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AULA 2

RELAÇÃO PROFESSOR-
ALUNO-CONHECIMENTO

Profª Renata Burgo


CONVERSA INICIAL

Um currículo que tenha o objetivo de ensinar não pode deixar de combinar


o planejamento com a interação. O objetivo desta aula é apresentar as diferentes
formas de ensinar e de apender. O nosso conceito de que as gerações passam e
os conhecimentos se transferem de uma para a outra se baseia nas construções
de objetivos concretos e fundamentais para que, por meio do planejamento, o
professor seja capaz de construir o potencial e as habilidades dos seus alunos.

CONTEXTUALIZANDO

É difícil conceber que algo que funcionou por um longo tempo não funciona
mais hoje, como é o caso da aula expositiva. Mas será que é mesmo assim? Então
uma aula expositiva estaria fadada ao esquecimento? Vamos observar, no
decorrer desta aula, que isso pode ser uma metáfora em relação às novas
metodologias de ensino. Uma aula, seja expositiva ou não, tem o seu potencial se
for bem planejada e desenvolvida para focar a atenção e participação dos alunos,
nem que seja em momentos mais escassos. Veremos essa questão mais adiante.

TEMA 1 – CURRÍCULO

A educação é o que diferencia o ser humano dos animais, pois


diferentemente destes, o ser humano tem a necessidade de construir a sua
existência com a dependência das condições materiais. Para isso, ele necessita
do trabalho, e para se desenvolver no trabalho, precisa da educação. Por meio do
processo educativo, o ser humano é lapidado e produzido socialmente.
Segundo Melo e Urbanetz (2012, p. 20):

a educação do homem é a ação que o leva a se constituir como ser


humano, pois, para isso, as novas gerações devem se apropriar das
condições criadas pelas gerações anteriores e, assim, desenvolver as
suas próprias condições, superando as anteriores, não por exclusão
dessas condições, mas especialmente as incorporando [...] a educação
promove em cada um dos indivíduos a humanidade produzida
socialmente.

O alicerce da educação é o trabalho, conjunto de atividades produtivas que


o ser humano exerce para alcançar uma meta.
Portanto, segundo Melo e Urbanetz (2012), para abordar a concepção de
educação como humanizadora, é necessário retomar a relação da educação com
o trabalho.
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Pimenta e Anastasiou (2002) afirmam que a universidade tem como função
o exercício permanente da crítica, a qual necessita dessa atividade permanente
dos acadêmicos, inseridos na qualidade da educação superior, baseada no
ensino, na pesquisa e na extensão. Para isso, os acadêmicos não devem ser
apenas ouvintes passivos do professor, eles devem procurar na prática da
pesquisa continuada e na extensão, uma socialização desse trabalho com a
população.
A construção do conhecimento na educação superior deve ser baseada na
análise crítica dos conhecimentos e da realidade, ou seja, na problematização.
Melo e Urbanetz (2012) citam um debate sobre educação, dirigidos por
Pimenta e Anastasiou (2002), sendo uma prática intencional, que é o caráter de
toda educação institucionalizada, intermediada pela técnica, pela ética e pela
política:

Técnica, quando o conhecimento é saber competente para um fazer


eficiente, contextualizado e científico, sendo a qualificação técnica do
aprendiz processo que se concretiza na formação profissional
universitária, indo além do mero treinamento ou reciclagem e superando
a busca da simples eficácia técnica e a submissão à lógica opressiva do
mercado de trabalho. Política, pois tem que ver com as relações de
poder que permeiam a sociedade, advindo daí a importância dos
processos educacionais que possibilitam a construção da cidadania com
os estudantes. [...] E ética, pois a clareza na opção de conceitos e
valores tornam-se em referencias básicas para a intencionalidade do
agir humano. (Pimenta; Anastasiou, 2002, p. 163-164)

De acordo com Melo e Urbanetz (2012), a educação específica veiculada


na educação superior tem outras características.

 Educação científica: os projetos de ensino na educação superior devem se


reverter para a apropriação, por parte dos alunos, da ciência e da
metodologia científica. O rigor na coleta de dados, a crítica das fontes e a
relação entre conceitos são essenciais para uma formação de qualidade.
 Formação autônoma dos acadêmicos: é função do professor preparar suas
aulas voltadas para a conquista da autonomia do aluno, vinculada à
pesquisa.

