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A tentativa de abordar a Amazônia em “uma

perspectiva temporal (memória), em um


campo epistemológico e/ou hermenêutico (interpre-
tação) e numa relação dialógica/dialética (alterida-
de)” trouxe-nos à realização deste evento de encer-
ramento do Projeto PROCAD Amazônia, escritas
possíveis: memória, interpretação, alteridades,
que envolveu os programas de pós-graduação de três
universidades: UFAM, UEA e UnB. Nestes três dias
de discussão, pretende-se expandir a percepção de
uma Amazônia plural, cuja singularidade, paradoxal-
mente, pode ser percebida em processos culturais,
aqui discutidos a partir da literatura e de uma parce-
la dos saberes não acadêmicos da região. As mesas
e os eixos temáticos norteadores propõem discus-
sões sobre saberes e processos culturais, reagindo
à exotização da região, por um lado, e, por outro,
denunciando as crises humanitárias que se têm vivi-
do nos últimos anos: pandemia, mortes por falta de
uti, oxigênio e vacina, genocídio Yanomami, rejeição
e ataques a imigrantes e refugiados latino-america-
nos, urbanização caótica e desordenada, queima-
das, crise climática e outras consequências de uma
exploração irracional da floresta. Ao se pensar como
a variação climática é consequência de um processo
predatório de exploração de riquezas e causa de ou-
tros problemas, como a seca histórica e a desorga-
nização de uma sociedade que depende das águas
para funcionar, entende-se a necessidade premente
de discussões desses processos em nossa área de
atuação, professores que somos.
Nesse sentido, as discussões prosseguem em
simpósios temáticos, sempre partindo da literatu-
ra, organizados nos seguintes eixos temáticos,
que nos permitem pensar, inclusive, temáticas
e situações análogas em outros locais do mapa-
-múndi:
1. Amazônia, literatura e outras artes
2. Amazônia, literatura e crises humanitárias
3. Amazônia, literatura e resistência
4. Para além da Amazônia – a literatura em ou-
tras geografias e contextos culturais.

Inscrições:
25 de janeiro a 01 de abril de 2024.

Mais informações no link:


https://doity.com.br/seminario-amazonia-litera-
tura-saberes-resistencia
Allison
Leão

Doutor em Letras: Estudos Literários - Literatura Comparada, pela


Universidade Federal de Minas Gerais (2008), mestre em Sociedade e
Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas (2002)
e graduado em Pedagogia pela mesma instituição (2000). É professor
Associado da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), atuando
no curso de graduação em Letras (cadeiras de Literatura Brasileira e
Teoria da Literatura) e no Programa de Pós-graduação em Letras e
Artes. Foi professor da Educação Básica por 15 anos. Co-lidera, com
a Profa. Dra. Luciane Páscoa, o grupo de pesquisas Investigações so-
bre Memória Artística e Cultural do Amazonas (MemoCult), que atua
nas linhas de pesquisa: “Arquivo, memória e interpretação” e “Teoria,
crítica e processos de criação”. No MemoCult dirige a Segunda Ofici-
na Laboratório Editorial, selo da Editora da UEA, além de desenvolver
projetos sobre arquivos literários na Amazônia e processos de cria-
ção de escritores amazonenses.
Anderson
da Mata

Professor Associado de Teoria da Literatura na Universidade de


Brasília; membro permanente do Programa de Pós-Graduação em
Literatura. Dedica-se à pesquisa sobre a literatura brasileira contem-
porânea, em temas como infância, representação da nação, o pró-
prio conceito de representação e o ensino de literatura na escola e
na universidade. Foi pesquisador visitante na Università di Bologna,
onde desenvolveu pesquisa de pós-doutorado sobre a obra de João
Gilberto Noll. Entre seus interesses mais recentes, estão os estudos
sobre o tempo na narrativa, com seus desdobramentos em leituras
sobre a colonialidade e sua permanência na contemporaneidade
e sobre o que pode a leitura de literatura no presente e no futuro.
Membro do Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporâ-
nea (CNPq) e do GT Literatura Brasileira Contemporânea da ANPOLL.
Bernardo Ale
Abinader
Graduado em Letras Língua Inglesa pela Universida-
de Federal do Amazonas (UFAM) e em Produção Audio-
visual pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA).
É mestre em Letras pela UFAM e doutor em Letras do
Programa de Pós-graduação em Literatura (POSLIT)
da UnB. É professor da SEDUC - Secretaria estadual de
educação. Foi professor substituto da UFAM e profes-
sor de Letras na UNINORTE. Bernardo também é dire-
tor e roteirista de cinema, tendo sido premiado em im-
portantes festivais nacionais e internacionais.
Fabio Tadeu
Stoller

