LEITURA DE

FÁBULAS
Carlos Augusto B. Andrade
CIGARRA E A FORMIGA

UHUM

Esopo - Adaptação Ruth Rocha

 CIGARRA E A FORMIGA
Houve uma jovem cigarra que tinha o
costume de chiar ao pé dum formigueiro.
Só parava quando cansadinha; e seu
divertimento então era observar as
formigas na eterna faina de abastecer as
tulhas.
Mas o bom tempo afinal passou e vieram
as chuvas. Os animais todos, arrepiados,
passavam o dia cochilando nas tocas.
A pobre cigarra, sem abrigo em seu
galhinho seco e metida em grandes
apuros, deliberou socorrer-se de alguém.
Manquitolando, com uma asa a arrastar, lá
se dirigiu para o formigueiro.
Bateu – tique, tique, tique…
Aparece uma formiga friorenta,
embrulhada num xalinho de paina.
– Que quer? – perguntou, examinando a
triste mendiga suja de lama e a tossir.
– Venho em busca de agasalho. O mau
tempo não cessa e eu…
A formiga olhou-a de alto a baixo.
– E o que fez durante o bom tempo, que
não construiu sua casa? A pobre cigarra,
toda tremendo, respondeu depois dum
acesso de tosse.
– Eu cantava, bem sabe…– Ah! …
exclamou a formiga recordando-se. Era
você então quem cantava nessa árvore
enquanto nós labutávamos para encher as
tulhas?
– Isso mesmo, era eu…
– POIS ENTRE, AMIGUINHA! NUNCA PODEREMOS
ESQUECER AS BOAS HORAS QUE SUA CANTORIA
NOS PROPORCIONOU. AQUELE CHIADO NOS AMIGUINHA!
DISTRAÍA E ALIVIAVA O TRABALHO.
DIZÍAMOS SEMPRE: QUE FELICIDADE TER COMO
VIZINHA TÃO GENTIL CANTORA!
ENTRE, AMIGA, QUE AQUI TERÁ CAMA E MESA
DURANTE TODO O MAU TEMPO.
A CIGARRA ENTROU, SAROU DA TOSSE E VOLTOU A
SER A ALEGRE CANTORA DOS DIAS DE SOL.

“MORAL DA HISTÓRIA: OS ARTISTAS: POETAS,

PINTORES, MÚSICOS, SÃO AS CIGARRAS DA
HUMANIDADE.”

MONTEIRO LOBATO, EM “FÁBULAS”. SÃO PAULO:

BRASILIENSE, 1995.
INTRODUÇÃO
REFLEXÃO SOBRE A FÁBULA ENQUANTO
GÊNERO DISCURSIVO
ABORDAGEM A PAR TIR DE CONCEITOS:
-INTERDISCURSO E I NTRADI SCUR SO
-ETHOS
-HUMOR
A PARTIR DE ESTRUTURAS CONHECIDAS
HÁ A CONSTRUÇÃO DO "NOVO"
 DIALOGISMO
SOBRE O DIALOGISMO
POLIFONIA

"O DIALOGISMO É CONDIÇÃO BÁSICA

PARA SE CONSTRUIR O SENTIDO DE
QUALQUER TEXTO. CADA SOCIEDADE
CONSTRUIRÁ SEU REPERTÓRIO DE
FORMAS DE DISCURSO, CARREGADO
DA SUA IDEOLOGIA"

CONCEPÇÃO SOBRE O TRABALHO

REGISTRO DOS VALORES SOCIAIS
 FÁBULA
GÊNERO TEXTUAL

"A FÁBULA HABITA O CONTEXTO DOS GÊNEROS

LITERÁRIOS. ELA NASCEU COMO UM GÊNERO
ORAL E, POSTERIORMENTE, FOI REGISTRADA
POR MEIO DA ESCRITA. TEM MAIS DE MIL ANOS
E SEMPRE FOI UTILIZADA PARA CONTAR AS
PROEZAS HUMANAS. GANHOU UM CARÁTER QUE
A SINGULARIZA, POR SER UMA NARRATIVA QUE
UTILIZA ANIMAIS COMO PERSONAGENS, DANDO
PREFERÊNCIA A SITUAÇÕES FANTÁSTICAS, ALÉM
DE POSSUIR, NA SUA ESTRUTURA, UM
ENUNCIADO FINAL, RESPONSÁVEL POR
DESTACAR ALGUM ASPECTO DE MORAL SOCIAL."
 DES ALGUMAS CARACTERÍSTICAS
V ER
TÃO DA!
ES AIN
1. Narrativa breve, geralmente apresentando
apenas um diálogo, com uma estrutura formal
bem definida: situação inicial, problema,
tentativa de solução, conclusão e moral.
2. As personagens são quase sempre animais
personificados.
3. Procura transmitir, contextualizadamente,
ensinamentos ou críticas.
4. Os títulos remetem às personagens.
5. Tempo e espaço imprecisos, para possibilitar
uma leitura em qualquer época.
6. Há um discurso e um contradiscurso, para
acentuar posições dicotômicas entre as
personagens.
7. Destaca-se uma moral ao final da história.
 AS FÁBULAS...
COMO GÊNERO, TEM POR OBJETIVO PRENDER A
ATENÇÃO DO LEITOR A UMA SITUAÇÃO CENTRAL,
PARA DELA EXTRAIR TODOS OS SENTIDOS
POSSÍVEIS, CONDUZIDOS PELA MORAL DA HISTÓRIA,
QUE PODERÁ SERVIR COMO ACONSELHAMENTO,
CRÍTICA OU EXPRESSÃO DE HUMOR, PELAS NUANCES
DA SÁTIRA.
 CANTO PARALELO

