Você está na página 1de 8

REVISÃO – GRAMÁTICA UNESP 2ª FASE JULIANA DONINI

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o poema “O sobrevivente”, extraído do livro Alguma poesia, de Carlos Drummond de Andrade, publicado em 1930.

O sobrevivente

Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.


Impossível escrever um poema — uma linha que seja — de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.

Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.


Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.

Um sábio declarou a O Jornal que ainda


falta muito para atingirmos um nível razoável
de cultura. Mas até lá, felizmente,
estarei morto.

Os homens não melhoraram


e matam-se como percevejos.
Os percevejos heroicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.

(Desconfio que escrevi um poema.)

(Poesia 1930-1962, 2012.)

1. (Unesp 2020) a) Que relação pode ser estabelecida entre os dois primeiros versos e o último verso do poema?
b) Reescreva, na voz passiva, o trecho sublinhado no último verso do poema “(Desconfio que escrevi um poema.)”.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o ensaio de Eduardo Giannetti a seguir.

A maçã da consciência de si. – O labrador dourado saltando com a criança na grama; o balé acrobático do sagui; a liberdade alada da arara-
azul cortando o céu sem nuvens – quem nunca sentiu inveja dos animais que não sabem para que vivem nem sabem que não o sabem? Inveja
dos seres que não sentem continuamente a falta do que não existe; que não se exaurem e gemem sobre a sua condição; que não se deitam
insones e choram pelos seus desacertos; que não se perdem nos labirintos da culpa e do desejo; que não castigam seus corpos nem negam
os seus desejos; que não matam os seus semelhantes movidos por miragens; que não se deixam enlouquecer pela mania de possuir coisas?
O ônus da vida consciente de si desperta no animal humano a nostalgia do simples existir: o desejo intermitente de retornar a uma condição
anterior à conquista da consciência. – A empresa, contudo, padece de uma contradição fatal. A intenção de se livrar da autoconsciência
visando a completa imersão no fluxo espontâneo e irrefletido da vida pressupõe uma aguda consciência de si por parte de quem a alimenta.
Ela é como o fruto tardio sonhando em retornar à semente da qual veio ao galho. [...] O desejo de saltar para aquém do cárcere do pensar se
pode compreender – e até cultivar – em certa medida, mas o lado de fora não há. A consciência é irreparável; dela, como do tempo, ninguém
torna atrás ou se desfaz. Desmorder a maçã não existe como opção.

(Trópicos utópicos, 2016.)

2. (Unesp 2020) a) No contexto do ensaio, o que significa “desmorder a maçã”?


b) Quais são os referentes dos três pronomes sublinhados no ensaio?

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o excerto do romance Clara dos Anjos, de Lima Barreto.

Cassi Jones, sem mais percalços, se viu lançado em pleno Campo de Sant’Ana, no meio da multidão que jorrava das portas da Central, cheia
da honesta pressa de quem vai trabalhar. A sua sensação era que estava numa cidade estranha. No subúrbio tinha os seus ódios e os seus
amores; no subúrbio, tinha os seus companheiros, e a sua fama de violeiro percorria todo ele, e, em qualquer parte, era apontado; no subúrbio,
enfim, ele tinha personalidade, era bem Cassi Jones de Azevedo; mas, ali, sobretudo do Campo de Sant’Ana para baixo, o que era ele? Não
era nada. Onde acabavam os trilhos da Central, acabava a sua fama e o seu valimento; a sua fanfarronice evaporava-se, e representava-se a
si mesmo como esmagado por aqueles “caras” todos, que nem o olhavam. [...]
Página 1 de 8
REVISÃO – GRAMÁTICA UNESP 2ª FASE JULIANA DONINI
Na “cidade”, como se diz, ele percebia toda a sua inferioridade de inteligência, de educação; a sua rusticidade, diante daqueles rapazes a
conversar sobre coisas de que ele não entendia e a trocar pilhérias; em face da sofreguidão com que liam os placards1 dos jornais, tratando de
assuntos cuja importância ele não avaliava, Cassi vexava-se de não suportar a leitura; comparando o desembaraço com que os fregueses
pediam bebidas variadas e esquisitas, lembrava-se que nem mesmo o nome delas sabia pronunciar; olhando aquelas senhoras e moças que
lhe pareciam rainhas e princesas, tal e qual o bárbaro que viu, no Senado de Roma, só reis, sentia-se humilde; enfim, todo aquele conjunto de
coisas finas, de atitudes apuradas, de hábitos de polidez e urbanidade, de franqueza no gastar, reduziam-lhe a personalidade de medíocre
suburbano, de vagabundo doméstico, a quase coisa alguma.

