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Reflexão sobre o papel da Matemática no processo de Formação de Professores do


Ensino Primário em Moçambique, modelo 10+31.

Elidio Gilberto Luís Natingue2

Resumo

A formação de professores e técnicos de educação em Moçambique é uma questão político-


social e vital para o desenvolvimento do país. Vincula-se deste modo, a importância de uma
formação que seja integralmente virada a aquisição de competências que sejam
suficientemente justificáveis às transformações e a pressão da globalização. Um dos
principais desafios da educação, actualmente, é formar professores capazes de dar
continuidade a sua própria formação ao longo da vida. Com a introdução do modelo de
formação 10+3 anos, o Pais experimentava um novo rumo de formação, de professores, com a
componente presencial e em exercício, ou seja, teórico e prática. Com este modelo, pretendeu-
se refletir em torno do contributo da Matemática no processo de formação de professores
primários, tendo se constatado que a matemática desempenha um papel decisivo na resolução
de problemas da vida diária. Sendo um instrumento poderoso para o conhecimento do mundo,
domínio da natureza, construção de conhecimentos em outras áreas curriculares. Favorece
também a formação de capacidades intelectuais a estruturação do pensamento e a agilização
do raciocínio do aluno
Palavras-chave: Modelo 10ª + 3. Formação de professores; Matemática.

Introdução

Assiste-se nos tempos actuais, transformações constantes no âmbito social, que procuram
criar uma identidade humana capaz de se posicionar face as novas tendências da globalização,
isto é, do rápido crescimento ou evolução das tecnologias, dos meios de informação, entre
outros. O sistema de educação e de ensino em Moçambique, não estão alheios a estas
transformações. Com isto, a sociedade mostra-se mais exigente e a educação tornou-se o foco
das atenções no que concerne à formação do capital humano competente.

O presente trabalho, faz uma análise reflexiva em torno do papel da matemática no processo
de formação de professores do ensino primário em Moçambique, no modelo de formação de
10ª+3 anos, introduzido em 2012, em testagem. Com este modelo, foram introduzidas nas
novas filosofias de formação, sendo presencial (na sala de aulas) e em exercício (estágio pré-

1
Artigo elaborado com base no Plano Curricular de Curso de Formação de Professores do Ensino Primário em
Moçambique, no modelo 10ª +3 anos;
2
Licenciado em Ensino de Matemática pela Universidade Pedagógica, Mestrando em Educação/Ensino de
Matemática na Universidade Rovuma, Nampula. natingue2017@outlook.com ou natingue@gmail.com
2

profissional). A matemática é parte integrante do bloco de disciplinas que compõem o


currículo.

A elaboração deste artigo teve como base a leitura e consulta bibliográfica, com principal
enfoque aos planos curriculares.

Neste contexto, o papel do professor em geral, tem sido colocado em causa quando se fala de
profissionalismo e qualidade de ensino, avaliado pelo elevado número de graduados de vários
subsistemas de ensino, com dificuldades recorrentes de escrita, leitura, matemática, entre
outros.

1. Plano Curricular de Formação de Professores do Ensino Primário, modelo 10ª+3


anos.

Introduzido e implementado em regime de testagem desde 2012, o Plano Curricular do


Curso de Formação de Professores do Ensino Primário (PCCFPP), centraliza a formação
profissionais competentes, isto é, formar professores capazes de analisar situações complexas,
reflectir sobre as suas práticas, tomar decisões e aprender ao longo da sua carreira. O curso de
formação de professores do ensino primário, é um curso profissional de nível médio, que
compreende três anos de formação, sendo uma formação inicial presencial (com duração de
dois anos) e outra em exercício (estágio remunerável, com duração de 1 ano). O curso é
modular e organizado em blocos de aprendizagem.

O conceito de formação pode assumir diversos sentidos consoante o contexto da sua


aplicação. Ora, ZABALZA (1990, p. 201), considera como sendo o processo de
desenvolvimento que o sujeito humano percorre até atingir um estado de plenitude pessoal. O
autor enfatiza a componente pessoal no processo formativo, defendendo o forte envolvimento
e uma atitude activa do sujeito em formação, tanto na apropriação dos meios disponibilizados
para se formar, quanto na busca de outros recursos fundamentais para o processo.

