes relacionadas ao
abuso sexual?
1.3 Objetivos
13
criados nomes fictícios, e das diversas informações divulgadas na mídia para poder
elaborar pequenas narrativas que reúnem as ideias principais e secundárias.
As ideias principais representam o núcleo do texto, em torno do qual se
fundamentam as demais conjecturas e premissas que são manifestadas para dar
sentido a esse núcleo. É a parte essencial da mensagem que se deseja transmitir. Já
as ideias secundárias são amplificadoras da ideia central, ou seja, elas representam
no discurso um conjunto de recursos ao se unir por marcas conectivas e discursivas
que atribuem densidade e personalidade ao discurso.
A partir dessas ideias, foram embaralhadas e remontadas com base nos
preceitos da micronarrativa ficcional (BEZERRA, 2022a), conforme apresenta-se na
figura 1.
17
2 VIOLÊNCIA FÍSICA E PSICOLÓGICA DE CUNHO SEXUAL COM CRIANÇAS E
ADOLESCENTES
18
A violência física e psicológica vivida pela vítima deixam marcas permanentes,
as marcas físicas podem desaparecer com o passar do tempo, porém as marcas
psicológicas podem permear por uma vida toda, resultando em grandes bloqueios
pessoais, por vezes havendo a necessidade de acompanhamento psicológico e uso
de medicamentos, se assim o profissional indicar.
Além de traumas psicológicos gerados por esses crimes, as vítimas podem
desenvolver uma série de transtornos mentais, que acabam por dificultar ainda mais
a reabilitação da vítima para o meio social, devido a isso é que faz necessário um
acompanhamento profissional especializado em casos de violência sexual.
De acordo com a psicóloga Fabíola Luciano (2022), que relata suas
experiências profissionais em seu site, afirma que a violência sexual gera traumas,
pois:
A violência sexual pode gerar sequelas e traumas para toda vida tanto nas
questões físicas quanto nas questões psicológicas e emocionais. A vítima
tem seu corpo e mente violados, e por isso, após o abuso, pode passar a ter
sintomas físicos e psicológicos e desenvolver Transtornos como Ansiedade
e Depressão (LUCIANO, 2022, p. 5).
[...] qualquer ato sexual, tentativa de obter um ato sexual ou outro ato dirigido
contra a sexualidade de uma pessoa usando coerção, por qualquer pessoa,
independentemente de seu relacionamento com a vítima, em qualquer
ambiente. Inclui estupro, definido como a penetração fisicamente forçada ou
coagida da vulva ou ânus com um pênis, outra parte do corpo ou objeto
(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2022, p. 30).
Fonte: Secretarias Estaduais de Segurança Pública e/ou Defesa Social: Observatório de Análises
Criminais – COINE/RN; Intituto de Segurança Pública/RJ (ISP); Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE); Fórum Brasileiro de Segurança Pública apud (TEMER, 2022, s/p).
20
[...] profissionais apontam que as meninas são as maiores vítimas da
violência sexual. Este tipo de violência tem número de atendimento alto,
sobretudo nos serviços de Família Acolhedora (é uma violência de grande
ocorrência intrafamiliar, motivando, muitas vezes, a retirada da criança e/ou
adolescente do lar) e naqueles voltados para atendimento na zona rural.
(CHILDHOOD BRASIL, 2017, p. 145).
Ao contrário do que muitas pessoas pensam a violência sexual pode ocorrer com
ou sem o contato físico. Contatos físicos “forçados”, como beijos e toques em qualquer
parte do corpo, podem ser considerados violência ou abuso sexual.
21
2.1.1 Violência sexual com contato físico
[...] os poucos casos que chegam à denúncia e aos meios legais, que
deveriam ser de proteAbuso sexual na infância e adolescência acabam por
ter laudo pericial inconclusivo ou de atos libidinosos, que não deixam marcas
físicas, nem a comprovação pelos critérios atuais implícitos no Código Penal
(PFEIFER; SALVAGNI, 2005, p. 16).
Primeira micronarrativa
A masturbação forçada pelo avô com o neto
22
comer o que quisesse também. Afinal de contas, eu era o seu primeiro e único neto
até então.
Lembro-me, também, que o tratamento de carinho que tinham comigo,
também tinham a minha mãe. Minha mãe sempre dizia que tinha um paizão, desde
a infância à sua fase adulta. Apoiava suas escolhas e era muito participativo, sempre
se fazendo presente, mal sabia ela, que aquele Super-pai um dia poderia fazer
tamanha maldade com alguém tão indefeso, frágil e que ela amava mais que tudo
na vida, ainda mais por se tratar de seu único e tão amado filho.
Em uma de nossas vindas para casa, passamos pela casa da vovó e do
vovó como fazíamos frequentemente. Eu como de costume, assim que
chegávamos, procurava minha caixinha de brinquedos que já tinha na casa da vovó
e ficava brincando no chão da sala com alguns carrinhos, mamãe e vovó
conversavam na cozinha enquanto vovó fazia o jantar. Em um certo dia, avô sentou-
se no chão para brincar comigo e após alguns minutos, me convidou para olhar a
lua, ele me pegou no colo e saímos em direção ao quintal da casa que ficava bem
nos fundos.
Lá, meu avó se mostrava meio desconfiado, olhando sempre para a porta
da casa para ver se não havia alguém olhando. Sentamos em uma cadeira ele me
colocou em seu colo e começou a pôr as mãos dentro das minhas calças. Lembro-
me que me assustei naquele momento, achei estranho a atitude, mas por não saber
o que estava se passando, não tive a iniciativa de sair correndo, mas me lembro de
sentir que aquela situação era incomum, meu avô nunca havia tocado em qualquer
parte do meu corpo antes. Sempre que eu tomava banho na casa da vovó, era ela
quem me dava banho.
Enquanto vovô colocava suas mãos dentro das minhas calças, me
mandava ficar olhando para lua, e não me mexer enquanto estimulava o meu “pipiu”
e parecia se excitar bastante com isso. Pois no meu ouvido conseguia ouvir alguns
sons estranhos que ele fazia enquanto me tocava, suspirava e à medida que
aumentava a frequência ele parecia mais ofegante.
Quando ele achava que o tempo que tivemos lá fora já iria parecer suspeito,
ele parava e antes que voltássemos para dentro de casa ele conversava comigo,
dizia que aquela brincadeira que o vovô estava fazendo era algo normal, e que era
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divertido, que não havia necessidade de contar para a mamãe, pois ela ficaria
chateada e nunca mais me levaria de novo para a casa da vovó.
Após o jantar fomos para casa, e no dia seguinte novamente se repetiu. Eu
já estava ficando incomodado, pois não estava gostando dessa brincadeira. Mas
por medo de que a mamãe não quisesse mais me levar para ver a vovó, eu não
comentava.
Após longas semanas passando pela casa da vovó, enquanto estávamos
no quintal vovó tentou algo diferente. Tentou “meter” um dedo em mim, e nesse
momento dei um grito ao sentir muita dor, logo mamãe saiu correndo para fora e
perguntou o que estava havendo. Vovô muito desconfiado logo disse que eu havia
tropeçado e saído, mas que não havia com o que se preocupar, pois já estava tudo
bem. Eu, muito assustado e com medo de que se repetisse o que ele havia feito,
corri para os braços da mamãe e pedir para que ela me levasse para casa. Comecei
a chorar bastante, então mamãe decidiu que não esperaríamos para o jantar
naquele dia.
Em casa ela me perguntou o que havia realmente acontecido, não que ela
suspeitasse do meu avô, mas meu choro estava muito sentido, carregado de medo,
não parecia ser apenas um tropeço.
No dia seguinte, passamos por lá novamente, e lembro-me de recusar ir
“olhar a lua” no quintal com o vovô. Então continuei a brincar no chão da sala. No
outro dia, novamente vovô me chamou, e eu ainda assustado, pela última vez, disse
não, mamãe insistiu para que eu fosse, porque senão o vovô ficaria triste.
