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Debbie Yahgar
PROLOGO
Essa historia se passa num período em que os sonhos, as fantasias e a realidade se misturavam
de uma forma muito mais intensa entre os seres e todas as terras. Não existia apenas um
mundo, como hoje. Vários mundos se interligavam com seus habitantes diferentes e também
humanos. Não existiam regras e cada povo fazia suas próprias. Cada mundo tentava se manter
afastado de outros mundos. Receavam a invasão e a mistura de seus filhos com seres que não
Os seres já sabiam fabricar armas de forma rústica, empunhavam espadas e cobriam o corpo
com couro para se proteger durante as lutas. Esse couro era retirado dos animais que criavam
O povo também escolhia quem ia trabalhar com o Rei - todos os seus subordinados. Alguns
desses subordinados eram aliados de outros povos e conseguiam informações que enfraquecia
o poder do Rei. Nessa época era muito fácil um rei ser deposto de seu trono e tornar-se uma
pessoa comum.
Havia pouco tempo que os homens haviam tomado o poder das mulheres – alguns séculos na
verdade. Quando a Grande Mãe começou a produzir seus filhos, eles se pareciam com ela. Os
Fellows discordaram: ninguém no mundo humano pode saber a aparência que tem a
verdadeira Mãe. Houve uma grande luta em que os mundos se separaram para sempre. E os
filhos da Grande Mãe foram expulsos de sua redoma e caíram na terra. Todos com aparência
feminina e com a alma da grande mãe, formaram núcleos, e cuidavam para que todos se
muito mais frágil, fez com que as Femininas se compadecessem: como alimento, ela os
amamentava e com seus longos fios de cabelo, teciam suas vestes. Eles se fortaleceram e
Como uma mãe, que faz de conta que acredita em que tudo o que o filho faz, só para não
perde-lo, assim as Femininas resolveram fazer com os Másculos: dar-lhes corda para que
acreditassem que elas eram submissas e que “eles” é que haviam povoado a terra e cuidado de
tudo.
Quando a Grande Mãe viu o que estava acontecendo, tentou enviar uma mensagem, que foi
interceptada por um Fellow, seguidor dos Másculos. E quando já era tarde demais, as
Femininas não conseguiram mais tomar de volta seu lugar: os Fellows disseram aos Másculos
Quanto a isso, as Femininas nada podiam fazer. Elas eram fortes de pensamento e ação, mas
não haviam desenvolvido a força física. E a partir daí elas assistiram a lutas sangrentas entre
falta de sentimento.
Quando algumas Femininas tentaram fazer os Másculos voltarem à razão, foram queimadas
na fogueira, tiraram seus filhos, acabavam com seus corpos, porque não podiam descobrir
suas mentes. E eles continuaram a subjuga-las e criaram leis e regras que afirmavam que as
Femininas eram seres inferiores, que não mereciam atenção quando diziam alguma coisa. E
isso se espalhou para outros povos. E todos os Másculos se achavam seres superiores, mesmo
tivessem credibilidade perante a religião e à família. Criaram seu novo papel: ser mãe e cuidar
da habitação, sem se envolver nas decisões religiosas ou políticas. Exigiram que elas lhes
E elas foram se esquecendo quem realmente eram. Esquecidas que eram as verdadeiras
“criadoras do universo” e que não precisavam deles pra nada. Que a superioridade é feminina.
Esqueceram o princípio básico: ela é o primeiro ser e dele se desdobram todos os outros. E
tudo só foi piorando para as Femininas. Os Másculos já nasciam ouvindo essa versão de que
toda humanidade nasceu dele e acreditando nisso. Elas nasciam se reconhecendo como
inferiores, mas com um sentimento de superioridade que as vezes fazia questão de aparecer.
Mas vamos a história de uma descendente da Grande Mãe, que resolveu mudar o destino. E
“Presenciei a cena de olhos esbugalhados. Acho que fiquei em estado de choque. Não
conseguia fechar a boca nem sair dali. Queria correr, gritar, mas minhas pernas não
obedeciam. Olhei os muros altos com os olhos cheios de lágrimas. Eu vi. Jabon a matara,
porque ela queria liberdade. Eu também queria, mas estava ali. Aquilo era Wilmerstah.”
...
Zamit ria com uma estridente gargalhada. Como pode ser tão cruel com uma indefesa boneca?
Um brinquedo, apenas uma cópia da menina. Para a aldeia, o mal. Era o sonho da menina
entre as chamas alaranjadas da grande fogueira. Ela gritava com todas as forças. Alguém
pegou um pedaço de madeira e a tirou do fogo. O material havia derretido. O material do qual
era feito o cabelo encolheu e queimou a maior parte dos braços e pernas. O homem a pegou e
correu. Levou-a a um anjo-mãe, que deu-lhe roupa nova, ajeitou os olhos, fez um novo cabelo
com palha da cabana. Ficou ainda mais bonita aos olhos dos pequenos. Mas as marcas
daquele fogo ficou na alma de Abud. Ele queria poder voltar no tempo. Tudo o que podia
O choro de uma menina. Ela nasceu. Uma Senhora da Vila, tinha vindo até a aldeia para ter
seu bebê aqui, com Lenôra. Era conhecida por saber cuidar dos doentes. E Por trazer crianças
ao mundo. Na vila quem fazia o parto ainda era o Mago. E as mulheres tinham medo dele.
Vendella ficou com a missão de limpar e vestir o bebê. Estava crescendo. Podia trabalhar
Mas preferia conversar com seu avô. Ele era considerado um maluco entre os aldeões. Parecia
estar sempre bêbado quando os homens da cidade apareciam. Trazia pedaços de pano
pregados em suas vestes que pareciam escritos. À noite, quando todos estavam dormindo, ele
retirava as paginas e lia para Vendella, depois guardava. Eram histórias de um lugar distante,
E assim ela conhecia sobre palácios, reis e rainhas, comidas e festas, danças e perfumes. Ela
parecia sentir cada palavra que seu avô dizia. Ele descrevia detalhes e ela, como se tivesse
provado, sentia o gosto imaginário das frutas, o cheiro do almíscar, o som da harpa...
Lenôra passou o bebê para seus braços. Começou a limpá-la quando viu um sinal do lado
De repente ela se lembra da lei. Absurda há séculos, dizia que nenhuma criança que nascesse
com uma marca em seu corpo poderia sobreviver. Deveria ser entregue para sacrifício.
encontrou por ali e levou-a de volta à mãe, que ainda chorava. As mulheres da vila não eram
A mãe tomou-a nos braços e sorriu ao ver a pele branquinha de seu rostinho redondo com
uma penugem cobrindo a cabeça. Pena ser menina, pensou a mãe. Teria que separar um dote
para dá-la em casamento, seu marido ainda não poderia participar do conselho e nem teria
E dizendo isso desenrolou a parte de baixo de seu corpinho e não acreditou na expressão que
_Nós devemos esconder isso, Senhora. Ninguém pode saber! Dizia a garota, esquecendo-se de
_Não grite, Senhora - disse Vendella, já não acreditando que fizera a coisa certa. – Vai
_Ela não é minha filha! com um som estridente, como que sufocando. Lenôra! Gritava cada
Pela janela da tosca cabana de madeira e palha, pôde ver as três mulheres
correndo de volta atraídas pela gritaria. Tinha que pensar rápido. A Caixa! Colocou vários
_Vou tentar protegê-la. É loucura entregar uma criança ao conselho só porque... só porque
uma pedra disse! E saiu por um lado enquanto as parteiras entravam por outro sem entender o
que se passava.
A Pedra era a lei máxima que ditava as ordens. Eram pedaços circulares de uma pedra fria, em
tons de cinza e rosa, onde o Mago lia os códigos. Cada círculo desse era encaixado num
suporte tubular, numa cor bronze. Para ler todo o círculo, o Mago apoiava a mão no suporte
fazia o círculo girar sobre seu eixo, produzindo um som como de um sino. Quando parava de
girar, cada letra em cada círculo formava uma palavra ao lado da outra. Essa tábua era lida em
_Ela está fugindo! Gritava a mãe tentando se levantar, não resistindo a fraqueza causada pelo
parto recente.
_Não se mexa Senhora. Nós vamos trazer a criança de volta – Lenôra tentava acalmá-la
As parteiras se entreolharam.
…
Myndoka olhou pra cima e viu Vendella descendo a colina com uma caixa na mão. Começou
a subir correndo para encontrá-la. “finalmente alguma coisa acontece para melhorar o dia”
pensou. Myndoka era 104 luas mais velha que Vendella. Era filha de um dos homens da
guarda real que tinha vindo morar em Wilmerstah para se curar de sua doença. “O ar fresco
lhe fará bem” disse o Mago. Mas ele morreu pouco depois, deixando sua mãe e seu irmão
mais velho. Ela era muito pequena para se lembrar dele, mas ouvia seu irmão dizer que
vingaria a morte de seu pai, quando a mãe soluçava à noite, na pequena tenda aonde dormiam.
Gostava da amizade com Vendella porque seus pais tinham sido grandes amigos. E também
porque Vendella era a única que não a achava maluca. As mulheres da aldeia viam nela toda a
rebeldia de um menino e não as graças de uma donzela, que apesar da grande beleza, não
Vendella desistiu de carregar caixa tão pesada. Como acreditou que uma mãe pudesse passar
por cima de tudo por uma filha? Por que as regras são tão injustas com as meninas? Ser
mulher é um fardo numa aldeia que sobrevive do trabalho delas. Uma garota que já viveu 720
luas não poderia decidir sobre a vida de um bebê. Resolveu levá-la de volta ao seu destino.
_O que tem em mãos, Vê? Diga que faremos algo diferente hoje e eu já agradeço- disse
_ERA algo diferente, mas já cansei - disse Vendella sentando na relva e colocando a caixa de
Enquanto Vendella contava a Myndoka seus planos de salvar a criança, elas se levantaram e
voltaram colina acima, revezando o carregamento da caixa. Ao chegarem perto da tenda que
concordo em entregar a criança, porque não conseguiríamos fugir longe o suficiente, nem
mudar a situação dessa menina. Talvez você possa fazer alguma coisa. Você é boa em falar!
Você pode convencer a mãe que ESSA mancha, não é A mancha proibida. Que tal?!
Não poderia mudar a situação, numa aldeia onde os meninos que nascem com marcas, se
sábios. Ela só conhecia um. Ele foi separado da família para morar com o velho e cego mago
O jovem Abobdam sempre ía à cidade para trazer ervas e medicamentos que Lenora pudesse
precisar. E ele fazia isso de quatro em quatro luas. Ele estudou com o velho mago e agora já
mostrava suas habilidades, sempre escolhendo o vidro certo e a quantidade exata para cada
necessidade. Ele gostava do aprendizado, do conhecimento. Era bem tratado quando ía à vila.
Mas às vezes preferia ficar jogando com os meninos ou vendo-os lutar. Alguns meninos
E saíam rindo, deixando Abobdan enfurecido. Porque era mais fácil tratar com as meninas?
Ou com o velho Mago? Ou com Abud? Sempre lhe dizia que um dia ele ía se orgulhar do que
fazia. O que ele sabia é que ía substituir o velho Mago quando esse se fosse.
Esse velho mago foi deposto da cidade e enviado para cuidar dos enfermos na vila. Ele não
aceitou alguns pedidos de Zamit e agora era o mago aqui da aldeia. Ele recebia meninos para
orientar sobre a preparação da cerimônia que acontecia quando eles completavam 676 luas e,
quando um deles nasceu com a marca, ele o tomou para ensinar-lhe como usar as ervas, as
_Tentar o quê, Mika? Talvez envie nós duas para o sacrifício junto com ela. Não! Talvez com
_Aquele velho nunca vai me ver- cuspiu Myndoka – mas você taslvez seja enviada para o
calabouço de Zamit!
_ Vendella colocou a caixa no chão com raiva, juntou um torrão de terra na mão e acertou em
Vendella deixou o lenço escorregar de seus cabelos. Livres, o vento agitou-os embaralhando
os caracóis escuros em alguns fios na cor do mel. Quando estava seco e arrumado, grandes
caracóis finalizavam seus cabelos escorridos quando molhados nas águas do rio. Por andar
tanto na aldeia, sua pele tinha a mesma cor mel de seus cabelos. Quando ficava um tempo sem
ir ao sol, como no período de Altlang – a preparação para a festa das flores – sua pele parecia
desbotada, como as roupas que ficavam ao sol na beira do rio. Ela não era tão branca quanto
Um período na aldeia durava exatamente cinqüenta e duas luas. A cada treze luas havia uma
festa porque começava um novo ciclo. Alguns dos aldeões participavam das festas, mas não
acreditavam nas crendices que os moradores mais antigos dessas terras, traziam e passavam
de pai para filho. Abud veio de uma terra em que superstições não faziam parte da tradição de
sua família. Tudo devia ser explicado – o motivo da chuva, porque uma flor nasce, porque
alguém morre. Mas algumas pessoas foram enviadas da cidade, para morar aqui, contra sua
vontade. Já havia passado muito tempo. E para não ser encontrado, nada melhor do que se
misturar a essa gente, fazer o que eles faziam. Não fazia bem para Abud ver Vendella
participando disso, mas também não via mal nenhum em festas. Era a única forma de seus
amigos, que vieram junto com ele pra essa aldeia, esquecerem de tudo o que haviam passado.
Abud se remoía de culpa. Mas também aproveitava as festas para não enlouquecer.
O ciclo Vintre era pesaroso para o povo da aldeia. A chuva gelada impedia as mulheres de
sairem da cabana e os homens guardavam mantimentos para esse período. Todos usavam uma
capa a mais e enrolavam tecidos nos pés e nas mãos. As frestas da cabana eram cobertas com
cera, que era comprada dos navegadores. Essa cera só durava dois ciclos e depois com a
chegada do calor, ia derretendo aos poucos. Essa cera derretida era guardada para outra época
de geada. Na festa Vintre cantavam canções ao Superior Üvarma para que ele não congelasse
a aldeia.
Uma época, quando Abud veio com o povo para a aldeia, estava um vento muito gelado. Eles
ainda não recebiam cera pra selar as frestas das cabanas e muitos não sobreviveram aquele
ciclo, por isso os homens resolveram cavar um poço muito fundo para se esconderem quando
geasse novamente. As pessoas que já moravam naquela terra há muito tempo, duvidaram do
trabalho dos homens. Depois de vários dias cavando, a surpresa foi encontrar água quente, de
onde saía um vapor que aquecia todo um círculo ao redor. Então eles resolveram construir a
cabana principal ali, para todos dormirem juntos e se aquecerem no período de Vintre..
No ciclo Flutune, a chuva ia se despedindo, mas deixava um vento frio que soprava com
força, derrubando as folhas das arvores que haviam secado com a chuva. A aldeia ficava vazia
de vida e vegetação. E os aldeões cantavam a canção de Monto-supre, para que ele não
levasse as cabanas.
Era o período em que os homens não íam à caverna. Eles ficavam com as mulheres e
contavam histórias de suas terras e suas famílias. Ensinavam sobre as tradições e passavam
todo o conhecimento para as famílias. Também era o período em que o velho Mago e
Abobdan mais visitavam as cabanas levando seus ungüentos para os enfermos. A cabana de
O terceiro ciclo era planejado como um grande casamento. Era um período festivo. As flores
começavam a voltar, cada semente que se plantasse brotava quase instantaneamente, as folhas
apareciam muito verdes e até o rio, que nos dois ciclos tinha uma aparência suja e raivosa,
cantava e mostrava suas águas cristalinas de volta. O ciclo Kloratze trazia alegria e flores e
festa. Todos esperavam esse ciclo para ir à Vila. E cantavam para Yunuline, agradecendo a
beleza.
Os mais antigos, que haviam chegado antes da família de Abud, contavam uma lenda: numa
época nasceu uma linda árvore. Todos pensaram que seus frutos iriam ser deliciosos. Mas
passou muitos ciclos e os frutos não vinham. Então os aldeões tentaram cortar a árvore e usar
a madeira para aquecer o ciclo de Vintre. Então o céu se cobriu de nuvens espessas e ventou
forte. Todos correram pra se proteger. Pouco antes do amanhecer, antes dos primeiros clarões
do sol darem conta que já era dia, uma neblina fraca dificultava enxergar um passo. Ninguém
conseguia se movimentar pela aldeia, por mais que conhecesse cada canto dela. Um espessa
nuvem parecia ter descido do céu e encobria a tudo. Os aldeões saíam de suas cabanas e
esbarravam uns nos outros. E davam as mãos para verificar se todos estavam bem.
Ao se aproximarem da árvore, ela estava seca. Havia morrido. Era uma árvore que não dava
fruto, só flores da última cor do arco-iris. De repente a nuvem se dissipou e todos olharam a
nuvem subindo e se espalhando até ficar dia claro e então eles viram: a árvore havia
resolveram que a festa de Kloratze seria sempre aos pés dessa árvore.
Essa árvore morria e secava durante todo o ano quando os aldeões pensavam em queimar a
madeira, ela renascia, e resplandecia com muito mais flores e tornou-se sagrada.
O último ciclo era de muito trabalho, para armazenar mantimentos e tecidos. Drax-somere o
ciclo do calor sobre a aldeia. A cera que cobria as frestas da cabana, já haviam derretido e
assim a brisa podia entrar. Cantavam a Spatze para não queima-los com a força do sol.
Os aldeões aproveitavam o calor do sol para fazer a colheita. E esse ano tinha sido farta. O
celeiro estava lotado de leguminosas, as tendas estavam coberta com tres camadas de tapetes,
e as ovelhas tinham tanto pelo para tosquiar, que ficava dificil andar e a lã seria de boa
que alegravam a a aldeia. Quando chegasse as chuvas trazendo o frio e secando a terra, teriam
provisões suficientes.
preparando para as batalhas. Por causa do calor eles usavam apenas um calção e mostravam
os músculos em gestos de ataque e defesa. Havia muita troca de olhares sob a vigilância das
mulheres mais velhas, mas os jovens não podiam se aproximar uns dos outros, antes de se
casarem.
_Mas você vê a gente jogar sempre! E até torce por Myka que eu sei. Falou Derek.
_Eu vou ler e te explicar. Fica quieto Derek. Como uma ordem de comando sobre os dois
“Quatro triângulos serão unidos por suas pontas. Na união das pontas um encaixe para o
“Serão dois times: um taifeiro – sua posição é à dois passos da união das pontas. Seu ofício é
receber o disco do arremessador que está na base do triângulo, retirar o disco menor, encaixá-
“Dois arremessadores que ficam na base do seu triângulo. Um dos dois joga o disco para o
taifeiro. Os dois pegadores, um em cada triângulo, pode passar para os triângulos adversários
“Eles podem entregar o disco pequeno na mão do arremessador ou jogá-lo. Só podem andar
circular pelo triângulo e fora dele pelo lado esquerdo, mas não pode pisar no círculo externo.”
