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APOSTIILA COMPLEMENTAR DE

LITERATURA
Ensino médio
1º ano (1 trimestre)

Semanas 02 e 03

Prof.º Carolina Alves

Manaus – AM
2019
AFINAL, O QUE É LITERATURA?

• A pergunta o que é literatura é histórica, e remonta por muitos séculos.


Aristóteles foi o primeiro teórico, e curioso, a se aventurar nesta descoberta de
nos responder.
• Há muitas visões sobre que seria literatura, porém, como precisamos ser
didáticos e objetivos, nos deteremos a algumas acepções.
• A princípio, é importante que você saiba que a literatura está em tudo, e
principalmente onde menos você pode imaginar.
• Você já deve ter ouvido falar de poemas, contos, romances, crônicas, e outras
coisas mais.
• Já que há muitos conceitos de acordo com o século e a época literária, falaremos
que a literatura é uma espécie de arte da palavra, um modo de se expressar
por meio delas, mas também de expressar a realidade a qual o poeta está
inserido. Ou seja, a literatura não se resumo somente à sublimação das coisas,
mas também como empenho e criticidade quanto aos problemas sociais, por
exemplo.
• A literatura nos abra um leque de conhecimentos que não se restringem;
perpassamos as ciências humanas e também, e por que não, as exatas e as
tecnológicas.
• Como parte pertencente a nossa cultura, a literatura traz à tona também o que
somos enquanto brasileiros.
• A arte literária já passou por inúmeras maneiras de se expressar, e nós
estudaremos isso com o processo da periodização literária e mais especificamente
sobre as escolas e suas características no decorrer do tempo. Ou seja, digamos
que a literatura tem seu momento e sua produção de acordo com os
acontecimentos e também pensamentos de cada época. Daí, sua
interdisciplinaridade.
• Na Grécia Antiga e também na Idade Média a literatura se fazia de forma oral e
não escrita, como conhecemos hoje em dia. De outro modo, na literatura
contemporânea, podemos ver outras formas de uso da palavra que não somente
a escrita. Um recital de poesia, ou um repente nordestino, é um exemplo de
literatura oralizada. Com a tecnologia em alta, podemos conhecer um pouco
também da literatura midiática, na qual se utiliza a internet como meio de
produção e divulgação cultural.

INTRODUÇÃO
CONCEITOS GERAIS DE ARTE LITERÁRIA
.
• Muito se pergunta sobre o conceito de poesia, e retomamos o que fora dito no
tópico sobre o questionamento de literatura: é uma pergunta histórica, e
remonta a mesma relação que falamos sobre o conceito de literatura.
Conceituar poesia é pensar sua diversidade e decerto pensar também o que ela
significa para nós no mundo atual.
• Você sabia que o vocábulo poesia deriva do latim poēsis? Tal palavra tem relação
com o significado de manifestar por meio da palavra o sentimento do poeta,
podendo ser por meio de versos ou da prosa. Não há uma origem precisa para
a composição poética, mas estudos históricos remontam a algumas inscrições
hieroglíficas egípcias, há 2600 a.C. É a chamada literatura oralizada, composta
por meio de cantos, por exemplo, com temáticas religiosas.
• O conceito de poesia foi sendo modificado com a história da humanidade, e
veremos isto no estudo das escolas literárias. No trovadorismo veremos que a
poesia se faz por meio de cantigas, enquanto na poesia barroca ou na árcade
veremos outra relação, até mesmo mais religiosa ou política.
• Oswald de Andrade dizia que “a poesia é descoberta as coisas que eu nunca vi”
e de certa forma diria que é intrigante, até mesmo misteriosa, já que os textos
literários muitas vezes nos tocam e nos fazem refletir. Seria este também um
conceito literário? Refletir o nosso meio, mas também a nós mesmos como seres
humanos.
• Mostrarei a vocês conceituações de grandes pensadores literários abaixo:
1) “Um grão de poesia é suficiente para perfumar um século.” José Martí
2) “A história tem provado a capacidade demolidora da poesia e nela me
amparo sem mais nem menos.” Pablo Neruda
3) “A poesia é a união de duas palavras que ninguém poderia supor que se
juntariam, e que formam algo como um mistério.” Frederico Garcia Lorca
4) “A poesia é uma aventura ao absoluto.” Pedro Salinas
5) "A poesia é uma arma carregada com o futuro.” Gabriel Celaya
6) “A poesia é um ajuste de contas com a realidade.” Luís Garcia Montero
7) "O homem poetiza tudo o que está longe”. Pio Baroja
8) "A poesia é um acontecimento humano e você pode encontrá-la em qualquer
parte, a qualquer hora, surpreendentemente.” Jaime Sabines