É difícil aceitar que essas características ainda causem incompatibilidades


entre os educadores. Porém, na realidade brasileira do ensino superior,
percebemos as determinações do capitalismo sobre os destinos desse nível de
educação, e os esforços para isso se tornam secundários. A universidade possui

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relativa independência em relação ao Estado, à religião e ao mercado. No entanto,
essa autonomia vem sendo desestruturada nos últimos anos.

No contexto atual, a universidade vem perdendo essa característica


secular de instituição social e tornando-se numa entidade administrativa;
ou seja, atuando segundo um conjunto de regras e normas desprovidas
de conteúdos particulares, formalmente aplicados a todas as
manifestações sociais. Transmudou-se numa entidade isolada, cujo
sucesso e eficácia são medidos em referência à gestão de recursos e
estratégias de desempenho, relacionando-se com as demais por meio
da competição. (Pimenta; Anastasiou, 2002, p. 168)

Para nortear o currículo do professor, é preciso iniciá-lo com um objetivo,


respondendo a perguntas como “o que se pretende, por meio do planejamento?”
e “como se pretende?”, sempre contando com o inesperado para a novidade que
possa acontecer no processo.
Melo e Urbanetz (2013) afirmam que o currículo parte de dois conceitos, o
caminho e a construção. O caminho é o meio para construir um profissional que
terá habilidades e competências para atuar no ramo profissional escolhido. O
caminho será determinado no momento em que se redige o projeto institucional e
os projetos específicos de cada curso superior.
Porém, sabe-se que a realidade se distorce em algum momento. Não se
pode supor que todo currículo vai estar completamente alinhado ao projeto
institucional, embora esse seja o objetivo buscado pela instituição de educação
superior. Dessa forma, o diálogo entre todas as partes envolvidas alcançará um
objetivo mais amplo de como o projeto se apresenta concretamente nos cursos
ofertados pela instituição.
Melo e Urbanetz (2013, p. 29) continuam afirmando que a ideia de
construção do currículo “diz respeito a todos os conteúdos necessários para o
desenvolvimento e, possivelmente, o aprimoramento das competências e
habilidades do futuro profissional”. A organização do currículo depende do projeto
da instituição, que pode ser anual, semestral, modular etc.
Organizado o currículo, “parte-se para a consolidação do planejamento de
cada disciplina, sendo que, no ensino superior, a ementa e a bibliografia são os
elementos norteadores do trabalho docente” (Melo; Urbanetz, 2013, p. 30).
Vale lembrar que a ementa e a bibliografia são determinadas pela
instituição, pois é ela quem responde ao Ministério da Educação e à sociedade.
Dessa forma, “cabe ao professor organizar o seu planejamento, estabelecendo
objetivos, selecionando conteúdos e propondo estratégias de ensino a partir
desse ementário que é o orientador do trabalho a ser realizado na disciplina”
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(Melo; Urbanetz, 2013, p. 30). O professor deve ter sempre em mente que, para
facilitar o aprendizado do aluno, “ele deve trabalhar na necessidade da articulação
com a realidade, o estímulo do estudo de caso, da transposição para outras
situações” (Melo; Urbanetz, 2013, p. 31).
De acordo com Abreu e Masetto (1987), as seguintes condições facilitam o
aprendizado.

 Planejamento do curso: o objetivo será alcançado com melhores resultados


se for feito com a participação dos alunos, pois são levados em conta os
problemas e os interesses deles.
 Definição do conteúdo do curso: novamente deve abranger o interesse do
aluno, buscando a solução de problemas em conjunto entre professor e
aluno.
 Seleção e utilização de estratégias: as estratégias devem ser selecionadas
de formas variadas, buscando-se a integração do grupo, a participação
ativa e a motivação do aluno para o estudo com responsabilidade no
processo de aprendizagem.
 Processo de avaliação: é um procedimento para um feedback contínuo,
resultando em uma aprendizagem mais completa e garantida.
 Características do professor: o professor deve garantir coerência e
segurança na transmissão dos conteúdos, oferecendo aos alunos a
oportunidade de participação por meio de propostas construtivas e abertura
a críticas, bem como manter um bom relacionamento em sala de aula, se
interessando pelas sugestões e dialogando sobre o cotidiano dos alunos.