Formação é um fenómeno complexo e revestido de autonomia e não deve ser


diminuído nem confundido com outras noções com as quais tem alguma afinidade como são
os casos dos conceitos educação, ensino, instrução, reciclagem, treinamento e capacitação
(GARCÍA, 1999).

ZABALZA (1990, p.201), é mais profundo ao descrever que a formação integra e


concretiza-se por via de múltiplas dimensões que conduzem a um crescimento pessoal e
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profissional, possibilitando o desenvolvimento de competências para o exercício de uma


actividade dentro de um determinado meio sociocultural.

A formação de professores é uma das dimensões centrais de processo de


profissionalização, contribuindo para a construção de um corpo comum de saberes, práticas,
valores e atitudes correspondentes ao exercício profissional de docência.

A formação docente deve ser pensada como um aprendizado profissional ao longo da vida envolvendo
profissionalmente os docentes, pois, ao se conhecer melhor e compreender o seu trabalho, possibilita a
descoberta de caminhos eficazes para alcançar o ensino de qualidade e reverter numa aprendizagem
significativa para os alunos (LÜCK, 2009).

Neste modelo de formação, destaca-se os princípios gerais da formação de professores


e princípios orientadores da formação de professores.

O INDE (2012, p.13) descreve que, a formação de professores do ensino primário


assenta nos princípios pedagógicos estabelecidos no artigo 2 da lei 6/92, do SNE de 6 de
maio, que preconiza…

✓ Desenvolvimento das capacidades e da personalidade de uma forma harmoniosa,


equilibrada e constante, que confira uma formação integral;
✓ Desenvolvimento da iniciativa criadora, da capacidade de estudo individual e de
assimilação crítica dos conhecimentos;
✓ Ligação entra a teoria e a pratica que se traduz no conteúdo e no método de ensino
das várias disciplinas, no caracter politécnico de ensino conferido e na ligação
entre a escola e a comunidade;
✓ Ligação do estudo de trabalho produtivo socialmente útil como forma de
aplicação dos conhecimentos científicos á produção e de participação no esforço
do desenvolvimento económico e social do pais;
✓ Ligação estreita entre a escola e a comunidade, em que a escola participa
activamente na dinamização do desenvolvimento socioeconómico e cultural da
comunidade e recebe desta a orientação necessária para a realização de um ensino
e formação que respondam ás exigências do desenvolvimento do país.

Segundo o INDE (2012, p.13-14), são princípios orientadores do currículo de


formação de professores os seguintes…

✓ Articulação entre a formação científica e pedagógica, orientada para uma prática


reflexiva e contextualizada;
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✓ Contacto permanente com professores experientes


✓ Articulação entre a formação inicial e a formação em exercício

Quanto ao princípio de articulação entre a formação científica e pedagógica, orientada


para uma prática reflexiva e contextualizada, traduz-se numa formação que permite o
desenvolvimento de bases sólidas em termos de saberes teóricos (saberes pedagógicos,
didácticos, culturais) e nos saberes práticos provenientes das experiências quotidianas da
profissão, (INDE, 2012, p.13)

É fundamental realçar que este princípio estabelece uma ponte na articulação dos
saberes teóricos e práticos, na medida em que, desde o início da formação, o formando tem a
possibilidade de por em prática, situações concretas do processo de ensino-aprendizagem, isto
é, tem o privilégio de um contacto directo com a escola, com os alunos e com os colegas de
profissão.

Em relação ao segundo princípio segundo o qual “contacto permanente com


professores experientes”, o modelo de formação em analise, privilegia um contacto
permanente com professores experientes em exercício e aposentados, que possam
desempenhar o papel de conselheiros aos formandos e aos professores novos e assim
transmitir a sua experiência pratica.

O princípio da articulação entre a formação inicial e a formação em exercício,


privilegia a aprendizagem ao longo da vida, pressupondo a existência de um sistema de
formação em exercício estruturado no âmbito de um programa de desenvolvimento
profissional continuo que responda as necessidades dos professores em exercício.

Tratando de um processo de formação, o Plano Curricular do Curso de Formação de


Professores do Ensino primário, definiu como perspectiva de formação, o perfil do graduado
que contempla quatro pilares fundamentais: saber ser, saber conhecer, saber fazer e saber
viver juntos e com os outros, permitindo que o graduado deste curso deva ser idóneo e crítico,
com elevado espírito patriótico, que ama as crianças, fluente na língua de ensino, exemplar na
preservação do ambiente, respeitador e cumpridor das leis do país e dos princípios éticos e
deontológicos da profissão docente (INDE, 2012, p. 17-20).

