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Ko’ko Wei, Amooko

Makunaimî: os avós dos


Makuxis nas escritas do mundo

Profª drª Sonyellen F.F. Fiorotti (Sony Ferseck/ Wei Paasi) - Pós doc/ PPGL/UFRR )
Roraima – Rorô-ímî (Monte Verde)/ Wei
Paata – As terras de Wei
• Monte Roraima ou Wadakä: árvore de todos os frutos
• Região circum-Roraima: tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e
República Cooperativista da Guyana
• Estado mais setentrional do país, capital Boa Vista - Kuwai Kîrî (Monte
dos Buritizais).
• Duas da maiores Terras Indígenas do Brasil: Terra Indígena Raposa
Serra do Sol e Terra Indígena São Marcos;
• Quinta maior população indígena do país com 97.320 pessoas e segunda
capital com maior quantidade absoluta de pessoas indígenas. 73,38% vive
em Terras Indígenas (IBGE, 2022).
• 60% do território do estado está acima da linha do Equador.
• Muito antes da invasão colonizadora, os povos indígenas vêm
espalhando suas palavras cantadas, contadas e de cura.
• Tudo tem palavra, logo tem canto, basta reaprender a ouvir.
• Alianças afetivas (KRENAK; COHN, 2015)
• Amizade cosmológica (RIBEIRO, 2022); Poema do mundo
(RIBEIRO, 2022)
• Palavra indígena é feita de várias matérias: palha, barro, pedra.
• Perspectivismo ameríndio (LIMA, 1985; VIVEIROS DE
CASTRO, 1985) enfatiza o devir animal.
Wei e Makunaimî
• Wei: Sol em Makuusi Maimu
• Makunaimî: filho do sol
• o sol é um indígena que depois de um mergulho nas águas de um rio,
aprisiona a entidade Tuenkarón, só libertando-a depois que ela
promete dar-lhe uma esposa. Assim, depois de testar as mulheres feitas
de argila branca e de cera em atividades cotidianas que iriam
desempenhar como sua esposa, nenhuma logra sucesso. A primeira
desmancha ao entrar em contato com a água quando o homem lhe
pede que busque água no rio.
A segunda derrete frente ao fogo quando o homem pede que ponha fogo
num monte de folhas. Enfim, testa a mulher de pele avermelhada e feita
de “pedra de fuego”, provavelmente jaspe, pedra abundante na região da
divisa entre Brasil e Venezuela, que logra sucesso em cumprir os
afazeres a que foi destinada, tornando-se assim sua esposa e mãe do clã
Makunaima. Quando já crescidos, os filhos do sol, os Makunaimas, irão
ao seu encalço, uma vez que não regressa na data combinada. Desta
feita depreendem que o pai foi aprisionado pelos Mawaríes, pessoas
não-humanas que viviam nas serras e tinham inveja do sol. Depois de
uma série de aventuras chegam ao topo do Roraima, onde amarram sua
canoa e seguem viagem a pé até Wei-tepui, Serra do Sol , em que
encontram o pai aprisionado e fraco sob uma grande panela, libertando-
o com um tiro de espingarda (ARMELLADA, 1989, Pp. 27-31)
Akalapizéimã acaba sendo abandonado por ele numa ilha deserta, onde urubus
defecam sobre ele. Depois de implorar ajuda à Kaiuanózá, estrela d’alva, à
Kapéi, lua, e não ser atendido, implora à Wéi que o resgate. O homem que
sempre ofertava beijus a Wéi, é atendido, logo sendo banhado, adornado e
perfumado, na versão de Akúli, numa tradução translinear:

“Vamos!” Ele o lavou com beleza. Depois que ele o lavou com perfume, ele
ficou (de novo) Akalapizéima. Então ele o vestiu. Ele lhe deu sandálias. Aí (ele
disse): “Estou com muito frio! O sol ainda não acordou”. Assim Akalapizéimã
disse para o próprio Sol. O Sol (falou) para ele: “Vire o seu rosto para o lado!”. A
essa ordem, Akalapizéima se virou. Quando ele tinha virado, o Sol colocou seu
brinco. O Sol colocou o seu adorno de cabeça. O Sol o queimou. Então porque
ele o queimou, Akalapizéima gritou várias vezes: “Ai! O Sol me queimou”. Por
isso o Sol deu a ele um adorno (e o colocou) na sua cabeça. Veja! O Sol não
queimou (mais). O Sol subiu. Ele (disse para ele): “Pronto! Fique com essas
moças! Depois que você se arrumou, não se relacione com outras moças!” Assim
o Sol disse para Akalapizéima (KOCH-GRÜNBERG, 2022b, Pp. 233- 235).
• Neste aspecto, é interessante perceber o papel da afetividade para
mobilizar as gentes no sentido de apaziguar animosidades, em especial
através da palavra.
• Amizades cosmológicas (RIBEIRO, 2022); Alianças afetivas
(KRENAK, 2015);
• A arte assim seria também aquilo que desenvolve as potencialidades
das gentes que se afetariam, afeiçoariam e mesmo afeccionariam
mutuamente, estabelecendo assim as alianças das e entre as pessoas do
multiverso Pemón. Neste multiverso, as relações e pessoas não se
contraporiam em “dicotomias infernais” como bem descritas por
Viveiros de Castro (2015), mas a partir do que podem ser a partir do
diálogo entre gentes que se manifestariam em materialidades como o
canto, a narrativa, objetos de uso cotidiano. Assim a literatura também
reverberaria essa forma de ser-estar no mundo múltipla, faria parte
deste multiverso.
Panton pia’
Vivia um velho, [...] ele lavrou, diz que ele derrubou um pau, que é samaumeira que deixa
mais fofo né?! [...] fez duas pessoas, [...] e mulheres, já grande mesmo né, da altura de
uma pessoa. Então ele, com aquele poder dele, fez com que elas levantassem duas moças,
estava lá. E o Sol vinha do sul e chegou [...] nesse dito lugar onde estava esse velho e tava
essas duas meninas e ele gostou delas. Então ele gostou delas, e falou com eles e ele disse:
Não pode casar com elas [...]. [...]Então aí, diz a história que ele levou dois passarinhos,
com rabos mais ou menos compridos. E o velho, então, ele fez o anus, pra conseguir fazer
o trabalho, mas esqueceu do principal, do principal [Risos] que não tinha, que era fechado
[a vagina]. Então ele disse assim: Dá comida pra esses dois pássaros. E aí então elas duas,
sentaram [...] uma dum lado a outra do outro. Colocaram a comida aqui no meio [das
pernas] e trouxeram os passarinhos pra comer, então naquele momento eu acredito que foi
também com o poder não sei de quem, seja do Sol, seja dele, não sei, só sei que de
repente, eles dois viraram, um virou o rabo e com o próprio rabo fez né. [...] Eh, fez a
vagina. Então o Sol ficou lá e ele engravidou uma, uma mais velha. Aí nesse momento,
depois de passar uns três meses, ela já tava gestante, o Sol disse: Agora eu já vou voltar
pra minha casa. Vou voltar pra minha casa (Dionísio Servino in FIOROTTI, no prelo).

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