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20/10/2023, 16:47 História Da Literatura Ocidental-Caderno de anotações 1.

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Notas e destaques do

História Da Literatura Ocidental


Joaquim Campelo Marques

História da literatura ocidental: a obra


monumental de Otto Maria Carpeaux
Destaque (amarelo) - Posição 126

Carpeaux era um erudito que, dialeticamente, conseguia unir elementos


diversos e apresentá-los ao público.

Destaque (amarelo) - Posição 129

A enciclopédia aqui não é a compartimentalização e o dado condensado em


pílulas, mas a capacidade de alinhavar conhecimentos, fatos e dados, livros e
autores, espírito de época (Zeitgeist), a fim de dar ao leitor uma visão global
e social do fenômeno.

Destaque (amarelo) - Posição 133

É por esta razão que assinala no prefácio do livro: “...em vez de uma coleção
de histórias de literaturas, pretendeu-se esboçar a história dos estilos
literários, como expressões dos fatores sociais, modificáveis, e das
qualidades humanas, permanentes. Os critérios da exposição historiográfica
são, portanto, estilísticos e sociológicos”.

Introdução
Destaque (amarelo) - Posição 1935

No século IX, Photios, o erudito patriarca de Bizâncio, reuniu no


Myrobiblion resumos de 280 obras, da qual, se não fosse ele, não saberíamos
nada. Enfim, Suidas acumula tudo o que no seu tempo ainda existe, num
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fichário de nomes, títulos e datas, adotando a ordem alfabética; é o primeiro


dicionário bibliográfico, em vez de uma história da Literatura.

Destaque (amarelo) - Posição 1994


O fundador da história literária autônoma é Herder.

Destaque (amarelo) - Posição 1996

Convergem em Herder todas as correntes espirituais da segunda metade do


século XVIII

Destaque (amarelo) - Posição 2000

O registro dos livros é substituído pela história das obras e das ideias.

Destaque (amarelo) - Posição 2002

Todo o nacionalismo do século XIX se inspirará em Herder, que é até o avô,


embora involuntário, do pan-eslavismo e do racismo alemão.

Nota - Posição 2003

NACIONALISMO

Destaque (amarelo) - Posição 2218

Croce acabou com a pretensão dos positivistas de introduzir os métodos


exatos das ciências naturais nas chamadas “ciência do espírito”, sobretudo na
historiografia.

Destaque (amarelo) - Posição 2370

Enfim, Erich Auerbach deu um corte transversal pela história literária


ocidental inteira (Mimesis, 1946), já não para caracterizar um gênero ou um
estilo, mas um princípio estilístico: o realismo.

Destaque (amarelo) - Posição 2388

A história dessa literatura “internacional” compõe-se de grandes períodos,


cujos nomes o uso consagrou: Idade Média, Renascença, Barroco, Ilustração,
Romantismo, Realismo, Naturalismo, Simbolismo, etc.
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Destaque (amarelo) - Posição 2411


A literatura é, pois, estudada nas páginas seguintes como expressão estilística
do Espírito objetivo, autônomo, e ao mesmo tempo como reflexo das
situações sociais.

Destaque (amarelo) - Posição 2420

Assim, o método estilístico-sociológico tem de provar, pela sua aplicação à


literatura, a capacidade de explicar as relações entre os fatos literários,
substituindo-se a enumeração biobibliográfica dos fatos pela interpretação
histórica. Seria apenas mais uma prova em favor do método se se verificasse
a impossibilidade de aplicá-lo a literaturas de outro tipo, fora do ciclo da
nossa civilização. Estão neste caso as literaturas da antiguidade greco-
romana.

Destaque (amarelo) - Posição 2430

Restam-nos obras e figuras isoladas, tiradas da conexão histórica – e a


história das literaturas antigas ficará sempre reduzida à condição de análises
filológicas e críticas.

Destaque (amarelo) - Posição 2434

Neste ensaio de interpretação histórica da literatura do Ocidente, a história da


literatura greco-romana só pode figurar a título de introdução; depois, a
discussão daqueles reflexos, do “humanismo europeu”, constitui a transição
para o verdadeiro começo: a fundação da Europa.

Capítulo I A LITERATURA GREGA


Destaque (amarelo) - Posição 2447

Ilíada e da Odisseia:

Destaque (azul) - Posição 2454

A Ilíada e a Odisseia eram usadas, nas escolas gregas, como livros didáticos;

Destaque (amarelo) - Posição 2518

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O enredo das duas epopeias é como a própria vida humana: não foi
inventado; tudo devia ter acontecido assim.

Destaque (amarelo) - Posição 2549

O pathos heroico da Ilíada e a ética aristocrática da Odisseia são imagens


ideais da vida, que exercem influência duradoura sobre a realidade grega.

Destaque (amarelo) - Posição 2555

A presença dos deuses homéricos, que são, por definição, ideais humanos,
revela não só a condição humana, mas também a capacidade dos homens de
superá-la.

Destaque (azul) - Posição 2566

A Ilíada descreve fielmente a época feudal da Grécia83, e o conteúdo da


Odisseia está em relação íntima com a época fenícia da civilização
mediterrânea84.

Destaque (amarelo) - Posição 2570

A época mais provável das origens homéricas situa-se entre o século IX e o


século VII antes da nossa era. Nas epopeias, a religião “pré-homérica” e – em
parte – a civilização micênica estão já esquecidas.

Destaque (amarelo) - Posição 2580

Hesíodo86

Destaque (amarelo) - Posição 2581

A Teogonia revela crenças religiosas pré-homéricas:

Destaque (amarelo) - Posição 2586

Os Trabalhos e os Dias, a outra obra de Hesíodo, é uma espécie de poema


didático, que estabelece normas de agricultura, de educação dos filhos, de
práticas supersticiosas na vida cotidiana.

Destaque (amarelo) - Posição 2591


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os antigos citaram sempre Hesíodo como contemporâneo de Homero, e a


análise da sua língua permite realmente situá-lo no século VII. Hesíodo não é
um produto da decadência; é o Homero dos proletários, é o reverso da
medalha.

Destaque (amarelo) - Posição 2608

Tirteu88

Destaque (amarelo) - Posição 2610

Mimnermos89

Destaque (amarelo) - Posição 2611

Teógnis90

Destaque (amarelo) - Posição 2616

Arquíloco91.

Destaque (amarelo) - Posição 2621

Alceu92,

Destaque (laranja) - Posição 2622

Safo93,

Destaque (amarelo) - Posição 2659

A maior parte das poesias de Píndaro96 chama-se “Epinikioi”:

Destaque (amarelo) - Posição 2681

Píndaro canta o mito para estabelecer uma ligação entre os feitos dos deuses
e dos heróis de outrora e o feito esportivo do dia: para demonstrar que os
homens são capazes de grandes coisas, mas que o deus é sempre superior à
mais elevada condição humana. É poesia de aristocratas que se educam para
merecer a sua posição; mas o poeta lhes observa que a sua ética depende da
sanção divina.
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Destaque (amarelo) - Posição 2686


a poesia é capaz de celebrar a vitória do corpo. E a poesia evoca o mito, para
demonstrar que o homem vitorioso é filho digno dos deuses. Píndaro não
canta o deus, canta sempre o homem; a sua religião é antropocêntrica.

Destaque (amarelo) - Posição 2707

O que emociona o espectador moderno, assistindo a uma representação da


Oréstia ou do Édipo, difere essencialmente do que comoveu o espectador
grego.

Destaque (amarelo) - Posição 2711

O teatro grego97 é de origem religiosa;

Destaque (amarelo) - Posição 2715

a tragédia grega nasceu de atos litúrgicos do culto do Dioniso.

Destaque (amarelo) - Posição 2718

Podemos continuar adotando a intuição genial de Nietzsche: a tragédia grega


é a transformação apolínea de ritos dionisíacos. Por isso, o único conteúdo
possível da tragédia grega era o mito, fornecido pela tradição; enredos
inventados pela imaginação do dramaturgo, que enchem os nossos
repertórios, estavam excluídos. Tratava-se de interpretações e
reinterpretações dramáticas de enredos dados.

Destaque (amarelo) - Posição 2733

O verdadeiro fim do teatro grego – assim reza a tese sociológica – era a


sanção duma modificação da ordem social por meio de uma reinterpretação
do mito.

Destaque (amarelo) - Posição 2741

Ésquilo99

Destaque (amarelo) - Posição 2752

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Porque o mito continua como símbolo supremo da ligação entre o mundo


divino e o mundo humano. Nada se modifica no mundo humano sem
modificação correspondente no mundo divino; o Estado precisa da sanção
religiosa dos seus atos, e é o teatro que lhe permite o uso dinâmico dos mitos
para sancionar a nova ordem social.

Destaque (amarelo) - Posição 2776

cronologia dos grandes trágicos gregos é um tanto confusa. Desde a


Antiguidade foram sempre estudados numa ordem que sugere fatalmente a
ideia de três gerações: Sófocles, sucessor de Ésquilo, e Eurípides, por sua
vez, sucessor de Sófocles. Mas Ésquilo (525-456), Sófocles (496-406) e
Eurípides (480-406) são quase contemporâneos.

Destaque (amarelo) - Posição 2783

Eurípides100

Destaque (amarelo) - Posição 2784

Na tragédia esquiliana, os heróis representam coletividades; na tragédia


euripidiana, são indivíduos.

Destaque (amarelo) - Posição 2794

A base da tragédia euripidiana, como a da esquiliana, é a família. Mas há


uma diferença essencial.

Destaque (amarelo) - Posição 2801

Ésquilo e Eurípides são, ambos, inimigos da família: Ésquilo, porque ela se


opõe ao Estado; Eurípides, porque ela violenta a liberdade do indivíduo.

Destaque (amarelo) - Posição 2828

Eurípides é o primeiro poeta que exprime a alma do homem, sozinho no


mundo, fora de todas as ligações religiosas, familiares e políticas, sozinho
com a sua razão crítica e o seu sentimento pessimista, com a sua paixão e o
seu desespero. É “o mais trágico dos poetas”.

Destaque (amarelo) - Posição 2832


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Aristófanes101

Destaque (amarelo) - Posição 2836

Todas as comédias de Aristófanes têm assunto político.

Destaque (amarelo) - Posição 2862

Aristófanes tem um ideal ético. Isso lhe dá o direito de referir-se ao mito. A


tragédia já desistiu do seu direito de reinterpretar o mito, de modo que a
relação entre o mito e a vida, base do Estado ateniense, começa a
desaparecer. Então, a comédia assume a função abandonada.

Destaque (amarelo) - Posição 2876

Sófocles102 representa a tentativa de mediar entre os extremos; e quando a


mediação se revelou impossível, o grande poeta trágico cantou uma elegia
suave e dolorosa, irresistível, que pareceu à posteridade síntese perfeita. Por
isso, Sófocles foi sempre o poeta preferido dos partidários do equilíbrio
puramente estético: dos classicistas.

Destaque (amarelo) - Posição 2903

No fim das tragédias sofoclianas, os personagens são mais dignos do que


eram antes. Eis a solução euripidiana que Sófocles achou para o conflito
esquiliano: ordem divina e ordem terrestre, cujo conflito torna tão dolorosa a
vida, reconciliam-se na dignidade humana. Em Sófocles, tudo é harmonia,
sem que fosse esquecido uma só vez o fundo escuro da nossa existência.
Sófocles é humanista.

Destaque (amarelo) - Posição 2922

de Heródoto103

Destaque (amarelo) - Posição 2944

Tucídides104 escreveu uma monografia histórica sobre o seu próprio tempo:


sobre a guerra peloponésia que arruinou Atenas.

Destaque (azul) - Posição 2963

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O mito – Platão é o maior criador de mitos na literatura universal – é o


fundamento da Cidade grega. Os diálogos de Platão105 constituem um
mundo completo como nenhum outro poeta – além de Dante – criou.

Destaque (azul) - Posição 2986

Os mitos platônicos são criações poéticas em cuja realidade o seu autor


acreditava;

Destaque (azul) - Posição 2988

Tampouco os mitos platônicos são axiomas filosóficos; por isso, Platão os


expôs em diálogos de índole literária, dramática, com a pretensão de criar
uma Cidade e talvez uma religião, mas sem a pretensão de defender um
sistema filosófico.

Destaque (azul) - Posição 2990

Nunca, na Antiguidade, os diálogos de Platão foram citados como obras de


filosofia racional. O grande criador de fórmulas filosóficas entre os gregos
foi Aristóteles, do qual não pode tratar a história da literatura, porque – ao
que parece – todas as suas obras literariamente elaboradas se perderam,
ficando-nos apenas cadernos de notas e aulas106.

Destaque (azul) - Posição 2994

A atividade de Aristóteles parece principalmente um esforço de corrigir,


segundo as experiências empíricas e conclusões lógicas, os “erros” de Platão:
o equívoco do “platonismo”. Mas aqueles “erros” revelaram-se
indestrutíveis: toda a história espiritual da humanidade, de Sócrates em
diante, é uma psicomaquia entre os seus dois sucessores. No campo da
filosofia racional, a vitória coube, as mais das vezes, a Aristóteles. Mas a
influência indireta de Platão, através da especulação cristã e de toda a
literatura idealista, foi maior. O filósofo Platão agiu, na história,
indiretamente; a ação direta era impedida pela forma da sua obra. Pois Platão
é poeta.

Destaque (azul) - Posição 3002

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A filosofia de Platão é dogmática: baseia-se num a priori, a existência das


ideias e o seu reflexo na nossa mente.

Destaque (azul) - Posição 3059

Demóstenes. Lidos assim os seus discursos, cheios de eloquência retumbante


e argumentação menos escrupulosa, destinados a ouvintes que não o
compreenderam, esses discursos revelam-se como documentos de alta
sabedoria política. Por isso talvez foi Cícero preferido pelos séculos da
Renascença e do Barroco, épocas sem verdadeira eloquência política.

Destaque (azul) - Posição 3062

Para compreender Demóstenes, é preciso respirar, num dia de grande debate


sobre política exterior, o ar da Casa dos Comuns.

Destaque (azul) - Posição 3066

Xenofonte111 é o único homem da ação. A sua obra de pedagogia política, a


Ciropedia, já se dirige a príncipes estrangeiros; os segredos antiditatoriais de
sabedoria política que escondeu no seu diálogo Hiéron, só em nossos dias
foram precariamente decifrados; e os requintes da sua prosa artística não nos
interessam. Xenofonte, para nós, é o autor de uma obra de ocasião: da
Anábase.

Destaque (amarelo) - Posição 3081

Não é fácil formar ideia bastante clara da arte de Menandro112.

Destaque (amarelo) - Posição 3090

Mas se Plauto113 só

Destaque (amarelo) - Posição 3105

Dos temas de Plauto vive todo o nosso teatro popular. Plauto é um dos
autores mais influentes da literatura universal.

Destaque (amarelo) - Posição 3115

A glória universal de Terêncio115 é pouco menor:


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Destaque (amarelo) - Posição 3130


“Homo sum; humani nihil a me alienum puto.”

Destaque (amarelo) - Posição 3134

O maior poeta alexandrino foi Calímaco116

Destaque (amarelo) - Posição 3138

O humanismo moderno é um ideal; o humanismo grego é realidade;

Destaque (amarelo) - Posição 3149

Teócrito117 é o poeta da Sicília grega.

Destaque (amarelo) - Posição 3174

Enfim, com a perda definitiva da realidade grega, vencerá o elemento


romanesco. Surge um novo gênero: o romance de aventuras. A mais célebre
dessas obras foi, durante séculos, as Histórias Etiópicas de Theagenes e
Chariclea, de Heliodoro121. Através

Destaque (amarelo) - Posição 3186

Políbio123, o grande historiógrafo, pretende explicar por que os romanos


venceram o mundo.

Destaque (amarelo) - Posição 3193

Dois séculos e meio depois, Plutarco124 cria a biografia; agora já é só o


indivíduo que importa. Plutarco

Capítulo II O MUNDO ROMANO


Destaque (amarelo) - Posição 3707

A OBRA CAPITAL da literatura romana é o Corpus Juris.

Destaque (amarelo) - Posição 3726

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Os literatos romanos já são humanistas no sentido moderno da palavra.

Destaque (amarelo) - Posição 3727

Mas a literatura romana tem justamente “les qualités de ses défauts”. Devia
ser literatura de evasão, porque não tinha nada com a realidade no meio da
qual surgiu. O espírito grego cria as suas realidades: Estado e poesia, religião
e teatro estão no mesmo plano; a distinção entre realidade material e
realidade espiritual, para o grego, não tem sentido. A realidade romana é
construção em material dado. É realidade econômica, política, jurídica,
administrativa. O romano não criou o seu mundo; encontrou-o, dominou-o,
continuou a dominá-lo, pensando em termos administrativos. A realidade
espiritual, importada de fora, é uma planta exótica em Roma; e os que
pretendem viver nela só podem fazê-lo como um alto funcionário que nas
horas de ócio se entrega a caprichos de diletante, ou como um boêmio que se
afasta das ocupações sérias da vida.

Destaque (amarelo) - Posição 3747

Caius Julius Caesar127 não é escritor profissional, já se disse.

Destaque (amarelo) - Posição 3752

Vitruvius Pollio128 dá vozes de comando às colunas;

Destaque (amarelo) - Posição 3764

Salústio129 descreve as discussões turbulentas no Senado,

Destaque (amarelo) - Posição 3777

tradição classificou as obras de Cícero130,

Destaque (amarelo) - Posição 3814

Independência mais segura, Lucrécio132 encontrou-a na contemplação da


natureza.

Destaque (amarelo) - Posição 3832

Em Lucrécio encontram-se quase todas as teorias do positivismo científico.


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Nota - Posição 3832


POSITIVISMO

Destaque (amarelo) - Posição 3839

Com Cícero e Lucrécio acaba uma fase decisiva da literatura romana: a


tentativa de introduzir espírito filosófico na política ou na religião de Roma
não foi, depois, repetida.

Destaque (amarelo) - Posição 3843

Catulo133, o mais velho entre eles, é o maior.

Destaque (amarelo) - Posição 3867

Propércio134 se compara um tanto a ele.

Destaque (amarelo) - Posição 3875

Enfim, quanto a Tibulo135, é forçoso confessar que não somos capazes de


formar uma ideia bem clara da sua poesia.

Destaque (amarelo) - Posição 3883

“Sentimentalismo é sentimento, comprado abaixo do preço” – a frase de


Meredith aplica-se bem a Ovídio136.

Destaque (amarelo) - Posição 3918

Horácio137 é, talvez, o maior entre os poetas menores:

Nota - Posição 3919

Destaque (amarelo) - Posição 3960

obra histórica de Tito Lívio139,

Destaque (amarelo) - Posição 3975

Afinal, não pretendeu dar historiografia exata, mas uma história exemplar;
não como foi, mas como devia ser.
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Destaque (amarelo) - Posição 3979


O mesmo idealismo prejudicou a poesia de Virgílio140.

Destaque (amarelo) - Posição 4008

Em comparação com o “gênio popular” Homero, Virgílio foi considerado


como poeta da decadência, de falsa dignidade, incapaz de representar a vida
real. É verdade que Virgílio pertence a uma época de decadência; e é
justamente por isso que não quer reproduzir a realidade que lhe pretendem
impor.

Destaque (amarelo) - Posição 4018

Então, aquele crepúsculo melancólico aparece como aurora esperançosa de


uma nova era, e o poeta pagão Virgílio, insatisfeito com a religião oficial e os
sistemas filosóficos, ergue a voz como um profeta no Advento. Com efeito,
todos os séculos cristãos interpretaram a Écloga IV como profecia pagã do
nascimento do Cristo. Compararam-se as viagens mediterrâneas de Eneias às
do apóstolo Paulo, a fundação da Urbs à da Igreja. Lembrou-se a unificação
do Império Romano por Augusto, o soberano de Virgílio, como condição
indispensável da missão do cristianismo. A

Destaque (amarelo) - Posição 4025

Virgílio é “pai do Ocidente” num sentido muito amplo. O seu ideal do


“labor” está na disciplina dos monges de S. Bento, união do trabalho nos
campos e do trabalho intelectual; e o seu ideal do “otium” está na dedicação
dos humanistas à ciência desinteressada. Até a música dos seus versos
melancólicos ensinou a todas as épocas a transformação da angústia em arte.
Homero é maior, sem comparação; mas é Virgílio que nos convém.

Destaque (amarelo) - Posição 4032

Na literatura universal, Horácio e Virgílio são os maiores entre os poetas


menores. Na literatura romana, são os últimos poetas “maiores”. Com

Destaque (amarelo) - Posição 4040

O sentido político da oposição está claro em Lucano142,

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Destaque (laranja) - Posição 4046


O assunto histórico-político implica o abandono do aparelho mitológico:
nesse sentido a Farsália é uma criação sui generis na literatura universal; nem
Voltaire teve essa coragem. E Lucano é corajoso. Ousa tomar atitude contra o
César, opondo-se ao consenso do mundo e dos séculos.

Destaque (amarelo) - Posição 4060

Sêneca143 é homem da ação também; mas

Destaque (amarelo) - Posição 4078

Na verdade, Sêneca não foi influenciado pela religião cristã; foi, muito ao
contrário, o cristianismo, em sua atitude ética, que foi profundamente
influenciado pelo estoicismo de Sêneca, transformando porém o suicídio em
martírio.

Destaque (amarelo) - Posição 4101

Quintiliano144 o grande mestre-escola da literatura romana, sistematizador


do gosto arcaizante da “oposição” conservadora.

Destaque (amarelo) - Posição 4103

Fedro145, o pobre escravo, a voz do povo. Não

Destaque (amarelo) - Posição 4109

Assim aparecem os escravos na sátira de Petrônio146,

Destaque (amarelo) - Posição 4118

Pérsio147 é um homem digno;

Destaque (amarelo) - Posição 4120

Marcial148 teria sido um poeta apreciável,

Destaque (amarelo) - Posição 4127

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Estácio149, cuja glória se baseia na pobreza da Idade Média em manuscritos


latinos –

Destaque (amarelo) - Posição 4134

Juvenal150 trata, nas suas 16 sátiras, os assuntos de Horácio:

Destaque (amarelo) - Posição 4145

Existem, pelo menos, dúvidas assim quanto ao prosador Suetônio151;

Destaque (amarelo) - Posição 4152

Tácito152.

Destaque (amarelo) - Posição 4184

velho Plínio153,

Destaque (amarelo) - Posição 4187

Plínio154,

Destaque (amarelo) - Posição 4206

Luciano155,

Destaque (amarelo) - Posição 4206

Luciano155,

Destaque (amarelo) - Posição 4235

Apuleio156,

Destaque (amarelo) - Posição 4249

Marco Aurélio157.

Destaque (amarelo) - Posição 4260

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O livro inteiro das Meditações foi escrito para afugentar a obsessão desse
homem poderoso com a ideia da morte.

Destaque (amarelo) - Posição 4270

Ausônio158.

Destaque (amarelo) - Posição 4289

Claudiano160,

Destaque (amarelo) - Posição 4297

Para convencer e converter o mundo da civilização antiga, não bastava a


“sabedoria da infância” dos cristãos primitivos; chegou-se a um
compromisso, pondo-se a filosofia e as letras a serviço do Deus cristão e da
sua teologia. Começa a pré-história do humanismo europeu no Oriente
cristão.

Destaque (amarelo) - Posição 4301

Já no começo do século II, o erudito Clemente de Alexandria introduziu na


teologia conceitos do platonismo e do estoicismo: o

Destaque (amarelo) - Posição 4313

Nonnos161,

Destaque (amarelo) - Posição 4320

Boécio162

Capítulo III O CRISTIANISMO E O MUNDO


Destaque (amarelo) - Posição 4814

A mentalidade cristã dos primeiros séculos percorreu três fases distintas,


coordenadas como uma evolução dialética.

Destaque (amarelo) - Posição 4817

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A terceira fase, após a queda definitiva do Império, é o novo


ensimismamiento: o cristianismo se retira para dentro dos muros das igrejas,
para encontrar aí a sua expressão genuína: os hinos e a liturgia.

Destaque (azul) - Posição 4953

Foi William Robertson, historiógrafo inglês do século XVIII, quem criou a


expressão “Dark Ages”, ou “séculos obscuros”, para qualificar a época em
que a “Razão” e as “boas letras clássicas” não iluminaram o mundo.

Nota - Posição 4954

DARK AGE

Destaque (azul) - Posição 4959

Antes dos “séculos obscuros” e depois, as maiores devastações materiais não


impediram o cultivo das letras, e a hinografia ambrosiana e pós-ambrosiana,
literatura original e poderosa, constitui um primeiro desmentido àquele inglês
incompreensivo.

Destaque (azul) - Posição 4965

Vista assim, a liturgia é alguma coisa mais do que um cerimonial


eclesiástico; revela-se como obra literária,

Nota - Posição 4966

LITURGIA

Destaque (azul) - Posição 4968

Após a “suspensão da descrença”, ninguém negará à liturgia o caráter de


grande obra literária que marca os séculos VI e VII, iluminando-lhes a
“obscuridade”.

Destaque (azul) - Posição 5044

A epopeia eclesiástica da liturgia decorreu só dentro dos muros. Lá fora,


havia os bárbaros e a destruição.

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Destaque (azul) - Posição 5106


Talvez o Ocidente inteiro tivese sido balcanizado, transformado em fronteira
bárbara da civilização grega, se Bizâncio tivesse vencido. Mas o Ocidente
não se bizantinizou nem se balcanizou. Foi preservado dos gregos pela
invasão dos árabes, que fecharam os caminhos marítimos do Mediterrâneo,
isolando Bizâncio de Roma. O Ocidente continuou latino. Nasceu a Europa.

Nota - Posição 5108

NASCIMENTO DA EUROPA - MOTIVO

Capítulo I A FUNDAÇÃO DA EUROPA


Destaque (azul) - Posição 5231

Descobriram-se várias “renascenças” durante a chamada “Idade Média”, das


quais a “grande” Renascença dos séculos XV e XVI é apenas a continuação:

Destaque (azul) - Posição 5244

Com efeito, houve duas invasões bárbaras; após a primeira, iniciada no


século IV, houve, nos séculos VIII e IX, a dos vikings germânicos do Norte e
a dos húngaros do Oriente.

Nota - Posição 5246

INVASÕES BÁRBARAS - Vikings e Húngaros

Destaque (azul) - Posição 5249

Na mesma época, os árabes conquistaram a Espanha e a Sicília, invadiram a


França e a Itália meridional e chegaram a ameaçar Roma.

Destaque (azul) - Posição 5257

As esperanças bizantinas de uma reconquista do Ocidente estavam


frustradas.

Destaque (azul) - Posição 5260

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O fechamento do Mediterrâneo interrompeu o comércio marítimo, e o


comércio nos caminhos terrestres tornou-se mais precário do que nunca. A
troca de produtos manufaturados cessou, e as aglomerações humanas viram-
se obrigadas a produzir, em autarquia perfeita, aquilo de que precisavam. O
Ocidente reagrarizou-se. Os latifúndios aristocráticos ficaram como únicos
centros de atividade econômica. A sociedade hierarquizou-se em aristocratas
e servos. A organização política correspondente a essa organização
hierárquica da sociedade é o feudalismo.

Nota - Posição 5263

INÍCIO DO FEUDALISMO

Destaque (azul) - Posição 5312

Daí resulta não serem os efeitos da Renascença carolíngia muito profundos,


mas extensos. À aplicação dos monges copistas da época carolíngia devemos
quase todos os manuscritos conservados, de poetas e prosadores romanos.

Destaque (azul) - Posição 5326

Essa primeira renascença é a superestrutura, algo precária, do Império feudal,


aliado ao Papado romano: edifício político-religioso,

Destaque (azul) - Posição 5328

No Ocidente, a latinização dos bárbaros germânicos criou um novo mundo.


De uma “renascença” – é preciso chamar a atenção para o sentido literal da
palavra – nasceu a Europa.

Destaque (azul) - Posição 5418

Eis a gente que invadiu, a partir do século IX, o Ocidente, devastando-o de


maneira impiedosa.

Destaque (azul) - Posição 5425

A devastação moral não parou às portas da Igreja Romana, governada por


assassinos e suas concubinas: a famosa “pornocracia” romana do século X. A
fome chegou a extremos do canibalismo201. A reação veio da Igreja. Em

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910, Odo fundou o convento de Cluny. A regularidade da disciplina litúrgica


suplantou a anarquia espiritual.

