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Subsecretaria de Formação Continuada dos Profissionais da Educação - EAPE

Formação Continuada:
escolha de percursos formativos
e descentralização da EAPE em 2019
Secretário de Estado de Educação
do Distrito Federal
João Pedro Ferraz dos Passos
Subsecretário de Formação Continuada
dos Profissionais da Educação
André Lúcio Bento

Equipe Gestora da EAPE


Assessor Especial
Francisco José da Silva
Assessor
André Luiz Gonçalves da Rocha
Diretor de Organização do Trabalho Pedagógico
e Pesquisa
Simão de Miranda
Márcia Cristina Dourado Toledo Gomes
Gerente de Pesquisa e Formação Continuada
para Modalidades da Educação Básica
Leda Ferreira Barros
Gerente de Pesquisa e Formação Continuada
para Etapas da Educação Básica
Gisele Tacca
Gerente de Pesquisa, Avaliação e Formação
Continuada para Gestão, Carreira Assistência,
Orientação Educacional e Eixos Transversais
Christofer Leandro de Oliveira Sabino
Diretora de Inovação, Tecnologias e
Documentação
Mariana Ferreira Cassiano
Assessores: Alzira Neves Sandoval, Danilo Simões
Nascimento e Moema de Rosa e Ramos
Gerente de Formação Continuada para
Inovação, Tecnologias e Educação A Distância
Tadeu Amoroso Maia
Gerente de Documentação e Logística
Luana Ferreira Mendes
Assessores: Adriana Stela de Andrade e Silva e
José Ferreira de Carvalho

Projeto gráfico e editoração:


Eduardo Carvalho dos Santos
Revisão: Alzira Neves Sandoval
Foto capa: Valéria Felix
Editorial

C
om muita satisfação, apresentamos o ções sérias, a EAPE vive momentos de extre-
volume inaugural da Revista inFOR- ma instabilidade. Quando, entretanto, a EAPE
MAÇÃO CONTINUADA, como parte assume a formação continuada como política
das comemorações aos 30 anos da EAPE. púbica estratégica, ela se fortalece e imprime
Nossa revista tem o objetivo de socializar marcas de qualidade na história da educação
experiências relevantes do que acontece no do Distrito Federal. Foi assim nos anos de
âmbito da EAPE e apresentar, a cada edição, 2013 e 2014, quando da consolidação e da
informações, matérias e entrevistas de inte- formação para o Currículo em Movimento. Foi
resse da formação continuada e da educação assim também em relação ao Pró-Letramen-
no Distrito Federal. to, ao PNEM e a tantas outras experiências
Fundada em 10 de agosto de 1988, ano formativas. E tem sido assim, em 2019, com
mais emblemático para a retomada do regi- a proposta inovadora dos cursos do Projeto
me democrático no Brasil, a EAPE tem uma Aprender Sem Parar.
história marcada por rupturas e por avanços. Com o Aprender Sem Parar, a EAPE busca
A maior de todas as rupturas foi o seu fecha- apoiar as escolas na organização de um tra-
mento durante um período de um pouco mais balho pedagógico que promova as aprendiza-
de um ano. Mas essa interrupção não foi ca- gens dos estudantes, com base nos pressu-
paz de apagar o desejo de toda a rede pública postos teóricos do Currículo em Movimento
do Distrito Federal de contar com uma escola, e dos processos de inovação que o mundo
sem similares no Brasil, em que profissionais contemporâneo nos impõe. Assim, a EAPE
da rede trabalhassem na formação continuada deseja que os estudantes tenham acesso aos
de seus próprios pares. conhecimentos historicamente construídos
Funcionando em espaços improvisados pelas ciências e pela sociedade em geral.
de escolas, teatros e sobrelojas, até ocupar Mas a EAPE quer, sobretudo, que os estu-
o prédio outrora dedicado à antiga Escola dantes aprendam o valor da empatia, da di-
Normal de Brasília, a EAPE tem demonstrado versidade, da democracia, da cultura de paz,
sucessos e enfrentado incompreensões ao para que transformem o nosso mundo num
longo de sua história. Quando se afasta de lugar melhor. Viva a EAPE! Viva a escola pú-
outras subsecretarias, universidades e institui- blica de qualidade!

Subsecretário de Formação Continuada dos Profissionais da Educação

3 INFormação
André Rocha

Projeto Aprender Sem Parar

Escolher percursos para


construir aprendizagens

C
ompreendendo ações integradas de formação continuada, pesqui-
sa e avaliação, o Projeto Aprender Sem Parar, em sua primeira
edição, possibilitou a oferta de cursos para todas as etapas da
Educação Básica, para gestores e para orientadores educacionais. Carac-
terizados pela oferta de percursos formativos comuns (para todos os cur-
sistas matriculados) e de percursos formativos individualizados (de livre
escolha por parte de cursistas ou de turmas), os cursos do Projeto Apren-
der Sem Parar possibilitam que a trajetória de formação não seja a mesma
para todos os inscritos. Isso é possível pelo fato de que a carga horária
total dos cursos é distribuída pelo percurso comum e pelos percursos

INFormação 4
escolhidos conforme necessidades, anos de estágio probatório. Assim, o
dúvidas ou motivações dos cursistas. Aprender Sem Parar – Orientação Edu-
No que diz respeito aos cursos ofer- cacional cumpre a função de curso de
tados para a educação infantil, anos integração à Carreira Magistério Públi-
iniciais, anos finais e ensino médio, o co, em atendimento à Lei do Plano de
percurso formativo comum denomina- Carreira (Lei nº 5.105/2013), que, em
-se Aprendizagens, Currículo, Avalia- seu artigo 11, estabelece que “A Se-
ção e Inovação. No curso específico cretaria de Estado de Educação deve
para gestores, o percurso formativo implementar, para os servidores em
comum denomina- estágio probatório,
-se Diálogos sobre a O curso Aprender Sem curso de integração
Gestão Escolar De- à Carreira Magistério
mocrática e, para o Parar - Orientação Público e programas
curso voltado à orien- Educacional é a primeira de acompanhamento
tação educacional, e avaliação”. Durante
o percurso formativo experiência de formação os três anos de for-
comum denomina-se continuada da EAPE com mação, cada cursista
Orientar fortalecendo construirá um memo-
a identidade profis- duração ao longo dos 3 rial formativo com o
sional.
anos de estágio probatório. registro de reflexões,
No cerne desse vivências, estudos e
desenho de formação aprendizagens es-
inovador, está a preocupação com senciais ao seu desenvolvimento pro-
as aprendizagens dos estudantes, fissional.
cuja proficiência, em quase todas as Para o ano de 2020, a EAPE plane-
avaliações externas e as realizadas ja rearticular alguns aspectos dos cur-
pelas próprias escolas, apresenta-se sos do Projeto Aprender Sem Parar,
aquém da idade ou do ano em que considerando avaliações internas e,
estão matriculados. No caso especí- também, avaliações dos próprios cur-
fico do curso destinado aos gestores, sistas. Além disso, tendo em vista a re-
busca-se o fortalecimento da gestão composição do quadro de formadores
democrática, considerando aspectos no ano de 2019, pretende-se ofertar,
políticos, administrativos, financeiros, em 2020, cursos estruturantes para
pedagógicos e sociais da educação áreas do conhecimento ou componen-
públicas do Distrito Federal, a partir tes curriculares, como, por exemplo,
da construção de projetos inovado- Aprender Sem Parar – Matemática,
res de gestão. Aprender Sem Parar – Língua Portu-
O curso Aprender Sem Parar – guesa, Aprender Sem Parar – Ciên-
Orientação Educacional, destinado cias. Está também sob análise a pos-
aos novos orientadores, nomeados em sibilidade de oferta do curso Aprender
2018 e 2019, é, por sua vez, a primei- Sem Parar – Carreira Assistência, em
ra experiência de formação continuada atendimento a uma demanda histórica
da EAPE com duração ao longo dos 3 da rede pública.

5 INFormação
Pesquisa

Quem são e o que pensam os estudantes:


UM RECORTE DOS ANOS FINAIS NO DISTRITO FEDERAL

O
Luís Tavares
Projeto Aprender por diferentes esferas da
Sem Parar estru- própria SEEDF.
tura-se em três Antes de apresentar
dimensões: formação reflexões sobre o conjun-
continuada, pesquisa e to desses dados, é impor-
avaliação. A proposta tante destacar que obter
geral do projeto, no que informações acerca do
diz respeito às etapas estudante, principalmente
da educação básica, é daqueles que estão situa-
apoiar as escolas nos dos em Unidades Escola-
processos de ensino e de res que apresentaram bai-
aprendizagem, de forma xo desempenho escolar,
a contribuir para o êxito significa considerar os su-
dos estudantes em sua jeitos-chave do processo
trajetória escolar. de aprendizagem como
A pesquisa, nos cursos do Apren- PERFIL SOCIOECONÔMICO coparticipantes/coautores desse
der Sem Parar, ocupa lugar central Os participantes da pesquisa são processo. Nesse sentido, a pers-
devido à sua condição de processo estudantes dos anos finais das 72 pectiva individualista não se aplica,
indissociável de todas as ações for- escolas que concordaram em inte- pois entende-se que se deve consi-
mativas. Apresentamos aqui alguns grar o projeto Aprender Sem Parar derar os múltiplos recursos/sistemas
dados levantados na pesquisa re- neste ano de 2019, que atendeu, constituintes do desenvolvimento do
alizada com estudantes dos anos nesta etapa da educação básica, 12 sujeito que aprende. Sobre a orga-
finais, por meio da aplicação de das 14 Coordenações Regionais de nização das informações de cunho
questionário, cujos objetivos foram Ensino. Ao total, foram 5.678 respon- socioeconômico, foram duas as ca-
traçar um perfil socioeconômico dos dentes (22,9% do 6º ano; 24,3% do tegorias estabelecidas: a) estrutural,
estudantes e registrar a percepção 7º ano; 24,7% do 8º ano e 28,1% do que abarca os aspectos de tipologia
que eles têm da escola, das aulas e 9º ano). As informações coletadas habitacional; e b) bens de consumo,
de suas próprias aprendizagens. A subsidiaram sobremaneira o plane- considerados bens utilizáveis pelos
partir dos resultados, os professores jamento pedagógico das formações indivíduos e/ou familiares.
cursistas foram devidamente orienta- continuadas voltadas para os seus A respeito das informações rela-
dos a analisarem os dados auferidos professores, além de chamarem tivas às residências dos estudantes
e, também, foram instados a discutir a atenção para a possibilidade de entrevistados, a maioria afirma que
saídas para as questões traduzidas ações a serem realizadas, não so- possui espaço físico específico para
em indicadores. mente pela e na escola, mas também estudar, que todas têm banheiro e

