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Leitura Extensiva

em Português I

A crónica

Licenciatura em Tradução e Interpretação Português/Chinês -


Chinês/Português

Professor Ricardo Brites


Género textual: A crónica

A crónica, de acordo com a definição do Dicionário Houaiss da Língua


Portuguesa, é um “texto literário breve, em geral narrativo, de trama quase sempre pouco
definida e motivos, na maior parte, extraídos do quotidiano imediato”. O dicionário
regista ainda, neste domínio literário, outra possibilidade: “prosa ficcional, relato com
personagens e circunstâncias alentadas, evoluindo com o tempo”.
Neste sentido, a crónica literária que podemos encontrar nos jornais e revistas,
encontra alguns pontos em comum com a crónica jornalística, especialmente pelo seu
carácter de quotidiano, ainda que se separe mais vezes porque é sempre mais íntimo e
pessoal, uma história de vida ou observação da vida que circunda o escritor.

José Saramago

Filho e neto de camponeses, José Saramago1 nasceu na aldeia


de Azinhaga, província do Ribatejo, no dia 16 de Novembro de 1922,
se bem que o registo oficial mencione como data de nascimento o dia
18.
Fez estudos secundários (liceais e técnicos) que, por
dificuldades económicas, não pôde prosseguir. O seu primeiro
emprego foi como serralheiro mecânico, tendo exercido depois
diversas profissões: desenhador, funcionário da saúde e da
previdência social, tradutor, editor, jornalista. Publicou o seu
primeiro livro, um romance, Terra do Pecado, em 1947, tendo
estado depois largo tempo sem publicar (até 1966). Trabalhou durante doze anos numa
editora, onde exerceu funções de direcção literária e de produção. Colaborou como crítico
literário na revista Seara Nova. Em 1972 e 1973 fez parte da redacção do jornal Diário
de Lisboa, onde foi comentador político, tendo também coordenado, durante cerca de um
ano, o suplemento cultural daquele vespertino.
Pertenceu à primeira Direcção da Associação Portuguesa de Escritores e foi, de
1985 a 1994, presidente da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores. Em
1975 foi director-adjunto do jornal Diário de Notícias. A partir de 1976 passou a viver
exclusivamente do seu trabalho literário, primeiro como tradutor, depois como autor.
Casou com Pilar del Río em 1988 e em Fevereiro de 1993 decidiu repartir o seu tempo
entre a sua residência habitual em Lisboa e a ilha de Lanzarote, no arquipélago das
Canárias (Espanha). Em 1998 foi-lhe atribuído o Prémio Nobel de Literatura.
José Saramago faleceu a 18 de Junho de 2010.

1
Para saber mais sobre o autor consultar: http://ensina.rtp.pt/artigo/jose-saramago/ e
http://ensina.rtp.pt/dossie/jose-saramago/

2
A CRÓNICA COMO APRENDIZAGEM: UMA EXPERIÊNCIA PESSOAL2

“[...] Buscando uma definição mais adequada e simultaneamente mais ampla e específica
da crónica, diríamos que ela corresponde, em geral, a um texto curto, consequência quer
de uma inspiração imediata e não necessariamente aprofundada quer de um diálogo
deliberado com o quotidiano ocasional, mas sempre exigindo do escritor, num caso como
no outro, capacidade de medida e de concentração, a par de sensibilidade a estímulos que
à primeira impressão poderão parecer de pouca relevância, mas que virão a ser,
porventura, os que mais fundo hão-de penetrar no espírito do leitor. Dentro de um molde
tão flexível, escusado seria dizê-lo, cabem todos os diversos modos e tons pelos quais se
expressam habitualmente os cronistas do nosso planeta, desde o lírico ao patético, desde
o sério ao irónico, desde a mais rigorosa preocupação objectivista ao abandono às
subjectividades mais íntimas.
E, quiçá tanto quanto o poema, a crónica será o género literário em que mais
produtivamente é possível criar uma atmosfera propícia ao que denominaríamos, na falta
doutra expressão mais rigorosa, a sempre activa tentação confessional do autor.”
José Saramago

CARTA A JOSEFA, MINHA AVÓ

Tens noventa anos. És velha, dolorida. Dizes-me que foste a mais bela rapariga do teu
tempo — e eu acredito. Não sabes ler. Tens as mãos grossas e deformadas, os pés
encortiçados. Carregaste à cabeça toneladas de restolho e lenha, albufeiras de água. Viste
nascer o sol todos os dias. De todo o pão que amassaste se faria um banquete universal.
Criaste pessoas e gado, meteste os bácoros na tua própria cama quando o frio ameaçava
gelá-los. Contaste-me histórias de aparições e lobisomens, velhas questões de família, um
crime de morte. Trave da tua casa, lume da tua lareira — sete vezes engravidaste, sete
vezes deste à luz.