Surdo, Professor e Pesquisador. Mestre Profissional em Diversidade e


Inclusão (linha de pesquisa: Interdisciplinaridade e Ensino) - pelo Curso de
Mestrado Profissional em Diversidade e Inclusão (CMPDI) na Universidade
Federal Fluminense (UFF). Pós-graduado (Especialista) em “Educação de
Surdos - Uma Perspectiva Bilíngue em Construção”, pelo Instituto Nacional
de Educação de Surdos (INES). Licenciado em Letras-Libras, pela Universi-
dade Federal de Santa Catarina (UFSC). Atualmente é Professor Assistente
Nível AI (DE), atuando em diversas atividades acadêmicas pela Faculdade
de Letras (FLet), e no âmbito da Universidade Federal do Amazonas - UFAM
- Manaus/AM. Membro dos Grupos de Pesquisas “Observatório de Ensino
de Línguas” CNPQ e “Narrativas, Mídias e Discursos” UFAM, na área de co-
nhecimento Linguística, Letras e Artes, na Universidade Federal do Ama-
zonas - UFAM. Coordenador do Programa Institucional de Extensão e Pes-
quisas em Língua Brasileira de Sinais no Amazonas “LIBRAS & TRILHAS”, da
Universidade Federal do Amazonas - UFAM. Coordenador do Polo UFAM
de Apoio Presencial ao Curso de Pedagogia Bilíngue - Licenciatura Onli-
ne/EaD - do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) - (desde jU-
lho/2019); Coordenador da Task WP1-Libras do Projeto SUPER-UFAM.
Flávia Melo

Antropóloga amazônida da periferia manauara. Mes-


tra em Antropologia Social pela Universidade de Cam-
pinas (Unicamp) e doutora pela Universidade de São
Paulo (USP). Cursou Ciências Sociais na Universidade
Federal do Amazonas (UFAM), onde é professora desde
2009. Pesquisa relações de gênero, violências, políticas
públicas, endividamento e fronteira na região amazô-
nica, principalmente no Alto Rio Solimões e Alto Rio
Negro, sempre da perspectiva interseccional. Pertence
ao corpo docente do Departamento de Antropologia
(IFCHS/UFAM) e atualmente integra a Diretoria da As-
sociação Brasileira de Antropologia - ABA (2023-2024).
Jackson
da Silva Vale
Graduação em PEDAGOGIA - FACULDADE MARTHA
FALCÃO (2009) e Graduação em LETRAS/LIBRAS - UNI-
VERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC
(2010). Especialização de Educação Especial e Inclu-
siva. Professor da Universidade do Estado do Amazo-
nas/UEA. Mestre em Educação e Ensino de Ciências na
Amazônia, pelo Programa de Pós-Graduação - PPGEE-
CA da Universidade do Estado do Amazonas. Membro
da Comissão de Políticas Institucionais de Inclusão das
Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais.
Juciane
Cavalheiro

Professora Associada do curso de Letras da Univer-


sidade do Estado do Amazonas. Atua nos Programas
de Pós-graduação em Letras e Artes da UEA e no Pro-
grama de Pós-graduação em Letras da Universidade
Federal do Acre. Graduada em Letras e Mestrado em
Linguística Aplicada pela UNISINOS-RS. Doutorado em
Linguística pela Universidade Federal da Paraíba. Pós-
-doutorado em Literatura pela UnB. Tem se dedicado,
nos últimos anos, ao estudo da recepção da fortuna
crítica da obra de Milton Hatoum.
Luciane Maria
Legeman Salorte