INFormação 6
eletricidade e uma minoria alega não abordagem em sua prática pedagó- dois turnos, no auditório da EAPE,
possuir água encanada. Vale ressal- gica. Vale levantar a questão: quais especialmente para estudantes de
tar que embora essa última não seja serão os ganhos para a aprendiza- escolas que, de forma marcada, res-
muito representativa nos dados, ela gem do estudante se o professor uti- ponderam que nunca tiveram acesso
é um exemplo prático e real de tema lizar como estratégia aquilo que mais ao cinema. Serão organizadas en-
que merece ser abordado na esco- desperta o interesse do seu aluno? quetes periódicas por meio das quais
la, tendo em vista que, por meio do Outro aspecto relevante a ser os filmes a serem exibidos serão es-
conhecimento, os estudantes po- observado diante dos dados cole- colhidos. E, assim, transformaremos
dem e devem saber da relevância da tados refere-se ao alcance do es- o nosso auditório de 600 lugares
distribuição de água potável tratada tudante aos espaços que oferecem numa sala de projeção. Essa é uma
nas habitações para a qualidade da atividades relativas a manifestações forma simples de disponibilizar o es-
sobrevivência individual e coletiva e, culturais, tais como shows, apresen- paço da EAPE para os estudantes da
de posse desse conhecimento, o es- tações, teatros, museus. Poucos são nossa rede de ensino, aproximan-
tudante pode se tornar um cidadão os estudantes que vão ao cinema ou do-o do estudante como desdobra-
mais crítico e atuante em sua comu- ao shopping. A maioria tem como mento de informações coletadas por
nidade. espaço social a rua e a praça, o que meio da pesquisa realizada.
contribui para a
sua constituição PERCEPÇÃO DOS ESTUDANTES
enquanto sujei- SOBRE AS AULAS, A ESCOLA E
to pertencente SUAS APRENDIZAGENS
e conhecedor
da sua comuni- De modo geral, pode-se afir-
dade. Para além mar, pelos dados da pesquisa, que
disso, a escola, os estudantes têm uma percepção
a rede educa- positiva em relação às suas apren-
cional, deve ter dizagens. Isso se comprova pelo
o compromisso fato de que a maioria dos alunos
de oportunizar experiências diversas afirma que: a) o que aprendem faz
e acesso a revistas, livros, com- como forma de estimular a socializa- sentido para eles; b) que a apren-
putadores, jogos digitais, internet, ção de novos espaços e favorecer a dizagem os ajuda a superar os de-
plataformas digitais de streaming de criação e a fruição artísticas em suas safios do seu cotidiano; c) que a
áudio e vídeo, as respostas indica- múltiplas linguagens, no intuito de aprendizagem tem relação com a
ram uma forte tendência tecnológica ampliar o repertório artístico e cultu- sua realidade; d) que a aprendiza-
no uso ou na troca de informações no ral do estudante. gem ajuda a refletir sobre o mun-
dia a dia. Ainda que um recorte con- Tendo em vista os dados revela- do atual; e) que a aprendizagem
siderável não tenha acesso ao com- dos na breve pesquisa, a EAPE não desperta curiosidade; e f) que a
putador, muitos são os estudantes poderia se furtar ao compromisso, aprendizagem faz com que tenha
que frequentemente acessam con- também, de propor uma ação, em vontade de dar continuidade aos
teúdos digitais como jogos, filmes e parceria com as Unidades Escolares. estudos.
músicas. Essa informação pode ser Nesse sentido, propõe-se a criação Dado o alcance limitado da pes-
uma “mina de ouro” para a escola, a do CINEAPE, que será uma sessão quisa, não é possível inserir essas
fim de que o professor repense a sua cultural para a exibição de filmes, nos escolhas num contexto em que se

7 INFormação
verificam, em alguns casos, níveis estudantes aprendem como apren- De todo modo, é preciso registrar
de proficiência ainda muito insa- dizado? Será que essa relação que que a EAPE, atenta a essas ques-
tisfatórios dos estudantes de anos os estudantes estabeleceram com tões, propõe cursos específicos
finais. Seria interessante, em outro a aprendizagem está, de fato, na para o trabalho pedagógico com
momento, buscar mais detalhes sua constituição enquanto sujeito mediação de conflitos e, além dis-
sobre o que eles consideram como e na sua forma de interagir com o so, nos cursos do Projeto Apren-
aprendizagem significativa. Desse mundo? der Sem Parar, existem percursos
modo, teríamos mais condições de Sobre os usos dos diversos es- formativos que tratam da temática
ampliar a discussão sobre essa apa- paços da escola, de acordo com a de cultura de paz e relações socio-
rente contradição entre o que os es- pesquisa, as atividades ofertadas e emocionais.
tudantes responderam e aquilo que os espaços utilizados no ambiente
as avaliações escolares e, também, escolar se concentram mais nas ANÁLISE DE REALIDADE
as de larga escala têm apresentado bibliotecas e salas de leitura, bem SOCIOEDUCACIONAL
em termos de aprendizagem. como na quadra de esportes. Os A busca por discutir as apren-
Outro aspecto relacionado ao auditórios e as salas de vídeos po- dizagens como processos essen-
tema das aprendizagens tratado na deriam ser mais explorados, assim ciais ao desenvolvimento dos estu-
pesquisa refere-se à questão “Em como os laboratórios de ciências dantes, objetivo central do Projeto
qual lugar da escola você mais que, conforme foi observado, são Aprender sem Parar (ASP), gerou
gosta de ficar?”. Diante das opções muito pouco utilizados. No entan- a necessidade de ampliar a com-
“quadra de esportes”, “biblioteca”, to, pelos dados disponíveis, não é preensão acerca dos diferentes fa-
“sala de aula”, “refeitório”, “espaço possível afirmar se a baixa escolha tores que influenciam a qualidade
de convivência” e “nenhum”, a sala por laboratórios e salas de vídeo educacional das escolas partici-
de aula foi a última escolha a ser ocorreu pela pouca exploração pe- pantes do ASP por meio da identi-
feita pelos estudantes, conforme dagógica desses espaços ou pela ficação de variáveis que impactam
dados percentuais seguintes: qua- inexistência deles em determina- a aprendizagem dos estudantes.
dra de esportes (43,4%), espaço das escolas. Ancorada na literatura que
de convivência (17,9%), nenhum Do ponto de vista das relações aponta que os fatores que exercem
(11,8%), refeitório (10%), biblioteca interpessoais, a maioria dos estu- influência na aprendizagem dos es-
(8,8%) e sala de aula (8,2%). Des- dantes afirma que já presenciou, tudantes são múltiplos e comple-
taca-se, aqui, também, o conside- às vezes, desrespeito, discrimi- xos e que contemplam dinâmicas
rável índice (11,8%) de estudantes nação e conflitos violentos na es- que atuam em diferentes níveis,
que não apontaram nenhum es- cola. A maioria, entretanto, afirma que vão desde as características
paço entre os apresentados como que, na escola, há iniciativas para socioeconômicas e culturais dos
sendo um lugar onde eles gostam resolução de conflitos. É preciso estudantes (BROKE; SOARES,
de ficar. Isso nos leva ao desafio de salientar, mais uma vez, que a pes- 2008), passam pelas dinâmicas que
construir, cada vez mais, a escola quisa não detalha, por exemplo, ocorrem em sala de aula (PALER-
como espaço agradável de se es- se essas questões presenciadas MO; SILVA; NOVELLINO, 2014) e
tar, como espaço propício às con- pelos estudantes dizem respeito chegam às características estrutu-
vivências e às aprendizagens. a conflitos entre estudantes, entre rais da escola (FLETCHER, 1997),
Além disso, é interessante le- estudantes e professores ou entre foi elaborada uma Análise de Rea-
vantar as seguintes questões: será professores e responsáveis das fa- lidade Socioeducacional (ARS) que
que a escola considera o que os mílias, entre outras possibilidades. objetivou subsidiar as escolas par-

