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O cordel tornou-se uma referência de literatura característica do

Nordeste brasileiro, fortalecendo ainda hoje a identidade regional.

Cordel datado de 1637 na Holanda.


A literatura de cordel veio junto com os portugueses, adentrando o
Brasil pelo Nordeste e propagando essa cultura pela região
nordestina do país, que, posteriormente, tornou-se referência em
cordel.

Por abordar histórias e situações características da região, o cordel


fortaleceu o folclore e o imaginário regional. Sua impressão em
grande quantidade e rapidez fez com que se popularizasse,
principalmente, porque sintetizava de maneira simples histórias.
Hoje, a literatura de cordel é reconhecida como patrimônio cultural
imaterial, existindo até uma Academia Brasileira de Literatura de
Cordel.

Origem
De origem portuguesa, a literatura de cordel começou com
o Trovadorismo medieval, por volta do século XII. Os trovadores
cantavam e espalhavam histórias para a população que, na época,
era em grande parte analfabeta, mas acabava tendo acesso às
histórias por meio dessas canções.

Já na Renascença houve muitos avanços tecnológicos, como a


prensa mecânica, que deu início à imprensa. A invenção dessa
tecnologia permitiu a impressão de grande quantidade de palavras
no papel e com maior rapidez. Com essa agilidade na produção, a
distribuição da palavra, que até então era apenas cantada, passou
a ganhar a casualidade das ruas.

Assim começou a cultura do cordel, que era apresentado nas ruas


pendurado em cordas – ou cordéis, como é chamado em Portugal
–, popularizando histórias regionais. Quando os portugueses
chegaram ao Nordeste brasileiro, trouxeram consigo esse costume
que aqui fica conhecido como a literatura de cordel, famoso
principalmente em Pernambuco.

No Brasil, o cordel popularizou-se por volta do século XVIII, quando


também ficou conhecida como poesia popular, já que aqui a
técnica advinda de Portugal ganhou novas temáticas regionais,
divulgando histórias de uma maneira simples, possibilitando que a
população compreendesse com facilidade.
A propagação do cordel ocorreu por meio dos repentistas (ou
violeiros), que, similarmente aos trovadores medievais, cantavam
histórias musicadas e rimadas nas ruas das cidades, popularizando
os poemas que depois vieram a ser os cordéis.

Principais características

 No geral, o cordel é escrito em métrica com rimas que fazem a


musicalidade dos versos.
 Torna-se uma forma de resistência para o folclore da região de onde
surge, já que o gênero cordel trata dos costumes locais, fortalecendo as
identidades regionais.
 A literatura de cordel é muito conhecida por suas xilogravuras, as quais
ilustram as páginas dos poemas. Essa técnica é muito usada na literatura
de cordel porque, uma vez que a matriz do desenho é feita, é possível
imprimir o desenho inúmeras vezes.
Princip
ais autores

 Leandro Gomes de Barros


Foi o primeiro brasileiro a escrever cordéis. Produziu 240 obras que ficaram
muito conhecidas pelo imaginário popular do Nordeste brasileiro e também
pelo Brasil todo. É o caso da peça “Auto da Compadecida”, de Ariano
Suassuna, baseada nos cordéis de Barros.
Capa do livro "Auto da Compadecida" de Ariano Suassuna (EDITORA AGIR).
 João Martins de Athayde
Ficou conhecido por utilizar imagens de artistas de Hollywood em seus
cordéis. Após a morte de Leandro Gomes de Barros, Athayde adquiriu
alguns dos direitos de publicação de seus cordéis, sendo descoberto,
recentemente, que a verdadeira autoria deles, na verdade, é de Barros.
Dentre os poetas nascidos já no século XX, destacam-se nomes como:

 Antônio Carlos dos Santos

 Arievaldo Viana Lima

 Expedito Sebastião da Silva

 José Costa Leite

 Manoel Monteiro

 Patativa do Assaré

 Zé da Luz

Exemplo de verso solto de cordel


“Galopo pensando no tempo que passa,
Tão vertiginoso qual sopro do vento
Que varre caminhos e até pensamento,
Deixando pra trás, nevoeiro, fumaça…
O sopro é o que traz um alento e abraça
A vida que segue traçando caminho.
O tempo é o relógio no redemoinho
Dos dias, semanas, dos meses, dos anos
Passados, presentes, anelos e planos,
Que foram, por certo, gerados no ninho.
 