Destaque (azul) - Posição 5437


Com a pacificação e a reconquista da terra devastada ressuscita o conceito da
tradição, que recebe, de maneira muito especial, a sanção eclesiástica: o
abade Odilo de Cluny († 1048) institui o dia santo de Finados, a primeira
festa da Igreja ocidental,

Nota - Posição 5438

DIA DE FINADOS - primeiro dia festivo da Igreja

Destaque (azul) - Posição 5439

é a festa da comunhão que liga os vivos aos mortos.

Destaque (azul) - Posição 5440

A pobre vida terrestre é superada por outra vida, espiritual e mais real. É o
único momento da história ocidental moderna que tem semelhança, se bem
que longínqua, com o “realismo” grego, capaz de construir mundos ideais e
de transformá-los em realidades.

Nota - Posição 5442

REALISMO GREGO E O CATOLICISMO

Destaque (azul) - Posição 5528

As catedrais levantam-se nas grand’places das cidades. Em todo o castelo há


uma capela particular. Já com os cluniacenses, os ideais cristãos começam a
modificar o ideal do guerreiro germânico; começa a esboçar-se o tipo do
cavaleiro cristão, do futuro cruzado. As cabeças dessa gente estão cheias de
lendas fantásticas, tradições pagãs, lembranças bélicas. Acontece, porém, que
a elaboração literária desse mundo ideal é feita, principalmente, por clérigos.
As origens da epopeia medieval ligam-se à cristianização definitiva do
Ocidente.

Destaque (azul) - Posição 5547

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O Ciclo Bretão212, no qual se destacam os feitos do rei Artur e dos


cavaleiros da Távola Redonda, as aventuras de Gavain, Lancelot, Tristão e
Isolda, Parcifal e a Demanda do Santo Graal, tem origem céltica.

Nota - Posição 5549

EPOPEIA CELTA

Destaque (azul) - Posição 5610

o Poema de mío Cid e o Nibelungenlied estão ao lado da Chanson de Roland.


São as três primeiras criações importantes das literaturas nacionais da
Europa.

Destaque (azul) - Posição 5689

O autor anônimo empregou os processos da epopeia medieval, das “gestes”,


transformando as personagens em cavaleiros feudais e damas de castelo. Mas
não conseguiu bem essa transformação, porque se esqueceu de um elemento
importante: o cristianismo. Fala-se de igrejas, e aparece até um capelão. Mas
os Nibelungen, assim como os seus inimigos, não sabem nada do Evangelho.
São cavaleiros cristãos, mas agem segundo o código dos heróis das sagas
islandesas, e ninguém os repreende. Siegfried enganou Brunhild; mas
continua como herói luminoso. Hagen assassinou, mas a sua morte em
combate não é expiação, e sim resignação estoica em face do destino.

Destaque (azul) - Posição 5693

Kriemhild vinga uma perfídia monstruosa, repetindo-a por sua vez, e no fim
ela é, chorando e desesperando, uma espécie de Grande Mãe das mitologias
primitivas, lamentando o fim da era dos deuses noturnos. O Nibelungenlied é
o canto fúnebre do mundo germânico pagão. Revela que no século XIII o
cristianismo ainda não tinha penetrado a fundo na alma alemã.

Destaque (azul) - Posição 5697

Só na época da Reforma se completou a cristianização dos alemães e


começou a formar-se a nação alemã.

Destaque (azul) - Posição 5705

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na Itália construiu-se, sobre a base do sistema filosófico, a epopeia universal


de Dante.

Capítulo II O UNIVERSALISMO CRISTÃO


Destaque (azul) - Posição 5992

O mundo é um símbolo – eis uma ideia bem medieval; em consequência,


todos os seus pormenores têm qualquer significação além da significação
material e literal, prestam-se à interpretação alegórica. A alegoria é o método
de pensar medieval; tem a função que exerce o experimento no pensar
científico moderno. Com a alegoria, resolvem-se dúvidas e problemas. O
resultado da alegorização do mundo é o estabelecimento de uma ordem
perfeita na hierarquia do Universo; em tudo age o espírito de Deus. O mundo
é o reino do Espírito Santo.

Nota - Posição 5995

PENSAMENTO ALEGÓRICO

Destaque (azul) - Posição 6011

Naquele tempo, a Igreja, que se regia, até então, segundo os princípios do


feudalismo e levara uma vida principalmente agrária, começou a urbanizar-
se. Com a evolução da vida urbana, sobretudo na França e na Bélgica, os
centros eclesiásticos deslocaram-se dos campos para as cidades, dos
conventos para os bispados. A consequência foi uma reforma do ensino225.

Destaque (azul) - Posição 6018

Das escolas episcopais nascem as primeiras universidades: Paris,


Montpellier, Toulouse, Cambridge – universidades eclesiásticas, nas quais
ensinam, como nas escolas episcopais, os magistri.

Nota - Posição 6019

NASCIMENTO DAS UNIVERSIDADES

Destaque (azul) - Posição 6041

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O “internacionalismo” da Idade Média é muito forte. Mas aquela citação


convém particularmente para abrir o estudo da literatura francesa medieval:
na Idade Média, a literatura francesa dominou a Europa inteira, fornecendo
às outras literaturas os assuntos, os gêneros, os metros, a mentalidade.

Destaque (azul) - Posição 6057

Os franceses, ingleses, italianos, alemães, espanhóis dos séculos XI, XII e


XIII tinham duas literaturas: uma em língua latina, outra em língua vulgar; e
a latina era mais rica e informou a outra, fornecendo-lhe assuntos, temas,
gêneros, metros, formas. A literatura latina medieval é a base da literatura
medieval inteira232.

Destaque (azul) - Posição 6063

A literatura religiosa só raramente sai da igreja para oferecer leitura aos


leigos. Cria, porém, pelo menos, um novo gênero: a “Visio”234, relato da
visão de um místico ou outro homem pio, em que se lhe revelavam os
segredos do outro mundo.

Destaque (azul) - Posição 6070

Esse gênero é precursor literário da Divina Comédia.

Destaque (azul) - Posição 6090

A Idade Média não sabe distinguir entre realidades materiais e realidades


imaginárias: história e lenda se confundem, porque ambas têm a mesma
significação alegórica.

Destaque (azul) - Posição 6191

Johannes de Salisbury parece, às vezes, um precursor longínquo de Thomas


Morus; outra vez, um cardeal da Renascença. A presença – e glória – de uma
figura assim, no século XII, basta para destruir o conceito convencional da
“Idade Média”; a

Destaque (azul) - Posição 6197

A alegoria é o instrumento supremo do humanismo medieval. No fundo, é o


mesmo processo pelo qual o público medieval se apoderou de Homero,
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Virgílio e Ovídio, transformando os personagens antigos em cavaleiros e


damas feudais. É um anacronismo enorme.

Destaque (azul) - Posição 6206


A Idade Média, assimilando a Antiguidade, parece incapaz de compreendê-
la. O grande obstáculo é o ascetismo. Ao “homo cluniacensis” a liberdade
grega do corpo e do espírito permanece incompreensível.

Destaque (azul) - Posição 6271

Um dos criadores do conceito “Idade Média” é o próprio goliardo. Foram as


sátiras e queixas incessantes contra o clero corrompido que contribuíram para
abolir o esquema historiográfico dos Padres da Igreja: o binômio Paganismo
– Cristianismo. Desde os cluniacenses e cistercienses fala-se em “renovatio”
da Igreja e em volta à pureza da Igreja primitiva. “Renovatio” é também o
lema das diversas “renascenças”, quer dizer, “renovatio” dos estudos
clássicos. E quando, no século XVI, as duas “renovationes” se encontraram,
o Humanismo e a Reforma, então toda a era entre o fim do paganismo e da
Igreja primitiva e, por outro lado, a renovação da Igreja e das escolas,
pareceu época intermediária, eclipse temporário do Espírito Santo e do
espírito humano.

Nota - Posição 6276

CONCEITO DE IDADE MÉDIA

Destaque (azul) - Posição 6276

para os protestantes, é o dogma do “Anticristo em Roma”; para os


humanistas e os seus sucessores, os livres-pensadores, é o dogma do
Progresso. A história apresenta-se como esquema tripartido: entre o brilho da
Antiguidade e da Igreja primitiva e o novo brilho do Humanismo e da Igreja
reformada, há a “Idade Média” escura.

Destaque (azul) - Posição 6280

O romantismo, tão apaixonado pela “Idade Média”, não conseguiu abolir o


erro, porque esse mesmo erro estava no conceito dos próprios românticos.
Tacitamente, aceitaram o esquema tripartido, apenas invertendo os valores: a
época moderna apareceu-lhes como fase de corrupção política e religiosa, e a
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“Idade Média” como idade áurea da monarquia feudal e da Igreja ortodoxa.


O “medievalismo” é progressismo às avessas.

Nota - Posição 6283


ROMANTISMO E MEDIEVALISMO

Destaque (azul) - Posição 6292

O símbolo é expressão artística do que é inefável; a alegoria é representação


intelectual do que é compreensível.

Nota - Posição 6293

SÍMBOLO E ALEGORIA

Capítulo IV OPOSIÇÃO, BURGUESA E


ECLESIÁSTICA
Destaque (azul) - Posição 7156

A Europa do século XII já não é a da época carolíngia; já não é só agrária,


latifundiária. Entre Flandres e a Itália, entre a Itália e o Oriente, entre o
Oriente e a Catalunha, há um comércio considerável, e os novos centros
desse comércio são as cidades. Por volta de 1050, é, segundo Pirenne, que a
cidade se torna importante. Alia-se aos bispos, na luta contra os senhores
feudais. Cidades e bispos, juntos, criam os fundamentos de uma nova
administração. Outros frutos dessa colaboração são as universidades e a
“Renascença do século XII”.

Destaque (azul) - Posição 7161

A cidade medieval tornar-se-á tão sistematicamente oposicionista que no seu


seio se irão criar todas as espécies de outras oposições.

Destaque (azul) - Posição 7164

Haverá a série interminável de lutas de classe, tão características da cidade


medieval, apenas mal compreendidas pela posteridade, por se apresentarem,
muitas vezes, disfarçadas em revoltas religiosas. Mas também haverá,
realmente, intervenção religiosa na luta de classes medieval:
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Destaque (azul) - Posição 7274


O universalismo ocidental baseava-se na aliança entre o papa e o rei dos
francos,

Destaque (azul) - Posição 7278

A primeira consequência da destruição do equilíbrio foi a luta entre o papa e


o imperador em torno da investidura dos bispos. Depois, vieram a oposição
da consciência nacional francesa contra o imperialismo político e eclesiástico
e o estabelecimento do Estado leigo dos normandos na Sicília. Essas
experiências históricas modificaram radicalmente a filosofia medieval da
História.

Destaque (azul) - Posição 7282

Santo Agostinho criara essa teoria no momento histórico em que a autoridade


do Império romano agonizava ou já havia desaparecido. Quando, porém, os
“gesta Dei per Francos” restabeleceram o Império, criou-se, dentro do
conceito agostiniano, uma antinomia entre Igreja e Império, que pretendiam,
ambos, representar a “Civita Dei”. Por volta de 1000, os cristãos esperavam
o Fim apocalíptico do mundo. Mas o Papado venceu; e então surgiu outra
dificuldade: a “Ecclesia triumphans” já não permitia pensar no próximo Fim
do Mundo, porque não pensava em demissão depois da vitória. Essas
dificuldades destruíram o universalismo medieval.

Destaque (azul) - Posição 7317

São Francisco de Assis322

Capítulo I O “TRECENTO”
Destaque (azul) - Posição 7526

NA HISTÓRIA da literatura italiana o século XIV, o “Trecento” é de uma


importância extraordinária.

Destaque (azul) - Posição 7529

os maiores gênios literários que a Itália produziu em todos os tempos –


Dante, Petrarca, Boccaccio –
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Destaque (azul) - Posição 7551


A Itália já possui uma literatura moderna, apoiada no renascimento das letras
antigas, quando o resto da Europa se encontra ainda “nas trevas medievais”.

Destaque (azul) - Posição 7554

De acordo com isso, iniciou-se, desde Burckhardt, a admiração ilimitada à


Renascença italiana, que teria criado o homem moderno e a civilização
moderna.

Nota - Posição 7555

RENASCENÇA ITALIANA

Destaque (azul) - Posição 7561

O século XIV é uma época de intenso comércio internacional332.

Destaque (azul) - Posição 7568

Essa civilização comercial estava concentrada nas cidades, e havia certa


uniformidade de costumes entre as cidades italianas e as setentrionais; mas
havia diferenças essenciais na estrutura social333. Nas cidades flamengas,
francesas e alemães, os comerciantes ricos empregavam o dinheiro em
compras de terrenos fora dos muros; tornaram-se latifundiários. A
aristocracia feudal, gozando ainda de privilégios políticos, mas já privada dos
privilégios econômicos, mudou-se com frequência para as cidades,
chegando-se a relações íntimas entre as duas classes dirigentes. Nasceu o
patriciado urbano.

Destaque (azul) - Posição 7575

criou-se a bolsa de valores.

Nota - Posição 7575

BOLSA DE VALORES

Destaque (azul) - Posição 7578

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o clero perdeu a consideração e proletarizou-se em grande parte, formando as


massas dos “vagantes”, vagabundos latinos; entre os escritores aparecem
com frequência aristocráticos aburguesados. Na Itália, isto é, no Norte e no
Centro da península, o feudalismo está praticamente abolido.

Nota - Posição 7580

FEUDALISMO ABOLIDO NA ITÁLIA

Destaque (azul) - Posição 7585

No “Trecento”, estes “clérigos” estão ainda ligados ao movimento religioso.


No “Quattrocento”, tornam-se independentes, já são “humanistas” – só então
a “tese clássica” de Carducci se justifica. Neste sentido limitado, o
“Trecento” italiano é essencialmente medieval, preparando, porém, a
Renascença do século XV.

Destaque (azul) - Posição 7621

Nas poesias do “dolce stil novo” tampouco se revela paixão erótica; ao


contrário, tudo é mais espiritualizado, a jurisprudência é substituída pela
filosofia escolástica e pela teologia. A alegoria é mais frequente, a forma
artística mais rigorosa; aparecem novas formas estróficas e, finalmente, o
soneto.

Destaque (azul) - Posição 7682

Os caracteres mais diferentes e as classes inimigas viveram juntos nessas


cidades minúsculas, em ruas estreitíssimas, todos eles amargurados e
apaixonados pelo furor das lutas partidárias, pelo ardor dos sentimentos
religiosos e o ciúme das competições comerciais, pelas invejas e ódios
pessoais e pelo individualismo inato da raça. Cada pedra nas ruas daquelas
cidadezinhas tem significação histórica, e deve isso não só ao gênio dos
habitantes, mas também à tragédia que era a sua vida. O testemunho dessa
tragédia é a Cronica de Dino Compagni342.

Destaque (azul) - Posição 7695

Epopeias são leitura difícil. O gênero morreu há muito, deixando inúmeras


falhas e uns poucos monumentos grandiosos que representam épocas

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passadas da humanidade; por isso, é indispensável conhecer Homero e


Virgílio, Ariosto e Spenser, Camões, Tasso e Milton. Mas é mais fácil
admirá-los do que gostar deles. Se desaparecessem todas as imposições da
escola e da convenção de uma “cultura geral”, teríamos de confessar que as
grandes epopeias são hoje pouco legíveis. É preciso estudá-las; teremos de
admirar inúmeros pormenores geniais e o plano grandioso; mas é impossível
lê-las assim como se lê uma obra de literatura viva. Dante é a única exceção.

Nota - Posição 7700


EPOPEIA

Destaque (azul) - Posição 7715

O título, algo estranho, corresponde a uma estética desaparecida: a


“comédia”, segundo Dante, seria um poema que começa por coisas penosas
para terminar em felicidade, assim como a história sacra da Humanidade
começa com o pecado original e termina com a redenção. Neste sentido,
Dante pode chamar “comédia” à sua obra cósmica,

Destaque (azul) - Posição 7779

Há uma atmosfera fria, quase irrespirável, em torno de Dante, do homem que


se purificou aproximando-se da perfeição celeste. Nenhuma outra criatura
humana sugere de tal modo a impressão do gênio e da sua solidão imensa.
Mas essa solidão não é a do artista, afastado do mundo. É a do homem
político, do homem de partido, derrotado pelos adversários e exilado da
pátria. Dante pôs tudo na Comédia: seu amor, sua religião, sua erudição, e
sua paixão política. No fundo, a Comédia é um panfleto político como
nenhum outro foi escrito, antes ou depois, uma tentativa de aprisionar nas
“flamas cantantes das suas terzinas” os inimigos vitoriosos, o Papa e os seus
aliados, os “republicanos” dos “comuni”. Enfim, o exilado já não quis
pertencer a partido nenhum; em isolamento glorioso, tinha “fatta parte per se
stesso”. Continuava fiel ao seu imutável credo político, a unidade do Império
cristão sob o condomínio do Imperador e do Papa; e quando viu derrotado
esse ideal, apelou para a posteridade: seu libelo de apelação é a Comédia.

Destaque (azul) - Posição 7791

De Monarchia é o erudito discurso fúnebre da monarquia universal da Idade


Média.
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Destaque (azul) - Posição 7804


O que Dante desejava era o estabelecimento do primado da ética sobre a
política; por isso, Bonifácio VIII, o Papa político, fica colocado no Inferno.

Destaque (azul) - Posição 7813

o “Inferno”, sim, seria um reflexo satírico – sátira trágica – do mundo real e


por isso acessível à nossa sensibilidade: o “Purgatório” seria, apenas,
repetição mais fraca do “Inferno”, e o “Paraíso”, enfim, uma abstração,
teologia escolástica em versos; para a grande maioria dos leitores o “Paraíso”
não existe. Ler assim a Divina Comédia significa trair o poeta.

Destaque (azul) - Posição 7823

O que no Céu é religião, na Terra é política; e o Purgatório é a ponte entre a


imperfeição humana e a perfeição divina.

Destaque (azul) - Posição 7864

O Papado, que fora capaz de vencer o Império universal, sucumbira ao


Estado nacional dos franceses.

Destaque (azul) - Posição 7865

A outra coluna do universalismo, a eclesiástica, também estava quebrada.


Entre os clérigos, refugiados em Avignon, reinava a nostalgia da Roma
longínqua. Lá nasceu o humanismo, não como grito de revolução de uma
nova época, mas com sentimento de crepúsculo, mentalidade de gente culta,
perdida entre bárbaros grosseiros. O ideal dos clérigos de Avignon encontra o
seu modelo entre os romanos cultos da última fase da República.

Nota - Posição 7868

HUMANISMO ECLESIÁSTICO

Destaque (azul) - Posição 7870

Dante encontra na Antiguidade um ideal político: a monarquia universal dos


césares. Petrarca encontra na Antiguidade um ideal humano: o do intelectual
culto, com as qualidades do espírito bem formado.

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Destaque (azul) - Posição 7889


Lutam, na sua alma, o católico ortodoxo e o precursor da Reforma, o
intelectual moderno e o asceta medieval, e essa ambiguidade é o motivo da
sua poesia:

Destaque (azul) - Posição 7892

Petrarca é, na literatura, um grande revolucionário.

Destaque (azul) - Posição 7960

Petrarca é o primeiro intelectual moderno.

Destaque (azul) - Posição 7968

O humanismo pensativo de Petrarca não entra em cabeças de burgueses. Mas


na cabeça burguesa de Boccaccio entrou outro humanismo: a Antiguidade
como paisagem de espírito, na qual não existe ascetismo.

Destaque (azul) - Posição 8029

A Idade Média é a época da filosofia escolástica; mas também é a dos poetas


“goliardos”.

Destaque (azul) - Posição 8037

O “Trecento” italiano criou três gêneros inteiramente novos; inteiramente


novos porque informados por um novo espírito: a epopeia intelectual, a lírica
pessoal, o conto realista.

Capítulo II REALISMO E MISTICISMO


Destaque (azul) - Posição 8310

A alegoria é a arma do pensamento medieval para classificar todas as coisas


deste mundo como partes significativas da Criação hierarquicamente
organizada. A alegoria da Idade Média decadente já tem mais outra função:
serve para dar significação espiritual a coisas novas que não se adaptam bem
ao Cosmos medieval, como que para lhes conferir direito de cidadania.

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Destaque (azul) - Posição 8375


Se não fosse Dante, Geoffrey Chaucer355 seria o maior poeta no intervalo
entre a Antiguidade e os tempos modernos.

Destaque (azul) - Posição 8377

Porque Chaucer é o Dante inglês, o pai da literatura inglesa. Criou-a,


rompendo a tradição insular dos anglo-saxões, realizando aquela fusão de
elementos germânicos e elementos latinos que é o traço característico da
literatura inglesa.

Destaque (azul) - Posição 8435

O conceito da vida mística como “caminho” é de origem neoplatônica.

Destaque (azul) - Posição 8440

Meister Eckhart (c. 1260-1327). É um caminho de exploração filosófica da


alma, de psicologia mística.

Destaque (azul) - Posição 8443

O maior entre os místicos é Jan van Ruusbroec357,

Destaque (azul) - Posição 8446

um dos grandes neoplatônicos da história da filosofia.

Destaque (azul) - Posição 8472

Villehardouin359, cavaleiro feudal e salteador nas estradas reais; é muito


diferente do monge inglês, mas descreve da mesma maneira a conquista
traidora de Bizâncio pelos “cruzados”: homem prático, devoto como os
outros e cruel como eles.

Destaque (azul) - Posição 8483

A intervenção da imaginação fantástica começa com o catalão Ramón


Muntaner361, cronista das grandes conquistas da casa de Aragão, de Maiorca
até Atenas. É como se a luz mediterrânea o deslumbrasse; a crônica torna-se
epopeia de façanhas de cavaleiros andantes.
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Destaque (azul) - Posição 8486


É contemporâneo do famoso Marco Polo362,

Destaque (azul) - Posição 8512

Pero López de Ayala365, grande e chanceler de Castela, é humanista; leu


com proveito os historiadores romanos.

Destaque (azul) - Posição 8516

O grande historiador de Aljubarrota é o português Fernão Lopes366.

Destaque (azul) - Posição 8522

A posteridade preferiu Philippe de Commynes367,

Destaque (azul) - Posição 8537

A unidade religiosa da Europa medieval produz as aparências de paz social


entre as classes. Essa ideia romântica de uma Idade Média em que senhores,
burgueses e camponeses estavam de mãos dadas, passando a vida a cantar
hinos, é tão antiquada que não vale a pena discuti-la.

Destaque (azul) - Posição 8540

Na verdade, só uma Idade Média dilacerada por lutas de classe, como todas
as outras épocas do passado, é compreensível, porque humana.

Destaque (azul) - Posição 8541

A verdadeira glória da Idade Média é outra: das lutas de classes medievais


nasceram os princípios das garantias constitucionais da liberdade pessoal, se
bem que só em favor dos feudais, e o da soberania popular, embora só em
favor dos príncipes contra a Igreja ou das cidades contra os príncipes.

Destaque (azul) - Posição 8549

Um dos documentos mais fortes da literatura burguesa é a segunda parte do


Roman de la Rose370, obra de Jehan de Meung, por volta de 270.

Destaque (azul) - Posição 8568


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Jehan de Meung é o primeiro representante da aliança entre a burguesia e os


intelectuais, daquela aliança que fará, cinco séculos mais tarde, a Revolução
Francesa.

Nota - Posição 8569

BURGUESES E INTELECTUAIS E A REVOLUÇÃO FRANCESA

Destaque (azul) - Posição 8575

Marsilius de Pádua, reitor da Universidade de Paris, expõe em Defensor


pacis (1324) a teoria da soberania do povo e exige a separação entre Estado e
Igreja.

Nota - Posição 8576

ESTADO X IGREJA

Destaque (azul) - Posição 8577

De Oxford saiu John Wyclif371, lutando contra abusos políticos, sociais e


eclesiásticos, pedindo a expropriação dos bens da Igreja, negando o dogma
da transubstanciação, divulgando entre o povo a sua tradução vigorosa da
Bíblia.

Destaque (azul) - Posição 8590

Roman de la Rose.

Destaque (azul) - Posição 8594

Petr Chelčicky373 é um anarquista eslavo, revolucionário religioso,


democrata apocalíptico, que aterroriza os ricos e poderosos com a ameaça do
último dia; a sua obra Rede da Fé será, quatro séculos mais tarde, uma das
leituras preferidas de Tolstoi.

Destaque (azul) - Posição 8633

mas Sannazzaro já havia criado o sonho da Arcádia, e o homem rústico


tornou-se herói de uma imensa literatura idílica, no momento em que a

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palavra inglesa villain, significando “camponês”, mudou de acepção,


designando agora “malandro”;

Nota - Posição 8635


CAMPONÊS - VILLAIN - MALANDRO

Destaque (azul) - Posição 8637

As lutas de classe, sociais e literárias, da Idade Média, escondem-se atrás da


aparente unidade religiosa.

Capítulo III O OUTONO DA IDADE MÉDIA


Destaque (azul) - Posição 9010

Mas os homens do século XV são violentos, sensuais, desmesurados,


incapazes de desespero ou de resignação estoica; com força pretendem
apanhar a vida que lhes escapa, e a sua grande obsessão é o medo de perdê-la
para sempre: a ideia fixa do século é a morte. O grande historiador holandês
Jan Huizinga, ao qual devemos a análise dessa época385, definiu-a pela
fórmula insubstituível: “Outono da Idade Média”. Verificou os típicos
estados de alma: o sonho do ideal de cavalaria; o sonho de uma vida pacífica
e idílica; e a obsessão da morte.

Destaque (azul) - Posição 9021

O fato fundamental é a crise agrária imediatamente anterior às grandes


descobertas geográficas. Com essa crise – crise de comercialização dos
campos – o feudalismo perdeu o sentido. A expressão técnica dessa mudança
é a modificação da arte militar pela pólvora e o canhão386. Qualquer
mercenário ou plebeu, capaz de manejar uma arma de fogo, é agora mais
poderoso do que o senhor mais ilustre; a bravura pessoal já não adianta. A
democratização de uma arte tão cruel como a da guerra significa plebeização;
a partir de então a brutalidade invadirá todos os setores da vida.

Destaque (azul) - Posição 9040

A alegoria do “flamboyant” serve para disfarçar a realidade desagradável,


para transfigurar a brutalidade em bravura, a sensualidade em amor e a

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pobreza em Arcádia. Só um fator da vida real não pode ser elidido por
nenhuma alegoria: a morte. Daí a obsessão fúnebre da época.

Destaque (azul) - Posição 9118


O “flamboyant” debate-se entre as exigências físicas e as imposições
espiritualistas; na península Ibérica mais do que em qualquer outra parte.

Destaque (azul) - Posição 9190

A literatura bucólica inicia-se com uma atitude de significação social.


Sempre que a aristocracia se sente ameaçada, descobre as origens rurais do
seu poder e faz uma tentativa de aliar-se ao povo dos campos contra a
burguesia.

Destaque (azul) - Posição 9358

François Villon415 é o último goliardo: clérigo da Universidade de Paris,


degradado até à devassidão, mendicância, embriaguez, roubo e assassínio.
Homem medieval, e, ao mesmo tempo – o maior milagre poético de todos os
tempos – um homem inteiramente moderno em pleno século XV: poeta
nosso.

Capítulo I O “QUATTROCENTO”
Destaque (azul) - Posição 9708

catedral de Santa Maria Del Fiore

Destaque (azul) - Posição 9752

Os novos “clérigos” que substituem os da Igreja no serviço da nova


aristocracia são os humanistas. À transformação do individualismo
econômico da burguesia italiana em individualismo literário corresponde a
transformação do clero revoltado da Idade Média italiana em “Intelligentzia”.
Os humanistas fornecem as ideologias à República, considerada como obra
de arte política, e ao desenvolvimento harmonioso do indivíduo; justificam a
nova mentalidade pela citação dos modelos da Antiguidade; conquistam
novas regiões da alma, da paisagem, do Planeta, para alargar o campo da
experiência humana, seguindo a alargamento geográfico das atividades
econômicas. Ora, o Estado como obra de arte, o desenvolvimento do
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indivíduo, a revivificação da Antiguidade e a descoberta de Homem e Mundo


são, segundo Burckhardt, os traços essenciais da Renascença.

Nota - Posição 9758


TRAÇOS ESSENCIAIS DA RENASCENÇA

Destaque (azul) - Posição 9762

São “tiranos” – burgueses, fazendo negócios políticos – os grandes


condottieri que se apoderaram, pelas armas e pelo dinheiro, do Estado:

Destaque (azul) - Posição 9768

O individualismo é tradição na Itália. A sua primeira forma é a solidão do


grande exilado: Dante. Os exílios, tão frequentes nas repúblicas turbulentas
do “Quattrocento”, libertam o indivíduo da estreiteza das cidades medievais,
ensinam o cosmopolitismo. Nasce o “uomo universale”, esse tipo bem
renascentista, encarnado pela primeira vez em Petrarca; e a maior aspiração
desse homem universal é a “Glória”.

