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Introdução e 7 contos de Georg Dreissig
Créditos
Realização da Escola Waldorf Rudolf Steiner
Título Original: Das Licht in der Laterne – Adventskalender in
Geschichten
Autor: Georg Dreissig
Título em Português: A LUZ NA LANTERNA – Um Calendário do
Advento em Histórias
Tradutoras: Ione Rosa Matera Veras, Mariliza Platzer e Edith Asbeck
Digitação de Vanessa V. B. Mendes e Walkiria P. Cavalcanti – Março
de 2013.
Revisão de Ruth Salles – Setembro de 2017.
4. O MILAGRE NO POÇO
Mas não é verdade: o vento sopra onde quer. Assim ele também
soprava em volta de Maria e notava sua tristeza. Que poderia fazer
para consolá-la? Ele se calou por muito tempo e pensou. Na verdade
era inverno, e sua obrigação era assobiar muito através de todas as
frestas e buracos, e uivar por todos os cantos. Mas a querida Mãe
Divina estava em terra desconhecida, tão sozinha e desamparada…
E, de repente, o vento começou a entoar outra melodia, um canto de
primavera em Nazaré, das sementes brotando, das folhinhas novas
aparecendo, da maravilha das flores e dos zumbidos das abelhas. Tão
suave e ameno soava o seu canto de primavera, que Maria se sentiu
aquecida em seu coração e adormeceu com alegria.
José acordou alegre no dia seguinte. Ah, que sonho lindo tivera! A seu
lado, ele viu deitado o cajado de madeira que naquela noite fora tão
transformado. Agora, ele era de novo seu velho cajado, como sempre.
Então, quando seu olhar caiu sobre o manto azul de Maria, seu
coração começou a saltar de alegria. Pois estrelas brilhantes estavam
costuradas com fios dourados no pobre manto. Maria também ficou
feliz e disse: “Ah, agora meu manto está, na verdade, fino demais para
mim!”
Foi assim que Maria, embora José fosse tão pobre, pôde usar o lindo
manto de estrelas da rainha do céu.
7. A LUZ NA LANTERNA
Créditos
Realização da Escola Waldorf Rudolf Steiner
Título Original: Das Licht in der Laterne – Adventskalender in
Geschichten
Autor: Georg Dreissig
Título em Português: A LUZ NA LANTERNA – Um Calendário do
Advento em Histórias
Tradutoras: Ione Rosa Matera Veras, Mariliza Platzer e Edith Asbeck
Digitação de Vanessa V. B. Mendes e Walkiria P. Cavalcanti – Março
de 2013.
Revisão de Ruth Salles – Setembro de 2017.
2. O CARDO PRATEADO
3. NA FLORESTA DE ESPINHOS
4. OS TUBÉRCULOS MODESTOS
5. OS PINHEIROS
Mais uma vez, Maria, a querida Mãe Divina, e seu marido José não
tinham achado nenhum abrigo à noite e estavam longe de qualquer
moradia. Assim, tiveram que se abrigar no meio da floresta, junto ao
tronco de um delgado pinheiro. Ali eles tentaram dormir. Mas o vento
soprava muito gelado, e começou a nevar, primeiro de leve depois
mais forte. Eles se espremiam junto ao tronco da árvore, que era alta
mas lhes dava pouco abrigo. Maria, então, passou carinhosamente
suas mãos delicadas no tronco do pinheiro e pediu: “Sinto interromper
a silenciosa oração que você envia para o alto, para o Pai de todos
nós. Mas veja, o próprio Deus se inclinou para a Terra, pois é seu
Filho que carrego em meu ventre, e ele precisa de sua ajuda.” Assim
que a Mãe Divina disse essas palavras, um tremor percorreu toda a
árvore e, vagarosamente, seus galhos se foram abaixando, abaixando
até tomarem a forma de um largo telhado. Até então, os galhos do
pinheiro também perdiam suas folhas no outono como as outras
árvores, mas a partir desse instante elas espetaram de novo suas
agulhas verdes e assim ficaram para sempre. Foi desse modo que
Maria e José encontraram, sob os galhos do pinheiro, um abrigo
seguro para a noite.