_Já não estou entendendo nada. Fica todo mundo correndo e eu me confundo quem é de qual
“Cada time tem seu disco pequeno e o disco grande é sorteado. Para começar o jogo o
arremessador lança o disco para seu time do outro triângulo. O disco grande não pode ficar
parado no campo por muito tempo. Os disco pequenos já foram jogados para os pegadores
que correm pelo circulo externo para entregar ao arremessador. Os bloqueadores tentam
impedí-los. Eles também tentam pegar o disco grande para unir os dois e arremessálo para seu
time. Quando o arremessador recebe os dois discos grita “Alt!” o jog pára e ele lança para o
taifeiro. Se ele pegar, vale 50%. Se cair, apenas o outro taifeiro pode tentar pegá-lo e encaixar.
Para ser taifero, o menino treinava força nos braços e direção de arremesso, porque ao
encaixar o disco um no outro, ele ficava pesado e não poderia errar o arremesso para o
receptador. Nenhum jogador podia encostar no taifero. Ao se levantar ele segurava o disco de
forma a encaixar na curva do antebraço, se curvava pra frente, inclinando um pouco e rodava,
dando impulso para lançar o disco até o receptador. O bloqueador tentava impedir o bloqueio
adversário e o pegador tentava impedir que o pegador adversário pegasse o disco, caso ele não
chegasse até o receptador. Aí ele tinha que correr até o taifero de seu próprio time, entregar o
disco de pedra adversário, colocar seu próprio disco e o taifero tentar o arremesso.
Isso valia 25%. Aí cada time voltava à sua posição e começava novamente. O time sem o
disco de pedra ainda tinha a missão de tentar recuperar seu disco, porque se ele jogasse com o
disco adversário, só valia 10%. O time que fizesse 100% primeiro, ganhava o jogo. Em
receber o disco um dos treinadores gritava “alt” e todos voltavam as suas posições e o
julgador gritava “enter” e voltavam a jogar. Isso durava fração de segundos e o grupo perdia
10%. Se um dos bloqueadores se machucava o pegador tinha que fazer o trabalho por dois. Os
machucados se retiravam e não eram substituídos, mas o pegador adversário não podia mais
passar para o seu triângulo. Quando íam para outras cidades, eles levavam apenas um time e
jogavam contra os dois times daquela cidade. Aí a contagem mudava: o time que fizesse
100% primeiro saía de campo como vencedor. Três times continuavam o jogo e assim por
Myndoka gostava de se vestir de menino e jogar com eles. Ela prendia seu longo cabelo em
volta da cabeça, amarrava um lenço e colocava um pequeno elmo de couro. Usava calções e
colocava a barra de sua túnica para dentro. Sua posição era de receptador. Todos os meninos a
queriam no seu time porque jogava bem. Sempre que acertava, Abud sorria. Ele gostaria que
Vendella tivesse essa força. Mas as duas eram muito diferentes. Myndoka não gostava de
obedecer as ordens de sua mãe e ficar longe dos meninos, nem cobrir a cabeça, nem ficar de
vestidos. Desde que seu irmão foi para o palácio na Vila e esqueceu da vingança que
prometeu, sua mãe não conseguia fazer com que Myndoka seguisse seus conselhos. Vendella
também não gostava de leis e ordens, mas seguia o que sua tia-avó e as outras mulheres lhe
diziam. Por isso gostava tanto de Myndoka. Porque ela era parecia ser livre. As vezes
_Porque fugiu Vendella? Disse Lenôra num tom de reprovação._tinha medo da morte da
Olhou para Myndoka com as sobrancelhas levantadas em sinal de interrogação. Então ela
havia morrido? Será que havia tido tempo de dizer algo? Uma esperança surgiu.
_Não precisava correr! Era só chamar!continuava Tka, enquanto enfiava mais roupas na
criança sem prestar muita atenção a aflição de Vendella à uma mínima visão da marca de
nascença.
_ E enquanto ela deixava este mundo, ela confiou a você a guarda da menina, terminou Tka,
entregando-a já vestida. “Você deve ir ao Conselho junto com Lenôra na próxima lua.
Então ela não contou. Morreu sem dizer nada! Então o segredo desta criança
morreria junto. Vendella sentia seus pés presos ao chão. Myndoca empurrou-lhe e ela se
A cabana onde as pessoas iam receber ajuda, ficava em cima de uma montanha. Lá de cima
dava pra avistar toda a aldeia. A cabana era grande e redonda, com varias caixas, onde Lenôra
guardava frascos com líquidos que faziam arder o nariz, quando Vendella abria. Ninguém
estava autorizado a mexer nas caixas, sem a ordem de Lenôra. Ela tinha vindo de além-mar
para cuidar dos doentes. Era muito alta e muito magra. Vendella achava que Lenôra parecia
triste, as vezes parecia doente, mas quando perguntava se tudo estava bem, ela se tornava
_ Vamos limpar isso tudo aqui! Não deixem essas caixas abertas! Coloquem as crianças na
rede! Será que ninguém pode me ajudar! Tenho que fazer tudo sozinha!
Ela usava uma roupa muito branca, mas parecia com as túnicas que todas as mulheres da
aldeia usavam. Seu cabelo era da cor dos girassóis e mais curto do que de seu avô, reparou
_ Você conseguiu! Gritou Myndoka quando elas já estavam descendo. A menina agora é sua!
Gritavam pulando em círculos em volta de Vendella que carregava o bebê nos braços.
_Ainda tenho que contar para o meu avô - respondeu Vendella com preocupação na voz.
_Diga-me porque TÊM que contar pra alguém, hum? - Myndoka olhava dentro dos olhos de
Vendella como que propondo um desafio – Eu sou sua única testemunha, se lembra? E nem vi
Toda a Vila ficava entre a floresta e o rio. A Vila se dividia entre a aldeia onde ficavam varias
cabanas para as pessoas dormirem e a cidade cercada por um muro. A distância entre elas era
de um dia de caminhada.
Na aldeia, cada cabana tinha várias redes penduradas e sacos para guardar as vestimentas e
esconder algum alimento. Também tinha uma grande tenda no meio de todas as outras, onde
se faziam as refeições. Uma pequena elevação, com duas aberturas: uma na superfície e outra
ao lado, serviam para preparar os alimentos. Os aldeões traziam a lenha tirada da floresta e a
caça. A lenha era colocada na fenda lateral onde o fogo ficava sempre aceso. As mulheres
colhiam raízes e preparavam junto com a caça em grandes caldeirões colocados sobre a
superfície. Depois de algumas horas a fumaça se elevava sobre a tenda e fazia as crianças se
Uma outra tenda menor ficava mais afastada, na beira do rio. Era onde as mulheres se
reuniam depois das refeições para costurar roupas, banhar-se, cuidar das crianças e
geralmente falar sobre coisas que os homens não podiam ouvir. Nessa tenda os homens não
entravam, então o uso do lenço era abolido. Aí aconteciam os olhares maldosos de quem
cortou os cabelos, daquelas meninas crescendo e ficando bonitas, da beleza das meninas que
_Mas você não gosta de ser bonita? Ter gente olhando pra você, Mika?
_Eu não sou você, Vê. Só vou me casar se eu puder escolher. E testar primeiro!
Os homens também tinham seu lugar: era uma caverna que ficava depois do rio. Eles usavam
uma balsa, feita de troncos amarrados que boiava sobre as águas, para atravessar a pouca
correnteza. A caverna era imensa, com uma mesa de pedra esculpida pela própria natureza.
Ficava na altura dos joelhos dos homens, então eles se abaixavam e sentavam todos no chão.
treinar e se preparavam para os rituais. Eles sempre se mantinham afastados das tendas das
As conversas entre os homens sempre eram sobre a comida recebida do Faxar. Eles decidiam
quanto cada família ia receber e quanto precisavam guardar para os dias frios. Também
conversavam sobre os meninos da aldeia. O pai que possuía mais filhos no conselho, também
tinha maior voz dentro da aldeia. A comida que eles recebiam do Faxar, eram alimentos que
Eles ansiavam pela paz entre o povo da aldeia e o povo da cidade. Não queriam nada além de
olhar os filhos crescerem, plantar as sementes e viver para ver a colheita, fazer as festas e ser
deixados em paz. Mas às vezes as vozes se elevavam nas reuniões. Isto acontecia sempre que
Mindoka, Vendella e Derek estavam no meio da colina, sentadas olhando os meninos lutarem.
O dia estava fresco e Mindoka retirou o véu e deixou o vento varrer seus cabelos, parecidos
_As vezes não gosto que vovô fale de guerra – susssurou Vendella.
_Ele diz que vai nos libertar. Até lá eu quero estar preparado. Observou Derek.
Sentada com as pernas esticadas, se escorando nos braços esticados para trás, com a cabeça
_Você nem tem ideia do quê ele quer nos libertar, treinante de cavaleiro.
_E você? O que sabe da conversa dos homens? Você nem sabe o que eles falam nas reuniões
_Pelo visto vocês dois já começaram a guerra- Disse Vendella- Eu estou falando sério: se todo
_É – concordou Derek – poder atravessar o mar quando quiser e conhecer outros reinos.
_E decidir se quer participar de uma cerimônia boboca, ou não- falou Myndoka ainda de
olhos fechados
-Você está ficando com a boca da cor da grama, senhor cavaleiro – brincou Vendella,
Era necessário fazer parte do conselho para ser cavaleiro ou manusear armas. Os
caro e os aldeões não tinham recursos para se tornarem cavaleiros, nem mesmo tempo para o
treinamento.
Então Abud resolveu que se os rapazes não fossem escolhidos pelo conselho, iriam treinar
Cada rapaz vestia um calção até o meio da perna, e outro maior por cima, que ía amarrado na
cintura. Também colocava um pano redondo, do dobro de seu tamanho, com um corte
exatamente no meio para passar a cabeça. Depois ele colocava uma malha feita de pequeninos
aros de aço. Nesses aros eram penduradas placas de ferro, uma a uma em todo o torso, os
braços e pescoço. Essa vestimenta toda dificultava que as espadas ou flechas penetrassem até
a pele, mas pesavam muito e só rapazes que treinavam a força, conseguiam lutar utilizando
todo esse aparato. Na cabeça ainda levavam um elmo, que servia não só para proteger, mas
também para identificar de que região era o guerreiro. Por dentro desse elmo existia um
revestimento de couro e pele de ovelha que amenizava o impacto dos golpes recebidos na
cabeça.
Mas nem todos se preparavam para as lutas. Os aldeões conseguiam cuidar de galinhas,
coelhos, porcos e cabras. Os animais viviam separados dos humanos, num grande cercado ao
pé da montanha. As vezes, em alguns períodos, apareciam patos selvagens voando e os
homens saiam para caçar. As mulheres cuidavam de algumas plantações que ficavam perto da
Durante o período de chuva, elas tinham bastante gordura com sal para guardar pedaços das
carnes até a chegada da festa das flores. Algumas árvores distantes, davam frutos que eram
trazidos pelos homens nos dias de caça. Cada família recebia uma porção. O mais comum, era
um fruto verde, com uma casca grossa e lisa, mas com um pouco de mel. Ao esmagar a fruta,
ela tinha a polpa da cor do sol, doce e macia, com um grande caroço. Todas as partes das
frutas que não serviam de alimento, eram postas para secar por dias e depois transformado em
adereços pelas mulheres. Elas não tinham as jóias brilhosas das mulheres do Faxar, mas
também gostavam de se enfeitar. As vezes os homens encontravam pedras no rio que tinham
algum valor. As mulheres guardavam essas pedras para o dote das filhas.
Em dias de festa na Vila, o povo da aldeia saia antes do sol nascer. Iam à pé, alguns a cavalos
e as pessoas com dificuldades para andar, usavam carroças. Toda a caminhada era um
caminho tortuoso cheio de pedregulhos acinzentados, que esfarelavam sob os pés e as rodas
das carroças, o que dificultava muito o trajeto. O grande muro de pedra com uma torre
começava a ser visto quando o sol já estava a caminho do ponto alto no céu. Do rio dava pra
ouvir ao longe o barulho do sino. O sino maior ficava na torre de entrada. Homens vigiavam a
torre durante todo o tempo, apesar da torre de vigia de toda Wilmerstah ficar atrás da Vila.
Era uma alta montanha, toda em tons de cinza, cheia de pedras. A meio caminho do topo, foi
construído um platô, onde guerreiros se revezavam vigiando toda a cidade. Dali dava pra ver
o caminho que ía até a aldeia, o porto onde os barcos entravam e saíam, e a Vila cercada pelo
pessoas da cidade eram enterradas atras da igreja por ser um lugar sagrado. Esse cemitério
não tinha lápides ornamentadas como a dentro da vila. Ali moravam algumas pessoas que
haviam sido expulsas da Vila por sua doença não ter cura. Não havia limpeza no local, eles
viviam abandonados, mas recebiam uma pequena porção de alimento de Zamit. Eram cegos,
Ao entrar no grande muro, uma das laterais da Vila parecia uma feira: pessoas com
mercadorias e comidas diferentes daquelas da aldeia, gritando preços e trocas. Muitas pedras
que eram tiradas do rio, tinham valor de troca aqui na cidade. Uma peça de ferreiro também
tinha valor: havia poucos ferreiros que não estavam a serviço do Faxar.
À esquerda ficavam os estábulos e os lugares onde os homens iam para tomar bebidas feitas
Eram chamadas de nomes de flores: rosa, violeta, jasmin, orquídea. Eram obrigadas a usar
preto nas ruas. A ausencia de cor. E um guizo no pescoço, para que os homens de bem não
lhes dirigisse palavra. Este guizo também era uma forma do taverneiro marcar as flores de seu
jardim: Ele usava uma ferramenta que lacrava o cordão em seus pescoços - não havia como
retirar. Na aldeia não exisitia essas moças – elas eram produto da vida: algumas moças
recusadas pelo Faxar, não tinham família pra quem voltar e ficavam na cidade, perambulando
pelas vielas. Para conseguir comer, se ofereciam pra trabalhar na taverna. E aí recebiam o
nome de uma flor. Depois descobriam que estavam na prostituição. Quando chegava uma
O taverneiro exigia que elas fossem tratadas como uma flor. Os homens não podiam bater,
machucar, e deviam trazer presentes. Então elas começavam a gostar de viver ali.
Colocar o cordão pela primeira vez, era como se fosse uma cerimônia para elas. As mais
antigas festejavam, para que as novatas se sentissem em casa. Havia muita comida, muita
dança, muitas bebiam pela primeira vez e marcavam pontos de desprendimento. Elas
cuidavam principalmente das mais tímidas: velhas atitudes deviam ser abandonadas e novas
deviam ser aceitas. Agora, a convivência com algumas pessoas devia ser deixada para trás e
homens passavam a fazer parte de seu grupo de relacionamento. Isso limitava o convívio com
as outras pessoas da cidade. Por isso que nessas cerimônias, a moça aceitava a troca de nome,
representando que aquela identidae que era sua até então, não mais existia – agora ela era
Á direita da Vila ficava o tablado: um palco gigantesco onde aconteciam as apresentações nas
festas e também onde os traidores eram enforcados. Aqui também se liam as ordens dadas
pelo rei e que eram transmitidas pelo conselho. Atrás desse palco ficava um antigo estábulo,
transformado em albergue para que servisse as pessoas do circo da cidade. Duas pessoas que
trabalhavam nesse circo, ensinavam música e arte para os rapazes escolhidos pelo conselho.
Outros trabalhavam em peças, onde contavam histórias divertidas. As histórias tristes eram
proibidas pelo conselho. Diziam que um traidor que foi enforcado naquele tablado, contou na
O conselho era formado pelo Faxar – o governador de toda Wilmerstah – escolhido pelo rei
de Quesselfor para tomar conta do lugar; Feltzar, o Mago – homens de poderes ocultos, que
podia prever os pedidos do Faxar, escolher moças puras, descobrir traições – o único que
podia ler os hieróglifos da pedra. Os rapazes escolhidos aprendiam a ler, mas apenas outros
sinais; Zamit, homem cruel, que cumpria os mandados do Mago, em nome do Faxar. Era
temido na cidade e também na aldeia, onde ia para roubar mulheres desprezadas; Manton,
tomava conta do píer, onde aportavam os barcos e navios. Decidia quem podia descer na
cidade. Também era responsável pelo armazém, onde guardava todos os mantimentos
enviados pelo rei. Tinha sobre suas ordens alguns dos rapazes escolhidos pelo conselho;
Assaz, o responsável pela cavalaria e pela defesa de Wilmerstah, e por treinar os rapazes
escolhidos. Vigiava os ferreiros para que não forjassem armas que não fossem para o Faxar.
Era amigo do povo da aldeia; Mondrai, o grande gigante branco, que era neutro e cuidava de
todos os outros neutros e também das mulheres que viviam dentro do castelo na cidade. Eles
recebiam o nome de Zabudi antes de seus próprios nomes; Degas, o jardineiro do rei, que
preferia viver na aldeia após ser enviado a Willmerstah, e que trazia noticia da aldeia para o
conselho – mas também levava noticias para os aldeões, principalmente para Abud.
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Vendella chega a cabana e conta a história para seu avô, menos uma parte. Myndoka acena
_Isto é uma honra! Ser escolhida para cuidar do feitio de uma criança – dizia seu avô. –
jogo feito por homens, para que as mulheres nunca decidissem. Mas ela havia tomado uma
decisão e passado por cima das leis e nada mais conseguiria tirar esse sorriso de seu rosto
_Seja bem vinda, Quinn. Que você seja o bem que estávamos esperando para mudar esse
lugar num outro mundo.- e beijou-lhe a testa, como faziam as damas de companhia.
144 luas se passaram desde que recebeu Quinn de presente, com ordem do conselho, o que era
uma proteção para a menina. Sim, era um presente ter uma garotinha tão linda como filha.
Já estava costurando seu longo vestido há muito tempo. Era feito de partes de outras
vestimentas riquíssimas descartadas pelas mulheres dos poderosos. Mas para que não usassem
suas roupas, elas mandavam cortar em partes que eram distribuídas em várias aldeias, ficando
uma parte com cada um. Então ela tinha várias partes de vários tecidos de várias cores e tinha
que fazer milagre para completar seu vestido. E a capa, bem fina, quase transparente, feita de
pele de ovo, ficaria sobre o véu, bordado com pingentes claros e coloridos nas pontas.
Não iria se mover tanto ao vento como o de Iria, a filha do rico negociante de temperos, que
se apresentara um período antes dela. Mas ainda assim sentiu-se uma fada com tantas cores
sobre seu corpo. Geralmente os trajes femininos não podem chamar a atenção dos homens
nem inveja nas outras mulheres, então todos usavam cinza. Mas no dia do casamento, as cores
eram liberadas. Apenas os ricos traziam tecidos do outro lado do mar. Os cabelos das
mulheres eram cortados curtos, após o casamento. E usavam um véu como um grande lenço.
_Será que posso cortar meu cabelo sem me casar, Vê? O que você acha que as mulheres
_Você provaria que enlouqueceu e elas colariam o lenço com goma na sua cabeça. E um
lenço bem longo, pra incomodar mais do que o seu cabelo, falou Vendella.