Então, por mamãe ter pedido para que eu fosse, aceitei o convite e fui, de
novo ele tentou pôr o dedo no meu “cu”, mas falando para não gritar e fazer silêncio,
ele desconfiado com medo de que minha mãe pudesse vir novamente. Parou com
a tentativa e ficou estimulando apenas meu “pinto”.
Dessa vez mamãe me achou estranho, na volta para casa eu estava calado,
em casa foi da mesma forma. Antes eu era uma criança ativa, sorridente e cheia de
energia. A alegria e entusiasmos não faziam mais parte da minha personalidade, no
outro dia quando passamos por lá, minha mãe começou a observar melhor viu que
eu mudava minha expressão ao chegar perto do meu avô. Dessa vez, ao me chamar
para ir “olhar a lua” minha mãe decidiu observar sem que ele notasse. Ela deu a
volta, ficou a espreita e olhou por cima do muro, ela não conseguiu acreditar na
24
cena que presenciou ao olhar, seu pai, aquele que tanto cuidou-a e deu-lhe tanto
carinho, estava naquele momento abusando de seu filho.
Sem pode crer no que havia acabado de ver, correu para chamar a vovó
para olhar, na expectativa de que seus olhos a tivessem enganado, mas
infelizmente era real.
Então as duas correram para o quintal e me tomaram dos braços de meu
avô, ele dizia a todo momento que não era aquilo que estavam pensando, que
estavam enganadas, mas não houve justificativa. Mamãe saiu da casa dos meus
avós e no dia seguinte procurou a delegacia para efetuar a denúncia. Minha avó
separou-se de meu avô, a após alguns anos recebemos a notícia de que ele havia
falecido devido a um infarto.
Fonte: elaborado com base em Andrighuetto (2017); Agência Senado (2019); A Gazeta (2022);
Carvalho (2020); Calazenço (2022); Capital News (2022); Correio Brasiliense (2022); Diário do Litoral
(2022); Fernandes (2019); Folha de São Paulo (2022); G1 Bahia (2022); G1 Brasil (2022); G1
Maranhão (2019); G1 Maranhão (2022); G1 Mato Grosso do Sul (2022); GIFE (2020); G1 Rio de Janeiro
(2022); Internet Matterns.org (s/d); Pinho (2022); TribunaHj.com (2018); Top Midia News (2022); Veja
Folha (2022); O Dia (2022); Oeste Goiano (2018); Souza et al (2019); Queiroz (2019); Teixeira (2011);
UolConfere (2022); Zulata (s/d) e também nos relatos ouvidos.
Segunda micronarrativa
O padrasto estupra a enteada
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passou por mim encarando, mas continuei a prender a minha atenção na TV. Em
seguida ouvi o barulho do chuveiro ligado, logo ele chama pelo meu nome e me
pede para que eu alcance a toalha pois havia esquecido de levar para o banho.
Quando estendi o braço para lhe alcançar a toalha, ele agarrou em meu punho e
me puxou para dentro do banheiro, tentei me soltar, tentei bater nele, mas ele tinha
uma força enorme, que qualquer tentativa de golpe era em vão. Lembro que tentei
gritar e pedir por socorro, mas ele tapou a minha boca e me disse que se eu tentasse
fazer algo ele me mataria e depois mataria a minha mãe. Ele me levou para debaixo
do chuveiro passou sabonete por todo o meu corpo para ficar escorregadio e
começou a passar o “pinta” por todo meu corpo. Passava por cima da minha
“pepeca” esfregava até sair um líquido do pinto dele, que na época não sabia o que
era, hoje sei que foi uma ejaculação.
No dia em questão minha mãe chegou a noite e me lembro de olhar para ela
e sentir muito medo, pois pensei em contá-la mas o medo de que ele fizesse algo
com a gente era maior.
No dia seguinte, lembro que fiquei com medo de sair de dentro do quarto,
achava que saindo de lá, seria um motivo para ele ver o meu corpo e sentir desejo.
Achava que o episódio do dia anterior havia sido culpa minha. Mas minha tentativa
de evitar que se repetisse foi em vão, não demorou para que ele entrasse dentro do
meu quarto apenas de cueca e já me amedrontando e pedindo por silêncio.
Dessa vez ele estava sedento rasgou minhas roupas, shorts e a calcinha e
sem pensar duas vezes introduziu seu “pinto” em mim de uma forma tão violenta
que no mesmo instante começou a sangrar bastante, no primeiro momento ele subiu
por cima de mim e abusou até que conseguisse colocar em mim um líquido fedido
e branco que se misturava com meu sangue.
Não satisfeito, me colocou de costas na cama e introduziu o pinto no meu
“cu”, não me recordo com nitidez dos fatos, na minha cabeça são pequenas
memórias daquele momento de grande tortura que vivi.
Quando ele novamente se satisfez... saiu do meu quarto direto para o
banheiro, e me pediu para que desse jeito na “bagunça”. Quando ele se retirou, eu
só conseguia chorar, fiquei em total estado de choque, para mim era difícil acreditar
que aquilo realmente tinha acontecido comigo, eu me sentia dentro de um pesadelo.
Fiquei imóvel deitada na cama durante horas, quando me veio na cabeça que já
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estava perto do horário da minha mãe chegar. Como não havia mais tempo para
que eu pudesse lavar os lençóis manchados com sangue, apenas os tirei-os do
colchão, enrolei-os e escondi debaixo da cama.
Então, logo minha mãe chegou do trabalho, eu já estava deitada, ela entra em
meu quarto e me pergunta se estava tudo bem, digo que sim, que só estava muito
cansada, pois havia me exercitado muito durante a manhã na aula de educação
física.
Momentos depois, acordo com muitos gritos, minha mãe entra no quarto e me
manda ir para fora e entrar no carro. Ela havia entrado em meu quarto enquanto eu
estava adormecida, encontrou os lençóis com sangue e minha roupa que ele havia
rasgado. Fomos direto para a delegacia, minha mãe não falou comigo durante o
percurso, só me lembro dela chorar sem parar. Mas registramos a queixa e ele foi
preso.
Até hoje faço acompanhamento psicológico duas vezes por semana, e mesmo
agora, após anos do acontecido tenho pesadelos vívidos com aqueles momentos
de pura aflição. Devido aos pesadelos e as crises que ansiedade tenho que fazer
tratamento com ansiolíticos para me ajudar a não entrara em crise.
Fonte: elaborado com base em Andrighuetto (2017); Agência Senado (2019); A Gazeta (2022);
Carvalho (2020); Calazenço (2022); Capital News (2022); Correio Brasiliense (2022); Diário do Litoral
(2022); Fernandes (2019); Folha de São Paulo (2022); G1 Bahia (2022); G1 Brasil (2022); G1
Maranhão (2019); G1 Maranhão (2022); G1 Mato Grosso do Sul (2022); GIFE (2020); G1 Rio de Janeiro
(2022); Internet Matterns.org (s/d); Pinho (2022); TribunaHj.com (2018); Top Midia News (2022); Veja
Folha (2022); O Dia (2022); Oeste Goiano (2018); Souza et al (2019); Queiroz (2019); Teixeira (2011);
UolConfere (2022); Zulata (s/d) e também nos relatos ouvidos.
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O Estatuto Childhood Brasil (2019) descreve algumas formas de violência
sexual sem que haja contato físico: Abuso sexual verbal; Exibicionismo; Exibição de
material pornográfico, conforme apresentado no quadro 1.
Terceira micronarrativa
Conversas de um pedófilo com uma garotinha de 10 anos de idade com troca
de nudes
Sou mãe e a poucos meses passei por uma experiência que infelizmente
acontece comumente, porém nunca imaginamos que aconteceria com alguém na
nossa família, no meu caso, com a minha filha de apenas 10 anos.