Deste modo, o professor do Ensino Primário deve:

a) No âmbito do saber ser e saber viver juntos e com os outros:


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✓ Amar as crianças, a si próprio e ao próximo;


✓ Ter amor à pátria, promover a cultura de paz, a unidade nacional e o respeito
pelos direitos humanos e da criança;
✓ Actuar com idoneidade e responsabilidade e de acordo com os princípios
éticos e deontológicos da profissão docente;
✓ Participar no trabalho colaborativo, na escola e na comunidade e partilhar
experiências com colegas de profissão;
✓ Assumir atitudes responsáveis perante a sua saúde e da comunidade, na
prevenção do HIV/SIDA, malária, cólera e outras doenças, e no combate ao
consumo do álcool, tabaco e demais drogas.
b) No âmbito do saber conhecer e saber fazer:
✓ Leccionar em escolas primárias completas, proporcionando às crianças
experiências educativas significativas e integradas;
✓ Utilizar o conhecimento científico na promoção de hábitos de vida saudáveis,
prevenção de doenças, preservação do ambiente e uso sustentável dos
recursos;
✓ Utilizar adequadamente estratégias de desenvolvimento da autoestima e
espírito crítico, de valorização da experiência da criança e dos saberes locais;
✓ Avaliar o processo de ensino e aprendizagem e administrar dispositivos de
remediação de dificuldades de aprendizagem;
✓ Utilizar interactivamente os materiais de ensino e as TIC`s, para o acesso ao
conhecimento.

Como forma de dar resposta ao âmbito dos saberes acima descritos, o INDE (2012),
destaca que o novo modelo de formação de professores (10ª+3) deverá desenvolver 9
competências, organizadas em 3 domínios:

a) Domínio pessoal e social


✓ Promove o espírito patriótico, a cidadania responsável e democrática, os
valores universais e os direitos da criança;
✓ Comunica adequadamente, em vários contextos;
✓ Agi de acordo como os princípios éticos e deontológicos associados à
profissão docente.
b) Domínio dos conhecimentos científicos
✓ Demonstra domínio dos conhecimentos científicos do ensino primário;
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✓ Demonstra domínio dos conhecimentos das Ciências da Educação,


relacionados com o ensino primário;
c) Domínio das habilidades profissionais
✓ Planifica e mediar o processo de ensino-aprendizagem de modo criativo,
reflexivo e autónomo;
✓ Avalia necessidades, interesses e progressos dos alunos, adaptando o processo
de ensino-aprendizagem à sua individualidade e ao contexto;
✓ Desenvolver e utilizar estratégias e recursos didácticos estimulantes para
situações concretas de aprendizagem;
✓ Promover o autodesenvolvimento profissional e envolver-se num trabalho
cooperativo, colaborativo e articulado.

Tendo em conta o desenvolvimento das nove competências, a estrutura do curso prevê


duas fases. Uma primeira fase, de formação presencial, com duração de dois anos, onde logo
no primeiro ano e nas primeiras quatro semanas o formando desloca-se a escolas para as
práticas pedagógicas. Sua actividade consiste em deslocar-se a escola duas vezes por semana
para contacto com o dia-a-dia da escola. Além disso, o formando passa também por um
estágio integrado. Este decorre no 2º.ano, com a duração de 13 semanas. Neste período são
acompanhados por um professor formador do IFP e trabalham conjuntamente com os demais
professores na planificação e leccionação das aulas. A segunda fase tem lugar no terceiro ano,
com duração de um ano, que corresponde ao estágio pré-profissional. Este estágio tem por
objectivo levar o professor estagiário a aprimorar a sua capacidade de mobilizar múltiplos
recursos adquiridos na formação presencial e reflectir sobre as questões pedagógicas. Ele
realiza-se numa escola, sob acompanhamento de um tutor que é um professor com formação e
capacidade de apoiar e estimular o desenvolvimento crítico do professor estagiário.

