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1. Capa
2. Folha de rosto
3. Sumário
4. Escrevo estas linhas
7. CONFISSÕES DE MINAS
1. Vila de Utopia
2. Viagem de Sabará
3. Teatro daquele tempo
8. QUASE HISTÓRIAS
1. Conversa de velho com criança
2. Lembro-me de um padre
3. Leonor, Emília, Marieta
4. Morreu um chofer
5. Um escritor nasce e morre
6. Esboço de uma casa
9. CADERNO DE NOTAS
1. Purgação
2. Poesia do tempo
3. Velha casa
4. Literatura infantil
5. Morte de um gordo
6. Religião e poesia
7. Questão de corpo
8. O livro inútil
9. Ternura diante do retrato
10. Linguagem
11. Bondade
12. Neblina
13. Georgina
14. Pontuação e poesia
15. Um sinal
16. A coisa simples
17. Nu artístico
18. Moda literária
19. Prodígio
20. Enquanto descíamos o rio
21. A voz pelo telefone
22. Vinte livros na ilha
23. Natal USA, 1931
24. Enterro na rua pobre
25. Os fotógrafos vegetais
26. Número 10 mil
27. A rua assombrada
28. Canto de Natal no bonde
29. O cotovelo dói
1. Cover
2. Body Matter
3. Table of Contents
4. Copyright Page
COLEÇÃO CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
CONSELHO EDITORIAL
A solidão do pássaro:
A solidão da pedra:
A solidão da casa:
A solidão do cego:
A solidão do poeta:
A solidão da alma:
Minh’alma é como um deserto
Por onde o romeiro incerto
Procura uma sombra em vão;
É como a ilha maldita
Que sobre as vagas palpita
Queimada por um vulcão!
Gigante da soledade,
Tenho na vida um consolo:
Se enterro as plantas no solo,
Chego a fronte à imensidade!
[…]
Não! a dor sem cura, a dor que mata,
É, moço ainda, e perceber na mente
A dúvida a sorrir!
É a perda dura dum futuro inteiro
E o desfolhar sentido das gentis coroas,
Dos sonhos do porvir!
[…]
Horas há em que a voz quase blasfema…
E o suicídio nos acena ao longe
Nas longas saturnais!
[…]
Murcha-se o viço do verdor dos anos,
Dorme-se moço e despertamos velho,
Sem fogo para amar!
[…]
Dores na sombra, sem carícias d’anjo,
Sem voz de amigo, sem palavras doces,
Sem beijos de mulher!…
Ontem no baile
Não me atendias!
Não me atendias,
Quando eu falava.
Tu, ontem,
Na dança
Que cansa,
Voavas
[…]
Sem pena
De mim!
Na valsa
Tão falsa,
Corrias,
Fugias,
Ardente,
Contente,
Tranquila,
Serena,
[…]
Eu vi teus olhos
Sobre outros olhos!
Sobre outros olhos,
Que eu odiava.
Os olhos
Perjuros
Volvias,
Tremias,
Sorrias
Pra outro
Não eu!
E aquele prossegue a cruel análise:
Tu lhe sorriste
Com tal sorriso!
Com tal sorriso,
Que apunhalava.
Mas esse
Sorriso
Tão liso
Que tinhas
Nos lábios
De rosa,
Formosa,
Tu davas,
Mandavas
A quem?!
Um, implacável:
Tu lhe falaste
Com voz tão doce!
Com voz tão doce,
Que me matava.
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!…
Te vejo, te procuro,
Teus mudos passos sigo […]
Prenda-se e enforque-se.
ASCÂNIO LOPES
Mas distinguindo:
*
Mesma observação com possessivos e todos os berenguendens que castram a frase.
*
“vianda tenra”, horrorosibilíssimo, impossível de existência;
*
Também o “qualquer coisa mais forte” é um galicismo que me desagrada.
*
Aconselho tirar o quarto verso que faz a frase engolir em seco no meio.
*
O processo de repetição da mesma palavra ou ideia que você emprega que nem
Ronald, Manu, Ribeiro Couto é perigoso e decadente. Neste poema está irritante pela
frequência.
*
O último verso quebra um pouco dolorosamente o indeciso balanço rítmico em que a
gente está. Veja se faz ele ficar indecisamente entre oito e nove sílabas e a acentuação
deste, o baloiço indeciso continuará.
*
Se você algum dia publicar isso rompemos relações! E me crismo Xavier.
Mataron a Federico
quando la luz asomaba.
El pelotón de verdugos
no osó mirarle la cara.
Todos cerraron los ojos;
rezaron: ni Dios te salva!
Muerto cayó Federico
sangre en la frente y plomo en las entrañas
que fué en Granada el crimen
sabed — pobre Granada! en su Granada!…
Não é o poeta que nos fala, mas sim o “elefante dos olhos azuis”.
A casa era grande, na rua Municipal: dois andares que subiam cheios
de portas e sacadas, oferecendo a frontaria sem ornatos, maciça,
impressionante, à admiração dos que passavam. Dentro dela,
olhando para o pátio central, outro sobrado, este menor, guardava
cômodos inúteis; parecia um pombal. Em 1911 esse sobradinho
desapareceu, mas a casa não diminuiu de tamanho, os passos
ecoavam ainda nos mesmos imensos corredores, nas mesmas salas
infinitas. E nela existiam desvãos que nós nunca havíamos explorado.