_ Meu cabelo não me incomoda. Parecer bela, me incomoda. Então vou fazer uma cicatriz no
_Acho as moças daqui muito esquisitas. Já notou que não fazemos amigas por aqui? Quando
_Eu vou me apresentar para o conselho, Mika. Falou Vendella em voz chorosa.
_Não faça isso, Vê. E se alguém te escolher e te levar embora? Eu não tenho mais ninguém!
_Você tem... Vendella achou melhor não mencionar a mãe nem o irmão de Myndoka.
_ Tá bom, Mika
O conselho decidia sobre os casamentos: uma vez a cada noventa luas, todos iam até o
tablado. As moças iam com seus dotes – ou sem nada – para se oferecerem em casamento.
Neste dia elas podiam tirar suas roupas simples e os lenços. Demoravam luas e luas
costurando uma roupa bem colorida e escovando os longos cabelos. Para não precisar usar
lenço após o casamento, as mulheres tinham que cortar os cabelos. O conselho decidiu que os
longos cabelos, chamavam a atenção dos homens e aquilo fazia mal às outras mulheres.
As moças iam em filas e aos poucos subiam no tablado onde um dos integrantes do circo,
fazia sua descrição das qualidades da moça. As de menor qualidades, eram descritas de forma
Vejam esta: pele lisa como de fruto doce...não sorria, minha filha! Assim a senhorinha
espanta os fregueses... Já esta é muito alta! Mas quem não gostaria de desfilar na cidade com
as ruas apinhadas de gente e conseguir encontrar sua mulher no meio da multidão! Muito
fácil! Esta moça aqui é uma pechincha: É o preço de uma com o tamanho de duas! Há!Ha!Ha!
As dotadas de grande beleza não chegavam a ir a praça, pois o Mago já havia separado para o
Faxar, mas se alguma havia ficado escondida, neste momento sua beleza era louvada e assim
era enviada aos aposentos no castelo. Myndoka conseguia se safar das investidas porque se
_Eu não disse que ele não é Mago coisa nenhuma – debochou Myndoka uma vez.
_O dia que ele descobrir você vai para a forca e vai virar lenda. Respondeu Vendella.
_Eu proponho um desafio, Vê. Eu vou até lá e vou falar com ele. Se ele não me reconhecer,
_ Você está louca, Mika? Quer que sua mãe chore sua desgraça?! Sussurrou Vendella por
_ Claro que eu não vou fazer isso, sua boba! Mas tá todo mundo olhando você falar sozinha
Os rapazes casadoiros ficavam observando e escolhiam as belezas que, ainda que menor,
tinham a pele fresca da juventude, a cintura fina, os cabelos longos e brilhantes, o sorriso
encantado da inocência. Todas queriam ser escolhidas pelos rapazes que moravam na cidade e
faziam parte do conselho. Eles eram os primeiros a sair com as moças escolhidas. Depois os
rapazes da aldeia podiam escolher entre as outras moças. Algumas voltavam pra aldeia e
durante muitas luas, esperavam a próxima festa para, quem sabe fazer um vestido mais bonito,
prender uma parte do cabelo com um novo adorno, arrumar um dote maior...
_Ninguém vai escolher você, filhote de lebre – desdenhou Derek, um dia quando voltavam de
uma festa.
_Está falando comigo, filhote de cavalinho? -respondeu Myndoka. Fique sabendo que eu não
_ Até lá eu serei um cavaleiro e não vou nem olhar pra você-desafiou Derek, empurrando seu
_Oh! Mas eu sou uma dama e vou dizer adeus quando te deixar nessa vila pra morar na
cidade, disse dando um empurrão mais forte que Derek desequilibrou e quase veio ao chão.
Depois do Tablado, havia uma praça na cidade, onde um imenso chafariz jorrava água. Tinha
uma borda circular de pedra, onde as pessoas sentavam para conversar e ver outras pessoas
que passavam. Circulando o chafariz à direita, ficava a Igreja, com suas escadarias e uma
porta da altura de cinco homens. A igreja possuía um sino, menor que o da torre, mas que
tinha o som parecido com cristal. Só era tocado em ocasiões mais do que especiais, como em
religiosa para homenagear o rei, que nunca vinha à cidade. Aqui na Igreja, os rapazes
aprendiam sobre sinais. Como identificar o que estava escrito em pedaços de tecido muito
fino, presos à perna de um dos pássaros treinados pelos monges religiosos. Esses pássaros
podiam levar mensagens de uma vila à outra. Também aprendiam a usar o tecido comum para
produzir este tipo de tecido onde estavam escritos os sinais. Aprendiam a cantar a canção do
muro de pedra com grandes janelas. Tinha a forma de seis lados, onde vivia cada uma de suas
esposas. No seu interior havia um pátio central com um lindo jardim, com muitos tipos de
flores e um lago com peixes e aves. Cada um dos lados era pintado de uma cor e cada janela
era coberta com tecidos coloridos e bordados com fios dourados. Internamente, cada um era
do mesmo formato: uma imensa sala com seis lados, que servia às refeições e às reuniões. No
porão destas salas, os aposentos dos que trabalhavam para essa esposa. Uma escada de ferro
batido levava à parte superior onde estavam os aposentos íntimos da esposa e filhos do Faxar.
Cada uma decorava seus aposentos com a cor escolhida e tecidos, penas, plumas e muitas
caixas de marfim. Todos os objetos preciosos, vinham do outro lado do mar. Uma não podia
A primeira esposa não teve filhos, mas tinha direitos a escolher seus serviçais e dar suas
próprias festas. A segunda esposa lhe deu apenas uma filha mulher. A terceira esposa lhe deu
um filho homem quando ainda não era casada com o Faxar. Ele se casou com ela após o
nascimento do bebê, o que fez com que as outras esposas, não aceitasse a criança. Mas o
conselho decidiu que ele era o herdeiro do Faxar. A quarta esposa lhe deu duas filhas e um
filho, mas o conselho decidiu que eles não teriam direitos, porque a esposa enlouqueceu após
o último parto.
O quinto espaço era usado pelo Faxar para encontros com as moças escolhidas pelo
mensageiro. Eram trazidas para cá e cuidadas pelo Zabudi mais velho. Mondrai fazia com que
tomassem banho todos os dias, cuidassem dos cabelos e se enfeitassem com jóias. A maioria
das moças vinham da vila e não sabiam se portar na cidade. Então os Zabudi as ensinavam.
As vezes eram trazidas até seis moças. Elas demoravam a ficar prontas para o primeiro
encontro com o Faxar. Essa era uma decisão de Mondrai. Se elas demorassem a entender qual
papel da escolhida, ou chorasse querendo voltar pra aldeia, ela sofria castigos até aprender.
As moças aprendiam a cantar musicas doces e a dançar. Quando eram devolvidas a aldeia,
elas podiam ficar com toda a roupa e jóias usadas enquanto agradasse o Faxar. Mas se ele não
se agradasse da moça, ela era enviada ao porão para servir aos rapazes e depois devolvida a
aldeia sem receber nada. Eram essas moças que Zamit recolhia para si. Elas tinham muita
beleza, mas estavam aterrorizadas pelos acontecimentos e eram facilmente levadas para onde
ficava seu local de trabalhar e dormir. No porão do sexto aposento ficava os aposentos de
algumas de adormecer em suas presas. Até chegar o momento de devolve-las para sua família.
O sexto lado eram os aposentos do Faxar. Era vigiado por homens armados, zabudis
circulavam trazendo frutas frescas, água e mulheres, para aquecer o velho corpo do Faxar. O
Mago trazia chás que faziam o efeito de ter um bom sono ou ficar alerta para uma reunião do
conselho.
_Dizem que o Faxar faz com as meninas o mesmo que os animais fazem no pasto antes de
_Que ninguém nos ouça. Não fale assim perto de um rapaz! Advertiu Vendella.
_Eu já sou um homem e pra te dar ciência, eu ajudo a cruzar os animais pra nascer filhotes,
_Caaleem!! Gritou Vendella fingindo que tapava os ouvidos. Vocês vão se casar?
porque esse assunto é pra o marido – olhou pra Derek – falar com uma esposa – olhou pra
Myndoka.
_Vamos subir na balsa? Derek gritou enquanto corria e pulavga sobre os troncos de madeira.
_Você vai mesmo se casar, Vê – perguntou Derek enquanto empurrava a balsa pra longe da
terra.
_Nós duas vamos nos apresentar ao conselho, como sua mãe quer que você faça. Respondeu
Vendella, tentando esconder a tristeza nas suas palavras. Sabia que seus dias de aventura com
_ Eu não posso. Eu não tenho dote. Disse Myndoka com meio sorrizo.
_Sem dote, você não consegue nem uma cabana pra cuidar. Talvez tenha que morar com o
_Mas eu escondi e minha mãe acha que meu irmão levou tudo! Ela pensa que ele é um ladrão
e por isso não voltou mais para vê-la. Myndoka sorriu enquanto falava do seu plano perfeito.
_E se ele voltar e contar pra sua mãe, sua pena de ganso! Derek cantou.
_Ladra, não! O dote é meu e eu faço com ele o que eu quiser! Resmungou.
_A palavra dote significa alguma coisa pra você ou o passarinho comeu seu cérebro? E dizem
que as mulheres já governaram o mundo! Aaii! E sentiu outro pontapé vindo de Myndoka.
_Continua remando e cale a boca se não vou amarra sua boca com meu lenço. Myndoka fez
Enquanto mexia na sacola de couro na qual seu avô guardava seu dote,
Vendella escolhia umas joias para guardar para Quinn. Suas pedras e jóias não se pareciam
com as pedras pequenas e brilhantes recolhidas no rio pelos homens da aldeia - as grandes
eram entregues ao Faxar, dono da cidade e que também governava a aldeia. Eram pedras
maiores, mais bonitas e às vezes estavam cravejadas em algum ornamento. Sua tia-avó
também tinha umas jóias muito grandes e brilhantes. Uma vez perguntou a ela onde tinha
_Existia uma cidade onde o sol nunca morre. Cercada de bosques verdejantes com cheiro de
E Vendella deixava ela falando, porque conhecia a história e ela não tinha um fim muito
bonito. Sua tia-avó misturava as lembranças com as histórias. Na aldeia as pessoas diziam que
sua cabeça já não era muito boa. E a história terminava com a morte dos pais de Vendella.
Ela não gostava de se lembrar do rio, onde seus pais foram levados por uma enchente após
uma forte chuva. História que a aldeia contava, mas que sua tia-avó em noites de delírio, dizia
que era uma “falsa história”. Desde então, ela ficava com o seu avô. Gostava dele. Ele não
pensava como a maioria dos homens da aldeia. Ele morou na cidade além mar um tempo e
tinha umas idéias... “nascer mulher não é um fardo é uma diferença.” Dizia ele. E as tratava
como igual. Por isso foi enviado para a aldeia. Só podia voltar a cidade em festas ou à
trabalho: era o único que falava uma língua dos estranhos que moravam do outro lado do mar.
Ele não era livre e guardou aquele dote para que ela fosse.
_Eu acho que seu avô roubou isso em algum castelo – disse Myndoka certa vez, testando uma
_Claro que ele não faria isso! Alguém o pagou pelos seus serviços. Respondeu Vendella.
_Então porque ele não deixa você usar? Nem nas festas! - retrucou Myndoka
Quando ia para o píer ver os barcos que chegaram, as vezes Abud levava Vendella e
Myndoka. Elas ouviam as conversas sobre o Rei, sobre coisas valiosas, sobre ouro, sobre
pessoas que elas nunca viram, e ouviam sons que não conheciam.
Isso há muito tempo, pois quando Vendella virou mocinha, sua tia-avó não deixou mais ela ir
– “aqueles homens vão levá-la embora”. Seu avô concordou que não era seguro.
_ Toda a vida segui o caminho da Paz, tendo escolha, e tive muitas escolhas, mas preferi
seguir meu povo até Wilmerstah. No entanto, nosso destino foi vir pra cá e ver nossos filhos
nascerem num tempo em que a violência nos governou. Hoje, prefiro desembainhar uma
espada a resolver uma discussão com palavras, porque é isso que um guerreiro faz, mas a
maioria dos Aldeões não é de guerreiros. Então vamos nos planejar – estratégia é o melhor
_ Podemos continuar treinando os homens! Disse Assaz. Agora temos 154 homens em idade
de luta. Além disso, já possuímos cota de malha para quase todos, a maioria possui elmos e
– Alguns não querem voltar; preferem ficar aqui; estão acostumados-disse um dos aldeões.
_ Mas alguns não possuem nem armadura de couro descente e estarão armados com
_Acha que sobreviveríamos a seu irmão? Sobreviveríamos a outra guerra?! - gritou um dos
homens.
_O que houve, foi uma traição! Homens traiçoeiros que se aproveitaram da posição que
tinham, para subjulgar os mais fracos! Ameaçá-los! Eu sei que vocês não trairiam o Rei, se
_Não estaríamos aqui, se o “Rei” tivesse dado ouvidos aos que tentaram alertar que Torank
era um perigo! -Falou Gatway com ironia.- Acha que o Rei ouvia o povo, Abud? Acha que o
povo estava próximo ao seu Rei tanto quanto seu Rei está do seu povo agora?
Assaz pulou sobre ele, segurando pelo pescoço, caindo ao chão e jogando-o por sobre sua
cabeça, fazendo alguns ossos estalarem. Alguns homens correram e seguraram Assaz.
- Nunca mais fale assim do nosso Rei; falou Assaz entre dentes, olhando com ódio para
_Ele tem razão, Assaz, retrucou Abud, tocando em seu ombro e fazendo-o se afastar de
Gateway _ Nosso maior inimigo somos nós mesmos, que nos acostumamos com aquilo que
foi destinado a nós. Que estejam comigo aqueles que quiserem retomar o que é seu!
-Yeeaahh!!
__Vê, Abud disse que nós da aldeia não precisamos participar das cerimônias da vila. Derek
_São povos misturados -contrariou Myndoka – Então são muitas tradições. Vou criar minha
própria tradição: se chama liberdade. Eu acho que Abud tá certo e que Derek tá com medo.
_Eu to preparado. Mas preferia ser Mago. Aprender música. Outras coisas que não servir as
mulheres do Faxar.
Derek segurava na comprida trança de Myndoka e rodava em volta prendendo seus braços até
ela ficar vermelha de tanto gritar. Quando estavam só os tres, as meninas não usavam seus
lenços. A mãe de Myndoka não via essa amizade com bons olhos. Abud não se importava.
Gostava de Derek.
Vendella suspirou.
Estava chegando o dia em que iria se oferecer aos rapazes da cidade. Durante a reunião do
levaria embora dali. Ela não se importava em ser escolhida. Preferia a companhia de seus
amigos. Mas as mulheres da aldeia diziam que elas estavam crescendo e passando da hora de
casar.
Até desejava o contrário – que o dote das outras garotas fossem maiores que o seu. E que
nenhum homem quisesse uma garota que afinal tinha que criar uma menina. Mas sabia que
não podia se enfear. As mulheres não deixariam, pois não ser escolhida era uma maldição. E
ouvia boatos das outras mães dizendo que perto dela, as outras não teriam chances. Será que
era bonita? Seu avô dizia que sim, mas não queria que ela participasse da decisão do
conselho.
_Tem algo muito melhor esperando por você. Vou dar um jeito para que você espere até a
próxima lua.
_Vamos chegar à festa de braços dados com Derek, assim nenhum rapaz irá olhar pra nós. E
_Eu ouvi isso e gostei, disse Derek, mas Vendella já estva planejando.
Isso! Quem sabe depois da festa não voltaria pra casa com seu avô como
sempre? E aí teria que esperar mais 52 luas para que o conselho se reunisse em outra festa e o
povo da aldeia pudesse ir. E até lá, ela escolheria alguém. E mudaria de novo as regras dos
homens.
A cidade estava em polvorosa com a festa. Todos se reuniam em volta da praça central. As
mulheres traziam tubérculos para jogar no moinho que rodava durante todo o dia. As mais
velhas recolhiam a farinha que saia do moinho e levava para as tendas montadas.. Sentadas
em folhas trançadas, elas misturavam aquele pó com caldo de alguma carne, recolhida das
caçadas do período. Vendella veio junto com Naretta, sua velha tia-avó, trazendo carne de
javali. Seu avô era um bom caçador, mas ela preferia pescar e fazer caldo de polvo. Hoje
ficaria com as mulheres mais velhas, porque ela estava com Quinn. As muito jovens iam para
cores e uma grande escadaria dava acesso aos aposentos do Faxar e das esposas que ele
escolhia.
Os rapazes tocavam instrumentos de corda para chamar atenção das moças – das bonitas e das
ricas - onde poderiam fazer a escolha e levar ao conselho até o final da tarde. Quando o sol se
Mago Feltzar e seu capacho Zamit andavam por entre as moças para escolher as mais bonitas
para o Faxar. Algumas já tinham seus pretendentes e se escondiam para não ser escolhidas.
Mas a escolha era muito difícil porque o mensageiro era muito cuidadoso e exigente. Diziam
ter um poder oculto para descobrir a pureza da menina. Mesmo sendo escolhida, não era
garantia de casamento com o Faxar. As vezes ela era devolvida à família uma semana depois.
E aí a família recebia umas cestas de alimento para ajudar no sustento da moça, que nunca
Zamit gostava das que eram desprezadas após as núpcias. Ele se sentia poderoso, escolhendo
a moça rejeitada, se deitando com ela até a próxima festa, onde ele a liberava e escolhia outra.
Elas fugiam mais dele do que do Fedegoso, um aleijado marcado com a “malha”, doença que
escurecia partes da pele como se estivesse queimado. Diziam que era filho do traidor que foi
Fedegoso vivia no cemitério do lado de fora dos muros. Comia o que lhe dessem e gostava de
olhar as mulheres na estalagem. As crianças corriam dele. Alguns diziam que não era
humano, mas deixavam-no andar por toda a vila e alguns homens lhe davam esmolas.
Os rapazes começavam a aprender as cordas muito cedo; passava muito tempo apenas com
uma corda –esta doada pela primeira mulher do Faxar em uma cerimônia de passagem. No
final da cerimônia devia fazer um juramento de lealdade ao Rei. Também podiam morar na
cidade.
A iniciação se dava no ciclo de Drax-somere, onde o rapaz recebia sua primeira corda. Com
ela, ele podia criar seu primeiro círculo, onde ficaria até a próxima estação. Nesse período ele
aprendia sobre a luz, só se alimentava de água e tinha que compor um poema para Spatze.