A actividade docente exige profissionalmente do professor uma capacidade de auto


apropriação, isto é, alguém que faça da profissão a sua vida, uma individualidade imbuída de
qualidades moral, ética, cujo exemplos da vida particular, pública ou não, devem servir de
lição para a sociedade na qual esta inserido. O professor constitui a ponte entre a escola e
comunidade, colocando-se deste modo como propulsor para responder a procura de novos
conceitos de educação.

Reconhece-se também que a qualidade de educação esta intimamente ligada á


qualidade de formação de professores e do seu desenvolvimento profissional ao longo da
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carreira, OLIVEIRA (2010). É nesta óptica que GARCIA (1995), defende que a formação de
professores deve ser entendida como um processo contínuo, começando com a formação
inicial e se estendendo ao longo da vida profissional, como base essencial para a promoção de
mudança educativa visando a eficácia e qualidade de ensino aprendizagem.

É possível reconhecer que a qualidade da educação baseia-se nas competências dos


seus profissionais e que, consequentemente, oferecem aos seus alunos e à sociedade em geral
experiências educacionais formativas, capazes de promover o desenvolvimento de
conhecimentos, habilidades e atitudes, factores esses, necessários para enfrentar os desafios
vivenciados em um mundo globalizado, tecnológico, orientado por um acervo cada vez maior
e complexo de informações e pela procura de qualidade em todas as áreas de actuação
(LÜCK, 2009).

Segundo a UNESCO (2004) citado por INDE (2012; p.10), competência significa
capacidade de enfrentar com sucesso ou levar a cabo uma tarefa, e, o desempenho
competente, a combinação de habilidades cognitivas e praticas inter-relacionadas, o
conhecimento, a motivação, valores e ética, atitudes emoções e outras componentes sociais,
comportamentais e o contexto.

Para PERRENOUD (2001), citado por INDE (2012, p. 11), ser competente denota ser
capaz de usar adequadamente o que é aprendido (conhecimentos, habilidades e atitudes) na
vida social e profissional, isto é, capacidade de utilizar conhecimentos, informações,
procedimentos, métodos, técnicas, bem como outras competências especificas para resolver
problemas, construir estratégias, tomar decisões, actuar, no sentido mais vasto da expressão.

BELLONI (1999: 87), defende que, um dos principais desafios da educação,


actualmente, e capacitar os formandos para continuarem a sua própria formação ao longo da
vida profissional, já que, em função das rápidas mudanças do mundo contemporâneo, eles
podem ter de vir a exercer funções diferentes do nosso contexto actual. Do mesmo modo, a
formação de professores também deve prever a sua capacitação para uma educação
continuada, além de prepará-los para a inovação tecnológica e suas consequências
pedagógicas.

É de referir que o plano curricular de formação de professores do ensino primário,


modelo 10ª+3 anos, é baseado em competências.
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O papel da Matemática na formação de professores.

Olhando pela estrutura do plano curricular do curso de formação de professores do


ensino primário, ela compreende quatro áreas curriculares articuladas entre si
(interdisciplinaridade) que são: Comunicação e Ciências Sociais (CCS); Matemática e
Ciências Naturais (MCN); Actividades Praticas e Tecnológicas (APT) e Ciências de Educação
(CE).

É importante que os currículos contemplem desde a formação de professores,


componentes curriculares que possibilitem a interdisciplinaridade, uma vez que esta “consiste
em um processo de construção de conhecimento que se sobrepõe a fragmentação, a
especialização e a tendência de produção de um conhecimento híbrido”, (SANTOS;
INFANTE-MALACHIAS, 2008, p. 562).

Considerando que o acesso á educação é um acto consagrado ao direito à cidadania,


este está, directamente, relacionado com as condições sociais, de tal modo que, não é possível
conceber o ensino e aprendizagem de matemática desvinculados da realidade social em que
vivemos. Facto este que exige do acto de ensinar uma acção reflexiva e política.

O conhecimento matemático é algo que foi construído historicamente pela humanidade, tornando-se
uma ciência que influencia fortemente na vida do ser humano, em suas relações com a sociedade,
contribuindo na legitimação do sujeito enquanto cidadão [...] A matemática se constitui em
conhecimento que pode nos auxiliar na compreensão do desenvolvimento da ciência e da tecnologia,
sendo, muitas vezes, a balizadora e responsável pelas tomadas de decisões em torno de vários
fenómenos científico-tecnológicos, (PINHEIRO. 2005, p. 14)

Na sociedade actual, a Matemática é cada vez mais solicitada para descrever, modelar
e resolver problemas nas diversas áreas da actividade humana, a Educação Matemática
mostra-se nesta vertente com o intuito de fazer com que o estudante construa, por intermédio
do conhecimento matemático, valores e atitudes de natureza diversa, visando a formação
integral do ser humano e, particularmente, do cidadão, isto é, do homem público.