Por baixo da escada, por cima da copa, aqui, ali, o mistério abria-
nos os seus lares. Mas nós crescíamos depressa e não púnhamos
reparo na casa grande.
Sabíamos que a casa tinha muitos anos, que ali morreram avós,
tios e primos; em tal quarto nasceu meu pai, naquele outro meu avô
estendeu, até à morte, uma perna baleada nas últimas eleições
sangrentas do município; mas nós circulávamos livremente através
do ar coalhado de lembranças e eflúvios familiares, de pesadas e
obscuras memórias dos coronéis e das damas antigas, dos vestidos
de dona Joana e das festas do comendador Paula Andrade.
Com a mesma inconsciência natural nós crescemos e nos
dispersamos; um dia a casa foi vendida, e então um amargor sem
aviso prévio, uma angústia nos subiram à boca, aos olhos;
verificamos como aquela casa fazia parte da nossa vida, e como
essa vida ficava sem explicação, despregada das enormes paredes
azuis que o Andrade dominador salvara da ruína para compor com
elas o nosso quadro infantil e humano.
Tinha setenta, oitenta anos… Nunca soubemos ao certo a idade
daqueles barrotes veneráveis. Ninguém sabia. E não pedíamos
informações. Insisto em dizer que a vida era inconsciente e calma. O
pico do Cauê, nossa primeira visão do mundo, também era
inconsciente, calmo. Na nossa rua apenas passavam as pessoas que
iam assistir à chegada das malas, no Correio, espetáculo diário e
maravilhoso, pelo humorismo que nele sabia pôr o velho agente
Fernando Terceiro; as pessoas que iam reconhecer firmas no
tabelião Barnabé; e algum vago transeunte, em demanda da rua de
Santana, algum vago moleque, que ia atirar pedras na casa de
Didina Guerra (às vezes, eu aderia cinicamente a esse moleque).
Nos dias de júri, a curiosidade das tragédias e das humilhações
alheias punha um enxame de criaturas no Fórum, perto de nossa
casa; mas nós íamos caçar passarinhos ou tomar banho na praia do
Rosário, onde uma bica nos dava a impressão de uma catarata
doméstica, submetida aos nossos desejos. Como foi que a infância
passou e nós não vimos? Até hoje interrogo aquele menino que
durante quatro anos foi aluno deploravelmente bom do grupo escolar,
e não o sinto nem aprumar-se, nem enriquecer-se de experiências
vitais, nem desprender-se do cenário familiar. No entanto, o menino
existiu, sofreu, brigou, amou, desesperou, cresceu. Vinte anos
depois, voltando à cidade, não encontrei vestígio algum da aventura
individual. Só a velha casa continuava, espetacularmente azul na rua
deserta, de onde haviam desaparecido o tabelião Barnabé e o
coletor Quinca Custódio, mas onde restava o inesgotável Fernando
Terceiro, ainda ereto, fazendo sempre o comentário sarcástico dos
acontecimentos e dos homens entre os quais incluía o seu vizinho e
também humorista Minervino Betônico.
A vida anterior sutilizara-se. A cidade, entretanto, continuava o
mesmo aglomerado de casas desiguais, nas ruas tortas grimpando
ladeiras. Um silêncio grave envolvia todas essas casas e
impregnava-as de uma substância eterna, indiferente à usura dos
materiais e das almas. Dessa maneira ela se preserva da destruição.
Hoje, amanhã, daqui a cem anos, como há cem anos atrás, uma
realidade física, uma realidade moral se cristalizam em Itabira. A
cidade não avança nem recua. A cidade é paralítica. Mas, de sua
paralisia provêm a sua força e a sua permanência. Os membros de
ferro resistem à decomposição. Parece que um poder superior tocou
esses membros, encantando-os. Tudo aqui é inerte, indestrutível e
silencioso. A cidade parece encantada. E de fato o é. Acordará
algum dia? Os itabiranos afirmam peremptoriamente que sim.
Enquanto isso, cruzam os braços e deixam a vida passar. A vida
passa devagar, em Itabira do Mato Dentro.
Se a vida passasse depressa, a estrada de ferro já teria posto os
seus trilhos na orla da cidade; à sombra do Cauê, uma usina imensa
reuniria 10 mil operários congregados em cinquenta sindicatos, e
alguma coisa como Detroit, Chicago, substituiria o ingênuo traçado
das ruas do Corte, do Bongue, dos Monjolos. Mas para que tanta
pressa? Tudo virá a seu tempo, e se não for agora, como não foi em
1898, quando o padre Júlio Engrácia dizia ironicamente que “depois
que pelos diversos estudos ficou a esperança que passará na cidade
uma via férrea, tem havido animação em construir; ao menos houve
esta vantagem” — algum dia há de ser, e tudo estará bem. Na
consumação dos séculos se consumarão também os nossos
desejos, e a alma alcançará a bem-aventurança eterna, que é o sono
no regaço de Deus. Até lá, vivamos com calma.