Não é fácil encontrar uma estratégia que atenda a todos da mesma


maneira. O que se observa, infelizmente, é um professor que, quando solicitado
para explicar novamente, o faz exatamente da mesma maneira que a da primeira
vez. Talvez se, numa segunda exposição, ele utilizasse outra estratégia de ensino,
alcançaria maior número de alunos satisfeitos.
Decerto dentre as estratégias, o desafio continua a ser o maior propulsor
para todos. Libâneo (1994, p. 224) afirma que:

Se queremos conseguir dos alunos autonomia de pensamento,


capacidade de raciocínio, devemos programar tarefas onde os alunos
possam desenvolver efetivamente, ativamente, esses propósitos. Se
temos em mente que não há ensino sem a consolidação de
conhecimentos, a nossa avaliação da aprendizagem não pode reduzir-
se apenas a uma prova bimestral [ou semestral], mas devemos aplicar
muitas formas de avaliação ao longo do processo de ensino.

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Os objetivos que norteiam as estratégias devem funcionar de maneira que
se traduza em resultados concretos para os alunos, sensibilizando-os e
envolvendo-os.

1.1 Etapas do planejamento

A formação do profissional por meio do ensino superior é um caminho


técnico e político, que prepara os estudantes para ser um profissional que
compreende o mundo em que vive (Melo; Urbanetz, 2013).
Pode-se dizer, de acordo com Melo e Urbanetz (2013), que o planejamento
se constitui em três passos: a prática social, a problematização e a
instrumentalização.

 Prática social: o objetivo é criar uma sintonia entre professor, aluno e


realidade. O planejamento nessa etapa pode incluir ações de saídas de
campo, pesquisas em internet, palestras com profissionais da área e
simulações de situações reais em sala. À medida que os conteúdos forem
sendo aplicados e exigirem experiências práticas, elas podem ser
efetuadas para encorpar a fixação da disciplina.
 Problematização: proveniente das práticas sociais, surgem as questões a
respeito do que foi visto em campo; elas devem ser dissecadas para uma
melhor vivência do conteúdo aplicado e para que venham a contribuir com
a solução do problema em questão.
 Instrumentalização: é a etapa em que os estudantes são colocados “à
prova” para responderem teoricamente às experiências vividas na prática
social.

De acordo com Melo e Urbanetz (2013, p. 46), “todo conhecimento tem


sentido se for tomado como instrumento de uma compreensão mais sistemática
sobre a prática social ou então como elemento formativo técnico no seio da
formação profissional”. Continuam os autores, o processo de instrumentalização
é quando serão colocados em pauta as leituras persistentes, o fichamento dessas
leituras, as discussões em sala. Poderá ser o momento para que os educandos
se expressem por meio de seminários, em que tomarão para si a responsabilidade
de dirigir uma aula, contando com a mediação do professor. Esse processo auxilia
no fortalecimento da autonomia do educando.

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TEMA 2 – DOMÍNIOS DO ALUNO

A autonomia não vem de graça aos educandos, ela depende de muito


esforço, trabalho, domínio da prática social, conquista da sensibilidade para a
crítica e questionamentos.
Após todos esses processos, é chegada a hora da catarse, quando o
professor pode se utilizar de vários instrumentos de avaliação; porém, todos
devem ter relação entre a teoria e a prática social.

Notamos que, no ponto de chegada, ou seja, na prática social, os alunos


podem se equiparar com o professor, pelo menos em relação ao
processo que caminharam, porque justamente o papel do professor é
fazer com que, nesse caminho, os estudantes superem uma visão
fragmentada, e construam, com o professor, uma visão sistematizada da
prática social e, portanto, uma compreensão sintética dessa prática,
posição ocupada pelo professor desde o início do processo. Como o
professor também aprende nesse processo, é apenas relativa a
aproximação da posição do professor e dos alunos. (Melo; Urbanetz,
2013, p. 49)

A avaliação é uma tarefa didática permanente para o educador. Ela deve


qualificar não apenas valores em notas, mas deve fazer parte de um processo
maior que envolva todos os passos do processo de ensino-aprendizagem.

TEMA 3 – AULA EXPOSITIVA: SIM OU NÃO?