CARDOSO, VECCHI e CARGNIN (2011, p. 41) enfatiza que, se a matemática for


ensinada sobre os moldes da educação matemática crítica e reflexiva, considerando modelos e
pressupostos que ofereçam oportunidades para explorar papéis que desenvolve na sociedade,
aí sim o aluno perceberá sua relação com a realidade. Nesse sentido, ensinar matemática por
meio de uma educação sócio crítica significa transcender a ideia de entendê-la como uma
ciência isolada e passar a relacioná-la com questões mais amplas, favorecendo às pessoas uma
cidadania mais participativa.
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Um educador matemático precisa….

…antes de criar teorias, estabelecer objectivos, elaborar estratégias, desenhar métodos


ou qualquer outra actividade teórica ou prática cuja finalidade última seja o ensino da
matemática... responder às questões filosóficas fundamentais sobre o estatuto do
objecto matemático, sobre a natureza da verdade matemática, sobre o carácter do
método matemático, sobre a finalidade da matemática, sobre o estatuto do
conhecimento matemático, (BICUDO 1999, p. 57).
Percebe-se que para ser professor de Matemática não basta somente saber muita
Matemática se não conhecer como fazer o papel de educador; e ainda, apenas saber o campo
educacional e não saber Matemática pode comprometer o ensino/educação Matemática,
(SIQUEIRA, 2007, p. 11)

Para MURIMO & MORGADINHO (2012; p. 6),

A finalidade a que se propõe o ensino da matemática de qualquer nível de ensino, engloba diversas
dimensões, entre as quais de destacam aspectos culturais, sociais, formativos e políticos. A valorização
que se dá a cada um deles terá consequências profundas no processo de aprendizagem e no papel
desempenhado pela disciplina.

O processo de ensino-aprendizagem da matemática, na formação de professores, visa


revisitar competências desenvolvidas ao longo do Ensino primário e Secundário, relacionados
com a aritmética e geometria, entre outras áreas, como a aplicação de conteúdos como a
contagem, o cálculo e as quatro operações básicas na solução de problemas da vida,
promovendo um ensino significativo para os alunos.

Ora, no Plano Curricular do Ensino Básico (PCEB), a aprendizagem da Matemática


vai desenvolver habilidades e competências como contar, calcular (mentalmente e por
escrito), aplicar as quatro operações básicas na resolução de problemas, vai desenvolver
capacidades e habilidades como situar e orientar, observar, identificar, relacionar, classificar,
estimar e medir grandezas, interpretar mensagens simples na linguagem simbólica e gráfica
assim como recolher, organizar e interpretar dados em tabelas e gráficos simples, calcular
perímetros, superfícies e volumes e realizar construções geométricas simples com régua,
esquadro, compasso e transferidor (INDE. 2003, p. 38)

O ensino de matemática deve desenvolver no aluno condições para uma leitura crítica
da realidade social com base em dados científicos. A estrutura acima descrita identifica o
percurso da Educação Matemática no ensino básico. É de recordar que o ensino básico
compreende 7 classes.
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Para o Ensino Secundário Geral, a Matemática e Ciências Naturais visam desenvolver


competências orientadas para o conhecimento do mundo natural e para o desenvolvimento do
raciocínio lógico. Nesta área são desenvolvidas competências que permitem ao aluno
compreender os conceitos básicos das ciências, desenvolver habilidades, estratégias, hábitos
de investigação científica e comunicação, bem como relacionar a ciência com a tecnologia,
sociedade e ambiente (INDE, 2007, p. 43).

Muito se tem discutido sobre o lugar e o significado das competências e habilidades


que são exigidas dos indivíduos na sociedade contemporânea. No caso da aprendizagem
matemática, essa preocupação resulta de uma forte pressão sobre a instituição escolar, para
que a formação de nossos alunos zele pelo desenvolvimento de habilidades que vão muito
além dos conhecimentos específicos e dos procedimentos dessa área. O que se deve ter claro é
que a escola sempre teve como meta que os alunos fossem capazes de relacionar
adequadamente várias informações, fatos, conhecimentos e habilidades para enfrentar
situações-problema; no entanto, em raros momentos trabalhou-se sistematicamente para
atingi-la.