INFormação 8
ticipantes na compreensão de sua ao desempenho escolar. etapas. Em um primeiro momento,
realidade educacional com vistas a Indicadores associados foi debatida a literatura brasileira
possibilitar a construção de práti- ao efeito-aluno e internacional acerca dos fatores
cas pedagógicas interdisciplinares a) Indicador de propriedade de associados ao desempenho esco-
e inovadoras que levem em conta imóvel familiar e de acesso a lar. Posteriormente, liderados pelos
as características e demandas dos bens de consumo formadores da EAPE, os cursistas
estudantes de cada escola. b) Indicador de estrutura residen- realizaram a análise dos dados de-
Como estratégia metodológi- cial sagregados do Questionário dos
ca, a Análise de Realidade Socio- c) ndicador de coabitação Estudantes convertidos em indica-
educacional foi realizada a partir da d) Indicador de acesso à mídia e a dores (quadro 1), aprofundando, a
conversão das questões do Ques- produtos culturais partir de metodologias de análise
tionário de Estudantes, instrumento e) Indicador de acesso a espaços de dados, a compreensão sobre
aplicado a um quantitativo de 6.659 culturais e comunitários cada um dos 14 indicadores. Por
estudantes dos anos finais da rede f) Indicador de atividade labora- fim, visando à melhoria da aprendi-
pública de ensino do Distrito Fede- tiva zagem dos estudantes e à resolu-
ral, em 14 indicadores socieducacio- ção das fragilidades educacionais
nais, que foram agrupados seguindo Indicadores associados apontadas pelos dados, as escolas
o modelo hierárquico dos três níveis ao efeito-escola foram orientadas a escolher pelo
proposto por Soares (2005). g) Indicador de espaços escolares menos um indicador para ser alvo
Destarte, os indicadores foram extraclasse de uma intervenção pedagógica.
congregados em três variáveis- h) Indicador de clima escolar e de Para melhor subsidiar a ação,
-chave descritas no quadro 1: o violência intraescolar a orientação se deu no sentido de
efeito-aluno, que envolve caracte- i) Indicador de práticas avaliativas que a escolha do indicador pelas
rísticas pessoais e familiares dos j) Indicador de apoio à aprendiza- escolas fosse realizada a partir
estudantes, como o nível socio- gem dos estudantes da resolução coletiva da seguinte
econômico e o capital cultural; o k) Indicador de projetos e ações equação:
efeito-escola, que envolve carac- pedagógicas
terísticas dos estabelecimentos de Equação
ensino, tais como a gestão esco- Indicadores associados IPE X IPR: IRP = Coeficiente Resolutivo
lar, o clima escolar, o currículo e ao efeito-turma
a avaliação, e o efeito-turma, que l) Indicador de inovação educa- Em que:
envolve características pessoais cional IPE: Índice de Prioridade Educacio-
dos educadores e estudantes que m) Indicador de relações interpes- nal, obtido pela percepção de que
compõem uma determinada turma, soais uma problemática deve ter priori-
a gestão dos recursos didáticos n) Indicador de composição das dade na ação educativa. A escala
por parte dos professores, a criati- turmas, efeito dos pares e fluxo do IPE varia de 0 a 10, sendo que
vidade dos docentes e sua disposi- escolar quanto mais próxima de 10, mais
ção em propor ações pedagógicas prioridade deve ter o tratamento
inovadoras. Para possibilitar rigor analítico dessa problemática.
e metodológico e facilitar a com- IPR: Índice de Possibilidade Reso-
Indicadores socioeducacionais agru- preensão dos dados por parte das lutiva, obtido pela percepção dos
pados segundo fatores associados escolas, a ARS foi realizada em três sujeitos de que uma problemática

9 INFormação
possa ser resolvida por meio da Realizada a análise e tendo sido No decorrer do processo, ob-
ação educativa. A escala de IPR eleito o indicador que a escola jul- servou-se que as escolas partici-
varia de 0 a 10, sendo que quanto gou como o de maior relevância pantes optaram, em sua maioria,
mais próxima de 10, maior a possi- para ser foco de uma intervenção pela elaboração de Projetos Inte-
bilidade de essa problemática ser pedagógica, cada grupo de cur- gradores que tinham como objetivo
resolvida no campo educativo. sistas vinculados a uma mesma a melhoria de indicadores relacio-
IRP: Índice de Relevância do Pro- unidade educacional formulou um nados ao fator-escola (em especial
blema, a ser definido por meio Projeto Integrador, instrumento os indicadores de clima escolar e
da recorrência do problema nas que teve como objetivo a melhoria de violência escolar e de práticas
respostas do Questionário do Es- do indicador escolhido por meio da avaliativas) e ao fator-turma (com
tudante. Caso a recorrência do proposição de práticas pedagógi- foco no indicador de inovação edu-
problema seja inferior a 50% das cas inovadoras e integradas que se cacional). Tais escolhas apontam a
respostas, deve ser feita a divisão relacionem aos objetivos do Cur- compreensão por parte das escolas
por 2. Caso seja superior a 50%, rículo em Movimento das escolas envolvidas da necessidade de con-
deverá ser feita a divisão por 1. da rede pública de ensino do DF, centrar esforços em problemáticas
Coeficiente Resolutivo: Indica ao perfil das turmas e aos percur- que podem ser impactadas mais
a relação entre prioridade, recor- sos do Aprender sem Parar. Com diretamente pela ação da escola.
rência e possibilidade resolutiva o intuito de orientar o processo, foi Para Júlio César Cabral da Cos-
do problema e deve servir como sugerida a escolha de um indica- ta, formador do Projeto Aprender
parâmetro para a decisão sobre dor ligado ao efeito-escola ou ao Sem Parar em Sobradinho, “essa
qual indicador atacar por meio do efeito-turma, tendo em vista que, análise estimula o pensamento
Projeto Integrador. Quanto maior o ao contrário do efeito-aluno, esses científico e pode amparar a cons-
coeficiente, melhor a possibilidade fatores são passíveis de serem mu- trução de novas ações, bem como
de escolha de um indicador com dados com a ação da escola. fortalecer aquelas mais significati-
relevância educacional e possibi- Partindo da dinâmica cons- vas; permite, ainda, perceber quais
lidade de resolução por meio da truída, há que se apontar que o são as fragilidades e potencialida-
ação educativa. Projeto Integrador possibilitou às des do projeto político-pedagógi-
Segundo Roger Lima, articu- escolas participantes a materializa- co, de fato [...]. Esse estudo, con-
lador do Projeto Aprender Sem ção de estratégias de intervenção duzido com seriedade, não visa
Parar nos anos finais e criador da pedagógica interdisciplinares for- apontar culpados, mas compreen-
Equação de Coeficiente Resoluti- muladas a partir da compreensão der a responsabilidade de todos os
vo, testada por todos os formado- de sua realidade e das demandas envolvidos e deve dar início a um
res dos anos finais, “a construção de sua comunidade, dando, dessa processo permanente de reflexão,
dessa metodologia buscou orientar forma, sentido aos dados extraídos motivando todos a buscarem alter-
as escolas a definir os problemas a do Questionário dos Estudantes. nativas viáveis para a melhoria das
serem enfrentados pela ação edu- Esse processo fomentou a dis- aprendizagens, o estreitamento
cativa a partir de critérios objetivos cussão acerca da necessidade de dos laços e vínculos com a comu-
que levem em conta a percepção que os projetos pedagógicos das nidade escolar”.
que os sujeitos têm de sua realida- escolas busquem enfrentar reais Na opinião de Rita Mara Reis
de e a recorrência da problemática problemas apontados pelo coletivo Costa, formadora do Projeto em
nos dados captados por meio do da escola e observados a partir da Planaltina, “os dados construídos
Questionário dos Estudantes”. análise de dados objetivos. a partir da aplicação do questio-

INFormação 10
nário para os estudantes foram Seminário “Formação continuada”
ferramentas essenciais para que
o professor cursista do Aprender
Sem Parar conseguisse identificar
o aluno como centro do processo
Um diálogo com os
de ensino-aprendizagem, fazendo
surgir desses dados uma deman- egressos do afastamento
da principal como problema para a
elaboração de ações integradoras remunerado para estudos
que formatou o final de um proje-
to para esse curso [...]. Analisar a
visão desse estudante sobre o seu

