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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS NATURAIS E TECNOLOGIA


PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM GESTÃO PÚBLICA

FELIPE ANDRÉ PEREIRA SANTOS

NOVO ENSINO MÉDIO: ITINERÁRIOS FORMATIVOS TÉCNICOS E A


REALIDADE DAS CIDADES DO INTERIOR DO PARÁ, UM PANORAMA SOBRE
AS ESCOLAS ESTADUAIS DE OURÉM

BELÉM-PA
2023
FELIPE ANDRÉ PEREIRA SANTOS

NOVO ENSINO MÉDIO: ITINERÁRIOS FORMATIVOS TÉCNICOS E A


REALIDADE DAS CIDADES DO INTERIOR DO PARÁ, UM PANORAMA SOBRE
AS ESCOLAS ESTADUAIS DE OURÉM

Trabalho de Conclusão de Curso apresentando ao


Curso de Especialização em Gestão Pública, da
Universidade do Estado do Pará – UEPA, como
requisito a obtenção do título Especialista em
Gestão Pública.

Orientador: Prof. Dr. Iêdo Souza Santos


FELIPE ANDRÉ PEREIRA SANTOS

NOVO ENSINO MÉDIO: ITINERÁRIOS FORMATIVOS TÉCNICOS E A


REALIDADE DAS CIDADES DO INTERIOR DO PARÁ, UM PANORAMA SOBRE
AS ESCOLAS ESTADUAIS DE OURÉM

Trabalho de Conclusão de Curso apresentando ao


Curso de Especialização em Gestão Pública, da
Universidade do Estado do Pará – UEPA, como
requisito a obtenção do título Especialista em
Gestão Pública.

Orientador: Prof. Dr. Iêdo Souza Santos

Data de avaliação: ____/____/_____


Conceito: _____________________

Banca Examinadora:

____________________________________________________
Orientador - Prof. Dr. Iêdo Souza Santos
Universidade do Estado do Pará

____________________________________________________
Avaliador (a) –

____________________________________________________
Avaliador (a) –
AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha família por ser meu suporte durante toda essa jornada:
mãe Janice Pereira, pai e irmão, Alfredo e Flávio Santos. Às amizades que adotei
como família: Aline Brasil, Cristina Furtado, Neire, Khloe e Tayná Silva. Ao Msc
Rafael Potiguar pelas orientações. À Universidade Estadual do Pará por
proporcionar essa oportunidade de formação a um servidor do interior do estado.
Aos meus colegas, sobretudo Deborah Figueiredo, Edna Torres e Odineia
Montalvão, minha equipe e apoio, que me fez crescer e que cresceu junto. Ao
Professor Dr Iedo Santos pelas orientações e exemplo. Aos servidores,
responsáveis e discentes das escolas que tanto enriqueceram este trabalho.
Esse Novo Ensino Médio existe apenas para alimentação de
sistema [...] na prática continuamos com o antigo, porque o
novo é impossível para nós, até o momento.
(Um Servidor, 2022)
RESUMO

Acompanhando as tendências políticas dos últimos 5 anos, a reforma do ensino


médio chegaria em 2017 bradando palavras de ordem de protagonismo estudantil e
paradigmas curriculares mais interessantes. No entanto, o observável Brasil a fora
foi a elevação de exigências e criação de demandas difíceis de serem processadas
(com isonomia) pelas diversas realidades do país, como os itinerários formativos
técnicos. Em Ourém-PA, uma das mais carentes, esperava-se uma implantação
fraca e que não considerasse (ou pior, agravasse) as desigualdades sociais, porém
o encontrado foi a ausência, quase total, em pleno prazo final.

Palavras-chave: Novo ensino médio, escolas públicas, Ourém, educação técnica,


desigualdades.
ABSTRACT

Following the political trends of the last 5 years, the secondary education reform
would arrive in 2017 accompanied by slogans of student protagonism and more
interesting curricular paradigms. However, what was observed in Brazil was the
raising of requirements and the creation of demands that were difficult to be
processed (with isonomy) by the different realities of the country, such as technical
training itineraries. In Ourém – PA, one of the poorest realities, was expected a weak
implementation that did not consider social inequalities (or worse, aggravated it), but
what was found was the almost total absence in full deadline.

Keywords: New secondary education; public schools; Ourém; technical education;


inequalities.
8

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................9
1.1 As desigualdades...............................................................................................9

1.2 As mudanças................................................................................................... 10

2 MÉTODO................................................................................................................ 13
2.1 Amostra............................................................................................................13

2.2 Procedimentos................................................................................................. 15

2.3 Análise dos dados............................................................................................15

3 RESULTADOS....................................................................................................... 16
3.1 Os alunos.........................................................................................................17

3.2 Os professores.................................................................................................17

3.3 As escolas........................................................................................................18

3.4 A logística.........................................................................................................19

4 DISCUSSÃO...........................................................................................................22
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS…………………………………..………………………...23
6 REFERÊNCIAS...................................................................................................... 25
9