É curiosa esta vila de Utopia, posta na vertente da montanha
venerável e adormecida na fascinação do seu bilhão e 500 milhões
de toneladas de minério com um teor superior a 65% de ferro, que
darão para “abastecer quinhentos mundos durante quinhentos
séculos”, conforme garantia o visconde de Serro Frio. “Os números
que exprimem a quantidade de minério de Itabira”, confirma o
professor Labouriau, “são astronômicos: de tão grandes tornam-se
inexpressivos.”
Inexpressivo, é bem o termo; e não encontro também outro para
qualificar a minha, a nossa indiferença diante de tanta opulência
inerte. Somos tão ricos, em Itabira, que não nos preocupamos com a
nossa própria riqueza. Temos riqueza para dar ao mundo inteiro e
ainda sobra para 499 mundos possíveis. Se oferecêssemos a cada
habitante do planeta a insignificância de uma tonelada de ferro,
quase todo o rebanho humano estaria servido, pois a cifra total do
rebanho não vai além de 1 bilhão e 700 milhões de criaturas. Somos
perdidamente, inefavelmente milionários. No entanto, a arrecadação
da prefeitura, em 1932, não excedeu de 216 contos (inclusive vinte
contos de saldo do exercício anterior), e uma honesta parcimônia
pauta a vida dessa gente ensimesmada e grave, que nada tem nem
pede ao governo, e passa honradamente pelos guichês do Banco
Comércio e Indústria, para emitir ou reformar as suas promissórias.
Tanta riqueza em potência vem sendo, talvez, um grande mal para a
vila de Utopia.
— Itabira, onde estão tuas trinta fábricas de ferro do tempo do
barão de Eschwege, com os seus cadinhos dotados de trompas e
martelos hidráulicos, os seus fornos e as suas oficinas de armeiro,
que antecederam e suplantaram em eficiência a real fábrica do
Morro do Pilar?
— Onde estão, Itabira, os escravos e os faiscadores de João
Francisco de Andrade e do capitão Tomé Nunes, varejando os
regatos e as encostas de Santana e da Conceição e produzindo mais
de 7 mil oitavas de ouro, quando já a mineração declinava no Brasil?
— Que notícia me dás, Itabira, da Associação Brasileira de
Mineração, último esforço da nossa gente para manter o caráter
nacional dos nossos depósitos minerais, hoje entregues ao
estrangeiro tão arrebentado quanto nós para explorá-los?*
Tudo isso está longe. A minha infância já não foi frequentada pela
memória desses homens e dessas preocupações. E se me
debruçava sobre o passado, era para ouvir uma voz que cantava,
toldada de álcool:
Capitão Tomé
é ouro só,
os herdeiros dele
é molambo só…
E finalmente:
a prodigiosa monotonia que paira, que está suspensa, por assim dizer, na fisionomia
moral da América do Sul (de Itabira).
* Da mesma forma que as igrejas eram verdadeiras máquinas de rezar, até nos detalhes
burocráticos da sacristia. A pompa de algumas não indicava preocupação estética, e sim
moral; era antes um ardil para atração dos crentes desidiosos e sedução dos incrédulos;
exterioridades convidativas de máquina, pois. Isto me parece psicologicamente mais razoável
do que afirmar que os anseios de fausto da época se objetivavam só na fábrica luxuosa dos
templos, desertando as residências particulares, nuas e tristes. Uma contraprova está no fato
de que, quando lhes dava na telha, os antigos também sabiam construir solares
maravilhosos: o Jacinto Dias em Sabará, por exemplo.
** Escrito em 1928.
TEATRO DAQUELE TEMPO
11. Saíram os fariseus e começaram a discutir com Ele, procurando obter d’Ele um
sinal do céu, para O experimentarem. 12. E Ele, dando um profundo suspiro dentro do
seu espírito, disse: Por que pede esta geração um sinal? Em verdade vos digo, que a
esta geração nenhum sinal será dado. 13. E deixando-os, tornou a embarcar para o
outro lado.
Marcos 8
Por que será que o nu dos pintores quase sempre nos repugna? Não
creio que seja devido à simples exibição de corpos despidos numa
parede, quando eles se mostram assim um pouco por toda parte.
Parece antes que o desagrado vem da atitude artificial dos corpos,
que quase nunca é a atitude que eles tomam quando em liberdade.
Os artistas se esmeram em fixar posições e gestos que não
correspondem aos do natural abandono do nu (abandono bem raro,
pois o corpo, mesmo só, é extremamente policiado pela civilização),
e muito menos a essa atitude mais comum do nu, que é o nu em
movimento, o nu rápido, necessário, quase inconsciente, que só uma
câmara fotográfica secreta saberia fixar, mas já então, que pena!,
sem a força individualista da pintura. Resulta daí que os nus pintados
são nus fotográficos, no sentido de artificialismo e rigidez, que os
torna insuportáveis a um olhar sensível à forma e, sobretudo, aos
mistérios do nu. Geralmente, os pintores rodeiam esse mistério; não
o penetram.
MODA LITERÁRIA
— Seu nome?