É professora do Curso de Língua e Literatura Portu-


guesa da Faculdade de Letras, na Universidade Federal
do Amazonas.
Possui mestrado em Sociedade e Cultura na Ama-
zônia pela Universidade Federal do Amazonas e atual-
mente cursa doutorado em História da Literatura
na Universidade Federal do Rio Grande. Temas de in-
teresse: ensino de língua portuguesa e de literatura, li-
teratura indígena, oralidade, decolonialidade.
Luciane
Páscoa
É doutora em História Cultural pela Universidade do Porto (FLUP-
UP, Portugal) (2006) mestre em História pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC -SP (1997), graduada em Artes Plásticas
(1992) e Música (1993) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho - UNESP. Atualmente é professora associada da Uni-
versidade do Estado do Amazonas, vinculada ao departamento de
Música e ao Programa de Pós-graduação em Letras e Artes. Ainda
nesta instituição, lidera o grupo de pesquisa e laboratório “Investiga-
ções sobre memória cultural em artes e literatura - MemoCult “, e co-
lidera o Laboratório de Musicologia e História Cultural. Dirige o grupo
de trabalho do RIdIM-Brasil (Repertório Internacional de Iconografia
Musical), no Amazonas. É autora dos livros “Artes Plásticas no Ama-
zonas: o Clube da Madrugada (Editora Valer, 2011), “Álvaro Páscoa:
o golpe fundo” (EDUA, 2012) e coorganizadora de “Alteridades con-
sonantes: estudos sobre música, literatura e iconografia” (FAPEAM/
PPGLA/Valer, 2013) e de “Música em Diálogo” (Editora UEA, 2019). Em
2022, realizou estágio pós-doutoral no PPGMUS – UNICAMP com fi-
nanciamento do Procad- Amazônia/CAPES.
Luzia
Gomes

É baiana do Recôncavo, radicada em Belém do Pará;

poeta; feminista negra; professora do curso de Museo-

logia na Faculdade de Artes Visuais (FAV), do Instituto

de Ciências da Arte (ICA), da Universidade Federal do

Pará (UFPA). Doutora em Museologia; Mestra em An-

tropologia Social e Bacharela em Museologia.


Marcos Roberto
dos Santos

Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Linguís-


tica da Universidade de Brasília (PPGL/UnB), possui mes-
trado em Letras e Artes pela Universidade do Estado do
Amazonas, especialista em Docência no Ensino Superior
pela Faculdade Afirmativo e em Tradução e Interpretação
de Libras pela UNIRONDON, graduação em Secretariado
Executivo pela Faculdade Afirmativo. Certificado pelo Exa-
me Nacional de Proficiência em Tradução e Interpretação
de Libras (PROLIBRAS) e no Exame Nacional de Proficiên-
cia no Uso e no Ensino de Libras para Nível Superior (PRO-
LIBRAS). É professor assistente na Universidade do Estado
do Amazonas (UEA), líder do Grupo de Estudos e Pesqui-
sas em Línguas de Sinais na Amazônia (GEPELISA) e coor-
denador da Coordenação de Políticas para a Pessoa Surda
- COPPS/PROGRAD/UEA.
Michele Eduarda
Brasil de Sá

Doutora em Letras (UFRJ). Professora da Faculdade


de Letras (UFRJ) e ex-bolsista PNAP da Fundação Bi-
blioteca Nacional (2021). Realiza estágio de Pós-dou-
torado no PPGL/UFAM, trabalhando na elaboração da
Plataforma Shiori, página que disponibiliza conteúdo
relacionado às relações Brasil-Japão através da litera-
tura. Autora do livro “A imigração japonesa no Amazo-
nas à luz da Teoria das Relações Internacionais” (EDUA,
2010).
Natali Fabiana da
Costa e Silva
Doutora em Estudos Literários, é professora da área
de Teoria Literária e docente credenciada ao Programa
de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal
do Amapá (UNIFAP). É líder do Grupo de Pesquisas so-
bre Mulheres na Literatura e vice-líder do GRIOT – Gru-
po de Pesquisa em Literaturas Pós-coloniais. Integra o
Grupo de Trabalho “A mulher na literatura: crítica fe-
minista e estudos de gênero”, da Associação Nacional
de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística
(ANPOLL). Desenvolve estudos na área de literatura de
autoria feminina a partir da perspectiva decolonial com
ênfase nas produções literárias da Guiana Francesa e
do Suriname
Pedro
Mandagará