Fazia tempo que a colheita havia sido feita, pois o outono já passara e
começava o frio rigoroso do inverno. Arbustos e árvores estavam sem
folhas e sem frutos e alimentavam o sonho de uma primavera
luminosa, do esplendor das flores e do zumbir das abelhas. Também o
abrunheiro perdera as folhas. Mas seus frutos ainda se penduravam
nos galhos secos. Ninguém os quisera. Quando as mulheres tinham
vindo no outono em busca de bagas, colhiam as de amora, olhando o
abrunheiro só de relance e continuando a andar. “Olhem só o
abrunheiro! Que sujeitinho desagradável com seus espinhos
pontudos!” – disseram umas às outras – “Ele defende suas bagas, que
aliás ninguém quer. Pode bem guardá-las, pois são acres e não têm
sabor.” Por isso as bagas azul-escuras ficavam penduradas entre os
espinhos no arbusto, que já havia sofrido a primeira geada. O que o
arbusto não daria para se carregar de bagas doces, de que as
pessoas tanto gostavam, como as da framboesa. Ele até renunciaria
às suas lindas flores brancas. Mas todos os desejos não mudavam o
fato de que ele era um pé de abrunho e não de framboesa.
E tudo estava certo assim. Pois um dia, Maria e José, em seu caminho
para Belém, vinham passando pela floresta. Estavam cansados e com
fome. Sem querer, seu olhar caiu nas bagas escuras do arbusto cheio
de espinhos. “Olhe só, José!” – exclamou Maria – “O querido arbusto
guardou seus frutos para nós!” E, sem se importar com os espinhos
pontudos, a Mãe Divina começou a colher os abrunhos. José, porém,
respondeu: “Evite esse arbusto. Seus frutos são intragáveis. Veja,
ninguém os quis.” Mas Maria não se deixou enganar. “Como podem
ser saborosos, se eles têm de aguentar todo esse tempo um frio tão
forte? Até nós, seres humanos, ficaríamos amargos. Quem sabe ficam
mais agradáveis, se os colocarmos no calor.”
Como ficou feliz a Mãe Divina por causa das rosas que de repente
floresceram nos arbustos espinhosos! Ela colheu um ramalhete e, daí
por diante, seu braço o carregava enrolado sob o manto. E as rosas
continuavam frescas e mantinham seu perfume adorável para Maria.
Créditos
Realização da Escola Waldorf Rudolf Steiner
Título Original: Das Licht in der Laterne – Adventskalender in
Geschichten
Autor: Georg Dreissig
Título em Português: A LUZ NA LANTERNA – Um Calendário do
Advento em Histórias
Tradutoras: Ione Rosa Matera Veras, Mariliza Platzer e Edith Asbeck
Digitação de Vanessa V. B. Mendes e Walkiria P. Cavalcanti – Março
de 2013.
Revisão de Ruth Salles – Setembro de 2017.
Certo dia o coelhinho sonhou que um anjo veio até sua toca, puxou-o
levemente pelas longas orelhas para acordá-lo e lhe falou. O
coelhinho abriu os olhos e olhou em volta. Não podia mais ver o anjo
do seu sonho. Mas ainda se lembrou de suas palavras: “Estão aí duas
pessoas pobres que perderam o caminho nesta neve. Corra e ajude-
as a encontrá-lo. Seu narizinho vai conduzi-lo em segurança. E de fato
foi assim! Não longe dali o coelhinho avistou os dois: um homem e
uma mulher, e com eles um burrinho. O homem olhava em volta
procurando pelo caminho, mas não o via, porque tudo estava coberto
de neve. O coelhinho, porém, sentiu um cheiro de fumaça, que subia
das chaminés das casas que ficavam escondidas numa baixada.