A PARÓDIA:
UM DISCURSO EM PROGRESSÃO

I N T E R T E X T U A L ID A D E
DAS DIFERENÇAS,
NÃO SE TRATA
PERMANENTE NUMA ESTRUTURA
QUE POSSA SER APENAS DE
LUTA DE VOZES
CONHECIDA PELO PARÁFRASE
LEITOR
 HUMOR
Os efeitos de sentido

O HUMOR É OBSERVADO COMO FORMA DE

COMPREENDER A PRÓPRIA CONDUTA
HUMANA
PODE ESTAR LIGADO À CRÍTICA
TEM CONSTITUIÇÃO SOCIAL E HISTÓRICA
LIGADAS, FORTEMENTE, A UMA COMUNIDADE
 O Ethos discursivo

A interação entre os sujeitos é sempre tocada,

constitutivamente, pela construção de imagens!

"TODO ATO DE TOMAR A PALAVRA IMPLICA A CONSTRUÇÃO DE

UMA IMAGEM DE SI. PARA TANTO, NÃO É NECESSÁRIO QUE O
LOCUTOR FAÇA SEU AUTO-RETRATO, DETALHE SUAS
QUALIDADES NEM MESMO QUE FALE EXPLICITAMENTE DE SI.
SEU ESTILO DE COMPETÊNCIAS LINGUÍSTICAS SÃO SUFICIENTES
PARA CONSTRUIR UMA REPRESENTAÇÃO DE SUA PESSOA.
ASSIM, DELIBERADO OU NÃO, O LOCUTOR EFETUA EM SEU
DISCURSO UMA APRESENTAÇÃO DE SI". (AMOSSY, 2005, P. 9)
 O sentido está sempre em
movimento
"A ANÁLI SE DAS FÁBULAS ES TÁ RELACION A D A A ASPEC TO S
SUBJETI VOS E SÓCIO - DIS CURS IVOS , POIS O GÊN ERO , O
ETHOS E O HUMOR SÃO F ORMADOS POR SUJEI TOS QUE
ESTÃO EM CONSTANTE IN TERAÇÃO, SEMPRE SITUADOS EM
UM CONTEXTO PARTI CULAR DE ESPA ÇO E TEMPO. "
 aS FÁBULAS:
QUESTIONAR UM MODELO
ANÁLISE MANIQUEÍSTA DE VER O
MUNDO
FORMIGA
TRABALHADORA
X PARÓDI A
CIGARRA FORMIGAS
PREGUIÇOSA MUDANÇA NO ETHOS

SENTENÇA DE MORTE
"MORALIDADE"
"AMIGUINHA"
TEXTO FO NTE ACOLHEDORAS "CANSADINHA"
FORMIGAS
 Finalizando...
COMO SE PODE OBSERVAR, A FÁBULA PODE SE TORNAR UM GÊNERO RICO PARA O
DESENVOLVIMENTO DA LEITURA, TRABALHADA, AINDA, POR MEIO DE PARÓDIAS, PODE
ENRIQUECER AINDA MAIS AS ATIVIDADES DOCENTES COM AS QUESTÕES RELATIVAS AO
DESENVOLVIMENTO DA COMUNICAÇÃO EM SALA DE AULA, AMPLIANDO OS ASPECTOS DE
COMPREENSÃO E INTERPRETABILIDADE E MOSTRANDO AOS ALUNOS OS PROCESSOS INTER E
INTRA-DISCURSIVOS QUE SÃO COLOCADOS EM JOGO NESSE PROCESSO.
É POSSÍVEL DIZER QUE, AO OBSERVAR A MATERIALIDADE LINGUÍSTICA PRESENTE NAS
FÁBULAS E EM PARÓDIAS, O LEITOR EXTRAPOLARÁ AS MARGENS DO QUE ESTÁ POSTO, POR
MEIO DAS PISTAS E DAS INTENÇÕES PRESENTES NO TEXTO, CONSTRUINDO, INCLUSIVE, A
RELAÇÃO ENTRE TEXTO FONTE E PARÓDIA, SEM PERDER OS SENTIDOS QUE CADA UM POSSUI,
PORÉM PERCEBENDO A RELAÇÃO FINA ENTRE ELES, AINDA QUE PELAS CONTRADIÇÕES QUE SE
TORNAM PRESENTES E PERCEPTÍVEIS NA PARÓDIA. OS EFEITOS DE SENTIDO DE HUMOR E DE
CRÍTICA, INERENTES A ESSA PRODUÇÃO, SERÃO OBSERVADOS, TAMBÉM, PELA ANÁLISE
LINGUÍSTICA E EXTRALINGUÍSTICA QUE SE REALIZA NA LEITURA DESSES TEXTOS.
O ENSINO DE LEITURA A PARTIR DO PROCESSO AQUI APRESENTADO PODE SER MAIS UM MEIO
EFICAZ E EFICIENTE PARA SE TRABALHAR A COMPREENSÃO E INTERPRETABILIDADE NA ESCOLA,
MOSTRANDO AOS ALUNOS QUE TODO ENUNCIADO DIZ MAIS DO QUE SOMENTE ESTÁ ESCRITO.
OBRIGADA!