No ciclo de Kloratze, o rapaz recebia sua segunda corda, fazia seu segundo círculo e escrevia
um poema para Yunuline. Nesse período podia comer flores e frutos e se recolher aos
estábulos à noite. Eles aprendiam a calcular a colheita e conhecer pedras preciosas. No ciclo
Flutune o rapaz recebia uma capa. Era para se proteger do frio que se aproximava. Com a
terceira corda ele formava o terceiro círculo aonde iria dormir à noite. Alguns rapazes não
passavam deste ciclo. Tinham que escrever um poema para Montre-Supre e não podiam se
No ciclo Vintre ele fazia seu quarto círculo com a quarta corda. Tinha que passar todo o ciclo
de pé dentro do círculo e se alimentar de uma sopa feita de folhas. Devia escrever um poema
para Uvarma e não podia dormir. Alguns aproveitavam para cantar o poema e assim se manter
acordados. As vezes chovia muito e ventava à noite. Eles recebiam mais uma capa, mas essa
também ficava encharcada. Quem conseguisse chegar ao final do ciclo podia unir as cordas e
menores dentro dele representando os símbolos dos quatro ciclos: flor, fogo, lua e agua.
Os movimentos que eles faziam durante cada ciclo, formavam quatro desenhos dentro do
círculo. O que estivesse mais próximo de um dos símbolos, se tornava Mago. Os outros
estavam prontos pra trabalhar pro Faxar – nas terras procurando pedras de grande valor, com
os cavalos, com as armas ou o melhor trabalho –ser Zabudí das esposas, uma espécie de
“neutro” que cuidava das mulheres na casa grande, atendendo todos os seus pedidos. Para os
homens, esses escolhidos não eram como eles, não poderiam fazer família ou criar força física
para trabalhos pesados. Para as mulheres da casa, eles eram só diversão e o grande segredo
comentado nas cozinhas das casas que faziam parte do Seis salões do Conselho.
Ao receber a quinta e a sexta corda, os rapazes passavam a aprender letras e freqüentar por
uma vez a cada 52 luas, a casa da primeira Dama, esta a mais recente escolhida do Faxar.
Nesse casamento o Faxar já estava com idade avançada e entre os serviçais diziam que os
de doze cordas, feito de ébano e marfim e maior do que um homem. Esses participavam do
_Olha! Seu irmão já faz parte do conselho, Mika! Mostrou Derek com um dedo e o braço
_Abaixa isso!, falou Myndoka entredentes, puxando a mão de Derek pra baixo. -Eu não quero
_Por que não, Mika? Talvez ele peça notícias de sua mãe. Perguntou Vendella.
_Você não sabe? Riu Derek enquanto respondia – Ela teme que ela tenha arranjado um
casamento de favores pra ela. Isso faria com que ele subisse no conceito do Faxar.
_Ele é tão idiota quanto você, se pensa que pode decidir por mim! Desdenhou Myndoka.
Mas quando virou o rosto seus olhos estavam úmidos e sua face preocupada.
_Ele não viu você, Mika. Vamos sair daqui. Disse Vendella puxando-a para longe.
Durante a festa do conselho, o Mago abria o rolo e lia uma lenda que dizia que “ se o ritual
das cordas não fosse cumprido, um caldeirão fumegante ía ser entornado sobre Wilmerstah e
Abud dizia que o Mago dizia isso pra que o povo continuasse sob seu domínio: “ o medo
Mas quase toda a população acreditava no Mago e forçava seus filhos a seguirem com o
ritual.
A praça principal, com um grande chafariz e o moinho, era ladeada por ruelas. Uma dessas
ruelas tinha várias pequenas casa de pedra. Aqui moravam as pessoas escolhidas pelo
conselho. Eram os rapazes em treinamento; alguma moça que se casou com o rapaz da cidade;
alguns Zabudi que tinham sua própria casa; algumas pensões que hospedavam os estrangeiros
Vendella estava distraída e não percebeu sua chegada. As mulheres ficaram em silêncio e
Vendella, não percebendo que seu lenço havia escorregado, se virou e encarou Zamit, que
havia parado no centro da cabana e a observava. Seus olhos cor de folhas escureceram de
medo de ser escolhida para o Faxar. Naretta lentamente cobriu seu cabelo e fez um gemido ao
vê-lo se aproximar. Vendella retesou seu corpo e esperou de olhos fechados. Ouviu uma voz.
“essa não Zamit, ela tem uma criança pra cuidar.” Ao ver no mensageiro um tom de
Ela não se importava. Só tinha medo por Quinn. Mas, por onde andaria Myndoka?!
Derepente ouviram berros, como de um animal. Correram para ver e todos olhavam Zamit
carregar e amarrar ao cavalo, uma menina linda, com longos cachos negros brilhantes, agora
escondidos pelo lenço, que chorava e se debatia, enquanto o mensageiro conversava com as
desapontado. Gostaria que aquela não tivesse a pureza reconhecida pelo mensageiro, aí sim,
poderia ficar com ela! Mas o Faxar nunca duvidava das escolhidas pelo olhar do mensageiro.
pequeno vidro que tirara de seu alforje, e no mesmo instante ela dormiu. Houve um murmúrio
central do conselho.
Vendella não sabia o motivo, mas ficou com pena da menina. Ela notava a tristeza das
meninas que retornavam do palácio, após serem dispensadas. Ela notava a alegria das que
ainda moravam lá como esposas ou camareiras. Suas roupas brilhavam e o perfume que
usavam se fazia sentir a um metro do palco onde ficavam para assistir a festa. Usavam
adereços que emitiam os raios do sol conforme andavam ou se moviam e tilintavam ao mover
os braços e pés.
As que saiam, para nunca mais voltar, não falavam sobre o palácio, nem sobre uma vida boa,
apenas pareciam aliviadas e tristes ao mesmo tempo. Se tornavam melancólicas, quase mudas.
Ela se lembrava de uma que pulou no mar. A família chorou sua perda, mas nunca colocaram
a culpa naquele matrimônio de duas semanas. Uma delas começou a contar que nunca saía da
sala de repouso do Faxar, nunca havia visto outras pessoas ou outras partes do palácio. A
mesma mulher que lhe arrumava os lençóis, também lhe trazia o alimento e o banho. Isso
todos os dias, até ser enviada de volta à família. Mas ela levou uma surra de seu tio e parou de
_Porque o Faxar escolhe mais moças? O que as faz ficar - o que as faz sair? Porque algumas
têm o direito de ficar, mesmo sem dar um filho ao Faxar? E as que nunca voltam pra família,
_As más línguas dizem que elas ficaram prenhas e vão para a fogueira que aquece a cidade à
Esses mistérios deixavam Vendella triste. Não podia conversar com as mulheres de sua
cabana a respeito, porque nenhuma delas havia ido ao palácio. Seu avô havia trabalhado na
vila, mas quando ela começava a falar disso, ele ficava revoltado e só fazia repetir “tenho que
Começou a festa. As cornetas e as gaitas tocavam a música sinuosa avisando que o Faxar e
A comitiva do Faxar ficava em uma arquibancada atrás do tablado – dali podia se ver toda a
festa. Algumas vezes a comitiva vinha andando pela rua de pedra até o tablado, em outras,
eles apareciam nas grandes janelas atrás da arquibancada e desciam por ali. Diziam que era
uma passagem secreta que ia dar no Castelo, um corredor de pedra, construido para dar fuga
As mulheres faziam muxoxo de inveja das moças que seguiam a comitiva, os homens
tentavam ver os filhos que já faziam parte do conselho. Aos olhos de Vendella, que trazia
Quinn pela mãozinha, o Faxar parecia mais velho que seu avô e com pouca saúde. Mas
quando ele levantava a mão para acenar o povo uivava e se curvava. Os cavalos se vestiam de
cores e estavam mais bonitos do que o povo da aldeia. Estes ficavam afastados olhando a festa
Derek saiu puxando-a pela mão antes que pudesse ouvir qualquer resposta. Vendella ficou
Vendella procurou por seu avô com os olhos, mas não vendo-o em parte alguma, dirigiu seu
olhar para o palco. E derepente “o” viu. Ele estava parado na parte lateral do palco, montando
uma espécie de cavalete de madeira, e vários tecidos no chão em cima de um baú. Ele parecia
não ver a festa, mas olhava de vez em quando para o povo da aldeia e sua aparente felicidade.
Ele tinha o porte fino como dos fidalgos, que vinham do outro lado do mar. Tinha os cabelos
lisos e sobre os ombros, bailavam com o vento e as vezes encobria seu rosto. Quando
abaixava para pegar alguma ferramenta, sorria e seus dentes eram tão brancos, que parecia
Ela olhou seus lábios e se lembrou de uma fruta que havia visto na cesta que uma família
recebeu do conselho. Era um vermelho forte na extremidade e um rosa forte no centro. Essa
fruta tinha um cheiro de festa, de fartura - um cheiro doce sem ser enjoativo. Seu avô disse
que se chamava lichia. E que era branca por dentro. Era uma das frutas do paraíso. E que um
dia ela iria conhecer. A sua família nunca recebeu frutas. Ela conhecia de ver ali na feira que
acontecia na vila durante os festejos ou nas cestas de outras pessoas da aldeia. Conseguia
Vendella ficou rubra de vergonha quando notou que ele a olhava com um olhar divertido.
Esquecida em seus pensamentos, havia fixado seu olhar no estranho. Puxou mais o lenço
cobrindo boa parte de seu rosto e ele se levantou e continuou a montar as peças sem prestar
atenção nas honrarias que os músicos prestavam ao Faxar. Quem seria ele? Disfarçando o
olhar, qual não foi sua surpresa quando viu seu avô ao lado dele, entregando grandes pincéis e
potes coloridos. Vendella começou a tremer sem saber o motivo e quase desmaiou quando viu
que seu avô a procurava com o olhar e apontava naquela direção, fazendo o rapaz parecer
interessado. Ela puxou a mão de Quinn e saiu da frente das mulheres da aldeia e foi para traz
das baias onde ficavam os cavalos e charretes que transportava os pobres até a cidade. Quinn
reclamou, queria voltar e Vendella soltou sua mão no momento em que seu avô se
_Aqui está ela! Vendella, este é o pintor de quadros e veio do outro lado do mar para pintar o
Enquanto ouvia a voz de seu avô bem longe, sentiu uma mão, um toque diferente em seu
Vendella teve um sobressalto. A voz rascante a tirou dos devaneios para deixá-la com mais
vergonha. Ela havia desmaiado na frente dele! E ele a via sem o lenço, que havia escorregado
_O..onde est..tá meu... perguntou Vendella olhando ao redor do aposento no qual nunca havia
entrado.
Então Vendella ouviu os tambores. Ela sabia: Pomponeta ia se apresentar. Era sempre assim
nas festas – os tambores rufavam e o bobo da corte aparecia e era o único que fazia o Faxar
_Ele pediu que eu cuidasse de você. Ainda não me apresentei. Meu nome é Thassus. Meu pai
A cabeça de Vendella girava enquanto olhava a mão estendida do rapaz em sua direção. Será
que ele queria ajudá-la a levantar-se? Ela queria sair logo dali. Levantou-se e correu para a
_Não precisa ter medo Vendella. E se aproximou da porta e enquanto ela corria ele gritava:
Até mais...
Ela só parou ao chegar a cabana onde algumas moscas se misturavam às mulheres deitadas.
O cheiro de comida e sujeira se misturavam, mas ela se sentiu em casa. “Ele sabe meu nome!”
voltar...
Agora ela retornava para o meio do povo da aldeia e de lá podia ver o palco com o bobo-da-
corte fazendo o povo cair às gargalhadas. E o Faxar parecia muito feliz e pedia para
Pomponeta repetir cada cambalhota, cada história engraçada. “Será que é mesmo o vovô?
Porque esconder isso? Porque nunca presto atenção no que ele diz?”
Vendella decidiu que não podia continuar com esse medo de criança, afinal de contas ela tem
responsabilidade sobre uma! Claro que as mulheres da aldeia a ajudam, assim como sua tia-
avó, mas Quinn era sua, já tinha mistérios suficientes na sua vida. Pediu a Naretta para cuidar
Olhando as casas feitas de grandes blocos de pedras rosadas e lisas, com janelas em madeiras
cor de laranja e portas negras e imensas, com gárgulas presos nos puxadores, como querendo
afastar os não bem-vindos. Vendella virou à direita, aonde havia passado pouco antes ao fugir
do pintor, agora vendo um lindo chafariz de pedras, onde um cântaro recolhia a água que
vinha do chão e entornava dentro do entorno de pedra, fazendo uma música suave e
envolvente. Não aquele barulho terrível e raivoso que ela ouvia do mar, lá longe. Nem o
turbilhão que o rio fazia ao empurrar águas, árvores e lixos da aldeia. Vendella se aproximou
Pessoas passavam por ela: mulheres com lenços coloridos, vestidos compridos, mas ajustados
ao corpo, fazendo com que andassem com passinhos curtos e quadris balançantes. As crianças
vinham andando da mesma forma e as cores!! Vendella tentava guardar tudo que via, quanta
vestimenta alegre! As casas pareciam sorrir, as pessoas falavam de modo cantado e ela
Passou pela igreja, uma imponente construção com detalhes em ouro. Sabia que era
freqüentada por pessoas do além-mar. As pessoas de lá eram pagãs, seu avô lhe dissera –
pessoas que não acreditam em nada além de si mesmas. Vendella tinha curiosidade de entrar
em uma igreja e ver o que acontecia lá dentro. Ouviu as risadas e palmas enquanto a música
voltava a tocar.
Olhou a esquerda e viu a porta de onde saíra. Foi até lá, empurrou a pesada porta e entrou.
Agora podia ver que era como um lugar onde várias pessoas que se “apresentavam” na festa,
como seu avô, se reuniam para trocas de roupas. Ela já vira em outras festas do conselho
pessoas vestindo esses trajes esquisitos, vestidos de bichos, de pássaros, lá uma mulher
vestida de borboleta, uns rapazotes pulando em uma espécie de roda de pano e dobrando a
altura de seus pulos, nesta sala algumas pessoas tocavam instrumentos, viu meninas da sua
idade, com o rosto coberto com tinta, carregando círculos, fitas e usando pouquíssima roupa!
Tudo era muito colorido; a aldeia era sombria, com vários tons de cinza. Até o verde das
árvores demorava a aparecer e quando era tempo de folhas, elas vinham em tons marrons.
CAP. VIII – A VERDADEIRA WILMERSTAH
Vendella olhou pra trás e derepente se sentiu perdida. Voltou alguns passos e já não via a
porta por onde entrou: pessoas com cavaletes como os do pintor desenhavam em grandes
papéis, olhando para... um homem de costas agachado sobre um tablado completamente nu!
Vendella sentiu que estava paralisada, não conseguia se mexer, estava ficando sem fôlego
_Vô...vô!
_Vamos ao meu local, foi dizendo Abud e arrastando Vendella, acho que chegou a hora de
_Quinn vai ficar bem, Vendella. Por enquanto. Quando deixarmos de ser prisioneiros, aí
_Porque não sabemos que você faz...isso?! O que mais não me contou? É por isso que some
_Quanta pergunta? Mas a aldeia não é nossa, Vendella, Respondeu Abud com ar de tristeza.
_Nós não moramos nem lá, nem aqui, Vendella. Nós estamos presos. Wilmerstah é uma
_Para com essas histórias, vovô! Riu Vendella. –Nós somos livres pra ir aonde quiser e fazer
_Não! Isto é uma ilha, pra onde foram enviados os que eram contra os novos mandantes do
nosso país! E desde então somos mantidos nesta miséria e não podemos voltar às nossas
_Dava pra ouvir você de lá de fora George. Tem que tomar cuidado, agora que estamos tão
perto.
_Vendella, este é Tassus, um dos representantes do povo que está lá na “nossa” terra e que
_Apenas não falo com estranhos. Respondeu Vendella apesar de sentir as mãos tremerem na
presença dele. Vovô e porque estamos presos? O que o povo da aldeia fez de errado? Esse
George ou melhor Abud , ou ainda Pomponetta, após retirar a tinta do rosto, retoma a palavra
_Era o ciclo de Vintre. Você acabara de nascer. Sua mãe estava fraca. Alguns rebeldes
estavam revoltados, porque a lei não prendia os culpados de pequenos delitos. A nossa lei
punia de forma a mostrar que o errado não precisava mais errar pra conseguir o que queria. E
os rebeldes queriam construir uma prisão, para que todos que não fossem a favor do rei, no
_Vovô!
casas pras pessoas morarem enquanto pagavam suas penas: as cinco casas que formam o
castelo. O que o rei não sabia é que os rebeldes enviariam os prisioneiros para o meio do mato
– a aldeia onde você mora - para que sobrevivessem e morariam nas casas vivendo à custa do
_Mas esse é o livro de histórias que você lia para eu dormir, vovô!
_É uma história real, Vê – disse Thassus. Vendella franziu os cenhos ao ouvi-lo pronunciar
apenas parte de seu nome. Só a família e seus amigos tinha permissão para tal intimidade!
Abud continuou:
“Não contentes com isso, começaram a colocar na cabeça do conselheiro do rei – o Faxar- que
ele devia tomar conta de tudo, com a ajuda de meu irmão. Meu irmão estava obcecado pelo
trono que ele nunca teria, porque nós pensamos em mudar a lei, para que as meninas
pudessem subir ao trono e serem ótimas rainhas. Em outros reinos, as mulheres ainda estão no
comando e por lá, não há guerra, todos cuidam do ambiente em que vivem.
Então com a ajuda de uns revoltosos, Torank, o atual rei, entrou no quarto e mandou prender
o rei. Então os ajudantes do rei entraram em luta com os revoltosos e causou a morte da
Nesse momento Abud se emociona e Thassus resolve falar. Vendella havia esquecido dele.
_ Mas seu pai foi avisado da traição. Só que ele achou que morar no castelo, longe do palácio
_ Por isso me vesti de bobo-da-corte. Muito justo –ou Rei ou Bobo. Se eu soubesse como ser
_Avô.
_Não Vendella. Eu sou seu pai. Disse com a voz entrecortada pelas lágrimas. Mas na aldeia
_Como não sabem? Disse, enxugando o rosto de Abud com seu lenço.
_Eles não freqüentavam o palácio, Vendella – explicou Tassus – Eles só viam o rei nas
festividades e vestido com o manto real. Então, quando George fugiu vestido como um
_ Você é a herdeira do trono. Eu me tornei Pomponetta para fugir junto com o povo. Com o
rosto pintado ninguém me reconheceria e poderia voltar à cidade, para tentar retomar o trono.
E depois de todos esses anos de luta, eu envelheci e mudei muito, mas mesmo assim, só me
aproximo do Faxar como o bobo da corte. Ainda não me apresentei a todos, porque... penso
_Pare com isso, George. Não foi uma escolha sua. Você fez o que era certo para salvar sua
filha!
Vendella abraça o avô, agora pai. Ela se emociona e sente confusa com toda essa história.
