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BELÉM-PA
2023
FELIPE ANDRÉ PEREIRA SANTOS
Banca Examinadora:
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Orientador - Prof. Dr. Iêdo Souza Santos
Universidade do Estado do Pará
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Avaliador (a) –
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Avaliador (a) –
AGRADECIMENTOS
Agradeço à minha família por ser meu suporte durante toda essa jornada:
mãe Janice Pereira, pai e irmão, Alfredo e Flávio Santos. Às amizades que adotei
como família: Aline Brasil, Cristina Furtado, Neire, Khloe e Tayná Silva. Ao Msc
Rafael Potiguar pelas orientações. À Universidade Estadual do Pará por
proporcionar essa oportunidade de formação a um servidor do interior do estado.
Aos meus colegas, sobretudo Deborah Figueiredo, Edna Torres e Odineia
Montalvão, minha equipe e apoio, que me fez crescer e que cresceu junto. Ao
Professor Dr Iedo Santos pelas orientações e exemplo. Aos servidores,
responsáveis e discentes das escolas que tanto enriqueceram este trabalho.
Esse Novo Ensino Médio existe apenas para alimentação de
sistema [...] na prática continuamos com o antigo, porque o
novo é impossível para nós, até o momento.
(Um Servidor, 2022)
RESUMO
Following the political trends of the last 5 years, the secondary education reform
would arrive in 2017 accompanied by slogans of student protagonism and more
interesting curricular paradigms. However, what was observed in Brazil was the
raising of requirements and the creation of demands that were difficult to be
processed (with isonomy) by the different realities of the country, such as technical
training itineraries. In Ourém – PA, one of the poorest realities, was expected a weak
implementation that did not consider social inequalities (or worse, aggravated it), but
what was found was the almost total absence in full deadline.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................9
1.1 As desigualdades...............................................................................................9
1.2 As mudanças................................................................................................... 10
2 MÉTODO................................................................................................................ 13
2.1 Amostra............................................................................................................13
2.2 Procedimentos................................................................................................. 15
3 RESULTADOS....................................................................................................... 16
3.1 Os alunos.........................................................................................................17
3.2 Os professores.................................................................................................17
3.3 As escolas........................................................................................................18
3.4 A logística.........................................................................................................19
4 DISCUSSÃO...........................................................................................................22
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS…………………………………..………………………...23
6 REFERÊNCIAS...................................................................................................... 25
9
1 INTRODUÇÃO
Parte do pacote de reformas austeras (conjuntamente com as Trabalhista e
da Previdência), o Novo Ensino Médio (NEM), aprovado em 2017, já era previsto
desde 2014, a partir de proposta elaborada por associação de pessoas jurídicas
empresariais, sob palavras de ordem da modernização curricular e atratividade de
ensino. Cria os itinerários formativos, consistentes em disciplinas eletivas e
técnicas/profissionalizantes que dividirão a carga horária de 3000 horas com as
gerais de educação básica (língua portuguesa, matemática, história...). Ainda, estas
podem manifestarem-se em forma de oficinas, palestras, clubismos, projetos,
estágios dentre outras a depender das características e estruturas das escolas e
localidades (Brasil, 2017).
“Cabe às redes e escolas definir:
a) a sequência em que os eixos estruturantes serão percorridos e as formas
de conexão entre eles;
b) o tipo de organização curricular a ser mobilizado: por disciplinas, por
oficinas, por unidades/campos temáticos, por projetos, entre outras
possibilidades de flexibilização dos currículos no Ensino Médio;
c) se os Itinerários Formativos terão como foco uma ou mais Áreas de
Conhecimento, a combinação de uma Área de Conhecimento com a
Formação Técnica e Profissional ou apenas a Formação Técnica e
Profissional.” (MEC, 2020)
Nesta flexibilização reside a problemática. Sem a garantia de um modelo de
excelência, ao relegar sua execução às possibilidades das mantenedoras,
desigualdades podem se manter e/ou intensificar. As diferenças sociais entre
privado e público, centro e periferia, metrópoles e pequenos municípios
provavelmente expressar-se-ão fortemente nas opções disponíveis ao alunato desta
educação técnica, com cursos mais bem equipados e de qualidade para os
primeiros, enquanto que, talvez apenas algumas horas de “jovem aprendizado”, para
os segundos.