Depressa pulou por cima da neve até Maria e José, ficou de pé nas
patas traseiras e saiu pulando em direção à aldeia. Quando se virou
de volta, viu que as pessoas continuavam no mesmo lugar, olhando-o
espantadas. Ele então voltou até elas, mais uma vez ficou de pé nas
patas traseiras, depois deu cambalhotas que marcaram um pequeno
caminho na neve. Então Maria e José compreenderam o que o
coelhinho queria dizer e o seguiram. Pulando e saltando, o coelhinho
correu à frente até que puderam ver a aldeia. Lá, o coelhinho parou e
balançou alegremente suas orelhas compridas. E como ficou satisfeito
quando José lhe agradeceu de todo o coração! Ficou, porém, mais
feliz ainda quando a querida Mãe Divina se abaixou até ele, acariciou-
o suavemente e sacudiu a neve de seu pelo, de todo o seu pelo; só na
ponta do rabinho ficou um pouco de neve. Foi assim que o rabinho
ainda estava branco com a neve, quando o coelhinho finalmente pulou
para dentro de sua toca tão quentinha.
4. A PROVISÃO DO ESQUILO
Daí para a frente, o esquilinho se sentiu bem. Pois, sempre que ele
procurava suas despensas, brilhavam luzinhas no chão, de modo que
ele nunca mais precisou escavar em vão atrás das nozes.
Mais uma vez, em seu caminho para Belém, Maria e José procuraram
em vão uma pousada para a noite, e já acreditavam ter que passar a
noite ao ar livre. José, então, na penumbra do crepúsculo, viu uma
casinha sem luz, bem longe. Chegando mais perto, perceberam que
não era moradia de pessoas, mas um aprisco para ovelhas. De
qualquer modo, teriam um telhado sobre suas cabeças e um pouco de
calor.
Pedro era o cão de guarda. Durante o dia, ele ajudava o pastor a levar
as ovelhas ao pasto, mas de noite cuidava do aprisco para que
nenhum ladrão se acercasse das ovelhas. Quando Pedro percebeu
pessoas se aproximando, pulou, arrastou a pesada corrente na qual
estava amarrado e latiu ameaçadoramente: “Au, au!” E isso queria
dizer: “Cuidado! Aqui vocês têm de me prestar contas! Não cheguem
muito perto!” Ao ouvir aqueles latidos ferozes, José deu de ombros e
se voltou. “Não podemos fazer nada,” – disse ele a Maria – “será mais
difícil ainda lidar com esse guarda do que com pessoas de coração
duro.” Maria também parou, e ficou ouvindo os latidos de Pedro, que
demonstravam como estava satisfeito em manter afastados aqueles
seres humanos. Mas depois Maria disse: “José, vamos pelo menos
tentar! As noites estão tão frias, que não conseguiremos dormir, sem
ter um telhado sobre nossas cabeças.” E, dizendo isso, foi andando
tranquilamente em direção ao aprisco.
No dia seguinte, bem cedo, chegou o pastor, para ver como estavam
as ovelhas. De longe viu, porém, uma cena que o deixou muito
admirado. A porta do aprisco abriu-se, e um homem e uma mulher,
seguidos por um burrinho, saíram de lá. E Pedro, o feroz cão de
guarda, pulou de encontro a eles, abanando o rabo, e lambeu a mão
da mulher. Enquanto isso, as ovelhas baliam como se estivesse com
elas alguém que conhecessem e de quem gostassem muito. O pastor
ficou observando tudo aquilo, como se estivesse sonhando e, só
depois que Maria e José haviam partido, acordou de seus
pensamentos. “Ei, Pedro,” – disse ao cão – “quem foram seus
hóspedes?” Ah, se ele entendesse a língua dos cães! Pedro lhe teria
contado com certeza quem passara a noite no aprisco.
Quando, porém, o pastor se inclinou para o cachorro, viu que as
horríveis feridas de seu pescoço haviam sarado durante aquela noite.