Seguindo o caminho de curva fechada,
Um forte arrepio na espinha dorsal;
Na beira da mata, um estranho arsenal
De tocos, garranchos e pedra lascada
Vedando o acesso, atrasam a jornada,
Cansaço medonho desse galopar
São léguas à frente e o tempo a rolar
No despenhadeiro do dia que morre
Nos braços da noite, um pranto escorre
Em gotas que banham a terra e o ar.
 
E quando amanhece, o sol ilumina
A estrada de pedra que resta a seguir.
Sem olhar para trás, à frente, há porvir,
Na noite cinzenta, ficou a neblina
No leito do rio de água cristalina,
O corpo tão frágil se banha sedento.
Erguendo o olhar ao azul firmamento,
Tentando alcançar a linha do horizonte
Que tece a beleza que nasce da fonte
E expressa a grandeza da força do vento.”
 
“Galopando no tempo e no vento”, de Creusa Meira.

Resumo

A literatura de cordel aconteceu no Brasil graças às influências que Portugal


trouxe consigo. Os cordéis medievais e trovadorescos aqui ganharam outros
temas, fortalecendo a cultura regionalista (que hoje representa todo o Norte e
Nordeste do Brasil) e tornando-se, no ano de 2018, patrimônio imaterial
brasileiro.
O cordel é uma impressão de baixo custo feita com prensas, que facilitam sua
grande produção e distribuição. Suas temáticas variam muito, mas os mais
comuns contam casos e histórias tradicionais da região. Alguns contam com
personagens folclóricos, o que fortalece mais ainda a cultura local. Os textos
são rimados e metrificados por virem de histórias cantadas por repentistas —
tradicionais violeiros do Nordeste brasileiro que cantam histórias improvisadas
e rimadas.

Ai! Se sêsse!...

Se um dia nós se gostasse;


Se um dia nós se queresse;
Se nós dois se impariásse,
Se juntinho nós dois vivesse!
Se juntinho nós dois morasse
Se juntinho nós dois drumisse;
Se juntinho nós dois morresse!
Se pro céu nós assubisse?
Mas porém, se acontecesse
qui São Pêdo não abrisse
as portas do céu e fosse,
te dizê quarqué toulíce?
E se eu me arriminasse
e tu cum insistisse,
prá qui eu me arrezorvesse
e a minha faca puxasse,
e o buxo do céu furasse?…
Tarvez qui nós dois ficasse
tarvez qui nós dois caísse
e o céu furado arriasse
e as virge tôdas fugisse!!!

(Zé da Luz)

Nesse exemplo de cordel, pode-se observar algumas das


características desse gênero, já mencionadas, como a rima e a
métrica dos versos.

Repente e literatura de cordel


O repente e a literatura de cordel são expressões populares nordestinas que compartilham de
algumas semelhanças, porém diferem na maneira como são elaborados.

Na literatura de cordel, as poesias são escritas em folhetos e costumam também ser faladas.
São elaboradas pelos cordelistas individualmente, que trabalham em seu texto até que o
mesmo esteja pronto para ser apresentado ao público.

O repente também são criações em verso, mas são apresentadas essencialmente de maneira
oral elaboradas de forma improvisada pelos repentistas. Os versos de repente costumam ser
falados e cantados ao som de um violão.
Os
repentistas costumam fazer seus improvisos acompanhados de um instrumento musical.

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