Nesse momento Myndoka e Tassus entram na cozinha trazidos por um gigante branco:
_Você me surpreende quando resolve fazer alguma coisa sozinha, Vê, disse Myndoka
_Eles podem ouvir. Já está na hora dos amigos nos ajudar. Falou Abud e contou parte da
_Porque Vô...Pai...Porque o Faxar não gosta de crianças com marcas? Disse Vendella,
mudando o rumo da conversa tão rápido, que deixou Abud sem fôlego. Ele levantou as
sobrancelhas e disse:
_Porque ele tem uma marca de nascença, a marca do mal, então ele acha que todas essas
_A Quinn tem uma marca, Vovô. E Vendella contou a história de como não deixou a lei ser
cumprida.
_Já tomou uma decisão de rainha! E nós vamos voltar ao palácio, onde você nasceu.
_Nós vamos voltar ao poder. Está chegando a hora, Vendella. Diz Thassus
_Você não leva nada a sério, não é?! Respondeu franzindo as sobrancelhas.
_Feliz de quem tem amigos, minha querida. Mas eu quero terminar. Você precisa saber a
verdade. Quando toda a revolta estava controlada pelo meu irmão, ele mandou prender todos
que ficaram do lado do rei. Aqui, em Wilmerstah. Todos os que trabalhavam no Palácio foram
_Torank subiu a varanda ao amanhecer e avisou ao povo que o Palácio havia sido invadido e a
família do rei estava morta. Agora era o novo rei. E o povo de luto, não prestou atenção nas
_Ele era da minha guarda pessoal, mas veio pra cá muito ferido. Lenôra ainda não era daqui e
o mago não dava conta de cuidar de todos os ferido e os que adoeceram na viagem. Ao chegar
aqui, fomos enviados para a aldeia onde já tinha um povo morando. Eles ainda procuram por
mim. Eu me misturei aos aldeões e com a “pele” de Pomponeta, me escondi. Sua tia-avó
entrou em choque. Não estava acostumada com os mosquitos, dormir em redes ou no chão,
comer quando tiver comida. Então os aldeões deram uns tipos de chá, que a deixaram calma,
mas alienada. Ela não se lembra de muita coisa. O único que sabem quem eu sou é Zephyr.
_O tapeceiro?!
_Ele me alertou da traição. Era um dos meninos que estava treinando para ser cavaleiro,
levado a força pelo seu pai. Quando Zaquoia foi levar comida ao castelo, ele fugiu do seu
círculo e se escondeu no navio, indo para Quesselfor. No navio ele tentou roubar comida e
ouviu toda a conversa sobre o que Torank estava tramando. Ele se escondeu e ao chegar na
cidade ele procurou o mago e contou pra ele. O poderoso mago na hora viu que era verdade e
o levou até a mim. Eu estava feliz com seu nascimento e achei que nada podia estragar isso.
Prometi conversar com meu irmão. E então você sabe o restante da história.
CAP. IX – A TRAIÇÃO E O CRIADOR DE OVELHAS
Ele era um mercador de lã e suas filhas fiavam e teciam. Tinha um pedacinho de terra aonde
pastavam sua duzia de carneiros e uma ovelha. Não havia outras ovelhas para comprar, então
ele tentava aumentar sua prole, com uma única femêa. Precisava aumentar a quantidade de lã
uma vez ao ano, no ciclo de Flutune, para que todos pudessem se aquecer quando o frio
chegasse. Todo ano tosquiava saozinho seu rebanho. Depois ajudava a fiar e tingir a lã. Então
enquanto sua mulher e filhas teciam finos trajes, ele tecia grossos tapetes. Depois iria vender,
primeiro no porto, porque lá ganhava um bom dinheiro. Na cidade, o que sobrava, trocava por
comida e ervas.
Ele instalou as cinco cordas que recebera quando fez sua iniciação para cavaleiro, há muito
tempo, no tear. Então quando começava o movimento da roda, otear tocava uma música e ao
ouví-la de longe, ele se sentia bem – relembrava que tinha uma família que o ajudava. Muito
diferente de sua própria família. Aprendera tudo sozinho: a cuidar de animais, a tirar leite,
ajudava sua mãe a tecer tecidos para as tendas, enquanto seus irmãos mais velhos íam com o
pai. Ele sonhava em ser neutro e morar no castelo. Passava as tardes embaixo da frondoza
árvore sonhando. Ele tinha uma relação estreita com sua mãe e sua tia e não gostava das
Quando seu pai chegava, ouvia ele brigando com sua mãe:
a iniciação. Mas ele nem havia se preparado! Só lembrava dos soluços de sua mãe e isso doía-
lhe a alma. Nunca mais diria aquelas palavras! Prometia ser um cavaleiro quando estivesse
Chorou nos tres primeiros dias. No terceiro círculo, começou a transformar seu choro em
raiva. De tudo o que representava aquelas regras. De sua família que queria vê-lo longe.
Enquanto sentava naqueles círculos, ouvia pessoas passarem falando de uma cidade linda,
onde todo mundo é livre. E que todo começo de ciclo um navio parava no porto e depois
partia para essa cidade. E nos outros dois dias ele planejou. E qundo teve a chance de fugir no
meio da multidão, ele correu até o porto e se escondeu. A noite, ele tremia muito, com medo
do desconhecido, mas entrou no navio. Era tudo muito grande e esquisito, mas ele encontrou
um lugar para se esconder. E dormiu. Quando acordou, o navio balançava muito. Ele ouviu
muitas vozes e esperou até tudo estar quieto. Então saiu dali e olhou por um vidro
arredondado, viu que o dia estava se pondo, mas só via água. “Estou no mar!” pensou e foi
procurar alguma coisa para comer. Quase não conseguia andar, por causa do balanço do
navio, mas avriu uma porta e viu pedaços de pães em cima de um baú. Correu e pegou dois
pedaços. Quando ía voltar, ouviu as vozes dos homens que desciam. Ele se escondeu ali
mesmo. Foi aí que ele ouviu o que ia mudar toda sua vida.
Nunca pensou que ao contar ao Mago sobre a traição, seria ele mesmo considerado um
traidor. Torank mandou que ele fosse morto ao chegar ao castelo, de volta a Wilmerstah. Mas
Abud o agasalhou com roupas de mulher, cobriu sua cabeça e o levou para a aldeia.
_Eu não tenho nome senhor – querendo esquecer que não pertencia a nenhuma família.
_Então eu vou me chamar Abud – aquele que esconde –e vou te chamar Zaphyr – aquele que
foge.
Com a ajuda de algumas pedras que Abud lhe deu ele comprou ovelhas e começou a tecer.
Com ajuda de Abud escolheu uma esposa – feia, não escolhida por ninguém, mas que daria
uma boa esposa. E pra sua sorte teve duas filhas. Achou que nunca daria conta de criar um
menino.
_Ha! Há! Esse foi o que tramou tudo contra minha família! Ele se sente um rei aqui! Ele pede
cada vez mais dinheiro ao meu irmão para não contar ao povo e aos outros reinos o que ele
fez! E meu irmão tenta destruí-lo pra não ser delatado. Eu fui preso por ele. Eu o vi matar a
Naquela noite Vendella não conseguiu dormir. Ela viu e ouviu muita coisa. Era muita
informação e descobertas. Como será “voltar” para um lugar que ela não se lembra? Como
dizer ao seu pai, que foi um avô durante tanto tempo –e que pensava ser maluco por causa da
idade – que ela gostava de morar nessa prisão e que não conhecia outra vida, para sentir
saudade?!
Enquanto isso, Tassus havia voltado para a cidade. Ao descer do navio, seus pensamentos
As historias que se ouvia era de que Torank cobrava altos impostos do povo, não ajudava nas
do castelo, onde antes ficavam os animais em tratamento. Agora qualquer animal doente, era
sacrificado. Como Rei, era arrogante e dominador, não aceitando palavras do conselho, que
estava se desfazendo aos poucos. Quando roubara a coroa o seu irmão, o Rei George, custara
a ele o afastamento de grandes Reis e governadores de outras cidades. Ele contava com o
casamento do filho do Rei de Lorcas, para atraí-lo para seu lado, mas já estava desconfiando
Tassus era um Lorcasiano. Difícil dissuadi-lo da ideia de que as mulheres deviam governar o
mundo. Os Lorcasianos viviam para agradar as femininas. Mas ele havia fugido de sua cidade,
era um desertor do trono de Lorcas, não tinha uma irmã para herdar o trono. Torank contava
com isso para traze-lo para seu lado. Talvez devesse usar os poderes do Mago para dominá-lo.
Mesmo depois de derrotar seu próprio irmão, Torank não estava se sentindo forte no trono de
Quesselfor. Sentia uma fraqueza em reação à Lorcas. O acordo de paz entre os Reis acabou no
momento em que roubara o trono de seu irmão, o Rei George. Eles não haviam anunciado
uma guerra, mas sabia que uma cidade poderia tomar a outra a qualquer momento.
Torank sentiu uma súbita irritação – como podia conversar com o melhor amigo de seu irmão,
o governador do Reino de Lorcas e convencê-lo que era o único herdeiro do trono agora? Ao
enviar um mensageiro à Lorcas, a Rainha recusou-se a recebê-lo. Isso poderia ser um sinal de
Mandou chamá-lo.
-Soube que acabou de chegar do outro lado do mar. O que pode apetecer um herdeiro do trono
-Gosto de conhecer coisas que nunca seriam permitidas pela minha mãe. O Rei Torank sabe,
-Isso é coisa de mulheres! Não querem que sejamos homens! Podemos governar mundos,
-a pressa da juventude! Sempre tem algo importante pra fazer! É alguma moça?
Tassus não respondeu. Estava ficando irritado, mas não podia deixar que Torank desconfiasse.
− Rei, com mil desculpas, mas eu não fugi do meu mundo, para cumprir exatamente o
que meus pais queriam pra mim. Eu quero aprender sobre seu mundo. Eu sei que estou
sob sua proteção e isso já vale como um acordo pra minha família. Ninguém vai
− Mas eu ouço muitas histórias de que você está aqui como um espião e essa sua
− com sua licença, Senhor, eu não preciso ficar perto do poder para herdá-lo. O dia que
quiser voltar para minha mãe, ela vai me tornar o governante de Lorcas, casando ou
− Nisso você tem razão. Vamos fazer uma festa!! Faremos o povo esquecer dos
problemas! ZABUDIIIIII!!!!!!
o grito de Torank ecoou pelo salão e enquanto alguns serviçais entravam para atender suas
principalmente à casa grande. Ele e seus amigos das artes armaram um golpe contra o Faxar e
seus conselheiros, mas que também derrubaria Torank – uma armadilha para colocar um
contra o outro: um envia todos os pedidos e o outro recebe, mas dessa vez não seria assim.
Abud e todos que trabalhavam no circo podiam ir à cidade de navio e voltar durante os
períodos de festa. Nessa última festa eles conseguiram fazer com que os pedidos do Faxar
fossem enviados no navio que levava o circo. Quando pararam no porto, os homens de Assaz
já esperavam e conseguiram esconder nas cavernas tudo o que chegou nos navios naquela
Como previsto, Zamith enviou vários mensageiros ao outro lado do mar para cobrar do Rei
Torank, os mantimentos e todos os outros pedidos que sempre chegaram nas últimas mil,
_Que insulto! Não fomos recebidos e ainda vamos voltar sem os mantimentos! Isso não vai
ficar assim! Vamos informar ao Faxar que o rei se recusa a pagar os honorários devidos!
Enquanto isso, Abud fazia com que chegasse aos ouvidos do Faxar que o Rei cancelou a
amizade e que não mais financiaria os gastos do Faxar e sua comitiva. Quando Zamit chegou,
a guerra já estava formada. Assaz que era o capitão dos cavaleiros, já havia juntado todos os
homens para enviar ao outro lado do mar. As falas de Zamit aumentou os ânimos para uma
guerra. Abud via seu plano seguir conforme o planejado. E naquela noite distribui os
mantimentos para a aldeia enfraquecida. Foi um banquete, com festas e ao tomar a palavra,
Abud disse:
_O Rei descobriu que Zamit não estava distribuindo o alimento de forma correta, então
_Viva o Rei!
_Abaixo Zamit!
_Para onde nós vamos tem muito mais, seu bobo. Falou Myndoka
Então Vandella começou a entender o plano - seu avô colocaria as pessoas da aldeia do lado
_Mas a aldeia não tem condições de lutar contra o Faxar! Gritou um aldeão no meio da
“Também mandei uma mensagem ao Rei dizendo que o Faxar e seus homens, não receberiam
mais ordens e que iriam tomar a comida de todos as embarcações que passassem por essas
águas. Então o Rei esta enviando soldados para retomada da ordem. Nós vamos nos unir aos
_ com as armas tomadas dos soldados de Zamit e com a retomada do navio. Sem ter como
planos.
Enquanto os homens da aldeia se dirigiam para a caverna, para aquela que seria a última
_Prefiro ouvir a reunião que seu avô vai fazer- resmungou Derek
_Pai, Derek! Ele não é mais avô, é Pai! Corrigiu Myndoka.
Não estava acostumada a vê-lo como pai. Entraram na cabana. Vendella se dirigiu a pesada
caixa. E forçou para abrir. Ela abriu e viu vários livros feitos de tecido. Quinn sentou-se ao
seu lado. Sabia que aqueles livros significavam história. Começou a olhar as figuras de
Palácios, jóias – essa seu avô chamava de pérola – o desenho era muito lindo. Tinha moças
com vestidos que ela não vira nem nas esposas do Faxar. Havia pequenas peças brilhantes
coladas ao tecido. Todas tinham os cabelos longos e nenhuma usava o lenço. Ela ia falando
das figuras para Quinn. Não entendia metade dos sinais escritos ali. Tinha todo o desenho de
uma cidade onde a parte de cima das casas eram pontiagudas, e de uma cor avermelhada.
Meninos com cestos cheios de frutos gigantes, com cascas de várias cores. Em outro livro
_Como alguém pode morar assim e deixar pessoas morando numa cabana? perguntou
Myndoka.
_A mesa é tão grande que cabe toda a aldeia aí. Falou Derek
Vendella achava tudo maravilhoso. E contou tudo para seus amigos. Seu avô lhe contara
para manter a cidade de Quesselfor funcionando para o bem do povo e de seu Rei. Havia
também os estudados. Pessoas de alta posição e que não trabalhavam em serviços pesados –
Em toda a cidade esses costumavam criar leis para confirmar a liberdade que não poderia ser
tomada por outra cidade, e se organizavam escrevendo seus costumes, numerando seus
animais e leis para o uso de trabalhadores conforme a especialidade de cada um: tecelão,
O outro livro falava da hierarquia das pessoas que viviam sobre o comando do Rei. Havia um
desenho com de uma árvore e seus galhos – o Rei era a fruta acima de todas no mais alto
galho da árvore. Vendella viu que os filhos do rei vinham logo abaixo dele. E várias outras
pessoas iam descendo os galhos. De repente ela viu o nome do Faxar. Ele estava no meio da
_Então você está acima dele! Não precisa teme-lo! Sorriu Derek.
_Não precisa se casar! Bradou Myndoka. E pode me levar com você para o palácio!
Sua tia-avó entra na tenda e ao vê-la com os livros sussura numa voz trêmula:
Vendella viu o elmo dourado, com o desenho de uma mão aberta e o centro cravejado com
Derepente um barulho ensurdecedor tomou conta da aldeia, mas parecia distante. Todos
correram para ver uma bola de fogo e fumaça que subia dos portões da cidade. Vendella
lembrou-se das mulheres passando gordura em todas as lanças e os homens vestindo seus
_Vou me juntar aos homens, disse Derek enquanto corria na direção da grande tenda central.
_Eu quero ficar aqui! Retrucou, mas deixou-se levar junto com Myndoka e as outras
mulheres.
Os sons dos cavalos correndo, os gritos e das explosões, fizeram com que as mulheres
começassem a entoar cânticos. Vendella olhava para Quinn esperando que aquilo acabasse.
Na cidade os homens de Zamit tentavam lutar com os homens que o Rei havia mandado para
retomar o poder. Os homens de Abud juntaram-se aos homens do Rei e conseguiram dominar
Aldeia se feriram e dois morreram. Enquanto roubavam espadas e cavalos dos prisioneiros
feridos ou mortos, com as mãos e espadas sujas de sangue, os homens de Abud seguiram para
o porto para tomar o navio. Estava escuro e silencioso. Os homens do rei que guardavam o
navio, deviam ter ouvido toda a batalha, mas não estavam posicionados. Parecia uma
armadilha. Glook fez sinal para alguns homens entrarem na embarcação pela água.
Silenciosamente mergulharam. Então um dos guardas do navio apareceu e lançou uma flecha.
indo em direção à embarcação. Os outros homens já haviam entrado na embarcação pelo mar
A situação na cidade já estava sob as ordens de Zaquoia, o enviado do Rei. Ele subiu no
Houve um murmúrio abafado entre as pessoas que saíam devagar de suas casas para ver o que
tinha acontecido.
O faxar estava sentado em uma caixa colocada às pressas porque estava muito velho e doente.
uma grande fogueira no centro da praça. No tablado alguns homens montavam uma estrutura
_Ele e seus conselheiros serão enforcados. Suas mulheres serão queimadas. O povo que nos
ajudou a terminar com esta rebelião, poderá escolher um representante entre vocês. Ele será o
novo Faxar.
Vozes e murmúrios eram ouvidos entre a multidão que já cercava a praça. As mulheres da
aldeia já estavam chegando e procurando por seus homens. Alguns estavam feridos, mas
nenhum havia morrido. Vendella viu a cidade cheirando a fumaça, partes das lindas
construções estavam destruídas, havia muita gente chorando por toda parte e homens
retirando corpos.
_ Vocês devem gritar quando eu colocar a capa sobre o ombro de cada um deles. As vozes
Abud começou a juntar toda a gente da aldeia para que formassem um grupo como uma só
voz. As pessoas da cidade estavam espalhadas. E quando Zaquoia colocou a capa sobre o
ombro de Assaz, o que se ouviu foi um som tão alto que os vidros da igreja que ainda estavam
intactos, se partiram.
E a multidão aplaudiu.
Quando Abud viu seus homens chegarem trazendo os prisioneiros do navio e o manto da
cidade já estava sobre os ombros de Assaz, Abud deu o grito de ordem e seus homens
rapidamente capturaram todos os homens do Rei. A surpresa fez com que não tivessem tempo
de revidar ao ataque.
_O que está acontecendo aqui? O rei vai saber disto! Gritou Zaquoia.
_Como novo Faxar, quero lhe apresentar o Rei George, legítimo Rei de Quesselfor.
Zaquoia.
_Podem soltá-lo- Abud pediu – Zaquoia, a sua família sempre foi amiga da minha família.
_Nenhuma mulher será queimada nesta cidade. Todas deixarão o palácio e irão viver na
Dava pra ver o medo e o ódio misturado em seus olhos. A multidão zombava gritando
multidão. Os homens tentaram persegui-lo e então ele apanhou uma moça pelos cabelos que
saíam de debaixo de seu lenço, e a coloca como escudo, com uma adaga em seu pescoço.
_Eu a matarei se alguém tentar se aproximar de mim!! Saía espuma de sua boca enquanto
Abud cai de joelhos quando seu olhar se cruzou com o da moça – era Vendella.