O que irei relatar espero que sirva de lição para os pais, para que tomem mais
cuidado com seus filhos e aos tipos de conteúdo que eles estão tendo acesso. Pois
o que vejo é que as crianças estão tendo acesso a aparelhos celulares cada dia
mais cedo, e sem a supervisão dos pais, o que acaba por ser um grande perigo,
pois acabam sendo presas fáceis para mal feitores a procura de inocentes na
internet, como ocorreu com a minha filha.
Quando minha filha completou 10 aninhos, resolvi comprar um aparelho
celular à ela, pois como sou mãe solteira moramos apenas nós duas e achei que
comprando um aparelho facilitaria o nosso contato para que eu pudesse saber como
ela estava, e ela me comunicar caso houvesse algum problema.
Nas primeiras semanas ela estava bem empolgada, afinal, toda criança fica
bem envolvida quando ganha algo novo. Passa muito tempo baixando joguinhos e
assistindo a vídeos no YouTube.
Uma vez acordei tarde da noite, abri a porta de seu quarto e vi que ela ainda
não havia dormido, estava de baixo do cobertor com o celular nas mãos, acendi a
luz do quarto e perguntei por qual motivo ela ainda estava acordada, me respondeu
que havia perdido a hora por estar jogando. Peguei o aparelho dela como castigo e
lhe disse que só lhe entregaria no dia seguinte. Mas jamais me passou pela cabeça
de que uma criança pudesse estar conversando com alguém até aquele horário.
No dia seguinte quando fui lhe devolver o aparelho percebi que ela estava
um pouco apreensiva, mas imaginei que fosse por medo de que eu voltasse a brigar
com ela.
Na noite desse mesmo dia, resolvi aguardar por um mais um momento para
conferir se ela já dormia. Fui até seu quarto por volta de 2 horas da manhã, e para
30
minha surpresa ela havia trancado a porta, mas como eu tinha uma cópia da chave
guardada consegui abrir. Quando entrei no quarto ela já havia adormecido, mas
escutei barulhos de notificações vindo do seu celular, quando pego para olhar,
quase não consigo crer. Era uma mídia que havia sido enviada para ela, uma
imagem de um pênis ereto. Comecei a tremer, sai de dentro do quarto para que ela
não acordasse, abri a notificação que havia chegado através de um aplicativo de
conversas, que na descrição seria para conhecer novos amigos.
Comecei a chorar quando vi que eles já haviam trocados várias mensagens,
todos os dias eles se falavam, era repugnante ver a forma como ele falava com ela,
sempre fazendo elogios, a chamando de “pequena flor”, “minha docinho”, “minha
princesinha”.
No seu perfil não havia foto real, era a imagem de uma série infantil, creio
que era para chamar a atenção das crianças. A forma como ele falava com ela, era
nitidamente para conquistar sua confiança, em mensagem de texto ele havia dito
para ela ter 29 anos de idade, e pergunta se para ela não havia problemas, pois
apenas estava à procura de amizades.
Mas conforme os dois trocavam mensagens ele a conquista, dizia estar
apaixonado por ela, que nunca havia conhecido uma pessoa tão legal, que iria
esperar até ela completar 17 anos para que eles pudessem namorar, dizia que iria
conhecer a família, tudo na intenção de persuadi-la. Ela então, enganada por esse
monstro, ela sede as suas tentativas. Ele pedia para que ela enviasse fotos de
calcinha, fotos de suas pernas, ou então fotos durante o banho, dava pra ver que
ela parecia meio relutante, falando que em outro momento enviaria, mas ele insistia
até que ela enviava.
Me senti culpada por tudo aquilo, por ter entregado o aparelho a ela, por não
ter lhe supervisionado direito. Registrei todas as informações, levei as conversas
impressas até a delegacia, e entreguei também o aparelho, para que a polícia
conseguisse fazer a busca. Pois por se tratar de um crime virtual, o processo de
busca se torna mais demorado.
Fonte: elaborado com base em Andrighuetto (2017); Agência Senado (2019); A Gazeta (2022);
Carvalho (2020); Calazenço (2022); Capital News (2022); Correio Brasiliense (2022); Diário do Litoral
(2022); Fernandes (2019); Folha de São Paulo (2022); G1 Bahia (2022); G1 Brasil (2022); G1
Maranhão (2019); G1 Maranhão (2022); G1 Mato Grosso do Sul (2022); GIFE (2020); G1 Rio de Janeiro
(2022); Internet Matterns.org (s/d); Pinho (2022); TribunaHj.com (2018); Top Midia News (2022); Veja
Folha (2022); O Dia (2022); Oeste Goiano (2018); Souza et al (2019); Queiroz (2019); Teixeira (2011);
UolConfere (2022); Zulata (s/d) e também nos relatos ouvidos.
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A respeito do nudes, a música de Thiago Brava deixa claro uma narrativa sobre
a troca de fotos intimas com pessoas nuas. A letra da música não deixa claro quem é
a Amanda e nem mesmo a idade que ela tem. Mas indica uma mensagem da atual
cultura, de amores líquidos, de sensações liquidas e do cotidiano vivenciado por
algumas pessoas. Não se quer aqui, apontar que a letra da referida canção seja uma
apelação sobre pedofilia, e sim apresenta uma narrativa, de cunho sexual, que
envolve duas pessoas.
Manda Nudes
32
Outra modalidade de violência sexual é forçar crianças e adolescentes a verem
imagens e/ou vídeos pornográficos e/ou com muita sensualidade.
A pornografia é entendida como qualquer material que é fabricado ou produzido
com objetivos recreativos sexuais, ou seja, estão relacionados a representação de
atividades sexuais e eróticas explicitas e que no presente momento tem caráter
comercial (MORAES; LAPEIZ, 1993).
A quarta micronarrativa apresenta uma história em que a curiosidade de um
rapaz por assuntos sexuais por pouco não o fez perder a integridade sexual por meio
de um estupro.
Quarta micronarrativa
A curiosidade pode matar: por pouco não fui estuprado
34
Não consegui nem rezar, nem pedir ajuda, tive muito medo. Quando ele foi para
me pegar, escutamos o barulho do portão abrindo e de motor do carro, era sua
esposa que estava chegando. Ele logo correu para o quarto para se recompor e eu
assustado corri para a garagem. Não sei se consegui esconder a minha aflição, mas
senti um pouco mais confiante com a presença da mãe do meu amigo. Em seguida
meu amigo também chega e fomos conversar, mas não tive coragem de confessar
a ele o que aconteceu na sala da sua casa, achei melhor não me expor, pois tive
medo que o seu pai revertesse toda a história e a culpa caísse sobre mim.
Aquele foi o último final de semana que passei lá, sempre era convidado, mas
acabava inventando alguma desculpa para não ir e o laço de contato com aquela
família se desfez completamente quando nos mudamos de cidade.
Fonte: elaborado com base em Andrighuetto (2017); Agência Senado (2019); A Gazeta (2022);
Carvalho (2020); Calazenço (2022); Capital News (2022); Correio Brasiliense (2022); Diário do Litoral
(2022); Fernandes (2019); Folha de São Paulo (2022); G1 Bahia (2022); G1 Brasil (2022); G1
Maranhão (2019); G1 Maranhão (2022); G1 Mato Grosso do Sul (2022); GIFE (2020); G1 Rio de Janeiro
(2022); Internet Matterns.org (s/d); Pinho (2022); TribunaHj.com (2018); Top Midia News (2022); Veja
Folha (2022); O Dia (2022); Oeste Goiano (2018); Souza et al (2019); Queiroz (2019); Teixeira (2011);
UolConfere (2022); Zulata (s/d) e também nos relatos ouvidos.