1 INTRODUÇÃO
Parte do pacote de reformas austeras (conjuntamente com as Trabalhista e
da Previdência), o Novo Ensino Médio (NEM), aprovado em 2017, já era previsto
desde 2014, a partir de proposta elaborada por associação de pessoas jurídicas
empresariais, sob palavras de ordem da modernização curricular e atratividade de
ensino. Cria os itinerários formativos, consistentes em disciplinas eletivas e
técnicas/profissionalizantes que dividirão a carga horária de 3000 horas com as
gerais de educação básica (língua portuguesa, matemática, história...). Ainda, estas
podem manifestarem-se em forma de oficinas, palestras, clubismos, projetos,
estágios dentre outras a depender das características e estruturas das escolas e
localidades (Brasil, 2017).
“Cabe às redes e escolas definir:
a) a sequência em que os eixos estruturantes serão percorridos e as formas
de conexão entre eles;
b) o tipo de organização curricular a ser mobilizado: por disciplinas, por
oficinas, por unidades/campos temáticos, por projetos, entre outras
possibilidades de flexibilização dos currículos no Ensino Médio;
c) se os Itinerários Formativos terão como foco uma ou mais Áreas de
Conhecimento, a combinação de uma Área de Conhecimento com a
Formação Técnica e Profissional ou apenas a Formação Técnica e
Profissional.” (MEC, 2020)
Nesta flexibilização reside a problemática. Sem a garantia de um modelo de
excelência, ao relegar sua execução às possibilidades das mantenedoras,
desigualdades podem se manter e/ou intensificar. As diferenças sociais entre
privado e público, centro e periferia, metrópoles e pequenos municípios
provavelmente expressar-se-ão fortemente nas opções disponíveis ao alunato desta
educação técnica, com cursos mais bem equipados e de qualidade para os
primeiros, enquanto que, talvez apenas algumas horas de “jovem aprendizado”, para
os segundos.

1.1 As desigualdades
Se tratando de um município de cerca de 18.000 habitantes (IBGE, 2021),
com parque educacional 100% público, e ensino médio exclusivamente estadual,
sem representações na Assembleia Legislativa, Câmara e Senado, Ourém é um
10

nanico geopolítico e potencial vítima da disparidade social em políticas públicas. Por


conta disso, a transição de ensinos médios e eventual adoção da profissionalização,
seria fraca e problemática, se em comparação a de outras unidades federativas, ou
mesmo a de outras esferas administrativas, prejudicando a educação de seus
cidadãos. O temor é que o baixo poder político/econômico e baixo orçamento das
instituições, lhes rendesse os cursos mais baratos do catálogo, uma educação à
distância incompetente, voltados para atividades braçais, de baixa complexidade,
operacionais de “atividades meio”, ou deixar parte do cumprimento desta grade a
mercê de terceiros (empresas, bancos, igrejas, outras cidades) em forma de cargos
auxiliares de mercado ou minicursos externos. Tendo em vista a desobrigação do
cumprimento em escolas.
“Art. 4º O art. 36 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a
vigorar com as seguintes alterações:
[...]art. 36 § 6º A critério dos sistemas de ensino, a oferta de formação com
ênfase técnica e profissional considerará:
I - A inclusão de vivências práticas de trabalho no setor produtivo ou em
ambientes de simulação, estabelecendo parcerias e fazendo uso, quando
aplicável, de instrumentos estabelecidos pela legislação sobre
aprendizagem profissional;” (Brasil, 2017)

1.2 As mudanças
Biparticionados os conteúdos (formação geral e itinerários), apenas língua
portuguesa e matemática tornam-se imperativas a todos os anos, as demais
dependeriam da dita “escolha” estudantil para expressarem-se (ou não). Ainda
assim, todo o desenho horário está sujeito a modificações, a critério das entidades,
sem garantias de proporcionalidade.
O Guia de Implantação do Novo Ensino Médio (Conselho nacional dos
secretários estaduais de educação; Fórum nacional dos conselhos estaduais de
educação; MEC, 2018) ilustra esta lógica [Figura 1], em três cenários: o primeiro
com divisão constante de 600 horas gerais básicas e 400 técnicas para todas as
séries; o segundo com o aumento paulatino das segundas, de 200 a 600 ao final; e o
terceiro praticamente dedicando uma série para cada especialidade, sendo a
primeira série 100% geral básica, e a última 80% técnica.
11

Figura 1 – Simulação de Distribuição de Horas

Fonte: Conselho nacional dos secretários estaduais de educação; Fórum nacional dos
conselhos estaduais de educação; Ministério da educação (2018)

Dessa forma, corrobora o discurso do aumento de horas, num panorama


geral. Contudo, nas minúcias, é clara a diminuição das disciplinas tradicionais em
detrimento das novas, perdendo suas 800 horas “religiosamente” reservadas para
cada ano.
As novas, podem se dar de formas diferentes, em desempenho alheio à
escola, como estágio e jovem aprendizado, ou internamente, em unidades
curriculares (laboratório de informática, clube leitura, observatório de imprensa), ou
na figura das FIC (Formação Inicial Continuada), disciplinas sortidas ligadas a um
itinerário técnico e ao mundo econômico. Isoladamente, ou combinadas dividindo da
grade [Figura 2] direcionada pelo Projeto de Vida do aluno.
12

Figura 2 – Simulação de Itinerários Técnicos

Fonte: Conselho nacional dos secretários estaduais de educação; Fórum nacional dos
conselhos estaduais de educação; Ministério da educação (2018)

Falando nisso, este fora introduzido como a mais nova matéria do currículo,
responsável por orientar e facilitar a conduta juvenil rumo aos seus objetivos,
obedecendo os Eixos Estruturantes que levarão às escolhas dos itinerários:
investigação científica, processos criativos, mediação e intervenção sociocultural,
empreendedorismo (Conselho nacional dos secretários estaduais de educação;
Fórum nacional dos conselhos estaduais de educação; MEC, 2018).
Para suportar a inserção da educação técnica, além da desobrigação das
matérias que não façam parte da área escolhida, e cedência de cerca de 20% da
carga horária da educação geral básica, há ainda a abertura para contratação via
certificação de notório saber, para bacharéis, tecnólogos ou especialistas de nível
médio/técnico ministrarem aulas nas FIC, face ao caráter aplicado.
13