Zamit andava para trás arrastando Vendella até os camarotes. Nisso o Mago falou umas
De repente, Vendella achou que estava cega, mas quando seus olhos se acostumaram com a
escuridão, ela soube que estava dentro dos muros da vila. “Então é verdade que esse lugar
existe! Mas eu preciso tentar atrasá-los um pouco.” Pensando isto ela fez como se tropeçasse
Zamit que ía mais à frente, virou-se e olhou com olhos mortais. Quando ía retornar o Mago
disse:
Então o mago aproximou o frasco do seu nariz, e derepente tudo ficou escuro.
Zamit olhou em volta. Daria tempo de leva-la até o porto e tentar atravessar para a cidade. Ele
tinha certeza que Torank agradeceria seus esforços. Afinal de contas, existia alguém que
poderia tirar-lhe o trono. O corredor escuro fazia com que eles andassem muito próximos e
devagar. Estava muito úmido e apesar de já haver passado por ali há muito tempo, ele tentava
o lugar errado eles sairiam no cemitério, do outro lado de onde realmente ele queria sair- o
porto, a fuga. Enquanto andava fazia planos para reivindicar um cargo – quem sabe Torank o
colocasse como chefe dos Cavaleiros? Isso fez com que sorrisse. Os dois rapazes que
ajudavam a carregar o corpo, embrulhado em um tapete, pararam para descansar. O Mago que
ia atrás reclamou:
Dito isto, retirou um circulo de um saco que trazia pendurado em seu cinto, e jogou ao chão,
_Então faça-nos encontrar a direção certa! Talvez tenha algo nessa sua sacola...
Então o mago jogou um pó em seu rosto e Zamit segurou a garganta. Parecia que estava seca
e ao tentar falar, sentia areia em sua boca. Os homens voltaram a andar e ele seguiu-os,
_Não quero ouvir mais nem uma palavra, Zamit. Eu tenho meus próprios planos para a
menina.
Zamit concordou com um aceno de cabeça. “Quando for nomeado chefe dos cavaleiros, vou
Do lado de fora o velho mago da aldeia tentava ajudar Abud que estava desesperado. Ele
jogou um pó avermelhado nas duas saídas do muro: a que dava para o porto e a que saía no
cemitério.
_Isso irá confundí-los. Eles terão que sair exatamente por onde entraram.
Enquanto isso Abobdan tentava fazer com que Abud tomasse um chá com um forte cheiro
adocicado.
_Eu não devia beber isso. Eu tenho que ser forte para protegê-la!
…..........................................................................................................................................…....
_Eu sei onde vai dar essas passagens aí dentro: numa cabana perto do porto. Eles estão indo
pra lá. Informou Derek animado com a possibilidade de ajudar sua amiga.
_Então vamos!
_Não – retrucou Derek _ Isso é perigoso! Vamos informar aos guardas e...
em um corredor escuro.
E correram até um ponto onde Derek mostrou uma marca e seguiram para a direita. Mais a
frente Derek mostrou outra marca e subiram alguns degraus e chegaram a um centro com
várias passagens.
_ Aonde vamos agora, falou Myka fazendo eco com sua voz.
_Shshsh. Derek fez um gesto de silêncio e entrou em uma das descidas puxando-a pela mão.
Mais à frente ouviram vozes. Derek levou-a até uma inclinação e sairam por uma abertura
_Eles são quatro. O que faremos? Perguntou Derek. Os dois rapazes eu dou conta, mas o que
_Nãão! Falou Derek forçando a voz para não gritar. Eles usam poderes daquela fumaça azul e
_Mas também não posso ficar aqui sem saber o que vão fazer com ela! E desceu a colina
A casa era baixa e estava apoiada numa pedra. Aquele pequeno comodo era a casa toda e
tinha apenas uma abertura no telhado que servia para entrada de luz ou saída da fumaça. A
parte de trás da cabana dava pra uma gruta, servindo de quarto. Havia um brilho de fogo num
pequeno fogareiro, e um banco baixo a um canto. Havia uma vela feita dos restos de cera que
a igreja jogava fora ou que sobrava nos túmulos. Havia um fedor de umidade e sujeira.
Derek e Mika se aproximaram da janela e viram que colocaram o saco em que Vendella
O outro rpaz avançou novamente e Derek esperou girou o corpo, colocando sua perna sob o
movimento da perna do outro rapaz que desequilibrou e caiu. Mais do que depressa Derek
Ele tentou rancar de seus dedos, mas não conseguiu, então pegou uma pedra e tentou esmagar
seus dedos. Ele soltou com um grito que chamou a atenção das pessoas na cabana.
Nesse momento Zamit cercou a frente de Derek e apenas com uma das mãos apertou-lhe a
garganta. Derek batia em seus braços com o punho fechado tentando se soltar enquanto o
_Solte ele! Gritou Myka sentindo lágrimas nos olhos ao ver que Derek estava sem ar.
A voz dela chamou atenção de Zamit que largou Derek tossindo no chão e se aproximou de
Myndoka.
_O que temos aqui! Disse levando seu rosto para olhá-la melhor.
Myka se debatia presa com os braços pra tras enquanto Zamit tocava em seu rosto. Derek
recuperando as forças tentou enfiar a adaga que estava caída no chão nas costas de Zamit, no
momento em que o mago, à porta da cabana, levantou os braços e falando apenas algumas
palavras, derrubou-o no chão. Derek sentiu como se alguém tivesse chutado seus ossos das
costas. Doía muito e ele não conseguia levantar. Viu Zamit levando Myka para dentro da
Dentro da cabana Vendella começou a se mexer dentro do saco. Conseguiu sair e um dos
rapazes segurou-a e sentou-a no chão ao lado de Derek. Eles ouviram gritos vindo da gruta.
_Onde está Myka, gritou Vendella para o Mago que fazia uma fumaça azul subir da vela que
estava na janela. Novamente empurrou o rapaz, que não esperava reação, e saiu correndo pra
gruta. Derek aproveitou a reação dela e também correu pra adaga e golpeou o rapaz na mão,
que revidou e o golpeou com as costas da mão e ele caiu, enfiando a adaga no pé do rapaz que
urrou de dor. O mago virou-se e jogou uma fumaça amarela na direção deles. Derek
escondeu-se atras do rapaz, que inalou a fumaça e segurou a garganta sufocado. O mago
Vendella ao entrar na gruta, pulou nas costas de Zamit sem pensar duas vezes. Ele segurava a
garganta de Myka com as duas mãos e havia rasgado suas roupas. Myka deu um pontapé em
_Pare! Gritou o mago da entrada da gruta. Levantou a mão e fez uma fumaça vermelha em
forma de bola e jogou na direção de Vendella. Myka prevendo o pior jogou-se na frente no
exato momento que a chama bateu em seu peito e ela caiu nos braços de Vendella. DereK
chegou no momento em que o mago virou e jogou a vela no chão. Ele pisou na chama e a
apagou.
Então uma parte do muro começou a tremer e veio abaixo. Quando a poeira se dissipou, podia
ver o olhar espantado do Mago e dos dois cavaleiros e o olhar de ódio de Zamit diante de
_Ponham suas armas abaixo e tragam a moça até a mim! Ordenou Assaz.
Os rapazes olharam pro Mago que fez um gesto com a mão para obedecer. Vendella estava
Zamit pulou agilmente e encostou a adaga em seu pescoço e agarrando-a pelos cabelos, o que
negro, com grandes dentes afiados brilhando na noite, provocou sussurros de medo na
multidão. Vendella não sabia se sentia mais medo de Zamit, que apenas encostava a adaga em
sua pele, ou do amigo de seu avô, que andava na companhia de um animal selvagem!
_Zamit! Ajoelhe-se ou darei ordens para que Focus comece sua refeição por você! Sibilou
Tassus.
Apesar de falar em tom normal, houve um eco de sua voz. Vendella pensou em como podia
_Vocês pensam que eu não sei quem é ela?! Bradou Zamit, tremendo e andando para trás.
Vendella tentava dominar o medo. Fazia um tremendo esforço para controlar o fôlego e para
conseguir ficar em pé, forçava suas pernas tremulas a lhe obedecer. Com o olhar procurou por
seu avô. Viu-o abaixado e recostado no aprendiz do velho mago. Ele parecia ferido. Vendella
ficou preocupada com ele, mas tentava não chorar – faria Abud sofrer mais.
O mago tentando fugir, Derek segurou-lhe na mão e então sentiu seu braço começar a pegar
Derepente Tassus ergue um bastão prata que estava em sua mão e um clarão ofuscou a vista
de toda a multidão. “vou ficar cega” pensou Vendella. Nesse momento Focus pulou sobre
Zamit que ainda tentou ferir-lhe com a adaga, deixando Vendella livre para correr para os
braços de Abud. Eles se abraçaram felizes ouvindo gritos de terror da multidão que
presenciava a cena de Zamit ser despedaçado pelo lobo. Todos correram tentando se proteger.
_Absatz! Gritou Tassus e abaixou a lança. No mesmo momento o lobo deitou-se a seus pés e
abraçando-o.
_ É o meu dever, Senhor! Temos que seguir urgente para o navio. Queremos chegar à cidade
Nesse momento Jabon tendo reconhecido o verdadeiro rei, apoderou-se da adaga caída no
chão e se jogou sobre George. Ele caiu sobre os braços de Tassus, sobre os gritos de Vendella.
Assaz puxou Jabon pelo pescoço jogando-o no chão e decepando-lhe a cabeça com sua
espada afiada.
Vendella segurava a cabeça de seu pai em seu colo e chorava baixinho. Tassus levantou
novamente seu bastão prateado e novamente um clarão foi visto em todo lugar. Ele retirou a
parte de cima de seu bastão. Os soldados viraram Abud de costas e retiraram a capa. A adaga
havia aberto uma grande ferida. Tassus se aproximou e derramou um líquido prata sobre o
_Não deu pra esperar. Ele já foi julgado e condenado, riu Assaz enquanto fazia movimentos
imitando o golpe.
_Eu sinto muito. Ela foi para o mundo dos sonhos. Respondeu Tassus.
Vendella soluçava e tentava respirar ao mesmo tempo. Abud colocou sua cabeça em seu
_Ela … morreu...pra...me...proteger...Derek...
_Acho que ele ainda precisa de cuidados, Vendella. Ele foi ferido gravemente.
_Você vai ficar bem, Derek? Me promete?
Ele apenas sorriu um sorriso triste e foi levado pelos homens de Abud.
CAPITULO XI – O OUTRO LADO DO MAR
Enquanto Assaz subia ao tablado para acalmar a multidão e dar novas ordens, Abud, Vendella
_ Não iremos no mesmo barco. Devemos nos separar e garantir chances de não sermos
_Posso ir também se você quiser, disse Tassus aumentando ainda mais o seu sorriso.
_Não preciso mesmo. Obrigado, disse empinando o nariz sem notar o gesto.
_Claro que não, Princesa, respondeu Tassus fazendo uma curvatura – o que fez Vendella
abaixar a cabeça envergonhada. Ela não queria parecer mais que os outros, mas porque
sempre acontecia? Puxou Quinn pela mão e subiu as escadas de madeira e corda, junto com
sua tia e outras mulheres para o navio. Foram acomodadas nos alojamentos e então Quinn
Não tinha mais sua amiga. E Derek havia perdido um braço. Não podia mais jogar taifa nem
ser um cavaleiro. E havia perdido seu grande amor, nunca assumido. Para que ele vivesse uma
nova vida, Tassus ordenou que seus homens o levassem pra treinar com os gormogons. Em
Lorcas, ter apenas um braço não fazia diferença para um guerreiro. Isso o deixou mais
animado. Vendella não sabia se ficava feliz ou triste. Ia ficar distante do amigo, mas morar em
outra cidade, ía trazer de volta a vontade nele a vontade de viver. E ela não queria perder mais
Estava numa floresta escura. Ouviu o pio da coruja muito forte. Sentia muito medo. Começou
caveira. Havia muitas casas velhas de madeira próximo ao castelo e dava pra ouvir a madeira
rangendo. Começou a tremer. Pensou que poderia aparecer monstros horripilantes se olhasse
para trás. Talvez tivesse homens armados no castelo para protegê-la. Bateu na porta e sem
esperar empurrou-a. Era muito pesada, precisava fazer um enorme esforço. Deixou a vista se
acostumar com a escuridão. Compreendeu que estava em um tipo de templo. Sentiu o chão de
pedras irregulares. Havia luz e movimento à frente. Se encostou na parede para não tropeçar e
foi seguindo em direção à luz. Viu que havia um homem caído no chão de terra batida. Ele
estava com uma roupa diferente, mas parecia com a dos homens em pé a sua volta. As
beiradas das mangas era de couro ,mas o restante era de tecido fino. E a camisa terminava em
um capuz de couro sob sua cabeça. Ele estava caído com a cabeça virada para o outro lado,
não dava pra ver seu rosto. A única diferença entre suas roupas e botas e a dos outros era que
na sua um fio prata fazia o desenho de um caminho em toda a extensão. Podia ouvir a
respiração ofegante dos homens. Havia sido um luta inglória – um contra vários. Pensou que
os homens pudessem ouvi-la respirar e colocou as mãos sobre a boca. Estava atras de uma
grande pilastra e não podia ser vista. Dois homens o seguraram por baixo dos braços e o
levaram, arrastando os pés. Todos estavam usando um helmo com chifres. Nunca havia visto
aqueles uniformes. Alguns homens estavam com lanças, outros com espadas. Não conseguia
ver quantos eram. Eles viraram em uma parede curva. Seguiu encostada na parede e foi atrás
deles. Sentia que devia sair dali, mas seus pés a levaram para perto do perigo. Eles o soltaram
no chão e conversaram entre si numa língua que não podia entender. Ela não viu quando
aconteceu, mas foi rápido quando ele segurou em uma das lanças e usando-a como um
impulso para jogar os dois pés no peito do outro guarda que bateu contra a parede. Rolou por
sobre as costas do que estava abaixado e enfiou no terceiro a própria flecha que estava
posicionando no arco. Segurou a espada do guarda pelo punho girando por debaixo de seu
braço e atacando com ela um outro guarda na barriga, girando e acertando outro nas costas.
Não conseguia tirar os olhos dele quando ele a viu. Não podia ver seu olhar, mas ele parou a
cabeça na sua direção e isso distraiu-o, fazendo com que um guarda acertasse o bastão em sua
nuca e o derrubasse. Olharam diretamente na direção dela. Queria correr, mas seus pés
pareciam fincados no chão como uma árvore. Foram levados para uma sala na torre, depois
de subirem várias escadas em círculo, sempre subindo. Torank os aguardava ao lado da janela.
Sua cabeça raspada brilhava com os primeiros raios do sol. Ele tentou se libertar novamente e
a guarda pessoal levantou cinco espadas para ferí-lo, mas Torank levantou a mão como um
comando para esperar. “Deixe-a ir” pensou ouví-lo dizer. Eles foram levados para a janela.
Havia uma ponte muito fina que sumia no nevoeiro. Ele foi empurrado para a passagem.
Estava com as mãos amarradas à sua frente. Sentiu vertigem ao colocar o primeiro pé. Ele
virou-se e olhou-a, mas não conseguiu ver seu olhar – o capuz cobria a maior parte de seu
rosto. Ele começa a andar mais rapidamente na ponte, emite um assobio. Uma grande águia,
num vôo rasante, segura com os pés as mãos que ele havia levantado e mergulha na névoa.
Alguns homens correm escada abaixo. Torank se aproxima e a empurra. Ela sente a queda. E
_Venha se vestir, Vendella. Não vai querer chegar ao palácio parecendo uma serviçal!
Resmungou Naretta.
Ela deixou escolherem um vestido, retirar o lenço que nunca mais colocaria, pentear seus
cabelos e exclamarem várias vezes de admiração. Ao olhar Quinn tão linda vestida como uma
sobre a grandiosidade da cidade de Quesselfor. “Bem que minha tia disse – uma mulher adora
jóias e se vestir bem. Mesmo que nunca tenha usado, basta uma única vez, para sentir como se
fosse sempre assim.” Ela se sentia assim. Era como se sempre houvesse usado belos vestidos.
uma curvatura disse: “a sua charrete é aquela, Princesa” e qual surpresa ao ver uma linda
Ao chegar em Quesselfor, passaram pela rua principal que levava até o palácio. Toda a cidade
parecia luzir. O sol batendo nas construções incomodava a vista. Nunca achou que o sol
brilhasse tanto!
_ O quê?
_que incomodam seus olhos, continuou ele. Os piratas trouxeram um mágico que transforma
vidro comum em espelhos. Eles refletem toda imagem que está na frente.
_Muito melhor e mais perfeito, por isso eles refletem a luz do sol muito mais forte do que
E então Vendella avistou o palácio de Quesselfor todo coberto por placas de espelhos. Era
uma visão assustadora. O sol jogava sua luz dourada sobre ele, parecendo que era o próprio
_ Isto são igrejas? Perguntou a Türgap, o cocheiro que estava esperando no porto, para leva-
_O que eles aprendem aí? Perguntou ao ver várias pessoas entrando e saindo do lugar.
_Os ensinamentos do Uníssono. Toda ciência e todo conhecimento é uma forma de se unir ao
_Preciso conversar sobre isso com meu avô. Quer dizer, meu pai, sei lá...Tenho tanta coisa pra
aprender...
O cocheiro parou a charrete. Ao entrar Vendella teve a mais bela visão do conhecimento.
Paredes do teto ao chão repleta de livros de todos os formatos e tamanhos estavam dispostos
em tres divisões que convergiam para um pátio central com várias mesas e em algumas,
pessoas sentadas liam e anotavam. Desceram para o pátio central e enquanto o Bibliotecário
_Essa é a parte dos alimentos. O prato principal, aquilo que você precisa comer para continuar
branco.
_ está aprendendo a caligrafia de outras culturas. Vamos a segunda parte: são como as
vitaminas das frutas e a essência das flores. Você pode passar sem elas, mas é sempre bom
_ São instruções de cura dos males, cálculos de construções dos castelos, mapas para navegar
os grandes mares, criação de instrumentos, animais e alimentação. Aqui você pode aprender a
_Não, nós não proibimos o conhecimento, apenas indicamos a forma segurá de adquirí-lo.
_É como o vinho, que um pequeno gole pode adocicar seus lábios, mas em excesso pode
embebedá-la. É como o aniz, que deixa um toque marcante no doce, mas que amarga no final.
conhecimento.
_ Olá. Seja bemvinda, Princesa Geórgia. Não devia descer aqui! Está sendo esperada no
Palácio para a cerimônia oficial de posse da coroa. O Rei a aguarda – sorriu curvando-se
perante Vendella.