1.1 As desigualdades
Se tratando de um município de cerca de 18.000 habitantes (IBGE, 2021),
com parque educacional 100% público, e ensino médio exclusivamente estadual,
sem representações na Assembleia Legislativa, Câmara e Senado, Ourém é um
10
1.2 As mudanças
Biparticionados os conteúdos (formação geral e itinerários), apenas língua
portuguesa e matemática tornam-se imperativas a todos os anos, as demais
dependeriam da dita “escolha” estudantil para expressarem-se (ou não). Ainda
assim, todo o desenho horário está sujeito a modificações, a critério das entidades,
sem garantias de proporcionalidade.
O Guia de Implantação do Novo Ensino Médio (Conselho nacional dos
secretários estaduais de educação; Fórum nacional dos conselhos estaduais de
educação; MEC, 2018) ilustra esta lógica [Figura 1], em três cenários: o primeiro
com divisão constante de 600 horas gerais básicas e 400 técnicas para todas as
séries; o segundo com o aumento paulatino das segundas, de 200 a 600 ao final; e o
terceiro praticamente dedicando uma série para cada especialidade, sendo a
primeira série 100% geral básica, e a última 80% técnica.
11
Fonte: Conselho nacional dos secretários estaduais de educação; Fórum nacional dos
conselhos estaduais de educação; Ministério da educação (2018)
Fonte: Conselho nacional dos secretários estaduais de educação; Fórum nacional dos
conselhos estaduais de educação; Ministério da educação (2018)
Falando nisso, este fora introduzido como a mais nova matéria do currículo,
responsável por orientar e facilitar a conduta juvenil rumo aos seus objetivos,
obedecendo os Eixos Estruturantes que levarão às escolhas dos itinerários:
investigação científica, processos criativos, mediação e intervenção sociocultural,
empreendedorismo (Conselho nacional dos secretários estaduais de educação;
Fórum nacional dos conselhos estaduais de educação; MEC, 2018).
Para suportar a inserção da educação técnica, além da desobrigação das
matérias que não façam parte da área escolhida, e cedência de cerca de 20% da
carga horária da educação geral básica, há ainda a abertura para contratação via
certificação de notório saber, para bacharéis, tecnólogos ou especialistas de nível
médio/técnico ministrarem aulas nas FIC, face ao caráter aplicado.
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2 MÉTODO
A pesquisa deu-se de modo exploratório, utilizando análises qualitativas de
dados probabilísticos aleatórios simples e não probabilísticos por conveniência,
adquiridos por meio do método etnográfico de pesquisa, com estudos de caso e
observação participante, além de entrevistas abertas e fechadas com perguntas pré
determinadas.
Sob a luz da literatura e das vivências, foi verificada a atuação das escolas,
bem como do poder executivos a fim de elaborar conclusões que destaquem suas
atuações em relação à conduta ética esperada, pontos fortes, críticas a serem
sanadas... a servir de exemplo para outras administrações e/ou incitar novos
estudos.
2.1 Amostra
Das unidades disponíveis, apenas três são habilitadas para a modalidade do
ensino médio, ambas de responsabilidade do governo estadual, duas localizadas na
chamada “sede” urbana, e uma na zona rural, sendo elas E.E.E.F.M. Padre Antônio
Vieira (Bairro do Souza) e E.E.E.M. Maria Socorro Oliveira da Rocha (Bairro Dom
Elizeu), E.E.E.F.M. Irmã Sancha Augusta (Vila Arraial do Caeté), respectivamente.