Não deveria ser, mas é corriqueiro, hora ou outra, casos de pedofilia surgirem
na mídia. Isso faz-se lembrar do filme Efeito Borboleta, em que uma das personagens
tem um irmão violento e antissocial e um pai pedófilo que abusa sexualmente seus
filhos. A passagem destacada pela Bruna Guiuliano Claro da Silva (2011, p. 20),
aponta que lembrar de assuntos delicados como abuso sexual pode desestruturar
psicologicamente qualquer pessoa.
35
3 A EDUCAÇÃO SEXUAL E PROTEÇÃO DOS JOVENS
36
possível até mesmo uma prevenção do crime. “Muitas vezes o abusador se aproveita
da ignorância da criança e, se ela tiver consciência, dependendo da situação, pode
mesmo evitar que o abuso ocorra” (TEMER, 2022, p.5).
A quinta micronarrativa expõe a relevância da conscientização de jovens com
base nos ensinamentos do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Quinta micronarrativa
A importância da conscientização das crianças com base no ECA
Um trágico caso ocorrido a alguns anos, fez com que uma instituição de ensino
passasse a dar conhecimento sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
infelizmente algo terrível teve que acontecer para que a instituição trouxesse para
pauta um assunto de total relevância para os alunos.
Uma garota de 15 anos de idade, após ser vítima de abuso sexual e bullying
atentou contra sua própria vida.
A mesma conversava com um homem diariamente através de uma rede
social, que após conseguir conquistar a sua confiança durante muitos dias de
conversa, a convence de enviar fotos de seus seios. O que a garota não imaginava
era que o homem iria expor a sua imagem em uma dada rede social a fim de
constrange-la e ridiculariza-la.
Infelizmente o objetivo foi alcançado, não tardou para que após a exposição
de suas imagens a menina começasse a receber várias mensagens com discurso
de ódio, muitos ridicularizando a garota, humilhando, e até mesmo ameaçando-a.
As mensagens recebidas pela garota partiam tanto de meninos como de meninas.
Na escola sua vida mudou totalmente, recebia constantemente bilhetes de
ameaças e xingamentos, e começou a ser ignorada pela turma, sempre ouvia
cochichos e fofocas a seu respeito.
A mãe da garota deu total suporte para a filha, a levou para delegacia para
prestar queixa, a fim de que o abusador fosse detido.
Embora sua família tenha lhe dado o suporte necessário, lhe amparando e
sem fazer quaisquer julgamentos sobre a sua atitude, a garota já cansada de ser
maltratada diariamente e ridicularizada constantemente suicidou-se.
Antes de executar o seu ato de desespero, a garota registrou em uma
plataforma um vídeo explicando o motivo de ter tomado tal decisão. No vídeo a
37
garota diz não aguentar mais as humilhações e perseguições sofridas não só pelos
colegas, mas assédios em sua rede social vindo de homens bem mais velhos.
Ao final do vídeo a garota relata já ter tentado tirar sua vida em um outro
momento, tentativa essa que não havia dado certo, ela diz ter bebido uma alta
quantidade de medicamentos, porém a dose administrada não havia sido o
suficiente para levar a óbito, ao finalizar o vídeo a garota coloca algumas imagens
de seus braços onde haviam cicatrizes de possíveis cortes feitos com laminas, mas
já cicatrizados.
Com uma legenda pedindo desculpas aos familiares por tomar tão atitude, mas
que entendessem que a dor que sentia já não estava mais suportável, o que levou
ao fim trágico, fim de uma vida que tinha tanto pela frente, após gravar o vídeo a
garota teria se enforcado dentro do seu quarto.
A escola se comoveu com a situação, disseram estar cientes do problema, e
que um suporte psicológico estava sendo ofertado para a garota. Algo que não foi
o suficiente para que pudesse ter sido evitado o triste acontecido. A fim de evitar
que a história se repetisse, a escola passou a conscientizar os alunos
corriqueiramente, vários projetos desenvolvidos que frisavam o Estatuto da Criança
e do Adolescente, sobre os direitos das crianças, sobre as violências que podem
acorrer, e alertá-los quanto ao suporte que lhes são ofertados e garantidos com
base em várias leis sancionadas pelo programa.
Fonte: elaborado com base em Andrighuetto (2017); Agência Senado (2019); A Gazeta (2022);
Carvalho (2020); Calazenço (2022); Capital News (2022); Correio Brasiliense (2022); Diário do Litoral
(2022); Fernandes (2019); Folha de São Paulo (2022); G1 Bahia (2022); G1 Brasil (2022); G1
Maranhão (2019); G1 Maranhão (2022); G1 Mato Grosso do Sul (2022); GIFE (2020); G1 Rio de Janeiro
(2022); Internet Matterns.org (s/d); Pinho (2022); TribunaHj.com (2018); Top Midia News (2022); Veja
Folha (2022); O Dia (2022); Oeste Goiano (2018); Souza et al (2019); Queiroz (2019); Teixeira (2011);
UolConfere (2022); Zulata (s/d) e também nos relatos ouvidos.
38
4 URGENTE, EDUCAÇÃO SEXUAL PODE SALVAR VIDAS
Falar sobre sexo ainda continua sendo um tabu por provocar determinados
constrangimentos para algumas pessoas, mas o tema é importante, pois, a educação
sexual “se constitui em um espaço para se debater questões de sexualidade a partir
de um viés didático, científico, acadêmico” (RIBEIRO, 2013, s/p).
Além disso, os conteúdos da educação sexual visa o esclarecimento das
questões relacionados a sexualidade, ao sexo, a violência sexual, Infecções
sexualmente transmissíveis, gravidez na adolescência, contraceptivos e outros que
se fizerem necessários.
No aspecto histórico, Rosemberg (1985) aponta que a igreja católica atrapalhou
o desenvolvimento da Educação sexual formal e informal pela sua ideologia
repressiva.
Nesse sentido, Araújo et al (2018) aponta que o movimento LGBT tem um papel
fundamental ao realizar ações de combate ao preconceito e estimulando a empatia, a
solidariedade e amistosidade para combater o preconceito sexual, de gênero, e as
pessoas imunamente suprimidadas.
Dado a esse contexto, adoto os questionamentos de Britzman (2003, p. 85)
como fonte geradora de reflexão para pensar nesta produção cientifica.
39
O que acontece com a sexualidade quando professoras e professores que
trabalham no currículo da escola começam a discutir seus significados? Será
que a sexualidade muda a maneira como a professora e o professor devem
ensinar? Ou será que a sexualidade deveria ser ensinada exatamente da
mesma forma que qualquer outra matéria? [...]
40
A ausência de materiais de pesquisa que expliquem esse processo histórico
da ESex se deve ao fato não somente do processo histórico do senário político do
país, onde enfrentou-se uma ditadura altamente rigorosa que qualquer forma de
manifesto expressivo era totalmente proibida, mas também a religião católica que era
contra assuntos relacionados a sexualidade, e tinham grande influência na época,
segundo a pesquisadora, “[...] esta ausência de material de apoio é em parte
explicável pela fase de arbítrio políticos pela qual passamos, com o consequente
erijecimento da censura que levou ao desaparecimento de relatórios e experiências
em cursos” (ROSEMBERG, 1985, p.12).
De acordo com Pinheiro (1997), o início da década de 1960 foi marcado pela
instabilidade política e forte presença das forças armadas nas decisões do governo.
No entanto, às vésperas do Golpe de Estado de 1964, havia ainda um clima de
liberdade de imprensa e forte representatividade do movimento estudantil e outros 10
movimentos sociais.
Ainda na década de 60, onde as organizações políticas passavam por
mudanças e manifestações e movimentos sociais ainda eram permitidos, houveram
várias experiências voltadas para a Esex nas escolas.