Não sabes nada do mundo. Não entendes de política, nem de economia, nem de literatura,
nem de filosofia, nem de religião. Herdaste umas centenas de palavras práticas, um
vocabulário elementar. Com isto viveste e vais vivendo. És sensível às catástrofes e
também aos casos de rua, aos casamentos de princesas e ao roubo dos coelhos da vizinha.
Tens grandes ódios por motivos de que já perdeste lembrança, grandes dedicações que
assentam em coisa nenhuma. Vives. Para ti, a palavra Vietname é apenas um som bárbaro
que não condiz com o teu círculo de légua e meia de raio. Da fome sabes alguma coisa:
já viste uma bandeira negra içada na torre da igreja. (Contaste-mo tu, ou terei sonhado
que o contavas?) Transportas contigo o teu pequeno casulo de interesses. E, no entanto,
tens os olhos claros e és alegre. O teu riso é como um foguete de cores. Como tu, não vi
rir ninguém.

Estou diante de ti, e não entendo. Sou da tua carne e do teu sangue, mas não entendo.
Vieste a este mundo e não curaste de saber o que é o mundo. Chegas ao fim da vida, e o
mundo ainda é, para ti, o que era quando nasceste: uma interrogação, um mistério
inacessível, uma coisa que não faz parte da tua herança: quinhentas palavras, um quintal
a que em cinco minutos se dá a volta, uma casa de telha-vã e chão de barro. Aperto a tua

2
Texto adaptado de https://www.josesaramago.org/conferencia/a-cronica-como-aprendizagem-uma-
experiencia-pessoal/

3
mão calosa, passo a minha mão pela tua face enrugada e pelos teus cabelos brancos,
partidos pelo peso dos carregos — e continuo a não entender. Foste bela, dizes, e bem
vejo que és inteligente. Por que foi então que te roubaram o mundo? Quem to roubou?
Mas disto talvez entenda eu, e dir-te-ia como, o porquê e o quando se soubesse escolher
das minhas inumeráveis palavras as que tu pudesses compreender. Já não vale a pena. O
mundo continuará sem ti — e sem mim. Não teremos dito um ao outro o que mais
importava.

Não teremos, realmente? Eu não te terei dado, porque as minhas palavras não são as tuas,
o mundo que te era devido. Fico com esta culpa de que me não acusas - e isso ainda é
pior. Mas porquê, avó, por que te sentas tu na soleira da tua porta, aberta para a noite
estrelada e imensa, para o céu de que nada sabes e por onde nunca viajarás, para o silêncio
dos campos e das árvores assombradas, e dizes, com a tranquila serenidade dos teus
noventa anos e o fogo da tua adolescência nunca perdida: «O mundo é tão bonito, e eu
tenho tanta pena de morrer!»

É isto que eu não entendo — mas a culpa não é tua.

E O MEU AVÔ, TAMBÉM


Talvez o dia chuvoso seja o responsável desta melancolia. Somos uma máquina
complicada, em que os fios do presente activo se enredam na teia do passado morto, e
tudo isto se cruza e entrecruza de tal maneira, em laçadas e apertos, que há momentos em
que a vida cai toda sobre nós e nos deixa perplexos, confusos, e subitamente amputados
do futuro. Cai a chuva, o vento desmancha a compostura árida das árvores desfolhadas
— e dos tempos passados vem uma imagem perdida, um homem alto e magro, velho,
agora que se aproxima, por um carreiro alagado. Traz um cajado na mão, um capote
enlameado e antigo, e por ele escorrem todas as águas do céu. À frente, caminham animais
fatigados, de cabeça baixa, rasando o chão com o focinho. Homem e bichos avançam sob
a chuva. É uma imagem comum, sem beleza, terrivelmente anónima.