Nota - Posição 9771

GLÓRIA

Destaque (azul) - Posição 9774

A tradição romana – e os estudos de literatura romana – nunca sofreu


interrupção durante a Idade Média. Mas só o renascimento dos estudos
gregos, pela influência de bizantinos eruditos como Gemistos Pleton,
Bessarion, Theodoros Gaza e tantos outros, começa o verdadeiro
humanismo420.

Destaque (azul) - Posição 9778

O desenvolvimento dos estudos clássicos durante o “Quattrocento” é enorme.


É um grande movimento científico e literário421, localizado nos centros da
vida italiana.

Destaque (azul) - Posição 9839

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O nominalismo substitui as abstrações e generalizações pelos objetos


concretos e pelos indivíduos, assim como a beleza abstrata e celeste do
“Trecento” é substituída, no “Quattrocento”, pela beleza concreta, terrestre,
física.

Destaque (azul) - Posição 9908

Na Itália, o feudalismo acabou mais cedo do que em outra parte, e a literatura


italiana não possui “epopeia nacional”. Em compensação, produziu uma
literatura de escárnio popular contra o feudalismo; o cume dessa literatura é a
epopeia herói-cômica de Pulci, que é ao mesmo tempo o testemunho mais
forte do realismo do “Quattrocento”.

Destaque (azul) - Posição 9965

O reverso da medalha é a desvalorização do humanismo: antigamente, os


humanistas pareciam pensadores corajosos, precursores da Reforma e até do
livre-pensamento; agora, parecem passadistas, reacionários, idólatras de um
outro passado que não o cristão – a diferença importa pouco – substituindo a
fé cega nas autoridades da Igreja pela fé cega nas autoridades Cícero e
Sêneca. Evidentemente, é preciso reconsiderar o problema inteiro,
procurando uma distinção mais nítida entre Renascença e Humanismo434.

Destaque (azul) - Posição 10125

O “Quattrocento” é época de profundos interesses religiosos que deixaram


vestígios importantes na literatura442.

Destaque (azul) - Posição 10155

O espírito renascentista, de feição estética, personifica logo esses obstáculos


como Fortuna, a deusa arbitrária, que é a inimiga do mérito pessoal e
portanto da Glória, tão cobiçada pelos condottieri e pelos humanistas. À
Fortuna os humanistas opõem a resignação estoica, ou então a evasão para o
reino do espírito puro, das ideias platônicas. Ou então, procuram conquistar
forças sobre-humanas, dedicando-se às ciências ocultas.

Destaque (azul) - Posição 10171

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Será fácil afirmar que esse individualismo causou a ruína política da Itália;
outros motivos mais fortes intervieram para isso. Mas o individualismo
impediu, até Maquiavel, a formação de uma doutrina política coerente.
Quanto à vida pública, havia três atitudes diferentes, conforme as classes: a
evasão, atitude da aristocracia vencida; a retirada para a vida particular e
econômica, atitude da burguesia; e a revolução democrática, atitude popular
que assume – o que é muito significativo – feição de revolta religiosa contra
o paganismo das classes altas da sociedade. Serão as atitudes de Sannazzaro,
Alberti e Savonarola.

Destaque (azul) - Posição 10195

A Arcadia é o sonho de uma vida mais feliz, mais pura; não um sonho
fantástico, mas sonho de um artista consciente.

Destaque (azul) - Posição 10205

Intercenali: uma teoria completa da luta entre a “Fortuna” e a “Virtù”


humana. A “virtù” de Alberti e da Renascença inteira não é a virtude cristã.

Destaque (azul) - Posição 10209

São as armas do homem contra a “Fortuna”, o jogo arbitrário dos acasos; o


grande indivíduo vencerá com essas armas o mundo e conquistará a
“Glória”; no caso do indivíduo comum, a “Fortuna” revela-se como autêntica
superestrutura do ambiente, já não feudal, já não medieval, mas ainda não
burguês, ainda cheio de obstáculos irracionais contra o desejo de levar uma
vida racional e equilibrada. “Virtù” contra “Fortuna”, eis o começo da luta
pela racionalização da vida. Primeiro, da vida em família e nos negócios; só
depois, no Estado. Leone Battista Alberti é o primeiro gênio da burguesia. O
passado foi da aristocracia. O futuro será da burguesia.

Destaque (azul) - Posição 10219

Savonarola é representante máximo, não da hostilidade contra a Renascença,


mas da outra Renascença, cristã e popular, que com os monges de são
Francisco começara e com esse monge de são Domingos acabou.

Destaque (azul) - Posição 10225

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Savonarola é medieval, reacionário, sim, se a reação popular contra a


burguesia aristocratizada pode ser considerada reacionária.

Destaque (azul) - Posição 10230

A ameaça do povo cristão estava dirigida contra duas forças até então
inimigas ou separadas: a Igreja e o humanismo. O caso Savonarola acabou
com a rivalidade entre elas. Igreja e humanistas, igualmente ameaçados,
concluirão uma aliança; e essa aliança é o que constitui o espírito do
“Cinquecento”.

Nota - Posição 10232

IGREJA SE UNE AOS HUMANISTAS

Capítulo II O “CINQUECENTO”
Destaque (azul) - Posição 10491

A literatura do “Cinquecento”, em vez de apresentar um modelo de síntese


equilibrada, saudade dos italianos humilhados do século XVII, acompanha
uma tragédia: a tragédia nacional da Itália. Faz-se mister uma reinterpretação
completa do “Cinquecento”.

Destaque (azul) - Posição 10498

Outro conceito que mudou de significação foi o platonismo: o do


“Quattrocento” procura a reconciliação da nova mentalidade com
cristianismo, cria uma mística e quase uma religião sincretista; o platonismo
do “Cinquecento” é cristão, pretende continuar e apoiar a tradição cristã, ou
então – no caso do neoplatonismo erótico – substituí-la.

Destaque (azul) - Posição 10526

Em Roma não é possível o realismo do “Quattrocento”. Tudo ali é grandioso,


clássico, e o poder que lá reside tende sempre a identificar-se com a Roma
antiga. Os humanistas de Roma sentiam-se romanos. Identificaram a Roma
antiga com a Itália atual. O ideal do “super-homem” burguês-aristocrático do
“Quattrocento” tem agora um conteúdo mais concreto, um conteúdo romano,
italiano, nacional. A literatura dessa gente será grandiosa, pomposa, entre o
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digno e o bombástico, com veleidades de zombar dos incultos e dos


estrangeiros bárbaros. Se o fundamento dessa civilização fosse aristocrático,
já seria uma literatura barroca. Mas essa civilização é, apesar das
grandiosidades romanas, essencialmente burguesa, e assim nasce o fenômeno
que é típico das civilizações burguesas: o classicismo.

Nota - Posição 10532


CLASSICISMO

Destaque (azul) - Posição 10541

Ludovico Ariosto451, apesar do seu gênio, é um dos poetas mais “fáceis” da


literatura universal.

Destaque (azul) - Posição 10593

Dominando a realidade pela arte, Ariosto é um clássico. O classicista adapta


a sua arte ao mundo, enfeitando-o com decorações ilusórias; por isso os
classicismos servem tão bem às civilizações burguesas, nas quais a arte só
tem a função de um ornamento. Esse conceito é aplicável a grande parte da
literatura cinquecentista,

Destaque (azul) - Posição 10716

O produto mais vivo da literatura classicista é a comédia469, embora sem


sair da imitação de Plauto. Parece que escrever comédias plautinas, com os
conhecidos pais estúpidos e avarentos, filhos enamorados, moças duvidosas e
criados astutos, era negócio de toda a gente. Ariosto470 é um dos primeiros
cultores da comédia plautina, e dos mais felizes; e a obra-prima no gênero
será de Maquiavel.

Destaque (azul) - Posição 10768

Do humanismo não pôde vir a salvação; estava comprometido demais com


os poderes estabelecidos, antigos e novos. Exemplo disso é o famoso
“Lorenzaccio”, Lorenzino de Medici477, autor da Aridosia, uma das
melhores comédias plautinas do século.

Destaque (azul) - Posição 10775

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O Estado já não era, como no “Quattrocento”, uma obra de arte, e sim um


teatro de crimes, e os humanistas foram os aliados dos criminosos,
elogiando-lhes a “virtù” que teria vencido a “Fortuna”. A atitude catilinária já
era anacrônica.

Destaque (azul) - Posição 10824

Confundindo Maquiavel com os maquiavelistas, somos levados a imaginar


um Maquiavel reacionário feroz e advogado da violência. Mas já a verdade
biográfica revela uma personalidade diferente. Niccolò Machiavelli483 foi
inimigo da revolução democrático-religiosa de Savonarola, porque sabia que
o poder devia permanecer, à la longue, com os ricos e conservadores.

Destaque (azul) - Posição 10854

Maquiavel considerava a história romana como “história ideal”, cujas


situações e personagens sempre se repetem, de modo que é possível extrair
delas normas de comportamento político para todos os tempos. E, com efeito,
de Carlos V e os Papas da Renascença, através de reis, jesuítas, tribunos,
chefes de indústria e chefes de revolução, até os parlamentários antiquados
de anteontem e os ditadores moderníssimos de ontem, todos aplicaram o
“maquiavelismo”, do qual Maquiavel não foi o inventor, mas o médico que o
diagnosticou. Foi um historiador convencional do passado e um historiador
inconvencional do futuro.

Nota - Posição 10858

MAQUIAVEL

Destaque (azul) - Posição 10864

A inteligência é a primeira qualidade que ele exige do seu “príncipe” ideal; o


resto importa menos. Não por meio de frases bonitas a Itália será salva, mas
por meio de uma ação enérgica conforme projetos inteligentes. Eis o
programa político de O Príncipe, recomendando a violência e permitindo a
fraude e tudo. É o manual dos tiranos, proclamando a separação absoluta
entre a moral e a política.

Destaque (azul) - Posição 10869

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Já se disse que O Príncipe ensina a fundar um regime; e os Discorsi, a mantê-


lo. Mas será melhor admitir que Maquiavel foi realmente amoralista; apenas,
com uma grande saudade no coração, desejando que a separação entre a
política e a moral deixasse de existir.

Destaque (azul) - Posição 10889

Era um exilado, como Dante, passadista como Dante, visionário de uma


utopia política como Dante. Maquiavel é o único entre os muitos exilados
italianos capaz de figurar ao lado de Dante sem ser esmagado.

Destaque (azul) - Posição 10966

Em Teofilo Folengo488, vida e poesia não se harmonizam bem.

Destaque (azul) - Posição 10970

A Moschea é uma epopeia herói-cômica, à maneira da Batrachomyomachia


grega. E logo depois vem a grande obra: o Baldus.

Destaque (azul) - Posição 11045

O seu amigo Miguel Ângelo Buonarroti495, a personalidade de artista mais


poderosa de todos os tempos,

Destaque (azul) - Posição 11060

O que assustou os primeiros leitores das Rime e continua a assustar críticos


mais recentes é a língua “trecentesca”, “bárbara”, de Miguel Ângelo em
pleno “Cinquecento”. A sua poesia é, de fato, poesia “dantesca”, poesia da
beleza espiritual.

Destaque (azul) - Posição 11086

O teórico do conformismo burguês é Francesco Guicciardini497.

Destaque (azul) - Posição 11093

Nem Florença nem a Itália o preocupam; são objetos da historiografia. O seu


assunto é o homem isolado, o indivíduo, mas não o grande indivíduo da
Renascença, e sim o burguês que deseja viver em paz. Daí o anti-heroicismo
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dos seus Ricordi politici e civili que irritou os patriotas italianos de todos os
tempos.

Destaque (azul) - Posição 11103


Depois do tempo de Guicciardini, o classicismo político e literário já não é
possível. O concílio de Trento e a dominação espanhola acabam radicalmente
com os ideais da Renascença. A literatura culta encaminha-se para o barroco,
civilização pseudo-aristocrática, pseudorreligiosa e pseudo-erudita,
civilização internacional, na qual, como na Itália, os espanhóis dominam.

Nota - Posição 11105

FIM DA RENASCENÇA - BARROCO

Capítulo III RENASCENÇA INTERNACIONAL


Destaque (azul) - Posição 11545

Da colaboração entre os príncipes e os doutores em Teologia nasceu o


conceito da nação política dentro da Igreja universal.

Destaque (azul) - Posição 11558

O outro grande obstáculo à formação das nações, a par da Igreja romana, é a


aristocracia feudal. Em toda a parte, a cristalização das nações consuma-se
com a derrota do feudalismo pelo poder absoluto dos reis: na Inglaterra, já
nos fins do século XV, com a dinastia Tudor; na França, só com Richelieu e
Luís XIV. O aliado dos reis contra a aristocracia feudal é a burguesia urbana,
interessada na formação de maiores unidades territoriais com justiça igual e
comunicações livres. Pela vitória da burguesia, o século XIX tornar-se-á o
século do nacionalismo.

Nota - Posição 11560

ABSOLUTISMO DERROTA O FEUDALISMO E SE FORMAM AS


NAÇÕES

Destaque (azul) - Posição 11572

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Os humanistas são, durante a Renascença, os substitutos literários do clero


católico.

Destaque (azul) - Posição 11574

o humanismo renascentista transforma-se em jesuitismo barroco;

Destaque (azul) - Posição 11576

Em consequência, a literatura europeia da Renascença é internacional,


humanista e aristocrática.

Destaque (azul) - Posição 11581

Os agentes daquele internacionalismo são os humanistas, continuando, com


força maior do que na Itália, uma poderosa literatura em língua latina.

Destaque (azul) - Posição 12045

Edmund Spenser546

Destaque (azul) - Posição 12074

O verdadeiro assunto do poema fantástico – obra de um inglês de grandes


interesses políticos – é a luta entre protestantismo e catolicismo na Inglaterra,
as relações da rainha Elizabeth e da rainha Maria Stuart, a noite de são
Bartolomeu, a revolução dos Países-Baixos contra a Espanha, situação e
consequências da dominação inglesa na Irlanda, e a ascensão do rei Henrique
IV da França. Spenser canta a vitória do novo mundo sobre o mundo
medieval, católico, e esse novo mundo é, na mente do poeta, regido pela
síntese do cristianismo calvinista e do platonismo cristão de Ficino: os ideais
religiosos e políticos da Reforma, vestidos da beleza artística da Renascença.
Spenser, como Dante, dá a síntese da sua época.

Destaque (azul) - Posição 12091

Enquanto a criação romântica de Spenser pode ser considerada como


tentativa de conferir um novo sentido ao ideal aristocrático – o cavaleiro da
Renascença como campeão de uma causa “moderna” – esse romantismo tem
um pendant na realidade: o cavaleiro da Renascença, descobrindo,
conquistando e colonizando novos mundos. A tarefa foi principalmente de
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três nações: dos portugueses, espanhóis e ingleses; e as respostas literárias


eram tão diferentes como as reações políticas e sociais.

Destaque (azul) - Posição 12152


Um dos elementos da grandeza de Luís de Camões556 é a perfeita unidade
de subjetivismo e objetivismo na sua obra. Os portugueses consideram-no,
com razão, poeta clássico, no sentido da Renascença virgiliana e humanista.
Mas os românticos alemães e ingleses,

Destaque (azul) - Posição 12219

Camões é um dos maiores poetas elegíacos de todos os tempos. A sua lírica


não é propriamente original; a influência de Petrarca era poderosa demais.

Destaque (azul) - Posição 12241

A alegoria bíblica encobre dois sentidos: o literal, expressão do exilado de


Portugal, e o místico, expressão da alma exilada na Terra;

Destaque (azul) - Posição 12250

Camões ocupa na literatura portuguesa o lugar de Dante na literatura italiana:


a sua grandeza sufocou os posteriores.

Destaque (azul) - Posição 12334

Os motivos da impossibilidade de aclimatizar na França a égloga italiana


revelam-se, em parte, na poesia de Claude Gauchet574: a descrição bastante
realista e sincera da vida rústica é interrompida pelas amargas lamentações
dos campônios, que aparecem, por sinal, com nomes franceses, como
Philippot e Michaut, em vez dos convencionais nomes gregos; queixam-se da
devastação do país pelas guerras religiosas, da brutalidade dos mercenários e
da indiferença dos grandes com respeito aos sofrimentos do povo. É evidente
que campos assim maltratados não se prestavam para teatro de idílios de
evasão. As últimas églogas francesas são meras peças de salão: tais as
Eglogues de Jean Regnauld de Segrais (1624-1701), poeta “précieux”.

Destaque (azul) - Posição 12377

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Do ponto de vista histórico, o mais importante romance pastoril do século


XVI é a Arcadia (publicado em 1590), de Sidney582: é a fusão mais
completa do romance pastoril com o romance de cavalaria.

Destaque (azul) - Posição 12416

A poesia lírica petrarquesca, o poema romântico-fantástico e os gêneros


pastoris são as principais formas de expressão da Renascença aristocrática. A
aristocracia é, ao lado da Igreja romana e do Humanismo, uma das forças
internacionais da época, e, por isso, a Renascença aristocrática foi uma
Renascença internacional;

Destaque (azul) - Posição 12423

Na Polônia, a competição do Humanismo com as questões religiosas da


Reforma produziu na culta aristocracia rural um movimento comparável à
Pléiade francesa, movimento do qual Jan Kochanowski588 é o maior
representante; um poeta realmente grande.

Destaque (azul) - Posição 12435

Um representante do tipo “cortegiano” na Hungria é Balint Balassa589;

Destaque (azul) - Posição 12469

internacionalismo aristocrático do século XVI encontrou a sua expressão


mais poderosa e mais trágica fora da literatura na pessoa do imperador Carlos
V, que pretendeu, pela última vez, realizar a monarquia universal segundo o
conceito de Dante, e que sucumbiu contra as forças unidas do patriotismo
francês, do protestantismo alemão – e do Papa, transformado em príncipe
italiano renascentista.

Destaque (azul) - Posição 12480

Em vez da monarquia universal, nasceu a Espanha barroca, grande potência


europeia e Império colonial; a primeira estrutura política na qual a
aristocracia fora substituída pela burocracia.

Destaque (azul) - Posição 12482

O futuro pertence ao absolutismo e ao Barroco.


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Destaque (azul) - Posição 12553


O maior representante do estoicismo da Renascença é Justus Lipsius599, o
grande latinista que reconstituiu o texto de Tácito, comentou Cícero e criou a
arqueologia científica.

Destaque (azul) - Posição 12557

Dogma e liturgia significavam pouco para ele, porque tinha na alma outra
religião: o estoicismo, que não era, para ele, erudição morta, e sim uma
norma de viver, para conservar, nas tempestades das guerras de religião, o
equilíbrio

Destaque (azul) - Posição 12563

Sobre Montaigne600 será quase impossível dizer algo de novo. Escrevendo


sobre ele, saem lugares-comuns a que não se pode fugir, ou então opiniões
heréticas que irritam toda a gente. Não é de esperar outra coisa, porque o
próprio Montaigne é assim: o seu livro de Essais é uma coleção de lugares-
comuns sobre arte de viver, educação dos filhos e a arte de aprender a
morrer, lugares-comuns que se encontram em toda a parte na literatura
antiga, especialmente em Cícero e Horácio, Sêneca e Plutarco, fartamente
citados e parafraseados pelo humanista francês.

Destaque (azul) - Posição 12588

Montaigne – pelo menos no ponto de partida – não pretende fazer literatura;


mais tarde chegou a criar um gênero literário, o ensaio.

Nota - Posição 12589

ENSAIO LITERÁRIO

Destaque (azul) - Posição 12602

Não tinha compromissos com ninguém, nem quis aceitá-los; nem


compromissos de ação nem de crença. Assim, criou duas coisas que já
existiam em todos os tempos – Montaigne é o homem dos lugares-comuns –
mas que só por intermédio de Montaigne têm existência literária,
consagradas por assim dizer pela oposição geral: a “torre de marfim” e o
cepticismo. A interdependência dos dois conceitos é evidente. Só o homem
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de fé certa, dogmática, pode agir, e a consequência humana, demasiadamente


humana, do dogmatismo, é o fanatismo, a briga e a guerra civil, ao passo que
a dúvida paralisa essas convulsões e dá a paz. Montaigne é céptico por
pacifismo. Não é contra este nem contra aquele dogma, porque todos os
dogmas lhe parecem perigosos. Tudo em que os homens acreditam e em que
baseiam os seus grupos, seus partidos e a sociedade, é perigoso.

Destaque (azul) - Posição 12612


Há misérias que ele desconhece, misérias do corpo e misérias da alma, e
quem soube disso melhor do que Montaigne foi Pascal.

Destaque (azul) - Posição 12617

Já se disse que a história espiritual da nação francesa é um diálogo perpétuo


entre Montaigne e Pascal; e se lhes substituirmos os nomes pelos de Pelágio
e santo Agostinho, então poderemos substituir a nação francesa pela
Humanidade inteira.

Destaque (azul) - Posição 12745

Thomas Deloney607, um dos escritores mais curiosos da literatura inglesa,


tão rica em figuras singulares.

Destaque (azul) - Posição 12754

Deloney é um “reacionário”, pleiteando, contra a nova burguesia comercial, a


volta à estrutura social da Idade Média. É esse reacionarismo um aspecto,
digno de nota, de grande parte da literatura popular do século. A tendência
contrária, levando à ciência e técnica da burguesia, manifesta-se no
empirismo. O precursor é Leonardo da Vinci608:

Destaque (azul) - Posição 12758

O século de intervalo só se explica pelo fato de os escritos de Leonardo


terem ficado escondidos nos arquivos. O lugar de Leonardo na evolução do
pensamento científico foi ocupado por Bacon, o empirista. Mas o empirismo
tem, por mais estranho que pareça, uma pré-história mística: o ponto de
partida está na magia e cabala.

Destaque (azul) - Posição 12765


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No século XVI, a magia começa a sua transformação em ciência


experimental: Giovanni Battista Della Porta (1535-1615), comediógrafo
plautino, dedicando-se a estudos quase doidos de magia experimental, é ao
mesmo tempo um dos fundadores da óptica científica.

Destaque (azul) - Posição 12769

Giordano Bruno610, o filósofo que reúne à glória de ter criado a cosmologia


moderna a outra glória de criador da literatura filosófica em língua italiana e
de escritor extraordinário.

Destaque (azul) - Posição 12796

Pode haver dúvidas quanto à importância de Bacon612 na história da


filosofia e do método experimental; este método estava pronto antes de
Bacon, e ele nunca pensou em aplicá-lo; e em vez de uma explicação teórica
do mundo deu uma utopia do mundo futuro da ciência e técnica. Mas essa
utopia se realizou.

Destaque (azul) - Posição 12812

A filosofia de Bacon é um “candelaio” antiideológico no que diz respeito ao


passado, e uma luz ideológica quanto ao futuro.

Destaque (azul) - Posição 12815

Um Gil Vicente, um Deloney representam as classes do passado; um Palissy,


um Bacon representam as classes do futuro. Entre eles, no centro, está não
apenas a aristocracia, mas também alguns grupos fragmentados, constituindo
uma espécie de “Intelligentzia”: são os futuros jornalistas da “Ilustração”, os
futuros cientistas e heréticos do Barroco; agora, na Renascença, perdidos
entre as Igrejas e seitas, apóstatas do humanismo ou da sociedade medieval.
Na Idade Média, foram goliardos. Um goliardo assim, e ao mesmo tempo
cidadão do mundo futuro, é Rabelais. François Rabelais613,

Destaque (azul) - Posição 12828

Rabelais é clérigo, aluno da Universidade medieval; domina o trívio, o


quadrívio, a filosofia, as sentenças e as sumas, e por tudo isso não dá nem um

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sou, porque aprendeu, depois, coisa melhor: Cícero e Sêneca, Horácio,


Virgílio e os gregos;

Destaque (azul) - Posição 12868


A Espanha da segunda metade do século resume os males da Renascença e
do Barroco: imperialismo econômico e inflação monetária, burocracia
rigorosíssima com toda a corrupção da administração feudal, desemprego e
vagabundagem generalizada de soldados reformados, aristocratas
empobrecidos, clérigos vagantes, parasitos e ladrões de toda a espécie615. É
o ambiente em que o acaso substitui o esforço, porque a inflação e a
administração comem os frutos do trabalho honesto; então, ninguém quer
trabalhar, mesmo morrendo de fome, preferindo-se os pequenos truques que
imitam os grandes truques da diplomacia. O ideal de política maquiavelista,
transplantado para o meio dos mendigos e ladrões, eis o assunto do romance
picaresco616.

Destaque (azul) - Posição 12878

Mas por isso preferiu permanecer anônimo o autor do Lazarillo de


Tormes617.

Destaque (azul) - Posição 12899

Croce chega a falar em “epopeia da fome”.

Destaque (azul) - Posição 12906

No século XVII, a Europa inteira será hispanizada: aristocrática,


empobrecida e estoica. O romance picaresco será o gênero do futuro.

Destaque (azul) - Posição 12919

O humanismo não se popularizou muito entre os alemães, e teria


desaparecido sem deixar vestígios, se não fosse a figura arquipopular do
aristocrata Ulrich von Hutten620.

Destaque (azul) - Posição 12927

As Epistolae eram uma das armas jornalísticas mais eficientes da Reforma


luterana, da qual Hutten se tornou colaborador importante.

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Destaque (azul) - Posição 12931


Pela atividade de Hutten e dos seus, a Reforma tornou-se Reforma alemã,
formando-se – o que não existia antes – uma consciência nacional da nação
alemã, com a consequência de essa nação se afastar, depois, não só da Igreja
romana, mas também dos outros movimentos reformatórios, e enfim, de toda
a civilização ocidental621.

Destaque (azul) - Posição 12939

O humanismo alemão é um movimento da burguesia urbana.

Destaque (azul) - Posição 12953

O humanismo italiano do “Cinquecento”, o humanismo “romano”, era em


grande parte um movimento nacional, identificando a Itália moderna com a
gloriosa Roma antiga; não pôde deixar de excitar, em outros países,
movimentos de reação, de nacionalismo antirromano, e particularmente num
país germânico, não latino.

Nota - Posição 12955

HUMANISMO ➡️REFORMA ➡️NACIONALISMO

Destaque (azul) - Posição 12957

a defesa dos “cavaleiros” e cidades, aliados contra o imperialismo da Igreja


romana e, logo depois, contra o imperador, o espanhol Carlos V.

Destaque (azul) - Posição 12958

Reforma luterana como movimento nacional.

Capítulo IV RENASCENÇA CRISTÃ: A REFORMA


Destaque (azul) - Posição 13976

enfim: abolição da Igreja medieval para voltar à pureza da Igreja primitiva.

Destaque (azul) - Posição 13978

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A Alemanha, e enfim a maior parte da Europa, aderiu a Lutero ou a outros


reformadores, discípulos ou competidores seus. Na parte fundamental do seu
sistema de sentir, pensar e viver, na religião, a Idade Média sofreu a primeira
grande derrota. Então – afirmam ou afirmavam os historiadores – estava
aberto o caminho para outras conquistas do pensamento livre: a tolerância
religiosa, as ciências naturais, a filosofia crítica, a crítica histórica e bíblica,
até o mundo chegar enfim à liberdade espiritual completa dos séculos XIX e
XX. Onde os povos não podiam acompanhar essa evolução, onde o
protestantismo não venceu, como na Itália e na Espanha, ficou tudo em
atraso lamentável.

Destaque (azul) - Posição 13996

Devemos a Nietzsche a interpretação da Reforma como movimento


antirrenascentista e portanto reacionário. Nos países onde a Renascença
chegou ao máximo esplendor, na Itália e na França, o protestantismo foi
vencido e exterminado.

Destaque (azul) - Posição 14003

Lutero625 é uma das personalidades mais poderosas da história universal;


poderosíssima no bem e no mal.

Destaque (azul) - Posição 14062

Na reforma luterana não há que procurar nada de “Renascença cristã”. O que


poderia ser chamado assim é o protestantismo liberal do século XIX. Ali
todos os vestígios da Igreja medieval estão realmente eliminados, e dentro de
um credo vago, que admite interpretações simbólicas e alegóricas do dogma,
há lugar para todos os racionalismos e o próprio livre-pensamento.

Destaque (azul) - Posição 14073

Calvino628 é uma personalidade menos espetacular, mas não menos


poderosa do que Lutero.

Destaque (azul) - Posição 14081

O que cria certo erro de perspectiva é a relação entre o espírito puritano e a


evolução do capitalismo.

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Destaque (azul) - Posição 14102


Aí estão as raízes da democracia cristã e do protestantismo liberal.