E ficou mais admirado ainda!
7. OS RATINHOS DE NATAL
Com que prazer o anjo Gabriel teria começado ele mesmo a pôr
ordem no local! Mas isso ele não o podia fazer com suas mãos de luz.
Quem o ajudaria? De repente, ouviu um chiado fino e delicado e,
quando procurou no estábulo, percebeu um pequeno ratinho, que o
olhava de seu buraco, no canto. O ratinho tinha visto o anjo e agora
chamava seus filhinhos; eles também deveriam ver a aparição celeste.
Então, Gabriel se dirigiu aos ratinhos e pediu: “Vocês não querem
ajudar a pôr em ordem o estábulo, a fim de que o Menino Jesus tenha
um lugar bonito para nascer, na noite de Natal?” Os ratinhos não
esperaram que ele pedisse duas vezes. Rapidamente saíram de seu
buraco, agarrando cada um uma palhinha e desaparecendo com ela
rapidamente. Logo depois, apareceram outra vez, continuaram a
arrumar e, em pouquíssimo tempo o velho estábulo estava lindo e em
ordem. Até o boi gostava mais dele assim do que antes. Aí, Gabriel
elogiou os ratinhos e disse: “Porque vocês me ajudaram tão
diligentemente, devem ser chamados de Ratinhos do Natal e, quando
o Menino Jesus nascer, vocês estarão entre os primeiros que poderão
vê-lo.” Com isso, os ratinhos ficaram felizes e passaram a esperar
ansiosamente pela noite de Natal.
Créditos
Realização da Escola Waldorf Rudolf Steiner
Título Original: Das Licht in der Laterne – Adventskalender in
Geschichten
Autor: Georg Dreissig
Título em Português: A LUZ NA LANTERNA – Um Calendário do
Advento em Histórias
Tradutoras: Ione Rosa Matera Veras, Mariliza Platzer e Edith Asbeck
Digitação de Vanessa V. B. Mendes e Walkiria P. Cavalcanti – Março
de 2013.
Revisão de Ruth Salles – Setembro de 2017.
José olhou preocupado aquele pouquinho de palha. Que faria ele só com isso?
Maria, porém, tomou-as delicadamente de sua mão e começou a espalhá-las
no chão, palha por palha. E vejam só: a palha deu para fazer um leito para os
dois, e até para o burrinho ainda sobrou um pouco. Assim, os três puderam até
dormir bem.
Na manhã seguinte, antes de partirem, Maria e José agradeceram ao
hospedeiro pouco amável. Este resmungou e os deixou partir. Quando ele
mesmo foi mais tarde ao quintal, notou novamente as palhas, que ainda
estavam espalhadas onde Maria e José haviam dormido, aqui uma, lá outra, só
mesmo um punhado. Ele já queria ficar zangado, pois os dois hóspedes não
tinham arrumado as palhas. Mas quando observou mais atentamente, viu que
elas eram puro ouro. Pegou uma e balançou-a na mão. Com a outra mão ele
bateu com a testa e exclamou: “Você é um bobo! Deveria ter deixado essa
gente dormir dentro do celeiro, pois assim toda a sua palha seria agora de
ouro!” Bom, agora era tarde demais. Mas, pelo menos, ele resolveu vender por
um bom dinheiro as poucas palhas que ficaram ali. O camponês, duro de
coração, as envolveu em um pano e caminhou até a cidade mais próxima.
Depois de muita pechincha, ele achou um ouvires, que lhe pagaria um bom
preço. Satisfeito com o lucro que tinha conseguido com o pobre abrigo que
oferecera, tirou as palhas do pano. Como ele ficou perplexo e como o ourives
riu na sua cara, quando apenas palhas comuns apareceram de dentro do pano!
Assim, o camponês só trouxe para casa essa caçoada, que se manteve nele por
longo tempo, por causa da dádiva da sagrada família, que ele gostaria de ter
vendido.
