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Autor de mais
de 15 livros. Acadêmico respeitado, colaborador frequente da revista New Yorker, foi Poeta
Laureado dos EUA entre 2001 e 2003. Já realizou leituras de poesia na Casa Branca. Collins
consegue reunir multidões de leitores e ouvintes, nas salas esgotadas onde faz as leituras
públicas dos seus textos.
Introdução à poesia
Billy Collins
Trad. Edivaldo Ferreira
Fragmento 146
para mim, nem o mel nem as abelhas
mellowsmelling honey
yellowstinging bee
honey, Honey?
no not me
(trad. Anne Carson: http://www.jpdoiron.com/sappho/)
Telma Scherer é professora universitária (UFSC) e foi professora-colaboradora de pintura
no CEART - Centro de Artes da UDESC. Licenciada e bacharela em Filosofia (UFRGS);
graduada em Artes Visuais (UDESC); mestra em Literatura Comparada (UFRGS), doutora
em Teoria Literária (UFSC/Universidade do Porto) e pós-doutoranda em Artes
Visuais/Processos Artísticos Contemporâneos (UDESC). Publicou os livros de poemas
“Desconjunto” (IEL/RS, 2002) e “Rumor da casa” (7 Letras, 2008) e organizou “Entrevistas,
Ricardo Aleixo” (Azougue, 2018). Vive em Florianópolis, Santa Catarina.
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A suave pantera
I
Como qualquer animal,
olha as grades flutuantes.
Eis que as grades são fixas:
Ela, sim, é andante.
Sob a pele, contida
- em silêncio e lisura -
a força do seu mal,
e a doçura, a doçura,
que escorre pelas pernas
e as pernas habitua
a esse modo de andar,
de ser sua, ser sua,
no perfeito equilíbrio
de sua vida aberta:
una e atenta a si mesma,
suavíssima pantera.
II
É suave, suave, a pantera,
mas se a quiserem tocar
sem a devida cautela,
logo a verão transformada
na fera que há dentro dela.
O dente de mais marfim
na negrura toda alerta,
e ser do princípio ao fim
a pantera sem reservas,
o fervor, a força lúdica
da unha longa e descoberta,
o êxtase da sua fúria
sob o melindre que a fera,
em repouso, se a não tocam,
como que tem na singela
forma que não se alvoroça
por si só, antes parece,
na mansa, mansa e lustrosa
pelúcia com que se adorna,
uma viva, intensa jóia.
Paulo Colina – poeta, prosador e ensaísta, nascido Paulo Eduardo de Oliveira em Colina,
estado de São Paulo, a 9 de março de 1950. Membro da geração fundadora dos Cadernos
Negros e do coletivo Quilombhoje, estreou com o volume de contos Fogo cruzado (1980), ao
qual se seguiram as coletâneas de poemas Plano de voo (1984), A noite não pede licença
(1987) e Todo o fogo da luta (1989).
Traduziu vários poetas japoneses para o português, entre eles Takuboku Ishikawa (1885-
1912), Bokusui Wakayama (1885–1928) e Akiko Yosano (1878-1942). Seu conhecimento e
traduções da poesia japonesa refletem-se em seu trabalho, que prima muitas vezes pela
concisão. Morreu prematuramente em 1999, deixando vários inéditos, entre eles o volume
Águas-fortes em beco escuro, que reúne sua produção ensaística.
Eliane Marques é uma poeta brasileira, nascida em Santana do Livramento, Rio Grande do
Sul, em 1970. Estreou com o volume Relicário (2010), ao qual se seguiu e se alguém o pano
(2015).
_____
sabás, oh sabás
grita ora oragora
gora fora ora mesmo
os punhos
à boca terrena de sabás
como louro ou água doce
sabás, oh sabás
quando a morte não destino
de teus braços raízes
sabás, oh sabás
o negro sem espelho o negro sem veneno
o negro sem o mesmo o negro sem terreno
sabás o negro
e um nome é preciso
um nome preciso
que te ampare do vento
Sei Shônagon
A vida na corte japonesa, há mil anos, retratada com graça e concisão. Esse é o mote de O
Livro do Travesseiro, escrito entre os anos 994 e 1001 por Sei Shônagon, dama a serviço da
Consorte Imperial Teishi, principal esposa do imperador Ichijô. Naquela época – o período
Heian (794 a 1185) –, os valores e a estética da cultura japonesa estavam se consolidando.