(Clara dos Anjos, 2012.)


1
placards: nome que se dava às tabuletas que traziam resultados de competições esportivas, publicados nos jornais.

3. (Unesp 2020) a) “no meio da multidão que jorrava das portas da Central, cheia da honesta pressa de quem vai trabalhar” (1º parágrafo).
Identifique as figuras de linguagem utilizadas pelo narrador nas expressões sublinhadas.
b) Reescreva o trecho “lembrava-se que nem mesmo o nome delas sabia pronunciar” (2º parágrafo), empregando a ordem direta e adequando-
o à norma-padrão da língua escrita.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o poema de Manuel Bandeira (1886-1968) para responder à(s) questão(ões) a seguir.

Poema tirado de uma notícia de jornal

João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número.
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.

(Libertinagem & Estrela da manhã, 1993.)

4. (Unesp 2019) a) Em que verso se verifica um desvio em relação à norma-padrão da língua escrita (mas recorrente na língua oral)?
Reescreva o verso, corrigindo esse desvio.
b) Cite duas características, uma de natureza temática e outra de natureza formal, que afastam esse poema da tradição parnasiano-simbolista.

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:


Leia o trecho do ensaio “A transitoriedade”, de Sigmund Freud (1856-1939), para responder à(s) questão(ões) a seguir.

Algum tempo atrás, fiz um passeio por uma rica paisagem num dia de verão, em companhia de um poeta jovem, mas já famoso. O
poeta admirava a beleza do cenário que nos rodeava, porém não se alegrava com ela. Era incomodado pelo pensamento de que toda aquela
beleza estava condenada à extinção, pois desapareceria no inverno, e assim também toda a beleza humana e tudo de belo e nobre que os
homens criaram ou poderiam criar. Tudo o mais que, de outro modo, ele teria amado e admirado, lhe parecia despojado de valor pela
transitoriedade que era o destino de tudo.
Sabemos que tal preocupação com a fragilidade do que é belo e perfeito pode dar origem a duas diferentes tendências na psique.
Uma conduz ao doloroso cansaço do mundo mostrado pelo jovem poeta; a outra, à rebelião contra o fato constatado. Não, não é possível que
todas essas maravilhas da natureza e da arte, do nosso mundo de sentimentos e do mundo lá fora, venham realmente a se desfazer. Seria
uma insensatez e uma blasfêmia acreditar nisso. Essas coisas têm de poder subsistir de alguma forma, subtraídas às influências destruidoras.
Ocorre que essa exigência de imortalidade é tão claramente um produto de nossos desejos que não pode reivindicar valor de
realidade. Também o que é doloroso pode ser verdadeiro. Eu não pude me decidir a refutar a transitoriedade universal, nem obter uma
exceção para o belo e o perfeito. Mas contestei a visão do poeta pessimista, de que a transitoriedade do belo implica sua desvalorização.
Pelo contrário, significa maior valorização! Valor de transitoriedade é valor de raridade no tempo. A limitação da possibilidade da
fruição aumenta a sua preciosidade. É incompreensível, afirmei, que a ideia da transitoriedade do belo deva perturbar a alegria que ele nos
proporciona. Quanto à beleza da natureza, ela sempre volta depois que é destruída pelo inverno, e esse retorno bem pode ser considerado
eterno, em relação ao nosso tempo de vida. Vemos desaparecer a beleza do rosto e do corpo humanos no curso de nossa vida, mas essa
brevidade lhes acrescenta mais um encanto. Se existir uma flor que floresça apenas uma noite, ela não nos parecerá menos formosa por isso.
Tampouco posso compreender por que a beleza e a perfeição de uma obra de arte ou de uma realização intelectual deveriam ser depreciadas
por sua limitação no tempo. Talvez chegue o dia em que os quadros e estátuas que hoje admiramos se reduzam a pó, ou que nos suceda uma
raça de homens que não mais entenda as obras de nossos poetas e pensadores, ou que sobrevenha uma era geológica em que os seres vivos
deixem de existir sobre a Terra; mas se o valor de tudo quanto é belo e perfeito é determinado somente por seu significado para a nossa vida
emocional, não precisa sobreviver a ela, e portanto independe da duração absoluta.