É professor de Literatura Brasileira na Universidade


de Brasília e chefe do Departamento de Teoria Literá-
ria e Literaturas (TEL-UnB). É doutor em Letras (Teoria
da Literatura) pela PUCRS e bacharel em Filosofia pela
UFRGS. Faz parte do Grupo de Estudos em Literatura
Brasileira Contemporânea (GELBC-UnB). Nos últimos
anos, tem pesquisado as literaturas dos povos indíge-
nas.
Roberta
Paredes Valim

Graduada em Licenciatura Plena em Artes Plásticas


pela Universidade Federal do Amazonas - UFAM e Mes-
tre em Filosofia pelo Instituto de Estudos Brasileiros
da Universidade de São Paulo - IEB/USP. É professora
efetiva da Faculdade de Artes da Universidade Federal
do Amazonas - FAARTES/UFAM e atua também como
colaboradora na Licenciatura Formação de Professo-
res Indígenas - FPI/FACED da mesma instituição. Des-
de 2023 coordena o Programa de Extensão Galeria de
Arte da UFAM - GAU.
Sebastião
Reis de Oliveira
Mestre em Letras e Artes na área de concentração repre-
sentação e interpretação, linha de pesquisa Linguagem,
Discurso e Práticas Sociais pela Universidade do Estado
do Amazonas; Especialista em Educação Especial Inclusi-
va pela Universidade Federal do Amazonas; Graduação em
Normal Superior pela Universidade do Estado do Amazo-
nas; Graduação em Pedagogia pelo Centro Universitário
Leonardo da Vinci; Certificado pelo Ministério da Educação
e Universidade Federal de Santa Catarina em Proficiência
no Uso e no Ensino da Língua Brasileira de Sinais. Bacha-
rel em Letras-LIBRAS pela Universidade Federal de Santa
Catarina - Polo IFAM. Pesquisador do Grupo de Estudos e
Pesquisas de Língua de Sinais na Amazônia - GEPELISA.
Exerce o magistério superior na Universidade do Estado do
Amazonas na disciplina Língua Brasileira de Sinais e Edu-
cação Especial. Realiza trabalhos e atividades como tradu-
tor/intérprete da Língua Brasileira de Sinais.
Sony
Ferseck
Sony Ferseck em poesia, Wei Paasi, em Makuxi maimu,
pertence ao povo Macuxi. É poeta, escritora, palestrante,
pesquisadora. Pós-doutoranda no PPGL/UFRR. Doutora
em Literatura na UFF, mestre em Literatura, Artes e Cul-
tura Regional e graduada em Letras/Inglês pela UFRR. Foi
professora substituta no Instituto de Formação Superior
Indígena Insikiran da UFRR entre 2020 e 2022. Além de sua
pesquisa, ela se dedica às suas próprias produções literá-
rias como Pouco Verbo (2013), Movejo (2020) e Weiyamî:
mulheres que fazem sol (2022). Co-fundadora, junto com
Devair Fiorotti, da primeira editora independente de Rorai-
ma, Wei. Foi semifinalista na categoria poesia do 65º Prê-
mio Jabuti com o livro Weiyamî: mulheres que fazem sol,
uma homenagem às mulheres indígenas.
Vanessa
Miranda

Professora Adjunta da Universidade Federal do Ama-


zonas (UFAM) no Departamento de Teorias e Funda-
mentos (DTF) da Faculdade de Educação (FACED). Do-
cente no Programa de Pós-Graduação em Educação
- PPGE/UFAM. Doutora em Psicologia (Psicologia So-
cial) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC-SP).
EIXOS PARA COMUNICAÇÃO
Simpósios temáticos