A última faz parte da maior das comunidades colonas ouremenses, elemento
interessante à uma das propostas deste excerto (análise da desigualdade), ainda
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2.2 Procedimentos
Ocorreu em virtude do trabalho de conclusão de curso em Gestão Pública,
ofertado pelo Centro de Ciências Naturais e Tecnologia da Universidade do Estado
do Pará (CCNT/UEPA), entre os anos de 2021 e 2022. O mesmo fora orientado pelo
Prof. Dr. Iedo Santos.
Elemento principal deste é a análise do processo de mudança paradigmática
e as nuances arraigadas, sobretudo na realidade das cidades do interior do Pará,
uma vez que vem se mostrando desigual (característica mensurada logo na fase
teórica), agravado pela inserção de novos honorários, como os formativos técnicos
que demandam estrutura, pessoal e financiamentos.
Para isso, a penetração no campo se deu através de visita presencial às
diretorias, e apresentação do pré-projeto aprovado pela UEPA. A abordagem fora
menos burocrática que o imaginado, sendo permitidas as frequências e entrevistas
sem a necessidade de protocolação de apelo junto a SEDUC ou qualquer órgão
superior. Ponderou-se as informações, formulando pontuações pertinentes, a serem
devolvidas ao campo por reciprocidade, objetivando melhora e/ou o ensejo de novos
estudos, ressaltando seu caráter aplicado.
Vale destacar também, que este trabalho se viu oprimido pela corrida e
conflitante agenda do campo, que por muitas vezes não pôde fornecer a devida
atenção em virtude dos hiatos entre às eleições, festas do Círio paraense e suas
variantes, Copa do Mundo, natal e virada de ano, férias escolares de janeiro. O que
acabou por redimensionar os esforços paras as redes sociais que, muito
contribuíram, mas não com a mesma efetividade. O impacto fora inevitável.
3 RESULTADOS
Antes da exploração propriamente dita, faz-se necessário esclarecer as
expectativas a respeito do novo ensino médio em Ourém. Desde sempre se
imaginava um processo deficiente, embrionário e apressado, que evidenciaria as
desigualdades, bem como o grande “elefante na sala” que seria a introdução da
educação técnica como obrigatória, face à fraca estrutura educacional da cidade.
Contudo, o encontrado foi uma implantação nula, sem nenhuma aplicação,
sobrevivente apenas em relatórios e alimentações de sistema, para “inglês ver”.
A escola Antônio Vieira serviu de porta de entrada, um servidor, o primeiro
guia. Já na primeira visita fez questão de mostrar a projeção de horários de aulas,
suas novas disciplinas, e da lotação (que passaria a ser semestral, seguindo a lógica
volátil do currículo), e de deixar claro que o NEM findava nisto, nas projeções. Os
itinerários formativos, extensão de carga horária e a efetiva concretização dos
anteriormente citados não figuravam à realidade, em pleno 2022, prazo final de
implantação imposto pelo governo federal.
MSOR repetia tal cenário, com o agravante da falta de um coordenador
pedagógico, cuja importância, para esse momento de mudanças é altíssima. Mas
fora no campo dos novos dados que a mesma despontou. Demonstrando maior
engajamento, e estar à frente na representação de Ourém junto ao executivo –
especificamente aqui -, elencou problemas vivenciados desde às primeiras “brisas”,
ainda em 2021, até o momento do trabalho.
Fora esta quem inicialmente expôs a pressão para a prestação de satisfação
junto ao MEC de forma burocrática, ainda que nas salas, vigorasse o velho regime,
sem aprofundamentos no assunto, como se a manobra estivesse a cargo de
instâncias superiores. Foram reforçados também os horários das aulas propostos
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3.1 Os alunos
Monitoramento apresentado nos índices escolares, ainda na amostra (2.1),
vislumbra sobre os aspectos destes importantes agentes na equação. Como já dito,
apenas MSOR, com muitas ressalvas, consegue concentrar alunos no perfil
almejado pelos planos da educação básica, seja na idade certa, seja na adesão a
índices positivos. A escola Antônio Vieira, por outro lado, mostra-se extremamente
frágil, composta de trabalhadores prematuros, repetentes e jovens adultos. Em
ambas, alunos colonos usuários de transporte coletivo, alunos pobres, protelando
falhas na alfabetização, sem iniciação informática e sem posse de computadores
pessoais, boa parte sem internet em casa.