— Arita Bauer Gomes e Silva.
— Idade?
— Três anos.
— Profissão?
— Pianista prodígio.
Este diálogo travou-se em Pelotas, entre o Anjo Protetor das
Celebridades Precoces e a pequenina guiomar-novais do teclado
gaúcho. O Anjo tomou uns apontamentos e prometeu estar sempre
alerta para que a artista não trocasse os dedos na hora de executar
Chopin nem lambuzasse o teclado. Aos três anos, as celebridades já
exigem controle.
Aritinha saiu e foi tomar café com leite. O café estava quente,
Aritinha quebrou a xícara, molhou-se, quase queimou a pele cor-de-
rosa. O pai telefonou para o Anjo, zangado: “O senhor não está
protegendo minha filha!”. Resposta do Anjo: “Perdão. Minha
assistência às Celebridades Precoces limita-se ao domínio da Arte.
Nada tenho a ver com as atividades infantis de sua filha”. Nesse
meio-tempo, Aritinha consolou-se lendo o Ensaio sobre a música
brasileira, de Mário de Andrade, edição da Casa Chiarato. À página
61 encontrou um coco de ganzá do Rio Grande do Norte, “Onde vais,
Helena?”, que lhe interessou sobremodo pelo desenho melódico.
Tomou nota da peça para estudá-la mais tarde ao piano e imprimir
uma orientação nacionalista à sua formação musical.
— Gente, quede Aritinha?
— Aritinha foi ao Conservatório?
— Aritinha está se correspondendo com Darius Milhaud?
Não; Aritinha está brincando com boneca e trem de ferro, dois
presentes do último Natal. Por sinal que o trenzinho, já muito
esbodegado, não tem locomotiva nem apita nas curvas. Os pais
contemplam-na, maravilhados: “Três anos apenas! E a maior pianista
de Pelotas! Quando fizer sete, o que será?”.
Os meninos de d. Bromeliácea, do jardim da casa vizinha, estão
dizendo a Aritinha que ela pode saber tudo, mas não sabe tirar o
“Vem cá Bitu” no berimbau. E tiram, para moer. Porém Aritinha olha-
os com infinito desprezo na ponta do beicinho inferior. Não diz nada,
mas parece dizer: “Eu, uma Paderewski, tocar nisso? Vê lá!”. Não,
Aritinha conservará a sua personalidade.
E o dia todo, à sombra do Anjo ou sem Anjo nenhum, Arita Bauer,
de quarenta centímetros, ora é o gênio incomensurável, ora é a
criança levada do jardim da infância. O pêndulo de sua existência
oscila entre os pesados deveres de pianista prodígio e as deliciosas
evasões de garota. Organiza programas de recitais que vai realizar
em Porto Alegre e Buenos Aires, e diverte-se com uma chave ou um
mosquito morto sobre o ladrilho. Beethoven e o Bicho Tutu são-lhe
familiares. Os jornais exaltam-na, e a ama de vez em quando muda-
lhe a roupinha de baixo, que se molhou.
Leitor, dirás que minto e é possível. Mas a existência dessa
menininha portento, cuja fama nos veio do Rio Grande do Sul, deve
ser assim um misto de ações adultas e de práticas pueris — afinal,
uma existência descontínua, desequilibrada e difícil, geradora de
traumatismos nervosos. E a gente, que quer bem a Aritinha mesmo
sem conhecê-la, fica pedindo a Deus que a faça crescer depressa
para que ela deixe de ser prodígio e se case com um rapaz sério
chamado Joaquim.
ENQUANTO DESCÍAMOS O RIO
Se escreveres sobre o amor infeliz, dirão que o teu amor foi infeliz.
E apontarão nomes de pessoas que te fizeram provavelmente sofrer.
E mesmo algumas pessoas se reconhecerão no que escreveste.
Depois de quinze dias de pressão ambiente, de curiosidade policial e
de comentários maliciosos, tu mesmo acabarás convencido de que
foi assim e sentirás uma grande pena de ti próprio e serás muito
infeliz e te consolarás.
UM LIVRO ÚNICO
Milton Ohata
Para a Flor
Confissões de Minas é o primeiro livro em prosa de Drummond. Foi
publicado em 1944 e desde então nunca mais ganhou a forma de
volume independente.1 Após integrar as edições da Obra completa
(1964), caiu num curioso limbo que não fez jus à sua força discreta.
No entanto, mal saído do prelo, foi saudado como um acontecimento.
Ao situá-lo na corrente dos gêneros então praticados na literatura
brasileira, Antonio Candido notava que os poetas
escrevem com um senso da língua, uma maturidade intelectual ausente nos nossos
grandes ficcionistas. Talvez porque, entre nós, a poesia, intelectualmente falando,
esteja mais depurada, mais trabalhada do que a prosa, esta, porventura mais entregue
ainda ao impulso da criação do que propriamente submetida ao crivo da inteligência.2
uma espécie de desconfiança aguda em relação ao que diz e faz. Se aborda o ser,
imediatamente lhe ocorre que seria mais válido tratar do mundo; se aborda o mundo,
que melhor fora limitar-se ao modo de ser. E a poesia parece desfazer-se como
registro para tornar-se um processo, justificado na medida em que institui um objeto
novo, elaborado à custa da desfiguração, ou mesmo destruição ritual do ser e do
mundo, para refazê-los no plano estético.6
1. Em 2011, a editora Cosac Naify lançou uma segunda edição, para a qual este posfácio foi
originalmente escrito.