1. AMAZÔNIA, LITERATURA E OUTRAS ARTES

Um passeio pelas pinturas no interior do Teatro


Amazonas ou pelas quase mil obras da Pinacoteca do
Estado revela os muitos olhares que artistas plásticos
lançaram sobre a Amazônia. Por mãos de estrangeiros
e de brasileiros, o espaço toma a forma de um mosai-
co de percepções. As temáticas que permeiam essas
imagens são quase sempre providas de um imaginário
construído pelo europeu e intensificado pelos diferen-
tes e reforçados conceitos que se lançavam sobre a re-
gião, fundando o que se pode chamar de uma tradição
imagética da Amazônia. O livro Viagem pelo rio Ama-
zonas, de Paul Marcoy, por exemplo, traz diversas ilus-
trações da aventura que o viajante europeu realizou du-
rante o século XIX. As anotações, desenhos e aquarelas
que compõem a obra expõem a visão de Marcoy sobre a
geografia amazônica, ao estilo da época: o Outro como
exótico, bárbaro, fortemente marcado pela visão do eu-
ropeu civilizado. Os relatos e pinturas de Viagem pelo rio
Amazonas são apenas uma amostra de como a extensa
área localizada ao norte da América do Sul foi, e em cer-
ta medida continua sendo, arquivada: como massa ver-
de, camuflando realidades complexas e subjacentes no
interior do ecossistema. De tal modo, da herança deixa-
da pela tradição, poder-se-ia falar em “Amazônias”: dos
colonizadores, dos religiosos, dos naturalistas, dos via-
jantes. Todas perpassadas por um aspecto em comum:
o imaginário ocidental e certa dose de ficção, que não
raramente alimenta(ra)m as imagens literárias sobre
essa geografia. Por outro lado, se dermos um salto no
tempo, vamos notar, sobretudo no século XXI (mas não
apenas), uma produção visual originária de artistas da
Amazônia, seja em linguagem cinematográfica, seja em
muitas telas e exposições, que vão desde conceitos e
linguagens tradicionais das artes ocidentais, até supor-
tes que bebem diretamente nas culturas dos povos in-
dígenas. Nessas últimas produções, outras concepções
estéticas, políticas, sociais e culturais emergem, mui-
tas vezes como forma de contestação de olhares colo-
niais que perpassaram as primeiras produções acerca
da Amazônia (ribeirinha, rural, urbana). Tomando esse
cenário, este simpósio espera receber propostas de co-
municação que versem sobre a relação entre literatura
e outras artes (cinema, pintura, HQ, música etc.), a partir
da realidade amazônica: sejam aquelas produções que
versem sobre a floresta, sejam aquelas que se situem
em contextos urbanos; sejam produtos de autoria de ar-
tistas e de escritores amazônidas, sejam aqueles produ-
tos artísticos em que a Amazônia aparece apenas como
tema.

2. AMAZÔNIA, LITERATURA E CRISES HUMANITÁRIAS

Pensar Amazônia requer lançar olhar para questões


que permeiam um processo identitário que não se esta-
belece sem ser profundamente tocado tanto pelas múl-
tiplas ancestralidades quanto pelas marcas de uma co-
lonialidade que, por diferentes meios, fez-se constância
e permanência nesse nosso lugar. Assim, o “eu” que so-
mos, enquanto amazônidas, não se delineia em apenas
uma face e se configura entre lutas de territorialidade
geográfica, cultural, ideológica, econômica, social, polí-
tica, religiosa, epistemológica e estética. Nessa disputa
permanente, ergue-se uma Amazônia que, para além
do lugar-floresta, ufanista e exótico, próximo-distante,
nas palavras de Paes Loureiro em Cultura amazônica:
uma poética do imaginário (1995), é lugar de encontro
e permanência das vozes que, juntas, formam o eu-nós
que nos estabelece a partir de nossas tradições orais, de
nossa memória, de nosso imaginário não canônico e não
estrutural. Não se pode, portanto, discutir as crises hu-
manitárias que vivenciamos, em todo o curso de nossa
história, sem considerar esse processo identitário, que
se forja e existe desse modo. Somente para mencionar
as mais recentes, lembremos da crise dos Yanomami,
diretamente relacionada ao parco combate ao garimpo
ilegal, que trouxe à luz problemas estruturais nada no-
vos, e da crise da seca dos rios da região e consequen-
tes queimadas, que colocou em estado de calamidade
e emergência, no ano de 2023, diversos municípios. O
que ambas nos mostram é o que está aí desde sempre:
precarização do acesso básico às condições de subsis-
tência e ausência de políticas públicas de longo prazo
em favor do bem coletivo. Silenciamento, violência, su-
balternização são, assim, permanências, que nos levam
a refletir, no espaço da literatura em contexto amazôni-
co, que é preciso resistir e enunciar a partir do “eu-nós”,
de nossas identidades que se firmam nas vivências que
não se aceitam mais submissas aos mecanismos de do-
minação, cooperando, dessa feita, para a desconstru-
ção de uma perspectiva de saber que, assumindo, por
tantos séculos, como discurso de verdade, somente as
epistemologias europeias, enxergou-nos sempre a par-
tir do olhar próximo-distante, caricatural. A literatura,
nesse nosso lugar carregado de sentidos e significados,
individual e coletivamente experienciado por nós, é,
portanto, espaço de vozeamento das nossas multiplici-
dades, dessas nossas identidades que nos estabelecem,
ao mesmo tempo, como indígenas, ribeirinhos e urba-
nos. Amazônidas. Isso posto, o que este simpósio espera
é receber propostas de comunicação que se debrucem
sobre a relação entre a literatura e as questões que per-
meiam as identidades amazônicas, considerando suas
multifaces e os processos de resistência que narrar/ex-
pressar essas identidades envolvem, o que perpassa as
crises humanitárias que, historicamente, estabelecem-
-se nesse território.