(1)
Da primavera, o amanhecer. É quando palmo a palmo vão se definindo as esmaecidas linhas
das montanhas e no céu arroxeado tremulam delicadas nuvens.
Do outono, o entardecer. São os momentos do arrebol da tarde em que o sol se acha prestes a
tocar as colinas, quando se tornam comoventes os corvos que se apressam para os ninhos em
grupos de três ou quatro, ou dois e três, e o que diríamos então, ao avistarmos os minúsculos
gansos selvagens seguindo em fila, que encantadores! O sol já posto, melancólico soa o ciciar
do vento e o canto dos insetos.
Do inverno, o despertar. Indescritível é com a neve caindo e nele incluo a ofuscante brancura
da geada. Mesmo na ausência destas, em manhãs de um frio cortante, o apressar das pessoas
em acender o fogo e o corre-corre entre os aposentos com os carvões acesos são cenas típicas
desta estação. O sol já nas alturas e o frio mais ameno, não nos cativa mais que a brasa já
quase tornada cinzas no braseiro portátil.
(232)
Quanto ao que cai, a neve. O granizo. A neve chuvosa é detestável, mas é encantadora a
brancura que se destaca quando cai. É maravilhosa a neve sobre o telhado de casca de
cipreste, sobretudo quando está para derreter um pouco. É também verdadeiramente
fascinante quando a neve, ainda pouca, se acumula no telhado plano e o sombreado de seu
contorno faz ver formas curvas.
A chuva fina e intermitente de outono e o granizo sobre o telhado de tábuas. Também a geada
sobre o telhado de tábuas. Ou no jardim.
(241)
Coisas que simplesmente passam e... passam. O barco à vela. A idade das pessoas. A
primavera, o verão, o outono, o inverno.
MARINA TSVETÁIEVA
Tentativa de ciúme
As novidades de feira
Se acabaram? Farto de portentos,
Como é a vida corriqueira
Com a mulher terrena, sem sexto
Ensaio de ciúme
São Sebastião
(Orides Fontela)
As setas
– cruas – no corpo
as setas
no fresco sangue
as setas
na nudez jovem
as setas
– firmes – confirmando
a carne
PAPAI
Sylvia Plath /Trad. Marina Della Valle
DADDY
An engine, an engine,
Chuffing me off like a Jew.
A Jew to Dachau, Auschwitz, Belsen.
I began to talk like a Jew.
I think I may well be a Jew.
De sol a sol
abriste a boca
Secos os pulmões
neles cresce-me
a lenha do mato
De sol a sol
os meus ossos são verdes
os teus ossos são plantas
Como a fruta-pão o tambor e o chão
De sol a sol
gritei por Rimbaud ou Maiakovsky
deixem-me em paz
Cidadã (fragmentos do 1º capítulo)
(Claudia Rankine/Trad. Stephanie Borges)
Certos momentos mandam adrenalina para o coração, secam sua boca, e travam seus
pulmões. Como um trovão eles te afogam no barulho, não, como um raio eles te atingem
atravessando a laringe. Tosse. Depois que aconteceu eu perdi as palavras. Não foi você quem
disse isso? Você não disse isso para uma amiga íntima que no início da sua amizade, quando
distraída, teria chamado você pelo nome da empregada negra dela? Você concluiu que vocês
eram as duas únicas pessoas negras na vida dela. Eventualmente ela parou de fazer isso, ainda
que ela nunca tenha reconhecido o lapso. E você nunca chamou a atenção dela para isso (por
que não?) e ainda assim, não esquece. Se isso fosse uma tragédia doméstica, e poderia muito
bem ser, essa seria sua falha fatal — sua memória, reservatório dos seus sentimentos. Você se
sente magoada porque é aquele momento “todas as pessoas negras se parecem”, ou porque
você está sendo confundida depois de ser tão próxima dessa outra?
--
Porque você tem um status premium concedido por causa de um ano cheio de viagens, você
já está acomodada em um assento na janela pela United Airlines, quando uma menina e a
mãe dela chegam na sua fileira. A menina, analisando você, diz para a mãe, esses são os
nossos lugares, mas não é isso que eu esperava. A resposta da mãe é quase inaudível — Estou
vendo, ela diz. Vou sentar no meio.
