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O momento que a verdade se encontrou com a mentira

Certa vez, a mentira e a verdade se encontraram. A mentira disse para a verdade:

- Bom dia, verdade.

A verdade foi conferir se realmente era um bom dia. Olhou para o alto, não viu nuvens de chuva e havia
pássaros cantando. Ao ver que realmente tratava-se de um bom dia, respondeu à mentira:

- Bom dia, mentira.

A mentira prosseguiu:

- Está calor hoje.

E a verdade, percebendo que a mentira estava certa pela segunda vez, relaxou.

A mentira então convidou a verdade para um banho no rio. Despiu-se de suas vestes, pulou na água e
disse:

- Venha, verdade, a água está uma delícia.

Assim que a verdade, sem suspeitar, tirou suas vestes e mergulhou, a mentira saiu da água, vestiu-se com
as roupas da verdade e foi-se dali.

A verdade, por sua vez, recusou-se a vestir-se com as vestes da mentira. E por não ter do que se
envergonhar, saiu nua a caminhar pelas ruas e vilas. E desde então, é por este evento que, aos olhos de
muita gente, é mais fácil aceitar a mentira vestida de verdade do que a verdade nua e crua.

Assim nos diz Inanna:

Fui até lá de livre vontade. Fui até lá com meu vestido mais lindo, minhas jóias mais preciosas e minha
coroa de Rainha do Céu, no Inferno. Diante de cada um dos sete portões fui desnuda sete vezes de tudo o
que pensava ser até que fiquei nua daquilo que de fato sou. Então eu a vi. Ela era enorme e escura e
peluda e cheirava mal tinha cabeça de leoa e patas de leoa e devorava tudo que estivesse à sua frente
Ereshkigal, minha irmã. Ela é tudo o que eu não sou, tudo o que eu escondi, tudo o que eu enterrei; ela é o
que eu neguei Ereshkigal, minha irmã Ereshkigal, minha sombra Ereshkigal, meu eu.

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