Rebeca era a mulher mais pobre da aldeia. Ela só tinha a roupa do corpo, o
que era muito pouco, pois a saia e a blusa estavam esfarrapadas e as meias e
os sapatos cheios de buracos. Todos a conheciam, e Rebeca conhecia todas as
pessoas da aldeia e sabia onde podia pedir algo quando estava com fome e
onde era possível dormir abrigada, quando o duro inverno não deixava que
passasse a noite ao ar livre. Ela vivia miseravelmente, mas estava acostumada
e nem conseguia imaginar que pudesse ser diferente. Uma vez, um fazendeiro
lhe disse que realmente tinha muita pena dela e ela respondeu: “Pelo menos
sei que não sofro de algo que vocês sofrem!” E como ele a olhasse muito
espantado ela continuou: “Eu peço esmola a todos vocês. Mas nunca veio
alguém pedir-me alguma coisa!” E, com um sorriso maroto, pegou o pão que
o fazendeiro lhe havia dado, prendeu-o debaixo do braço e foi embora.
Mas, naquele inverno em que aconteceu esta história que lhes quero contar,
havia muita necessidade na região, e as pessoas mal tinham o suficiente para
satisfazer a própria fome. A mendiga só a muito custo conseguia ajuda e tinha
que bater em muitas portas, para conseguir uma pequena refeição. Um dia,
Rebeca havia pedido um pouco de sopa quente, e o que lhe deram mal deu
para encher metade de sua jarrinha. Quando se sentou à beira da estrada para
comer, ela viu de repente se aproximarem um homem e uma mulher com um
burrinho. Vocês já adivinharam: eram Maria e José em seu caminho para
Belém. O homem parecia estar muito abatido, e a expressão no rosto pálido da
jovem mulher era tão sofrida, que até Rebeca ficou com pena deles. “Ei,
amigos!” – chamou ela – “por que estão abatidos e tão tristes? Que lhes
falta?” José olhou em silêncio para ela, medindo de relance a jarra que ela
tinha na mão. Maria, porém, respondeu baixinho: “Nada temos para comer, e
por isso está difícil caminhar.” Rebeca perguntou: “Mas por que não compram
alguma coisa?” “Não temos dinheiro para comprar comida.” – foi a resposta.
“E por que não pedem?” – Rebeca quis saber. “Nós tentamos” – confessou
Maria envergonhada – “mas ninguém quis dar alguma coisa.” A mendiga
replicou: “É, eu sei. Os tempos estão ruins. Todos têm pouco. Olhem só o que
me deram!” E mostrou-lhes a jarra com aquele pouquinho de sopa. E, de
repente, teve uma ideia extraordinária, uma ideia que nunca lhe havia ocorrido
em toda a sua vida. E ela perguntou cautelosamente: “Vocês têm alguma
vasilha aí?” Sim, Maria e José tinham uma vasilha. “Então vamos repartir” –
decidiu a mendiga – “minha sopa e sua fome.” José desempacotou sua vasilha,
e Rebeca derramou nela um pouco de sopa, e depois mais um tanto. Sua
própria jarra ficou vazia, mas ela segurou-a de tal modo que Maria e José não
o notaram. Quando a pobre viu as duas pessoas famintas tomando a sopa,
sentiu uma alegria como nunca antes havia sentido. Até mesmo esqueceu por
alguns instantes sua própria fome.
Ah, Maria e José levaram só poucos minutos para acabar com a sopa, e
novamente se puseram a caminho. Rebeca ainda ficou por longo tempo
seguindo com os olhos os viajantes, que haviam ensinado a ela um sentimento
que lhe era desconhecido e lhe dera tanta alegria. Por fim, quando se inclinou
para pegar sua jarra vazia, viu que ela estava cheia até a borda com uma sopa
deliciosa e quentinha, que lhe satisfez toda a fome.