2. Publicado na seção Notas de Crítica Literária da Folha da Manhã, 15 out. 1944.
Posteriormente em Antonio Candido, Textos de intervenção, org. Vinícius Dantas. São Paulo:
Editora 34, 2002, pp. 198-9.
3. “15 de outubro”. Diário crítico v. II [1944], 2. ed. São Paulo: Martins/ Edusp, 1981, p. 278.
4. Arquivo da Fundação Casa de Rui Barbosa, Correspondência Carlos Drummond de
Andrade/ Cyro dos Anjos, CDA — CP — 0096, fls. 81-83.
5. Arquivo na Fundação Casa de Rui Barbosa, Correspondência Carlos Drummond de
Andrade/ Otto Maria Carpeaux, CDA — CP — 0328, fls. 17-18.
6. Antonio Candido, “Inquietudes na poesia de Drummond”, em: Vários escritos. 2. ed. São
Paulo: Livraria Duas Cidades, 1977, p. 95.
7. Fernando Py dá notícia de um romance escrito nos anos de juventude, com o título Rosa
branca, que jamais veio a público. Ver Bibliografia comentada de Carlos Drummond de
Andrade — 1918-1934. 2. ed. rev. e aum. Rio de Janeiro: Edições Casa de Rui Barbosa,
2002, p. 228.
8. Devo esta passagem a conversas com Augusto Massi.
9. Devo a informação à gentileza de Júlio Castañon Guimarães, que com Augusto Massi
preparou uma edição das poesias traduzidas por Drummond. Poesia traduzida (São Paulo:
Cosac Naify, 2011) revela uma face pouquíssimo conhecida do poeta e tornará mais claros o
sentido e a intensidade de seus laços com a poesia espanhola.
10. Entrevista a Adolfo Montejo Navas. Cult, São Paulo, ano IV, n. 42, jan. 2001, p. 7. Note-se
de passagem que, na mesma época, Goeldi e Guignard faziam algo parecido na gravura e na
pintura. A partir de 1941, Goeldi — em quem Drummond reconheceu o “pesquisador da noite
moral sob a noite física” (“A Goeldi”, A vida passada a limpo, 1958) — passa a ilustrar
regularmente as páginas de Autores e Livros, suplemento de A Manhã em que Drummond
publicou vários dos textos de Confissões de Minas e um dos seus poemas mais admiráveis,
“Passagem da noite” (A rosa do povo, 1945), com ilustração do próprio gravurista, na edição
de 18 out. 1942. Esboçadas nos fins da década de 1930, as paisagens imaginárias de
Guignard começam a ocupar a obra do artista sobretudo a partir de 1941, quando pinta duas
delas para a casa Hungria Machado, projetada por Lucio Costa. Ao longo de 1942, publica 23
desenhos em Autores e Livros. Ver Lélia Coelho Frota, “Guignard: arte, vida”, em: Alberto da
Veiga Guignard, 1896-1962. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 2005, pp. 30-1. Para Rodrigo Naves,
“o confronto entre esses dois momentos decisivos da obra de Guignard — o mundo difuso e
indiferenciado e a caracterização pitoresca — parece revelar um esforço para garantir ao país
certa transcendência, que o manteria à margem das qualificações circunstanciais” (Naves,
“O Brasil no ar: Guignard”, em: A forma difícil: Ensaios sobre arte brasileira. Ed. rev. e ampl.
São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p. 175).
11. Hoje se sabe que o papel de Drummond foi decisivo para a construção do atual Palácio
Gustavo Capanema, cujo projeto foi coordenado por Lucio Costa a partir dos esboços de Le
Corbusier. A legislação vigente não obrigava a opção pelo projeto vencedor do concurso de
1935, da autoria de Arquimedes Memória, o qual, preterido, “dirigiu carta ao presidente da
República, na qual denunciava uma ‘célula comunista’ de modernistas cujos objetivos eram ‘a
agitação do meio artístico e a anulação dos valores reais que não comungam com seu
credo’. Esses elementos deletérios teriam como ‘patrono e intransigente defensor o sr. Carlos
Drummond de Andrade’” (Moacir Werneck de Castro, Mário de Andrade: Exílio no Rio. Rio de
Janeiro: Rocco, 1989, p. 39). Sobre o projeto e a construção do edifício, ver Maurício
Lissovsky e Paulo Sérgio Moraes de Sá, Colunas da educação: A construção do Ministério da
Educação e Saúde. Rio de Janeiro: Minc/Iphan, 1996. A partir de 1945, o poeta e o arquiteto
dividiriam a mesma baia entre uma parede e uma fileira de arquivos. “Eu era seu
subordinado, como chefe da Seção de História, mas não sentia qualquer espécie de
subordinação. Fomos bons camaradas, dentro da discrição natural dos temperamentos. Ao
dirigir-me a palavra, sempre em voz baixa e tom extremamente delicado, deixava
transparecer simpatia e compreensão, mas em geral preferia manter-se em silêncio — um
silêncio que durava o tempo de permanência no corredor — que eu respeitava como se
respeita o silêncio das igrejas. […] Não tinha nem de leve ar importante, e parecia mesmo
querer se ocultar de todos e de tudo, até do nome de Lucio Costa. Tanto que assinava os
seus pareceres com um esmaecido LC, saído do toco de um lápis que era todo o seu
equipamento de trabalho.” Carlos Drummond de Andrade, “LC na repartição” [1982], em: Lucio
Costa, Registro de uma vivência, 3. ed. São Paulo: Editora 34, 2018, p. 435.