Nas respostas dos entrevistados, a coqueluche era “não sei” quando
perguntados se sabiam do que se tratava o Novo Ensino Médio; se sabiam o que
era um itinerário técnico e o que era BNCC. São esses os que menos têm noção das
atualidades, e os que maior sofrerão com seus efeitos negativos.
3.2 Os professores
Informou-se que o quadro é compartilhado dentre todas as escolas estaduais,
inclusive com as de apenas ensino fundamental. Além disso, é deficitário, possuindo
vacâncias em algumas disciplinas e turmas, devido a aposentadorias, licenças e
exonerações não repostas. Cumpre as necessidades do modelo atual de ensino já
com dificuldades, vendo impossibilidades no sucessor, bem mais exigente e
complexo. Para completar, a introdução dos itinerários técnicos e do Projeto de Vida,
agrava este arrocho. Sem previsão para concurso público, a possível resposta só
será dada via processo seletivo simplificado iniciado em 31 de janeiro de 2023.
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Isto reverbera em outras coisas, como por exemplo, nos projetos de formação
técnica, a serem elaborados pelos próprios que, deveras atarefados, ficam
impossibilitados tomar de assalto, com propriedade, esta missão. Há a falta também
de treinamentos destes que há muito exercem o antigo ensino médio, de forma a
mostrar caminhos para se fazer a tão preconizada interdisciplinaridade, extensão, e
as novas habilidades, competências e matérias. Fatos destacados por alguns como
pouco explorados até o momento.
“Infelizmente a gente tem de admitir que não somos interdisciplinares, e
temos dificuldades de fazer isso.” (Professor 1, 2022)
“Eu ainda tenho que ver como relacionaria a Educação Física com as outras.
Tem disciplina que é fácil como química com biologia, mas a minha é uma
das mais difíceis. Não sei como fazer com português, por exemplo.”
(Professor 2, 2022)
3.3 As escolas
As “irmãs” em muito diferem entre si, a priori, sendo Antônio Vieira bem mais
basal e calejada pelo tempo e pelos percalços do serviço público em comparação à
Maria Socorro Oliveira da Rocha. Logo nos primeiros contatos era perceptível este
abismo entre elas.
Na primeira, encontrou-se um gestor muito ocupado, dividindo a atenção das
entrevistas com trabalhos de secretaria que possivelmente seriam mais adequados
a outros profissionais; rodeado de um arquivo morto de grande porte (não só da
referida, mas também de outras escolas já falecidas) que provavelmente reflete
neste acúmulo de funções. Além disso, calçadas e passarelas quebradas, sem
sinalização. Espaços que não vão além das tradicionais salas de aula, quadra e
refeitório. Em diálogos, fora informado que não há conexão com a internet nem
mesmo para uso administrativo, pois o equipamento fornecido pela Oi
Telecomunicações em parceria com o Estado, fora furtado há uns anos e nunca
compensado.
A segunda, por sua vez, já reflete os novos tempos da educação, com
estrutura mais inclusiva (sinalização para deficientes visuais com texturas
emborrachadas, rampas para cadeirantes), aparência, pintura e acabamentos mais
polidos e recentes, evidenciando a tenra idade. A direção, as salas de professores e
de aulas, climatizadas. Dispõe de quadra poliesportiva bem equipada, e
principalmente, de ambientes adicionais: laboratório de informática e sala de leituras,
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de suma importância para os objetivos do novo ensino médio. Porém, com um leve
avanço no campo, as contradições não tardam a se revelar.