(Introdução ao narcisismo, 2010. Adaptado.)

Página 2 de 8
REVISÃO – GRAMÁTICA UNESP 2ª FASE JULIANA DONINI
5. (Unesp 2019) a) Explique sucintamente a diferença entre a visão de Freud e a visão do jovem poeta sobre a transitoriedade do belo.
b) Transcreva do segundo parágrafo uma oração em que a ocorrência de vírgula indica a supressão de um verbo. Identifique o verbo suprimido
nessa oração.

6. (Unesp 2019) a) Identifique os referentes dos pronomes sublinhados no primeiro e no quarto parágrafos.
b) Reescreva o trecho “Era incomodado pelo pensamento de que toda aquela beleza estava condenada à extinção” (1º parágrafo) na voz ativa.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o trecho inicial do romance O Ateneu, de Raul Pompeia (1863-1895), para responder à(s) questão(ões) a seguir.

“Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta.”
Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na
estufa de carinho que é o regime do amor doméstico; diferente do que se encontra fora, tão diferente, que parece o poema dos cuidados
maternos um artifício sentimental, com a vantagem única de fazer mais sensível a criatura à impressão rude do primeiro ensinamento, têmpera
brusca da vitalidade na influência de um novo clima rigoroso. Lembramo-nos, entretanto, com saudade hipócrita dos felizes tempos; como se a
mesma incerteza de hoje, sob outro aspecto, não nos houvesse perseguido outrora, e não viesse de longe a enfiada das decepções que nos
ultrajam.
Eufemismo, os felizes tempos, eufemismo apenas, igual aos outros que nos alimentam, a saudade dos dias que correram como
melhores. Bem considerando, a atualidade é a mesma em todas as datas. Feita a compensação dos desejos que variam, das aspirações que
se transformam, alentadas perpetuamente do mesmo ardor, sobre a mesma base fantástica de esperanças, a atualidade é uma. Sob a
coloração cambiante das horas, um pouco de ouro mais pela manhã, um pouco mais de púrpura ao crepúsculo – a paisagem é a mesma de
cada lado, beirando a estrada da vida.
Eu tinha onze anos.
Frequentara como externo, durante alguns meses, uma escola familiar do Caminho Novo, onde algumas senhoras inglesas, sob a
direção do pai, distribuíam educação à infância como melhor lhes parecia. Entrava às nove horas timidamente, ignorando as lições com a
maior regularidade, e bocejava até às duas, torcendo-me de insipidez sobre os carcomidos bancos que o colégio comprara, de pinho e usados,
lustrosos do contato da malandragem de não sei quantas gerações de pequenos. Ao meio-dia, davam-nos pão com manteiga. Esta recordação
gulosa é o que mais pronunciadamente me ficou dos meses de externato; com a lembrança de alguns companheiros – um que gostava de
fazer rir à aula, espécie interessante de mono louro, arrepiado, vivendo a morder, nas costas da mão esquerda, uma protuberância calosa que
tinha; outro adamado, elegante, sempre retirado, que vinha à escola de branco, engomadinho e radioso, fechada a blusa em diagonal do
ombro à cinta por botões de madrepérola. Mais ainda: a primeira vez que ouvi certa injúria crespa, um palavrão cercado de terror no
estabelecimento, que os partistas denunciavam às mestras por duas iniciais como em monograma.
Lecionou-me depois um professor em domicílio.
Apesar deste ensaio da vida escolar a que me sujeitou a família, antes da verdadeira provação, eu estava perfeitamente virgem para
as sensações novas da nova fase. O internato! Destacada do conchego placentário da dieta caseira, vinha próximo o momento de se definir a
minha individualidade.