Educação a distância (EAD) agora é uma possibilidade comum. A antiga


legislação já a permitia em casos de isolamento geográfico e inviabilidades logísticas
(Tokarnia, 2018), sobretudo em associação com programas, como o famoso Projeto
Mundiar, de aulas televisivas e tutoria. No entanto, alterações nas diretrizes
curriculares, abrem precedentes para expansão da modalidade: até 1 hora diária
EAD diurna, e até 1 hora e 25 minutos noturna.
As manipulações no ensino médio, obviamente que influem diretamente em
seu maior vestibular. O Exame Nacional, ENEM, a partir de 2024, também seria
polarizado, entre uma fase para conteúdos gerais básicos, e outra de conteúdos
específicos, mesmo que os segundos estejam a cargo de cada mantenedora, e não
nacionalmente.
Pontos conflitantes são os que dão bases às confusões e insatisfações,
assim como outros, os quais serão melhor explorados na parte da discussão deste
excerto.

2 MÉTODO
A pesquisa deu-se de modo exploratório, utilizando análises qualitativas de
dados probabilísticos aleatórios simples e não probabilísticos por conveniência,
adquiridos por meio do método etnográfico de pesquisa, com estudos de caso e
observação participante, além de entrevistas abertas e fechadas com perguntas pré
determinadas.
Sob a luz da literatura e das vivências, foi verificada a atuação das escolas,
bem como do poder executivos a fim de elaborar conclusões que destaquem suas
atuações em relação à conduta ética esperada, pontos fortes, críticas a serem
sanadas... a servir de exemplo para outras administrações e/ou incitar novos
estudos.

2.1 Amostra
Das unidades disponíveis, apenas três são habilitadas para a modalidade do
ensino médio, ambas de responsabilidade do governo estadual, duas localizadas na
chamada “sede” urbana, e uma na zona rural, sendo elas E.E.E.F.M. Padre Antônio
Vieira (Bairro do Souza) e E.E.E.M. Maria Socorro Oliveira da Rocha (Bairro Dom
Elizeu), E.E.E.F.M. Irmã Sancha Augusta (Vila Arraial do Caeté), respectivamente.
A última faz parte da maior das comunidades colonas ouremenses, elemento
interessante à uma das propostas deste excerto (análise da desigualdade), ainda
14

assim ficará de fora, vide as possibilidades e dificuldades logísticas do condutor,


como distância, conflito de horário e tempo. Para tanto, nos resta então as primeiras,
sendo uma delas a referência administrativa local para as demais.
Antônio Vieira é uma das mais tradicionais, de forma que abriga a diretoria
referência para a Secretaria de Educação do Pará (SEDUC-PA), a qual lhe serve de
ouvidoria e primeira ordem de suas execuções. Não é “puro sangue” no que tange
ao ensino, dividindo suas salas e turnos com fundamental anos iniciais (exclusivo ao
período da manhã). Pela tarde o médio regular e, à noite, Educação de Jovens e
Adultos (EJA) para os dois. Atende a um público mais carente, geralmente com
distorção idade-série - média de 76,3% segundo censo escolar de 2021 -, dupla
jornada (trabalho e estudos) e propensão considerável à evasão - 10,4%
fundamental, 34,6% médio – (Qedu, 2022), além de equipamentos e estrutura
predial defasada, proveniente da ancestralidade. Trata-se da amostra que, de posse
dos indicativos, sentirá com mais força as desvantagens desse novo ensino médio.
Maria Socorro Oliveira Rocha (popularmente “MSOR”), por outro lado, é uma
das mais recentes, fundada no ano de 2008. Dessa feita, não repete algumas
mazelas encontradas em sua “irmã”, como as relacionadas à infraestrutura. E ainda,
é agraciada com vantagens inerentes às novas tendências que permearam a
conjuntura de sua fundação: laboratório de informática, sinalização PCD, sala de
leitura. Trabalha apenas com o ensino médio, nos turnos da manhã e da tarde, tem
a preferência do alunato esperado para tais séries, com poucas ou nenhuma
reprovação, e efetivo curso programático, o que reflete em seus indicadores:
distorção idade-série de 30,7% e evasão 1,4% (Qedu, 2022). Ao contrário do
previsto, esta fora a bastiã do NEM ouremense, acabando por ser a principal fonte
do trabalho.
Seus professores, em sua maioria, são compartilhados, por esse motivo, as
projeções das cargas horárias técnicas também são. Também participaram juntas
nas devidas formações pedagógicas, assim têm as mesmas orientações para as
aplicações.
Foram consultados professores, diretores e vice-diretores, todos veteranos, a
maioria dotados apenas de noções básicas sobre a proposta, e demonstrando
muitas dúvidas e estranhezas. Todos residentes do município. A maioria integrantes
efetivos do quadro, com apenas uma exceção admitida via processo seletivo. Alguns
relatos serão utilizados, como de praxe, as identidades serão preservadas via
designações, de forma a resguardar, tanto a carreira destes profissionais, quanto
suas integridades, visto que tocaram em temas sensíveis.
15