Nos campos diante dos portões da cidade de Belém, ardia uma fogueira. Em
volta dela, sentados, alguns pastores se aqueciam, pois era inverno e as noites
eram frias. Ao redor deles, em círculo, as ovelhas deitavam-se em calma e
paz. Só os cães passavam sem cessar por entre o rebanho, e vigiavam. “Como
seria bom” – suspirou de repente Samuel, o pastor jovem – “se não existissem
mais lobos que ameaçassem o rebanho…” Jacó, porém, abanou teimoso a
cabeça e respondeu ao companheiro: “Que adianta sonhar? Enquanto houver
ovelhas, haverá lobos que as ameacem.” Aí, Elias, o velho, levantando a
cabeça branca, olhou os dois com seus olhos claros e disse misteriosamente:
“Quem sabe, quem sabe. Soube de uma profecia, que diz que um dia os lobos
pastarão pacificamente com as ovelhas.” Samuel logo perguntou: “Quando
será isso?” O velho balançou pensativamente a cabeça: “No livro está escrito
que um dia o Filho de Deus nascerá como homem. Então acabará toda
inimizade na Terra, e haverá paz entre os homens e os animais. Mas quando
esse dia virá, ninguém sabe dizer.”
4. O VELHO PORTEIRO
Então ele percebeu que, de repente, o céu começou a brilhar no Oriente, como
se não estivesse oculto pelas nuvens de neve. A luz ficou cada vez mais clara,
e nessa luz apareceu uma porta alta e dourada, que se abriu. Dessa porta alta e
dourada saiu uma criancinha. Ela se virou e, amavelmente, acenou com sua
mãozinha para o velho porteiro na janela, e começou a andar numa estrada
invisível rumo à Terra. Enquanto isso, ela continuamente olhava para Simeão,
que observava admirado esse acontecimento. De repente, porém, ele
exclamou: “A porta alta! A criança está vindo para a porta alta, e eu aqui
sentado, comendo mosca!” Tão rápido quanto pôde, levantou-se e, com seu
casaco de lã, andou na neve até o muro oriental da cidade. Não encontrou
ninguém em seu caminho. Com esse tempo, as pessoas preferiam ficar em
suas casas. Mesmo não podendo mais reconhecer a porta dourada no céu, ele
podia ainda imaginar seu brilho claro no Oriente. Enfim chegou até a porta
alta, e finalmente pôde meter a chave prateada na fechadura. Esta se deixou
abrir facilmente. E então se abriu o pequeno pórtico e se abriu a porta alta
silenciosamente, e do outro lado estava a Criança. Com confiança ela estendeu
a mão, e disse a Simeão: “Muito obrigado, porque você ouviu meu chamado e
me abriu a porta. Também eu guardei o portão aberto para você. Veja!”
Quando o velho porteiro ergueu os olhos, viu novamente a porta dourada do
céu. Estava bem aberta, e uma estrada luminosa levava até ela. Aí, Simeão riu
bem alegremente e começou a se aproximar da porta do céu. A criança o
olhava, até que ele desapareceu.
Passaram-se alguns dias, até que as pessoas deram por falta do velho porteiro.
Procuraram por ele, mas não o encontraram. Então, aconteceu que um dia
apareceram estranhos na cidade, um homem com sua jovem mulher e um
burrinho. O novo porteiro, porém, não os vira entrar e estava muito espantado.
Por isso, ele foi até a porta alta; encontrou-a aberta e com a chave na
fechadura. “Será que o velho Simeão ficou confuso da cabeça e abriu a porta
antes de partir?” – resmungou o homem. E, fechando novamente a porta,
levou consigo a chave. Ele não suspeitava que aquele, para quem a porta alta
deveria ser aberta, já havia passado por ela.