(O Ateneu, 1999.)

7. (Unesp 2019) a) Identifique os sujeitos dos verbos “houvesse” e “viesse”, sublinhados no segundo parágrafo.
b) Transcreva o trecho “Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu.” (1º parágrafo) para o discurso indireto.

8. (Unesp 2018) Examine a tira do cartunista argentino Quino (1932- ) para responder à questão a seguir.

Página 3 de 8
REVISÃO – GRAMÁTICA UNESP 2ª FASE JULIANA DONINI

a) Na tira, o que cada um dos dois grupos de pessoas representa?


b) Em português, empregamos a seguinte expressão: “o tiro saiu pela culatra”. Explicite o sentido dessa expressão e a relacione com a crítica
veiculada pela tira.

9. (Unesp 2018) Examine as tiras do cartunista americano Bill Watterson (1958 - ).

Página 4 de 8
REVISÃO – GRAMÁTICA UNESP 2ª FASE JULIANA DONINI

a) Na tira 1, como o garoto Calvin interpreta o choro da mãe? Reescreva a última fala de Calvin, substituindo o verbo “antropomorfiza” por
outro de sentido equivalente.
b) Na tira 2, a pergunta do tigre Haroldo poderia ser considerada uma resposta para a pergunta de Calvin? Justifique.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Para responder à(s) questão(ões), leia o soneto de Raimundo Correia (1859-1911).

Esbraseia o Ocidente na agonia


O sol... Aves em bandos destacados,
Por céus de ouro e de púrpura raiados,
Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia...

Delineiam-se, além, da serrania


Os vértices de chama aureolados,
E em tudo, em torno, esbatem derramados
Uns tons suaves de melancolia...

Um mundo de vapores no ar flutua...


Como uma informe nódoa, avulta e cresce
A sombra à proporção que a luz recua...

A natureza apática esmaece...


Pouco a pouco, entre as árvores, a lua
Surge trêmula, trêmula... Anoitece.

(Poesia completa e prosa, 1961.)

10. (Unesp 2018) a) Que processo o soneto de Raimundo Correia retrata?


b) A primeira estrofe do soneto é composta por três períodos simples em ordem indireta (“Esbraseia o Ocidente na agonia / O sol”; “Aves em
bandos destacados, / Por céus de ouro e de púrpura raiados, / Fogem”; e “Fecha-se a pálpebra do dia”). Reescreva esses três períodos em
ordem direta.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Para responder à(s) questão(ões), leia o trecho inicial do conto “Desenredo”, do escritor João Guimarães Rosa (1908-1967).

Do narrador a seus ouvintes:


– Jó Joaquim, cliente, era quieto, respeitado, bom como o cheiro de cerveja. Tinha o para não ser célebre. Com elas quem pode,
porém? Foi Adão dormir, e Eva nascer. Chamando-se Livíria, Rivília ou Irlívia, a que, nesta observação, a Jó Joaquim apareceu.
Antes bonita, olhos de viva mosca, morena mel e pão. Aliás, casada. Sorriram-se, viram-se. Era infinitamente maio e Jó Joaquim
pegou o amor. Enfim, entenderam-se. Voando o mais em ímpeto de nau tangida a vela e vento. Mas muito tendo tudo de ser secreto, claro,
coberto de sete capas.
Porque o marido se fazia notório, na valentia com ciúme; e as aldeias são a alheia vigilância. Então ao rigor geral os dois se
sujeitaram, conforme o clandestino amor em sua forma local, conforme o mundo é mundo. Todo abismo é navegável a barquinhos de papel.
Não se via quando e como se viam. Jó Joaquim, além disso, existindo só retraído, minuciosamente. Esperar é reconhecer-se
incompleto. Dependiam eles de enorme milagre. O inebriado engano.
Até que – deu-se o desmastreio. O trágico não vem a conta-gotas. Apanhara o marido a mulher: com outro, um terceiro… Sem mais
cá nem mais lá, mediante revólver, assustou-a e matou-o. Diz-se, também, que de leve a ferira, leviano modo.