2.2 Procedimentos
Ocorreu em virtude do trabalho de conclusão de curso em Gestão Pública,
ofertado pelo Centro de Ciências Naturais e Tecnologia da Universidade do Estado
do Pará (CCNT/UEPA), entre os anos de 2021 e 2022. O mesmo fora orientado pelo
Prof. Dr. Iedo Santos.
Elemento principal deste é a análise do processo de mudança paradigmática
e as nuances arraigadas, sobretudo na realidade das cidades do interior do Pará,
uma vez que vem se mostrando desigual (característica mensurada logo na fase
teórica), agravado pela inserção de novos honorários, como os formativos técnicos
que demandam estrutura, pessoal e financiamentos.
Para isso, a penetração no campo se deu através de visita presencial às
diretorias, e apresentação do pré-projeto aprovado pela UEPA. A abordagem fora
menos burocrática que o imaginado, sendo permitidas as frequências e entrevistas
sem a necessidade de protocolação de apelo junto a SEDUC ou qualquer órgão
superior. Ponderou-se as informações, formulando pontuações pertinentes, a serem
devolvidas ao campo por reciprocidade, objetivando melhora e/ou o ensejo de novos
estudos, ressaltando seu caráter aplicado.
Vale destacar também, que este trabalho se viu oprimido pela corrida e
conflitante agenda do campo, que por muitas vezes não pôde fornecer a devida
atenção em virtude dos hiatos entre às eleições, festas do Círio paraense e suas
variantes, Copa do Mundo, natal e virada de ano, férias escolares de janeiro. O que
acabou por redimensionar os esforços paras as redes sociais que, muito
contribuíram, mas não com a mesma efetividade. O impacto fora inevitável.

2.3 Análise dos dados


Foram feitas observações participantes, colheita de diálogos e entrelinhas,
algumas entrevistas sem rigor, geralmente iniciadas com questionamentos simples,
aprofundadas pelo interlocutor, além de registro dos ambientes e condições, no
caderno de campo, e fotográfico, quando permitido. Poucas entrevistas com
perguntas fechadas também aconteceram. Executaram-se também reuniões com o
professor orientador para amadurecimento das reflexões, via meios eletrônicos.
Quanto à análise, partiu-se de estudos de casos com o objetivo de montar um
panorama das políticas públicas de circunstância na mudança entre os “ensinos
médios”, sobretudo no que tange a novidade dos itinerários formativos; o perfil
16

ideológico e cultural do governo em questão e como isso influencia na execução de


suas atividades, o mesmo para o quadro operacional. Trata-se de um estudo
estruturalista, ao mensurar a gestão a partir de micro fatos. Da mesma forma,
considera a possibilidade de sugerir modificações nesta estrutura, a partir das
observações de problemas e deduções, o que lhe confere o caráter construtivista,
ainda que facilmente tenha-se percebido como é alheio àqueles espaços o poder de
decisão. Por fim, fez-se abdicações de preconceitos e dogmas, e apropriação da
prática de alteridade, evidenciando forte influência do relativismo cultural.

3 RESULTADOS
Antes da exploração propriamente dita, faz-se necessário esclarecer as
expectativas a respeito do novo ensino médio em Ourém. Desde sempre se
imaginava um processo deficiente, embrionário e apressado, que evidenciaria as
desigualdades, bem como o grande “elefante na sala” que seria a introdução da
educação técnica como obrigatória, face à fraca estrutura educacional da cidade.
Contudo, o encontrado foi uma implantação nula, sem nenhuma aplicação,
sobrevivente apenas em relatórios e alimentações de sistema, para “inglês ver”.
A escola Antônio Vieira serviu de porta de entrada, um servidor, o primeiro
guia. Já na primeira visita fez questão de mostrar a projeção de horários de aulas,
suas novas disciplinas, e da lotação (que passaria a ser semestral, seguindo a lógica
volátil do currículo), e de deixar claro que o NEM findava nisto, nas projeções. Os
itinerários formativos, extensão de carga horária e a efetiva concretização dos
anteriormente citados não figuravam à realidade, em pleno 2022, prazo final de
implantação imposto pelo governo federal.
MSOR repetia tal cenário, com o agravante da falta de um coordenador
pedagógico, cuja importância, para esse momento de mudanças é altíssima. Mas
fora no campo dos novos dados que a mesma despontou. Demonstrando maior
engajamento, e estar à frente na representação de Ourém junto ao executivo –
especificamente aqui -, elencou problemas vivenciados desde às primeiras “brisas”,
ainda em 2021, até o momento do trabalho.
Fora esta quem inicialmente expôs a pressão para a prestação de satisfação
junto ao MEC de forma burocrática, ainda que nas salas, vigorasse o velho regime,
sem aprofundamentos no assunto, como se a manobra estivesse a cargo de
instâncias superiores. Foram reforçados também os horários das aulas propostos
17

pela secretaria do estado, de 4 horas dentro da escola: 2 horas para a formação


geral básica, 1 para o projeto de vida, e 1 para a formação técnica. Protótipo, na
ocasião, ainda em análise, e de demanda por verdadeiras revoluções
organizacionais incompatíveis com a conjuntura das escolas. Antônio Vieira, noutra
visita, informou que há conversas com a SEDUC para testarem a viabilidade de
aumento da carga em mais 1 hora (confirmada com a volta às aulas em fevereiro de
2023), tendo em vista a majoração dos conteúdos, sobretudo após a adoção de
habilidade e competências da BNCC. Para melhor entender tais demandas, faz-se
necessário dividi-las conforme sua natureza.

