José Luís Jobim (2021) discutindo sobre a construção do conceito de literatura e sobre o tributo que se paga ao que se pensou sobre literatura ao longo da história aponta para um dos sentidos de longa duração que relaciona o termo literatura à sua derivação da língua latina litterae (letras), o que estabeleceu uma associação não apenas com a letra e com a escrita, mas também com o valor daquilo que se escolhia colocar por escrito, considerando inclusive o valor enquanto custo de produção de uma obra literária. Isto posto, podemos perceber uma grandeza que direciona o sentido de literatura mesmo nos dias de hoje: a sacralização tanto da letra quanto da técnica ao se fazer literatura, o que incorreria na configuração de um conjunto de obras e autores consagrados, ou seja, de um cânon. Literaturas indígenas • Atravessam as vidas e os tempos: encantamento do mundo • Travessia possibilitada pelas “amizades cosmológicas” (RIBEIRO, 2022) ou “alianças afetivas” (KRENAK, 2015) com o sol, com a terra, com as pedras. • Sendo assim, a arte e, em especial a literatura, será a manifestação dessas alianças, desses diálogos com essas gentes outras. • Será primeiramente inscrita para depois ser escrita em letras alfabéticas. Será inscrita no espaço pela voz, no chão pelos passos de dança, na pele pelas tintas de jenipapo, tauá, urucum, nas pedras pelo ocre, pela chamada “arte rupestre”. As literaturas indígenas - atualização Alcançar com as mãos o útero da terra percorrer com os dedos a linguagem da terra a fala das pedras os grãos da voz que a água acalenta Tirar do pó o mistério da existência matéria mesma das mãos nas mãos das mães do barro Koko’ Non1 afagar entre os dedos o barro que arrendonda as formas das gentes da vida seus afetos meus afetos de enfrentar o fogo o fogo é a cor da pele do povo do entorno da Wazaka’ Rigores do amor vertidos por Wei que depois de secos alimentam as palavras das avós que nunca racham de tuma3, de karutuke4, tawa5, de pari6, decoram as cantigas que encantam de carinho as netas das netas que virão a seguir. As literaturas indígenas resistem e reencantam como um canto entoado pelas avós indígenas que se inscrevem nos afetos de seus netos, como a maniva/ macaxeira que fermenta no útero escuro da terra para virar alimento, como a letra de Makunaimî que permanece nas pedras, testemunhando sua passagem pelos lavrados e territórios do circum- Roraima, enfeitando os dias e inscrevendo nossa história como povos originários. TENKI/ MUITO OBRIGADA
Se não é a canção nacional, para lá caminha: a presentificação da nação na construção do samba e do fado como símbolos identitários no Brasil e em Portugal (1890-1942)