Figueiró (1998, p. 124) também destaca que “[...] nessa época, alguns
colégios católicos passaram a desenvolver programas de Educação Sexual, em
consequência de algumas mudanças (não homogêneas) na igreja Católica, após o
Concílio Vaticano II, realizado entre 1962 e 1965.”
Portanto, aos passos que vinha sendo tentado implementar e modernizar a
ESex nas escolas por seus apoiadores, devido aos grandes movimentos políticos na
década de 1960 houve uma estagnação nessa prática, como será explicitado a seguir.
Segundo Ribeiro (2004), o golpe militar de 1964 no regime militar causou uma
redução nas manifestações de liberdade, incluindo as manifestações de liberdade
sexualidade. Falar sobre esse tema era algo totalmente restrito, que levou o
41
fechamento de várias escolas e denúncias de professores que insistiam em continuar
aplicando projetos voltados para ESex.
42
contrário ao projeto de lei da deputada Júlia Steinbuch (MDB-RJ) que, em
1968, propunha a inclusão obrigatória de Educação Sexual nos currículos de
1° e 2° graus. (ROSEMBERG, 1985, p. 13).
Durante muito tempo a ESex foi alvo de recriminação e visto como algo
inapropriado para debates. Apenas por volta dos anos de 1978 é que a tema
começava a ganhar força novamente e passou a ser assunto permitido nas escolas,
devido a reestruturações na política. “Apenas no ano de 1978 com a abertura da
política é que retomou-se a Educação Sexual nas escolas. Nesse momento órgãos
públicos passam a assumir os projetos nas escolas, e não mais os professores, como
ocorria na década de 1960” (ROSEMBERG, 1985).
Apesar da volta do tema nas instituições, ainda haviam represálias sobre sua
retomada, porém aos poucos conseguia-se uma maior autonomia para os debates.
Sexta micronarrativa
O projeto de Educação Sexual fortaleceu a relação entre mãe e filha
Confesso que por muitos anos fui contra ensinar Educação Sexual nas
escolas, sempre achei que assuntos relacionados a sexo e sexualidade
despertariam uma maior curiosidade nas crianças, o que a levaria a ter vontade de
praticar.
43
Tenho uma filha de 12 anos, e esses assuntos para mim sempre pareceram
muito delicados, não me sentia confortável para falar com ela sobre isso. Minha
menina sempre foi uma criança muito curiosa, me enchia de perguntas, e, as vezes,
custava a acreditar que as perguntas tinham vindo de uma criança.
Certa vez, quando tinha por volta de 9 anos de idade, ela me pergunta como
são feitos os bebes, e ela me pareceu tão séria ao fazer essa pergunta, disse a ela
que era um remédio que a mulher tomava que ajudava a ter um bebe, ela olha
fixamente nos meus olhos e me diz – mãe, eu quero que a senhora me diga a
verdade, sei que não existe remédio para criar bebes, pois eu nunca ouvi falar disso.
Na hora fiquei sem reação, disse que quando ela tivesse mais idade iria conversar
com ela sobre isso.
O tempo passou e ela não me questionou mais sobre esse mesmo assunto,
os assuntos já eram outros, tipo quando ela iria menstruar, com qual a idade é
normal a menstruação chegar, o que iria acontecer após ela ter a primeira
menstruação.
Ela sempre foi uma criança muito curiosa com anseio de descobrir como
funciona o mundo, como funcionam as pessoas, e devido a sua tamanha
curiosidade é que temia em falar com ela sobre educação sexual, pois, acreditava
que educação sexual seria um incentivo para que ela quisesse ter a primeira
experiência sexual.
Hoje minha filha tem 12 anos, e graças ao desenvolvimento de um projeto teve
em sua escola, ela pode esclarecer várias dúvidas, assuntos que eu não sabia como
abordar foram pautas na programação. Pude perceber que toda a preocupação que
eu tinha vinha de um preconceito, pois ouvia muitos pais falando sobre isso, e
comecei a concordar com eles sem nem ao menos pesquisar sobre o assunto antes.
Após ela participar daquele projeto, minha filha passou a ter mais consciência,
saber diferenciar qualquer tipo de abuso ou violência, e pude perceber que ela se
sente mais confiante, ela começou a contar para mim sobre os novos assuntos que
havia aprendido, e com isso percebi também que ela agora estava mais aberta, eu
conseguia dialogar melhor com ela sobre assuntos relacionados a sexualidade.
E conforme fomos criando esse vínculo de confiança ela passou a me enxergar
mais como uma amiga, e nisso compartilhar comigo vários momentos e
experiências. Coisa fundamental entre uma relação de mãe e filho, ter a confiança
44
de que seu filho nada esconderia de você, pois a vê como um abrigo, um porto
seguro onde a qualquer obstáculo pode procurar apoio em você.
Hoje minha concepção mudou, vejo que a Educação Sexual serve também
como um apoio aos pais, pois o preparo dos profissionais para falar sobre os temas
relacionados a sexualidade ajudam nos pais que não sabemos como tratar desses
assuntos com nossos filhos, ajuda a esclarecer muitas dúvidas, sem falar na
conscientização, por isso hoje sou a favor da Educação Sexual nas escolas, pois
através da experiência que tive, vi que ao contrário do que eu temia, só encontrei
benefícios.
Fonte: elaborado com base em Andrighuetto (2017); Agência Senado (2019); A Gazeta (2022);
Carvalho (2020); Calazenço (2022); Capital News (2022); Correio Brasiliense (2022); Diário do Litoral
(2022); Fernandes (2019); Folha de São Paulo (2022); G1 Bahia (2022); G1 Brasil (2022); G1
Maranhão (2019); G1 Maranhão (2022); G1 Mato Grosso do Sul (2022); GIFE (2020); G1 Rio de Janeiro
(2022); Internet Matterns.org (s/d); Pinho (2022); TribunaHj.com (2018); Top Midia News (2022); Veja
Folha (2022); O Dia (2022); Oeste Goiano (2018); Souza et al (2019); Queiroz (2019); Teixeira (2011);
UolConfere (2022); Zulata (s/d) e também nos relatos ouvidos.
45
Sétima micronarrativa
O Kit gay nunca existiu, é fake news
Sou Salviano, e meu filho atualmente tem 19 anos de idade, lembro que
durante sua fase escolar sempre fui um pai bem presente, fazia questão de
acompanhar seu desenvolvimento na escola, fazia visitas semanais sempre estava
em contato com seus professores.
Na época em que meu filho estava no ensino fundamental me lembro de ter
surgido um tema bem polêmico, que seria a implementação de um “kit gay” na grade
curricular das escolas municipais, eu como tantos outros pais fiquei revoltado, pois
seria absurdo querer ensinar a crianças o que é ser gay, o que é ser lésbica, sempre
fui muito conservador, e via que estavam tentando inverter os valores e confundir a
cabeça das crianças.
Eu e outros pais nos reunimos informalmente e debatemos sobre o assunto,
e os apontamentos eram os mesmos, todos que acordo de que a implementação do
Kit séria uma verdadeira catástrofe.
Meu filho atualmente é professor, se formou em sociologia e graças a ele
pude abrir os olhos para muitas coisas que na época em não conseguia enxergar.
Certa vez, chegamos a tocar no assunto “kit gay” ele me falou sobre um termo
popularmente utilizado agora, que seriam as “fake news” que servem para
disseminar mentiras a fim de atingir uma quantidade de pessoas em massa, me
explicou que se tratava de uma história falsa que passou a ser compartilhada e
passou a gerar revolta em grande parte da população, o que colaborou para
disseminação da mentira.
Meu filho me enche de orgulho, adoro aprender novos assuntos com ele, pois
eu não tive muito conhecimento na minha época, nem cheguei a finalizar o ensino
médio. Mas vejo o quanto ele se esforça, sempre foi muito estudioso. Lamento que
muitos pais ainda conservem um pensamento bem ultrapassado em relação a
Educação e não tenham quem os ensine, isso faz com que eles continuem a
compactuar com a proliferação das mentiras.