A começar pelo próprio laboratório de informática. Composto por 12 estações,
tinha a missão de ser forte apoio às atividades escolares, ainda mais para um
público com pouco uso ou mesmo leigo em computadores pessoais. Entretanto,
desde sua gênese, fora pouco utilizado, visto que as referidas foram acumulando
defeitos, ao ponto de apenas 3 funcionarem atualmente.
Quanto ao restante, foi dito que o governo garante a energia elétrica e a água,
porém a conexão com a internet é custeada por fontes outras, pois o conselho
escolar responsável pelo financiamento próprio, encontra-se travado
burocraticamente, após a mudança de concessão dos cartórios de Ourém, que
apontaram incongruências, ao passo que trouxeram novas exigências. Assim, a
iniciativa dos funcionários teve de recorrer a meio informais de levantamento de
recursos, como coletas do próprio bolso e vendas de alimentos infantis, bombons e
salgadinhos industrializados.
Em ambas não há laboratório de ciências naturais, espaços de artesanato ou
cinemateca, possíveis catalisadores do empirismo e da interdisciplinaridade; em
ambas não há acesso à internet para discentes. Sua infraestrutura em fase inicial
impossibilita o cumprimento de toda a carga horária estendida dentro das escolas, o
que acaba por empurrá-las para prerrogativas de cumprimento fora, permitidas em
lei.
3.4 A logística
O orgulho da propaganda do NEM, a extensão da carga horária, aqui se
reflete no aumento do tempo de aulas, de 45 para 50 minutos cada (a priori no
molde tradicional), preparando o terreno para as modificações, e isso tensiona com
contundência as rotinas dantes cristalizadas. A começar pela condução.
Fornecida pela prefeitura, é a responsável por transportar alunos de
comunidades do interior não abarcadas ou fora de influência de uma escola polo.
Frequentada por alunos de todos níveis, não apenas do ensino médio, acaba por se
tornar um empasse, uma vez que a mudança implica em horários diferentes de
entrada/saída entre eles. Sem a coincidência dos cronogramas, a gestão terá de
fazer prováveis escolhas: se inclui um transporte dedicado, ou relega a espera ao
fundamental. Nesse segundo caso, findada as aulas, durante o aguardo este público
20
1
Antes da finalização em 2021, a agência do Banco do Brasil incorporava estudantes para
desempenho da função de atendimento ao público nos caixas eletrônicos (famosos pelas camisas
com a frase “posso ajudar?”). Se adaptado e especializado, esta experiência poderia servir de
exemplo para uma eventual resposta.
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4 DISCUSSÃO
Após exposição de tamanhas controvérsias, fica clara a posição deste excerto
a respeito do NEM, sobretudo no que tange à execução bruta em ambientes
carentes - a exemplo da interiorana Ourém -, perfis desdenhados por tendências
utilitaristas e tecnicistas sobre educação.
A começar pela cisão conteudista. Sem a salvaguarda integral dos assuntos
convencionais, e transferência de parte da dedicação aos itinerários, na prática
implica na desidratação de temas importantes face a outros questionáveis, ou pior,
taxativos, considerando o “abismo” entre mantenedoras ricas e pobres. Casos
alarmantes como os do estado de São Paulo e Rio de Janeiro, que cedem uma fatia
dos horários de Ciências Humanas e Sociais, e Ciências da Natureza para FICs
denominadas “O Que Rola Por Aí” e “Brigadeiro Caseiro” (Agência O Globo, 2023),
causando insatisfação e sensação de insegurança para com os processos seletivos,
visto que perdem abordagens robustas de história, geografia, biologia e outras
disciplinas fundamentais para o ENEM, em prol de disciplinas alheias.