• Percebam a diversidade de significados ao tentar conceituar poesia. Mas e


para você? O que é poesia? Reflita sobre que isso, para que possamos debater.
TEXTOS LITERÁRIOS

O LIVRO DOS DIAS - LEGIÃO URBANA

Ausente o encanto antes cultivado


Percebo o mecanismo indiferente
Que teima em resgatar sem confiança
A essência do delito então sagrado

Meu coração não quer deixar


Meu corpo descansar
E teu desejo inverso é velho amigo
Já que o tenho sempre a meu lado

Hoje então aceitas pelo nome


O que perfeito entregas mas é tarde
Só daria certo aos dois que tentam
Se ainda embriagado pela fome

Exatos teu perdão e tua idade


O indulto a ti tomasse como benção

Não esconda a tristeza de mim


Todos se afastam quando o mundo está
errado
Quando o que temos é um catálogo de
erros
Quando precisamos de carinho
Força e cuidado
Este é o livro das flores
Este é o livro do destino
Este é o livro de nossos dias
Este é o dia dos nossos amores
16 DE MAIO Eu amanheci nervosa. Porque eu queria ficar em
casa, mas eu não tinha nada para comer.
...Eu não ia comer porque o pão era pouco. Será que é só eu
que levo esta vida? O que posso esperar do futuro? Um leito
em Campos do Jordão. Eu quando estou com fome quero matar o
Janio, quero enforcar o Adhemar e queimar o Juscelino. As
dificuldades corta o afeto do povo pelos políticos.