12. Lucio Costa, “Diamantina”, op. cit., p. 27. Em 1957, o arquiteto confiou a um revisor a
memória descritiva apresentada ao concurso de Brasília. Diante da irretocável qualidade do
texto, Drummond limitou-se a “corrigir a ortografia do português antigo para o português então
corrente, sem introduzir mudança alguma de estilo, como demonstram as anotações
encontradas no manuscrito”. Milton Braga, O concurso de Brasília. São Paulo: Cosac Naify,
2010, p. 155.
13. Fato que não exclui o conhecimento minucioso do passado histórico, baseado também
em velhos documentos, como mostra “Viagem de Sabará” e a antologia Minas Gerais,
organizada pelo próprio poeta, reunindo textos de mais de cem autores (Rio de Janeiro:
Editora do Autor, 1967). Drummond, contudo, criou uma forma própria, onipresente em toda a
sua poesia e que encontrou realização superior em “Os bens e o sangue” (Claro enigma,
1951).
14. Ver Alfredo Bosi, “‘A máquina do mundo’ entre o símbolo e a alegoria”, em: Céu, inferno.
São Paulo: Ática, 1988, pp. 80-95; Vagner Camilo, Drummond: Da rosa do povo à rosa das
trevas. São Paulo: Ateliê, 2001; Davi Arrigucci Jr., Coração partido: Uma análise da poesia
reflexiva de Drummond. São Paulo: Cosac Naify, 2002; Betina Bischof, Razão da recusa: Um
estudo da poesia de Carlos Drummond de Andrade. São Paulo: Nankin, 2005; José Miguel
Wisnik, “Drummond e o mundo”, em: Adauto Novaes (Org.). Poetas que pensaram o mundo.
São Paulo: Companhia das Letras, 2005, pp. 19-64; Alcides Villaça, Passos de Drummond.
São Paulo: Cosac Naify, 2006. Para a prosa, ver João Adolfo Hansen, “Drummond e o livro
inútil”, Sibila, ano 13, 5 abr. 2009. Disponível em: <http://sibila.com.br/mapa-da-
lingua/drummond-e-o-livro-inutil/2730>. Acesso em: 8 mar. 2020.
15. “A expansão do capitalismo no Brasil se dá introduzindo relações novas no arcaico e
reproduzindo relações arcaicas no novo, um modo de compatibilizar a acumulação global,
em que a introdução das relações novas no arcaico libera força de trabalho que suporta a
acumulação industrial-urbana e em que a reprodução de relações arcaicas no novo preserva
o potencial de acumulação liberado exclusivamente para os fins de reprodução do próprio
novo.” Francisco de Oliveira, Crítica à razão dualista: O ornitorrinco. São Paulo: Boitempo,
2003, p. 60.
16. John Gledson, “O funcionário público como narrador: O amanuense Belmiro e Angústia”,
em: Influências e impasses: Drummond e alguns contemporâneos. São Paulo: Companhia
das Letras, 2003, pp. 224-5.
17. Algo semelhante podemos sentir na prosa de Lucio Costa e de Celso Furtado, a um só
tempo abstratas e muito brasileiras.
Leituras recomendadas
Mário da Silva.
BRITO,
“Confissões de Minas”,
O Estado de S.Paulo, 14 dez. 1944.
, Dias da.
COSTA
“Confissões de Minas”,
O Estado de S. Paulo, 11 nov. 1944.
, João Eurico.
MATA
“Presença do itabirano”,
O Estado de S.Paulo, 7 dez. 1944.
, João Camillo de Oliveira.
TORRES
“Confissões de Minas”,
Folha de Minas, Belo Horizonte, 8 nov. 1944.
, Lívio.
XAVIER
Ascânio Lopes
Sob o título “Ascânio Lopes na rua Bahia”, foi publicado em Verde —
Revista Mensal de Arte e Cultura, 2a fase, ano I, n. I, maio 1929,
editada pelos escritores modernistas de Cataguases (MG) sob a
liderança de Rosário Fusco. Esse número foi especialmente
dedicado ao poeta ASCÂNIO LOPES (1906-29). Em Confissões de
Minas, Drummond acrescentou à evocação os seguintes trechos:
“Tinha 23 anos e não poderia dizer […] sem nunca ter comprado
bilhete” e “Numa sala da Secretaria do Interior […] admiráveis ‘Sete
trombetas misteriosas’”. A tuberculose o impediu de concluir o curso
de direito, interrompido em 1928 na capital mineira, onde
estabeleceu relações com o grupo do Café Estrela e de A Revista.