3.1 Os alunos
Monitoramento apresentado nos índices escolares, ainda na amostra (2.1),
vislumbra sobre os aspectos destes importantes agentes na equação. Como já dito,
apenas MSOR, com muitas ressalvas, consegue concentrar alunos no perfil
almejado pelos planos da educação básica, seja na idade certa, seja na adesão a
índices positivos. A escola Antônio Vieira, por outro lado, mostra-se extremamente
frágil, composta de trabalhadores prematuros, repetentes e jovens adultos. Em
ambas, alunos colonos usuários de transporte coletivo, alunos pobres, protelando
falhas na alfabetização, sem iniciação informática e sem posse de computadores
pessoais, boa parte sem internet em casa.
Nas respostas dos entrevistados, a coqueluche era “não sei” quando
perguntados se sabiam do que se tratava o Novo Ensino Médio; se sabiam o que
era um itinerário técnico e o que era BNCC. São esses os que menos têm noção das
atualidades, e os que maior sofrerão com seus efeitos negativos.

3.2 Os professores
Informou-se que o quadro é compartilhado dentre todas as escolas estaduais,
inclusive com as de apenas ensino fundamental. Além disso, é deficitário, possuindo
vacâncias em algumas disciplinas e turmas, devido a aposentadorias, licenças e
exonerações não repostas. Cumpre as necessidades do modelo atual de ensino já
com dificuldades, vendo impossibilidades no sucessor, bem mais exigente e
complexo. Para completar, a introdução dos itinerários técnicos e do Projeto de Vida,
agrava este arrocho. Sem previsão para concurso público, a possível resposta só
será dada via processo seletivo simplificado iniciado em 31 de janeiro de 2023.
18

Isto reverbera em outras coisas, como por exemplo, nos projetos de formação
técnica, a serem elaborados pelos próprios que, deveras atarefados, ficam
impossibilitados tomar de assalto, com propriedade, esta missão. Há a falta também
de treinamentos destes que há muito exercem o antigo ensino médio, de forma a
mostrar caminhos para se fazer a tão preconizada interdisciplinaridade, extensão, e
as novas habilidades, competências e matérias. Fatos destacados por alguns como
pouco explorados até o momento.
“Infelizmente a gente tem de admitir que não somos interdisciplinares, e
temos dificuldades de fazer isso.” (Professor 1, 2022)
“Eu ainda tenho que ver como relacionaria a Educação Física com as outras.
Tem disciplina que é fácil como química com biologia, mas a minha é uma
das mais difíceis. Não sei como fazer com português, por exemplo.”
(Professor 2, 2022)

3.3 As escolas
As “irmãs” em muito diferem entre si, a priori, sendo Antônio Vieira bem mais
basal e calejada pelo tempo e pelos percalços do serviço público em comparação à
Maria Socorro Oliveira da Rocha. Logo nos primeiros contatos era perceptível este
abismo entre elas.
Na primeira, encontrou-se um gestor muito ocupado, dividindo a atenção das
entrevistas com trabalhos de secretaria que possivelmente seriam mais adequados
a outros profissionais; rodeado de um arquivo morto de grande porte (não só da
referida, mas também de outras escolas já falecidas) que provavelmente reflete
neste acúmulo de funções. Além disso, calçadas e passarelas quebradas, sem
sinalização. Espaços que não vão além das tradicionais salas de aula, quadra e
refeitório. Em diálogos, fora informado que não há conexão com a internet nem
mesmo para uso administrativo, pois o equipamento fornecido pela Oi
Telecomunicações em parceria com o Estado, fora furtado há uns anos e nunca
compensado.
A segunda, por sua vez, já reflete os novos tempos da educação, com
estrutura mais inclusiva (sinalização para deficientes visuais com texturas
emborrachadas, rampas para cadeirantes), aparência, pintura e acabamentos mais
polidos e recentes, evidenciando a tenra idade. A direção, as salas de professores e
de aulas, climatizadas. Dispõe de quadra poliesportiva bem equipada, e
principalmente, de ambientes adicionais: laboratório de informática e sala de leituras,
19

de suma importância para os objetivos do novo ensino médio. Porém, com um leve
avanço no campo, as contradições não tardam a se revelar.
A começar pelo próprio laboratório de informática. Composto por 12 estações,
tinha a missão de ser forte apoio às atividades escolares, ainda mais para um
público com pouco uso ou mesmo leigo em computadores pessoais. Entretanto,
desde sua gênese, fora pouco utilizado, visto que as referidas foram acumulando
defeitos, ao ponto de apenas 3 funcionarem atualmente.
Quanto ao restante, foi dito que o governo garante a energia elétrica e a água,
porém a conexão com a internet é custeada por fontes outras, pois o conselho
escolar responsável pelo financiamento próprio, encontra-se travado
burocraticamente, após a mudança de concessão dos cartórios de Ourém, que
apontaram incongruências, ao passo que trouxeram novas exigências. Assim, a
iniciativa dos funcionários teve de recorrer a meio informais de levantamento de
recursos, como coletas do próprio bolso e vendas de alimentos infantis, bombons e
salgadinhos industrializados.
Em ambas não há laboratório de ciências naturais, espaços de artesanato ou
cinemateca, possíveis catalisadores do empirismo e da interdisciplinaridade; em
ambas não há acesso à internet para discentes. Sua infraestrutura em fase inicial
impossibilita o cumprimento de toda a carga horária estendida dentro das escolas, o
que acaba por empurrá-las para prerrogativas de cumprimento fora, permitidas em
lei.