17 DE MAIO Levantei nervosa. Com vontade de morrer. Já que


os pobres estão mal colocados, para que viver? Será que os
pobres de outro País sofrem igual aos pobres do Brasil? Eu
estava discontente que até cheguei a brigar com meu filho
José Carlos sem motivo.
...Chegou um caminhão aqui na favela. O motorista e o seu
ajudante jogam umas latas. É linguiça enlatada. Penso: é
assim que fazem esses comerciantes insaciaveis. Ficam
esperando os preços subir na ganancia de ganhar mais. E
quando apodrece jogam fora para os corvos e os infelizes
favelados.
Não houve briga. Eu até estou achando isto aqui monotono.
Vejo as crianças abrir as latas de linguiça e exclamar
satisfeitas:
– Hum! Tá gostosa!
A dona Alice deu-me uma para experimentar. Mas a lata está
estufada. Já está podre.
(Carolina Maria de Jesus, Quarto de despejo, p. 29-31)
• Optei pela escolhas de tais textos acima para que possamos refletir sobre a criação
literária, mas também sobre a diversidade que é o estudo da literatura, para que
não possamos resumi-la a mero excertos de textos sem finalidade.
• Se você se pergunta por que deve estudar literatura, devo responder que a
literatura existe como uma espécie de arte pela palavra, ou seja, ela serve para que
não pensemos somente o senso comum das coisas, mas também que reflitamos a
nós mesmos e o mundo ao nosso redor. Ela nos tira da nossa “bolha”, e faz com
que viajemos universos muito além do que podemos imaginar.
• Você com certeza já deve ter ouvido uma música, lido um texto ou mesmo visto
alguma imagem que mexeu muito com o ser humano que você é. Esse é o papel
da literatura!
• Escolhi três textos diferentes para que pensemos a literatura como uma arte além
do que pensamos que ela possa ser. Muitas vezes pensamos que literatura é
somente grandes clássicos renomados pela história.
• Tal ideia não é verdadeira: veremos que a literatura se modifica, assim como nós
nos modificamos como seres humanos. Estudaremos os clássicos e as obras
antigas como importante para entendermos a história da literatura, mas também s
literatura contemporânea, algo mais próximo da nossa realidade.
• Vamos caminhando juntos! Agora, vamos analisar os textos e perceber as
especificidades da arte literária.
• Perceba que o primeiro texto é uma canção da banda de rock nacional Legião
Urbana, e por que podemos chamá-lo de poema? Atente-se à estrutura, pois está
escrito em versos, mas também preste muita atenção na composição, a leitura do
poema: há um ritmo, e há rimas também, como “cultivado” e “sagrado” na mesma
estrofe.
• Esta visão é uma visão um tanto tradicional, de pensar a estrutura da poesia.
Vamos além, tudo bem? Vamos entender o poema.
• O poema se chama “o livro dos dias” e nos perguntamos o que isto quer dizer.
Retornaremos ao título depois. Na primeira estrofe o eu lírico se põe no discurso
e é como se contasse no “livro dos dias” uma história amorosa. Uma história triste,
logo percebida na primeira estrofe.
• “Ausente o encanto antes cultivado” nos dá a ideia de algo que foi lindo, mas não
é mais. O encantamento do amor nos primeiros anos, digamos assim. “O
mecanismo indiferente” é como se o encantamento já não existisse para o outro,
mas para o eu lírico ainda há: na segunda estrofe isso fica evidente.
• O ciclo de uma relação que vai e vem, ou seja, daquele ser amado que vai e retorna,
significativo no verso “Hoje então aceitas pelo nome/ o que perfeito entregas mas
é tarde/ só daria certo aos dois que tentam/ se ainda embriagado pela fome”.
• O penúltimo verso é bem realista, quando diz “quando precisamos de carinho,
força e cuidado”. Quantas vezes as pessoas se distanciam quando estamos em
problemas, não é mesmo? Este verso sintetiza o amor entre os dois, A tristeza não
precisa ser vivida sozinha, e apesar do rompimento há o cuidado e o carinho, e
diferente dos outros, o eu lírico deseja ser aquele que se doa, mesmo na dor.
• No último verso é retomado do título, mas no plural, trazendo à tona não só o seu
dia de amor, mas o do ser amado, o livro dos dias, “dos nossos dias”.
• O que preciso que percebam é a textura e a sensibilidade do texto, e embora seja
uma canção, tem aspectos literários, não só estruturalmente construídos, mas
também organizados no que diz respeito a nos tocar enquanto seres humanos ao
que temos de universal: o amor.
• No segundo texto, de autor desconhecido, percebemos um texto nada
convencional, que foge à estrutura que conhecemos, mas não deixa de ser um
texto literário pelo sentido que quer passar.
• A forma como o poema está escrito, em infinito, é justamente o que pretende dizer
ao leitor: o olhar do ser amado como um infinito, um abismo, diríamos assim, no
qual o eu lírico deságua. “O infinito dos olhos faz encontrar o infinito...” e retoma
um ciclo inacabável, daí infinito também no sentido e não somente no símbolo em
infinito desenhado.
• O terceiro texto escrito em prosa, ou seja, um texto em que não há versos, é uma
espécie de diário, escrito por Carolina Maria de Jesus, uma escritora negra, onde
viveu na favela diante de dificuldades inimagináveis, que foram contadas em seu
livro Quarto de despejo – diário de uma favelada.
• Muito criticada pela literatura tradicional, a escrita de Carolina nos revela
questões sociais antes pouco evidenciadas com tanto realismo. Quem conta a
história, dessa vez, é quem vive realmente o drama das pobreza e da miséria.
• Há uma cronologia no texto em que apresento a vocês: os dias 16 e 17 de maio,
escritos mais ou menos por volta dos finais dos anos 50 e começo dos anos 60.
• O que chama maior atenção na leitura de Carolina Maria de Jesus é o fato de ter
em seu texto literário um aspecto mais informal não somente no modo como ela
escreve, mas também trata os aspectos autobiográficos vivenciados pela escritora.
• Quarto de despejo – diário de uma favelada é uma obra real, e conta, por meio de
um diário, os dias de luta vivenciados por Carolina na periferia de São Paulo.
• O que quero que percebam na leitura do texto de Carolina é a história real de um
país extremamente desigual, a narrativa de uma mulher que conta não somente
sua própria história, mas sim a história de milhões de brasileiros que viviam na
linha da pobreza.
• A literatura é, acima de tudo, diversa, ou seja, não é só um texto que fala sobre
coisas belas ou sobre amor, por exemplo. Ela também traduz uma realidade social,
critica, pretende mostrar e melhorar o mundo.
• O que devemos entender, acima de tudo, é a literatura como um eterno movimento
que sempre se reconstitui e se reinventa.

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