5. DANIEL E A FLAUTA
Quando Daniel apareceu nas ruas de Belém e tocava sua pequena flauta, as
pessoas não conseguiam deixar de ouvi-lo e de se alegrar. Apesar disso,
Daniel era, na verdade, um menino digno de pena. Tinha, de nascença, o
coração fraco, que não lhe permitia brincar com as outras crianças, sua perna
esquerda mancava um pouco e, o que era mais lastimável, ele era cego. Nunca
tinha visto o sol, o céu ou o mundo maravilhoso. Mas, quando tocava sua
flauta, – e isso ele fazia por onde andasse – não havia nada de tristeza em suas
melodias. Daniel era uma criança alegre, e sua alegria era contagiante.
Cada vez mais longe, eles continuaram a ouvir a música da flauta, pois Daniel
tocava sem parar. Ele tinha que tocar para expressar sua alegria, já que tinha
visto algo maravilhoso! Havia muita luz em volta dele. E nessa luz ele
conseguira perceber dois vultos, que levavam consigo uma Criança, uma
criancinha, que lhe havia acenado: “Venha!” Sim, ele iria, quando chegasse a
hora. Mas, por enquanto, tinha que tocar, como se a música pudesse expulsar
toda a névoa e tirar dos homens toda a cegueira.
6. OS ESTALAJADEIROS DE BELÉM
7. O FILHO DE DEUS
Quando a Noite Santa se aproximou, tudo ficou bem quieto na Terra. Era
como se o mundo prendesse a respiração. Nos céus, porém, os anjos olhavam
para as mais altas esferas celestes, onde os querubins e serafins formavam um
círculo em volta do trono de Deus. E aí aconteceu o que era há tanto tempo
esperado, e tão ardentemente desejado: De repente o círculo se abriu, e o trono
de Deus se tornou visível para todos os seres celestes. Do trono, porém, saiu
Um, tão claro e luminoso, tão sereno e puro, que mesmo com línguas de anjos
não seria possível descrever. Cordialmente, Ele olhou para o círculo de anjos,
que só queriam, reverentemente, contemplá-lo. Então, Ele deu um passo para
o lado, e o olhar sério e santo do Pai trespassou as esferas dos seres celestes.
Diante Dele, abriu-se um caminho luminoso, descendo cada vez mais baixo
até a Terra. Lá, então, os seres celestes viram um pobre estábulo, onde uma
mulher e um homem estavam sentados junto a uma manjedoura, em
companhia do burro e do boi. O homem estava com muito sono. A mulher,
porém, voltou seu olhar para o céu e, quando ela percebeu o caminho
luminoso, elevou os braços. Nisso, o Ser de Luz, o Filho de Deus, que havia
saído do trono de Deus, começou a descer pelo caminho luminoso, descendo
cada vez mais, saudado e acompanhado pelos coros de anjos, cujo canto se
intensificava, à medida que Ele passava. Enquanto Ele passava de um círculo
celeste ao outro, ele continuamente se transformava; ficou primeiro como um
dos anjos mais elevados, como um serafim, como um querubim, e trocava
uma forma de glória por outra, como se fossem vestes. Então, Ele chegou ao
círculo dos arcanjos, depois ao círculo dos anjos, do qual logo depois saiu. O
estábulo pobre resplandeceu em claridade, quando o Luminoso se aproximou
de Maria e inclinou sobre ela sua sombra luminosa. Sua luz, porém, se
espelhava nos olhinhos da Criança pequenina que a Mãe Divina segurava no
colo. Aí, novamente o coro dos anjos ressoou no céu, e a Terra refletia o canto
de louvor dos seres celestes: “Hoje nasceu para nós o Salvador, que é Cristo, o
Senhor.”
Desde essa noite, nunca mais se cerrou o círculo dos serafins e querubins. O
caminho luminoso continua sempre descendo do trono de Deus até a Terra, e
Cristo anda por ele todos os anos, do Pai até os Homens, para nascer entre eles
e se tornar semelhante a eles; e para plantar Sua luz em seus corações, a fim
de que essa luz se irradie de seus olhos, assim como um dia se irradiou dos
olhos do Menino Jesus.
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Autor: Georg Dreissig
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