Ainda sobre as FICs, além de serem instáveis, com escolas particulares, e
públicas de grandes cidades, dispondo das melhores opções: “direito constitucional”,
“desenho vetorial” e “globalização”, exemplo; e o restante, com as comprovadas
acima, podem obter um caráter determinista, condicionando uma parcela da
sociedade a certas atividades. Principalmente quando consideramos que em muitas
localidades, há apenas uma escola, e isso torna pouco provável que se possa
oferecer mais de uma ou duas alternativas de curso; é importante salientar que as
citadas certamente possuem valor para algum público, contudo não podemos negar
que estão descoladas das realidades dos vestibulares e, quando cerne exclusivo do
itinerário, vão na direção contrária da tão exclamada “liberdade de escolha”.
Agora, passando para o outro lado da educação técnica, falando
propriamente dos cursos técnicos voltados ao mercado de trabalho, conclusões
semelhantes às sobre as FIC aqui se repetem, como a do reforço das
desigualdades, principalmente no que tange ao catálogo fraco e procedimentos nada
ideais aos paupérrimos e menos estruturados. Além disso, a prerrogativa da
educação a distância levou muitos lugares a relegarem as aulas à conferências via
internet, ou gravações, em associação com terceirizadas do ramo (Alonso 2022),
principalmente quando considerada a carência dos pequenos centros, de mão-de-
obra especializada neste tipo de ensino. Da mesma forma, nenhuma programação
anexa que vise mitigar ou reparar os problemas atrelados à pobreza é prevista,
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Aos olhos de quem viveu a conjuntura do NEM, desde a época em que criou
polêmicas ao excluir da grade a Educação Física, Educação Artística, Filosofia e
Sociologia (seus primeiros esboços), este figurava como ações destitutórias, sem
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6 REFERÊNCIAS
AGÊNCIA O GLOBO. Após reforma do ensino médio, alunos têm aulas de ‘O que rola por aí‘, ‘RPG‘ e
‘Brigadeiro caseiro‘: Pressão para revogar mudanças aumenta sobre Ministério de Educação de Lula, mas titular
da pasta, Camilo Santana, promete aperfeiçoar modelo criticado. Exame, [S. l.], p. 1- 10, 13 fev. 2023.
Disponível em: <https://exame.com/brasil/apos-reforma-do-ensino-medio-alunos-tem-aulas-de-o-que-rola-por-ai-
rpg-e-brigadeiro-caseiro/>. Acesso em: 10 maio 2023.
BRASIL. Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Conversão da Medida Provisória nº 746, de 2016.
Brasília, DF, 16 fev. 2017.
CÂMARA DOS DEPUTADOS. JUSBRASIL. Segundo MEC, reforma do ensino médio facilitará
aplicação da Lei do Jovem Aprendiz. [S. l.], 7 mar. 2017. Disponível em:
<https://www.jusbrasil.com.br/noticias/segundo-mec-reforma-do-ensino-medio-facilitara-aplicacao-da-lei-do-
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MAROS, Angieli. Pais de alunos aderem a protestos contra modelo terceirizado de aulas do ensino
médio no Paraná: Governo admite problemas “pontuais” em aulas do novo Ensino Médio da rede estadual dadas
pela Unicesumar. Plural Curitiba, [S. l.], p. 1 - 7, 31 mar. 2022. Disponível em:
<https://www.plural.jor.br/noticias/vizinhanca/pais-de-alunos-aderem-a-protestos-contra-modelo-terceirizado-de-
aulas-do-ensino-medio-no-parana/>. Acesso em: 18 maio 2023.
26
PALHARES, Isabela. Itinerários do novo ensino médio são impostos e até sorteados aos alunos. Folha
de São Paulo, [S. l.], 25 mar. 2023. Educação, p. 1 - 6. Disponível em:
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<https://qedu.org.br/escola/15093654-eeefm-padre-antonio-vieira/>. Acesso em: 23 janeiro 2023.
QEDU. Use dados, transforme a educação. EEEM PROFA MARIA SOCORRO OLIVEIRA DA ROCHA.
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SEDUC - PA. Documento curricular do estado do Pará: etapa ensino médio. Belém, PA: [s.
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