Mas o homem que assim se aproxima, vago, entre cordas de chuva que parecem diluir o
que na memória não se perdeu, é meu avô. Vem cansado, o velho. Arrasta consigo setenta
anos de vida difícil, de desconforto, de ignorância. E, contudo, é um homem sábio, calado
e metido consigo, que só abre a boca para dizer as palavras importantes, aquelas que
importam. Fala tão pouco (são poucas as palavras realmente importantes) que todos nos
calamos para o ouvir quando no rosto se lhe acende qualquer coisa como uma luz de
aviso. Fora isso, tem um modo de estar sentado, olhando para longe, mesmo que esse
longe seja apenas a parede mais próxima, que chega a ser intimidade. Não sei que diálogo
mudo o mantém alheado de nós. O seu rosto é talhado a enxó, fixo mas expressivo, e os
olhos, pequenos e agudos, têm de vez em quando um brilho claro como se nesse momento
alguma coisa tivesse sido definitivamente compreendida. Parece uma esfinge, direi eu
mais tarde, quando as leituras eruditas me ajudarem nestas comparações tão abonatórias
de uma fácil cultura. Hoje digo que parecia um homem.

E era um homem. Um homem igual a muitos desta terra, deste mundo, um homem sem
oportunidades, talvez um Einstein perdido sob uma camada espessa de impossíveis, um
filósofo (quem sabe?), um grande escritor analfabeto. Alguma coisa seria, que não pôde
ser nunca. Recordo agora aquela noite morna de verão, que dormimos, nós dois, debaixo
da figueira — ouço-o ainda falar da vida que tivera, da Estrada de Santiago que sobre as

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nossas cabeças resplandecia (as coisas que ele sabia do céu e das estrelas), do gado que o
conhecia, das histórias e lendas que eram o seu cabedal da infância remota. Adormecemos
tarde, enrolados na manta lobeira, que a madrugada refrescaria com certeza e o orvalho
não caía só sobre as plantas.

Mas a imagem que me não larga é a do velho que caminha sob a chuva, obstinado e
silencioso, como quem cumpre um destino que nada pode modificar. A não ser a morte.
Mas, nesta altura, este velho, que é meu avô, ainda não sabe como vai morrer. Ainda não
sabe que poucos dias antes do seu último dia vai ter a premonição (perdoa a palavra,
Jerónimo) de que o fim chegou, e irá, de árvore em árvore do seu quintal, abraçar os
troncos, despedir-se deles, dos frutos que não voltará a comer, das sombras amigas.
Porque terá chegado a grande sombra, enquanto a memória o não fizer ressurgir no
caminho alagado ou sob o côncavo do céu e a interrogacão das estrelas. Só isto — e
também o gesto que de repente me põe de pé e a urgência da ordem que enche o quarto
aquecido onde escrevo.

Deste Mundo e do Outro. Crónicas, Caminho, Lisboa, 1998, 5ª edição.

5
Mia Couto

Nasceu na Beira, Moçambique, em 1955. Foi jornalista e


professor, e é, atualmente, biólogo e escritor. Está traduzido em
diversas línguas. Entre outros prémios e distinções (de que se
destaca a nomeação, por um júri criado para o efeito pela Feira
Internacional do Livro do Zimbabwe, de Terra Sonâmbula como
um dos doze melhores livros africanos do século XX), foi
galardoado, pelo conjunto da sua já vasta obra, com o Prémio
Vergílio Ferreira 1999 e com o Prémio União Latina de
Literaturas Românicas 2007. Ainda em 2007 Mia foi distinguido
com o Prémio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura pelo seu romance O Outro
Pé da Sereia.
Jesusalém foi considerado um dos 20 livros de ficção mais importantes da
«rentrée» literária francesa por um júri da estação radiofónica France Culture e da revista
Télérama. Em 2011 venceu o Prémio Eduardo Lourenço, que se destina a premiar o forte
contributo de Mia Couto para o desenvolvimento da língua portuguesa. Em 2013 foi
galardoado com o Prémio Camões e com o prémio norte-americano Neustadt. Em 2020
foi galardoado com o Prémio Jan Michalski de Literatura, atribuído anualmente pela
Fundação suíça Jan Michalski, tem o valor monetário de 50.000 francos suíços e inclui
também uma escultura em madeira do artista nigeriano Alimi Adewale, e distingue a
trilogia As Areias do Imperador, publicada em Portugal pela Editorial Caminho em 2015-
2018.

Guaparivás.3

Sem mover o rosto, Juliana ergue os olhos para o pai. Há uma hora que está sentada na
berma da cama. Tem o corpo dobrado, os olhos e os ombros descidos, parece um
desembrulho. Espera, em vão, que o sono lhe chegue.