Muito criticada, a aula expositiva, por transparecer monótona e exaustiva,


é muito pouco questionada em seus princípios (Melo; Urbanetz, 2013). Nesse tipo
de aula, tende a dominar a ideia de que o professor impõe os seus conhecimentos
ao aluno que permanece passivo o tempo todo.
A definição de aula expositiva, segundo Melo e Urbanetz (2013, p. 116), “é
aquela na qual o professor utiliza vários instrumentos para dissertar sobre um
determinado tema ou diversos temas inter-relacionados”. Definição esta que os
autores consideram tão ampla quanto imprecisa, porém condizente com o que
estabelece uma aula expositiva.
Há, também, os professores que, numa aula expositiva, se sentam e, como
faziam os antigos medievais, leem extensos textos numa velocidade inaceitável
para os dias atuais, e os professores que, por meio do tom e ritmo da sua voz,
conseguem prender a atenção dos alunos até a última palavra pronunciada. Para
isso, é claramente visível que a relação interpessoal do professor com o aluno
deve ser de companheirismo. Ainda, de acordo com Melo e Urbanetz (2013),

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numa aula expositiva, o professor pode se utilizar da lousa, do retroprojetor e do
data show, mas de qualquer modo o instrumento principal dessa aula é a fala. Um
expositor experiente pode resumir centenas de páginas e apresentar todas as
principais ideias em condições agradáveis num tempo hábil.
De acordo com Melo e Urbanetz (2013, p. 119):

Quanto às limitações da aula expositiva, salientamos a falta de


dialogicidade, a pouca participação dos estudantes, a uniformização
decorrente da exposição, que abstrai as diferenças entre os estudantes,
inclusive em relação a conhecimentos prévios. Também concorrem para
os limites da aula expositiva o fato de que ela pode dificultar uma
avaliação mais pessoal dos estudantes, assim como favorecer o fato de
que esses passem a estudar apenas pelas anotações realizadas em
aula, dispensando as referências.

Na verdade, então, o que realmente conta pontos positivos ou não numa


aula expositiva é a atitude de professor.

O fato de deter nas mãos os conteúdos e os ritmos das aulas, assim


como deter a maior parte do tempo pela exposição oral, e, logo, pelo fato
de ser o ator principal das aulas expositivas, não significa que
necessariamente o professor se torne autoritário. Ao contrário, a aula
expositiva, é sem dúvida um elemento democratizador na transmissão
de conhecimentos (Melo; Urbanetz, 2013, p. 119)

É incontestável que uma aula expositiva necessita de alguma


meticulosidade no seu planejamento, pois sabe-se que é árduo o trabalho de
chamar atenção dos jovens alunos.

TEMA 4 – COMPETÊNCIAS DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO

O contexto mais relevante da atuação do professor na sala de aula é levar


os estudantes a uma reflexão crítica sobre os temas aplicados. Assim, o professor
instiga e desafia os alunos ao debate, conseguindo que cada um desenvolva o
seu potencial e construa o seu conhecimento (Melo; Urbanetz, 2013). O professor
universitário tem responsabilidade direta pela formação profissional do indivíduo,
e pode garantir, por meio da sua dedicação e do seu saber, que o aluno se
comprometa verdadeiramente com a sua futura profissão. O ambiente na sala de
aula deve ser de curiosidade e insubmissão, sem, é claro, abandonar os
conteúdos, mas trabalhando a rigorosidade metódica na aproximação dos alunos
com os objetos de estudo,

A questão é justamente a forma como se realiza a aproximação entre


acadêmicos e conhecimento, que pode ser de uma forma autoritária,
sem diálogo, ou seja, uma imposição de verdades a serem simplesmente
consumidas pelos acadêmicos, ou pode se dar de uma forma
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democrática, em que professor e acadêmicos, em conjunto, construam
o conhecimento. (Melo; Urbanetz, 2013, p. 152)

Ainda, segundo os autores, é interessante que o professor apresente um


assunto na sala de aula para que se possa debater, porém, é pertinente que ele
provoque seus alunos a expressar suas opiniões, antes da sua, para não
prejudicar a espontaneidade dos acadêmicos para discutirem o assunto, partindo
dos seus pontos de vista sem uma tese na qual possam se apoiar.
Segundo os autores, existem duas questões importantes nesse conceito,
de provocação do professor a uma exploração de opiniões dos acadêmicos:

 desenvolvimento da exposição oral;


 priorização da troca como condição de uma melhor aprendizagem.