Foi autor de um único livro, Poemas cronológicos (Cataguases:
Verde Editora, 1928), com Henrique de Resende e Rosário Fusco.
Ver DÉLSON GONÇALVES FERREIRA, Ascânio Lopes: Vida e poesia (Belo
Horizonte: Difusão Pan-Americana do Livro, 1967); MÁRIO DE ANDRADE,
“Táxi: Ascânio Lopes” (Diário Nacional, 30 maio 1929, em Táxi e
Crônicas no “Diário Nacional”. Introd. e notas de Telê Porto Ancona
Lopes. São Paulo: Duas Cidades, 1976, pp. 115-6); PEDRO NAVA,
Beira-mar: Memórias 4. (3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1985, pp. 232-6); JOAQUIM BRANCO, Ascânio, o poeta da “Verde”
(Cataguases: Totem, 1998).
João Guimarães
Publicado sob o título “João Guimarães, lembrança” e o pseudônimo
Antônio Crispim, no Minas Gerais, Belo Horizonte, 14 jun. 1934. JOÃO
BERNARDO GUIMARÃES ALVES (1900-34) foi poeta e inspetor de ensino,
neto do escritor Bernardo Guimarães (1825-84), sobrinho do poeta
Alphonsus de Guimarães (1870-1921) e primo do escritor João
Alphonsus (1901-44). Participou da roda literária do Café Estrela, em
Belo Horizonte.
PESSIMISMO DE ABGAR RENAULT
Provavelmente inédito até a publicação de Confissões de Minas.
Posteriormente publicado na revista Panorama, Belo Horizonte, jan.
1948. O poema citado está em Cristal refratário (Obra poética. Rio
de Janeiro: Record, 1990, p. 155).
A tradução dos “poemas ingleses das guerras de 1914 e 1939”, a
que se refere Drummond, foi publicada em edição fora de comércio
sob o título Poemas ingleses de guerra (Rio de Janeiro: Oficinas
Gráficas do Jornal do Commercio, 1942; e a segunda edição em
Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, 1970).
A Abgar Renault, Drummond dedicou o poema “Infância” (Alguma
poesia, 1930), “Abgar Renault”, três homônimos “A Abgar Renault”
(Viola de bolso 1 e 2, 1952-5, e Discurso de primavera e algumas
sombras, 1977) e “A contagem do tempo” (Viola de bolso 3).
Renault compôs o “Soneto ao poeta Carlos Drummond de Andrade”,
datado de 27 jan. 1952, e “Mensagem ao poeta Carlos Drummond
de Andrade”, datado de 1962. Ambos estão em A outra face da lua
(1983).
O SECRETO EMÍLIO MOURA
Provavelmente inédito até a publicação de Confissões de Minas. O
poema citado é “Toada dos que não podem amar” (Poesia: 1932-
1948. Rio de Janeiro: José Olympio, 1953, p. 47).
Drummond compôs “Epigrama para Emílio Moura” (Alguma
poesia, 1930), “A Emílio Moura” (Viola de bolso, 1952), “Poeta
Emílio”, datado de 12 abr. 1969 (sob o título “Minas e o poeta”, em
Estado de Minas, Belo Horizonte, 30 abr. 1969), “O poeta irmão” (As
impurezas do branco, 1973). E dedicou ao amigo “A mulher do
elevador” (Diário de Minas, Belo Horizonte, 10 jul. 1924). Sobre a
poesia de Emílio Moura, Drummond também escreveu “Palma
severa” (Passeios na ilha, 1952), posteriormente publicado como
prefácio a Poesia (1953), “O anjo Emílio” (Correio da Manhã, Rio de
Janeiro, 11 set. 1956), “Aniversário” (Jornal do Brasil, Caderno B,
Rio de Janeiro, 17 ago. 1972; e Minas Gerais, Suplemento Literário,
Belo Horizonte, 2 set. 1972) e “A poesia na mala” (ver OSÓRIO COUTO
& JOSÉ HIPÓLITO DE MOURA FARIA, Dois poetas e um centenário. Belo
Horizonte: adi edições, 2002, pp. 90-1). Tudo indica que a figura
evocada na crônica “O amigo que chega de longe” seja Emílio Moura
(Caminhos de João Brandão, 1970). Por sua vez, Emílio Moura
escreveu o “Soneto a Carlos Drummond de Andrade” (O instante e o
eterno, 1953), “Ao fazendeiro do ar” e “O poeta e a pedra”
(respectivamente em Habitante da tarde e Noite maior, livros que
fazem parte de Itinerário poético, 1969), além de resenhar
longamente Sentimento do mundo (1940) e voltar ao assunto em “O
poeta e seu sentimento do mundo”, publicado em Panorama, ano 1,
n. 1, ago. 1947. Sobre a amizade dos dois poetas mineiros, ver
OSÓRIO COUTO & JOSÉ HIPÓLITO DE MOURA FARIA, Dois poetas e um
centenário, op. cit., especial, pp. 50-61.
