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XVIII SEMANA DE LETRAS

II SEMINÁRIO DE AFRICANIDADES E
CONSCIÊNCIA NEGRA

As vozes das pedras: as literaturas que se pintam pelos cosmos

Profª Drª Sonyellen F.F. Fiorotti (pós-dosc PPGL/UFRR)


José Luís Jobim (2021) discutindo sobre a construção do
conceito de literatura e sobre o tributo que se paga ao que se pensou
sobre literatura ao longo da história aponta para um dos sentidos
de longa duração que relaciona o termo literatura à sua derivação
da língua latina litterae (letras), o que estabeleceu uma associação
não apenas com a letra e com a escrita, mas também com o valor
daquilo que se escolhia colocar por escrito, considerando inclusive o
valor enquanto custo de produção de uma obra literária.
Isto posto, podemos perceber uma grandeza que direciona o
sentido de literatura mesmo nos dias de hoje: a sacralização tanto
da letra quanto da técnica ao se fazer literatura, o que incorreria na
configuração de um conjunto de obras e autores consagrados, ou
seja, de um cânon.
Literaturas indígenas
• Atravessam as vidas e os tempos: encantamento do mundo
• Travessia possibilitada pelas “amizades cosmológicas” (RIBEIRO,
2022) ou “alianças afetivas” (KRENAK, 2015) com o sol, com a terra,
com as pedras.
• Sendo assim, a arte e, em especial a literatura, será a manifestação
dessas alianças, desses diálogos com essas gentes outras.
• Será primeiramente inscrita para depois ser escrita em letras
alfabéticas. Será inscrita no espaço pela voz, no chão pelos passos
de dança, na pele pelas tintas de jenipapo, tauá, urucum, nas pedras
pelo ocre, pela chamada “arte rupestre”.
As literaturas indígenas - atualização
Alcançar com as mãos
o útero da terra
percorrer com os dedos
a linguagem da terra
a fala das pedras
os grãos da voz
que a água acalenta
Tirar do pó o mistério da existência
matéria mesma das mãos nas mãos
das mães do barro
Koko’ Non1
afagar entre os dedos
o barro que arrendonda
as formas das gentes
da vida
seus afetos meus afetos
de enfrentar o fogo
o fogo é a cor da pele
do povo do entorno da Wazaka’
Rigores do amor vertidos por Wei
que depois de secos alimentam
as palavras das avós que nunca racham
de tuma3, de karutuke4, tawa5, de pari6,
decoram as cantigas que encantam
de carinho as netas das netas que virão
a seguir.
As literaturas indígenas resistem e reencantam como um canto entoado
pelas avós indígenas que se inscrevem nos afetos de seus netos, como
a maniva/ macaxeira que fermenta no útero escuro da terra para virar
alimento, como a letra de Makunaimî que permanece nas pedras,
testemunhando sua passagem pelos lavrados e territórios do circum-
Roraima, enfeitando os dias e inscrevendo nossa história como povos
originários.
TENKI/ MUITO OBRIGADA

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