--
Uma mulher que você não conhece se convida para almoçar com você. Você está visitando o
campus dela. No café, as duas pedem salada Cesar. Essa coincidência não é o começo de
nada porque ela imediatamente comenta que ela, o pai dela, o avô dela e você, todos
frequentaram a mesma universidade. Ela queria que o filho dela fosse para lá também, mas
por causa das ações afirmativas ou algo das minorias — ela não sabe do que eles estão
chamando essas coisas hoje em dia, eles não iam acabar com isso ? — o filho dela não foi
aceito. Você não tem certeza se deveria se desculpar por essa falha no programa de tradição
familiar da universidade na qual se formou; em vez disso você pergunta onde ele foi parar. A
instituição de prestígio que ela menciona não parece amenizar a irritação dela. Essa conversa,
com razão, acaba com o seu almoço. A salada chega.
Ana Akhmátova
Foi Uma das principais poetas russas do século 20, Ana Akhmátova (1889 - 1966) .
Considerada "alienada" e sem "consciência cívica" pelo regime soviético, teve o primeiro
marido torturado e preso, um filho preso e o terceiro marido enviado para um gulag, do qual
jamais retornaria. Foi proibida de publicar de 1925 a 1952 (com um breve intervalo entre
1940 e 1946). Os poemas acima fazem parte de "Réquiem", um pequeno livro de 16 poemas
(10 numerados e mais seis à guisa de abertura e epílogo), que só veio a ser conhecido dez
anos após a morte de Stálin.
Introdução
Aconteceu quando a sorrir
Eram só os mortos: contentes pela paz.
E, inútil sobra, pendia
Em volta de suas celas, Leningrado.
E quando, loucas de dor,
Já marchavam as legiões dos condenados,
E os silvos do trem cantavam
Um breve canto de adeus.
As estrelas da morte sobrestavam
À Rússia inocente, se crespando
Sob as botas de sangue
E a sola dos negros camburões.
1.
Levaram-te ao amanhecer,
Atrás de ti, como no enterro, eu ia,
No quarto escuro, choravam os meninos.
Acabava-se a vela sobre o altar,
Nos lábios teus, do ícone, o frio.
O suor mortal na testa… Não dá para esquecer!
Como as mulheres dos franco-atiradores,
Uivarei pelas torres do Kremlin.
1935. Moscou.
3.
Não, não sou eu, é alguém mais que sofre.
Eu não teria podido. Panos negros de lã cubram
O que se passou,
E levem embora os lampiões…
Noite
Mina Loy
Mina Gertrude Löwy nasceu em Londres em 27 de dezembro de 1882, filha de pai judeu
húngaro e mãe protestante inglesa. Começou sua carreira de artista plástica em Paris e depois
se mudou para Nova Iorque em 1916, onde já era conhecida não tanto por sua pintura quanto
por sua reputação como poeta (e mulher) de vanguarda, cujo trabalho (e comportamento) era
admirado por uns e causava estranhamento e repúdio em outros. Entre os admiradores
estavam Marcel Duchamp, Djuna Barnes, Ezra Pound, Gertrude Stein e os dadaístas de Nova
Iorque, incluindo Arthur Cravan, com quem se casou. Além da pintura e da poesia, Loy
escreveu prosa, teatro e ensaios e também se tornou designer de luminárias e fez esculturas
usando sucata coletada pelas ruas e lixeiras de Manhattan. Morreu em 25 de setembro de
1966 em Aspen, Colorado, ondem moravam suas duas filhas Joella e Jemima, reclusa e com
algumas obras não publicadas. Seus poemas foram publicados em vida nos volumes Lunar
Baedeker e Lunar Baedeker & Time Tables e postumamente reunidos, junto com ensaios,
dramaturgia e outros escritos, em The Lost Lunar Baedeker. Seu único romance, Insel,
também foi publicado postumamente.
lead conduzem
to mercurial doomsdays a mercuriais apocalipses
Odious oasis Oásis odioso
in furrowed phosphorous— em fósforos fendidos—
Cyclones Ciclones
of ecstatic dust de poeira extática
and ashes whirl e cinzas giram
crusaders cruzados
from hallucinatory citadels de alucinantes cidadelas
of shattered glass de vidro estilhaçado
into evacuate craters até crateras evacuadas