Meu amado filho sempre me fala sobre movimentos sociais, me explica como
funcionam, e para que eles servem. Eu fui privilegiado em ter quem me ensinasse
sobre essas coisas, quem me ajudasse a ver as coisas de uma outra forma e que a
46
Educação Sexual é muito importante dada a necessidade social da atualidade. Ah,
e também falou que kit gay nunca existiu, assim como mamadeira de piroca.
Fonte: elaborado com base em Andrighuetto (2017); Agência Senado (2019); A Gazeta (2022);
Carvalho (2020); Calazenço (2022); Capital News (2022); Correio Brasiliense (2022); Diário do Litoral
(2022); Fernandes (2019); Folha de São Paulo (2022); G1 Bahia (2022); G1 Brasil (2022); G1
Maranhão (2019); G1 Maranhão (2022); G1 Mato Grosso do Sul (2022); GIFE (2020); G1 Rio de Janeiro
(2022); Internet Matterns.org (s/d); Pinho (2022); TribunaHj.com (2018); Top Midia News (2022); Veja
Folha (2022); O Dia (2022); Oeste Goiano (2018); Souza et al (2019); Queiroz (2019); Teixeira (2011);
UolConfere (2022); Zulata (s/d) e também nos relatos ouvidos.
A respeito do Kit Gay, a música composta por: Renato Rocha, Tico Santa Cruz,
Fábio Brasil, Phill e Macca – e interpretada pela banda Detonautas – expressa o
posicionamento crítico sobre a falácia acerca do referido kit e também da mamadeira
de piroca. De modo cômico, expressaram com nitidez o descontentamento da
ideologia política difundida nas redes sociais e reproduzida por muitas pessoas como
verdade absoluta, mas não passa de fake news.
Kit Gay
Fonte: https://df.cut.org.br/images/cache/systemuploadsckdfnoticiasmamadeira-
650x350xfit-9335a.jpg
48
Oitava micronarrativa
“Mamadeira de piroca” nunca existiu, é um ataque a educação
49
um bico de “pinto”, dizendo que era pra ensinar as crianças a serem “bichas”,
“sapatonas”.
- Eu também recebi esse vídeo e achei um absurdo. Espero que não chegue aqui
na nossa essa escola. Temos que ficar sempre atentos e não deixar que eles
ensinem o que quiserem para nossos filhos. É uma afronta, é uma decadência, é
uma pouca vergonha, é uma indecência, um desrespeito!
Enquanto professora fiquei muito abismada com esses relatos, como podem
conseguir acreditar que uma instituição de ensino, principalmente infantil, que tem
exclusivamente a finalidade de ensinar as crianças sobre cidadania, sobre
igualdade, respeito à pátria e valorização da cultura seria capaz de expor as
crianças de uma forma tão brusca e traumática a esse tipo de material?!
Senti-me ofendida com essa situação, pois nos professores sempre nos
preparamos antes de apresentar qualquer assunto aos alunos, analisamos
cuidadosamente como vamos trabalhar, pensamos na maturidade da criança, a fim
de preservar a ingenuidade das crianças, mas esclarecendo as suas dúvidas,
formado para a vida.
Trabalhar na Educação Infantil é uma tarefa desafiadora que exige muita
cautela, e esses cuidados devem ser pensados não só em relação as crianças, mas
com os pais dos alunos que por inúmeras vezes tem ideias controvérsias.
Esse episódio ocorrido entre essas duas mulheres foi um exemplo de como
as “fake news” criadas por essas pessoas de extrema-direita afetam diretamente a
educação, e devido a tanto receio que parte dos pais dificilmente conseguiremos
um dia trabalhar Educação Sexual, sem que haja falácias sobre o tema, pois as
escolas sem trabalhar esses temas de forma inter/multi e trans disciplinar já são
acusadas de forma absurda, como por exemplo subversivos, imorais, devassos.
Mas a Educação Sexual é uma urgência e emergência nas escolas e na sociedade,
pois as ações educativas proporcionarão liberdade, conhecimento sobre o corpo,
sobre a dignidade dos seres humanos entre outras questões que carecem ser
desenvolvidas com as crianças e com os jovens.
Fonte: elaborado com base em Andrighuetto (2017); Agência Senado (2019); A Gazeta (2022);
Carvalho (2020); Calazenço (2022); Capital News (2022); Correio Brasiliense (2022); Diário do Litoral
(2022); Fernandes (2019); Folha de São Paulo (2022); G1 Bahia (2022); G1 Brasil (2022); G1
Maranhão (2019); G1 Maranhão (2022); G1 Mato Grosso do Sul (2022); GIFE (2020); G1 Rio de Janeiro
(2022); Internet Matterns.org (s/d); Pinho (2022); TribunaHj.com (2018); Top Midia News (2022); Veja
Folha (2022); O Dia (2022); Oeste Goiano (2018); Souza et al (2019); Queiroz (2019); Teixeira (2011);
UolConfere (2022); Zulata (s/d) e também nos relatos ouvidos.
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5 A URGÊNCIA DA EDUCAÇÃO SEXUAL NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Gráfico 3 - Você acha importante que temáticas sobre Educação Sexual sejam
trabalhadas em sala de aula?
51
relacionado a sexualidade, aprender sobre presar por certas regioes do copor, onde
pode ou não ser tocado, oritações como essas auxiliam na idenficicação de possíveis
casos de abuso.
De acordo com Helmer J et al. (2015), a Holanda e Finlândia são países que
adotaram a Educação em Sexualidade no currículo das escolas, que por
consequencia, tiveram baixas nas taxas de ISTs e gravidez na adolescência. A
Argentina e Uruguai também optaram por investir nas questões relacionadas a
sexualidade nas escolas através que documentos oficiais que apontam a orietação
sexual, prevenção da violência de gênero, igualdade de tratamento e à não
discriminação por qualquer condição ou circunstância sexual, pessoal ou social
(BENEDET L; GÓMEZ LA, 2015).
Os estudantes dos cursos de licenciatura apontam no gráfico 4 que é
necessário existir a disciplina ESex nos currículos escolares em todas as fases da
educação básica.
Os dados indicam que 28,8% dos questionados apontam que a ESex deve
ser trabalhada em todos os níveis escolares, na educação básica e superior. Isso
52
indica a necessidade em trabalhar com a temáticas nos cursos de formação de
professores.
A nova geração de docentes veêm a ESex como Inerente a sua formação,
pois através das estimativas, o ambiente escolar é um dos meios de identificação de
casos de abuso sexual, os futuros profissionais veêm então a necessidade de uma
preparação adequada para sua formação, vista a orientar quais medidas devem ser
tomadas diante de uma situação, qual a primeira atitude a ser tomada e quais
questionamentos devem ou não ser feitos hà criança. Pois, diante de um caso real
faz-se totalmente necessário um preparo profissional adequado, a fim de não causar
nenhum tipo de constrangime à vítima.
Os dados analisados apontaram que, segundo os docentes em formação
inicial de professores, a ESex precisa ser trabalhada em todos os niveis escolares da
educação básica, conforme apresenta-se no gráfico 5.
Gráfico 5 – Nível em que a Educação Sexual deve ser trabalhada nas escolas
55
Acredita-se que o Pedagogo tem a capacitação necessária para fornecer
orientações que contribuem para a construção dos novos conhecimentos, levando em
consideração as carateristicas dos grupos sociais, sendo eles, crianças, adolecenste
ou adultos.
Em sua formação, o profissinal da pedagogia prepara-se para acompanhar os
processos de aprendizagem, ajudando no desenvolvimento do conhecimento e
adequando-se as particularidades e as fases de cada grupo ou indivíduo. Sendo
possível auxilar no processo de aprendizado intelectual, de forma qualitativa e
eficiente.