Destaque (azul) - Posição 14127

Em 1530, Erasmo632 escreveu a um amigo: “Compara o mundo como foi há


trinta anos com o mundo atual, e pergunta então o que o mundo deve a
Erasmo.”

Destaque (azul) - Posição 14141

Erasmo era um intelectual independente – o primeiro do mundo moderno –


que viveu da sua pena.

Destaque (azul) - Posição 14163

Como Pico da Mirandola e Zwingli, Erasmo acredita na revelação universal


de Deus através da Bíblia e das letras clássicas que não são menos sacras,
que são “bonae litterae”; e “bom”, “belo” e “santo” – para ele é tudo o
mesmo. Essa síntese de humanismo e cristianismo, esse humanismo cristão é
a religião do verdadeiro “cavaleiro”,

Destaque (azul) - Posição 14176

O seu ideal secreto foi a “Terceira Igreja” dos intelectuais esclarecidos, uma
Igreja de pacificação europeia.

Destaque (azul) - Posição 14183

Erasmo é o primeiro grande intelectual da Europa moderna. E da Europa


inteira:

Destaque (azul) - Posição 14195

Na Inglaterra, os amigos e discípulos de Colet constituíram um grupo


erasmiano, do qual Thomas Morus633 era o príncipe espiritual.

Destaque (azul) - Posição 14197

chanceler do rei Henrique VIII é o santo mártir do catolicismo inglês, o santo


que preferiu a morte no patíbulo à submissão ao tirano cruel e cismático;
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Destaque (azul) - Posição 14200


A Utopia não pode ser classificada entre as obras precursoras do socialismo
moderno: a vida, naquela ilha fantástica, está sob disciplina conventual, e a
economia dirigida dos utopianos parece-se bastante com a ordem social da
Idade Média; a “justiça social” de Morus tem algo da indignação de
Langland e dos wiclifitas contra os abusos do feudalismo; quando muito, é
um “socialismo cristão”.

Destaque (azul) - Posição 14207

“Utopia” é, segundo o sentido literal do neologismo grego, “um país que não
fica em parte alguma”. Utopia é uma sátira audaciosa contra as devastações
causadas pela transição do feudalismo para a nova economia, sátira de um
sábio conservador, católico,

Destaque (azul) - Posição 14223

e até hoje, alguns críticos negam, além de uma imitação superficial da arte
italiana, a existência de uma Renascença espanhola636, o que explicaria a
situação particular da Espanha dentro do quadro da civilização europeia, ao
lado da Rússia, que também não conhecia a Renascença.

Nota - Posição 14225

ESPANHA E RÚSSIA SEM RENASCENÇA

Destaque (azul) - Posição 14486

A ideia da Terceira Igreja sobreviveu apenas fora do humanismo, entre os


sectários anabatistas, nas massas incultas e excitadas pela inquietação social.
Por isso, essas seitas e as suas sucessoras contribuirão, no século XVIII, para
a vitória do racionalismo e da Revolução. Na hora de Juan de Valdés, porém,
a aliança entre a Igreja romana e o humanismo, concluída em face da
fogueira de Savonarola, estava quebrada; o concílio de Trento acabara com
os restos do erasmianismo, e a hora do Barroco chegara.

Destaque (azul) - Posição 14516

A transformação de todos os conceitos emocionais e intelectuais que a


Europa experimentou pelo conhecimento da Bíblia só pode ser apreciada
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através da história complicada das traduções. A primeira é a tradução alemã


de Lutero653: o Novo Testamento, de 1522, e o Velho Testamento, de 1534.

Nota - Posição 14519


TRADUÇÃO DA BÍBLIA

Destaque (azul) - Posição 14524

Um alemão não pode dizer vinte palavras sem empregar uma expressão
bíblica, quer dizer, luterana, e isto se aplica também aos católicos, que
durante a unificação linguística do século XVIII adotaram a língua de Lutero.

Destaque (azul) - Posição 14529

A unidade real da nação alemã ainda é duvidosa: até onde existe, é obra da
Bíblia luterana.

Destaque (azul) - Posição 14543

A Reforma, que significou retirada da Europa para os alemães, significou


europeização para os povos nórdicos. O caso mais importante é a Bíblia
inglesa658.

Destaque (azul) - Posição 14571

A língua inglesa é resultado da fusão de duas nações: dos anglo-saxões, de


língua germânica, e dos normandos, de língua francesa. O equilíbrio,
alcançado em Chaucer, foi novamente ameaçado pela Renascença, em favor
dos elementos latinos. Quer dizer, a europeização da literatura inglesa era
capaz de separar, outra vez, a nação em duas classes de línguas
sensivelmente diversas. Só a Bíblia, o livro comum de todos, podia
restabelecer o equilíbrio.

Nota - Posição 14572

LÍNGUA INGLESA

Destaque (azul) - Posição 14578

Já se mencionou a ideia algo fantasiosa de explicar as particularidades da


Espanha e da Rússia pela “falta de uma Renascença”. Daria um resultado
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mais restrito e mais seguro a classificação das literaturas europeias conforme


as influências que receberam ou deixaram de receber das traduções bíblicas.

Destaque (azul) - Posição 14679


Em toda a parte se encontram as raízes do estilo barroco no próprio estilo
renascentista: no artifício de uma linguagem culta, diferente da comum, na
paixão pelas alusões eruditas e mitológicas, na elaboração de metáforas
estereotipadas, usadas como hieróglifos de uma escrita secreta; “el
gongorismo es la síntesis y la condensación intensificada de la lírica del
Renacimiento, es decir, la síntesis española de la tradición poética greco-
latina.”664

Destaque (azul) - Posição 14687

Na França da segunda metade do século XVI, a fronteira entre as confissões


é sobretudo uma fronteira social: as massas do povo continuavam católicas; a
aristocracia, a alta burguesia e os jurisconsultos constituíam uma elite
protestante, o que também os predispunha para o estilo barroco. Nos países
onde a população inteira se tornou protestante, faltou esse elemento da
evolução estilística; o Barroco protestante tem outras razões de ser. A
Reforma alemã, dinamarquesa, sueca é movimento popular, e ao povo é que
se dirige a literatura reformatória dos países germânicos.

Destaque (azul) - Posição 14697

É uma literatura sui generis, a poesia lírica eclesiástica dos luteranos


alemães665, feita para o povo e cantada pelo povo. Não pode exibir galas
barrocas; retoma a tradição da canção popular alemã, do lied. Por isso, esses
textos, expressões íntimas da alma alemã, são intraduzíveis; o que pode dar
aos estrangeiros uma ideia deles é a música de Bach.

Destaque (azul) - Posição 14738

A atmosfera da literatura luterana é privada, doméstica; é atmosfera de casa


de família, de igreja de aldeia. Na poesia dos calvinistas há algo da alta
sociedade. O voluntarismo tempestuoso dos adeptos de Calvino, certos de
serem eleitos pela predestinação divina, rejeitou a proteção do Estado
autoritário; organizaram-se em comunidades independentes, democráticas,
que acabaram conquistando o Estado e impondo-lhe a soberania popular e a
disciplina cristã. São os futuros liberais, democratas e não conformistas de
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toda a espécie. Um homem assim encontra-se nos começos da literatura


calvinista dos Países-Baixos, Marnix van St. Aldegonde671,

Destaque (azul) - Posição 14756


O lado grandioso do calvinismo, em que a majestade divina, despida de
música e artes, se revela só no verbo, é representado por Jacobus Revius674,

Destaque (azul) - Posição 14764

O sonho de Erasmo, a “Terceira Igreja” entre catolicismo e protestantismo, a


igreja dos humanistas, pura como a protestante e bela como a católica, não se
realizou. Mas realizou-se outra “via media” entre as confissões: o
“compromisso” inglês, a Igreja anglicana.

Destaque (azul) - Posição 14813

O resultado da Reforma são três Igrejas – a luterana, a calvinista, e a


anglicana – diferentes não apenas pelos aspectos administrativos, dogmáticos
e litúrgicos, mas também com respeito às bases e doutrinas sociais682. A
Igreja luterana – a dos pequenos-burgueses, camponeses e burocratas –
separada da vida pública, cultivando as virtudes da vida profissional e
familiar, educando cidadãos, submissos de Estados autocráticos e pensadores
libérrimos de teorias audaciosas, será a Igreja das universidades e exércitos
prussianos. A Igreja calvinista – a dos burgueses e eruditos – apoderando-se
da direção política, cultivando o senso prático e a vontade independente,
educando democratas oposicionistas e grandes capitalistas, será a Igreja do
imperialismo e liberalismo anglo-saxônico. A Igreja anglicana – a dos
aristocratas e professores – escolheu a “via media” entre humanismo prático
e religiosidade católica. Neste sentido, a Igreja da Inglaterra é um ramo,
socialmente pacificado, da “Terceira Igreja” de Erasmo. O outro ramo da
“Terceira Igreja” é o dos sectários radicais, radicais na dogmática e na
revolução social. Destes surgirão as mil seitas do mundo anglo-americano,
precursoras do livre-pensamento e do socialismo.

Nota - Posição 14823

SEITAS - PRECURSORES DO SOCIALISMO

Destaque (azul) - Posição 14826

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Com efeito, ao lado das Igrejas reformadas do protestantismo, existe na


Europa, ao terminar o século XVI, mais uma Igreja reformada: a católica
apostólica romana683. O sentido desta Reforma só podia ser uma
reafirmação: a do livre-arbítrio, contra o determinismo dos protestantes.
Definindo a doutrina que Erasmo tinha defendido em De libero arbitrio, a
Igreja romana tornou-se herdeira do humanismo, salvando-o no momento do
naufrágio definitivo dos humanistas.

Nota - Posição 14830

IGREJA CATÓLICA SALVADORA DO HUMANISMO

Destaque (azul) - Posição 14831

jesuítas.

Destaque (azul) - Posição 14843

A Europa contrarreformada será espanhola; compreende a Itália, Alemanha


meridional e ocidental, Áustria e Bélgica, com postos avançados na França.
Os efeitos serão diferentes. Na própria Espanha, o zelo da liberdade
fomentará certo heroísmo vazio, o dom-quixotismo. No resto da Europa, as
consequências serão outras.

Destaque (azul) - Posição 14848

É o Estado absolutista do Barroco que destrói os restos do feudalismo, e,


embora revestindo-se de todas as pompas aristocráticas, serve aos desígnios
econômicos da burguesia.

Destaque (azul) - Posição 15228

671 Philips van Marnix van St. Aldegonde, 1538-1598.

Capítulo I O PROBLEMA DA LITERATURA


BARROCA
Destaque (azul) - Posição 15329

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O SÉCULO XVII, que se estende, mais ou menos, de 1580 a 1680, é o mais


rico de todos na história da literatura universal;

Destaque (azul) - Posição 15331

Tasso, Cervantes, Góngora, Lope de Vega, Shakespeare, Tirso de Molina,


Jonson, Donne, John Webster, Quevedo, Ruiz de Alarcón, Vondel, Comenius,
Calderón, Gracián, Corneille, Milton, La Fontaine, Marvell, Molière, Pascal,
Mme de Sévigné, Bossuet, Bunyan, Pepys, Mme de La Fayette, Boileau,
Racine, La Bruyère.

Destaque (azul) - Posição 15430

O termo “Barroco”695 é a expressão usada pelos críticos das artes plásticas


do século XVIII para desacreditar as obras que não obedeceram aos cânones
ideais da antiguidade clássica e da alta Renascença. Durante o século XIX, o
termo começou a perder o sentido pejorativo – sempre no setor das artes
clássicas – admitindo-se a riqueza fabulosa da época em valores
arquitetônicos, plásticos e pictóricos:

Nota - Posição 15433

BARROCO COMO PEJORATIVO

Destaque (azul) - Posição 15435

Das obras desses mestres é abstraída a nossa ideia do que é barroco, uma
ideia fortemente antitética: arquiteturas majestosas e martírios com
pormenores sádicos, grande teatro aristocrático e ladrões em tavernas sujas,
paisagens de academismo arcádico e orgias frenéticas, ostentação vazia e
visões místicas.

Destaque (azul) - Posição 15463

As obras de arte barroca forneceram certo número de antíteses que


constituem os polos extremos da mentalidade barroca: solenidade majestosa
e naturalismo brutal, artifício sutil e visão mística. A comparação da
literatura com as artes plásticas não pode ser levada além dessas datas. Nas
obras de literatura, o elemento intelectual e racional entra com força muito
maior do que nas obras de arquitetura ou pintura. O meio político, social,

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religioso, filosófico, e as opiniões políticas, religiosas, filosóficas dos autores


manifestam-se com evidência maior numa peça dramática ou num romance
do que num edifício ou quadro, porque o material da literatura – a língua – é
ao mesmo tempo o instrumento de expressão da política, da religião e das
ciências.

Nota - Posição 15468


ARTE X LITERATURA

Destaque (azul) - Posição 15468

Caravaggio,

Nota - Posição 15468

PRIMEIRO GRANDE REPRESENTANTE DO BARROCO

Destaque (azul) - Posição 15469

Para chegar a conceitos mais exatos, é preciso deixar a região das artes
mudas. Tiram-se conclusões mais precisas da análise das teorias estéticas da
época.

Destaque (azul) - Posição 15487

A literatura da Renascença foi escrita por humanistas eruditos a serviço de


uma aristocracia que, já excluída do papel decisivo nas evoluções para o
futuro, viveu em mundos irreais de galantaria espiritual, cavalaria romântica
e idílio pastoril. A única finalidade dessa literatura era a criação de beleza. A
isso corresponde a teoria estética da Renascença, o platonismo, ou antes, o
neoplatonismo cristianizado, de Ficino até Leone Ebreo: o belo terrestre é o
reflexo (a “lembrança”) do belo divino; o amor terrestre é o reflexo do amor
divino.

Nota - Posição 15490

TEORIA ESTÉTICA DA RENASCENÇA

Destaque (azul) - Posição 15493

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A norma suprema da aristocracia literária é o hedonismo, o prazer das coisas


belas, sejam obras de arte, sejam os produtos da natureza. O platonismo
renascentista fornece ao hedonismo uma brilhante superestrutura filosófica.

Destaque (azul) - Posição 15496

e por isso escolheram como base filosófica uma filosofia platônica,


francamente antirracionalista.

Destaque (azul) - Posição 15497

Daí a hostilidade contra as deduções racionais da escolástica aristotélica.

Nota - Posição 15498

PLATÃO X ARISTÓTELES (RENASCENÇA X ESCOLÁSTICA)

Destaque (azul) - Posição 15499

O pendant literário-artístico do hedonismo é o “l’art pour l’art”. O poeta mais


representativo da Renascença, Ariosto, dá “l’art por l’art”. E o “l’art pour
l’art” exclui, por definição, quaisquer tentativas para justificar-lhe a
existência; é a sua própria finalidade em si mesmo.

Destaque (azul) - Posição 15502

dominação espanhola e a Contrarreforma do concílio de Trento significam a


dissolução da aliança entre aristocracia e humanismo. Os aristocratas
italianos, privados da autodeterminação política, retiram-se para as suas vilas
nos campos ou para uma existência burguesa nos palacetes urbanos; as cortes
perdem o aspecto intelectual e adotam o cerimonial espanhol. Os humanistas
põem-se a serviço do último poder espiritual que resta na península: a Igreja.
É o fim da Renascença. A primeira grande obra literária na qual se anuncia o
espírito da nova época é a Gerusalemme liberata, de Tasso.

Nota - Posição 15507

FIM DA RENASCENÇA

Destaque (azul) - Posição 15515

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Tudo, na Gerusalemme liberata, revela o espírito religioso e moral da


Contrarreforma.

Destaque (azul) - Posição 15524

A Renascença conhecia mal a Poética de Aristóteles (a primeira edição saiu


só em 1536 e o primeiro comentário só em 1548) e não se preocupou muito
com ela.

Nota - Posição 15526

POÉTICA ARISTÓTELES, LEMBRAR DO FILME "O NOME DA ROSA"

Destaque (azul) - Posição 15526

De repente surge uma estética aristotélica; a sua história é a história das


origens do Barroco698.

Nota - Posição 15526

ESTÉTICA ARISTÓTELES E INÍCIO DO BARROCO,


CONTRARREFORMA, FIM DO HUMANISMO

Destaque (azul) - Posição 15533

Os jesuítas eram humanistas à sua maneira; o seu manual pedagógico, a


Ratio studiorum (1587), é perfeitamente humanista.

Destaque (azul) - Posição 15535

É um humanismo eclesiástico, um classicismo católico; em todas as questões


da filosofia profana é Aristóteles, interpretado em sentido cristão,
reconhecido como autoridade dogmática.

Destaque (azul) - Posição 15540

na Poética (1561) do humanista Julius Caesar Scaliger: Aristóteles não ensina


“imitare fabulam”, mas “docere fabulam”; não são os atos instintivos dos
homens que a arte imita, mas as suas resoluções e decisões morais. Na
“fábula”, as personagens não agem impulsionadas pelos instintos, mas

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segundo a razão. É uma poética racionalista; Scaliger tornar-se-á mais tarde a


primeira autoridade do classicismo francês.

Destaque (azul) - Posição 15548


Os poetas pretendem ensinar e agradar ao mesmo tempo, e para isso lhes
servem as fábulas inventadas com conclusões morais;

Destaque (azul) - Posição 15552

Eis a luta e o “compromisso” entre racionalismo aristotélico e moralismo


cristão, verdadeiro objeto das polêmicas em torno da Gerusalemme liberata.

Destaque (azul) - Posição 15568

A poética aristotélica do fim do século XVI é a tentativa de exploração de


uma estética racionalista para os fins de uma literatura pseudo-heroica e
pseudorreligiosa, a serviço de um público aristocrático, que exigia
divertimento e excitação dos sentidos;

Destaque (azul) - Posição 15575

Para vencer as desarmonias entre fachada e conteúdo, mobilizam-se todos os


engenhos da estética racionalista; arte e literatura têm de esconder a
realidade, envolvendo-a em metáforas e arabescos sempre novos, sempre
inéditos.

Destaque (azul) - Posição 15584

Esses elementos explicam os característicos, sempre antitéticos, da literatura


barroca: heroísmo exaltado e estoicismo melancólico, religiosidade mística
ou hipócrita e sensualidade brutal ou dissimulada, representação solene e
crueldade sádica, linguagem extremamente figurativa e naturalismo
grosseiro.

Destaque (azul) - Posição 15588

Com efeito, negando e renegando a Renascença, o barroco retoma o caminho


do século XV.

Destaque (azul) - Posição 15589

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A obsessão do século XV pela imagem da morte, sua sensualidade brutal e


sádica, o gosto de alegorias complicadas e metáforas herméticas – tudo isso
volta.

Destaque (azul) - Posição 15595

Barroco constitui uma qualidade permanente do caráter espanhol701.

Destaque (azul) - Posição 15602

O Barroco espanhol é uma reação nacional contra o humanismo internacional


dos italianos e italianizantes. Talvez se trate de uma evasão em face da
derrota político-militar da Espanha, no fim do século XVI. Assim se
explicaria a coincidência da decadência política e social com o apogeu da
evolução literária:

Destaque (azul) - Posição 15622

Imperialismo espanhol e propaganda jesuítica divulgaram arte e literatura


barrocas em todas as regiões que a Contrarreforma reconquistou.

Destaque (azul) - Posição 15624

Já se afirmou que o Barroco é o estilo próprio da Contrarreforma706. Esta


hipótese é bastante sedutora; mas não é aceitável, porque ignora as
influências espanholas além das fronteiras da Contrarreforma e a existência
de focos barrocos nos países protestantes.

Destaque (azul) - Posição 15684

o abandono definitivo do modelo ciceroniano na prosa, em favor de outros


modelos: Sêneca e Tácito714. A prosa senequiana e tacitiana chega a ser
característica do Barroco.

Destaque (azul) - Posição 15746

Por outro lado, o fim do preciosismo e o começo da “verdadeira época


clássica” são marcados pela fundação da Academie française, em 1634-1635.

Destaque (azul) - Posição 15812

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Este capítulo de literatura comparada – cansativo, mas da maior importância


para se ter ideia do domínio universal da literatura espanhola naquela época –
revela duas fases de invasão espanhola, por volta de 1635 e por volta de
1670.

Destaque (azul) - Posição 15833

O gosto do público francês do século XVII era barroco. A literatura clássica


lutou galhardamente contra esse inimigo, mas a repetição da voga de
traduções e versões do espanhol revela a precariedade dos triunfos
acadêmicos.

Destaque (azul) - Posição 15844

O inimigo barroco está dentro do classicismo, na sua própria alma. O


classicismo francês não é realmente clássico; apenas pretende sê-lo.

Destaque (azul) - Posição 15855

O barroco atenuado do fim do século XVII é o rococó731. O estilo barroco é


um estilo internacional. A Europa inteira o adotou. Os seus elementos vieram
da Espanha; mas a Espanha já não era capaz de impor um estilo. A Europa o
aceitou em toda a parte, porque o Barroco é expressão de uma situação
espiritual e social, mais ou menos idêntica em toda a parte732. A aristocracia
feudal perdeu definitivamente a função política. A Igreja católica, reformada
pelo concílio de Trento, e as Igrejas nacionais do protestantismo investem o
Estado de sanções divinas. Aos poderes absolutos não escapa a economia; o
mercantilismo pode ser definido como o método de política econômica para
terminar a grande crise que começara com as descobertas geográficas. A
aristocracia, incapaz de adaptar-se às novas condições, foi subjugada; a
burguesia ainda não é capaz de desempenhar função política; no intervalo, o
Estado absoluto dirige a economia. O único dos grandes Estados europeus
que não conseguiu acompanhar essa evolução foi justamente a Espanha.

Destaque (azul) - Posição 15871

Contra todas as aparências, o Estado absoluto do século XVII está a serviço


da burguesia nascente.

Destaque (azul) - Posição 15875


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No século XVII, a oposição entre aristocracia e burguesia vai-se acentuando


cada vez mais.

Destaque (azul) - Posição 15896

No teatro da Renascença representam-se as comédias de Plauto e Terêncio e


de seus imitadores modernos;

Destaque (azul) - Posição 15900

O espírito aristocrático do Barroco não suporta aquela “identificação”. Palco


e plateia estão inteiramente separados; aqui, o mundo real dos espectadores;
ali, o mundo irreal da ilusão teatral.

Destaque (azul) - Posição 15910

A ideologia que inspira esse teatro barroco é a filosofia religiosa da


Contrarreforma: o mundo é ilusão e engano, a vida é um sonho. É o
pessimismo que se encontra também no fundo do teatro de Racine e
Shakespeare, revelando essas expressões diferentes como expressões
barrocas. La vida es sueño, Phèdre e Macbeth representam o mesmo mundo
de ilusões trágicas. A separação desse mundo de ilusões do mundo real dos
espectadores simboliza, ao mesmo tempo, outra situação barroca: o mundo
real é um teatro de acesso fechado, um mundo aristocrático, em que as
classes não privilegiadas não entram. Quando o burguês ou o camponês se
atrevem a penetrar naquele mundo aristocrático, caem no ridículo; lembra-se-
lhes o seu lugar na hierarquia social.

Destaque (azul) - Posição 15926

Um apanágio particular do pensamento burguês e intelectual é o esforço de


dominar as contradições antitéticas do Barroco, racionalizando-as. O século
dos místicos também é o século dos grandes sistemas racionalistas:
Descartes, Malebranche, Spinoza, Leibniz. É o século dos grandes cientistas:
Galileu, Kepler, Newton. Com os grandes filólogos holandeses e ingleses,
que pouco se parecem com os humanistas italianos da Renascença, começa a
crítica histórica dos textos e documentos.

Nota - Posição 15929

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SÉCULO DA CIÊNCIA E DA HISTÓRIA

Destaque (azul) - Posição 15933

Os críticos literários da época – que são os intelectuais burgueses – atacam


incessantemente o estilo barroco de expressão, zombando dos marinistas e
gongoristas, e congratulando-se com os poetas classicistas que se exprimem,
parece, no estilo da Renascença.

Destaque (azul) - Posição 16014

G. Toffanin: La fine dell’umanesimo. Torino, 1920.

Capítulo II POESIA E TEATRO DA


CONTRARREFORMA
Destaque (azul) - Posição 16358

Na época da Contrarreforma italiana, arte perfeita e sentimento sincero


excluem-se reciprocamente.

Destaque (azul) - Posição 16442

O poema de Góngora é muito diferente: as suas “soledades” são as florestas e


prados de um país desconhecido em que os náufragos encontram uma
estranha civilização, meio de selvagens bárbaros, meio de pastores gregos. O
leitor moderno perde-se nesta floresta abundante de poesia barroca como em
labirintos inextricáveis, embora fascinantes. Mas Góngora não era confuso.
O plano das Soledades – o poeta só deixou dois livros dos quatro projetados
– compreendia uma “história ideal” da humanidade, através de várias fases:
idade dos pastores, idade dos pescadores, idade de caça, idade “política”. Em
suma, uma antecipação de ideias de Vico, culminando uma utopia platônica.

Nota - Posição 16447

GÓNGORA - UTOPIA PLATÔNICA

Destaque (azul) - Posição 16469

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Valdivielso, autor de “autos sacramentales” ao gosto popular, concentrou as


suas forças numa grande epopeia religiosa, celebrando são José, o patrono
dos príncipes absolutistas e patriarcais do Barroco. O culto de são José faz
parte da mística do Estado, sancionado pela política contrarreformista; e a
epopeia de Valdivielso é o produto mais notável desse culto especificamente
barroco.

Nota - Posição 16472

SÃO JOSÉ - PATRONO DOS PRÍNCIPES ABSOLUTISTAS

Capítulo III PASTORAIS, EPOPEIAS, EPOPEIA


HERÓI-CÔMICA E ROMANCE PICARESCO
Destaque (azul) - Posição 17940

A ÍNDOLE da literatura barroca é dramática, ou melhor: teatral. No centro


da civilização barroca está o teatro.

Destaque (azul) - Posição 17953

As tendências antitéticas dentro do Barroco produzem, ao mesmo tempo, o


drama pastoril e novas formas do romance.

Destaque (azul) - Posição 17955

A epopeia herói-cômica zomba das pretensões aristocráticas, pseudo-


heroicas, invocando o bom senso burguês; o romance picaresco revela a
miséria popular na base da sociedade aristocrática;

Destaque (azul) - Posição 17966

Drama pastoril, epopeia heroica, epopeia herói-cômica e romance picaresco


são tentativas independentes, mas paralelas, de resolver conflitos barrocos
com meios de expressão barrocos.

Destaque (azul) - Posição 18024

Pastor fido, de Guarini824.

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Destaque (azul) - Posição 18079


Deste modo, o drama pastoril, forma do Barroco contrarreformista que
chegou a integrar-se no Barroco protestante, é uma das forças que tornaram
internacional e interconfessional a literatura do século XVII; a causa do
fenômeno é a uniformidade do espírito aristocrático em todas as sociedades
barrocas. O drama pastoril exprime uma das necessidades imperiosas dessa
aristocracia, já privada do poder político: a evasão para o idílio. A outra
forma de fuga, para o heroísmo ilusório, é a epopeia barroca.

Destaque (azul) - Posição 18084

Torquato Tasso832 é dos poetas mais famosos da literatura universal.

Destaque (azul) - Posição 18096

As epopeias não estão na ordem do dia, já há muito tempo, e ninguém lerá,


sem obrigação ou imposição, a Gerusalemme liberata de ponta a ponta. Mas
certos episódios, lidos separadamente, surpreenderão sempre pelo lirismo
intenso; estão neste caso os episódios de Olindo e Sofrônia, Rinaldo no
jardim encantado de Armida, Ermínia entre os pastores, Tancredo e Clorinda.

Nota - Posição 18099

JERUSALÉM LIBERTADA

Destaque (azul) - Posição 18172

Quando a aristocracia francesa se aproxima do mesmo destino que a italiana


– não pela dominação estrangeira, mas pelo absolutismo monárquico –
começa em França a voga das epopeias, se bem que em forma diferente e em
prosa; é o romance heroico-galante. Mas esse gênero não sobrevive à vitória
da literatura classicista de Luís XIV,

Destaque (azul) - Posição 18212

A evolução mais surpreendente dá-se na Inglaterra. Os começos são


tipicamente barrocos: a Theophila (1652), de Edward Benlowe, e a Davideis
(1656), de Abraham Cowley839. Surge, logo depois, o Paradise Lost, de
Milton, com o qual o gênero acaba; mas com “gloria in excelsis”. A epopeia

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sacra falhou em toda a parte onde o assunto foi imposto; só venceu no país
do inconformismo religioso.