N
papel frente a esse processo foi im- o dia 22 de maio de 2019, foi realizada a primeira edição do
portante na formação do professor Seminário “Formação Continuada: divulgação científica para
cursista”. uma educação de qualidade social”. Na ocasião, servidores
das Carreiras Magistério Público e Assistência à Educação que re-
tornaram do processo de afastamento remunerado para estudos
REFERÊNCIAS em nível de mestrado e doutorado puderam dialogar com a rede
sobre as pesquisas realizadas. Dessa forma, reunidos em um único
BROOKE, N.; SOARES, J. F. evento, 61 comunicadores, 19 mediadores e 231 ouvintes interagi-
(Orgs.). Pesquisa em eficácia es- ram acerca dos resultados de estudos e pesquisas realizados por
colar: origem e trajetórias. Belo nossos colegas da SEEDF.
Horizonte: UFMG, 2008. A professora doutora Leísa Sasso, chefe da Unidade de Educa-
FLETCHER, P. À procura do en- ção Básica de São Sebastião, ressaltou que “eventos dessa nature-
sino eficaz. Relatório de Pesquisa. za contribuem para o aperfeiçoamento de professores, estudiosos e
PNUD/MEC/Saeb, 1997. especialistas, através da educação e formação continuadas, sem as
PALERMO, G. A.; SILVA, D. B. quais não é possível construir a nova escola que todos queremos”.
N.; NOVELLINO, M. S. F. Fatores Para Adriano Sotero Bin, professor e mestre em Filosofia, “O Se-
associados ao desempenho esco- minário de Formação Continuada é uma grande oportunidade para
lar: uma análise da proficiência em a Secretaria de Educação promover a divulgação das pesquisas fei-
matemática dos alunos do 5º ano tas por seus servidores públicos. Neste evento, é possível verificar o
do ensino fundamental da rede retorno do investimento feito pela sociedade brasiliense no aperfei-
municipal do Rio de Janeiro. R. çoamento dos profissionais da Educação. Além disso, é uma gran-
bras. Est. Pop., Rio de Janeiro, v. de oportunidade de difusão do conhecimento científico em diversas
31, n.2, p. 367-394, jul./dez. 2014. áreas afeitas às atividades pertinentes à nossa missão educacional.
SOARES, T. M. Modelo de três ní- Deste modo, o Seminário possui uma importância notável para a
veis hierárquicos para proficiência formação para os servidores da área educacional”.
dos alunos de 4ª série avaliados Lenilda Damasceno Perpétuo, doutoranda em Educação em Po-
no teste de língua portuguesa do líticas Públicas e Gestão Educacional, na Universidade de Brasília,
SIMAVE/PROEB-2002. Revista destacou a importância do evento: “Agradeço e parabenizo a toda
Brasileira de Educação, n. 29, p. equipe pedagógica da EAPE pelo relevante trabalho na construção
73-87, maio-ago. 2005. e na realização do Seminário de Formação Continuada, onde tive-

11 INFormação
mos a oportunidade
Parcerias
de participar e com-
partilhar nossos per-
cursos profissionais, EAPE
apresentando
quisas de mestrado
pes-
Consolidando parcerias
e doutorado. Acredi-
tamos na construção

A
coletiva de conheci- EAPE não mede esforços outras instituições resultaram em
mento científico como para ampliar o alcance da cursos emblemáticos, tais como
ferramenta importan- formação continuada aos Pró-Letramento, Pró-Gestão, Pro-
te de transformação profissionais da educação da rede funcionário, PNEM e Programa
social e educacional, pública de ensino e uma das estra- Nacional pelo Fortalecimento dos
para uma Educação tégias para alcançar esse objetivo Conselhos Escolares.
pública de qualidade, são os cursos em parcerias institu- Fruto da colaboração entre
ancorada no respeito cionais. Em 2019, são diversas as EAPE e diversos parceiros, entre
e valorização de um formações ofertadas conjuntamen- eles a Câmara Legislativa do Distrito
espaço escolar dia- te com parceiros da própria SEEDF Federal, o curso Educação, Demo-
lógico, diversificado e, também, com parceiros externos, cracia e Cidadania, oportunamen-
e que legitime todos como o Centro de Apoio ao Surdo te, tem o objetivo de desenvolver
os sujeitos e todos (CAS), o Tribunal de Justiça do Dis- a capacidade de analisar e aplicar
os saberes pluricul- trito Federal, o DETRAN e a Câmara conceitos no contexto da democra-
turais, que esses su- Legislativa do Distrito Federal. cia e garantia de direitos. Nas pala-
jeitos trazem para o Ao longo de seus 30 anos, as vras do Deputado Rafael Prudente,
convívio humanizado parcerias firmadas entre a EAPE e Presidente da Câmara Legislativa,
dentro do espaço da
educação formal e in-
formal”.
A primeira edição
do Seminário “For-
mação Continuada:
divulgação científica
para uma educação
de qualidade so-
cwwial” contou com
19 sessões de comu-
nicação, organizadas
a partir das temáticas
contempladas nos
trabalhos de pesquisa
dos(as) profissionais
Arquivo

egressos.

INFormação 12
é dever do Legislativo “também
preparar as pessoas de modo
Apoio à aprendizagem

Produzidos por
que possam contribuir para uma
cidade melhor, mais justa e com
mais oportunidades. Nada mais
nobre do que transmitir conheci- profissionais da rede
mento. Por isso, queremos que
a parceria com a Secretaria de pública para rede pública
Educação, por meio da EAPE,
seja cada vez mais forte, visan-

P
do à excelência na orientação or meio do Edital nº 09/2019, a EAPE constituiu, pela primei-
dos nossos alunos e mudando a ra vez em sua história, um grupo de professores(as) da rede
vida dos cidadãos”. pública para a produção de materiais didáticos impressos
Para Wivian Weller, profes- e digitais com vistas a apoiar o trabalho pedagógico nas escolas.
sora da Universidade de Brasília Com proposta metodológica baseada em desafios e partindo de
(UnB), coordenadora do PNEM questões próprias das práticas sociais dos estudantes do Distrito
no Distrito Federal, projeto que Federal, o material produzido por professores(as) autores(as) ser-
aconteceu em 2014, “a parceria virá como mais um instrumento de apoio às aprendizagens, sem a
entre a UnB e a EAPE na realiza- pretensão de substituir os livros distribuídos pelo Ministério da Edu-
ção do Pacto pelo Fortalecimen- cação, por meio do Programa Nacional do Livro Didático – PNLD.
to do Ensino Médio no Distrito Como parte do processo de produção, foi de extrema relevância a
Federal colocou em prática uma consulta aos dados disponíveis na plataforma Avaliação em Des-
proposta de formação continua- taque, de responsabilidade da Subsecretaria de Planejamento,
da mediada pelo diálogo cons- Acompanhamento e Avaliação. Além disso, a EAPE realizou uma
tante entre professores da edu- consulta junto ao corpo docente da rede para verificar os objetivos
cação superior e da educação de aprendizagem ou conteúdos em relação aos quais os estudan-
básica, que, juntos, buscaram tes apresentam mais dificuldade. Com base nas respostas obtidas
oferecer novos olhares sobre o na consulta, revelamos aqui alguns dos objetivos apontados por
ensino médio público no Distrito professores e professoras da SEEDF.
Federal e sobre a organização
do trabalho pedagógico nas es- Língua Portuguesa – 5º ano
colas e juntos aos jovens”. Produzir textos escritos em diferentes gêneros, adequados a
André Lúcio Bento, Subse- objetivos/finalidades, destinatários/interlocutores e o contexto
cretário de Formação Continua- de circulação.
da dos Profissionais da Educa-
ção, ressalta a importância das Matemática – 9º ano
parcerias institucionais com a Efetuar operações que envolvam números reais, inclusive
EAPE para a consolidação da potências com expoentes fracionários.
formação continuada na con-
dição de processo central nas Ciências – 1ª série (EM)
políticas públicas para que haja Importância da Ciência – Tecnologia – Sociedade
transformação social na vida
dos nossos estudantes.

13 INFormação
Capa

Distrito Federal, território


de formação continuada:

André Bento
A EAPE PRESENTE NAS 14 COORDENAÇÕES
REGIONAIS DE ENSINO

O
s primeiros meses do ano gião Administrativa, mas, também, Brazlândia, segunda Região Admi-
de 2019 marcam o pro- nos municípios do Entorno, como nistrativa mais distante em relação
cesso de recomposição do Planaltina de Goiás, Unaí e For- à sede da EAPE, “essa descentra-
quadro de formadores da EAPE. E, mosa. Como eles já vinham para lização dos cursos da EAPE, para
como fruto de uma parceria entre Planaltina para o trabalho, poder Brazlândia, é de fundamental im-
a Subsecretaria de Formação Con- continuar aqui para realizar esses portância. Para muitos professores
tinuada dos Profissionais da Edu- cursos facilita muito. A experiência e servidores é a única oportunida-
cação, a Subsecretaria de Gestão tem sido muito positiva: o índice de de que muitos têm de fazer cursos,
de Pessoas e as Coordenações participação aumentou bastante e porque o deslocamento de Bra-
Regionais de Ensino, foi possível, a permanência também. Fazendo zlândia para o Plano Piloto, além
pela primeira vez na história do custo, tem a questão do
da educação do Distrito Fe- ...com a descentralização da EAPE em tempo: muitos professores
deral, a oferta de cursos da 2019, por meio de cursos próprios ou não conseguem, por exem-
EAPE em todas as CREs, si- plo, fazer um curso lá de ma-
em parceria, registramos a inscrição de
multaneamente. Essa medida nhã e voltar para Brazlândia,
busca aproximar a formação 15.265 cursistas, um aumento de 62% à tarde, para uma regência
continuada das escolas, para em relação ao ano de 2018. de classe [...]. Nós tivemos
que as diversas ações forma- muitas dificuldades para en-
tivas levem em consideração contrar professores forma-
a realidade pedagógica das unida- uma pesquisa informal entre os dores, mas precisamos trabalhar,
des escolares de todas as regiões professores, a maioria ressalta a nos esforçarmos em parceria, para
do DF. importância dessa descentraliza- encontrarmos um meio de termos
Na opinião de Bento Alves dos ção. Então, neste ano, essa experi- esses formadores aqui em Brazlân-
Reis, coordenador regional de Pla- ência de descentralizar foi de suma dia”.
naltina, Região Administrativa mais importância para que, efetivamen- Ainda há muito trabalho a ser
distante do centro de Brasília, “a te, os professores da nossa CRE feito e muitas questões a serem
descentralização dos cursos da participassem dessas formações, avaliadas, mas, com a descentrali-
EAPE, para nós aqui da Coorde- uma vez que a formação continu- zação da EAPE em 2019, por meio
nação Regional de Planaltina, é de ada é um pilar para uma educação de cursos próprios ou em parceria,
suma importância, não só por facili- pública de qualidade”. registramos a inscrição de 15.265
tar o deslocamento de professores Para Humberto José Lopes, cursistas, um aumento de 62% em
que residem aqui mesmo na Re- coordenador regional ensino de relação ao ano de 2018.