Página 5 de 8
REVISÃO – GRAMÁTICA UNESP 2ª FASE JULIANA DONINI
Jó Joaquim, derrubadamente surpreso, no absurdo desistia de crer, e foi para o decúbito dorsal, por dores, frios, calores, quiçá
lágrimas, devolvido ao barro, entre o inefável e o infando. Imaginara-a jamais a ter o pé em três estribos; chegou a maldizer de seus próprios e
gratos abusufrutos. Reteve-se de vê-la. Proibia-se de ser pseudopersonagem, em lance de tão vermelha e preta amplitude.
Ela – longe – sempre ou ao máximo mais formosa, já sarada e sã. Ele exercitava-se a aguentar-se, nas defeituosas emoções.
Enquanto, ora, as coisas amaduravam. Todo fim é impossível? Azarado fugitivo, e como à Providência praz, o marido faleceu,
afogado ou de tifo. O tempo é engenhoso.
Soube-o logo Jó Joaquim, em seu franciscanato, dolorido mas já medicado. Vai, pois, com a amada se encontrou – ela sutil como
uma colher de chá, grude de engodos, o firme fascínio. Nela acreditou, num abrir e não fechar de ouvidos. Daí, de repente, casaram-se.
Alegres, sim, para feliz escândalo popular, por que forma fosse.

(Tutameia, 1979.)
11. (Unesp 2018) a) Considere os seguintes provérbios:

1. “A desgraça vem sem ser chamada.”


2. “À desgraça ninguém foge.”
3. “Até com a desgraça a gente se acostuma.”
4. “Desgraça pouca é bobagem.”
5. “A desgraça de uns é o bem de outros.”

Qual dos provérbios mais se aproxima da ideia contida em “O trágico não vem a conta-gotas.” (6º parágrafo)? Justifique sua resposta.

b) Reescreva a frase “Com elas quem pode, porém?” (2º parágrafo), substituindo o pronome “elas” pelo seu referente e a conjunção “porém”
por outra de sentido equivalente.

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:


Leia o trecho inicial do artigo “Artifícios da inteligência”, do físico brasileiro Marcelo Gleiser (1959- ), para responder à(s) questão(ões).

Considere a seguinte situação: você acorda atrasado para o trabalho e, na pressa, esquece o celular em casa. Só quando
engavetado no tráfego ou amassado no metrô você se dá conta. E agora é tarde para voltar. Olhando em volta, você vê pessoas com celular
em punho conversando, mandando mensagens, navegando na internet. Aos poucos, você vai sendo possuído por uma sensação de perda, de
desconexão. Sem o seu celular, você não é mais você.
A junção do humano com a máquina é conhecida como “transumanismo”. Tema de vários livros e filmes de ficção científica, hoje é
um tópico essencial na pesquisa de muitos cientistas e filósofos. A questão que nos interessa aqui é até que ponto essa junção pode ocorrer e
o que isso significa para o futuro da nossa espécie.
Será que, ao inventarmos tecnologias que nos permitam ampliar nossas capacidades físicas e mentais, ou mesmo máquinas
pensantes, estaremos decretando nosso próprio fim? Será esse nosso destino evolucionário, criar uma nova espécie além do humano?
É bom começar distinguindo tecnologias transumanas daquelas que são apenas corretivas, como óculos ou aparelhos para surdez.
Tecnologias corretivas não têm como função ampliar nossa capacidade cognitiva: só regularizam alguma deficiência existente.
A diferença ocorre quando uma tecnologia não apenas corrige uma deficiência como leva seu portador a um novo patamar, além da
capacidade normal da espécie humana. Por exemplo, braços robóticos que permitem que uma pessoa levante 300 quilos, ou óculos com
lentes que dotam o usuário de visão no infravermelho. No caso de atletas com deficiência física, a questão se torna bem interessante: a partir
de que ponto uma prótese como uma perna artificial de fibra de carbono cria condições além da capacidade humana? Nesse caso, será que é
justo que esses atletas compitam com humanos sem próteses?
Poderia parecer que esse tipo de hibridização entre tecnologia e biologia é coisa de um futuro distante. Ledo engano. Como no caso
do celular, está acontecendo agora. Estamos redefinindo a espécie humana através da interação – na maior parte ainda externa – com
tecnologias que ampliam nossa capacidade.
Sem nossos aparelhos digitais – celulares, tabletes, laptops – já não somos os mesmos. Criamos personalidades virtuais, ativas
apenas na internet, outros eus que interagem em redes sociais com selfies arranjados para impressionar; criações remotas, onipresentes.
Cientistas e engenheiros usam computadores para ampliar sua habilidade cerebral, enfrentando problemas que, há apenas algumas décadas,
eram considerados impossíveis. Como resultado, a cada dia surgem questões que antes nem podíamos contemplar.