3. AMAZÔNIA, LITERATURA E RESISTÊNCIA

As narrativas iniciais sobre a Amazônia, a dos cro-


nistas do “descobrimento”, deixaram rastros e nos fazem
constatar que as histórias contadas e os discursos pro-
feridos sobre a região foram e são controlados e selecio-
nados, com o intuito de gerar um sistema de exclusão
do Outro (Foucault, 2007), pois montou-se uma engre-
nagem de poder que fez calar quem não tinha voz, para
deixar o registro sobre a outra História: a dos vencedo-
res. As crônicas escritas por eles trazem algumas mani-
festações simbólicas e factuais sobre a região que têm
sido repetidas: a de não ser genocídio a morte sistemáti-
ca de povos indígenas, a dos mitos, a do infernismo ver-
sus edenismo, a do tombamento, pela morte, dos seus
representantes invisíveis. Isso nos faz lembrar o caso da
artista de rua, Julieta Hernández Martínez, venezuela-
na, mulher, violentada e morta brutalmente em Presi-
dente Figueiredo (AM). Na busca da saída dos modelos
prontos e opressores, ela tornou-se mais uma a sucum-
bir aos ciclos de violência contra a mulher. Julieta Her-
nández representa as resistências femininas, ente social
individual, que se contrapõe a um modelo hegemônico
excludente; por outro lado, os Mura, sujeitos coletivos,
também resistiram às várias empreitadas colonizado-
ras, como se percebe da leitura do poema Muhuraida
(1785) e dos fatos históricos subjacentes ao narrado. Os
confrontos com os indígenas e com os negros no Brasil
continuam acontecendo, pois há, nos conflitos, forças e
sujeitos com desejos e quereres antagônicos, algo que
tem marcado as relações coloniais para a África (Frantz
Fanon, 2005; 2008), algumas partes da América do Sul
e, por extensão, para a Amazônia. As narrativas ou escri-
tas de resistência (s) não resgatam somente o que foi
dito num passado distante, elas nos põem diante dos
silêncios da História ou das histórias do presente, uma
vez que nos possibilita ter acesso à voz dos que foram
calados, porque resistiram, ao não aceitarem a imposi-
ção dos outros (BOSI, 1996). Afinal, quem são “Os con-
denados da terra” que vêm resistindo? O simpósio visa
acolher propostas que tragam possibilidades de análi-
ses de textos literários norteados por estratégias de re-
sistência dos sujeitos amazônicos: o caboclo, o negro, o
indígena, as suas narrativas míticas, as vozes resistentes
à ditadura militar entre outros e a outras formas perma-
nentes de dominação e controle.
4. PARA ALÉM DA AMAZÔNIA – A LITERATURA EM OUTRAS
GEOGRAFIAS E CONTEXTOS CULTURAIS