Destaque (azul) - Posição 18325


A epopeia heroica do século XVII falhou pela falsidade do seu ideal heroico.
Não foi seu único motivo a hipocrisia de literatos venais, pretendendo bajular
os mecenas aristocráticos; também cooperou, nessa atividade literária quase
febril, certa angústia: a transição social parecia, como todas as transições
sociais, ameaça gravíssima à própria civilização e aos intelectuais. Daí o
passadismo, o gosto pelos assuntos históricos, desconhecido na Renascença.

Destaque (azul) - Posição 18344

A epopeia herói-cômica é de um realismo grosseiro, às vezes brutal; é a


antítese exata da epopeia heroica, da qual é contemporânea.

Destaque (azul) - Posição 18350

Em parte, essas epopeias são realmente produtos de oposição: mas não contra
a epopeia séria, nem contra a aristocracia, e sim contra a pretensão da
aristocracia, já domesticada nas cortes, de manter as tradições do seu passado
bárbaro e bélico856.

Destaque (azul) - Posição 18479

O número das epopeias heroicas francesas é muito menor do que o das


italianas; o próprio esforço épico tem menor importância, e entre as causas
desse fato está em primeira linha uma de ordem sociológica, ou antes, de
relação entre situação da sociedade e situação das letras: a diferença entre a
aristocracia italiana e a aristocracia francesa. Quanto à maneira de viver e de
pensar, a atmosfera italiana do século XVII ainda é bastante feudal; mas
feudalismo como poder social já não existia na Itália pós-medieval. Os
numerosos aristocratas italianos que durante o século XVII se dedicaram às
letras eram homens livrescos, eruditos; no fundo, burgueses com ares de
passadismo, sonhando com a época em que os cavaleiros, cruzados a serviço
da Igreja, dominaram o mundo; e essa Igreja fora a Romana, italiana. Daí a
mistura de devoção eclesiástica e “patriotismo europeu” em Tasso e seus
imitadores italianos. A aristocracia francesa do começo do século XVII é
ainda aristocracia feudal. Richelieu a subjugará; depois, ela ainda terá força
para desencadear a revolta da Fronde, vencida enfim pela arte diplomática do
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italiano Mazarin; e só Luís XIV conseguirá a transformação dos feudais


recalcitrantes em cortesãos. Daí a fraqueza, em número de importância, das
epopeias francesas, cujos autores só acompanham uma das modas literárias
da época. A sociedade aristocrática francesa exprime-se por outro gênero
narrativo, por meio de uma transformação barroca do romance pastoril: o
romance heroico-galante.

Destaque (azul) - Posição 18520


Os romances heroico-galantes são alegorias políticas da França do século
XVII, espécie de Divina Comédia da França aristocrática. Não é possível
chamar-lhes Comédie humaine, porque todo realismo está ausente; mas a
psicologia dos sentimentos amorosos é muito elaborada, preparando-se assim
um elemento característico do romance francês moderno.

Destaque (azul) - Posição 18717

O romance picaresco fora da Espanha torna-se fatalmente outra coisa.


Desaparece a situação social da vagabundagem, típica da Espanha da época
do mercantilismo falido, e desaparece o estoicismo, que é na Espanha
espécie de filosofia do homem da rua. O que fica é o realismo na descrição
dos costumes, a sátira contra os ócios e vícios dos nobres, o humorismo de
certas situações, tudo quanto caracteriza o chamado romance realista do
século XVII na França894.

Capítulo IV O BARROCO PROTESTANTE


Destaque (azul) - Posição 19384

NA INGLATERRA, a Renascença chegou atrasada.

Destaque (azul) - Posição 19386

Só mais tarde, na segunda metade do século XVI, aparece o maior poeta da


Renascença inglesa, Edmund Spenser, e pouco depois os primeiros grandes
dramaturgos, Marlowe e Shakespeare. Nas suas obras reflete-se uma
paisagem esplêndida: após a vitória sobre a Armada espanhola, a Inglaterra
está no auge do poder político, prepara-se o imperialismo colonial, a
prosperidade econômica satisfaz todas as classes da sociedade, a aristocracia
culta, a burguesia abastada, o povo, ainda um pouco grosseiro, mas de
inteligência viva e gosto espontâneo;
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Destaque (azul) - Posição 19393


“The Decline of the Renaissance”. O fechamento dos teatros pelos puritanos,
em 1642, é comentado como fim da “Merry Old England”. A antiga alegria
ingênua não voltou nunca mais. A Inglaterra da Restauração, depois de 1660,
pretende ser alegre, mas só atinge a obscenidade; pretende ser classicista, e
consegue chegar apenas a pompas barrocas. O puritanismo hipócrita
esmagara a Renascença.

Destaque (azul) - Posição 19445

Evidentemente, a arte de Shakespeare percorreu duas fases de evolução: uma


primeira, alegre, amorosa e patriótica; e uma segunda, sombria, amarga,
pessimista.

Destaque (azul) - Posição 19470

O título Mirror for Magistrates lembra um gênero literário, hoje esquecido,


que nos séculos XVI e XVII, e até no XVIII, tinha importância considerável:
chamavam-se essas obras “espelhos de príncipes” ou “príncipe cristão”, ou
“bússola política”; os títulos são sempre muito loquazes – o título in extenso
do Mirror for Magistrates também enche uma página inteira – para indicar
bem o fim didático dessas obras: ensinar aos herdeiros da coroa e aos
candidatos a ministro a arte de governar bem o Estado, segundo as leis
divinas e humanas, lembrando-se aos leitores as desgraças dos que falharam
aos seus deveres e descrevendo a felicidade futura de um governo forte e
justo;

Nota - Posição 19476

PEDAGOGIA DOS PRÍNCIPES

Destaque (azul) - Posição 19478

O exemplo antigo do gênero é a Ciropedia, de Xenofone, programa de


educação modelar de um rei oriental por um filósofo grego;

Destaque (azul) - Posição 19504

O mais famoso desses educadores de corte é Fénelon920, preceptor do


Duque de Borgonha e autor do romance político-pedagógico Les aventures
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de Télémaque.

Destaque (azul) - Posição 19514


Os romances políticos do século XVIII são todos utopistas, de maneira que
aos ideais cristãos se substituem cada vez mais os da Ilustração:

Destaque (azul) - Posição 19520

Rousseau: com efeito, o Émile é o sucessor democrático de Télémaque;


Rousseau significa o fim da pedagogia monárquica e cristã.

Nota - Posição 19522

ROUSSEAU

Destaque (azul) - Posição 19532

Mas no começo do século XVII já era quase certo o malogro da “política


cristã”; a Política de Dios, de Quevedo, já dá a impressão de uma utopia.
Todos os príncipes, os cristãos e cristianíssimos inclusive, aplicam o
maquiavelismo.

Destaque (azul) - Posição 19535

aquela melancolia política é um dos motivos mais importantes do teatro


barroco inglês921.

Destaque (azul) - Posição 19542

Ribadeneyra acrescenta: “A pior e a mais abominável seita que o Demônio


jamais inventou é a dos chamados políticos, verdadeiros mensageiros do
Inferno.”

Destaque (azul) - Posição 19544

O século XVII sentirá medo supersticioso da “política”, da diplomacia feita


atrás de portas fechadas nos gabinetes de reis e ministros;

Destaque (azul) - Posição 19569

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O século XVII prefere Tácito924, em quem encontrou a situação política e


psicológica do indivíduo em face da tirania e a lição da resistência estoica.

Destaque (azul) - Posição 19574

A História era o reino do caos irrazoável, daquilo que não podia ser
transformado em ciência: Descartes rejeitou a historiografia como
acientífica. Da tarefa que a Razão abandonara – tornara compreensível o caos
dos fatos históricos – encarregou-se a dramaturgia.

Nota - Posição 19576

HISTÓRIA PARA O BARROCO

Destaque (azul) - Posição 19585

A aversão do Barroco à História baseia-se, pelo menos em parte, na filosofia


aristotélica: à Poética de Aristóteles faz uma distinção tão nítida entre
História, que é verdade, e Poesia, que é ficção, que a literatura barroca parece
impedida de tratar assuntos históricos. O problema foi resolvido pelo teórico
antiaristotélico Ludovico Castelvetro926,

Destaque (azul) - Posição 19633

Assim entendeu Giraldi Cintio931 os preceitos dramatúrgicos da poética


aristotélica: a tragédia produz “terror e compaixão” por meio da
representação de horrores no palco, purificando assim, pela “catarse”, a alma
do espectador. Esse critério moralístico só parece aristotélico; na verdade, é
um critério de moralismo religioso, católico, que já pressagia a
Contrarreforma.

Nota - Posição 19637

CATARSE

Destaque (azul) - Posição 19760

Elementos da “tragédia de vingança” aparecem no Jew of Malta (1592), de


Marlowe. Mas o segundo grande representante do gênero, depois de Kyd, é o
próprio Shakespeare: Titus Andronicus (1593), Richard III (1594), Julius
Caesar (1599), marcam a evolução, até ao Hamlet (c. 1603), em que a
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“tragédia de vingança” chega à sua expressão mais completa e a dramaturgia


terrificante de Sêneca principia a completar-se pela filosofia estoica de
Sêneca.

Destaque (azul) - Posição 19874


Christopher Marlowe954.

Destaque (azul) - Posição 19880

A obra de Marlowe é tão monstruosa como o caráter do seu autor. E Marlowe


parece ter tido consciência disso quando se idealizou a si mesmo na figura do
titã Tamburlaine, que passa por todos os crimes para conquistar o mundo
inteiro, e no fim se encontra desiludido e desesperado; é a tragédia do
niilismo.

Nota - Posição 19883

NIILISMO

Destaque (azul) - Posição 19919

Enquanto a criação de um mundo poético completo for mantida como


supremo critério, é Shakespeare superior a Cervantes, Goethe e Dostoievski;
e só Dante participa dessa sua altura.

Destaque (azul) - Posição 19922

Infelizmente sabemos muito pouco da vida de William Shakespeare955.

Destaque (azul) - Posição 20112

O segredo dessa imortalidade do grande dramaturgo está na poesia de


Shakespeare, ou mais exato, no seu verso. Shakespeare é o maior artista do
verso inglês, e a interpretação da sua obra tem de ser, em primeira linha,
interpretação poética, ao lado de análise dos valores humanos.

Destaque (azul) - Posição 21724

Christopher Marlowe, 1564-1593. Tamburlaine the Great

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Capítulo I O ROCOCÓ
Destaque (amarelo) - Posição 26502
Paul Hazard a descreveu, de Crise da Consciência Europeia1144.

Destaque (amarelo) - Posição 26507

O encontro com as civilizações indiana e chinesa teve efeitos semelhantes à


renovação da ciência historiográfica através das grandes coleções de
documentos de Muratori: começou-se a duvidar da infalibilidade dos
historiadores antigos, menos exatos, e do valor absoluto da civilização
ocidental. A estrutura dogmática do estilo de pensar, comum à Idade Média, à
Renascença e ao Barroco, começou a desmoronar-se.

Destaque (amarelo) - Posição 26519

A arma mais poderosa contra a fé nos milagres era o cartesianismo,


ressuscitado em momento oportuno.

Destaque (amarelo) - Posição 26525

O conceito da “lei” científica já exclui os milagres físicos;

Destaque (amarelo) - Posição 26526

A ideia de “lei da natureza” renova a segurança, abalada por aquele


relativismo geográfico-histórico.

Destaque (amarelo) - Posição 26528

Deus é reduzido à condição de legislador sem direito de modificar a


legislação vigente. É o deísmo.

Destaque (amarelo) - Posição 26530

Com Thomasius e Pufendorf, o Direito natural torna-se independente da


sanção teológica; e o fim será uma moral laicista.

Nota - Posição 26531

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DIREITO NATURAL E MORAL LAICA

Destaque (amarelo) - Posição 26534

De Shaftesbury a Rousseau proclamar-se-á com entusiasmo cada vez maior o


direito do homem à felicidade terrestre, e as aplicações técnicas das ciências
já prometem o paraíso futuro.

Destaque (amarelo) - Posição 26582

Por que metrificar o que se pode dizer melhor em prosa? Pela primeira vez, a
própria literatura está em questão.

Destaque (amarelo) - Posição 26587

O nome de Voltaire lembra imediatamente o traço característico da maior


parte da literatura do século XVIII: a combinação de ideologias progressistas
e avançadas com formas literárias meio obsoletas, “reacionárias”. Voltaire
luta com grande coragem pelas ideias de tolerância religiosa e de “culto
razoável da divindade”; e apesar do seu conservantismo político de nouveau-
riche não deixa de semear os germes da resistência contra o absolutismo.

Nota - Posição 26590

VOLTAIRE CONTRA O ABSOLUTISMO

Destaque (amarelo) - Posição 26608

A fraqueza poética do século XVIII parecia consequência inevitável da


vitória cada vez mais acentuada das ideias racionalistas; o racionalismo
exclui a poesia. O mérito do século XVIII teria sido “filosófico”, quer dizer,
ideológico e político, mas não “literário”, no sentido das belles lettres.

Nota - Posição 26610

O RACIONALISMO EXCLUI A POESIA

Destaque (amarelo) - Posição 26616

Depois, celebrar-se-á em metros clássicos e com alusões à Antiguidade a


vitória política do racionalismo: a Revolução.
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Destaque (amarelo) - Posição 26620


a Revolução é imediatamente seguida, senão já acompanhada, por outra
literatura, antirracionalista, a do romantismo;

Destaque (amarelo) - Posição 26622

Tampouco é possível negar que essa nova sensibilidade exerceu poderosa


influência na própria França: basta citar o nome de Rousseau. Vai apenas um
passo daí a reconhecer que a Revolução deveu o seu élan vital não ao
racionalismo da Ilustração, do qual herdou a ideologia, mas sim ao
irracionalismo das novas correntes.

Nota - Posição 26624

ROUSSEAU: PRÉ ROMÂNTICO

Destaque (amarelo) - Posição 26632

Na Alemanha, a primeira fase da literatura “clássica” de Weimar é um


movimento de “angústia e tormenta”, o “Sturm und Drang”, ao qual Goethe e
Schiller pertencem com as suas obras da mocidade. Até na Itália existe um
pré-romantismo violento em disfarce classicista, em Alfieri.

Destaque (amarelo) - Posição 26640

Ao lado do velho esquema dialético “Régence – Ilustração – Revolução”


aparece agora outro: “Pré-Romantismo – Romantismo – Realismo”.

Destaque (amarelo) - Posição 26642

Entre o pré-romantismo e o romantismo existe uma diferença fundamental: o


pré-romantismo é caracterizado pelo desenvolvimento de novas capacidades
psíquicas, da sensibilidade para conquistar aspectos até então ignorados do
mundo exterior, da natureza e das relações sociais; o romantismo pretende
conquistar novos mundos interiores – o seu terreno de predileção é o sonho.

Nota - Posição 26644

DIFERENÇA DO PRÉ ROMANTISMO E DO ROMANTISMO

Destaque (amarelo) - Posição 26659


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O pré-romantismo tem certa feição religiosa:

Destaque (amarelo) - Posição 26662

Contudo, é o século de Voltaire; religiosidade eclesiástica, ortodoxa, é


impossível. O pré-romantismo buscava inspiração nos movimentos místicos,
no iluminismo, em uma espécie de maçonaria misticamente interpretada em
sociedades secretas.

Nota - Posição 26663

METODISMO, PIETISMO E MARTINISMO

Destaque (amarelo) - Posição 26666

Todos esses misticismos aparecem, no século XVIII, mais ou menos ligados


a correntes racionalistas1149.

Destaque (amarelo) - Posição 26675

o racionalismo da Ilustração e o pré-romantismo têm as mesmas fontes. À


luz desse fato, todos os aspectos mudam.

Destaque (amarelo) - Posição 26677

Os dois movimentos têm fontes comuns e a mesma idade, podendo ser


acompanhados fielmente, desde o começo da “crise” na França, por volta de
1680, e a revolução de 1688, na Inglaterra, através do século inteiro, até a
Revolução Francesa e os começos do romantismo inglês.

Nota - Posição 26679

CRISE DA CONSCIÊNCIA EUROPEIA

Destaque (amarelo) - Posição 26681

A dissolução das formas classicistas é consequência da secularização das


ideias religiosas que constituíram a base do classicismo.

Destaque (amarelo) - Posição 26682

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O Barroco, escondido no seio do classicismo, é o outro. No fim do século


XVII reaparece um Neobarroco

Destaque (amarelo) - Posição 26695

Sobre esta literatura neobarroca agem, descendendo de origens comuns, o


racionalismo da Ilustração e o misticismo sentimental; a sua separação final
produz as duas literaturas igualmente importantes e quase contemporâneas
do século XVIII: o classicismo racionalista e o pré-romantismo.

Destaque (amarelo) - Posição 26895

Insignificância das palavras e irrealidade da cena podiam levar a um teatro de


bonecas. Algo nesse gênero é o teatro de Antônio José da Silva1183,
chamado o Judeu, porque a Inquisição de Lisboa mandou queimá-lo por
motivo de heresia judaizante. Foi brasileiro de nascimento,

Destaque (amarelo) - Posição 26966

A análise da Arcádia e do melodrama arcádico chega a dois resultados: as


relações da Arcádia com o pré-romantismo em que sempre desemboca – o
que constitui mais um argumento em favor da existência secreta do pré-
romantismo durante o século inteiro; e o caráter intimamente barroco dessa
Arcádia que se dá ares de classicismo.

Destaque (amarelo) - Posição 27016

John Dryden1197 apresenta aspectos diferentes, visto da Inglaterra ou visto


de fora.

Destaque (amarelo) - Posição 27066

Dryden é, porém, algo mais: é o criador da literatura moderna, não somente


pela linguagem poética, pelas novas convenções teatrais que estabeleceu,
pela prosa, mas ainda pela atitude. É o primeiro inglês que foi
conscientemente e profissionalmente “homem de letras”.

Destaque (amarelo) - Posição 27075

É o primeiro grande tory, conservador, da literatura inglesa, e nisso também


tipicamente inglês. Está entre o republicano Milton e o tory Samuel Johnson,
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politicamente e literariamente. A sua atitude parece com a atitude de T. S.


Eliot, homem de letras, “classicista, monarquista e anglo-católico”: Eliot
aprecia muito Dryden, et pour cause.

Destaque (amarelo) - Posição 27079


Durante a vida de Dryden deu-se o acontecimento mais importante da
história inglesa moderna: a revolução de 1688, que estabeleceu a monarquia
parlamentar; significou isso a eliminação definitiva dos ideais políticos do
Continente nas Ilhas Britânicas, a afirmação da insularidade inglesa.

Destaque (amarelo) - Posição 27084

é um neobarroco consciente do seu caráter reacionário contra o classicismo


republicano da época de Cromwell e Milton.

Nota - Posição 27085

DRYDEN CONTRA CROMWELL E MILTON

Destaque (amarelo) - Posição 27092

Mas assim como se pode falar em “época de Goethe”, deve falar-se em


“época de Dryden”. Os outros, são todos discípulos e imitadores seus.

Destaque (amarelo) - Posição 27140

Resposta a Rymer foi, em 1709, a primeira edição moderna de Shakespeare,


por Nicholas Rowe1204, que já considerava Shakespeare não como força
viva do teatro, e sim como leitura literária.

Destaque (amarelo) - Posição 27190

Em Congreve, o neobarroco de Dryden, Otway e Wycherley apresenta-se


perfeitamente calmo; tendo recuperado a compostura aristocrática, tornou-se
Rococó. Mas esse Rococó era incompreensível ao espírito puritano da classe
que vencera com os whigs rebeldes de 1688: a burguesia. Revoltando-se
contra a comédia indecente, pretendeu defender a moral pública; mas chegou
a atacar a própria arte. “A

Destaque (amarelo) - Posição 27218

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as obras de Wycherley e Vanbrugh seriam a imagem dos costumes ingleses


entre 1660 e 17101214, e o fato de que tais costumes teriam sido possíveis na
terra de Dickens e Tennyson escandalizava o mundo vitoriano.

Destaque (amarelo) - Posição 27243

Os diários de Samuel Pepys1216 constituem o documento mais singular da


literatura inglesa:

Destaque (amarelo) - Posição 27256

Político e administrador eminente, gentleman culto e quase erudito, já


preferindo as ciências naturais à filologia humanista, avarento e generoso,
devasso e amável, é Pepys um aristocrata inglês não-puritano – os wighs do
século XVIII serão assim. É um tipo de liberal inglês, também liberal com
respeito à verdade. Talvez fosse Pepys o único homem do mundo que se
revelou tão francamente. Mostra assim “l’humaine condition” que, segundo
Montaigne, todo homem representa. O seu diário é, no dizer de Stevenson, “a
Bible of human being”, um comentário permanente da maneira de ser
homem.

Destaque (amarelo) - Posição 27262

Reflete os grandes acontecimentos da época – coroação do rei, guerra com a


Holanda, incêndio e peste em Londres; e também a vida quotidiana, as
intrigas políticas da corte e do parlamento, aventuras e adultérios, brigas de
família, teatro, óperas, cafés, reuniões científicas, a Bolsa, os piratas,
comerciantes, judeus, levantinos, o porto de Londres, as livrarias e os
bordéis.

Destaque (amarelo) - Posição 27275

A comparação com Pepys define o estilo da comédia da Restauração, estilo


que só em Congreve se revela completamente: é Rococó.

Destaque (amarelo) - Posição 27277

Não faz muito tempo que os historiadores literários admitiram o termo


“Barroco”; o termo “Rococó”, já perfeitamente definido na história das artes
plásticas, ainda não se admitiu na historiografia literária.

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Destaque (amarelo) - Posição 27281


Arcádia e comédia da Restauração revelam a importância do Rococó na
história literária. Talvez seja Marivaux o seu maior representante.

Destaque (amarelo) - Posição 27283

O Rococó estiliza a realidade, escolhendo os aspectos graciosos, empregando


todo o espírito engenhoso de inteligência requintada para aludir, menos ou
mais abertamente, à sexualidade. Afasta-se cada vez mais do mundo real,
criando mundos fantásticos do amor livre. Lamb, o grande ensaísta inglês, foi
o primeiro que observou – em The Artificial Comedy of the Last Century
(1822) – essa índole da comédia da Restauração: segundo ele, seria um reino
de sonhos e fadas, completamente irreal, e fora de todas as normas morais. A
época vitoriana não compreendeu essa definição estilística; estranhou a
“defesa da imoralidade”, da “mancha da literatura inglesa”.

Nota - Posição 27288

ROCOCÓ COMO MANCHA DA LITERATURA INGLESA

Destaque (amarelo) - Posição 27312

Para encontrar, na França, imoralidade semelhante, é preciso descer vários


decênios, até à Régence, essa explosão de indecência na vida e na literatura,
depois da morte de Luís XIV, verdadeira “Restauração” francesa. Mas isso
acontece meio século depois da Restauração inglesa; e são os próprios
ingleses que exportam para Paris as suas obscenidades.

Destaque (amarelo) - Posição 27350

A Régence é a vitória da “oposição” contra o regime de Luís XIV.

Destaque (amarelo) - Posição 27351

Na Régence confundem-se duas oposições diferentes: uma, reacionária, que


pretende voltar à política barroca, e outra, progressista, que pretende destruir
o regime. De ambos os lados há aristocratas e burgueses, por motivos
diferentes.

Destaque (amarelo) - Posição 27406

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Jean-Baptiste Rousseau1223 é o mais acadêmico de todos os poetas


franceses,

Destaque (amarelo) - Posição 27409

Jean-Baptiste Rousseau foi o poeta francês mais lido do século XVIII e até à
revolução romântica;

Destaque (amarelo) - Posição 27510

Com respeito a Lesage1236 não

Destaque (amarelo) - Posição 27534

A “filosofia” de Lesage é serena, alegre mesmo; ele tem confiança na vida. A


fonte imediata dessa sua “fé” é a observação das modificações sociais no seu
ambiente: os banqueiros batem a aristocracia, os burgueses tornam-se
superiores aos fidalgos empobrecidos – será então possível a ascensão
também dos plebeus. Esse Rococó de Lesage é uma sociedade em
movimento.

Destaque (amarelo) - Posição 27539

Esse otimismo, bem antibarroco, é o único ponto de contato entre Lesage e


Marivaux; o único, mas de importância essencial, sintoma da transição do
Barroco para o Rococó.

Destaque (amarelo) - Posição 27541

Marivaux1237é o mestre da nuance.

Destaque (amarelo) - Posição 27579

Marivaux foi sempre comparado com Racine: a técnica dramatúrgica e a


psicologia são parecidas. Diferente é “só” o desfecho, o happy-end, em vez
do fim trágico; mas o desfecho não é coisa que se acrescenta arbitrariamente.

Destaque (amarelo) - Posição 27602

Os romances de Marivaux são – como as suas comédias – mais psicológicos


do que realistas. O realismo reside na escolha do ambiente, que desta vez não
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é burguês, e sim plebeu. De longe, anuncia-se o popularismo e primitivismo


de Rousseau. Em Marivaux, o Rococó revela certas possibilidades
revolucionárias e várias possibilidades pré-românticas. O Rococó contém, no
germe, o século XVIII inteiro com as suas consequências.

Nota - Posição 27604


ROCOCÓ E REVOLUCAO

Destaque (amarelo) - Posição 27605

Em comparação com o classicismo Luís XIV, o Rococó é revolucionário em


todos os sentidos: nos costumes, nos sentimentos, na expressão e na
ideologia. É o estilo dos modernes contra o dos anciens.

Destaque (amarelo) - Posição 27621

O próprio Rococó pode ser interpretado como Neobarroco1240. Também na


literatura, o Rococó anacreôntico é resultado de uma reação neobarroca
contra o classicismo rigoroso1241 e essa evolução é muito marcada na
literatura francesa1242.

Destaque (amarelo) - Posição 27662

O aparente imoralismo da comédia da Restauração não é imoralidade;


esconde um sistema moral.

Destaque (amarelo) - Posição 27668

Mas Hobbes é ainda, ao mesmo tempo, o teórico do absolutismo


monárquico: o filósofo que foi derrotado pela Revolução de 1688. É o último
pensador barroco, um dos fundadores da física moderna e da estética
classicista. Para compreender esse duplo papel, é preciso observar duas
evoluções paralelas do pensamento inglês no século XVII; a construção de
uma nova filosofia da vida e a destruição da antiga.

Destaque (amarelo) - Posição 27679

A dissolução do conceito teocrático do poder monárquico é um processo


secular1249: tem, paradoxalmente, origens místicas, e passa, mais

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paradoxalmente ainda, através da elaboração do conceito do direito divino da


monarquia.

Destaque (amarelo) - Posição 27684


Enfim, os franciscanos espiritualistas, de Occam a Marsilius de Pádua,
puseram à disposição dos imperadores uma teoria do Estado leigo, baseado
em um pacto direto entre Deus e povo, rei e povo, de modo que a intervenção
do Papado ficava excluída.

Nota - Posição 27686

DIREITO DIVINO DOS REIS

Destaque (amarelo) - Posição 27688

Essa ideia otimista do progresso histórico vai reaparecer no século XVIII,


com feição muito diferente.

Destaque (amarelo) - Posição 27689

A nova teoria política chocou-se com as doutrinas aristotélico-tomistas1250:

Destaque (amarelo) - Posição 27745

Ilustração contentou-se com as dúvidas irresolúveis quanto ao dogma


ortodoxo, divulgadas pela língua maledicente e pena espirituosa de
Fontenelle1255 – um cartesiano, o mais importante mesmo, dos
neocartesianos.

Destaque (amarelo) - Posição 27751

Fortaleceu a convicção da superioridade intelectual dos “nossos” tempos


sobre os tempos idos;

Destaque (azul) - Posição 27791

A contribuição de Voltaire1263 “à historiografia não reside no panorama do


Siècle de Louis XIV,

Destaque (azul) - Posição 27801

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Mas a maior das “pseudomorfoses” racionalistas do pensamento universal é a


obra de Gibbon1264.

Destaque (azul) - Posição 27808

Gibbon pensava, como racionalista autêntico, menos no passado do que no


futuro; nos obstáculos formidáveis que a massa das tradições acumuladas
opunha ao progresso, até o triunfo final da Razão.

Destaque (azul) - Posição 27810

Gibbon sabia que muitas outras ruínas sobreviriam, nesse caminho, e uma
angústia íntima lhe dizia que a casa aristocrática do gentleman inglês
também seria ameaçada. Contra essa angústia defendeu-se Gibbon pela
ironia, desmoralizando o passado consagrado.