(Folha de S.Paulo, 01.02.2015. Adaptado.)

12. (Unesp 2018) a) Para o físico Marcelo Gleiser, o que distingue as tecnologias transumanas daquelas apenas corretivas? Justifique sua
resposta.
b) Cite dois termos empregados em sentido figurado no primeiro parágrafo do artigo.

13. (Unesp 2018) a) De acordo com o físico, nós já podemos ser considerados transumanos? Justifique sua resposta.
b) Dêiticos: expressões linguísticas cuja interpretação depende da pessoa, do lugar e do momento em que são enunciadas. Por exemplo: “eu”
designa a pessoa que fala “eu”.
(Ernani Terra. Leitura do texto literário, 2014.)

Cite dois dêiticos empregados nos dois primeiros parágrafos do texto.

Página 6 de 8
REVISÃO – GRAMÁTICA UNESP 2ª FASE JULIANA DONINI

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:


Leia o poema de Murilo Mendes (1901-1975) para responder à(s) questão(ões) a seguir.

O pastor pianista
Soltaram os pianos na planície deserta
Onde as sombras dos pássaros vêm beber.
Eu sou o pastor pianista,
Vejo ao longe com alegria meus pianos
Recortarem os vultos monumentais
Contra a lua.

Acompanhado pelas rosas migradoras


1
Apascento os pianos: gritam
E transmitem o antigo clamor do homem

Que reclamando a contemplação,


Sonha e provoca a harmonia,
Trabalha mesmo à força,
E pelo vento nas folhagens,
Pelos planetas, pelo andar das mulheres,
Pelo amor e seus contrastes,
Comunica-se com os deuses.

(As metamorfoses, 2015.)


1
apascentar: vigiar no pasto; pastorear.

14. (Unesp 2018) a) Explique por que se pode afirmar que o verso inicial desse poema opera uma perturbação ou quebra do discurso lógico.
b) Sem prejuízo para o sentido dos versos, que expressões poderiam substituir os termos “onde” (2º verso da 1ª estrofe) e “pelo” (4º verso da
3ª estrofe), respectivamente?

15. (Unesp 2018) a) Na segunda estrofe, verifica-se a personificação dos pianos. Que outro elemento também é personificado nessa estrofe?
Justifique sua resposta.
b) Quem é o sujeito do verbo “comunica-se” (3ª estrofe)? Justifique sua resposta.

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:


Leia o trecho do conto O 1alienista, de Machado de Assis (1839-1908), para responder à(s) questão(ões) a seguir.