INFormação 14
Taís Castro

Aniversário

EAPE 30 anos
A EDUCAÇÃO EM FESTA
Por Maurício Witczak, formador na EAPE, professor de Artes Cênicas, ator, poeta, dramaturgo e jornalista

N
o ano de 1989, quando o um maquinista, que apenas con- próprias pernas. Como diria Paulo
Brasil soprava a velinha de templa a paisagem. O desejo era Freire, com suas sábias palavras:
um ano de vida da nova ir transformando a locomotiva, de “Ninguém caminha sem aprender
Constituição e do início da gesta- forma que sua velocidade fosse a caminhar, sem aprender a fazer
ção da democracia, quem também proporcional às grandes transfor- o caminho caminhando, refazendo
comemorava seu primeiro ano de mações da sociedade. Assim é o e retocando o sonho, pelo qual se
vida era a EAP, sigla que, anos processo de aperfeiçoamento edu- pôs a caminhar”.
depois, ganhou o ‘“E” maiúsculo cacional: continuamente antenado, Os homens e as mulheres do
de Educação, tornando-se Escola continuamente inserindo a educa- século XX, na gênese da EAPE, já
de Aperfeiçoamento dos Profis- ção nas revoluções e paradigmas, sabiam que a educação do século
sionais da Educação. A instituição que mudam o curso da civilização. XXI necessitaria de uma instituição
nasceu do sonho dos educadores Uma longa estrada que buscasse que fizesse girar a roda viva do
de promoverem uma formação estabelecer diálogos e trocas de conhecimento. Na sociedade con-
continuada que não deixasse os experiências pedagógicas para temporânea, as informações vêm
professores estagnados numa es- que a educação desse um salto a jato, sem filtros ou aplicativos
tação, assistindo o trem da história de qualidade, contemplando os contra fake news. A comunicação
seguir viagem. E o sonho não era estudantes sedentos por um ensi- acontece em tempo real, o web-
apenas estar no trem e nem ser no que os fizesse caminhar pelas mundo comanda comportamentos

15 INFormação
controversos, trazendo às escolas que contemplam todas as áreas de e, juntos, comemorarem três déca-
estudantes cada vez com mais conhecimento. Há muito a come- das de vida, soprando as velinhas
aversão à presencialidade das sa- morar. A EAPE é uma instituição de um bolo confeitado de demo-
las de aula e viciados no universo que busca seguir a sua missão de cracia e educação libertária e feita
virtual, onde seus avatares são unir professores que, ao se olha- de camadas de conteúdos críticos,
muito mais importantes do que rem olho no olho, ao se unirem atentos às transformações sociais,
eles aparentam ser na realidade. ombro a ombro, compartilham se- políticas e tecnológicas e na base
Essa é a escola desafiante que os mentes e saberes que darão frutos, que sustenta toda a estrutura des-
professores encontram em 2019 e, de maneira profícua, às milhares de se bolo festivo, o ingrediente prin-
por isso, o simples fato de a EAPE salas de aulas da rede pública de cipal, colocado cuidadosamente
existir já é um ato de resistência e ensino do Distrito Federal. O obje- pelas mãos dos educadores-con-
de responsabilidade nesses novos tivo é que toda essa busca acenda feiteiros: a cidadania! Parabéns,
tempos, através de seu processo o brilho nos olhos dos estudantes, EAPE! Vida longa!
de trabalho. que são os grandes protagonis- Texto que compõe o vídeo institucional apresen-
Os profissionais da EAPE são tas de toda essa história. Agora, tado na Sessão Solene em comemoração aos 30
anos da EAPE, realizada no dia 8 de novembro de
como jardineiros, inspirados por a EAPE pode juntar-se à festa de 2019, no Plenário Ulysses Guimarães, na Câmara
sonhadores como o saudoso edu- aniversário de nossa constituinte dos Deputados.

cador Fábio Vieira Bruno, diretor


executivo da Fundação Educacional
do DF, que criou, em 1988, a pri-
meira comissão oficial que pleiteou
a criação de uma escola onde pro- Avaliação e pesquisa
fessores formadores multiplicariam
suas teorias e práticas docentes. E
depois de quase duas décadas de
De volta à EAPE
lutas, em 2006, os educadores ga-
nharam uma casa, onde puderam

C
fixar morada. Um espaço que abri- omo parte do processo que busca fortalecer a EAPE
gara, por muitos anos, a histórica como espaço de produção de conhecimento e de ava-
Escola Normal de Brasília, fundada liação de políticas públicas, os setores de pesquisa
em 1969. E, então, surgiram Cir- articulada à formação continuada e de avaliação foram resta-
queiras, Rodrigues, Fonsecas, Cou- belecidos. No que diz respeito à pesquisa, serão definidos os
tinhos, Manos, Freitas, Teixeiras, Si- perfis dos formadores para atuarem nas diversas demandas,
mões, Bentos e tantos outros, que internas e externas à EAPE, a elaboração de instrumentos
não deixaram o sonho morrer. próprios de pesquisa e a periodicidade de divulgação de re-
Hoje, a EAPE é uma instituição sultados. Quanto à avaliação, espera-se o restabelecimento
de formação continuada, voltada da prática avaliativa das ações formativas e dos formadores
aos profissionais da Educação, e a execução da avaliação institucional. Como desdobra-
com notoriedade nacional. Tor- mentos da retomada desses setores, a EAPE realizará, em
nou-se referência na educação 2020, pesquisa sobre estudantes refugiados no Distrito Fe-
brasileira, realizando seminários e deral, além de produzir o Censo da Formação Continuada,
congressos nacionais e oferecen- cruzando dados da formação docente com o desempenho
do cursos de formação continuada dos estudantes.

INFormação 16
Taís Castro

Coordenação coletiva externa de formação

Visita à Universidade da Paz

N
o dia 12 de junho de 2019, a EAPE esteve presente na Universidade práticas integrativas de autoconhe-
da Paz – UNIPAZ para uma coletiva externa. A UNIPAZ-DF é uma or- cimento e desfrutar do contato com
ganização não governamental, declarada órgão de Utilidade Pública a natureza.
Federal e criada para desenvolver projetos específicos e relacionados à cul- Vale ressaltar que o progra-
tura de paz, alicerçada na visão holística e na abordagem transdisciplinar. ma da UNIPAZ tem sido levado
Sua criação e instalação aconteceu em Brasília, em 1986, e hoje há uni- às instituições governamentais e
dades no Brasil e no exterior. A UNIPAZ tem como referência a pedagogia escolas públicas e particulares de
da cultura de paz desenvolvida por Pierre Weil e sua equipe, com base em ensino fundamental, médio e supe-
documentos da ONU e da UNESCO. Essa proposta pedagógica tem sido rior, uma ótima oportunidade para
aplicada em formações, cursos e seminários abertos à participação de to- as unidades escolares debaterem
dos os interessados. esse tema tão necessário às esco-
Em tempos de violência e intolerância sofridas nas escolas, faz-se las em um mundo marcado por vio-
necessário investir na formação continuada dos profissionais da educa- lência, discriminação e intolerância.
ção pautada na cultura de paz, na mediação de conflitos e no respeito às Em 2019, a EAPE decidiu
diferenças presentes no cotidiano escolar. Nesse dia, formadores e for- inserir as temáticas da cultura de
madoras da EAPE puderam conhecer a proposta desse espaço, vivenciar paz e da mediação de conflitos em

17 INFormação
seus cursos estruturantes do
Projeto Aprender Sem Parar. No
caso dos cursos para a educa-
ção infantil, anos iniciais, anos
finais e ensino médio, temos o
percurso formativo Aprendiza-
gens e Cultura de Paz; para o
curso destinado aos gestores,
temos o percurso formativo Ges-
tão para as Aprendizagens e o
Bem-Estar Escolar e o percurso

Tadeu Maia
Gestão para as Aprendizagens
e a Cultura de Paz; para o curso
ofertado aos orientadores edu-
cacionais, temos os seguintes
percursos sobre a temática em Estúdio audiovisual da EAPE
questão: Orientar dialogando e
aprender transformando com a
mediação de conflitos, Orientar
Luz, câmera, formação

A
respeitando identidades e dife- EAPE passa hoje por um grande processo de transformação
renças, Orientar com a comu- no que se refere ao modelo pedagógico. Essa transformação
nicação não-violenta e Orientar perpassa pela utilização de novas ferramentas tecnológicas
cuidando da qualidade de vida de aprendizagem nas ações de formação continuada. Atualmente,
e bem-estar no trabalho. Além as Tecnologias de Informação e Comunicação estão à disposição
disso, a EAPE oferta os cursos de estudantes e professores e, para que esses possam alcançar
“Plena Atenção” e “Construin- a velocidade das informações e quebrar barreiras de tempo e de
do Novos Caminhos – Projeto espaço, a EAPE destaca a implementação do Estúdio de Produção
de Vida na Escola”. O primeiro, Audiovisual, local onde se concentrará a produção de conteúdo au-
ofertado desde 2012, tem o ob- diovisual para as diversas ações formativas. Com isso, acredita-se
jetivo de promover o bem viver que a EAPE dá mais um passo dentro da Secretaria de Educação
e o desenvolvimento integral dos do Distrito Federal, no que tange às ações de formação continuada,
participantes para que possam para a modernização no atendimento das diversas demandas pe-
lidar em situações da vida, do dagógicas.
trabalho e de estresse com mais O espaço é adequado para a geração de conteúdo próprio e
discernimento, criatividade, as- pode criar materiais que auxiliem os professores por meio da disse-
sertividade, empatia e respeito minação de informações e conteúdos importantes para o dia a dia
às diferenças; já o último busca na escola e o desenvolvimento de atividades em sala de aula. Entre
ampliar os conhecimentos sobre as produções destacam-se videoaulas, vídeos educativos, registros
inteligência emocional, psico- fotográficos e audiovisuais das atividades, animações, design gráfi-
logia positiva e habilidades so- co, lives, pílulas (vídeos de 1 a 2 minutos), produção de programas
cioemocionais para se trabalhar de entrevista, webséries, documentários e vídeos de suporte para
projetos de vida na escola. os cursos.