Destaque (azul) - Posição 27815

serviu-se da documentação imensa dos bolandistas e outros colecionadores


barrocos para provar a tese blasfema de que os cristãos primitivos não eram
mártires e sim revolucionários que o Estado devia perseguir e condenar.

Destaque (azul) - Posição 27818

O estilo solene, algo barroco, de Gibbon não deve iludir a crítica: a History
of the Decline and Fall of the Roman Empire não é um grande panorama
retórico da história universal, e sim uma obra de erudição séria. Onde Gibbon
errou, não o fez por leviandade ou por espírito sectário, mas porque a ciência
da sua época não lhe podia oferecer a documentação suficiente. Entre

Destaque (azul) - Posição 27827

Gibbon não é responsável pela omissão dos fatores econômicos na história: a


época inteira os ignorava.

Destaque (azul) - Posição 27828

A History of the Decline and Fall of the Roman Empire é, em forma épica, a
maior das tragédias históricas do Barroco; ou, antes, do Neobarroco, porque
a eliminação do “mito religioso” do Barroco pelo racionalismo cartesiano já
tornara incompreensível a catástrofe, privando-a da “catarse”.
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Destaque (azul) - Posição 27833


A intenção da historiografia de Voltaire e Gibbon é destrutiva: pretende servir
à eliminação das convenções filosóficas e sociais que o passado nos deixou,
demonstrando-lhe o anacronismo absurdo. A eliminação do fator
“Providência”, sem substituí-lo por outro fator determinante, transformou a
história em mera sucessão de fatos isolados, como átomos históricos. A
própria ideia do progresso, tão cara ao século da Ilustração, não aparece
naqueles panoramas da história universal. Por isso, a história é, para Voltaire,
“le tableu des crimes et des malheurs”; e a Gibbon afigura-se um milênio e
meio da história como períodos de “decline” permanente, o que não é
perspectiva muito confortadora para o futuro. O pessimismo histórico de
Voltaire e Gibbon é consequência da falta de leis históricas; o método
cartesiano não admitira leis científicas fora do mundo físico-matemático; e a
história perdeu o sentido. Foi isso o que os românticos censuraram
acerbamente; mas ao mesmo tempo criticaram o otimismo insensato do
racionalismo que não teria reconhecido o caráter trágico da história.

Nota - Posição 27838

DECLÍNIO PERMANENTE DA HISTÓRIA

Destaque (azul) - Posição 27851

O outro paradoxo, correspondente, é a criação – ou renovação – da ideia


progressista da história por meio de uma transformação platônica e mística
do cartesianismo. Este estabeleceria legislação matemática para os corpos,
fossem eles animados ou não.

Destaque (azul) - Posição 27855

Malebranche1266: um platônico de inclinações místicas que restabelece a


independência do mundo ideal dos espíritos, apoiando-a na intervenção
divina, contínua, em todas as ocasiões de contato com o mundo físico.

Destaque (azul) - Posição 27859

A história, por sua vez, transforma-se em sucessão de intervenções divinas


que já não tem, porém, a feição de milagres providenciais; essa sucessão
constitui, por assim dizer, a lei histórica do ocasionalismo.

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Destaque (azul) - Posição 27862


A origem do progressismo encontra-se em correntes místicas; e isso não é
paradoxal, porque a observação imparcial da vida e do mundo não levaria à
ideia do progresso, e sim ao tragicismo histórico do Barroco.

Nota - Posição 27864

PROGRESSO: ORIGEM MÍSTICA

Destaque (azul) - Posição 27867

Os deístas colocaram essa Igreja de Religião Natural nos começos da


história, sofrendo ela desde então as deturpações das religiões positivas, pela
“frente dos sacerdotes”. Os sectários e místicos, ao contrário, colocaram a
Igreja universal no fim da história, como último resultado da evolução do
cristianismo.

Nota - Posição 27869

PROGRESSO X IGREJA

Destaque (azul) - Posição 27876

Porém o mero progressismo não basta para conferir sentido à história; seria
apenas pessimismo histórico às avessas. Era preciso substituir os objetivos
misteriosos da Providência divina por outros valores finais da história; sem
isso, o progressismo seria logo desmentido pelos fatos, voltando o
pessimismo barroco. E se o pessimismo histórico do Barroco fosse despido
dos seus acentos religiosos, então voltaria a ideia pagã dos ciclos históricos
nos quais a humanidade se movimenta, chegando aos cumes da civilização só
para voltar, logo depois, às origens bárbaras da História e recomeçar de novo.
É a ideia de Maquiavel e Políbio. Eis o problema de Vico.

Nota - Posição 27881

ANACICLOSE

Destaque (azul) - Posição 27881

A história literária póstuma de Giambattista Vico1267 é das mais curiosas.

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Nota - Posição 27882


VICO

Destaque (azul) - Posição 27896

Com efeito, só em Nápoles, com a sua velha tradição filosófica e com a


lembrança viva de inúmeras mudanças e derrotas históricas – gregos,
romanos, bárbaros, bizantinos, árabes, normandos, franceses, espanhóis – foi
possível conceber, em pleno século XVIII, essa teoria cíclica da história.

Destaque (azul) - Posição 27917

Reconhecem-se no seu “passadismo” de humanista os germes de uma futura


filosofia burguesa da história: o Estado como protetor e fiador do trabalho
progressista dos seus súditos.

Destaque (azul) - Posição 27925

O século XVIII não compreendeu, porém, o realismo filosófico de Vico; e


Montesquieu voltou a basear as leis da evolução histórica em fatores naturais
– clima e raça.

Destaque (azul) - Posição 27929

A grande preocupação do padre italiano e do aristocrata francês é o destino


futuro da civilização, que significa para eles o resultado do trabalho dos
séculos e o grande tesouro da humanidade.

Destaque (azul) - Posição 27932

Na mocidade, Montesquieu1269frequentava os círculos dos libertins;

Destaque (azul) - Posição 27938

Assim como outro libertin, Saint-Évremond, conservou Montesquieu o gosto


pelos estudos históricos, especialmente pela história romana, considerada
como fonte de lições de sabedoria política, nas tragédias de Corneille, nos
ensaios de Saint-Évremond, e finalmente na historiografia do diletante
Montesquieu, grande senhor, que, como Montaigne, vivia retirado na
província.

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Nota - Posição 27941


HISTÓRIA ROMANA COMO FONTE DE SABEDORIA POLÍTICA

Destaque (azul) - Posição 27965

As Lettres persanes: uma sátira mordaz, mas sempre elegante. As


Considérations: um romance histórico. O Esprit des lois: uma solução de
ensaios e aforismos. Montesquieu é uma das encarnações mais brilhantes do
gênio literário francês.

Destaque (azul) - Posição 27969

A literatura francesa conquistou, com Montesquieu, “les grands sujets”, ainda


proibidos na época de La Bruyère; tornou-se política. Mas o ideal secreto dos
literatos politizados será sempre o de Montesquieu: a vida particular
independente do indivíduo esclarecido, garantida pela harmonia entre a
Razão e a Natureza. Em toda a parte, o século XVIII encontrou garantias de
harmonia universal. As leis astronômicas de Newton garantiram a harmonia
entre os movimentos dos corpos celestes. Em Leibniz, a harmonia apresenta-
se preestabelecida, ordem divina do Universo.

Nota - Posição 27973

SÉCULO DA HARMONIA, DA BURGUESIA

Destaque (azul) - Posição 27981

A decomposição da ascese cristã pelo novo otimismo permite enfim o


reconhecimento por assim dizer oficial dos conceitos econômicos da
burguesia.

Destaque (azul) - Posição 27984

Dessa harmonia ficam, porém, excluídos os poetas, porque a sua atividade


não tem sentido econômico. Começa, então, a separação entre a poesia e o
público; os literatos profissionais saem dos salões, retirando-se para os cafés
boêmios.

Destaque (azul) - Posição 27988

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A grande fonte, se bem que subterrânea, do sentimento pré-romântico é a


mística, a dos iluministas franceses, a dos pietistas alemães, a dos metodistas
ingleses; e a origem comum desses misticismos é a “Terceira Igreja”.

Destaque (azul) - Posição 27997

Pela atitude da sua classe dirigente, o século XVII é otimista e classicista.


Pela atitude da sua classe intelectual, o século XVIII é melancólico e pré-
romântico.

Destaque (amarelo) - Posição 28855

Pierre Bayle; sa vie, ses idées,

Capítulo II CLASSICISMO RACIONALISTA


Destaque (azul) - Posição 29002

OS ÚLTIMOS anos do século XVII e os primeiros do século XVIII


assistiram a um acontecimento dos mais memoráveis na história da literatura
universal: o primeiro encontro entre literatura e jornalismo.

Destaque (azul) - Posição 29132

A conhecida teoria de Max Weber1278 sobre o espírito calvinista como força


motriz e expressão da nova mentalidade capitalista não tem ficado
indiscutida. Também há quem pense de maneira inversa: a mentalidade
capitalista ter-se-ia apoderado do instrumento de um espírito calvinista
atenuado para obter sanção religiosa dos seus objetivos econômicos. Como
quer que seja, foi aquela combinação de calvinismo e capitalismo que
formou o novo público burguês da literatura inglesa do século XVIII.

Destaque (azul) - Posição 29156

Um ano após a primeira representação da Merope, publicou-se na Inglaterra


o panfleto mais eficiente contra os preconceitos econômicos da Europa
feudal e cristã: The Fable of the Bees, de Mandeville1281.

Destaque (azul) - Posição 29160

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Mandeville é céptico como Bayle; e como Bayle, ele é maniqueu secreto,


quer dizer, acredita que o mal no mundo não pode ser eliminado. Mas em vez
de cair no pessimismo de La Rochefoucauld, Mandeville pretende “to make
the best of it”; pretende incorporar o mal ao sistema da vida, servir-se dos
egoísmos e dos vícios individuais para o objetivo da felicidade geral. De
maneira semelhante, Gracián acreditava na capacidade da pedagogia para
transformar os defeitos em qualidades; e Gracián é, segundo Azorín, o
Nietzsche do século XVII

Destaque (azul) - Posição 29169

Entre a revolução inglesa de 1688 e a revolução francesa de 1789 decidiu-se


a vitória da burguesia, já preestabelecida na ideologia de Newton e Leibniz e
confirmada na ideologia de Adam Smith.

Destaque (azul) - Posição 29180

Na época burguesa, já se derrubam muitas fronteiras religiosas, sociais e


morais, formando-se um novo público de origem indefinida, anônimo. Eis o
público dos “semanários morais.” A mudança de público implica
modificações importantes na situação social do homem de letras.

Destaque (azul) - Posição 29209

A influência dos cafés na literatura é tão grande ou maior que a dos salões.

Destaque (azul) - Posição 29217

O café literário corresponde a um novo público: em substituição ao público


dos salões – amigos pessoais do escritor – o público anônimo que toma
assinaturas dos periódicos. O café literário é sintoma de uma nova situação
social do escritor: em vez do “protégé”, surge o profissional das letras. É a
mudança social mais importante que a literatura sofreu em toda a sua
história, entre Homero e a primeira guerra mundial.

Destaque (azul) - Posição 29226

As cortes já perderam a função de Mecenas; o “salão literário”, lugar de


aliança entre a aristocracia e a literatura, sucumbiu à radicalização política

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dos espíritos. Os homens de letras encontraram novo lar no “café literário” e


nova função no jornalismo. Nasceu a Bohême.

Nota - Posição 29228


BOÊMIA

Destaque (azul) - Posição 29249

Os ingleses adotaram as formas francesas porque a tradição literária fora


interrompida pelo puritanismo. Vencedoras em 1688, as classes médias
atenuaram os seus ideais calvinistas; começa um processo de secularização,
de transformação da ascese e predicação religiosas em espírito mercantil e
jornalismo, processo bem sucedido que levou a burguesia inglesa a uma
prosperidade econômica sem precedentes. A Escócia, ninho do calvinismo
ortodoxíssimo e, antes, um dos países mais pobres e atrasados da Europa,
transformou-se entre 1750 e 1780 em região mais próspera e mais
progressista das ilhas britânicas; ao mesmo tempo encheu-se a cidade de
Edimburgo de edifícios públicos e particulares rigorosamente classicistas –
cidade de colunas dóricas, de grecistas e latinistas ao lado de físicos,
industriais e comerciantes. O classicismo é, para empregar a terminologia de
Veblen, expressão da “conspicuous consumption” da burguesia enriquecida
imitando o gosto e estilo de viver da aristocracia afrancesada.

Destaque (azul) - Posição 29258

A revolução de 1688, obra da aliança entre os aristocratas whigs e os


dissenters, fora incompleta: os fundamentos do Estado, sociedade e Igreja
continuavam meio feudais. Uma literatura de controvérsia continua a
revolução.

Destaque (azul) - Posição 29261

As qualidades mais apreciadas são wit e judgement – wit já não significa


sutilidade metafórica e sim habilidade prática – e o ideal é nature, quer dizer,
a vitória da “verdade” social, burguesa, sobre as “falsas” convenções da
sociedade aristocrática. Daniel Defoe1285 é um dos maiores wits do
jornalismo inglês.

Destaque (azul) - Posição 29307

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Robinson Crusoe é o mais picaresco dos romances “picarescos” de Defoe. Os


heróis dos seus outros romances são pícaros que têm de construir as suas
vidas; Robinson é o pícaro que tem de construir uma sociedade. A obra pode
ser interpretada como manual do escoteiro na solidão selvagem – por isso
tornou-se leitura infantil – mas também como história da sociedade burguesa
que é uma sociedade de indivíduos isolados, lutando cada um por sua
ventura.

Destaque (azul) - Posição 29318

Defoe é o autor da única utopia que já se realizou.

Destaque (azul) - Posição 29349

Arbuthnot1288, médico da rainha Ana, partidário apaixonado dos tories,


escritor diletante, imortalizou-se por essa coisa raríssima: a criação de um
tipo que vive para sempre, como Don Juan, Don Quixote e Fausto: num dos
seus panfletos políticos aparece a figura de John Bull, encarnação do bom-
senso inglês. Arbuthnot antecipa algo de Chesterton, e, assim como nele, o
“bom-senso” de Arbuthnot é instinto reacionário.

Nota - Posição 29353

JOHN BULL

Destaque (azul) - Posição 29361

Jonathan Swift1289 – clérigo humanista, fiel-infiel à Igreja da qual era


sacerdote – é um dos maiores satíricos da literatura universal, talvez o maior
de todos. Gulliver’s Travels é o livro mais cruel que existe.

Destaque (azul) - Posição 29460

Por isso, Alexander Pope1292 gozou durante o século XVIII de uma fama
imensa e internacional; depois, negaram-lhe a própria qualidade de poeta.

Destaque (azul) - Posição 29524

Samuel Johnson1293,

Destaque (amarelo) - Posição 29609


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Voltaire1301 cultivou todos os gêneros, e todos com sucesso, menos a grande


epopeia, cujo tempo passara, e a comédia, para a qual o grande zombador
não revelou talento – faltava-lhe o amor cervantino para criar personagens
cômicos.

Destaque (amarelo) - Posição 29625

A obra de Voltaire é, por assim dizer, um cosmos de ideias obscuras. Aí a


razão pela qual quase todas as suas obras sucumbiram ao tempo, tornando-se
ilegíveis; mas a obra, como conjunto, permanece, constituindo o maior
monumento literário do século XVIII.

Destaque (amarelo) - Posição 29659

Voltaire não revela simpatias pelo humanismo nem compreensão da


Antiguidade. Voltaire é o Colbert da literatura.

Destaque (amarelo) - Posição 29701

Voltaire, como historiógrafo, documentou-se bem. Preconceitos veementes


impediram-lhe a compreensão da Idade Média; mas sem preconceitos ele se
teria perdido no relativismo, teria sido incapaz de aceitar a época de Luís
XIV, teria sido incapaz da construção imponente do Essai sur les moeurs et
l’esprit des nations, o primeiro esboço de uma verdadeira história universal
da civilização. O

Destaque (amarelo) - Posição 29766

Na Rússia, enfim, o classicismo voltairiano significa o começo da literatura


nacional.

Destaque (amarelo) - Posição 29768

Lomonossov1306, que é, no entanto, o primeiro gênio da literatura russa:

Destaque (amarelo) - Posição 29777

Na Alemanha, a influência francesa chegou a criar um caso nacional: depois


de um momento de vitória absoluta, sofreu o classicismo os ataques mais
duros, e dessa guerra dos espíritos resultou a literatura alemã moderna1308.

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Destaque (amarelo) - Posição 29790


O classicismo francês era realmente incompatível com o espírito alemão;

Destaque (amarelo) - Posição 29793

Johann Elias Schlegel1311,

Destaque (amarelo) - Posição 29798

O classicismo da Ilustração fracassou em toda a parte nos gêneros já


irremediavelmente condenados: a epopeia e a tragédia heroica. Em
compensação triunfou em dois gêneros menores, igualmente obsoletos: a
fábula e a epopeia herói-cômica, que se prestaram melhor a veículos do
pensamento racionalista. Pelo mesmo motivo, conseguiu-se a transformação
da comédia molièriana em gênero novo, a comédia burguesa de tendências
críticas e até revolucionárias.

Destaque (amarelo) - Posição 29817

A intenção da epopeia classicista é evidentemente o culto do Estado


absolutista, do “absolutismo ilustrado”, protetor do progresso burguês.

Destaque (amarelo) - Posição 29886

O intuito da epopeia heroico-cômica do século XVIII é diferente; é, por mais


esquisito que pareça, o mesmo da epopeia e tragédia heroicas: celebrar o
Estado “nacional” do absolutismo ilustrado, atacando-lhe satiricamente os
inimigos “internacionalistas”, os monges e a Igreja romana.

Destaque (amarelo) - Posição 29983

Holberg1324 é uma das figuras mais interessantes do século XVIII.

Destaque (amarelo) - Posição 30066

Sátira literária é o ponto de partida da atividade do maior comediógrafo do


século XVIII: Carlo Goldoni1327.

Destaque (amarelo) - Posição 30084

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Goldoni é o campeão das virtudes burguesas contra os vícios da aristocracia,


sobretudo, como na Bottega del caffè, contra o vício nacional de Veneza, o
jogo, que arruína as famílias.

Destaque (amarelo) - Posição 30098

Mas não é um plebeu: é um galantuomo, de roupas elegantes à maneira do


Rococó, e o seu ódio contra a aristocracia orgulhosa não exclui a comunidade
do estilo de viver;

Destaque (amarelo) - Posição 30118

O mais poderoso dos inimigos que expulsaram Goldoni da sua “adoratisima


patria” foi a encarnação do espírito da grande aristocracia decadente: Carlo
Gozzi1328,

Destaque (amarelo) - Posição 30146

Gozzi era um reacionário obstinado. Em seu redor, viu cair em ruínas o


mundo aristocrático, e vingou-se, ridicularizando as ciências naturais, a
economia política, a nova filologia, os enciclopedistas, ateístas e burgueses.

Destaque (amarelo) - Posição 30206

A Inglaterra burguesa do século XIX não terá um teatro de valor literário. Em


compensação, terá um grande romance. E o romance inglês inspirou-se muito
em experiências dramatúrgicas.

Destaque (amarelo) - Posição 30255

A Revolução veio; e não demorou em revelar o seu caráter estritamente


burguês, capitalista.

Capítulo III O PRÉ-ROMANTISMO


Destaque (azul) - Posição 31111

O que existe de “romântico” na literatura francesa do século XVIII não chega


a constituir um movimento coerente. Resta o caso de Rousseau. Mas as

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consequências do pensamento rousseauiano, românticas na Alemanha e na


Inglaterra, foram revolucionárias na França;

Destaque (azul) - Posição 31117


adotaram o termo “pré-romantismo”, interpretado como suma dos
movimentos românticos na Europa do século XVIII, inclusive na França de
Rousseau.

Destaque (azul) - Posição 31122

mentalidade que oscila entre tristeza melancólica e protesto revolucionário.

Destaque (azul) - Posição 31123

a transformação dele em romantismo, assim como o conhecemos, mal teria


sido possível sem as influências rousseauianas, provenientes da França. Na
França, porém, o sentimentalismo inglês transformou-se em emoção
revolucionária.

Destaque (azul) - Posição 31159

Shaftesbury1341.

Destaque (azul) - Posição 31170

Shaftesbury é o grande filósofo do pré-romantismo.

Destaque (azul) - Posição 31174

No otimismo entusiástico de Shaftesbury encontram-se os germes espirituais


da ética e revolução burguesas e da estética pré-romântica.

Destaque (azul) - Posição 31175

Na nova sociedade utilitarista que então se esboça, não há lugar para o artista
que, tendo perdido os protetores aristocráticos, se retira para a boêmia dos
cafés literários. A literatura está livre das cadeias da estética classicista;

Destaque (azul) - Posição 31179

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Mas enquanto os burgueses constituem nova sociedade, ao lado e ao mesmo


tempo em lugar da velha, os artistas ficam excluídos: em vez de depender da
corte ou do salão aristocrático, dependem agora de um poder anônimo, do
público. Duas qualidades caracterizam o novo público: é anônimo, e não
dispõe, em geral, de formação humanista, clássica. É então que a língua
latina perde definitivamente a função de língua internacional; o mesmo se dá
na literatura científica.

Nota - Posição 31183

O LATIM PERDE SUA CARACTERÍSTICA DE LÍNGUA


INTERNACIONAL

Destaque (azul) - Posição 31184

Na “Querelle des anciens et des modernes” vencem afinal os “modernes”: cai


o princípio da imitação dos antigos, mas cai também o princípio da “imitação
da natureza”.

Nota - Posição 31185

A arte clássica não procura produzir obras originais, mas imitar a natureza
como ela é e se inspirar em autores classificados como perfeitos. Mimese é o
nome atribuído à noção de imitação da arte utilizada pelos artistas clássicos.
Esse pensamento filosófico foi muito difundido por Platão e Aristóteles.

Destaque (azul) - Posição 31188

“Imitação” já não existe, nem no sentido humanista, nem no sentido


doutrinário, nem no sentido social. Será preciso substituir a “imitação” por
outro princípio estético, tarefa da qual se incumbe uma nova disciplina
filosófica: a estética1342.

Nota - Posição 31190

ESTÉTICA

Destaque (azul) - Posição 31192

Alexander Amadeus Baumgarten, o mesmo que publicou depois, em 1750, a


primeira grande Aesthetica.
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Destaque (azul) - Posição 31201


A arte, pois, não é produto das reflexões da razão, e sim produto dos
movimentos inconscientes da imaginação, da inspiração. Resta saber como
foi possível que quase toda a literatura, desde a Renascença até ao
classicismo, tivesse renunciado a essa liberdade de inspiração, submetendo-
se aos modelos greco-romanos e às bienséances da sociedade. Esse problema
histórico foi resolvido por Vico: a poesia dos povos primitivos, na mocidade
das nações, obedece apenas à inspiração, enquanto que, com o progresso da
civilização, começam a prevalecer a reflexão e os elementos racionais.

Destaque (azul) - Posição 31241

A infância é considerada como a idade poética por excelência, e os produtos


literários da infância da humanidade – a Bíblia, Homero, a poesia popular e
medieval – são cada vez mais idolatrados, ao passo que o ideal da perfeição
artística cai por terra. É uma revolução dos valores literários. Causa
estranheza, porém, o fato de a revolução estética não coincidir totalmente
com a revolução política e social que se prepara ao mesmo tempo.

Destaque (azul) - Posição 31245

Em geral, não são os pré-românticos que apresentam as reivindicações


políticas e sociais; deixam esse papel aos classicistas. Do classicismo
ortodoxo de Voltaire, subversivo em todos os outros sentidos, já não é
necessário falar. Classicista ortodoxíssimo é La Harpe1345,

Nota - Posição 31247

CLASSICISTAS COMO REIVINDICADORES POLÍTICOS

Destaque (azul) - Posição 31278

Mirabeau1349, a grande voz da razão revolucionária, talvez seja o maior


orador político do século: dos oradores liberais dos parlamentos do século
XIX ele se distingue pela grande verve, que não é, porém, consequência de
improvisação.

Destaque (azul) - Posição 31282

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Uma geração mais tarde, em pleno romantismo, é Courier1350 o maior


panfletista da oposição liberal.

Destaque (azul) - Posição 31322

O homem da ação e espírito melancólico foi Vauvenargues1352.

Destaque (azul) - Posição 31346

A contradição entre razão e sentimento levou o abbé Galiani1353, italiano


afrancesado nos salões parisienses, um passo mais adiante: a uma revisão
racional dos valores sentimentais. O padre napolitano, causeur
espirituosíssimo,

Destaque (azul) - Posição 31354

Galiani chegou ao esboço de uma nova economia política, baseada numa


teoria dos valores;

Nota - Posição 31354

ECONOMIA

Destaque (azul) - Posição 31356

Essa teoria dos valores – o valor dos objetos depende das necessidades
subjetivas – aplicou-a Galiani à política e à psicologia.

Destaque (azul) - Posição 31356

Acabou com o valor absoluto das instituições políticas: profetizando a


Revolução e a transformação da Revolução em nova ordem burguesa.

Destaque (azul) - Posição 31363

O conflito entre sentimento e razão chega à plena autoconsciência em


Lichtenberg.1354

Destaque (azul) - Posição 31368

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os problemas que esse enfant terrible do racionalismo levantou foram os da


conduta humana, problemas irresolúveis pela razão. Lichtenberg é o último
racionalista e o primeiro romântico.

Nota - Posição 31370

CONDUTA X RAZÃO

Destaque (azul) - Posição 31384

Mas o ambiente que o rodeia tem outro clima: é a melancolia dos literatos
boêmios, retirados da sociedade aristocrática e, no futuro, excluídos da
sociedade burguesa. A contradição íntima em Rousseau explica o paradoxo
dos pré-românticos reacionários ou neutros e dos panfletários radicais,
racionalistas, otimistas e por isso fiéis do classicismo. Ao mesmo tempo
desaparece o problema cronológico do pré-romantismo. Assim como
Rousseau precede a Revolução, assim também o pré-romantismo precede
Rousseau. A revolução política e a revolução literária não coincidem. A
atitude pré-romântica já vem, como revela o caso de Muratori e Gravina, do
Neobarroco, e acompanha sempre o racionalismo da Ilustração, desde os
começos do século. O pré-romantismo torna-se poderoso, preponderante já
muito antes da revolução política, entre 1740 e 1760; coincide com uma
revolução social que, por sua vez, não coincide com a revolução política,
nem cronologicamente nem nos seus motivos e fins.

Nota - Posição 31391

REVOLUÇÃO FRANCESA X REVOLUÇÃO LITERÁRIA

Destaque (azul) - Posição 31391

Os literatos pré-românticos não exprimem nem antecipam a mentalidade da


burguesia que venceu em 1794, derrubando Robespierre e os jacobinos e
estabelecendo o Diretório, o primeiro governo puramente burguês na Europa.
Aqueles boêmios são antes os porta-vozes das vítimas da grande crise social
que precedeu a Revolução e culminou na explosão de 1789: revolta do povo
em sentido mais nítido.

Destaque (azul) - Posição 31418

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A ciência, até então expressão da curiosidade pura do espírito, torna-se criada


da técnica industrial. É a vitória do utilitarismo.

Destaque (azul) - Posição 31423

Ao ano de 1764, em que as duas damas se separaram, atribui Monglond1358


a importância de uma data histórica: significaria a vitória do pré-romantismo,
na França. Na história literária inglesa não há data correspondente. Mas 1760
seria, segundo Arnold Toynbee, o começo aproximado do grande movimento
que transformou a Inglaterra agrícola em país industrializado: da chamada
“revolução industrial”.

Destaque (azul) - Posição 31432

Por volta de 1760, a indústria inglesa já está utilizando máquinas; inicia-se a


aliança entre o capitalismo e a técnica.

Destaque (azul) - Posição 31450

O caráter melancólico da nova poesia não surpreende; os poemas não podiam


participar do otimismo da prosperidade burguesa. O que surpreende é a
preferência pela paisagem, pelos aspectos rurais da Inglaterra em plena
industrialização; parece manobra evasionista; o contrário, porém, é certo.
Durante a primeira metade do século XVIII, Londres foi o centro comercial
da Inglaterra; a literatura classicista é principalmente urbana. A
industrialização desloca os centros de atividade econômica para os midlands;
começa a era da prosperidade de Shropshire, Lancashire e sobretudo da
Escócia. A nova indústria também é “rural”. Um dos motivos principais da
deslocação é a miséria das populações rurais; isso permite pagar salários
mais baixos do que na cidade. Porque a revolução industrial é acompanhada
de uma revolução agrária. A indústria têxtil precisa de lã; é preciso
transformar muitos terrenos cultivados em campos de pastagem. Agora,
acabam com os últimos restos da pequena propriedade, criando latifúndios
imensos, entre os quais fumegam as usinas. No começo dessa revolução
agrária, houve um grande êxodo dos campos; a população do interior foi para
a cidade, constituindo uma massa subproletária de mendigos, ladrões e
prostitutas, os personagens da Beggar’s Opera, de Gay.

