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GÊNEROS TEXTUAIS

CRÔNICA

 É um TEXTO NARRATIVO, que consiste no relato de


acontecimentos (normalmente banais) do cotidiano, escrito em
linguagem mais leve. Ela difere do conto não apenas no
tamanho, mas também na linguagem, já que busca a intimidade
e o humor da anedota, numa linguagem cotidiana que encontra
receptividade em todos os leitores.
 A crônica apresenta também um narrador (que é o próprio
autor), personagens (que se aproximam muito das pessoas que as
leem), enredo, tempo e espaço. Na maioria dos casos, esses
elementos são tratados por meio de uma linguagem mais
poética.
 Embora a crônica tenha o caráter transitório de um jornal - uma
vez que nasceu dentro desse veículo de comunicação de massa –
muitos cronistas contemporâneos conseguem captar flashes,
circunstâncias do cotidiano de uma maneira tão lírica que fica
difícil dizer que tais textos não assumem um caráter literário.
Veja, a seguir, um exemplo de CRÔNICA:

O cajueiro já devia ser velho quando nasci. Ele vive nas mais
antigas recordações de minha infância: belo, imenso, no alto do morro atrás
da casa. Agora vem uma carta dizendo que ele caiu.
Eu me lembro do outro cajueiro que era menor e morreu há muito
tempo. Eu me lembro dos pés de pinha, do cajá-manga, da grande touceira de
espadas-de-são-jorge e da alta saboneteira, que era nossa alegria e a cobiça
de toda a meninada do bairro porque fornecia centenas de bolas pretas para o
jogo de gude. Tudo sumira, mas o grande pé de fruta-pão ao lado da casa e o
imenso cajueiro lá no alto eram como árvores sagradas protegendo a família.
Cada menino que ia crescendo ia aprendendo o jeito de seu tronco, o lugar
melhor para apoiar o pé e subir pelo cajueiro acima, ver de lá o telhado das
casas do outro lado e os morros além, sentir o leve balanceio na brisa da
tarde.
No último verão ainda o vi; estava como sempre carregado de
frutos amarelos, trêmulo de sanhaços. Chovera: mas assim mesmo fiz questão
de que Caribé subisse o morro para vê-lo de perto, como quem apresenta a um
amigo de outras terras um parente muito querido.
A carta de minha irmã mais moça diz que ele caiu numa tarde de
ventania, num fragor tremendo pela ribanceira; e caiu meio de lado, como se
não quisesse quebrar o telhado de nossa velha casa. Diz que passou o dia
abatida, pensando em nossa mãe, em nosso pai, em nossos irmãos que já
morreram. Diz que seus filhos pequenos se assustaram; mas foram brincar nos
galhos tombados. Foi agora, em fins de setembro. Estava carregado de flores.
Rubem Braga. Cem crônicas escolhidas. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1956.
CRÔNICA REFLEXIVA

 É um TEXTO NARRATIVO, uma modalidade de crônica na qual o


autor tece reflexões filosóficas, ou seja, transmite suas
impressões (humorísticas ou líricas) sobre um assunto, cativando
a sensibilidade do leitor numa abordagem descontraída.
 Como a crônica reflexiva representa a expressão espontânea do
pensamento do autor, nela não há uma preocupação com a
forma: admite tanto a linguagem culta quanto a coloquial como
também os recursos poéticos (repetições enfáticas e gírias, por
exemplo).
 Então, como você percebeu, apesar de ser um gênero narrativo
por definição, a crônica reflexiva, em especial, é um texto
híbrido, que mescla algumas modalidades e não prescinde da
reflexão e do comentário.
Observe a CRÔNICA REFLEXIVA escrita por Rubem Braga:

OS OLHOS DE ISABEL
Instalou-se, ontem, no Rio, um banco de olhos. Ali será conservada na
geladeira uma parte dos olhos tirados de pessoas que acabam de morrer, de
acidentados e natimortos. Os cegos que são capazes de distinguir a claridade
poderão, em muitos casos, ter vista perfeita, recebendo nos olhos a córnea da
pessoa morta. Já houve muitos casos dessa operação no Brasil, como o da
jovem Isabel, de 18 anos, cega desde nascença, que passou a ver bem. Não a
conheço; e estimo que seja feliz em suas visões, e veja sempre coisas que a
façam alegre.
É pelos olhos que entra em nós a maior parte das alegrias e tristezas. Os
meus, ainda que bastante usados, enxergam bem, e mesmo, em certas
circunstâncias, demais. São, é natural, sujeitos a muitas ilusões; de muitas já
fui ao empós, e eram miragens que me levaram ao meio de um deserto onde
me alimentei de gafanhotos e lágrimas, tomando sopa de vento, comendo pirão
de areia, como diz a canção.
O jornal não diz de quem eram os olhos com que hoje vê a moça Isabel; e
ela, nunca tendo visto antes, não sabe se as visões de hoje são verdade ou
fantasia; talvez esteja a ver este mundo através do filtro emocional de uma
criatura já morta. Mas que seus novos olhos – tenham visto o que tiverem antes
– que ora vejam tudo em suave e belo azul, a cor dos sonhos e descobrimentos
nas navegações dos 18 anos. Que são tontas, mas belas navegações.
Rubem Braga, O homem rouco. Rio: Editora do Autor, 1963.
ENTREVISTA (ESCRITA)
É um TEXTO DISSETRTATIVO, que visa a obter a informação e difundi-
la num meio de comunicação (imprensa escrita, o rádio, a televisão,
internet). Tal gênero de texto caracteriza-se pela interação entre os
interlocutores: entrevistador e entrevistado. Este relata suas
experiências e conhecimentos acerca de determinado assunto, de
acordo com os questionamentos previamente elaborados por aquele.

Estrutura da ENTREVISTA:
• Manchete ou título – Como o objetivo é despertar o interesse no
público expectador, essa costuma vir acompanhada de uma frase
de efeito, proferida de modo marcante pelo entrevistador.
• Apresentação - Nesse momento faz-se referência ao
entrevistado, divulgando sua autoridade em relação à relevância
do assunto em questão, como, por exemplo, experiência
profissional e conhecimentos relativos à situação, como também
os pontos principais relativos à entrevista.
• Perguntas e respostas – trata-se do discurso propriamente dito,
em que perguntas e respostas são apresentadas/escritas,
conforme o assunto abordado.
Leia, abaixo, a entrevista de Rosiska Darcy de Oliveira, feminista e
escritora, presidente do “Centro de Liderança da Mulher”, realizada
pelo CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA MULHER.

MMPB – As mulheres alcançaram uma série de direitos e liberdades


nas últimas décadas. Elas estão realizadas com estas conquistas?

Rosiska – Acho que as mulheres estão enfrentando um imenso problema


e eu tratei disso no meu livro “Reengenharia do Tempo”. Elas entraram no
mundo dos homens. A minha geração participou de uma verdadeira
revolução, a mais importante do século XX, que mudou a sociedade mundial
e a sociedade brasileira. Houve uma imensa migração das mulheres da vida
privada para o mundo do trabalho com consequentes possibilidades de
afirmação, de automanutenção, de experiência intelectual, espiritual, mas,
na essência, estamos pagando muito caro, porque fizemos essa migração
para o mundo público sem negociar a vida privada.

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