INFormação 18
Afastamento remunerado para estudos

Direito conquistado e assegurado

A
fim de promover condições
Carreira Magistério 2015 2016 2017 2018 2019
para a melhoria da qualida- Total de vagas para doutorado e
de da educação pública do pós-doutorado 98 98 100 96 98
Distrito Federal e de incentivar a Total de servidores afastados
formação continuada dos profissio- para doutorado e
nais da Carreira Magistério Público, pós-doutorado (PD) 33 24 50 53 71
bem como da Carreira Assistência Total de vagas para mestrado 184 181 186 180 180
à Educação, a Secretaria de Esta- Total de servidores afastados
do de Educação do Distrito Fede- para mestrado 105 117 105 163 183
ral – SEEDF assegura, anualmente,
a oferta de vagas para afastamento Carreira Assistência à Educação 2015 2016 2017 2018 2019
Total de vagas para doutorado
remunerado para estudos.
e pós-doutorado 10 10 10 10 10
Com a promulgação das Leis
Total de servidores afastados
nº 5.105 e nº 5.106, de 03 de maio para doutorado e pós-doutorado 03 01 01 01 04
de 2013, as quais reestruturam as Total de vagas para mestrado 33 38 34 34 32
carreiras Magistério Público e As- Total de servidores afastados
sistência à Educação do Distrito para mestrado 05 04 09 04 06
Federal, respectivamente, garantiu- Total de vagas para especialização 60 62 58 54 54
-se, anualmente, o afastamento re- Total de servidores afastados
munerado de, no mínimo, 1% dos para especialização 01 02 - 01 -
servidores ativos para a realização
de cursos de mestrado ou de dou-
torado, a título de formação conti- ças sociais. mínimo, em 3 dias da semana.
nuada. O afastamento remunerado des- Desde 2018, para participar do
A definição desse percentual tina-se precipuamente aos cursos processo seletivo, o servidor inte-
anual foi uma conquista histórica de pós-graduação stricto sensu ressado no afastamento remunera-
para os servidores da educação (mestrado, doutorado e pós-douto- do deve criar um processo no SEI.
pública do DF e representou um ga- rado). Entretanto, há vagas de afas- Embora o SEI ainda seja um “obs-
nho inestimável para a qualificação tamento destinadas também a estu- táculo” para alguns servidores, não
profissional das categorias contem- dantes de cursos de especialização há motivo para preocupação. No
pladas, o que reflete diretamente no (pós-graduação lato sensu), mas Portal da EAPE, há um tutorial deta-
processo de ensino e aprendiza- tais vagas são restritas a servidores lhado de como iniciar o processo e
gem e indiretamente na sociedade da Carreira Assistência à Educação. incluir toda a documentação neces-
de modo mais amplo, uma vez que Nesse caso, o curso deve ter carga sária. A vantagem, com isso, é que
o conhecimento científico é crucial horária presencial mínima de 9 ho- o servidor nem precisa sair de casa
para o desenvolvimento de mudan- ras-aula semanais, distribuídas, no para dar início a seu processo, pois

19 INFormação
Oficinas Pedagógicas

19o Encontrão dos Centros


de Vivências Lúdicas

N
não há mais neces- o dia 26 de setembro de 2019, com os conhecimentos estudados, pro-
sidade de ir a diver- aconteceu o 19º Encontrão dos tagonizando a construção das aprendiza-
sos locais em busca Centros de Vivências Lúdicas – gens”.
de declarações. Oficinas Pedagógicas, com o tema “Vi- O evento contou com a presença dos
A novidade é vências Criativas – Diversidade do Apren- professores cursistas dos quatorze Cen-
que, para se inscre- der”. Os Centros integram a Gerência de tros de Vivências Lúdicas – Oficinas Pe-
ver no certame, o Pesquisa, Avaliação e Formação Conti- dagógicas e sua organização foi pensada
servidor não precisa nuada para Gestão, Carreira Assistência, de forma que o público presente pudesse
estar necessaria- Orientação Educacional e Eixos Trans- ter uma visão global de todos os cursos e
mente matriculado versais (GOET) da EAPE. Os Centros de das demais ações de formação. O gerente
em uma universi- Vivências Lúdicas – Oficinas Pedagógicas da GOET, Christofer Sabino, pontuou que
dade. Isso aumen- estão presentes nas quatorze Coorde- “o Encontrão foi pensado na perspectiva
ta a possibilidade nações Regionais de Ensino, realizando da afetividade e ludicidade que permeiam
de participação de formação continuada dos profissionais da o trabalho das Oficinas”. O evento contou
estudantes de di- educação, por meio de metodologias lú- com várias atrações, entre elas, o Coral
versas universida- dicas, criativas e humanizadas. Segundo das Oficinas, e muitas histórias, com brin-
des do Brasil e do a Coordenadora dos Centros de Vivên- quedos cantados, brincadeiras, dança e
mundo, as quais cias, Luciana Ribeiro, “as formações são teatro de bonecos.
apresentam calen- voltadas para atividades lúdi-
dários bem diver- cas como jogos, brincadeiras,
sos. Portanto, ainda brinquedos e contação de
que não esteja ins- histórias, abrindo aos pro-
crito e/ou aprovado fessores e a seus estudantes
numa instituição de novos meios de vivenciar o
ensino superior, o processo de ensino e apren-
servidor pode iniciar dizagem de maneira praze-
seu processo de rosa e alegre. Possibilidades
afastamento e terá essas que incluem práticas
até a fase de recur- que integram corpo, mente e
sos para apresentar sensibilidade através de uma
o comprovante de metodologia apoiada na ludi-
inscrição ou apro- cidade, em que os estudantes
Taís Castro

vação no curso que têm oportunidade de articular


pretende fazer. seu conhecimento de mundo

INFormação 20
Diversidade de ações

A EAPE com várias


ações de formação

A lém das formações representadas


pelo Projeto Aprender Sem Parar
e pelos cursos específicos, a EAPE
tem marcado presença de forma sig-
nificativa nas escolas e Coordenações
Taís Castro

Regionais de Ensino em diversas ou-


tras ações de formação. Focada em
diversificar os padrões de formação,
Reinauguração desde o início do ano, a Subsecretaria
de Formação Continuada já atendeu

Reabertura do Espaço 55 solicitações de oficinas, palestras


e participações em coordenações pe-
Brasilidades Afro-Indígenas dagógicas em escolas de quase todas
as Regionais de Ensino. Além disso,
somou-se a eventos como a Plenari-
nha da Educação Infantil, o Festival

A
pós três anos, foi reaberto, em 04 de outubro de 2019, o Espaço de Tecnologia, Inovação e Ciência
BrasilidadeS Afro-IndígenaS da EAPE (destaca-se o uso de “S” – FESTIC e as edições da Virada Pe-
maiúsculo, bem como as iniciais das palavras “Afro” e “Indíge- dagógica. As ações de formação, no
nas”, também maiúsculas, como expressão de afirmação da diversida- que tange às palestras e às rodas de
de e do protagonismo desses grupos e de outros grupos étnico-raciais conversa, trataram de temas como
nas ações desse espaço). A ação visa contemplar o proposto pelas Desenvolvimento Infantil, Formação
Leis nº 10.639/03 e 11.645/08, que alteram a Lei nº 9.394, de 20 de do Professor Leitor, Letramento Cien-
dezembro de 1996 (LDB), para incluir no currículo oficial da rede de tífico e Matemático, Sexualidade e
ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira Deficiência, Adaptação e Adequação
e Indígena”. Esse espaço foi reativado para acolher, instrumentalizar e Curricular, Educação Inclusiva, Com-
incentivar a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade na educação petências Socioemocionais e Identi-
das e para as relações étnico-raciais. dade Docente. Além disso, algumas
Nossos passos já vêm de longe, com o Espaço Afro-Brasilidades, escolas tiveram a oportunidade de
criado inicialmente com as funções de abrigar os cursos relacionados participarem de oficinas de gravura,
à educação para relações étnico-raciais e servir de museu e biblioteca cordel, xilogravura, ilustração, musi-
temática. A reativação desse espaço de formação continuada reconhe- calização, ludicidade e contação de
ce a dinâmica singular que estruturalmente afeta as populações negras, histórias. Muitas outras ações já estão
indígenas, ciganas, imigrantes e refugiadas, com a intenção de devi- agendadas para a reta final deste ano
damente reconhecer suas histórias, culturas, saberes e fazeres como letivo e muitas outras já estão sendo
fundantes para a formação do que chamamos de Brasil. preparadas para 2020.