Por tanto, incluir ESex na grade curricular dos cursos de Licenciatura em
Pedagogia seria de grande valia não somente para a formação dos profissionais, mas
em especial, para o processo de apredizagem das crianças e adolecentes que
acabam por ser os maiores benefiados com essa qualificação.
Quando questionados sobre a capacitação na formação de licenciatura a
respeito da Educação Sexual, os dados oriundos dos estudantes apontam que não
tiveram essa formação, segundo o gráfico 8.
56
Considera-se aqui a necessidade de preparar os estudantes das licenciaturas
com atividades de ensino, pesquisa e extensão sobre Educação Sexual. Mas ela
precisa ser trabalhada com projetos acadêmicos em diálogo com o ambiente escolar,
pois, é preciso adotar medidas qualitativas quanto a formação dos profissionais a
ministrar sobre essa temática. Pois a forma como será abordado é que conduzirá a
conscientização e possíveis denúncias de casos já existentes.
Quanto a capacidade de trabalhar com ESex nas escolas os estudantes dos
cursos de licenciatura apresentaram os seguintes dados, conforme explicitado no
gráfico 9.
57
projetos e programas que podem ser relacionados ao tema, e acabam alcançado
indiretamente as famílias e acabam por incentivá-las a desempenhar o seu papel.
Para tanto, é necessário que haja um educador profissional qualificado, sendo então
o professor o principal agente na orientação sexual na escola. Apesar da educação
sexual ser um dos agentes que auxiliam em problemas que acompanham a
sexualidade na adolescência, a escola ainda encontrasse despreparada para cumprir
o seu papel devido falta de capacitação de seus colaboradores (JARDIM, BRÊTAS,
2006, p.158).
Quanto a receptividade da família no tocante a implantação da disciplina
Educação Sexual e/ou trabalhar com as temáticas sexuais no ambiente escolar, o
gráfico 10 apresentam os seguintes dados:
Trabalhar Educação Sexual nas escolas nunca foi tarefa fácil, além da falta
de orietação aos profissonais, surgem inúmeros impasses para a sua implementação
efetiva dentro do ambiente escolar. Das dificuldades encontradas, a aceitação da
família sobre a temática é uma delas, pois crêem fielmente que os assuntos
relacionados a ela, impuncionariam os alunos a banalizar a prática, como sendo algo
58
tão comum, que as relações sexuais passariam a ser frequentes em suas vidas. Pois
despertaria maior interesse nos alunos, aguçando suas curiosidades e os levando a
iniciar a prática.
Muitos pais por não falarem sobre sexualidade com os filhos em casa, acabam
por imaginar que os mesmos nada sabem sobre o assunto, pensamento esse
totalmente distorcido, pois a sexualidade se faz presente desde a infância, e é
principalemente nesta fase onde a curiosidade e o anceio por novas descobertas
torna-se maior. Abster-se de tratar de assuntos relacionados a sexualida com os
filhos, os levam a buscar por respotas por outros meios, que muitas vezes podem vim
de forma errada, mas acabam por crer que é a forma correta por não ter quem os
gruie a tire suas dúvidas para que se esclareça.
Segundo Suplicy (1983), trabalhar educação sexual perpassa os conceitos de
que serve apenas para entender sobre a antomia do corpo humano e suas
funcionalisades, e levantar discussões a cerca dos perigos que trazem a
sexualidade.Muitos pais acreditam tratar-se apenas disso, porém, essa visão
distorcida sobre a educação sexual que os pais tem, resulta do achismo e
conhecimento impírico que os mesmo tem com base em suas experiência. A
Educação sexual faz-se presente desde o nascimento da criança, onde através das
observações vai adquirindo-se e absolvendo informações. As percepções sobre a
sexualidade são construidas através de suas vivências e transferidas aos filhos de
forma indireta. Os conhecimentos transferidos para os filho através do meio familiar
muitas vezes veem carregados de discursos patriarcais tradicionais, ou seja carregam
consigo uma cultura de exclusão e violência, principalmente contra as mulheres, com
uma visão altamente estereotipada sobre os papéis que homens e mulheres devem
ter.
A escola tem função de destorcer as imagens baseadas em senso comum em
relação à sexualidade, para que se possa ter, uma visão positiva sobre a sexualidade,
como fonte de prazer e realizações, e aumento a consciência das responsabilidades.
A medida que a Educação consegue alguns avanços, também enfrenta retrocessos
que acabam por interferir na sua implementação, a falta de parceria entre os familiares
e a escola são um dos empecilhos encontrados, juntamente com o despreparo dos
profissionais docentes em sala de aula para abordar sobre temáticas relacionadas a
sexualidade (SUPLICY, 1997).
59
5.2 Educação sexual de qualidade nas escolas
60
Todas essas manifestações são objetos de trabalho do tema Orientação
Sexual. Embora não sejam passíveis de serem programadas, elas acontecem
inevitavelmente e, para isso, o professor deverá estar preparado: deverá se
planejar para trabalhar essas situações no momento em que elas
acontecerem. A atitude do professor de acolhimento a essas expressões e
de disponibilidade para ouvir e responder a questões é fundamental para o
trabalho que aqui se propõe (BRASIL, 1997, p. 27)
Mas a realidade que vivenciamos está longe das teorias propostas nos
Parâmetros, pois mesmo que aponte a Educação Sexual como um tema a ser
trabalhado em todas as áreas, não há essa implementação e adequação para ser
trabalhado. E classificar Educação Sexual como Tema Transversal é não
responsabilizar o tema com a sua real relevância, pois ao Direciona-lo como disciplina
de uma área de conhecimento trará mais visibilidade e atenção para o tema
De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018), entender
sobre o funcionamento do corpo promove ações sobre a saúde e de prevenções,
entretanto tais informações são transpassadas apenas a uma parcela dos alunos que
estão findando o ensino fundamental.
61
Conscientizar sobre os abusos e a forma como podem acontecer é um direito
de todos, desde a infância à adolescência. É através da Educação Sexual nas escolas
que se pode conscientizar melhor, a escola nesse âmbito tem um papel fundamental;
Por tanto, a escola deve atuar de forma integrada com os serviços públicos
de sua região, fornecer as informações necessárias para que se entenda o
funcionamento do corpo propicia uma maior conscientização, trazendo a importância
da saúde, promovendo ações curativas e preventivas.
A ESex no âmbito do ensino formal deve abarcar temáticas de reprodução
humanas e também de “temáticas preventivas como saúde sexual e reprodutiva,
discussões que incluam os relacionamentos sociais, a cidadania e os direitos
humanos, incluindo o respeito à diversidade sexual” (MAIA; RIBEIRO, 2011, p. 81).
Agregado a isso, é importante conhecer as características e mudanças no
corpo humano e também:
Para trabalhar todas essas aptidões é necessário pensar e agir com uma
proposta curricular libertária, que considere o cotidiano dos professores, dos
estudantes, as informações difundidas sobre as várias temáticas relacionadas a
Educação Sexual.
A Unesco (2019) aponta a necessidade de uma ESex integradora em
sexualidade que deve ser convertida em ações criativas do processo de ensino-
aprendizagem embasada em um currículo sobre os aspectos emocionais, físicos,
sociais e cognitivos sobre temas que se dialogam com a sexualidade, corpo,
corporeidade, respeito e justiça.
63
Assim, tem-se o objetivo de:
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As aulas de Educação Sexual, nessa proposta não consegue propor uma
superação da bipolarização machista de homem e mulher e não tem a possibilidade
de abranger temas como liberdade sexual, homoafetividade etc. Assim, Educação
Sexual demandaria o entendimento sobre o funcionamento dos aparelhos
reprodutivos e aos professores uma descrição explicativa cartesiana de base biológica
sobre os modos e funcionamento dos mecanismos reprodutivos humanos (NUNES,
1996).