3.4 A logística
O orgulho da propaganda do NEM, a extensão da carga horária, aqui se
reflete no aumento do tempo de aulas, de 45 para 50 minutos cada (a priori no
molde tradicional), preparando o terreno para as modificações, e isso tensiona com
contundência as rotinas dantes cristalizadas. A começar pela condução.
Fornecida pela prefeitura, é a responsável por transportar alunos de
comunidades do interior não abarcadas ou fora de influência de uma escola polo.
Frequentada por alunos de todos níveis, não apenas do ensino médio, acaba por se
tornar um empasse, uma vez que a mudança implica em horários diferentes de
entrada/saída entre eles. Sem a coincidência dos cronogramas, a gestão terá de
fazer prováveis escolhas: se inclui um transporte dedicado, ou relega a espera ao
fundamental. Nesse segundo caso, findada as aulas, durante o aguardo este público
20

ainda seria de responsabilidade da escola? A instituição o deixaria desamparado?


Outra variável a se considerar é o perfil e a jornada estudantil. Sobretudo nos
casos de distorção idade-série, presentes em ambas as amostras, mas mais visíveis
em Antônio Vieira, que podem indicar jornada dupla (estudos e labuta). Tal
modificação, acompanhada dos itinerários extras previstos, pode sobrecarregar um
público mais carente e colocá-lo para escolher entre as aulas e seu trabalho, num
futuro próximo, sem a devida contrapartida em forma de incentivos e bolsas
financeiras. A ascensão nos índices de evasão é um perigo para a realidade
ouremense.
Quanto aos professores, já é admitido que a equipe não suporta a carga de
trabalho atual, contando inclusive com vacâncias em certos horários e disciplinas
inteiras (para algumas turmas). O cenário exigirá maior dedicação dos profissionais
que, na maioria das vezes, dividem suas atenções com o ensino fundamental, e
agora terão o desafio da extensão de horários do médio, bem como de novas
contratações a fim de suprir as matérias descobertas.
Os contraturnos e a parte diversificada que somará o dito “tempo integral”,
são apontados - pelos entrevistados - como “impossíveis” para as escolas, tanto
pela falta de oferta de cursos técnicos/profissionalizantes, quanto pela estrutura
prejudicada, quanto pela falta de orientação pedagógica, de forma que ainda não
fora implantado. Em 2021 houveram as primeiras sugestões de itinerários para
temas mais “gerais” da educação, de execução facilitada, como manuseio e
manipulação do lixo e combate as drogas, que se perderam no atribulado calendário
e no fraco incentivo. Hoje, há a pretensão de criação de um para cada grande área
da BNCC (Linguagens, Matemática, Ciências Exatas e Ciências Humanas), mas
ainda pouco desenvolvida e aguardando formação pela secretaria.
A outra possibilidade é a da atuação fora da instituição, em espaços como
bancos, fóruns, empresas, igrejas, órgãos públicos, dentre outros, desde o começo
da pesquisa, vista como uma das mais fortes alternativas a terem a preferência do
executivo. Certeiramente fora a apontada pela secretaria de educação como a qual
as escolas deveriam escolher, “procurando parcerias com empresas locais”,
segundo narrado por um servidor. Uma vez que corresponde às aspirações de
educação voltada ao trabalho, populares no meio político brasileiro do último
quinquênio, e também por ser um meio relativamente mais fácil – para o governo –
de satisfação da demanda, sem a necessidade de construção de espaços novos, de
21

novas aquisições ou novas admissões, apenas de disponibilização dos potenciais


economicamente ativos para aproveitamento do mercado conforme suas vontades,
aprendendo um ofício por consequência. Adolescentes de pouca ou nenhuma
experiência em serviço, com estudos incompletos, os quais acabam por tornarem-se
mão-de-obra barata para trabalhos pouco complexos.
Em se tratando de Ourém, dotada sobretudo de pessoas jurídicas familiares
(pequenos super mercados, pequenas farmácias e lojas variadas), a perspectiva
para a formação técnica de seus jovens findaria em trabalhos braçais de atividades
meio. As únicas exceções, que poderiam entregar experiências diversas, seriam o
Banpará (único banco em todo o município), a prefeitura e seus órgãos, e as
seixeiras, vide o grande porte. Porém, até o momento, não criaram nenhum tipo de
programa com esta finalidade, talvez estejam esperando a busca por parcerias.
Nesse caso, treinariam esse público nas áreas de informática, empreendedorismo,
administração, ou também o relegaria ao simples operacional1?
Em últimos dos casos, o guia de implantação (2018) considera a atividade
dos itinerários em outras cidades, sendo que o alunato assistiria as aulas de
educação geral básica na sua, e se deslocaria até outra com maiores capacidades,
para o restante. Ou usos de educação à distância, como videoconferência e tele
aulas, por exemplo. Tais casos, são a “entrega de pontos” do Novo Ensino Médio,
admissão cabal da incapacidade de garantia da isonomia ao tão exaltado saber para
o trabalho. Já que as metrópoles e escolas particulares munir-se-ão de todas as
etapas dentro de suas influências, enquanto que às periferias restará contentar-se
ao mais simples e barato, ou sujeitar-se a condições nada ideais e dependência.
Ao recorte ouremense, a subordinação a cidades como Capanema e Capitão
Poço, nesse ritmo, seria apenas uma questão de tempo, bem como a discrepância
na qualidade dos serviços (ou até mesmo precarização), devido às aberturas para
perpetuações de desigualdades permitidas em norma, sem previsão de políticas que
busquem resolvê-las.