A literatura pode nos ajudar a refletir, a pensar so-


bre nós mesmos, sobre a nossa condição. Pode, ainda,
nos ajudar a entender o momento em que vivemos, o
tempo no qual nos encontramos. Antonio Candido re-
fletiu sobre o papel que a literatura exerce na vida do
ser humano e indagou se ela pode ser igualada a um
bem tão necessário quanto a liberdade, saúde ou edu-
cação. É por considerá-la um “fator indispensável de hu-
manização” que o autor entende a literatura como se-
melhante àqueles bens, visto que lhe cabe confirmar “o
homem na sua humanidade” (Candido, 2011). A literatu-
ra tem um papel muito importante e desafiador nos no-
vos tempos, com tanta possibilidade de censura e com
tantas limitações. Ela está, todavia, cada vez mais viva
com novos protagonismos, com outras vozes surgindo,
trazendo novas perspectivas, o que enriquece e amplia
a reflexão sobre o mundo no qual vivemos. Diante do
exposto, este Simpósio acolherá propostas de comuni-
cação que discutam a literatura em outras geografias
e contextos culturais, com o compromisso de fomen-
tar o debate crítico sobre a literatura em suas diferentes
manifestações, abarcando diversos enfoques teóricos e
metodológicos, acolhendo comunicações que estabe-
leçam diálogo entre literaturas e as áreas do conheci-
mento que as circundam e atravessam, como história,
filosofia, sociologia, antropologia, e outras.
PROGRAMAÇÃO
24 de abril

9h – 12h
SIMPÓSIOS TEMÁTICOS – remoto

14h - Mesa de abertura

14h30 - 16h15 - Auditório Rio Amazonas (FES-UFAM)


As poesias de mulheres negras na Amazônia Paraense:
percursos de letras d’água
Luzia Gomes Ferreira (UFPA)

Weiyâmi pata’ maimu: as palavras do sol nos territórios


da literatura
Sony Fersec (UFRR)

16h30 – 18h15 - Auditório Rio Amazonas (FES-UFAM)


A Amazônia na literatura japonesa: recortes e retratos.
Michele Eduarda Brasil de Sá (PD – UFAM)

Fanm difé: a literatura de autoria feminina na Guiana


Francesa.
Natali Fabiana da Costa e Silva (UNIFAP)

18h50 – 20h30 - Auditório Rio Amazonas (FES-UFAM)


Amazonas: natureza, ficção e sistema literário
Allison Leão (UEA)

Migrando para Manaus: sobre algumas cenas de ‘A que-


da do céu’ e ‘Canumã: a travessia’
Pedro Mandagará Ribeiro (UnB)
PROGRAMAÇÃO
25 de abril

9h – 12h
SIMPÓSIOS TEMÁTICOS – remoto

14h – 16h
SIMPÓSIOS TEMÁTICOS
Salas da FLet

16h30 – 18h15 - Auditório Rio Amazonas (FES-UFAM)


As personagens femininas subalternas em romances
de Milton Hatoum
Juciane Cavalheiro (UEA)

Velocidade e lentidão: temporalidades em conflito em


narrativas amazônicas
Anderson Nunes da Mata (UnB)

18h30 - 20h15 - Auditório Rio Amazonas (FES-UFAM)

Possibilidades e desafios na criação de narrativas audio-


visuais amazônicas: decolonização, precariedade e re-
sistência
Bernardo Alê Abinader (Seduc – AM)

O banho de Ceci (1883), de Aurélio de Figueiredo: a tra-


dição iconográfica na paisagem animada
Luciane Páscoa (UEA)
PROGRAMAÇÃO
26 de abril

9h – 12h
SIMPÓSIOS TEMÁTICOS – Presencial
Salas da FLet

14h – 15h45 - Auditório Rio Amazonas (FES-UFAM)


LIBRAS & TRILHAS – Expandindo trilha de saberes da
língua de sinais brasileira e educação de surdos no ama-
zonas por meio de ações extensivas universitária
Fabio Tadeu Stoller (UFAM)

PROJETO ESCOLA DE LIBRAS DA UEA: uma análise dis-


cursiva crítica do público atendido
Jackson da Silva Vale - Marcos Roberto dos Santos – Se-
bastião Reis de Oliveira (UEA)

16h – 17h45 - Auditório Rio Amazonas (FES-UFAM)


Movimentos de mulheres indígenas e suas lutas por di-
reitos à cidadania cultural em Manaus
Vanessa Miranda (UFAM)

Políticas de escrita na Antropologia: a (auto)etnografia


como cura.
Flavia Melo da Cunha (UFAM)

18h30 – 20h15 - Auditório Rio Amazonas (FES-UFAM)


Escrituras indígenas: uma conversa sobre textualidade
Luciane Salorte (UFAM)

A criação da pesquisa na licenciatura indígena: experi-


ências e atravessamentos
Roberta Paredes Valim (UFAM)

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