Há uma semana que saiu de casa e do casamento. Deprimida, sofrendo de insónias, vive
como uma refugiada em casa dos pais. Não sei como vocês conseguem dormir, diz ela
como se lhe trouxesse alívio culpar os outros. E agora ali estão à sua frente o pai e a mãe,
numa paciente mas impotente entrega. A tentativa de ajuda produz o efeito oposto: a filha
está à beira de um ataque de nervos.

– Não percebo, pai. Que palavra é essa?


– Guaparivás. Este remédio foi criado pelos guaparivás. Uma tribo da selva amazónica.
– Tribo, não, pai. São nações.
– De uma nação de índios.

3
Crónica retirada de https://visao.sapo.pt/opiniao/a/mapeador-de-ilhas/2019-11-08-guaparivas/

6
– Não são índios. Agora diz-se “indígenas”.
– Seja o que for, este remédio ajuda-te a dormir. Dormem que nem justos, os indígenas.
– É um químico, não tomo.
– Tudo é químico, Juliana.
O pior é quando, além de químico, é físico. É o que pensa o pai, mas engole a tempo a
ironia. São duas da manhã, as pernas fraquejam, a boca há muito que anoiteceu. Espanta-
se com o próprio rasgo de criatividade. Guaparivás? E sorri, complacente. Descobria, aos
60 anos, dotes de que nunca antes suspeitara.

– Qual é o laboratório? – pergunta a filha, os olhos cheios de sombras.


– Mas que laboratório? Dos indígenas?
– Mostre-me a bula, pai.
– Minha filha, sei como te preocupas com as injustiças. Neste caso, foi tudo limpo. A
patente ficou com os índios. Foi um negócio transparente.
– A bula, pai. A bula ou a embalagem.
– A embalagem já deitei fora. Já não imprimem as bulas, para poupar papel, salvar
árvores.
Juliana faz rodar o anónimo comprimido entre os dedos. De pijama, o pai contempla
aquela infindável hesitação com a expectativa dos apostadores nas corridas de cavalos.
Mais atrás, a mãe aguarda paciente, um copo de água balançando na mão.
– Qual é o nome comercial do medicamento? Vou ver no Google.
– Estamos sem internet.
– Não me leve a mal, meu pai, mas nunca ouvir falar desse nome.
– Dos guaparivás? Acabei de ler um artigo sobre eles, pergunta-me o que quiseres.
– Em que floresta habitam.
– Habitar? Eles são a floresta.
– E comem carne?
– Completamente vegetarianos. Só mandioca. E da orgânica.
Apetece-lhe dizer que os guaparivás deixaram de comer carne quando acabaram as visitas
dos estrangeiros. De novo, coíbe-se. Está cansado, morto de sono. Inspira fundo: pai é
pai. Além disso, começa a sentir um gosto quase antropológico pela tribo que acabara de
descobrir.
– Agora me lembro do princípio ativo, o ácido guaparivânico. Foi o nome que deram os
fabricantes, em homenagem aos índios.
– Indígenas – corrige timidamente a mãe.
– Os guaparivás, aquilo é gente finíssima. Tudo ecológico. Comem bem, nada de
radicais livres, nada de açúcar. E, sobretudo, dormem bem. Havias de ver fotografias.
Elegantes, não há lá barrigudos como o teu pai.

7
– Já não se usa o termo “barrigudo”.
– Ai não?
– O termo correto é “pessoas de perímetro abdominal excessivo”.
A mãe senta-se no leito, bem próximo da filha. Juliana espreita o copo e pergunta: essa
água é engarrafada? A mãe pousa o copo e observa a revista em cima da mesinha de
cabeceira. Na capa, uma jovem muito branca, de rosto redondo, cabelos avermelhados e
olhar determinado.
– Entra em que filme? – pergunta a mãe.
– Em filme nenhum. Só se for neste filme de terror que todos vivemos.
– Credo, filha!
– É Greta Thunberg, uma ativista ambiental. Se a mãe estivesse mais atenta ao
mundo…
– Que mundo? Eu quero continuar a dormir bem, minha filha.
A mãe abraça Juliana: anda cá, minha querida. Com uma suavíssima toada, embala a
filha. Ficam assim, duas sombras dançarinas, até que o corpo da filha vai desabando sem
peso sobre o leito. Os pais ajeitam o lençol, beijam levemente a filha, apagam a luz.
Enquanto se afastam, pé ante pé, a mãe murmura: é tudo uma questão de jeito, marido.
Foram anos que a adormeci ao colo. O marido reage, defensivo: esse embalo é uma
violência, está provado cientificamente. Fala baixo, pede a esposa, ainda acordas a
menina. E o marido insiste: está provado, para as crianças esse embalo é uma insuportável
turbulência. Os bebés só adormecem vencidos pelo enjoo. Sorrindo, a esposa rodeia com
os braços a cintura do marido: anda cá, meu tonto, agora és tu a ser embalado.
E ensaia uma lenta valsa. Contrariado, o homem deixa-se balançar. O marido resiste, os
pés como raízes mais fundas do que a própria casa. Há anos que não se encostam assim
tão cheios de corpo, há séculos que se esqueceram da doçura do primeiro encontro.