1
Antes da finalização em 2021, a agência do Banco do Brasil incorporava estudantes para
desempenho da função de atendimento ao público nos caixas eletrônicos (famosos pelas camisas
com a frase “posso ajudar?”). Se adaptado e especializado, esta experiência poderia servir de
exemplo para uma eventual resposta.
22

4 DISCUSSÃO
Após exposição de tamanhas controvérsias, fica clara a posição deste excerto
a respeito do NEM, sobretudo no que tange à execução bruta em ambientes
carentes - a exemplo da interiorana Ourém -, perfis desdenhados por tendências
utilitaristas e tecnicistas sobre educação.
A começar pela cisão conteudista. Sem a salvaguarda integral dos assuntos
convencionais, e transferência de parte da dedicação aos itinerários, na prática
implica na desidratação de temas importantes face a outros questionáveis, ou pior,
taxativos, considerando o “abismo” entre mantenedoras ricas e pobres. Casos
alarmantes como os do estado de São Paulo e Rio de Janeiro, que cedem uma fatia
dos horários de Ciências Humanas e Sociais, e Ciências da Natureza para FICs
denominadas “O Que Rola Por Aí” e “Brigadeiro Caseiro” (Agência O Globo, 2023),
causando insatisfação e sensação de insegurança para com os processos seletivos,
visto que perdem abordagens robustas de história, geografia, biologia e outras
disciplinas fundamentais para o ENEM, em prol de disciplinas alheias.
Ainda sobre as FICs, além de serem instáveis, com escolas particulares, e
públicas de grandes cidades, dispondo das melhores opções: “direito constitucional”,
“desenho vetorial” e “globalização”, exemplo; e o restante, com as comprovadas
acima, podem obter um caráter determinista, condicionando uma parcela da
sociedade a certas atividades. Principalmente quando consideramos que em muitas
localidades, há apenas uma escola, e isso torna pouco provável que se possa
oferecer mais de uma ou duas alternativas de curso; é importante salientar que as
citadas certamente possuem valor para algum público, contudo não podemos negar
que estão descoladas das realidades dos vestibulares e, quando cerne exclusivo do
itinerário, vão na direção contrária da tão exclamada “liberdade de escolha”.
Agora, passando para o outro lado da educação técnica, falando
propriamente dos cursos técnicos voltados ao mercado de trabalho, conclusões
semelhantes às sobre as FIC aqui se repetem, como a do reforço das
desigualdades, principalmente no que tange ao catálogo fraco e procedimentos nada
ideais aos paupérrimos e menos estruturados. Além disso, a prerrogativa da
educação a distância levou muitos lugares a relegarem as aulas à conferências via
internet, ou gravações, em associação com terceirizadas do ramo (Alonso 2022),
principalmente quando considerada a carência dos pequenos centros, de mão-de-
obra especializada neste tipo de ensino. Da mesma forma, nenhuma programação
anexa que vise mitigar ou reparar os problemas atrelados à pobreza é prevista,
23

apenas uma gama de procedimentos é requerida e perpassada aos estados e


municípios para desempenharem da forma que lhes forem cabíveis. O NEM eleva as
exigências, adiciona gastos, ao passo que nada faz para suportá-los, o resultado é o
reforço desigual.
No recorte ao que se refere este trabalho, nos deparamos a um cenário de
ausência total de implementação. Ainda assim os primeiros indícios da reforma nos
revelam que seu futuro se aproximaria ao explanado. Sua primeira indicação, por
parte da SEDUC, fora a de casamento de itinerários com entidades privadas. Soma-
se a isso a logística não condizente, precariedades municipais e institucionais,
público-alvo de classes sociais de base, e teríamos um aprendizado superficial, com
muitos problemas e, com a finalidade de formar força de trabalho barata.
Fato que reforça é o desencontro com o ENEM, haja vista que sem uma
dorsal de segurança que unifique os currículos entre escolas particulares, públicas,
pobres e ricos, o vestibular de 2024 – primeiro a curvar-se ao novo modelo – torna-
se uma grande incógnita, para discentes e docentes. Pode agir como um “funil” das
universidades, por onde passarão apenas aqueles que entraram em contato com o
máximo de conteúdos e tiveram a parte diversificada melhor condizente com
proposto pelo exame. Aos demais, resta a venda do brigadeiro caseiro ou o
operacional de um jovem aprendizado.
A condição financeira, unida ao aumento das horas de estudo obrigatórias,
rotinas atrapalhadas e pouco ou nenhum auxílio previsto, podem ser o funil da
assiduidade na escola, ocasionando abandono e reprovação, aumento da população
ociosa e do desemprego (exército de reserva para as empresas) no pior dos
cenários.
Analisando esses casos e simulações, conclui-se que Ourém pode vir a ser
uma vítima da reforma. E, seu papel na dinâmica mercadológica, como um nanico
geopolítico, científico e industrial, seria o de fornecedor de “peões”, com baixas
perspectivas de verticalização. Seu ensino médio caminharia para produção de
estágios de baixa estirpe, ou FICs limitadas e combalidas pelas fraquíssimas
condições onerosas e estruturais as quais está imersa.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Aos olhos de quem viveu a conjuntura do NEM, desde a época em que criou
polêmicas ao excluir da grade a Educação Física, Educação Artística, Filosofia e
Sociologia (seus primeiros esboços), este figurava como ações destitutórias, sem
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rigores no princípio da isonomia, e apontamentos claros para transformações