A matemática contribui grandemente na formação integral do cidadão, quer na


dimensão social, científica ou tecnológica, contribuindo para o desenvolvimento de um
pensamento crítico e reflexivo. Pelo que, espera-se que um formando do curso de professores
primários, adquira com a aprendizagem da matemática, habilidades e conhecimentos para
resolução de problemas relacionados com o meio social da criança; estabelecer a ligação entre
a Matemática, a vida e os saberes locais; recolher, organizar, sintetizar, representar,
interpretar, fazer inferências e apresentar dados numéricos como base para tomada de
decisões pedagógicas, entre outras.

Considerações finais.

A matemática desempenha um papel decisivo na resolução de problemas da vida


diária. É um instrumento poderoso para o conhecimento do mundo, domínio da natureza,
construção de conhecimentos em outras áreas curriculares. Favorece também a formação de
capacidades intelectuais a estruturação do pensamento e a agilização do raciocínio do aluno.

De fato, o conhecimento matemático não se consolida como um rol de ideias prontas a


serem memorizadas; muito além disso, um processo significativo de ensino de Matemática
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deve conduzir os alunos à exploração de uma grande variedade de ideias e de estabelecimento


de relações entre fatos e conceitos de modo a incorporar os contextos do mundo real, as
experiências e o modo natural de envolvimento para o desenvolvimento das noções
matemáticas com vistas à aquisição de diferentes formas de percepção da realidade. Mas
ainda é preciso avançar no sentido de conduzir as crianças a perceberem a evolução das ideias
matemáticas, ampliando progressivamente a compreensão que delas se tem.

1. Bibliografia.
BELLONI, M. L. “Professor coletivo – Quem ensina a distância?”, in Belloni, M. L.,
Educação a distância. São Paulo, Editora Autores Associados., 2009

BICUDO. M. A. V. Pesquisa em educação Matemática: Concepções & Perspectivas. São


Paulo: Editora UNESP, 1999

CARDOSO, F. A. R.; VECCHI, T. P. B.; CARGNIN, C. A formação crítica do cidadão no


ensino da matemática. Revista Brasileira de Ciência, Tecnologia e Sociedade, v.2, n.1, p.39-
46, jan./jun. 2011.

GARCIA, C. M. A formação de professores: novas perspectivas baseadas na investigação


sobre o pensamento do professor. In: NÓVOA, A. (Coord.). Os professores e a sua formação.
Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1995. p. 51-76.

GARCÍA, C. M. Formação de professores, para uma mudança educativa. Porto: Porto


Editora, 1999.

INDE. Plano Curricular do curso de formação de professores do ensino primário, Maputo,


2012

LÜCK, H. Dimensões de gestão escolar e suas competências. Curitiba: Positivo, 2009.

MURIMO, A. MORGADINHO, S., Didáctica da Matemática. 1a Ed. Maputo, Texto


Editores, 2012.

OLIVEIRA, R. P de; ARAUJO, G, C de. Qualidade do ensino: uma nova dimensão da luta
pelo direito à educação. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 28, p. 5-23, Abr.
2005.
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PINHEIRO, N. A. M. Educação crítico-reflexiva para um ensino médio científico-


tecnológico: a contribuição do enfoque CTS para o ensino aprendizagem do conhecimento
matemático. Tese (Doutorado em Educação Científica e Tecnológica) – Universidade Federal
de Santa Catarina, Florianópolis, 2005.

SANTOS, S.; INFANTE-MALACHIAS, M. E. Interdisciplinaridade e Resolução de


Problemas: Algumas Questões para quem Forma Futuros Professores de Ciência. Educação
& Sociedade, Campinas, vol. 29, n. 103, p. 557-579, agost. 2018. Disponível em
http://www.cedes.unicamp.br

ZABALZA, M. Teoría de las Prácticas. In M. Zabalza (Coord.), La Formación Práctica de


los Profesores – Actas del II Symposium sobre Prácticas Escolares (pp. 15-39). Santiago de
Compostela: Universidad de Santiago de Compostela/ Tórculo. 1990

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