21 INFormação
Formulário de Adequação
Curricular: produto da
formação continuada e de
parcerias

Ana Carolina
EAPE, como setor responsável pela formação
continuada dos profissionais da educação,
com uma organização em que formadores e for-
madoras são professores e professoras do próprio
quadro de servidores da rede pública, produz frutos Quando o polo de formação é a escola:
que vão muito além da mera proposição de ações
formativas. Esse é o caso do curso “Escolarização
experiências da Educação do Campo
dos Estudantes com Necessidades Educacionais no CED Incra 9
Especiais: Adaptações Curriculares, Orientações
Pedagógicas e Estratégias de Atendimentos”, de
180 horas, ofertado em 2018, com base em de-
mandas das Coordenações Regionais de Ensino
A creditando no quão importante e necessária é a formação
no ambiente escolar e no diálogo direto entre EAPE e es-
cola, a equipe de Educação do Campo se empenha em partir
de Ceilândia e de Taguatinga e de professores cur- da realidade local para o atendimento efetivo das demandas de
sistas da EAPE em anos anteriores, cujas neces- formação continuada. No Centro Educacional Incra 9 da CRE
sidades apontavam para uma compreensão maior de Ceilândia, tem sido assim. A escola, que atende a todas as
quanto ao preenchimento dos itens do Formulário etapas da educação básica além da Educação de Jovens e
de Registro das Adequações Curriculares – Etapas Adultos, tem se constituído como um polo em potencial para
e Modalidades da Educação Básica. a formação na modalidade em questão, sendo uma referência
Ao longo do curso, surgiu a necessidade de se para as demais escolas do campo de Ceilândia. Em 2019, o
propor um novo formulário. A retirada de alguns curso “Repensando o espaço escolar com ferramentas da Edu-
itens e a reorganização de outros seriam neces- cação do Campo” teve como objetivo fortalecer o processo de
sários para atender aos pressupostos do Currículo identidade do CED Incra 9 e das demais escolas participantes
em Movimento e às legislações vigentes, além de do curso (CEF Boa Esperança e Escola Classe Lajes da Jiboia),
garantir a objetividade e a fidedignidade no registro o que requer todo um arcabouço conceitual aliado a mudanças
das adaptações/adequações curriculares realiza- na prática pedagógica.
das no contexto escolar com vistas a acompanhar O objetivo central do curso é a implantação de uma peque-
e documentar o processo de escolarização dos es- na agrofloresta no espaço agricultável da escola. O percurso
tudantes com NEE. de formação, portanto, teve como ponto de partida os pilares
A elaboração do Formulário de Registros das fundantes em Educação do Campo, a saber agroecologia, po-
Adequações Curriculares – Etapas e Modalidades líticas públicas e educação freiriana; seguido da elaboração
da Educação Básica, em vigor, ocorreu a partir dos coletiva de um um mapa-síntese que retrata o espaço escolar
desdobramentos do curso ofertado pela EAPE em a partir das perspectivas aérea e local, ou seja, em diferentes
parceria com a então Diretoria da Educação Espe- escalas e com percursos in loco, respectivamente. O mapa
cial (DIEE) da SEEDF, estrutura que seria funcional- teve como desdobramento um croqui da área verde da escola
mente incorporada, em 2019, à Subsecretaria de seguido do plantio de espécies utilizadas em adubação ver-
Educação Inclusiva e Integral – SUBIN. de, que são as plantas leguminosas de ciclo curto que fixam

INFormação 22
nutrientes no solo, para a posterior implanta-
ção da agrofloresta junto à comunidade local.
Saída de campo do curso
No período entre o desenvolvimento das “PEDAGOGIAS URBANAS”
plantas leguminosas no campo e a implantação
da agrofloresta no início da estação chuvosa, o
curso esteve voltado ao cumprimento da meta 8 D urante a semana do professor, a turma do curso “Pedago-
gias Urbanas” realizou uma saída de campo significativa
para a cidade de Cavalcante, localizada na APA (Área de Pro-
do Plano Distrital de Educação 2015-2024 (PDE)
no que tange ao incentivo de práticas artísticas teção Ambiental) do Pouso Alto, maior área de cerrado preser-
baseadas na ética e na solidariedade: o Teatro vado do Estado de Goiás. Lá o grupo desenvolveu uma inves-
Oprimido como método de discussão e inter- tigação sobre a realidade do lugar e os processos envolvidos
venção da/na realidade. Foram realizados jogos na urbanização local, o que contribuiu para o entendimento de
teatrais e a criação de quatro cenas teatrais em conflitos sociais e ecológicos numa região de preservação.
cada turma. As cenas de Teatro Imagem, a partir Realizou-se um estudo do meio para extrair os mais diver-
de problemáticas do cotidiano escolar, identifi- sos conhecimentos das questões que aparecem nas cidades e
cadas pelos cursistas, e de Teatro Jornal, com nos rodeiam cotidianamente. Segundo a formadora Luna Lam-
base em questões relativas ao modo de produ- bert Soares, “foi possível perceber que a cidade, que em nosso
ção agroecológico em contraposição ao agro- olhar cotidiano pode passar despercebida, apresenta um prato
negócio e em questões relativas à alimentação cheio de conteúdos para serem trabalhados em sala de aula”.
saudável, foram elaboradas e apresentadas na Além de saídas guiadas por pessoas que vivem na região,
escola, envolvendo também os estudantes. os cursistas apreciaram e debateram o documentário Ser Tão
E isso tudo só foi possível devido à Meto- Velho Cerrado, participaram de rodas de conversa com atores
dologia da Alternância, que é a opção político- sociais envolvidos nas questões sociais, políticas e ecológicas
-pedagógica mais adequada à complexidade da região e visitaram o lixão da cidade, ocasião em que foi en-
da vida no campo, à sua práxis e dinâmica das trevistado um catador residente no próprio lixão.
aprendizagens. A Alternância cria rupturas entre Trilhas pelo cerrado e trilhas pela cidade trouxeram mais
os lugares, momentos e conteúdos tradicionais clareza sobre os fenômenos globais que atingem os diferentes
da formação, propiciando a construção de no- lugares, apresentando aos cursistas diferentes características
vas relações humanas, sociopolíticas, culturais em nível social e ecológico. Além da percepção da exuberância
e de produção de conhecimentos, em que os do Cerrado preservado, foi possível compreender melhor o fe-
dois tempos/espaços formativos – Tempo Es- nômeno da urbanização e as semelhanças existentes entre as
tudo e Tempo Comunidade – estão em estreita mais distintas cidades a partir de um processo lúdico, artístico,
conexão. O primeiro referente a reuniões, es- científico e divertido, porque, afinal, aprender é uma delícia.
tudos, diálogos, debates e conhecimentos das
ferramentas teóricas da Educação do Campo e
o segundo, às ações e intervenções planejadas
coletivamente, considerando as condições ob-
jetivas de cada escola. Ambos os tempos são
compreendidos como horas diretas, deman-
dando trabalho presencial dos cursistas que
precisam desempenhar suas tarefas de maneira
Luna Lambert

auto-organizativa. Dessa forma, a EAPE acredita


avançar rumo à construção da escola do campo
no Distrito Federal.

23 INFormação
Entrevista

Mário Sérgio Mafra


Presidente do Conselho de Educação do DF

M
ário Sérgio Mafra chegou em Brasília em 1959, vindo de Santa Mário Sérgio Mafra. Muito antes.
Catarina. Pioneiro da educação no Distrito Federal, é pedagogo Isso foi no final de 1959. Aí, durou
e pós-graduado em Organização e Métodos, Metodologia de En- ainda até 21 de abril de 60, quando
sino Superior e Educação a Distância. Já foi membro do Conselho Diretor a capital foi inaugurada, e, logo em
da extinta Fundação Educacional do Distrito Federal, professor titular doseguida, criada a Prefeitura do Dis-
Centro Universitário de Brasília – UNICEUB e, atualmente, é presidente dotrito Federal. Dentro da Prefeitura
Conselho de Educação do Distrito Federal. Com a participação de Mário do Distrito Federal, nós tínhamos
Mafra, damos início a uma série de matérias e programas sobre a história a Superintendência de Educação
da educação e da formação continuada no Distrito Federal. A seguir, os e Saúde. Era interessante, porque
principais trechos da conversa com o Presidente do Conselho de Educa- o Distrito Federal, a Prefeitura do
ção do Distrito Federal – CEDF. A entrevista completa pode ser assistida Distrito Federal, ela era toda regu-
no EAPE Play, o canal da EAPE no Youtube. lada, em termos de legislação, pela
Câmara Federal, que tinha Comis-
são do Distrito Federal, Comissão
Mista. Então, todos os decretos
André Lúcio Bento. Temos a hon- mesmo em baixados pelo
ra de receber aqui, na estreia da 1961, por- Todos sabem que, antes prefeito... isso
nossa série de reportagens, entre- que, naque- tudo era publi-
vistas e programas sobre a história la época,
de nós termos o Governo cado no Diário
da educação no DF e também so- todos nós já do Distrito Federal, tivemos Oficial da União
bre a história da formação continu- éramos em- Prefeitura do Distrito [...]. Todos sa-
ada, o nosso Presidente do Conse- pregados bem que, antes
lho de Educação, Mário Mafra, que da Nova- Federal, o Prefeito do de nós termos o
nos engrandece hoje com todos os cap, mes- Distrito Federal Governo do Dis-
seus conhecimentos sobre a sua mo sendo trito Federal, ti-
trajetória na educação aqui no Dis- da área de vemos Prefeitu-
trito Federal. Seja bem-vindo, Pre- educação. Eu fui contratado pelo ra do Distrito Federal, o Prefeito do
sidente. Conselho de Bem-Estar Social, em Distrito Federal. Eu trabalhei com
Mário Sérgio Mafra. Pois não, que estava incluída a educação, à três deles. O prefeito Sette Câma-
pois não. Muito prazer em ter tido época. Era um departamento da ra, o professor Ivo (eu esqueço até
esta oportunidade de falar um pou- Novacap, que era o Governo do o nome completo dele), e o prefei-
co daquilo que eu vivi. Eu, na re- Distrito Federal. to que criou os jardins em Brasília.
alidade, estou em Brasília desde André Lúcio Bento. Isso antes da Porque Brasília não tinha um palmo
1959. Mas comecei na educação antiga Fundação Educacional. de grama [risos] até 1960.