SEGREDO E ATUALIDADE DE SCHMIDT
Publicado na Revista Acadêmica, n. 53, fev. 1941. A primeira edição
de Estrela solitária (1940) foi publicada pela editora José Olympio e
hoje integra o volume Poesia completa: 1928-1965 (Rio de Janeiro:
Topbooks, 1995). Drummond compôs “Augusto Frederico Schmidt 10
anos depois” (Discurso de primavera e algumas sombras, 1977).
AUTOBIOGRAFIA PARA UMA REVISTA
Sob o título “Sorriso crispado ou o depoimento do homem de
Itabira”, aparece na Revista Acadêmica, n. 38, ago. 1938. Em jul.
1941, a mesma revista dedica a edição de n. 56 a Drummond, com
colaborações de Oswaldo Alves, Mário de Andrade, Manuel
Bandeira, José Cezar Borba, Rubem Braga, Odilo Costa Filho,
Ribeiro Couto, Otávio de Faria, Alphonsus de Guimarães Filho,
Carlos Lacerda, Jorge de Lima, Murilo Mendes, Emílio Moura e
Abgar Renault. Outro perfil autobiográfico é “Autorretrato”, publicado
originalmente em Leitura, jun. 1943, e hoje parte do volume póstumo,
organizado por Fernando Py, Autorretrato e outras crônicas (Rio de
Janeiro: Record, 1989).
SUAS CARTAS
Publicado em duas partes, em versões menores como “Mário de
Andrade, o amigo postal”, na Folha Carioca, 6 mar. 1944, e “Mário
de Andrade, o educador”, na Folha Carioca, 13 mar. 1944. É
provável que o autor, por limitações de espaço, tenha cortado os
seguintes trechos, posteriormente restituídos em Confissões de
Minas: “Eu neste ponto não aconselho nada […] para ser feliz dentro
dela”; “Que horror! […] se sacrificam”; “E nos dá felicidade […]
mando-as à”; “E isso nem sei se tem mérito […] ainda que é o
Brasil”; “E vocês não vivem […] serem vocês”; “Falando das ‘Danças’
[…] sempre esse tom”; “Mas no Brasil […] pensada a repensada”;
“É uma trabalheira […] estupidez”; “Nessa estrada […] enxameiam
nas cartas” e “espero que se reconheça neles […] críticos”.
Quase quarenta anos depois, em 1982, foi editado pela editora
José Olympio A lição do amigo, volume organizado e anotado por
Drummond das cartas que recebeu de Mário de Andrade. Este
conjunto foi, em suas palavras, “o mais constante, generoso e
fecundo estímulo à atividade literária, por mim recebido em toda a
existência”. Finalmente, as cartas do poeta mineiro se juntaram às de
Mário de Andrade, no volume Carlos e Mário: Correspondência
entre Carlos Drummond de Andrade e Mário de Andrade (Rio de
Janeiro: Bem-Te-Vi, 2002), organizado por Lélia Coelho Frota e
anotado por Carlos Drummond de Andrade e Silviano Santiago. Há
menções a Confissões de Minas e à resenha de Lauro Escorel na
carta escrita por Mário em 15 out. 1944, pp. 531-5.
Na presente edição, utilizou-se o texto da edição de 2002, acima
referida, bem como a edição crítica de Diléa Z. Manfio das Poesias
completas (Belo Horizonte: Itatiaia/ São Paulo: Edusp, 1987). Para
efeitos de consulta, as citações de Drummond são referidas, no caso
de poema, pelo título, seguido pelo número da página, ou, no caso
de carta, pela datação, seguida pelo número da página:
Página 68: “Lembrança da Maria (moda safada)”, não incluído pelo autor nas Poesias
completas. Oferecido a Oneyda Alvarenga na série “Malditos”. Figura em carta a
Manuel Bandeira de 7 nov. 1927. Ver Marcos Antonio de Moraes (Org.),
Correspondência: Mário de Andrade e Manuel Bandeira. São Paulo: Edusp/ IEB-USP,
2001, 2. ed., p. 363.
Página 68-72: carta de 10 de novembro de 1924, pp. 46-51.
Página 72: “A própria dor é uma felicidade…”: sem título, xvii, Losango cáqui, p. 136, e
“As moças”, xxxii, idem, p. 145; carta de 10 de novembro de 1924, p. 46.
Página 72: “Revelam para quem souber…”: carta de 1924, sem data, pp. 68-9; “Toda
gente acha graça…”: carta de 14 de outubro de 1926, p. 249; “Sofrer…”: A costela do
grão cão, pp. 300-5.
Páginas 74-6: carta de 18 de fevereiro de 1925, pp. 100-02; carta de 1o de agosto de
1926, pp. 228-31.
Página 78: carta de 16 de dezembro de 1934, p. 436; a conferência referida é “O
movimento modernista” e está publicada em Aspectos da literatura brasileira. São
Paulo: Martins, 1974, 5. ed.
* As notas aqui reproduzidas foram preparadas por Augusto Massi e Milton Ohata e
publicadas originalmente em Confissões de Minas (São Paulo: Cosac Naify, 2011). A editora
agradece a gentil autorização da Cosac Naify.
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