O professor, segundo Freire (2003), para estimular os alunos, deve ser o


construtor de sua prática, ou seja, o bom professor não é aquele que adere aos
livros-texto para basear toda a sua atividade pedagógica. O professor deve
procurar se reinventar, inovar, produzir aulas intrigantes e proveitosas. A
transmissão repetitiva de conteúdo, ano após ano, não traz evolução ao aluno e
compromete a ação do professor.

Os textos trabalhados em sala de aula devem estar comprometidos com


a ampliação dos conteúdos para a compreensão da realidade social.
Todo o contexto da formação universitária deve se voltar para uma
formação que se vincule aos anseios da sociedade por uma formação
de qualidade; ao mesmo tempo, essa formação superior precisa
responder às questões colocadas pela realidade, relacionando-se assim,
de forma prática com ela. Não se trata, portanto, da teoria pela teoria,
mas da teoria como uma ferramenta para uma formação sólida e
relacionada com a realidade social [...] Nada pode ser mais danoso para
a sociedade e para a formação profissional em nível superior que sua
alienação em relação ao mundo real. [...] teoria sem prática é teorismo,
mera abstração; a prática sem teoria é mero ativismo. (Melo; Urbanetz,
2013, p. 154)

Todo conhecimento e desenvolvimento é bem-vindo ao professor


universitário: a pós-graduação, o mestrado e o doutorado são aprimoramentos
que somam muito para a autonomia desse profissional.

TEMA 5 – POSTURA DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO

Desde o início do século XX, segundo Melo e Urbanetz (2013), já se


argumenta sobre a neutralidade do professor. Max Weber, em seu livro Ciência e
política: duas vocações (1984), já dedicava essa obra ao assunto. Desse livro,
vamos analisar o texto “Ciência como vocação”. Weber se ocupava, nesse texto,

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com a análise das diferenças entre o sistema alemão de ensino e o norte-
americano, e sua preocupação era

a “americanização” das universidades alemãs, transformadas aos


poucos em “empresas de capitalismo estatal” e nas quais o professor
iniciante (assistente, como nos Estados Unidos, ou o privatdozent, no
caso da Alemanha) transforma-se em mais um trabalhador
proletarizado, destituído de seus meios de trabalho e subordinado a
instâncias superiores, que, no caso das universidades norte-americanas,
inclusive, ditam os planos docentes a serem seguidos, além de
subordinar a continuidade dos trabalhos à presença dos alunos em suas
aulas, como um vendedor de aulas (Melo; Urbanetz, 2013, p. 157)

Ainda, segundo os autores, essa situação se assemelha muito a dos


professores iniciantes do ensino superior brasileiro, no qual existem duas
possibilidades de o professor ingressar nas universidades públicas:

 Concurso público;
 Assistente temporário ou professor colaborador.

Por meio do concurso público, a entrada é garantida por avaliação (provas)


e títulos. A estabilidade só é atingida após três anos de estágio probatório, e,
segundo Melo e Urbanetz (2013), a ascensão dependerá muito do relacionamento
com os colegas do departamento, do tempo e de uma maior graduação.

Dessas relações dependerão o rol de aulas a serem ministradas, a


afinidade do professor com as disciplinas, os cursos em que as
ministrará etc., além do fato inequívoco do acesso ou não a bens
simbólicos, com a participação em bancas, em publicações coletivas, em
projetos, em grupo de pesquisa e outros que ocorrem nos
departamentos das universidades. (Melo; Urbanetz. 2013, p. 158)

A segunda maneira de se ingressar nas universidades públicas é como


professor-colaborador, ou seja, assistente temporário. Geralmente, esses
educadores contam com altas cargas de trabalho, ou são contratados para poucas
disciplinas, e suas chances de ascensão real diminuem. Ao contrário dos
professores concursados, os temporários não contam com a boa sorte que o
tempo trabalhado poderia assegurar (Melo; Urbanetz, 2013).
Há também os professores universitários trabalhando em instituições
privadas, e entre elas há as que se preocupam com a quantidade de alunos e não
com a qualidade de ensino. Porém, várias são as instituições privadas “sérias”,
que priorizam o desenvolvimento intelectual e profissional dos seus acadêmicos.
Pode-se observar que existem inúmeros desafios para o professor universitário
enfrentar tanto no setor público quanto no privado.