INFormação 24
André Lúcio Bento. Era um cerrado. CASEB. A sigla era exata: Comis- André Lúcio Bento. A SUBEB...
Mário Sérgio Mafra. Era um cerra- são de Administração do Sistema Mário Sérgio Mafra. A SUBEB.
do, empoeirado. Mas sensacional. Educacional de Brasília. Lá tiveram André Lúcio Bento. Subsecretaria
Eu tinha vinte anos de idade. Qua- assentos o Anísio Teixeira, Darcy de Educação Básica. E nessa épo-
se a idade que tenho hoje [risos]. Ribeiro, Clélia Capanema. [...]. ca quantas escolas nós tínhamos
André Lúcio Bento. E, nesse con- André Lúcio Bento. E em que con- agrícolas?
texto, que lembranças o Senhor texto o Senhor se lembra, então, da Mário Sérgio Mafra. Agrícolas?
tem do que, então, esse estado, organização da Secretaria de Edu- Nós tínhamos, depois...
essa unidade que se constituía cação, que, se não me engano, ini- André Lúcio Bento. No geral.
aqui? O que aconteceu para atrair cialmente era Educação e Cultura. Mário Sérgio Mafra. No geral?
professores para cá? Não dá para imaginar.
Mário Sérgio Mafra. Bom, André Lúcio Bento Muitas
os professores... foi muito
E, como nós não tínhamos ou algumas poucas?
díficil aceitar vir para Brasília. onde ficar, nós ficávamos em Mário Sérgio Mafra. Mui-
Mas não eram só professo- alojamentos. Era um apartamento to poucas. O que se tinha
res. Isso houve com médi- eram Escolas Classe, Esco-
cos, etc. E criaram, então, da Fundação da Casa Popular ali la Parque. Cuidava-se muito
por lei, a chamada “dobradi- na W3. Eram aquelas casas, era da educação elementar, da
nha”. O que que era? Dobrar básica mesmo, que se cha-
o salário. Isso fez com que
só o que tinha aqui em Brasília.
mava naquela época. Já se
despertasse, nos professo- chamava educação básica,
res, nos médicos principal- mas ela ia até a quarta série
mente, a vinda para Brasília. [...]. Mário Sérgio Mafra. Sim. Ela foi do ensino primário. Depois vinha o
André Lúcio Bento. E nesse pro- durante muitos anos. A Secretaria primeiro ciclo, que era o ginásio,
cesso de atrair servidores, de uma de Educação do Distrito Federal, e o segundo ciclo, que era hoje o
forma geral, pela “dobradinha”... ela foi criada junto com a estrutu- ensino médio [...]. Ali funcionou
Então, a gente está falando de uma ra da Prefeitura do Distrito Federal. a Secretaria de Educação, como
época de salários bons, digamos Lá, nós tínhamos então uma Secre- funcionou no Edifício Ceará, como
assim. taria de Educação, uma Secretaria funcionou no Ministério da Educa-
Mário Sérgio Mafra. Bons. O pro- de Saúde. Mas os executivos, o ór- ção numa parte etc., e por último
fessor dava-se o luxo de guardar gão executivo da saúde e da edu- ela foi para a UnB, para o anexo
dinheiro, de investir, de comprar cação, eram fundações. Então nós onde ali era a Faculdade de Teolo-
terreno, porque o salário, além do tínhamos... gia da UnB. Ninguém sabe disso: a
básico ser muito bom, ainda do- André Lúcio Bento. Fundação UnB teve uma Faculdade de Teo-
brava para vir para Brasília. Isso Educacional e Fundação Hospitalar. logia. A sucessão da Faculdade de
tudo foi estimulado. E criou-se, en- Mário Sérgio Mafra. Aí depois eu Teologia, na parte física, foi a Fun-
tão, a CASEB, que era Comissão passei a ser professor – foi na Fun- dação Educacional. Ela mudou-se
de Administração do Sistema Edu- dação Educacional. E eu vivi mais a para os domínios da Universidade
cacional de Brasília. Fundação Educacional do que Se- de Brasília.
André Lúcio Bento. Que dá nome cretaria de Educação. Eu cheguei André Lúcio Bento. A EAPE, que
ao CASEB de hoje. a Diretor Geral de Pedagogia, que hoje funciona no prédio da antiga
Mário Sérgio Mafra. Ao colégio da seria, hoje... Escola Normal, mas que nem sem-

25 INFormação
pre funcionou lá, o Senhor sabe tinham que ir para a escola de ca- eu gostaria que o senhor, com
disso. pacitação dos professores para o toda essa experiência, apontasse
Mário Sérgio Mafra. Sei, sei disso. sistema criado no Distrito Federal, um pouco para o futuro. Depois de
André Lúcio Bento. Quando a e isso funcionava na Escola Par- tudo o que o senhor viveu na edu-
EAPE se inicia, ela funciona onde? que; André Lúcio Bento. O que o cação, de toda sua experiência no
Mário Sérgio Mafra. Não a EAPE, Senhor está querendo dizer é que MEC e no Distrito Federal, antes
mas a antecessora dela. Não a houve um processo de capacita- mesmo de ser GDF, o que o senhor
EAPE, mas o embrião dela. Na Es- ção, assim chamado na época, vislumbra para a educação do Bra-
cola Parque da 308 sul [...]. para o modelo do Distrito Federal. sil? Qual é o futuro da educação do
André Lúcio Bento. Nesse con- Presidente, a gente foi indo e vol- Brasil?
texto todo, em que o Senhor traz tando no tempo, mas eu gostaria Mário Sérgio Mafra. É muito difícil
os membros pioneiros da CASEB, que o senhor falasse de uma his- de se projetar... Mas, se partirmos
todas essas histórias que o Senhor tória que o senhor conta sobre os para a BNCC e sua implementação,
traduz e resume para a gente, que professores terem ônibus. Já era com a indispensável e vital prepa-
memórias o Senhor tem da ques- TCB? O que era? ração dos professores, poderemos
tão da formação continua- chegar a algum lugar. São
da, mesmo antes da EAPE, dois pilares sérios para isso.
desse embrião da EAPE? Ninguém sabe disso: a UnB teve E um deles é o livro didático,
Mário Sérgio Mafra. De- que precisa sair da mão das
uma Faculdade de Teologia.
ve-se isso à Professora editoras e ser elaborado pelos
Helena Reis [...]. Como é A sucessão da Faculdade de docentes [...]. Mas fundamen-
que se admitiam profes- Teologia, na parte física, foi tal mesmo é a capacitação
sores? Você pedia currí- dos professores [...].
culos, gente que tivesse
a Fundação Educacional. Ela André Lúcio Bento. Eu gos-
habilitação, para vir pra mudou-se para os domínios da taria de dizer que, das duas
Brasília. Não tinha concur- Universidade de Brasília. soluções que o senhor traz,
sos, não tinha nada disso. a EAPE está envolvida nas
Eles se inscreviam, tinha duas. Obviamente formação
uma prova de títulos, e se subme- Mário Sérgio Mafra. Não. Os ôni- continuada e, agora, a experiên-
tiam a entrevistas em uma ban- bus eram da Fundação Educacio- cia histórica de produzir materiais
ca da Fundação Educacional [...]. nal. Eram uns monoblocos, iguais próprios. Nós temos uma equipe
André Lúcio Bento. Mas, uma vez aos da TCB, branquinhos, com a selecionada em edital para produ-
admitidos, eles precisavam passar inscrição “Fundação Educacional ção específica de livros didáticos e
por um processo de formação. Que do Distrito Federal”. Os professores outros materiais.
órgão era responsável por isso? eram apanhados em casa – morá- André Lúcio Bento. A EAPE agra-
Mário Sérgio Mafra. Era a Coor- vamos todos na mesma região, na dece a oportunidade e a contri-
denação de Ensino Elementar e a 412 mais ou menos, cujos blocos buição do presidente do CEDF,
professora [Helena Reis] criou o foram cedidos para os professores. senhor Mário Mafra, com histórias
primeiro curso de direção de Es- Éramos apanhados em casa todos e memórias acerca da educação
cola Elementar em 1968 [...].Então, os dias. O café da manhã era no no DF para registro nesta edição
veja só, o que é que se fez? Do- CASEB, no colégio. de estreia da Revista InFormação
centes e gestores da Escola tinham André Lúcio Bento. Para encerrar, Continuada. Muitíssimo obrigado,
que, antes de entrar no exercício, já que falamos muito no passado, Presidente!

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