técnicas e voltadas ao mercado de trabalho, em detrimento da iniciação científica. A
primeira reação, fora a de abstrair os impactos na sociedade, principalmente
considerando suas desigualdades.
Apesar dos esforços de seus apologistas em dizer o contrário, a futura prática
escancararia como era desproporcional e como reforçava o status quo com
alargamento do “foço” entre os desiguais. As intenções por trás de seus
elaboradores não é fato consumado para a sociedade, ainda assim, seus danosos
resultados, são.
Em Ourém, sua introdução fora tão fraca que mesmo em ano limite previsto,
nada do novo paradigma se viu em execução, apenas aspirações. Isto no âmbito
administrativo e pedagógico, uma vez que, para os discentes, é um elemento
desconhecido. Além de enclaves de recursos humanos, logística e predial/gestor,
que evidenciam a falta de condições da cidade para tal, bem como também o
despreparo por parte da Secretaria Estadual de Educação que, optou por sugerir
métodos mais fáceis de iniciação, porém não condizentes com realidade sociológica.
Ao trabalho, restou então concentrar estudos e dados de locais outros, a fim
de comparar e teorizar o que espera pela população ouremense quando o NEM se
traduzir em regra. De FICs taxativas, baratas e polêmicas, aplicação técnica braçal,
à problemas com o ENEM e demais vestibulares, as conclusões deste são
desanimadoras. Por outro lado, faz seu papel social de levantar denúncias,
feedbacks, indagações, e algumas sugestões, de forma a contribuir para novas
políticas públicas que pensem o projeto com maior dedicação ao recorte das
pequenas cidades do interior do estado do Pará, a partir da amostra.
25

6 REFERÊNCIAS

AGÊNCIA O GLOBO. Após reforma do ensino médio, alunos têm aulas de ‘O que rola por aí‘, ‘RPG‘ e
‘Brigadeiro caseiro‘: Pressão para revogar mudanças aumenta sobre Ministério de Educação de Lula, mas titular
da pasta, Camilo Santana, promete aperfeiçoar modelo criticado. Exame, [S. l.], p. 1- 10, 13 fev. 2023.
Disponível em: <https://exame.com/brasil/apos-reforma-do-ensino-medio-alunos-tem-aulas-de-o-que-rola-por-ai-
rpg-e-brigadeiro-caseiro/>. Acesso em: 10 maio 2023.

ALONSO, Thiago. Terceirizações e privatizações no Ensino Médio preocupam educadores:


Audiência pública realizada para debater o tema reuniu pesquisadores, professores, alunos e pais com o objetivo
de defender a educação pública. Paraná, 31 mar. 2022. Disponível em:
<https://www.assembleia.pr.leg.br/comunicacao/noticias/terceirizacoes-e-privatizacoes-no-ensino-medio-
preocupam-educadores>. Acesso em: 18 maio 2023.

BRASIL. Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Conversão da Medida Provisória nº 746, de 2016.
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BRASIL. Portaria nº 1.432, de 28 de dezembro de 2018. Estabelece os referenciais para elaboração


dos itinerários formativos conforme preveem as Diretrizes Nacionais do Ensino Médio. Brasília, DF: Diário Oficial
da União, 28 dez. 2018.

BRASIL. Resolução nº 1, de 5 de janeiro de 2021. Define as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais


para a Educação Profissional e Tecnológica. Brasília, DF: Diário Oficial da União, 5 jan. 2021.

BRASIL. Resolução nº 3, de 21 de novembro de 2018. Atualiza as Diretrizes Curriculares Nacionais


para o Ensino Médio. Brasília, DF: Diário Oficial da União, 21 nov. 2018.

CÂMARA DOS DEPUTADOS. JUSBRASIL. Segundo MEC, reforma do ensino médio facilitará
aplicação da Lei do Jovem Aprendiz. [S. l.], 7 mar. 2017. Disponível em:
<https://www.jusbrasil.com.br/noticias/segundo-mec-reforma-do-ensino-medio-facilitara-aplicacao-da-lei-do-
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CONSELHO NACIONAL DOS SECRETÁRIOS ESTADUAIS DE EDUCAÇÃO; FÓRUM NACIONAL


DOS CONSELHOS ESTADUAIS DE EDUCAÇÃO; MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Guia de implementação do
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IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Portal cidades,


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MAROS, Angieli. Pais de alunos aderem a protestos contra modelo terceirizado de aulas do ensino
médio no Paraná: Governo admite problemas “pontuais” em aulas do novo Ensino Médio da rede estadual dadas
pela Unicesumar. Plural Curitiba, [S. l.], p. 1 - 7, 31 mar. 2022. Disponível em:
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26

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formativos. Brasília, DF: [s. n.], 2020. 14 p.

PALHARES, Isabela. Itinerários do novo ensino médio são impostos e até sorteados aos alunos. Folha
de São Paulo, [S. l.], 25 mar. 2023. Educação, p. 1 - 6. Disponível em:
<https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2023/03/itinerarios-do-novo-ensino-medio-sao-impostos-e-ate-
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QEDU. Use dados, transforme a educação. EEEM PADRE ANTONIO VIEIRA. Disponível em:
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QEDU. Use dados, transforme a educação. EEEM PROFA MARIA SOCORRO OLIVEIRA DA ROCHA.
<Disponível em: https://qedu.org.br/escola/15156672-eeem-profa-maria-socorro-oliveira-da-rocha>. Acesso em:
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SEDUC - PA. Documento curricular do estado do Pará: etapa ensino médio. Belém, PA: [s.
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SEDUC - PA. Formação geral básica: Secretaria de estado de educação. Belém, PA: [s. n.],
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TOKARNIA, Mariana. Ensino médio poderá ter de 20% a 30% da carga horária a distância: Decisão
consta das novas Diretrizes Crurriculares Nacionais. Agência Brasil, Brasília, 9 nov. 2018. Educação, p. 1 - 2.
Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2018-11/ensino-medio-podera-ter-de-20-30-
da-carga-horaria-distancia>. Acesso em: 4 maio 2023.

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