Nota - Posição 31460

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REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Destaque (azul) - Posição 31475

James Thomson1362 merece, como poucos outros, o título de poeta de


transição. Operou uma revolução completa na poesia inglesa e universal;
contudo, está muito ligado às tradições do classicismo.

Destaque (azul) - Posição 31594

Em suma, Gray é o ideal dos inúmeros professores de Cambridge e Oxford


que, durante séculos, compõem versos nas horas de ócio: é o maior scholar
poet.

Destaque (azul) - Posição 31620

A “Elegy” seria o idílio mais nobre que existe em qualquer língua, se fosse
um idílio. Na verdade, o key-word do poema, forgetfulness, encerra o
protesto indignado contra o esquecimento do poor, ao qual o mundo negou
Fortune e Fame. É o protesto do plebeu Gray que deveu tudo aos seus
próprios esforços, que rejeitou proteção aristocrática e até a dignidade do
poet laureate. Gray é o poeta clássico da revolução agrária; mas gravou-se na
memória da nação, porque never spoke out o que sentiu. Era um inglês
típico. O momento idílico da poesia de Gray aparece em toda a pureza, não
da forma mas do sentimento, no Deserted Village (1770), de Goldsmith1377,
descrição comovida e sentimental da paisagem da revolução industrial e por
isso muito popular. A própria revolução – ou antes as consequências dela –
aparece, e em versos clássicos, na poesia de Crabbe1378, que é por isso um
dos poetas menos populares da Inglaterra; mas dos mais fortes.

Destaque (azul) - Posição 31637

Crabbe é o poeta da miséria da qual Gray fora o artista. O ciclo do idílio pré-
romântico estava fechado.

Destaque (azul) - Posição 31647

O sentido social do gênero manifesta-se nos idílios de Voss1381, o famoso


tradutor alemão de Homero

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Destaque (azul) - Posição 31654


O Winterawend (A Noite de Inverno) descreve com toda a franqueza a
situação miserável dos camponeses sob a servidão feudal, e nos Geldhappers
(Os prestamistas) transforma-se a advertência em protesto, em ameaça de
revolução – quinze anos antes da Revolução, que nunca chegou, aliás,
àquelas regiões nórdicas.

Destaque (azul) - Posição 31660

Um espanhol de velha estirpe, Jovellanos1382, aparece como representante


de muitos correligionários seus em toda a parte da Europa, que pretendiam
salvar o ancien regime por meio de reformas mais ou menos fundamentais e
orgânicas.

Destaque (azul) - Posição 31671

Em geral, porém, Jovellanos é um diletante do bucolismo arcadiano; torna-se


poeta autêntico quando a tristeza dos campos e da miséria humana o abala.

Destaque (azul) - Posição 31680

Assim Albrecht von Haller1383, grande cientista e patrício orgulhoso de


Berna, cuja constituição aristocrática defendeu, contra as correntes
democráticas, nos romances políticos Alfred e Usong.

Destaque (azul) - Posição 31695

Edward Young1386, um dos poetas de influência profunda na literatura


universal, embora as qualidades poéticas não o justifiquem.

Destaque (azul) - Posição 31699

Young era classicista. As suas tragédias são moldadas em Dryden e


Corneille; as suas sátiras são imitadas de Pope.

Destaque (azul) - Posição 31713

Young exprimiu em forma clássica e em símbolos cristãos a melancolia


angustiada, pré-revolucionária, da época. Daí o sucesso imenso, do qual
participaram os graveyards menores como Blair e Hervey1387;

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Destaque (azul) - Posição 31719


Young1388. É muito marcada a sua influência na Alemanha1389, nas obras
de filosofia moral de Gellert, nas odes religiosas de Klopstock, nos romances
sentimentais de Miller, e até no Werther, de Goethe.

Destaque (azul) - Posição 31723

Em certo sentido, um elemento característico da mentalidade alemã, a busca


de originalidade “titânica”, encontrou em Young o primeiro apoio teórico.

Destaque (azul) - Posição 31759

A sobrevivência da graveyard school verifica-se, de maneira surpreendente,


na América. Philip Freneau1397 tornou-se conhecido, durante o século XIX,
como o poeta patriótico e satírico, apaixonadamente antiinglês, da guerra de
Independência americana. A sua “visão” The House of Night (1779), é mais
do que uma curiosidade bibliográfica: é a primeira poesia autêntica, nascida
nos Estados Unidos.

Destaque (azul) - Posição 31782

A relação entre a melancolia pré-romântica e uma religiosidade vagamente


mística, relação que se manifesta na graveyard school, é da maior
importância para a história da literatura universal e para a história espiritual
da Europa. É sintoma, um entre vários, de um renascimento religioso durante
o século XVIII, tão racionalista na aparência. É sintoma disso a discussão
sobre o milagre e sobre os milagres na poesia.

Destaque (azul) - Posição 31791

Desde os estudos de Conyers Middleton, os numerosos milagres, relatados


por Heródoto e Lívio, desapareceram das histórias modernas de Grécia e
Roma. A poesia classicista já não admitira o milagre desde Boileau e Pope.
Nesse mesmo momento, os teóricos do pré-romantismo começaram a
reivindicá-lo na poesia.

Nota - Posição 31793

MILAGRE E POESIA

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Destaque (azul) - Posição 31797


Era tempo em que o próprio Voltaire ousou apresentar, em Sémiramis, um
espectro no palco. No século do racionalismo e da Ilustração, essa teimosia
em reivindicar o milagre poético não era atitude “reacionária”; pelo
contrário, era de não-conformistas.

Destaque (azul) - Posição 31803

Essa religiosidade mística do século XVIII tinha passado e continuou a


passar pelas desilusões frias do racionalismo; não podia aderir às Igrejas
constituídas, todas então mais ou menos contaminadas pelo racionalismo e o
deísmo. A religiosidade mística refugiu-se nas seitas; e o sectarismo do
século XVIII é um fenômeno de grande importância, inspirando, muito além
do setor literário, todos os movimentos espirituais da época, embora sempre
clandestinamente, inclusive os políticos1400. Importância e possibilidades
do misticismo revelam-se em uma personalidade como Gottfried
Arnold1401.

Destaque (azul) - Posição 31819

É de notar que o centro do pietismo subversivo se encontrava na Renânia, na


mesma região dos anabatistas, entre as vítimas da revolução agrária do
século XVI e entre as da revolução industrial do século XVIII. Mais um
século, e os mesmos proletários renanos hesitarão entre o conventículo
pietista e o comício em que fala o seu patrício Friedrich Engels. O
misticismo do século XVIII é um aliado subterrâneo do racionalismo; e
talvez fosse mesmo precursor da Revolução, se não entendermos Revolução
burguesa. A variante burguesa do mesmo misticismo é o sentimentalismo.

Nota - Posição 31823

MISTICISMO E RACIONALISMO 🤝

Destaque (azul) - Posição 31828

Assim a grande corrente da mística europeia desapareceu depois da Reforma;


reaparece no século XVIII, mantendo-se à margem da Ilustração, mas ligada
a ela por mais de um fio secreto, alimentando a contra-corrente pré-
romântica e conferindo-lhe, de repente, força explosiva. As duas fontes
principais do movimento são a mística hispano-francesa e a mística
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holandesa da “Terceira Igreja” com as suas ramificações anglo-saxônicas; é


possível notar uma distinção entre misticismo de tendência quietista e
misticismo de tendência entusiasta.

Destaque (azul) - Posição 31846


No ramo renano do quietismo destaca-se Pierre Poiret1405, do qual os
historiadores da literatura não tomaram conhecimento e que é, no entanto,
uma das figuras mais importantes da história literária do século XVIII.

Destaque (azul) - Posição 31850

O conceito central da doutrina de Poiret era a alma hermosa, conceito


encontrado em santa Teresa;

Destaque (azul) - Posição 31852

“Schöne Seele” é a expressão sinônima, em língua alemã,

Destaque (azul) - Posição 31854

Poiret é, sem exagero, o pai do sentimentalismo pré-romântico alemão1406.


Por intermédio do filósofo holandês Frans Hemsterhuis (1721-1790), adepto
do “entusiasmo” moral e estético de Shaftesbury, o conceito entrou na
estética, influenciando as dourinas literárias de Goethe e Schiller.

Destaque (azul) - Posição 31878

O fundador do pietismo alemão, Spener1410, assemelha-se aos puritanos


ingleses, menos no espírito de resistência política. Não pretendeu destruir a
Igreja luterana, mas apenas conquistá-la internamente, pela atividade pacífica
de conventículos de leigos; pacífica, mas eficiente: e esses conventículos
foram os berços do sentimentalismo pré-romântico.

Destaque (azul) - Posição 31892

O pietismo acabou, paradoxalmente, como patriotismo1413.

Destaque (azul) - Posição 31915

Os dissenters, os descendentes dos puritanos, estiveram no início abertos a


influências místicas. Mas depois de 1688, os dissenters constituem o núcleo
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da nova burguesia. O seu representante mais lido, o presbiteriano Richard


Baxter, encerra nos seus livros edificantes lições morais que, segundo Max
Weber, constituem o germe da mentalidade capitalista.

Nota - Posição 31918


CAPITALISMO

Destaque (azul) - Posição 31919

Com rapidez inesperada, o pensamento puritano seculariza-se,


transformando-se em liberalismo político e econômico.

Destaque (azul) - Posição 31994

A poesia mística do fim do século XVIII é francamente herética, e nela os


sentimentos coletivos manifestam-se com fortíssimos acentos
revolucionários: a combinação, que é característica de Blake. Blake1419,
poeta lírico de inspiração simples e musical, é, ao mesmo tempo, o porta-voz
de todos os anjos e demônios do Universo; a sua obra é das mais vastas e
mais difíceis jamais criadas por um poeta inglês.

Destaque (azul) - Posição 32019

Revolucionário, que passara pela escola de Swedenborg, ataca com a maior


violência os dualismos da religião cristã e da tirania política, as distinções
entre o Bem e o Mal, alma e corpo, autoridade e povo, pregando a identidade
de Deus e Homem. The French Revolution celebra a libertação política como
se fosse um acontecimento transcendental nos céus; e The Visions of the
Daughters of Albion exige o complemento da revolução pela libertação
moral, festejando a santidade do ato sexual. Se Blake foi um louco, então foi
o louco mais lúcido de todos os tempos. Porque mais cedo do que os outros
reconheceu os motivos sociais da Revolução e adivinhou-lhe a degeneração
em vitória da burguesia. Songs of Experience apresenta um quadro tremendo,
“dantesco”, da miséria humana; poesia como “Holy Thursday”, “London”,
“The Chimney Sweeper” constituem a expressão máxima das consequências
da revolução industrial.

Nota - Posição 32027

WILLIAN BLAKE
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Destaque (azul) - Posição 32068


E as visões infernais de Blake (“Dark satanic mills...”) só transfiguram a sua
visão naturalista das ruas de Londres nos primeiros tempos da revolução
industrial, dos mendigos, prostitutas e das crianças de sete anos, exaustas por
um dia de trabalho de doze horas.

Destaque (azul) - Posição 32084

Blake é Dostoievski em verso: proclama a responsabilidade de todos por


todos. Como Dostoievski, é anarquista espiritualista, mas o seu fim é mais
real, é a realização do socialismo revolucionário:

Destaque (azul) - Posição 32104

Blake ficou isolado porque é a voz de tradições milenárias, místicas, em


favor do proletariado. A burguesia, feudalizando-se pela compra de
latifúndios e ligando-se à aristocracia, constituindo assim a gentry,
participava da direção da Igreja anglicana, aristocrática e meio céptica. A
burguesia comercial – os dissenters puritanos – estava a caminho do
liberalismo político e filosófico.

Nota - Posição 32107

GENTRY E DISSENTERS

Destaque (azul) - Posição 32117

O denominador comum dessa literatura é o sentimentalismo. A porta de


entrada é o romance. É o mais novo dos gêneros, sem herança de tradições
classicistas, capaz de tratar qualquer assunto novo. Depois, no teatro, em que
os pré-românticos

Destaque (azul) - Posição 32129

O abbé Prévost1421, escritor de segunda categoria, benemérito do


intercâmbio literário entre a Inglaterra e a França, é o autor de um romance
de primeira ordem, de uma daquelas obras que se gravaram indelevelmente
na memória da humanidade. Basta pronunciar o título Manon Lescaut,

Destaque (azul) - Posição 32136

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Manon Lescaut é o primeiro romance realmente moderno,

Destaque (azul) - Posição 32149

do primeiro romance de Richardson. Há mais: a Inglaterra romanesca de


Prévost não é a Inglaterra real, que ele conheceu relativamente tarde, mas é,
antes, fruto de leituras dos dramaturgos e romancistas da Restauração
inglesa, uma Inglaterra romântica de ladrões e esquisitões, malandros e
prostitutas. É a Inglaterra de Dryden e Otway, Vanbrugh e Defoe, vista pelos
olhos de um padre défroqué, testemunha da libertinagem da Régence1422.

Destaque (amarelo) - Posição 32167

de Samuel Richardson1423; ninguém negou a grande importância histórica


do precursor de Rousseau e do Werther; mas o público recusou-se a ler esses
monumentos de tamanho enorme. Além deste motivo alegava-se outro: o
moralismo quase escandaloso de Pamela, Clarissa e Grandison, romances de
sedução, nos quais a virtude vence da maneira mais fabulosa.

Destaque (amarelo) - Posição 32178

Richardson não recuperará nunca mais essa popularidade; sobretudo o


tamanho desses romances intermináveis é obstáculo definitivo, mas a crítica
moderna interpreta esse defeito como consequência inevitável das análises
psicológicas exatíssimas, e daí extensas, de um precursor de Proust.

Destaque (amarelo) - Posição 32189

Moralizou o romance heroico-galante, substituiu os ladrões e prostitutas de


um Defoe por mártires da virgindade e heróis da virtude;

Destaque (amarelo) - Posição 32191

Richardson é o menos realista dos romancistas ingleses. A vitória permanente


das forças do Bem é um expediente infantil.

Destaque (amarelo) - Posição 32225

O romance sentimental, entrando no período pré-revolucionário, não mudou


de técnica, mas de desígnio.

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Destaque (amarelo) - Posição 32229


O romance de Rousseau conquistou o mundo pelo sentimentalismo forçado,
violento, que podia passar por revolucionário. Werther (1714)1429 confessa
a natureza pessoal, individual, dos seus males; o intelectual pequeno-burguês
pré-romântico preferiu amaldiçoar o Universo e meditar o suicídio, em vez
de fazer revolução.

Destaque (amarelo) - Posição 32252

No romance sentimental havia várias possibilidades de evolução. Uma, que


aparece ocasionalmente no Werther, a ambição pessoal frustrada como
motivo secundário do desespero, transformou-se em ambição patriótica nas
Ultime lettere di Jacopo Ortis, de Foscolo1434, o único romance digno de ser
lembrado junto com o modelo.

Destaque (amarelo) - Posição 32257

Do wertherismo provém, por sua vez, o Adolphe, de Benjamin Constant. E


assim Richardson pode ser considerado como precursor do romance de
análise do burguês derrotado, do romance psicológico do século XIX.

Destaque (amarelo) - Posição 32268

A fonte da energia dramática do novo gênero é, mais uma vez, o misticismo;


mas não pode ser o misticismo quetista, e sim o misticismo entusiasta que
permite e favorece a exteriorização teatral dos sentimentos1436. O quietista,
confiando na ascensão lenta, não se preocupava muito com os desígnios da
Providência divina;

Destaque (amarelo) - Posição 32273

O místico entusiasta, ao contrário, precisa em todo momento da Providência


que lhe guia os passos;

Destaque (amarelo) - Posição 32288

Diderot1439. Les fils naturel e Le père de famille reúnem o moralismo


sentimental e o protesto contra convenções sociais obsoletas, de uma maneira
que pôde ser entendida como afirmação das virtudes tradicionais em sujeitos

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humildes, e também com apelo aos sentimentais revolucionários, não sem


certa dose de sensualidade mal dissimulada.

Nota - Posição 32291


DIDEROT

Destaque (amarelo) - Posição 32292

E assim o novo gênero conquistou a Europa: mais sentimental nas peças do


artesão Sedaine1440, mais revolucionário nas peças do polígrafo
Mercier1441; até Beaumarchais, em Eyugénie e La mère coupable, cultivou
o drama burguês1442. O ponto de vista moral é antes tradicionalista no
Delincuente honrado, de Jovellanos1443, enquanto Kabale und Liebe, do
jovem Schiller1444, opondo violentamente à degeneração moral da corte a
honradez e desgraça da casa burguesa, é a tragédia mais revolucionária do
século XVIII. O gênero de Diderot, voltando à Inglaterra, encontrou o seu
representante principal em Cumberland1445, a cujo Jew se estende o raio de
ação do sentimentalismo, incluindo o mais novo membro da nova burguesia,
o judeu.

Destaque (amarelo) - Posição 32312

Romance sentimental e drama sentimental são, como todos os


sentimentalismos, expressões de um profundo egoísmo: a pequena-burguesia
urbana luta pela igualdade dos direitos sociais, pretende arrancá-la pelas
lágrimas, mas ignora as consequências da revolução industrial.

Destaque (amarelo) - Posição 32324

O racionalismo do século XVIII minou o dogma menos do que se pensa; fora


da alta sociedade e dos círculos dos intelectuais avançados, a fé permaneceu
firme, antes encontrando novo apoio nos reivindicados direitos do coração
contra a “Razão fria”.

Nota - Posição 32325

RACIONALISMO X DOGMA

Destaque (amarelo) - Posição 32330

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O vigário protestante do século XVIII é, antes de tudo, um intelectual de


descendência pequeno-burguesa; nos campos, ele é o único intelectual em
todo o distrito. Muitos escritores ingleses, alemães e escandinavos do século,
são vigários rurais; decerto, a grande maioria é composta de filhos deles. Já
se disse que a literatura alemã moderna nasceu na casa do cura protestante; e
o mesmo acontece com respeito ao pré-romantismo inglês. Enquanto essa
gente continuou nos campos, elaborou um novo gênero de literatura, pré-
romântico, sentimental, religioso e utilitário, idílico e, às vezes,
revolucionário ao mesmo tempo1448.

Destaque (azul) - Posição 32396

A terceira forma de literatura “plebeia” é plebeia mesmo, no sentido


pejorativo da palavra: escrita por diletantes desdenhosos ou por
grafomaníacos meio loucos, ou então profissionais espertos e ávidos de
dinheiro; literatura destinada às grandes massas de leitores semicultos e
incultos. Assim nasceu o gênero ao qual os ingleses chamam gothic romance,
os franceses roman noir e os alemães Schauerroman1455. Trata-se de uma
reação contra o racionalismo, de uma busca do milagre, mas não do milagre
literário, autenticado pela poesia como em Shakespeare e Milton, e sim do
milagre atualizado, imediato, para excitar os nervos. Essa busca encontra-se
com um movimento poderoso da segunda metade do século XVIII: as
sociedades secretas.

Nota - Posição 32403

LITERATURA Das SOCIEDADES SECRETAS

Destaque (azul) - Posição 32403

É a época da decadência da maçonaria, transformada em conventículos de


charlatães e de iludidos, que pretendiam (ou fingiam pretender) reformar a
Humanidade. Para esse fim, serviam-se igualmente de slogans humanitários
e de espetáculos terrificantes nas lojas maçônicas, impressionando os
ingênuos e assustando os tímidos. É a época de Cagliostro; a Zauberfloete, de
Mozart, apresenta tal mistura de milagres infantis e altos ideais humanitários.
Em parte, os empresários de aparições de espectros acreditavam no seu
negócio, assim como mais tarde os espíritas; e deste modo criou-se nas
sociedades secretas uma mentalidade “romântica” ou, antes, pré-
romântica1456. A seriedade é inegável no martinismo de De Maistre e nos
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rosenkreuzerismo dos românticos alemães; até no Wilhelm Meister, de


Goethe, aparece uma sociedade secreta, dirigindo os destinos da gente.

Destaque (azul) - Posição 32421


É a origem do thriller. Quem frequentou, porém, aquelas sociedades secretas
e conventículos maçônicos, foi principalmente a alta aristocracia.

Destaque (azul) - Posição 32424

É evidente que o “ocultismo” do século XVIII e o gothic romance também


podem ser interpretados como movimento esteticista ou pseudo-esteticista,
reação de cansaço contra o racionalismo e o utilitarismo que dominavam a
sociedade; pois a alta burguesia já participava, de certo modo, do poder.
Resta explicar por que o público pequeno-burguês aceitou avidamente o
novo gênero1457.

Destaque (azul) - Posição 32463

Um dos romances góticos mais bem escritos é Der Geisterseher (O Mágico)


(1789), de Schiller;

Destaque (azul) - Posição 32468

O romance “gótico” correspondia a uma necessidade espiritual das massas, e


não só das massas.

Destaque (azul) - Posição 32469

Os elementos pseudo-históricos do romance gótico, purificados pelo


conhecimento melhor da Idade Média, reaparecem em Walter Scott e todos
os seus imitadores, de Hugo a Alexis, menos em Manzoni.

Destaque (azul) - Posição 32479

romance policial, último descendente do romance “gótico”. Romance


sentimental, drama burguês, idílio rústico e romance “gótico” eram
absolutamente incompatíveis com a estética classicista; neste sentido, eram
gêneros revolucionários.

Destaque (azul) - Posição 32481

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Mas não desempenharam função revolucionária. A classe que os criou – a


dos intelectuais a serviço do novo público – não era capaz de fazer a
Revolução nem o pretendeu; e esse fato sociológico revela-se nas qualidades
estilísticas: pretendeu-se fazer alta literatura para o uso do novo público, e
esse experimento acabou em subliteratura, em plebeização. A literatura dos
intelectuais “para o povo” não teve consequências revolucionárias. Estas
surgiram quando os intelectuais começaram a fazer literatura “pelo povo”,
quer dizer, apoderando-se das formas literárias genuinamente populares.

Destaque (azul) - Posição 32499

Plebeísmo e populismo são, ambos, literaturas de evasão. Romance e drama


sentimentais, idílio rústico, romance “gótico” permitem ao novo público a
evasão para fora da monotonia cinzenta da vida pequeno-burguesa.

Destaque (azul) - Posição 32505

O século XVIII ampliou imensamente a matéria de todas as ciências.

Destaque (azul) - Posição 32508

tudo isso ampliou os limites do ser humano no tempo e no espaço. E para


assimilar esses novos mundos, não se precisava de cultura aristocrática nem
do conhecimento das línguas antigas. O pré-romantismo é o primeiro grande
movimento literário na história europeia que não se inspira na Antiguidade
greco-romana. É uma Renascença antirrenascentista.

Destaque (azul) - Posição 32517

Até meados do século XVIII apreciava-se sobretudo a Natureza domesticada,


os jardins da França, as planícies bem cultivadas da Holanda. As montanhas
inspiravam o terror. Ainda em Haller, Die Alpen servem para sugerir
meditações religiosas; mas neste poeta suíço a Natureza livre já é símbolo de
superioridade moral; um espírito pré-rousseauiano lamenta a corrupção das
cidades.

Nota - Posição 32520

NATUREZA - SUPERIORIDADE MORAL

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Destaque (azul) - Posição 32530


Outro sentimento da Natureza se anuncia e a sua primeira expressão
encontra-se em Rousseau.

Destaque (azul) - Posição 32531

A definição da Natureza como état d’âme tornou-se, através do romantismo,


um lugar-comum da literatura universal – mas resta mais outra coisa
inteiramente nova. Rousseau admira as montanhas:

Destaque (azul) - Posição 32536

O primitivismo intencional está a caminho, e quem irá desenvolvê-lo nasceu


pelo menos na Alsácia, perto da Suíça: Ramond de Carbonnières1465,

Destaque (amarelo) - Posição 32616

Em toda a parte, o classicismo tinha interrompido as tradições nacionais.

Destaque (amarelo) - Posição 32617

Uma tradição poética ininterrupta existia só na Inglaterra. Ali, não se pode


falar bem em “descobertas”.

Destaque (amarelo) - Posição 32622

Para Collins e Gray, Milton é o poet’s poet, o artista incomparável; mas em


geral, o Milton do século XVIII inglês é o “clássico da família”, o grande
poeta cristão da nova burguesia. No Continente, onde não existia tradição
puritana, Milton apareceu com a força de um revolucionário poético,
derrubando o racionalismo classicista, abrindo a visão de um mundo de
revoluções cósmicas1471.

Destaque (amarelo) - Posição 32860

Robert Burns1494 é um gênio autêntico, e sem falsa “profundidade”. Se a


sua obra é inspirada, essa inspiração não vem do alto. Foi um simples
proletário rural, camponês pobre ao qual a repentina glória poética de nada
lhe adiantou, antes serviu para o perder; nunca conseguiu situação na vida, e,
enfim, perdendo o equilíbrio, morreu bêbedo. Burns é considerado poeta

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espontâneo: os seus temas são os da poesia anacreôntica – amor, vinho,


liberdade, pobreza do poeta livre; a sua forma é a canção popular, o lied; a
língua é o dialeto da Escócia. É o maior cantor popular, talvez, de todos os
tempos, cheio de música e vida.

Destaque (amarelo) - Posição 32881


Burns é poeta da liberdade, mas não da liberdade inofensiva do boêmio ao ar
livre, e sim da revolução.

Destaque (amarelo) - Posição 32908

Burns situa-se entre o libertinismo de Fielding e Diderot e o imoralismo de


Nietzsche e Gide, entre a revolta poética do mendigo Villon e a poesia
revolucionária de Maiakovski.

Destaque (amarelo) - Posição 32915

O “gênio” torna possível a ascensão democrática do plebeu, sob a condição


de ele se desligar de todas as convenções sociais – e, pode-se acrescentar, de
todas as convenções morais; daí a aliança entre o espírito revolucionário e o
libertinismo, que destrói as últimas bienséances do classicismo. Daí também
a ressurreição do libertinismo da Régence no fim revolucionário do século; é
um dos dois elementos que dão força emotiva ao racionalismo radical da
Enciclopédie – o outro elemento é o primitivismo místico que explode em
Rousseau.

Destaque (amarelo) - Posição 32928

Henry Fielding1496 é, dentre todos eles, o que mais perto está da


Restauração; é um aristocrata alegre que se mistura com o povo para
protestar contra a moralização da vida inglesa pelo puritanismo burguês.

Destaque (amarelo) - Posição 32939

The History of the Adventures of Joseph Andrews, o primeiro romance de


Fielding, é uma paródia terrível da Pamela, de Richardson:

Destaque (amarelo) - Posição 32950

Life of Jonathan Wild the Great: tal

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Destaque (amarelo) - Posição 32952


O que é espantoso nesse romance, ulrapassando os limites de uma sátira
política, é a abundância de realidade social, a presença de todas as classes e
de todos os tipos da Inglaterra do século XVIII, dos inns que hospedaram as
companhias mais heterogêneas, até os inns of Court, nos quais essa gente foi
julgada; dos bastidores dos teatros populares até aos castelos dos lordes, nos
campos, Fielding conserva-se imparcial, observando e ridicularizando
igualmente a city e a countryside.

Destaque (amarelo) - Posição 32968

O panorama da Inglaterra fieldinguiana seria dos mais escandalosos – país de


ladrões, prostitutas e hipócritas – se não fosse o humorismo complacente
com os vícios alheios e com os próprios; um quadro à maneira de Hogarth,
atenuado pelas cores do Rococó.

Destaque (amarelo) - Posição 32988

Fielding confiou o papel de narrador a uma pessoa fora e acima dos


acontecimentos, que sabe tudo a respeito dos personagens, dirigindo-lhes
com consciência divina os destinos e, quando muito, comentando-os com a
superioridade do humorista. Essa pessoa é o próprio romancista. Atribuindo-
lhe onisciência, Fielding criou o romance objetivo, o romance moderno.

Nota - Posição 32990

ROMANCE MODERNO

Destaque (amarelo) - Posição 33001

Fielding está exatamente entre Defoe e Dickens; tem as qualidades dos dois,
sem os seus defeitos, é o mais equilibrado de todos, quase um deus do
romance realista;

Destaque (amarelo) - Posição 33113

Choderlos de Laclos1502 continua e termina a evolução que começara em


Crébillon fils: o sentimentalismo.