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Para Weber, a missão dos professores de ensino superior é outra, e cita
com suas palavras:

Ora, é também verdade, por outro lado, que dentre todas as tarefas
pedagógicas, a mais difícil é a que consiste em expor problemas
científicos de maneira tal que um espírito não preparado, mas bem-
dotado, possa compreendê-lo e formar uma opinião própria – o que, para
nós, corresponde ao único êxito decisivo (Weber, 1984, p. 23)

Ainda, com referência ao livro de Weber, já citado anteriormente, na


terceira parte do texto “ciência como vocação”, ele se mostra contra a presença
da política em sala de aula. Segundo Melo e Urbanetz (2013), “para o autor, nem
os estudantes nem os professores devem trazer questões políticas para a sala de
aula, lócus por excelência da ‘educação científica’, na qual não cabem os ardores
da política”. E ainda adverte:

Certamente, uma coisa é tomar uma posição política prática, e outra


coisa é analisar cientificamente as estruturas políticas e as doutrinas de
partidos. Se, numa reunião pública, discute-se democracia, não se faz
segredo da posição pessoal adotada e a necessidade de tomar partido
de maneira clara se impões, então, como um dever maldito. As palavras
empregadas numa ocasião como essa não são mais instrumentos de
análise científica, mas constituem apelo político destinado a solicitar que
os outros tomem posição. (Weber, 2005, p. 45)

Nesse importante trecho, “encontramos um dos pilares fundamentais da


defesa da neutralidade do professor: o objeto de sua atividade, a ciência,
distingue-se de forma radical da política, não podendo, portanto, ocupar os
mesmos espaços na academia (Melo; Urbanetz, 2013, p. 162).
Segundo Melo e Urbanetz (2013), Weber se posiciona quanto à visão de
trabalho docente:

Em um curso universitário, quando se manifesta a intenção de estudar,


por exemplo, a “democracia”, procede-se ao exame de suas diversas
formas, o devido funcionamento de cada uma delas e indaga-se das
consequências que uma e outra acarretam. A seguir, à democracia
opõe-se as formas não democráticas da ordem política e tenta-se levar
essa analise até a medida em que o próprio ouvinte se ache em
condições de encontrar o ponto a partir do qual poderá tomar posição,
fundamentado em seus ideais básicos. (Weber, 2005, p. 45-46)

Os vários pontos de vista, para Weber, seriam um processo para anular a


tomada de posição do educador, o que seria uma visão simples da realidade, uma
vez que cada regime diferente da democracia é um regime, e disputa com os
outros a hegemonia. “Explanar sobre os diferentes modos em que aparece a
democracia, na verdade, é uma boa maneira de lecionar, sem dúvida, mas não
podemos dizer que seja neutra” (Melo; Urbanetz, 2013, p. 164).

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Weber deixa um alerta sobre a relação professor–aluno: “o verdadeiro
professor terá escrúpulos de impor, do alto de sua cátedra, uma tomada de
decisão qualquer, tanto abertamente quanto por sugestão – já que a maneira mais
desleal é evidentemente a que consiste em ‘deixar os fatos falarem’” (Weber,
2005, p. 46).
Ainda sobre a neutralidade weberiana, os autores afirmam a “atuação do
professor é uma luta legítima contra o autoritarismo do professor, que se vale de
sua posição de superioridade em relação aos acadêmicos para impor-lhes as suas
‘verdades’ como ‘verdades absolutas’”.
Cabe à ciência a busca pela verdade, por intermédio de meios atestados
pela academia, verdade esta que não é neutra, pois ela interessa à população
mais carente, que é a maior vítima da alienação das condições essenciais de vida,
para a qual “é negado o acesso à verdade histórica, o que impede a produção
coletiva de um projeto social alternativo” (Melo; Urbanetz, 2013, p. 171).
O professor universitário enfrenta inúmeros tipos de crise em nosso país.
“A crise das ciências sociais e humanas, crise de paradigmas, crise da teoria, crise
da verdade, todas subsumidas ao valor de troca, na mercadorização da educação,
que em tudo é contraria a um projeto de formação de consciências críticas” (Melo;
Urbanetz, 2013, p. 171).
Diante dessa exposição de ideias e conceitos sobre organização e
estratégias pedagógicas para o ensino superior, ficam aqui alguns desafios
citados para o professor na atualidade:

 Assumir o ensino como mediação, estabelecendo-se a aprendizagem ativa


do aluno com a ajuda pedagógica do professor [...];
 Modificar a ideia de uma prática disciplinar, formal, para uma prática
interdisciplinar, isso porque o conhecimento humano não se produz em
“gavetinhas” isoladas [...];
 Conhecer e utilizar estratégias do ensinar a pensar, a refletir, a analisar,
visto que, na realidade, não se aceita mais profissionais que não sejam
capazes de atuar criticamente [...];
 Observar o contexto da sala, dos alunos, quanto à diversidade cultural,
entendendo que esta, riqueza fundamental de nossa cultura e de nosso
país, é um aspecto importantíssimo para o desenvolvimento da ética, do
respeito e da humanização que tanto almejamos;

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 Investir na atualização científica, pedagógica e cultural, ou seja, estar
permanentemente em formação, entendendo que isso não é apenas
técnica, mas também didática cultural;
 Incluir a perspectiva afetiva no exercício da docência, já que o ser humano
é um ser afetivo [...];
 Considerar a técnica na sua atuação e desenvolvê-la com os alunos [...];
 Estar atento às possibilidades das novas tecnologias da comunicação e da
informação [...].

Esses desafios e outros auxiliam o professor do ensino superior a manter


um compromisso assíduo com a formação profissional dos seus alunos.

Saiba mais

Observe agora, algumas indicações relevantes ao nosso estudo:

 ESCRITORES da Liberdade (2007). EUA: Paramount Pictures do Brasil.


O filme apresenta a possibilidade de diferentes estratégias de ensino.
 O PROFESSOR universitário em aula. São Paulo: MG, 1987. EUA: Columbia
Pictures.
 A SOCIEDADE dos Poetas Mortos (1989). EUA: Buena Vista Pictures.
O filme apresenta uma escola na qual a disciplina era imposta de maneira
totalmente autoritária, quando um novo professor chega com uma metodologia
diferente, interativa e promove o bom relacionamento entre professor/aluno.

FINALIZANDO

O currículo e o planejamento do professor universitário

1. Currículo;
1.1 Etapas do planejamento;
2. Domínios do aluno;
3. Aula expositiva: sim ou não?;
4. As competências do professor universitário;
5. Postura do professor universitário.

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LEITURA OBRIGATÓRIA

Texto de abordagem teórica

Interação e formação de vínculos – um caminhar lado a lado:

HERCULANO, M. C. Afetividade na relação professor-aluno: significados sob


o olhar do professor do ensino médio. 130 f. Dissertação (Mestrado em Educação)
– Centro de Educação, Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2011. Seção
3.1. Disponível em: <http://uece.br/ppge/dmdocuments/disserta%C3%A7%C3%
A3o%20M%C3%81RCIA.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2018.

Texto de abordagem prática

SCARINCI, A. L.; PACCA, J. L. A. O planejamento do ensino em um programa de


desenvolvimento profissional docente. Educ. rev., v. 31, n. 2, p. 253-279, 2015.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-46982015000200253
&script=sci_abstract&tlng=pt>. Acesso em: 10 jul. 2018.

Saiba mais

NOVA Escola: aspectos do planejamento escolar – Priscila Monteiro. Nova


Escola, 11 dez. 2009. Disponível em:
<https://novaescola.org.br/conteudo/3967/aspectos-do-planejamento-escolar>.
Acesso em: 10 jul. 2018.

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REFERÊNCIAS

ARREDONDO, S. C. Ensine a estudar, aprenda a aprender: didática do estudo.


Vol. 1. Curitiba: InterSaberes, 2012.

MELO, A; URBANETZ, S. T. Organização e estratégias pedagógicas. Curitiba,


InterSaberes, 2013.

SUHR. I. R. F; SILVA, S. Z. Relação professor-aluno-conhecimento. Curitiba:


InterSaberes, 2012.

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