_Eu queria conhecer o Templo... Como vou aprender isto tudo? E para de se curvar! As
_Não é pra mim que estão olhando, é pra você Princesa Geórgia! Eles estão curiosos pra ver a
_Eu vou voltar... vamos para o palácio então Türgap. – Vendella ficou rubra ao ver pessoas se
aproximando – ainda não se acostumara a andar sem o lenço e a usar uma roupa de festa tão
linda e tão colorida! Uma camareira que veio apanha-la no porto, trouxe um baú com vários
vestidos para que ela escolhesse um e usasse imediatamente. Não tinha vindo no mesmo navio
que seu pai, porque os cavalariços acharam arriscado os dois descendentes do trono seguirem
no mesmo navio. Para que não acontecesse uma fatalidade a um dos navios, Quesselfor ainda
teria um regente para o trono. Ela apenas pegou o primeiro vestido, de um amarelo tão
brilhante, que pensou que iria cegar. Entrou em uma das tendas e a ama veio ajuda-la a vestir-
se.
Vendella ouvia histórias de princesas, contadas por seu anterior avô e agora Pai, era como se
conhecesse cada tecido que nunca vira, cada gesto de reverência que o povo fazia quando
passava, o perfume que sentia nessa nova terra. Estava um pouco assustada, mas resolveu que
Quando os portões do Palácio se abriram para ela entrar, Vendella teve um súbito ataque de
pânico – era tudo muito maior e muito mais lindo do que os desenhos de seu avô! O palácio
era todo coberto com pedras como aquelas que ela guardava pro dote! “Como conseguiram
Tassus desceu logo atrás de Vendella e começou a lhe apresentar as pessoas do palácio – os
ministros, os sábios, e todos se curvavam. Ela se sentia perdida sem seu avô
_Onde está Abud?
Ao entrar nessa grandiosíssima sala, um coral de várias vozes começou a entoar uma linda
Então viu o Rei. Ele vinha acompanhado de Zaphyr. Seu pai havia tirado a barba grizalha,
cortado os cabelos e vestido seu uniforme real – uma capa de veludo branco, onde estavam
costuradas várias pedras preciosas, e em sua cabeça brilhava uma pequena coroa. Zaphyr o
seguia logo atrás e trajava um a capa de veludo azul Royal – a capa dos Duques.
O Rei se sentou. Sua cadeira era banhada a ouro e maior do que a cadeira do lado.
Nesse momento um dos escribas começou a cerimônia, lendo páginas de um grande livro:
_”Na era 3 do Grande Conhecimento, no ano do Rei George II, apresentando a Princesa
Geórgia, para Quesselfor, a cidade da Lua. O grande Conhecimento, que é a onda sonora, não
audível ou visual, mas que rege todo o saber, agita-se nesses milhares de pensamentos
receber essa onda, receberá também o conhecimento da Grande Mãe, voltando à origem de
Tassus se aproxima com um manto branco e coloca sobre os ombros de Vendella. Ela nota o
quão próximo eles estão e enrubesce. O Rei se aproxima e coloca uma tiara em sua cabeça,
tão linda quanto seu sorriso está agora. Então o rei toma o cajado da mão de Tassus, ergue e
um imenso clarão cobre todo o salão e coloca sobre o ombro de Vendella. Vendella fecha os
olhos e sente uma força, uma fraqueza, muito frio e muito calor, sente como se estivesse se
elevando acima de todos os presentes, mas sente seus pés no chão. Fica com medo de abrir os
_Te ordeno Princesa de Quesselfor, serás acima de todos os homens, escolherás teu próprio
Nesse momento ela sente como se estivesse caindo numa velocidade alucinante e abre os
_ Toma a espada Real do Grande Conhecimento, Princesa Geórgia. E seja feliz, minha filha.
Vendella sentiu lágrimas quentes escorrerem em sua face, mas sentiu feliz por ser abraçada
_Obrigado, Pai!
CAPÍTULO XII – UM DESERTOR E UM CASAMENTO
Vendella estava num intenso treinamento para se tornar rainha de Quesselfor. Com ajuda do
bastão e de Tassus, ela teve muitos progressos nas duas últimas luas.
_Poderia me explicar como as moças escolhem se casar aqui? Perguntou Vendella sem olhar
para o lado .
_Está querendo escolher um pretendente, Princesa?, perguntou Tassus com um sorriso na voz.
_Bem, você sendo uma Princesa não precisa seguir regras, pode simplesmente escolher...
_Não! Eu quero saber sobre as moças! É verdade que elas que decidem se querem se casar ou
_ Tudo bem! Há duas festas por ano, em que as pessoas mostram numa grande feira todo o
conhecimento adquirido e o que aprendeu. Nessa feira há uma tenda em que os jovens podem
conversar e se conhecer. No final dos três dias, as moças escrevem o nome do escolhido e
entregam ao Mago e ele se reúne com as famílias para decidir sobre o matrimônio. Quando
um nome é escolhido por mais de uma moça, a que tiver o maior dote, leva! –Isso fez ele
família quer se unir, porque para os homens aqui, o mais vantajoso é se unir a uma rica
_Acho que prefiro me casar com uma Princesa. Brincou ele deixando os aposentos.
_“ como ele é arrogante!” pensou Vendella feliz, mas não sabia o que seu pai ia dizer sobre
esse assunto. Então perguntou a uma camareira que estava sempre por perto:
_ Princesa! Acho que ele vai dizer que primeiro precisa conhecer todos os rapazes do reino!
Acho que um Príncipe desertor do reino vizinho não é uma boa escolha.
_Desertor?! Príncipe?!
_Sim, Princesa. O Príncipe Tassus fugiu de seu reino para não se casar obrigado e foi
resgatado no mar aqui perto. Então o Mago cuidou dele e escondeu ele de Torank, que
gostaria muito de fazer uma aliança com o reino vizinho. Ele conheceu seu pai, quando ele
vinha escondido até o porto e também conheceu toda a história de sua família. Acho que seu
Pai não veria com bons olhos um rapaz que abandona a própria família, mesmo que tenha um
bom coração.
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Chegou o grande dia da feira do conhecimento. Vendella andava por entre as mesas olhando
as esculturas, os quadros, as pinturas. Como estava tudo tão bonito! Em uma das tendas
alguém lia um poema. Nenhum dos rapazes ousou se aproximar dela na tenda dos jovens, já
as moças se aproximaram para tocar seu cabelo, perguntar sobre sua vida. “realmente tem
muitos rapazes bonitos aqui” pensou ela e olhou em volta como se estivesse procurando
alguém.
“Já que vou mudar as regras, vou me aproximar de algum deles.” E escolheu um que tocava
uma harpa. Ele possuía um aro de metal circular sobre os olhos que o deixava muito
interessante.
_Olá, iniciou Vendella. Ele parou de tocar e fez uma curvatura._ Como é seu nome e o que
está tocando? – Ele não respondeu, apenas sorriu e voltou a tocar. Nesse momento Tassus a
_Ele não fala e também não pode ouvi-la Princesa. Nasceu assim. Mas toca muito bem e é um
Ao olhar em volta ela percebe o alvoroço que a presença de Tassus causou nas meninas da
tenda.
_Acho que dessa vez vão dividi-lo em pequenos pedaços e repartir com cada uma. Riu
Vendella.
_Acho que seus pais tem outros planos para você. Rebateu com sarcasmo.
_ Já andou se preocupando com minha vida, ãh?! Eu não pretendo voltar, já que seria preso
numa torre e não poderia jamais sair de lá. Falou de forma distante, enquanto andavam para
fora da tenda.
_Além de linda, é muito corajosa. Eu nunca a tinha visto, por isso vim conhecê-la.
_Como assim?!!
_Você não entendeu ainda? Era você, Georgia, a moça para quem fui prometido.
Ao ouvir isso, seus joelhos fraquejaram e ela teve que se apoiar em Tassus, que a puxou para
_Na minha terra os homens não são livres pra escolher. As mulheres decidem e ele tem que
obedecer. Minha mãe escolheu meu pai e ele estava encantado por outra moça. Ele é Rei, mas
não é feliz. Acho que tem alguma coisa dentro de mim que me faz querer conduzir isso. Você
_Como posso ser livre pra escolher entre tantos rapazes, se meu coração está aprisionado por
um estrangeiro, desconhecido...
_Sempre me senti como uma planta que precisa de outra pra crescer. Me sentia livre lá,
quando era prisioneira. Me sinto presa aqui, agora que sou livre. Isso é esquisito, não?
_Aonde poderia encontrar alguém que fala a verdade de forma tão confusa?
_Quero.
_O que?
Subiram para o estrado no meio do povo. Vendella viu de longe que sua tia a procurava com o
olhar lá no espaço reservado para o Palácio, e reprovou sua escolha de não se sentar junto
com os nobres.
O arauto anunciou o começo do jogo:
“Os jogadores de Netônia tiveram problemas em sua viagem e não jogarão. As equipes de
_Você fala do time real, não é? Brincou Tassus sentado a seu lado.
_Não. Ainda penso em mim fazendo parte dos estrangeiros nessa cidade.
_Mas essa cidade sempre foi sua, mesmo quando você não estava aqui.
O time de Quesselfor vestia um uniforme branco e dourado, sapatilhas de couro nos pés e
estavam usando apenas calções e nada nos pés, como costumavam jogar. Todos tomaram suas
“Para o campo um e dois será designado o julgador Tnante e para os campos três e quatro o
julgador Zephyr. Cada treinador ocupe o seu lugar. Essa partida será decidida pelo Juiz
tablado onde marcaria o jogo. Sabia que não podia ser tendencioso, mas no seu coração torcia
para os rapazes da aldeia, por isso evitou olhá-los naquele momento. Olhou para frente e
_Discos ao ar!
E começaram as apostas.
Os discos pareciam dançar entre três triângulos. Iam e voltavam para as mãos dos
arremessadores de cada time. Eles prestavam atenção na bandeira, porque na hora em que ela
fosse abaixada, o jogo começaria a valer pontos. Ao sinal de um instrumento soprado por um
Parkis sabia que era tão alto quanto os bloqueadores da cidade. Ele se preocupava com Zaglid,
que só jogava bem junto com Derek. Preferia jogar com Myka do que com Perfal. Eles
olharam um para o outro e Parkis fez sinal de força. Nesse momento ele viu o disco se
aproximando da mão do arremessador do triângulo à sua direita. Correu até a ponta do seu
sorria. Eles deram um encontro tão forte que cada um caiu para um lado e o disco caiu fora do
campo.
“Preciso prestar atenção no arremessador e não no bloqueio deles” pensou Parkis voltando
rapidamente à sua posição já bloqueando o pegador do campo à esquerda. Nesse momento viu
Zaglid correr e entregar o disco à Perfal que levantou girou e lançou o dico para o receptador
Exon, que o encaixou exatamente na união das quatro pontas e ergueu os dois braços em sinal
de vitória.
O Rei falou:
“50%”
Parkis sorriu enquanto retornavam às suas posições. Agora senti-a mais forte com seu grupo.
Os pegadores do grupo esquerdo conversaram entre si. Parkis viu seus olhares de reprovação
por sua falta de uniforme e falta de modos. Para provocar, cuspiu no chão. O jogo recomeçou.
Quando Zaglid tocou no disco o bloqueador adversário correndo se jogou no chão e derrubou-
o com as pernas. Parkis correu para bloquear o dico caído no chão enquanto o pegador do
time adversário tentava alcançá-lo. Parkis gritava para Zaglid levantar, enquanto bloqueava a
passagem, mas o bloqueador adversário também era grande e bloqueava Zaglid. Parkis teve
que desviar do pegador para bloquear o bloqueador de Zaglid e não conseguiu evitar que o
pegador apanhasse o disco e lançasse para o arremessador do campo esquerdo. Foi rápido
A multidão parecia torcer por seu time uniformizado. Perfal gritou pra ele:
_Podemos não ganhar. Não importa. Mas eles vão sair daqui da cor do chão.
Parkis viu a roupa do bloqueador – ao cair ela havia rasgado e estava da cor do chão. Ele
Ao ver o sinal Zaglid respirou fundo e se sentiu melhor. Não queria decepcionar seu amigo.
Ele não conseguia ser bloqueador por ser muito magro, mas tinha Parkis como exemplo de
jogador. Nesse momento Exon derrubou o pegador do triângulo direito e lanço o disco para
Perfal. Zaglid correu para ajudá-lo a recuperar o dico e sentiu o baque do bloqueador.
Desequilibrou-se ,mas não caiu e correu para Perfal que encaixou a peça, girou e lançou o
disco de volta para Exon, que passou pelo pegador da esquerda e encaixou na junção das
quatro pontas.
“Fox”
%50%
“Alt” gritou Tenante no momento em começava uma briga entre Parkis e o bloqueador do
time da esquerda. Exon correu para separá-los ajudado por parte do seu time que estava no
campo três.
“O Juiz vai dar a decisão” bradou o arauto. Depois de Olhar o gesto de George continuou:
_Não demonstre tanta felicidade, Princesa. Afinal de contas, todos eles, são sua gente.
.......................................................................................................................................................
Começa o ritual de preparação para o casamento real. Toda a cidade da lua enche-se de
enfeites e danças e comidas. O casamento é realizado em dez luas, porque a noiva é a Princesa
da Cidade das luas e dez sóis porque o Príncipe é da Cidade do Sol. Todas as moças que
escolheram seus noivos tem o direito de aproveitar os festejos e se casar no mesmo dia da
Princesa.
Vendella está empolgadíssima com os preparativos para o casamento. Seu Pai também ficou
A sua tia Naretta, que está muito melhor agora que parou de tomar os chás, lhe explica o
ritual:
_No primeiro dia o sacerdote lhe colocará o anel no dedo mínimo direito. Significa que você
não precisa ter medo das suas fraquezas. No segundo dia, será colocado o anel no dedo anular
direito, significando que você está noiva. No terceiro dia o terceiro dedo é que você faz um
juramento de ser apenas sincera. No quarto dia o anel é colocado no dedo indicador,
significando que você indicou seu marido. No quinto dia o anel é colocado pelo sacerdote pra
selar a união e te entregar a seu marido. Aí você vai com ele pra onde ele for morar. No seu
caso, você traz ele pro Palácio. No primeiro dia após o casamento se realizar o ritual é
invertido – Seu marido vai retirar um a um o anel da mão direita e colocá-los na esquerda: o
primeiro dia e primeiro anel significa que vocês juntaram suas fraquezas e transformaram em
força. O segundo dia e o dedo anular, significa que ele te aceitou como esposa. O terceiro que
vocês vão crescer como uma família. O quarto dedo e quarto anel, ele faz o juramento em que
promete ser sempre sincero. O quinto anel é a confirmação de todo o ritual e aí vocês estão
Vendella achou aquilo muito bonito. Na aldeia, as moças que voltavam escolhidas pelos
rapazes da aldeia, apenas ficavam dentro da cabana por tres dias e saiam da mesma forma que
entravam. Ela achava aquilo tão sem graça que pensava em não se casar. Mas agora estava
adorando a idéia...
Foram colocados guardas e soldados com armas e roupas oficiais, sacerdotes com tridentes e
roupas de gala para seguir o cortejo do casamento. Vendella esta vestida com a mais fina
seda branca, com enfeites coloridos em sua saia como pequeninas florzinhas, e cercada por
belas damas de companhia. Em sua cabeça, sobre os longos cabelos soltos, brilhava uma tiara
Agora ela olhava o noivo vestido com roupa de gala como os sacerdotes e sorria se lembrando
de toda a cerimônia. Tinha sido mais bonita do que sua tia lhe contara.
Um jantar real foi oferecido pelo rei ao jovem casal. Grande multidão apareceu para ver a
carruagem que os levaria ao palácio. A carruagem era precedida por jovens tocando harpas e
Ele a segurou pela mão ao descer nas escadarias do palácio. Ao chegar ao grande portão eles
acenaram para a multidão que bradava “vida nova à Rainha”. Então ele segurou seu rosto
_”Agora vou fazer de Quinn minha herdeira. Finalmente as mulheres voltam ao poder”.Ela
Ao entrar no antigo palácio, Abud e Tassus vasculharam todos os andares e não encontraram
nem sinal de Torank. Entre os homens que ficaram a seu lado, foram enviados a Wilmerstah
para cumprirem pena e, sob a adaga de Assaz, eles que eram tão infiéis a Torank, logo
denunciaram sua fuga. Assaz enviou uma pomba com a mensagem para Abud. Ao receber a
nota, selada com um símbolo de uma mão fechada, Abud franziu o cenho. Quebrou o lacre e
leu a mensagem.
_Tassus- eles disseram que sua família aceitou abrigar o traidor do meu irmão. Você sabe o
_Rei George, creio que há algum mal entendido nessa mensagem. Meu país e o seu selaram
união. Agora mais do que nunca, que este acordo foi cumprido com o meu casamento!
_Se os homens mentiram, algum Rei o está escondendo. Gostaria que enviasse uma
mensagem a seus pais dizendo que vamos decidir sobre a quebra do acordo.
Ao chegar a Lorcas, Torank se espantou com a rusticidade do reino. Desceu do grande barco
com seus homens em uma praia onde não havia nem uma sentinela.
_Vamos ficar aqui com os cavalos e você Siônix, vai avisar de nossa chegada. Como assim
não tem uma comitiva pra me receber? Falou Torank sentindo-se afrontado. Não! Vamos
formar a nossa comitiva e chegar ao palácio real. Devem estar preparando uma bela recepção!
ao meio e dois cavalos de cada lado, e os homens carregando uma cobertura, para cobrí-lo do
E riam de suas fantasias quando se depararam com uma estranha cerca. Alguns homens
_Dá pra ver algumas tendas lá em cima. Deve ser o começo da cidade.
Torank pensou e ficava cada vez mais irado com aquela terra selvagem.
_Vamos à pé! Vou pedir a cabeça do sentinela que não esperou na praia pra noticiar nossa
chegada!
A cerca por ser colocada em formato de S e cada um desencontrado do outro, os cavalos não
entravam nos espaços. Os homens tiveram que passar a pé. E muitas de suas caixas com
_Não estou gostando de deixar apenas dois homens tomando conta das armas, senhor.
_Fique com eles então, Siônix, bradou Torank. O sol já está no meio do céu e não
conhecemos nada dessa cidade. Eu tenho a promessa do Príncipe de ser bem recebido aqui.
Será uma honra pra essa cidadezinha miserável receber um Rei de verdade!
outras menores iam formando um labirinto que levava até a grande tenda. Apesar de diferente,
Torank notou ser aquela a tenda da Rainha-Mãe. Possuia a altura de vários homens de pé. Era
coberta com pelo menos dez camadas de tecidos e dois homens muito altos guardavam a porta
da tenda. A seus pés, grandes lobos estavam deitados. Por dentro a tenda parecia ainda maior,
vários biombos a dividia em partes e ele não conseguia ver o que se passava por trás de cada
um.
esquerda e finamente levantaram um tecido fino para o lado para deixá-lo entrar. A Rainha
sentava-se em grandes almofadas e servia-se de chás e pão com ervas. O Rei sentado a seus
pés bebia hidromel e comia tâmaras. Ao vê-lo entrar a Rainha bateu palmas e cinco de seus
homens da guarda real, com seus lobos fizeram um meio círculo ao redor de Torank.