Trazer a Educação Sexual para a sala de aula é também de certa forma uma
ajuda para os familiares de não sabem tratar desses assuntos, a sexualidade esta
presente desde a infância, quando uma professora gestante é questionada por uma
criança sobre como que ela engravidou, ou como que nascem os bebes. Falar sobre
Educação Sexual, sexualidade para crianças não é ensiná-las sobre como praticar
sexo, é ajudar a tirar dúvidas sobre suas curiosidades, que muitas vezes são trazidas
de casa. Onde o filho questiona a mãe e a mesma não sabe como responder devido
receio de como abordar sobre o assunto, para tanto é necessário que levemos em
conta o grau de maturação da criança.
É necessário que a Educação Sexual se afaste dos preconceitos, e que
oriente as crianças e jovens sobre sexualidade, gênero, violência sexual, estupro,
pois, no dia a dia e com a ampla divulgação midiática pela internet os temas sexuais,
as pornografias imagéticas, literárias e filmográficas são amplamente divulgadas.
Cabe a escola então, tratar com temáticas relevantes e com uma linguagem jovem na
tentativa de evitar a violência, as doenças sexualmente transmissíveis, o respeito e se
afastar de ideologias ultrapassadas que acreditam que a diversidade sexual são tidas
como anomalias ou perversões estabelecidas pelo modelo social patriarcal.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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O Estatuto Da Criança e do Adolescente pode ajudar na identificação de
casos reais, onde a vítima está passando pelo abuso, mas não sabe onde e como
procurar por ajuda. Por tanto, falar sobre o ECA frequentemente podem possibilitar
nessas identificações, pois a vítima se sentira mais segura, ao tomar conhecimento
de como proceder, e quais são os direitos garantidos.
A Educação Sexual, além de conscientizar quanto aos abusos, ajudando na
identificação dos casos, que por muitas vezes podem desencadear em resultados
fatais. Promove o autoconhecimento sobre o próprio corpo, esclarece dúvidas, muitas
trazidas de casa, pois as famílias ainda encontram dificuldades em conversar
abertamente sobre assuntos relacionados a sexualidade. Ajudar a esclarecer sobre
esses assuntos é um passo para maior interação dos filhos com os pais, pois trazer-
lhes a consciência do que é, e do que se trata gera mais confiança e familiaridade
para debater sobre o assunto.
A Educação Sexual tem enfrentado diversos empecilhos desde os seus
primeiros rumores quanto a sua implementação, grupos conservadores lutam para
que sua implementação não seja efetivada, pois de acordo com seus princípios, a
Educação Sexual veem para arrancar os valores da família tradicional e destorcer a
imagem correta, e para que consigam convencer (enganar) um grande número de
pessoas, para que também se posicionem contra, é que criam as Fake News, que
seriam as notícias falsas, geralmente são histórias absurdas para que consigam
impactar e conversar as pessoas a acreditarem que a notícia é real. Cito agora dois
exemplos que Fake News criadas com intuito de atacar de forma depreciativa a
Educação Sexual nas escolas, que seria Ideia de que a escola estaria planejando usar
de um recurso didático denominado “Kit Gay”, que serviria para ensinar as crianças
sobre como ser gay. O segundo exemplo seria que as escolas estariam adotando um
novo método que serviria para ensinar as crianças sobre a homossexualidade,
adotando mamadeiras com bicos em formato de pênis, que as crianças utilizariam
para mamar.
Trabalhar Educação Sexual nas escolas auxiliam para que crianças e
adolescentes entendam melhor sobre o seu próprio corpo, sobre como funciona a
sexualidade, e consequentemente para que tenham melhores experiências
futuramente, e não há lugar melhor para se tratar sobre esses assuntos do que na
escola, pois é no ambiente escolar que os alunos procuram por ajuda quanto as
67
questões que lhes geram dúvidas, na escola consegue-se alcançar maior número de
crianças e adolescentes, a escola é o lugar exato para se aprender sobre assuntos
novos e cessar dúvidas que podem ser tiradas até mesmo através de rodas de
conversas.
A Escola tem um papel muito importante na vida de todos os alunos desde
a fase inicial, pois é nesse ambiente que se aprende e faz novas descobertas, ter uma
disciplina voltada para sexualidade é de estrema importância, pois há a necessidade
de se ensinar sobre diversos temas que o assunto abrange, e essas explicações
podem ser de forma cientifica. Além de ajudar a prevenir abusos, diversos aspectos
podem ser abordados, como o respeito com o próprio corpo, as mudanças devido a
puberdade, as diferenças entre um e outro.
Trabalhar Educação Sexual deve ser uma tarefa iniciada desde as primeiras
séries, e um dos principais motivos é o número de vítimas que por vezes estão
iniciando a sua fase escolar, pode acontecer que os episódios tenham dado início
muito antes, porém o abusador pode ter apropriando-se da inocência da criança para
cometer o abuso, e uma vez que essa criança que está iniciando suas atividades
escolares, tenha consciência sobre o que de fato está acontecendo, é que pode ser
possível resultar em uma identificação e denúncia.
Trabalhar Educação Sexual é um desafio, pois as dificuldades encontradas
relacionadas a temática não são apenas sobre a aceitação da implementação do
tema. Conseguir trazer a Educação Sexual para pautas escolares não deixa se ter
seus aspectos positivos, porém as discussões se estendem quando questionamos
sobre como trabalhar o tema. Tornar a Educação Sexual como disciplina curricular
agregaria a vários conhecimentos, de maneira mais objetiva e centralizada,
entretanto, se trabalhada de maneira transdisciplinar passaria a ser pauta em várias
disciplinas, podendo cada professor trabalhar temas relacionados a sexualidade
desenvolvendo atividades e projetos com essa proposta.
A profissional pedagogo em sua formação capacita-se para orientar quais os
melhores métodos e processos para facilitar a aprendizagem. O pedagogo concentra-
se em atender as necessidades de cada grupo, levando em consideração seu grau
de maturidade, dificuldades, acompanhando cada etapa do seu desenvolvimento, por
tanto, a pedagogo acabar por ser o profissional mais habilitado para mediar a inserção
da Educação Sexual nas escolas.
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Investir em formação qualificada voltada para orientação dos docentes sobre
como proceder com as questões relacionadas a sexualidade seria benéfico não
somente para os docentes que estariam se capacitando, mas para os alunos que
diante de alguma dúvida não ficariam sem respostas, pois acontece que por vezes o
professor depara-se com situações inusitadas relacionadas a sexualidade onde não
sabem o que dizer ou fazer.
Estudos sobre a Educação Sexual apontam o quanto trabalhar sobre a
temática sexual traz vantagens, visto que conscientiza sobre diversos aspectos. A
participação da família na vida escolar do filho proporciona melhores resultados, pois
o mesmo sente-se amparado tanto pela escola como pela família, todas as atividades
escolares que são acompanhas pelos familiares alcanças resultados positivos, com a
Educação Sexual, ter essa assistência não seria diferente. Pois o mesmo se sentiria
mais confiante tendo ambos os apoios.
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REFERÊNCIAS
70
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os-dados-estao-aqui-para-quem-quiser-ver/ . Acesso em 17 ago 2022.
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APÊNDICE
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Apêndice 1 – Modelo do formulário aplicado aos professores em formação na
Universidade Estadual do Maranhão
Questões:
1-Você acha importante que temáticas sobre educação sexual sejam trabalhadas em
sala de aula
( ) Sim
( ) Não
4-Na sua formação houve capacitação para trabalhar com as temáticas sobre
educação sexual
( ) Sim.
( ) Não
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5-Você enquanto futuro professor se sente capaz de trabalhar com educação sexual
na escola
( ) Sim
( ) Não
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