– Sabes quem dança como nós, no meio da noite? – pergunta ela.

O marido, de olhos fechados, sacode a cabeça. Depois, as palavras tateiam a penumbra,


num ensonado sorriso: os guaparivás?

(Crónica publicada na VISÃO 1391 de 31 de outubro)

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Após a leitura das crónicas identifique as características de cada uma de acordo
com os seguintes parâmetros4:

José Saramago Mia Couto


Tema Familiar do quotidiano
Familiar, íntimo e pessoal. comum e de temas gerais
do mundo.
Ponto de vista do Carácter subjetivo porque Caráter objetivo porque
cronista fala da sua família e da fala do que observa no
experiência de vida. mundo.

Tom (irónico, Tom autobiográfico, em Tom introspetivo porque


humorístico, crítico, que ele aparece na história analisa a vida familiar de
introspetivo, enquanto personagem. outros. Tom crítico em
autobiográfico) relação às preocupações
das novas gerações.
Linguagem 1- Há uma linguagem Linguagem dialogal, de
mais simples, mais conversa direta entre os
direta e mais elementos familiares.
familiar.
2- Uma linguagem
literária, descritiva
e mais indireta.
Marcas da pessoa 1- Utiliza a segunda Utiliza a segunda pessoa
gramatical/ deíticos pessoa (tu) para do singular (tu) que marca
marcar a a familiaridade entre as
proximidade personagens.
familiar com a avó.
2- Utiliza a terceira
pessoa (ele) para
marcar um
respeito e um
distanciamento em
relação ao avô.
Tempos verbais 1- O presente do Porque é um diálogo
indicativo é utiliza o presente do
utilizado como indicativo. Utiliza o
realidade, como condicional para indicar a
forma de indicar condição esperada: a filha
que fala com a sua dormir.
avó.
2- O pretérito
imperfeito é usado

4
Os parâmetros para a construção da tabela assim como a caracterização foram retirados de “Crónica” de
Cristina Botelho em:
https://research.unl.pt/ws/portalfiles/portal/16212350/Ensinar_Generos_texto_2019.pdf

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como forma de
narração do
passado e da
memória.
Conectores 1- São verbos que Os pensamentos do pai e
indicam a pessoa da mãe, entre diálogos.
como discurso São mais descritivos,
direto: segunda típico de um narrador
pessoa dos verbos. omnisciente porque ele
2- São substantivos sabe o que as personagens
utilizados para pensam.
descrever a ação, o
acontecimento, a
memória.

Caracterização: do contextual e organizacional às marcas linguísticas

• A relação com a atualidade manifesta-se no recurso ao presente do indicativo (com valor


deítico) e a deíticos (espaciais e temporais), que localizam os acontecimentos no espaço
e no tempo.
• O caráter pessoal e subjetivo justifica que as crónicas sejam redigidas na 1.ª pessoa do
singular, reforçadas por deíticos pessoais, para traduzir a reflexão pessoal ou a intenção
crítica do cronista.
• As crónicas também podem ser redigidas na 1.ª pessoa do plural, com o objetivo de
implicar os outros na mensagem transmitida, ou na 3.ª pessoa do singular, quando o
produtor textual não está implicado no acontecimento.
• Recorrem, por vezes, a um tom humorístico e até irónico para captar a atenção do leitor,
servindo-se para o efeito de recursos expressivos como a ironia, a metáfora a hipérbole e
a repetição.
• O uso de conectores serve sobretudo para estabelecer conexões lógicas entre partes do
texto.
• Quanto aos tempos verbais, destacam-se o presente do indicativo (com valor deítico)
como tempo base e os deíticos (espaciais e temporais) e outros localizadores (temporais),
que situam os acontecimentos no espaço e no tempo.

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