Era a vez da terapêutica. Simão Bacamarte, ativo e sagaz em descobrir enfermos, excedeu-se ainda na diligência e penetração com
que principiou a tratá-los. Neste ponto todos os cronistas estão de pleno acordo: o ilustre alienista fez curas pasmosas, que excitaram a mais
viva admiração em Itaguaí.
Com efeito, era difícil imaginar mais racional sistema terapêutico. Estando os loucos divididos por classes, segundo a perfeição moral
que em cada um deles excedia às outras, Simão Bacamarte cuidou em atacar de frente a qualidade predominante. Suponhamos um modesto.
Ele aplicava a medicação que pudesse incutir-lhe o sentimento oposto; e não ia logo às doses máximas, — graduava-as, conforme o estado, a
idade, o temperamento, a posição social do enfermo. Às vezes bastava uma casaca, uma fita, uma cabeleira, uma bengala, para restituir a
razão ao alienado; em outros casos a moléstia era mais rebelde; recorria então aos anéis de brilhantes, às distinções honoríficas, etc. Houve
um doente, poeta, que resistiu a tudo. Simão Bacamarte começava a desesperar da cura, quando teve ideia de mandar correr matraca, para o
fim de o apregoar como um rival de Garção 2 e de Píndaro 3.
— Foi um santo remédio, contava a mãe do infeliz a uma comadre; foi um santo remédio.
[...]
Tal era o sistema. Imagina-se o resto. Cada beleza moral ou mental era atacada no ponto em que a perfeição parecia mais sólida; e
o efeito era certo. Nem sempre era certo. Casos houve em que a qualidade predominante resistia a tudo; então, o alienista atacava outra parte,
aplicando à terapêutica o método da estratégia militar, que toma uma fortaleza por um ponto, se por outro o não pode conseguir.
No fim de cinco meses e meio estava vazia a Casa Verde; todos curados! O vereador Galvão, tão cruelmente afligido de moderação
e equidade, teve a felicidade de perder um tio; digo felicidade, porque o tio deixou um testamento ambíguo, e ele obteve uma boa
interpretação, corrompendo os juízes, e embaçando os outros herdeiros.
[...]
Agora, se imaginais que o alienista ficou radiante ao ver sair o último hóspede da Casa Verde, mostrais com isso que ainda não
conheceis o nosso homem. Plus ultra! 4 era a sua divisa. Não lhe bastava ter descoberto a teoria verdadeira da loucura; não o contentava ter
estabelecido em Itaguaí o reinado da razão. Plus ultra! Não ficou alegre, ficou preocupado, cogitativo; alguma coisa lhe dizia que a teoria nova
tinha, em si mesma, outra e novíssima teoria.
— Vejamos, pensava ele; vejamos se chego enfim à última verdade.
Dizia isto, passeando ao longo da vasta sala, onde fulgurava a mais rica biblioteca dos domínios ultramarinos de Sua Majestade. Um

Página 7 de 8
REVISÃO – GRAMÁTICA UNESP 2ª FASE JULIANA DONINI
amplo chambre de damasco, preso à cintura por um cordão de seda, com borlas de ouro (presente de uma Universidade) envolvia o corpo
majestoso e austero do ilustre alienista. A cabeleira cobria-lhe uma extensa e nobre calva adquirida nas cogitações cotidianas da ciência. Os
pés, não delgados e femininos, não graúdos e mariolas, mas proporcionados ao vulto, eram resguardados por um par de sapatos cujas fivelas
não passavam de simples e modesto latão. Vede a diferença: — só se lhe notava luxo naquilo que era de origem científica; o que propriamente
vinha dele trazia a cor da moderação e da singeleza, virtudes tão ajustadas à pessoa de um sábio.
(O alienista, 2014.)
1
alienista: médico especialista em doenças mentais.
2
Garção: um dos principais poetas do Neoclassicismo português.
3
Píndaro: considerado o maior poeta lírico da antiga Grécia.
4
Plus ultra!: expressão latina que significa “Mais além!”.

16. (Unesp 2018) a) Cite os referentes dos pronomes sublinhados no primeiro e no segundo parágrafos.
b) Transcreva dois pequenos excertos em que o narrador se dirige diretamente ao leitor.

17. (Unesp 2018) a) Transcreva o trecho “ele [vereador Galvão] obteve uma boa interpretação, corrompendo os juízes, e embaçando os outros
herdeiros” (5º parágrafo), substituindo os termos sublinhados por outros de sentido equivalente.
b) Transcreva o trecho “— Foi um santo remédio, contava a mãe do infeliz a uma comadre” (3º parágrafo) em discurso indireto e em ordem
direta.

Página 8 de 8

Você também pode gostar