Ao ver o Rei sentado numa posição inferior à mulher, parecendo um dos lobos à seus pés e ser
_Minha Rainha a quem devo agradecer essa hospitalidade, mas minha fam´lia ficou no porto e
só eu fui trazido até aqui para participar desta ceia magnífica! Onde está a carne?!
_Nós, os senhores dos lobos, por razões óbvias, somos vegetarianos- respondeu o Rei sem se
_ Realmente. Não queremos que esses bichinhos aprendam a comer e a gostar de carne. -e riu
nervosamente e sentou-se ao lado do Rei. - Poderia me perder nessa sua cidade das tendas!
Não saberia voltar para buscar minha família. Poderia pedir que alguns de seus homens o
fizesse?
_Mas vocês disseram que eu podia vir!! Gritou Torank enquanto se levantava.
_ Exatamente o que queríamos que fizesse. Que viesse até aqui para ser preso.
Torank riu e ao olhar para trás imaginando uma fuga talvez, todos os biombos foram abaixo e
Eles tinham a cabeça raspada em forma circular, deixando um feixe de cabelos no alto da
cabeça que ia até a cintura. Também não deixavam pêlos sobre os olhos. Sua face era
Usavam um bastão com uma ponta afiada, que fixavam no o chão para demarcar o lugar para
o lobo. Na outra ponta do bastão, cada um escolhia um símbolo, o mesmo que ele e o lobo
carregavam no pescoço.
eles batiam o bastão no chão e gritavam “Hey!”. Todas as ordens para os lobos eram faladas
em uma linguagem que só eles entendiam. Os lobos eram de cores variadas: alguns totalmente
negros , outros cinza e branco ou todo branco, mas todos tinham os olhos azuis e a aparência
selvagem. Os lobos entendiam os gritos e movimentos com bastão para atacarem o inimigo.
Torank caiu de joelhos ao ver que fora traído. Os homens se aproximaram, fizeram um círculo
ao seu redor, bateram o bastão no chão ao mesmo tempo e gritaram “Hey!”. Nesse momento
Vendella estranha os modos da aia que a ajuda a se vestir para começar o dia, na antecâmara
real. Os baús espalhados pelos cantos guardavam pesados e finos vestidos de uma dama.
_Não gosto de fazer intrigas, Senhora -disse a aia assoando o nariz. Perdão fazê-la notar. O
Ninguém vai te fazer mal! Não estou acostumada a isso. É só me contar! As moças da cidade
estão falando mal de mim?É isso? As pessoas falam que eu ainda não sei me portar como uma
_Eu não gosto desse povo dos lobos. Não confio neles.
_Todos eles ficavam por aqui e ajudaram o Principe a fugir. Agora eles recebem pombos e
queimam as mensagens.
_Eles ajudaram Torank? Porque meu Pai não me disse isso? Vendella sentiu o sangue subir na
sua face. Não de raiva, apenas se sentia em segundo plano, não como uma Princesa que vai
Naquela noite durante o jantar o consorte do Príncipe lhe entrega um papel. Tassus fica
inquieto e olha para George. O Rei continua suas observações acerca do jantar.
_Vamos todos comer em paz. Sente-se rapaz. Temos coisas para resolver aqui.
Enquanto George falava, Tassus se aproximou da vela sobre a mesa e queimou o papel.
Vendella sentiu que faltava ar em seu peito. Não conseguia respirar. Precisava saber a verdade
Vendella puxou todo o ar disponível na sala. Respirou fundo olhando nos olhos de cada um
_Por que ninguém me disse que o tio Torank está escondido nas terras da família de Tassus?
O silêncio pesou por apenas um segundo e um murmurio se elevou até uma pequena
_Escutem todos. George bradou acima do burburinho. Os Locasianos estão com Torank.
Estamos nos preparando para buscá-lo sem causar um incidente entre nossos povos. Ele será
_Então você sabia, Pai? Vendella estava surpresa. _E o que você tem a dizer sobre isso?
Vendella levantou-se:
_ Se querem que eu comece a ser uma Princesa de verdade, exijo que me digam sobre todas as
Apesar de ter causado o interesse que esperava, suas mão tremiam e achou que precisava de
_ Os nossos recados estão sendo interceptados pelos homens de Torank. Eles enviam algumas
notas, mas eu não reconheço como sendo da minha família, por isso vamos até lá.
_ E quando pretendiam me contar? Quando ele chegasse com uma guarda para colocar uma
_Isso não vai acontecer, Vendella. Eu ainda estou vivo. George tentava acalmá-la.
_Mas ele já fez isso antes e sozinho. Agora com os Locasianos do seu lado, imagine o que ele
_Nós não estamos do lado dele! Tassus repreendeu-a. _ E eu vou provar isso! E retirou-se do
salão.
_Minha filha -falou George aproximando-se e segurando seus braços. - Eu confio nele e você
_São melhores que o nosso povo, Vendella. Eles são incorruptíveis. Sabe o que é isso? Eles
dão valor a família, à amizade e não precisam de nosso povo pra nada. Eles não acumulam
_Chegou uma mensagem de seu país. Parece ser um presente de casamento... -mas ao ver a
_Meus pais traíram a confiança de seu Pai, Geórgia. Eles estão abrigando Torank.
_Me desculpe por duvidar de seu povo, Tassus. Mas eu não os conheço como você. Porque
duvida da lealdade deles? Alguma vez fizeram algo de que não devia se orgulhar? Tassus
meneou a cabeça. _ Leia a mensagem então! Talvez eles digam porque fizeram isso!
Tassus começa a ler muito sério, mas vai abrindo um grande sorriso, puxa Vendella pela mão
e ao correr anuncia:
_Minha guarda real está trazendo Torank preso. Vamos contar a George!
_Significa que temos um traidor entre nós e que tentou nos colocar contra seu povo.
_Qualquer um poderia fazer isso, George. O povo dos lobos não é muito bem-vindo.
_Mas isso significa que não me aceitam totalmente como Rei, já que não aceitam minhas
alianças.
_Tenho certeza que o julgamento de Torank pode mudar um pouco isso, Papai. Temos que
comemorar!
todo bordado com correntes de ouro e a saia de um tecido fino coberto de flores brancas feitas
do mesmo tecido. Colocou em seu cabelo uma flor do mesmo tecido para prender o lado de
seu cabelo.
_Ainda bem que inventaram o espelho, assim ninguém precisa me dizer isso. Falou Vendella
_O que foi?
_Ela está dentro de você. Parte dos nossos amigos vivem em nós. Para sempre. E as boas
lembranças é que trazem eles para perto de nós. Lembre-se apenas da parte boa, Senhora.
_É isso mesmo, aia. A Myka representa a parte boa. E talvez o Derek venha com os
gormogons.
Georgia foi para o balcão e olhou o pequeno rio, abaixo da colina. Ao longe, pequenas casas e
alguma fumaça, indicavam famílias reunidas para comer a refeição do pôr-do-sol. Sentia falta
da aldeia. Esta hora estaria sentindo o cheiro de pão e do caldo de carne, o barulho das
crianças e a conversa dos homens. Voltou ao aposento onde dormia. Aqui tudo era lindo, mas
era frio e vazio. Vazio de vida, de sons e de aromas. O único barulho que ouvia era de seus
Passou pela sala das harpas, sentiu o perfume das flores que entravam pelas grandes janelas
abertas. Caminhou sobre um tapete bordado com as histórias de reino até a saleta de repouso
do Rei. Foi aí que encontrou George segurando as mãos de Archtriclina, conhecida como
_Estou pensando em pedir sua benção para formar uma família, quer dizer, você e Quinn são
minha família, mas não quero passar meus anos sozinhos e...eu sei que você vai me dar
netos...
O jantar foi de comemoração pelo novo casamento real. Tassus foi o primeiro a erguer um
brinde:
_Ao Rei George! Que possa fazer esta família crescer tanto quanto eu!
_Chegaram as plantas de Wilmerstah e gostaria de criar uma estufa para elas aqui no palácio.
_Você acha que uma estufa para as plantas vai resolver o problema dos ungüentos?
Ao entrar em Quesselfor com os aldeões vestidos com as armaduras dos soldados de Torank,
foi muito fácil para Abud e seus homens invadirem o Palácio e prender o capitão da guarda do
trono. Ele esbravejou, mas foi rendido e levado até o porto. Então Abud se aproximou e falou
a todos os presentes.
_Olá, povo de Quesselfor. Eu sou George. Estive escondido todo esse tempo, para que Meu
Irmão, um Rei tirano e traidor pagasse pelo que fez à minha família. Ele será deportado para
Wilmerstah.
A multidão fez um barulho ensurdecedor e muitas palmas foram ouvidas. Eles receberam o rei
de braços abertos.
_Lembro-me quando meu pai colocou-me sobre os ombros todo o peso de dar continuidade a
uma dinastia que, há muito, lutava pela independência de outros povos. Eu tive apenas uma
filha e de agora em diante, todo o ser feminino terá direito ao trono de Quesselfor!
Vendella se aproximou e foi como se sentisse um calor subir-lhe ao rosto e pensou:”eu posso
gostar disso”.
Vendella se lembrava dessa cena quando ouviu a guarda real tocando um sinal de alarme. Ela
tremia só de se lembrar do sonho com o Príncipe Torank a empurrando no vazio. Queria ver
Pediu ao serviçal para levá-la até lá. Ele foi buscar a charrete e ela esperou impaciente.
seu pai e Tassus, ouvindo a descrição de um dos guardas lorcasianos, sobre a prisão de
Torank.
_...eles não puderam atravessar com os cavalos, então não puderam levar todos os homens e
nós os tratamos como prisioneiros até trazê-los aqui. Gostaríamos de sua permissão para que
Torank, que estava ajoelhado de cabeça baixa, tentou levanta-se no que foi impedido por um
_Porque a sua regra em meu reino? Porque não houve vingança quando ele estava em Lorcas?
_Porque ele fez com que o nosso Príncipe achasse que nós quebramos nossa fidelidade e
Nesse momento um dos gormogons, vestido com a capa de pele de lobo, com um capuz se
aproximou de Torank.
Vendella sentiu sua pele gelar. Torank realmente se parecia com seu sonho, mas estava mais
abatido. Mas esse guarda, era realmente o homem que ela viu na torre. Quer dizer, sonhou.
Ela já não sabia se o sonho era real ou se estava sonhando agora. Sentiu-se confusa, mas ao
_Então vou pedir que um dos meus guardas lute por mim, pois não fui treinado para lutas.
O irmão de Myndoka entrou com o escudo e a espada na mão e ficou na frente do gormogon.
A mãe dele sentada ao lado do rei começou a chorar baixinho. Seu nome era Mikaya.
Quando avançou para o outro homem com a espada em seu peito, o outro girou sob a lança
fincada no chão e meteu os pés em seu peito jogando-o no chão. Os gormogons que estavam
jogou o escudo longe e correndo jogou-se no chão e meteu os pés nas pernas do homen
_Isso não é um jogo, Vê. Ele vai matar Mikaya. Falou Tassus.
Nesse instante Mikaya acertava com a espada no braço do homem, por mais de uma vez. Ele,
como se não sentisse nada no braço, girou, jogou a lança no ar, fazendo-a cair na posição de
encaixe na sua mão direita e cravou-lhe no ombro esquerdo. Mikaya urrou de dor caindo de
joelhos.
_Um gormogon nunca deixa seus inimigos com vida. Mesmo se ele não matá-lo, o seu lobo
lobo se aproximou. Mikaya gritava de dor e tentava se colocar de pé. O lobo mordeu-lhe o
calcanhar, fazendo-o cair e gritar mais. O gormogon novamente jogou a lança contra Mikaya
e dessa vez acertou-o na testa fazendo-o cair a alguns passos dos pés de Torank. Ele começou
_Nãão. É o Derek!
_Ele agora é um dos gormogons. E me disseram que se tornou da guarda pessoal da minha
família, Vê.
muito doce apesar de seu espírito ser muito forte. Quer falar com ele?
_ Não! Não sei! Acho que eu mudei, ele é outra pessoa, é melhor voltar para o palácio.
Georgia sentiu uma tristeza doce ao vê-lo acenar quando entrou na charrete. Esperou ele se
aproximar.
_Agora eu me chamo Daron e graças a Tassus eu faço parte da guarda real. Acho que ele quis
me afastar de você.
_Porque ele faria isso? Ele sabe que você gostava da Myka. Ele fez isso pra te ajudar no fato
que você...
_Perdi parte do braço, eu sei. Mas acho que ele não gosta de nossa amizade. Disse isso e riu.
_Nós vamos ao seu casamento e aproveito para mostrar o meu povo para Georgia. Respondeu
Tassus.
_Adeus, Princesa.
_Até breve.
Torank é levado de volta para o barco que já estava sob o domínio dos gormogons. O seu
julgamento ia acontecer na ilha. Torank usava a cabeça totalmente despida de fios. Nem
cabelos nem barba. Os gormogons faziam isso a todos que capturavam. Apenas as grossas
sobrancelhas unidas lhe davam um ar raivoso constante. Todos os homens que ficaram a seu
Ao chegarem à ilha, todos os prisioneiros foram levados à casa principal que serviu de
moradia para o Faxar e suas esposas. Agora totalmente despidas de adorno, parecia-se com
uma prisão. A última festa já tinha acontecido há muito tempo, mas as ruas ainda traziam
sinais das barracas, das comidas, a grama ainda estava pisoteada, a água chafariz estava
turva. Os aldeões eram tapeados em suas taxas de limpeza e ninguém providenciava para que
não fossem roubados. Os comerciantes que vieram de além-mar, já tinham realizado suas
vendas e retornaram a suas terras. Os aldeões voltaram à aldeia como se nem Rei nem Faxar
existissem e como se nada disso pudesse afetar-lhes a calma vida que levavam.
O pátio principal já estava organizado para o julgamento: bancos haviam sido colocados para
os julgadores – pessoas da vila que quiseram permanecer na aldeia. Sobre um estrado foi
colocado um tronco de árvore cortado em forma quadrada, para que os prisioneiros ficassem
presos pelos pés. Assaz ia decidir o julgamento – o que já estava decidido para um traidor da
própria família, era a prisão em Wilmerstah- mas no caso de Torank era traição contra o seu
Rei. Todos queriam que ele fosse condenado à forca. Zaphyr, agora enviado do Rei, ía ler o
acontecido para todo o povo saber da decisão. Alguns homens importantes da cidade vieram
no navio para acompanhar o julgamento. Junto com eles, dois escribas e o Mago da aldeia
também fariam parte dos letrados, que iam escrever a história. Zaphyr tomou a palavra:
_Os quatro acusados eram pessoas da confiança do Rei. Com a ajuda do instrutor de cavalaria,
Zamit, do chefe da guarda real, Jabon, e do Mago Feltzar, o Príncipe Torank se aproveitou
dessa confiança para trair não só o Rei, como todo o povo de Quesselfor. E para tomar o trono
do próprio irmão, ele ordenou a morte da Rainha e de todos os descendentes. Zamit já foi
julgado e o próprio destino se encarregou de sua pena. Os outros homens que aqui se
encontram, foram denunciados por ajudar no plano contra o Rei George e sua família, sendo
comprovada sua culpa. Nenhum desses homens terão direito a defensor de sua causa. Suas
famílias viverão na aldeia e terão direito a prover seu próprio sustento. Pedimos aos
Zephyr continuou:
_O Rei decidiu que os acusados devem ser lembrados pelo assassinato da Rainha. Isso ficará
escrito no livro da Casa Real. Dois dos assassinos que morreram, não terão direito a nenhum
enterro ou comemoração. O Príncipe Torank será enforcado e o Mago Feltzar irá para a
fogueira, para que seus feitiços não o sigam para a terra dos Magos.
_Vocês vão pagar! Dentro de dois dias o caldeirão de fogo vai entornar e não sobrará nada
dessa vila! Fujam para a aldeia! Se quiserem ver os seus filhos crescerem!
Enquanto ele continuava a gritar o novo conselho de julgadores se levantou, acendeu uma
tocha cada um e acendeu a fogueira sob os pés do Mago. Ele continuou a gritar, mas suas
A corda foi colocada ao redor do pescoço de Torank. O banco que ele estava de pé foi
As mulheres voltavam o rosto para não ver a cena. Tentavam levar as crianças dali,
Assaz disse:
_Vocês que decidiram viver aqui, vivam em paz, e sempre que quiserem, podem participar
das festividades em Quesselfor. Vamos nos retirar para o navio e deixo para os julgadores o
Após alguns dias o navio estava de volta e George foi ao porto esperar a volta. Ao olhar na
_ Nós já estávamos voltando, quando o morro mais alto da ilha começou a cuspir fogo. Acho
_O caldeirão realmente entornou, disse um dos homens. O Mago ao morrer praguejou contra
a vila.
_Quer dizer que Wilmerstah era um vulcão adormecido todo esse tempo em que estivemos lá?
Riu Assaz.
_ O Mago disse que a aldeia não será atingida. Enviaremos homens para contar o que
aconteceu.
como numa guerra eterna. A lenda do caldeirão de fogo é uma história escrita em um livro de
leis trazida em partes pelos povos antigos, os pratempes. Para não ser destruído o livro foi
dividido entre vários povos (os prapatres – povos dos antigos pais; prawaves -povos dos
antigos avós; praarbope – povo da floresta antiga; pranepes - os netos de antigos avós).
Cada povo ficou com uma parte. Se tornou uma lenda porque cada povo contava a parte que
estava escrita e criava um final para a verdadeira história. Ninguém sabe exatamente a história
verdadeira. A única lenda que conseguiu chegar aos tempos de hoje é essa - a lenda do
caldeirão de fogo. Vou contar de forma resumida, porque são receitas, leis e fórmulas para
que o povo que recebeu essa parte do mundo, aprenda a cuidar dele e de si mesmo. Se nada
“Um novo ser nasce da energia de outros seres. Toda energia colocada em volta desse ser,
fará com que ele circule com boas ou más energias. Exale apenas boas energias até a oitava
lua, para que o ser possa ser um Oray (pessoa com moral, decência, preocupação com o
próximo e com o meio ambiente. Um bom cidadão nos dias de hoje). Quando a energia
estiver ruim, as pessoas devem se reunir em grupos e exalar boas energias para que circule o
ar como ondas e leve boas energias para o local da panneen (problema, defeito, doença,
catástrofe). Devem cumprir o círculo do conhecimento (os antigos chamavam de rituais) para
que o Uníssono possa respirar (lugar onde se concentra toda a energia do mundo). Se não for
cumprida essa ordem, o povo do mundo terá três avisos: o caldeirão de fogo vai entornar a
Wilmerstah), a segunda que será jorrada do caldeirão e cairá do céu (dizem que foi a bomba
fim do mundo, como nos filmes).Siga as leis do Uníssono e a água do pluvade (chuva,
Essa é a lenda. Apenas uma história que foi passando de geração a geração como num