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Conversações em Pinceton
Modos de Narrar
Estou muito honrado e muito feliz por estar aqui com vocês*. Agradeço à
Universidade de Talca a ideia de criar este prêmio que leva o nome de José
Donoso, um escritor que todos admiramos e amamos.
Queria hoje não dar uma aula magistral como se anunciou, mas sim ter
uma conversa com vocês. Javier Pinedo me dizia que seria bom refletir sobre o
papel das Humanidades no mundo atual, o papel das Humanidades na
universidade. E pensei que para refletir sobre esse problema extremamente
complexo talvez poderíamos partir da experiência muito próxima, que está no
centro da preocupação dos estudos humanísticos, como são os usos da
linguagem.
Contar histórias é uma das práticas mais estáveis da vida social. Sempre
se contaram histórias e seguirão contando, e se pensamos no futuro, estou certo
de que a narração persistirá porque é o grande modo de compartilhar
experiências. E aqui teríamos que diferenciar entre experiência e informação. A
narração é o contrário da simples informação. Está sempre ameaçada pelo
excesso de informação, porque a narração nos ajuda a incorporar a história em
nossa própria vida e a vivê-la como algo pessoal. Por isso lhes dizia: se estou
implicado em um sonho, se isso tem a ver comigo ainda que seja imaginação,
vou ter uma relação diferente com a narração.
E, para terminar, nessa mesma linha, eu diria que sempre temos que nos
perguntar o que quer dizer entender uma história, porque a compreensão de uma
história, seja uma novela ou um relato que nos contam, está sempre aberta. As
grandes tradições narrativas, como os relatos bíblicos ou As mil e uma noites,
as grandes tradições narrativas as vezes ligadas a tradições religiosas, as vezes
ligadas às tradições laicas, estão fundamentadas na noção do relato como um
modo de transmitir uma verdade que sempre é enigmática, que sempre tem a
forma de epifania, da iluminação. Um relato é algo que não dá a entender, não
nos dá por feito o sentido, nos permite imaginá-lo.
Muito Obrigado!
(p.43-53)