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CRÔNICA
O cajueiro já devia ser velho quando nasci. Ele vive nas mais
antigas recordações de minha infância: belo, imenso, no alto do morro atrás
da casa. Agora vem uma carta dizendo que ele caiu.
Eu me lembro do outro cajueiro que era menor e morreu há muito
tempo. Eu me lembro dos pés de pinha, do cajá-manga, da grande touceira de
espadas-de-são-jorge e da alta saboneteira, que era nossa alegria e a cobiça
de toda a meninada do bairro porque fornecia centenas de bolas pretas para o
jogo de gude. Tudo sumira, mas o grande pé de fruta-pão ao lado da casa e o
imenso cajueiro lá no alto eram como árvores sagradas protegendo a família.
Cada menino que ia crescendo ia aprendendo o jeito de seu tronco, o lugar
melhor para apoiar o pé e subir pelo cajueiro acima, ver de lá o telhado das
casas do outro lado e os morros além, sentir o leve balanceio na brisa da
tarde.
No último verão ainda o vi; estava como sempre carregado de
frutos amarelos, trêmulo de sanhaços. Chovera: mas assim mesmo fiz questão
de que Caribé subisse o morro para vê-lo de perto, como quem apresenta a um
amigo de outras terras um parente muito querido.
A carta de minha irmã mais moça diz que ele caiu numa tarde de
ventania, num fragor tremendo pela ribanceira; e caiu meio de lado, como se
não quisesse quebrar o telhado de nossa velha casa. Diz que passou o dia
abatida, pensando em nossa mãe, em nosso pai, em nossos irmãos que já
morreram. Diz que seus filhos pequenos se assustaram; mas foram brincar nos
galhos tombados. Foi agora, em fins de setembro. Estava carregado de flores.
Rubem Braga. Cem crônicas escolhidas. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1956.
CRÔNICA REFLEXIVA
OS OLHOS DE ISABEL
Instalou-se, ontem, no Rio, um banco de olhos. Ali será conservada na
geladeira uma parte dos olhos tirados de pessoas que acabam de morrer, de
acidentados e natimortos. Os cegos que são capazes de distinguir a claridade
poderão, em muitos casos, ter vista perfeita, recebendo nos olhos a córnea da
pessoa morta. Já houve muitos casos dessa operação no Brasil, como o da
jovem Isabel, de 18 anos, cega desde nascença, que passou a ver bem. Não a
conheço; e estimo que seja feliz em suas visões, e veja sempre coisas que a
façam alegre.
É pelos olhos que entra em nós a maior parte das alegrias e tristezas. Os
meus, ainda que bastante usados, enxergam bem, e mesmo, em certas
circunstâncias, demais. São, é natural, sujeitos a muitas ilusões; de muitas já
fui ao empós, e eram miragens que me levaram ao meio de um deserto onde
me alimentei de gafanhotos e lágrimas, tomando sopa de vento, comendo pirão
de areia, como diz a canção.
O jornal não diz de quem eram os olhos com que hoje vê a moça Isabel; e
ela, nunca tendo visto antes, não sabe se as visões de hoje são verdade ou
fantasia; talvez esteja a ver este mundo através do filtro emocional de uma
criatura já morta. Mas que seus novos olhos – tenham visto o que tiverem antes
– que ora vejam tudo em suave e belo azul, a cor dos sonhos e descobrimentos
nas navegações dos 18 anos. Que são tontas, mas belas navegações.
Rubem Braga, O homem rouco. Rio: Editora do Autor, 1963.
ENTREVISTA (ESCRITA)
É um TEXTO DISSETRTATIVO, que visa a obter a informação e difundi-
la num meio de comunicação (imprensa escrita, o rádio, a televisão,
internet). Tal gênero de texto caracteriza-se pela interação entre os
interlocutores: entrevistador e entrevistado. Este relata suas
experiências e conhecimentos acerca de determinado assunto, de
acordo com os questionamentos previamente elaborados por aquele.
Estrutura da ENTREVISTA:
• Manchete ou título – Como o objetivo é despertar o interesse no
público expectador, essa costuma vir acompanhada de uma frase
de efeito, proferida de modo marcante pelo entrevistador.
• Apresentação - Nesse momento faz-se referência ao
entrevistado, divulgando sua autoridade em relação à relevância
do assunto em questão, como, por exemplo, experiência
profissional e conhecimentos relativos à situação, como também
os pontos principais relativos à entrevista.
• Perguntas e respostas – trata-se do discurso propriamente dito,
em que perguntas e respostas são apresentadas/escritas,
conforme o assunto abordado.
Leia, abaixo, a entrevista de Rosiska Darcy de Oliveira, feminista e
escritora, presidente do “Centro de Liderança da Mulher”, realizada
pelo CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA MULHER.