Destaque (amarelo) - Posição 33128


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Laclos, aristocrata, depois jacobino, depois general de Napoleão, não foi


escritor profissional. Seu romance resume, como uma única manifestação
literária, as experiências morais de sua vida e de sua época. Laclos é sincero.
Não mente. São os seus personagens que mentem; e nem sequer
deliberadamente.

Destaque (amarelo) - Posição 33130

Têm, em vez da consciência moral, uma “falsa consciência” (no sentido


marxista desse termo). Por isso, Malraux falou, a propósito das Liaisons
dangereuses, em “romance ideológico” e manual do maquiavelismo
particular da futura burguesia. Mas Les Liaisons dangereuses não são um
romance histórico. São uma obra intemporal, porque propriamente diabólica.
Talvez o maior romance psicológico da literatura francesa.

Destaque (amarelo) - Posição 33134

Essa descoberta psicológica situa-se entre Manon Lescaut e a Chartreuse de


Parme.

Destaque (amarelo) - Posição 33139

Fantasias nesse estilo são os romances do famoso ou notório marquês de


Sade1503, que parecem menos documentos da mais baixa corrupção
aristocrática do que produtos patológicos da mesma mentalidade que criou
em outros contemporâneos a “religião do gênio”.

Destaque (amarelo) - Posição 33145

Uma expressão muito mais autêntica do sadismo, no terreno político foi


Saint-Just1504, o grande orador jacobino e amigo de Robespierre, em cuja
companhia acabou na guilhotina, à qual tinha sacrificado milhares de vidas.

Destaque (amarelo) - Posição 33149

O ambiente do qual um Saint-Just surgiu, está descrito, como em


documentos sociológicos, nos romances de Restif de la Bretonne1505.

Nota - Posição 33150

RESTIF DE LA BRETONE
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Destaque (amarelo) - Posição 33152


“Rousseau de la crapule”, “Pétrone du prolétariat”, e essas definições fazem
crer que os inúmeros romances de Restif apresentariam o panorama de
perversão moral pré-revolucionária.

Destaque (amarelo) - Posição 33159

foi Restif um escritor de grande talento; quando alcançou, como em


Monsieur Nicolas ou em La vie de mon père, a realidade das suas próprias
experiências, logo abandonou o pseudonaturalismo, revelando o
sentimentalismo que constitui a base de toda a literatura pré-revolucionária.
Restif de la Bretonne não é o gênio do proletariado urbano, então uma classe
inteiramente nova; pertence ao proletarido rural jogado para as ruas da
cidade; é um produto da revolução industrial, e nesse sentido ele é tão pré-
romântico quanto o aristocrata Laclos.

Destaque (amarelo) - Posição 33164

Era um escritor instintivo, e por isso capaz de dizer coisas que os teóricos
pré-românticos da “literatura instintiva” dissimularam. Mas por este caminho
só era possível chegar até à decomposição da literatura, e não à revolução.
Entre as condições da revolução estava a aliança entre o libertinismo pré-
romântico dos sentimentos e o radicalismo consciente da inteligência. Essa
aliança anuncia-se – em parte realiza-se – em Diderot1506. A sua obra é tão
imensa como incoerente:

Destaque (amarelo) - Posição 33173

Grande parte da sua obra foi, porém, publicada só depois da sua morte ou
depois da Revolução ou mesmo na primeira metade do século XIX. Diderot,
homem genial que se esgotou em fragmentos e sugestões, é menos uma força
motriz da história intelectual do que um sintoma da situação à qual essa
história chegara.

Destaque (amarelo) - Posição 33182

O sentimentalismo de Diderot, situando-se entre Richardson e Sterne, é um


protesto contra as convenções morais em vigor, dirigindo-se sobretudo contra
os resíduos do rigorismo jansenista. Diderot é o mais inglês entre os

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escritores franceses, quer dizer, o representante mais autêntico do pré-


romantismo na França.

Destaque (amarelo) - Posição 33189


Diderot evoluiu rapidamente: do deísmo de Shaftesbury chegou, através do
sensualismo à maneira de Condillac, ao materialismo a Holbach. A seriedade
do seu materialismo não pode ser posta em dúvida; deduzindo daquela
filosofia uma ética social e utilitarista, Diderot enquadra-se entre os
precursores do socialismo; e assim o querem entender, hoje, os críticos
marxistas: franceses e russos. Mas Diderot não foi realmente socialista, nem
o seu materialismo é científico, nem o seu utilitarismo é técnico-econômico.
A moral de Diderot é vagamente humanitária, o seu materialismo oferece
aspectos de um vitalismo panteísta, e a sua política é a de um rebelde
apaixonado, sem programa definido. É um pré-romântico; e é um
individualista bem francês. Não pode dissimular a sua formação humanista,
do colégio dos jesuítas de Langres. É, em suma, um intelectual pequeno-
burguês.

Destaque (amarelo) - Posição 33195

A condição social de Diderot – pequeno-burguês que se torna intelectual – é


decisiva. É o pequeno-burguês a serviço da grande burguesia – é a condição
do “sobrinho de Rameau”.

Destaque (amarelo) - Posição 33199

Diderot pertence à classe que fará a Revolução e a perderá. Pequeno-burguês


típico, embora genial, coube-lhe o destino de elaborar a teoria, sem continuá-
la na ação. O instrumento intelectual da Revolução que Diderot criou, a
Enciclopédie, tem hoje interesse histórico; mas representa o papel histórico
de Diderot.

Destaque (amarelo) - Posição 33205

O intuito da obra foi o fomento técnico-econômico, como contribuição para


quebrar o poder do absolutismo político e eclesiástico.

Destaque (amarelo) - Posição 33222

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A consequência imediata da Encyclopédie já não era o anticlericalismo e sim


a economia burguesa, nem o fortalecimento do anticlerismo, mas o apoio às
ideias fundamentais da economia burguesa. Eis a conclusão que tirou
Helvetius1515.

Destaque (amarelo) - Posição 33234

Helvetius será seguido, embora não citado, onde a burguesia vencer. Só em


países que ainda se encontravam em fase pré-burguesa, as ideias econômico-
psicológicas da Encyclopédie eram inadmissíveis. A imperatriz Catarina, da
Rússia, de formação intelectual francesa, simpatizava com Voltaire e Diderot;
correspondia-se com Grimm. Mas condenou à morte seu súdito
Radichtchev1516.

Destaque (amarelo) - Posição 33239

Viagem de Petersburgo a Moscou, os sofrimentos dos servos, maltratados


pelos latifundiários.

Destaque (amarelo) - Posição 33241

Seu livro só pôde ser publicado na Rússia, depois da revolução de 1905. Em


1790 ainda era inadmissível denunciar na Rússia o que já se podia dizer
francamente na Europa Ocidental.

Destaque (amarelo) - Posição 33242

Nas obras de Helvetius, assim como nos outros materialistas e


semimaterialistas da Encyclopédie, a vontade de denunciar é mais forte do
que a vontade de agir; certa frouxidão do pensamento e o estilo aristocrático
de viver são sintomas da incapacidade do intelectualismo para quebrar os
obstáculos do tradicionalismo feudal e eclesiástico. Para este fim precisava-
se de um élan místico, de um primitivismo ingênuo, fornecido pelo pré-
romantismo, armando as massas populares que deviam lutar pela vitória da
burguesia.

Destaque (amarelo) - Posição 33250

Os germes da democracia igualitária, existentes na constituição das


comunidades calvinistas da Nova Inglaterra, só começaram a desenvolver-se

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no século XVIII, quando chegavam as ideias de Locke, Shaftesbury e dos


deístas;

Destaque (amarelo) - Posição 33254


Aquelas outras influências vieram da França1517, e a sua contribuição é
menos de ordem filosófica que de ordem moral. Tratava-se de derrubar o
puritanismo; e influências francesas não se podem negar no primeiro grande
antipuritano: Franklin1518.

Destaque (amarelo) - Posição 33266

A influência francesa torna-se preponderante em Thomas Paine1519, o inglês


agitado, rousseauiano revolucionário;

Destaque (amarelo) - Posição 33270

The Age of Reason encobre uma true theology, uma nova religião da
humanidade.

Destaque (amarelo) - Posição 33273

William Godwin1520 é como um denominador comum das tendências do


fim do século.

Destaque (amarelo) - Posição 33281

Anarquismo e liberalismo são expressões da mesma mentalidade nos


pequenos e grandes burgueses; e estes serviram-se do anarquismo daqueles
para fazer a Revolução.

Destaque (amarelo) - Posição 33282

Jean-Jacques Rousseau1521 é um dos raros homens que conseguiram


modificar a face deste mundo.

Nota - Posição 33284

ROUSSEAU

Destaque (amarelo) - Posição 33287

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Rousseau atacou o progressismo, o materialismo e o racionalismo de uma


civilização inteira.

Destaque (amarelo) - Posição 33295

no Émile, bíblia da educação segundo a natureza, a própria Natureza é


chamada como aliada para inverter os valores da civilização artificial,
estabelecendo-se nova ordem da liberdade e felicidade geral.

Destaque (amarelo) - Posição 33299

O calvinista de Genebra, convertido ao deísmo sentimental, nunca deixou de


ser perseguido pela reminiscência do dogma do pecado original; resolveu o
problema da decadência pelo mesmo dogma às avessas, afirmando a bondade
original do homem: o dogma em que se baseia a doutrina da soberania do
povo e da democracia.

Destaque (amarelo) - Posição 33320

A árvore genealógica da democracia é muito mais antiga do que a do plebeu


Rousseau, e a vitória das suas ideias baseia-se em fatos da evolução social e
econômica que ele em parte ignorava e em parte não foi capaz de prever. Não
foi a ideologia de Rousseau que modificou a face deste mundo; foi o seu
verbo que exprimiu literariamente a modificação.

Destaque (amarelo) - Posição 33324

Rousseau não agiu; escreveu. É preciso interpretá-lo e julgá-lo como escritor


que era.

Destaque (amarelo) - Posição 33329

É verdade que a mesma ambiguidade se apresenta, em Rousseau, no terreno


ideológico, entre o pessimismo da diagnose da decadência e o otimismo da fé
na bondade humana; por isso se podem referir a Rousseau os democratas
liberais e, igualmente, os democratas totalitários1522.

Destaque (amarelo) - Posição 33335

O romance do século XVIII é o veículo mais poderoso da secularização das


ideias religiosas das épocas precedentes – Richardson secularizou o
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puritanismo.

Destaque (amarelo) - Posição 33352


La Nouvelle Héloïse é a consequência revolucionária do romance
richardsoniano; tem mesmo a forma epistolar desse gênero.

Destaque (amarelo) - Posição 33372

A sua condição de plebeu, filho da cidade de Genebra, meio industrializada,


humilhado na França agrária, despertou em Rousseau algo como uma
consciência de classe proletária; e isso deu, afinal, sentido social ao
populismo da literatura pré-romântica. Enfim, o seu protestantismo criou a
imagem do homem predestinado para grandes coisas naquela paisagem da
revolução industrial. Mas não era o calvinismo dos patrícios grandes-
burgueses das cidades, e sim uma vaga religiosidade mística, sentimental.

Destaque (amarelo) - Posição 33377

Mas a religião de Rousseau também é, como religião de plebeu, primitiva;


corresponde antes ao cristianismo “puro”, simplificado – “como o dos
primeiros cristãos” – dos místicos revolucionários da época da Reforma.

Destaque (amarelo) - Posição 33387

Rousseau é o tipo do “estrangeiro subversivo” que imigra clandestinamente


para conspirar contra a ordem estabelecida – o espantalho dos policiais de
todos os tempos. Mas este estrangeiro subversivo, profeta da utopia
proletária, iniciou, pelo poder da sua eloquência ideológica, o século da
burguesia – destino já preestabelecido da França de ce grand roi bourgeois.

Destaque (amarelo) - Posição 33391

Rousseau é o plebeu a serviço da revolução burguesa. É o representante do


povo que fez, fisicamente, a revolução da qual só a burguesia se aproveitará.

Destaque (amarelo) - Posição 33393

A história do romantismo é a história das fases da dissolução da aliança entre


o liberalismo burguês e a democracia popular. Por isso, Rousseau sobrevive,
literariamente, como criador dos slogans do chamado “liberalismo

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democrático” – liberalismo da pequena burguesia – e aparece, ao mesmo


tempo, entre os precursores – dos mais vagos – do socialismo.

Destaque (azul) - Posição 33437


1342 M. Menéndez y Pelayo: Historia de las ideas estéticas en España. Vol.
III. Madrid, 1891.

Capítulo IV O ÚLTIMO CLASSICISMO


Destaque (azul) - Posição 34895

O PRÉ-ROMANTISMO acabou transformando-se, contra todas as


expectativas, em um novo classicismo.

Destaque (azul) - Posição 34903

continua de pé a dificuldade de interpretar Weimar como acontecimento


europeu. Pois Goethe, que parece aos alemães o maior clássico ou classicista
da literatura europeia é considerado pelos estrangeiros como um dos maiores
românticos.

Destaque (azul) - Posição 34915

Os manuais costumam separar nitidamente três fases: o Sturm und Drang,


isto é, o pré-romantismo alemão, mais ou menos entre 1760 e 1780; o
classicismo de Weimar, entre 1780 e 1800; e o romantismo entre 1800 e
1830; a vida de Goethe (1749 a 1832) compreende toda a época das três
fases,

Destaque (azul) - Posição 34918

Os pré-românticos, classicistas e românticos alemães, são, todos eles,


contemporâneos. A rapidez da evolução explica-se pelo fato de que a
literatura alemã, inteiramente separada das outras no começo do século
XVIII, recuperou, em duas gerações, um atraso de dois séculos.

Destaque (azul) - Posição 34922

Disse-se sempre, e Nietzsche o repetiu com energia, que a Reforma luterana


matou a Renascença alemã ou, antes, a possibilidade nascente de uma
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Renascença alemã. A consequência teria sido o rompimento da Alemanha


com o resto da Europa.

Destaque (azul) - Posição 34925


A Reforma tonificou o feudalismo alemão, transformando os senhores
feudais em príncipes soberanos de pequenos Estados;

Destaque (azul) - Posição 34938

Entre 1600 e 1800, a literatura alemã é quase exclusivamente protestante e


principalmente luterana.

Destaque (azul) - Posição 34949

Desempenhando o luteranismo a função de uma barreira, a Alemanha


separou-se da Europa. O humanismo degenerou em mera erudição sem
consequências, ficando a transmissão dos conhecimentos greco-latinos
confiada a mestres-escolas de condição ínfima. Não houve Renascença
alemã.

Destaque (azul) - Posição 34964

A Renascença da literatura emudecida só se tornou possível por meio de


sucessivos enfraquecimentos da ortodoxia luterana. A primeira brecha foi
aberta pelo pietismo.

Destaque (azul) - Posição 34968

O pietismo foi fator de grande importância na gênese da consciência nacional


alemã1526.

Destaque (amarelo) - Posição 34977

A história literária alemã do século XVIII1529 foi dominada por um grande


espírito crítico: Lessing, o inimigo mortal de Gottsched e do classicismo
francês, introdutor principal da influência inglesa e precursor do classicismo
grecista de Weimar.

Destaque (amarelo) - Posição 34984

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Gottsched1530, introduzindo as regras e gêneros do classicismo francês,


pretendeu civilizar e europeizar a literatura alemã. Não notou, porém, que o
classicismo francês era incompatível com o espírito alemão.

Destaque (amarelo) - Posição 35000

o habilíssimo Wieland, criador de um pré-classicismo ainda bastante


afrancesado, mas já com inclinações pré-românticas. Ao mesmo tempo,
Winckelmann chamou a atenção para a “verdadeira” Antiguidade, a grega.

Destaque (amarelo) - Posição 35015

O verdadeiro grande adversário de Gottsched é Klopstock, o primeiro chefe


do pré-romantismo alemão. Mas Gottsched sobreviveu a todos os ataques
mortíferos, porque conseguiu o seu objetivo: havia criado, na Alemanha, um
poderoso classicismo à maneira francesa, do qual Wieland é o representante
principal.

Destaque (amarelo) - Posição 35034

O classicismo gottschediano triunfou, enfim, em Wieland.

Destaque (amarelo) - Posição 35045

Os antigos que a sua erudição preferiu foram Luciano e Horácio, os


voltairianos da Antiguidade.

Destaque (amarelo) - Posição 35050

Wieland é um precursor de Nietzsche, ao passo que o romance


autobiográfico Agathon se situa entre os “romances de formação”, entre
Simplicissimus e Wilhelm Meister.

Destaque (amarelo) - Posição 35053

Goldener Spiegel (Espelho de Ouro), as suas ideias políticas de um


absolutismo ilustrado.

Destaque (amarelo) - Posição 35061

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Por intermédio de Wieland, Gottsched vencera. A Alemanha tinha, enfim, o


seu classicismo; estava re-europeizada.

Destaque (amarelo) - Posição 35066

O classicismo da ilustração apoia-se, como todos os classicismos modernos,


em base burguesa; a base burguesa do “último classicismo” – de Weimar e
dos seus contemporâneos – deve ser algo diferente,

Destaque (amarelo) - Posição 35068

As origens ideológicas do classicismo alemão devem residir no próprio pré-


romantismo; e, sendo assim, torna-se o pré-romântico Klopstock a figura
central da evolução literária.

Destaque (amarelo) - Posição 35072

Winckelmann – mais um classicista alemão que se distingue profundamente


dos classicistas da Ilustração. Estudando-se Winckelmann, revelam-se as
origens ideológicas que produziram a particularidade do classicismo alemão.

Destaque (amarelo) - Posição 35074

O classicismo alemão não se inspirou na França, como Gottsched exigiu,


nem na Grécia, como Weimar alegou, mas na mesma fonte, em que irá
inspirar-se o pré-romantismo: a mística.

Destaque (azul) - Posição 35074

O classicismo alemão não se inspirou na França, como Gottsched exigiu,


nem na Grécia, como Weimar alegou, mas na mesma fonte, em que irá
inspirar-se o pré-romantismo: a mística.

Nota - Posição 35075

MISTICISMO

Destaque (amarelo) - Posição 35085

Winckelmann é uma figura europeia; a primeira figura europeia da literatura


alemã.
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Destaque (azul) - Posição 35085


Winckelmann é uma figura europeia; a primeira figura europeia da literatura
alemã. A sua história da arte antiga, traduzida para todas as línguas,
substituiu os modelos romanos pelos modelos gregos, criou um novo
classicismo europeu, o de Goethe e Chénier, criou a imagem da Grécia
serena e olímpica – ele mesmo fala de “edle Einfalt und stille Groesse”
(“simplicidade nobre e grandeza tranquila”) das esculturas gregas – imagem
que prevalecerá até Burckhardt e Nietzsche descobrirem, um século depois, a
Grécia trágica e pessimista.

Destaque (amarelo) - Posição 35089

Winckelmann, fazendo uma carreira vertiginosa, é modelo da atitude


antipopular, pseudo-aristocrática, que será a de Weimar; e a maneira como
ele disciplinou o Demônio na sua alma, constituirá exemplo para os Goethe,
Stifter, Moerike.

Destaque (amarelo) - Posição 35110

Lessing1542, é o maior crítico literário do século XVIII.

Destaque (amarelo) - Posição 35118

Nas Briefe, die neueste Literatur betreffend (Cartas sobre a Literatura


Recente), matou Gottsched, para livrar o teatro alemão das influências
francesas e preparar uma nova arte cênica, baseada nas lições dos gregos e de
Shakespeare.

Destaque (amarelo) - Posição 35124

O teatro, isto é, a poesia em movimento físico, significou para ele, como para
todo o século XVIII, o cume mais alto da literatura.

Destaque (amarelo) - Posição 35132

Com a mesma coragem investiu contra o eruditismo pedante dos falsos


humanistas; interpretou a Antiguidade não como objeto morto da
arqueologia, mas como parte da nossa vida intelectual.

Destaque (amarelo) - Posição 35134


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Como os Antigos Imaginaram a Morte (Wie die Alten den Tod gebildet) –
demonstrando que os antigos representaram a Morte, não como esqueleto
horrível, mas como irmã do sono e como gênio consolador – marca época na
história do espírito europeu: em vez do protesto racionalista contra o
cristianismo, surge o protesto estético, neopagão, de um novo helenismo.

Destaque (amarelo) - Posição 35146

escrevendo o drama Nathan der Weise (Natan, o Sábio), peça literariamente


fraca, mas eficiente e admirável pela emoção sincera em favor da tolerância.
A parábola do judeu Nathan – comparando as três religiões principais a três
anéis iguais, que um pai legara aos filhos, e dos quais ninguém sabe qual o
anel autêntico – foi a coisa mais forte que se disse no século XVIII contra as
religiões positivas.

Destaque (amarelo) - Posição 35160

Lessing é classicista, mais à maneira de Voltaire que à de Goethe.

Destaque (azul) - Posição 35186

Com Lessing só, a literatura alemã teria ficado, mais uma vez, isolada na
Europa pré-romântica. Paradoxalmente, o papel de incorporar a literatura
alemã à literatura europeia não coube ao grande europeu Lessing, mas ao
patriota cristão Klopstock.

Destaque (azul) - Posição 35202

A Bíblia luterana e o Homero grego na escola confirmaram o jovem


estudante Klopstock1545 no propósito de tornar-se o Milton da sua nação –
conheceu Milton através dos suíços. Os primeiros três cantos do Messias
saíram em 1748; é a data histórica mais importante da história literária
alemã.

Destaque (azul) - Posição 35226

Klopstock estava fora da realidade: em vez de encontrar o povo alemão real,


evadiu-se para o falso escandinavismo das odes bárdicas e das peças
dramáticas, chamadas “Bardiete”, nas quais glorificou o herói nacional

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Armínio. Em virtude disso mesmo, com o nacionalismo e o escandinavismo,


é Klopstock um pré-romântico típico, um poeta da sua época.

Destaque (azul) - Posição 35232


se seguiram dois pré-romantismos alemães, muito diferentes: um, inspirando-
se em Klopstock, pré-romantismo cristão e alemão-nacionalista, o dos poetas
do “Hainbund”; e outro, shakespeariano, rousseauniano e revolucionário, o
“Sturm und Drang”.

Destaque (azul) - Posição 35257

E o único verdadeiro sucessor de Klopstock, pelo estilo e pela mentalidade, é


um luterano barroco, perdido na Grécia dos seus sonhos: Hölderlin.

Destaque (azul) - Posição 35259

Existem, pois, no pré-romantismo alemão, resíduos de misticismos


diferentes.

Destaque (azul) - Posição 35268

Hamann1551 é o primeiro daqueles místicos orientais:

Destaque (azul) - Posição 35275

“Poesia, porém, é a língua materna do gênero humano.” Pela língua poética,


o homem cria uma imagem do mundo divino. O poeta é o homem que se
entende com Deus diretamente, sem intervenção da “Ratio”.

Nota - Posição 35277

POESIA E DEUS

Destaque (azul) - Posição 35283

Em Shakespeare encontrara-se o modelo do gênio original, em comunicação


direta com Deus. Entre 1762 e 1766, Wieland dá a tradução alemã, em prosa,
de 22 peças shakespearianas. Na prosa algo dura, como de gravuras góticas
em madeira, dessa tradução, os jovens alemães reconhecem o próprio espírito
germânico1553. O profeta desse espírito foi Herder.

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Destaque (azul) - Posição 35286


A contribuição de Herder1554, conterrâneo, discípulo e amigo de Hamann,
para o pensamento pré-romântico alemão consiste, primeiro, na aplicação do
conceito “gênio”, já revelado em Homero, na Bíblia, em Shakespeare e
Ossian, na poesia popular.

Destaque (azul) - Posição 35296

Herder é um espírito precursor: um dos maiores pensadores da humanidade,

Destaque (azul) - Posição 35301

Em vão, o patriotismo germânico de Herder procurou coisa de valor parecido


na antiga literatura alemã, mas encontrou-a na arquitetura; nas catedrais
medievais. Ao seu jovem discípulo Goethe mandou escrever o ensaio sobre a
catedral de Estrasburgo, com o qual começa a se esboçar o medievalismo
romântico.

Destaque (azul) - Posição 35315

Herder é o primeiro europeu que, conservando-se cosmopolita no sentido da


Ilustração, interpretou a Europa como sinfonia de múltiplas vozes diferentes,
das vozes nacionais, sabendo distingui-las e caracterizá-las. Eis a segunda
grande contribuição de Herder para o pensamento pré-romântico e
romântico: criou o nacionalismo literário. Substituiu a uniformidade da
estética classicista pela consciência das particularidades nacionais, criou a
consciência nacional dos alemães, dos escandinavos, dos eslavos. E esta
parte do seu pensamento de um homem do século XVIII terá um futuro
imenso e nefasto: no pangermanismo e no pan-eslavismo.

Nota - Posição 35319

NACIONALISMO LITERÁRIO E PAN GERMANISMO

Destaque (azul) - Posição 35330

Herder é o criador do historismo, isto é, do método que dominará o trabalho


científico do século XIX; o método utilizado primeiro pela ciência romântica
e, depois, pela ciência positivista.

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Nota - Posição 35331


HISTORICISMO

Destaque (azul) - Posição 35341

Sturm und Drang

Destaque (azul) - Posição 35342

a mistura de mística, à maneira da Alemanha oriental, e de populismo


revolucionário, à maneira de Rousseau.

Destaque (azul) - Posição 35347

O instrumento com o qual os “Sturmer” pretenderam derrubar a literatura e a


sociedade do ancien régime, foi o conceito do “gênio”.

Destaque (azul) - Posição 35349

Os jovens criaram uma “religião do gênio”1556. A identificação entre gênio


poético e gênio popular foi interpretada de maneira revolucionária.

Destaque (azul) - Posição 35352

Qualquer um pode ser herói como os heróis de Plutarco.

Destaque (azul) - Posição 35355

Os conceitos “gênio”’ e “herói” misturam-se, confundem-se:

Destaque (azul) - Posição 35360

A influência de Shakespeare sobre a nova literatura alemã é enorme1557.

Destaque (azul) - Posição 35381

Ainda em Wilhelm Meisters Lehrjahre (Anos de Aprendizagem de Wilhelm


Meister), a ação gira em torno de uma representação de Hamlet.

Destaque (azul) - Posição 35416

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Quem, entre os “Sturmers”, não fosse capaz de conformar-se acabava mal:


assim o maior entre eles, Lenz1564, filho do Báltico. Ganhou fama em pouco
tempo; depois,

Destaque (azul) - Posição 35429

Goethe1565 pertence ao “Sturm und Drang” pelas suas obras mais populares:

Nota - Posição 35430

GOETHE

Destaque (azul) - Posição 35437

Medievalismo e shakespereolatria, sentimentalismo revoltado e desesperado


com reminiscências de Ossian, poesia popular, ambições titânicas, fáusticas,
problemas da relação entre os sexos, vagabundagem letrada, discussões sobre
Hamlet – aí estão, naquelas primeiras obras de Goethe, todos os motivos e
preocupações do “Sturm und Drang”. Se porventura falta qualquer coisa,
seria possível encontrá-la na fase correspondente do seu companheiro de
tempos posteriores, Schiller1566;

Nota - Posição 35441

SCHILLER

Destaque (azul) - Posição 35452

Werthers junge Leiden (Os Sofrimentos do Jovem Werther) é o livro alemão


de mais larga repercussão internacional1567, impressionou em toda a parte
onde os filhos da classe média superior se revoltaram, desesperados, contra a
sociedade feudal.

Destaque (azul) - Posição 35457

Napoleão leu o Werther nada menos que sete vezes, Chateaubriand o imitará,
no René. Na França surgirá até um Werther às avessas, o Julien Sorel, de
Stendhal. E houve, na Itália, o Werther patriota, o Jacopo Ortis, de Foscolo.

Nota - Posição 35460

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WERTHER EM CHATEUBRIAND, STENDHAL E FOSCOLO

Destaque (azul) - Posição 35480

Quem, entre todos os contemporâneos de Schiller, mais se parece com ele é


Alfieri, que não o conheceu.

Destaque (azul) - Posição 35486

Durante todo o século XVII, apesar de épocas de paz prolongadas e de certos


progressos, a Alemanha não se refizera dos estragos da Guerra de Trinta
Anos;

Destaque (azul) - Posição 35501

Para os alemães, a distinção entre Atenas e Roma significou uma revelação


de primeira ordem. Três vezes – antes da Reforma, no século barroco, e na
época de Gottsched – pretenderam construir um classicismo alemão; e cada
vez fracassaram, porque a Antiguidade se lhes apresentou vestida à romana.
Os alemães não são de origem latina nem de religião romana como os
italianos e franceses, nem possuem a tradição latinista dos ingleses. Com a
Grécia, porém, nenhuma das nações europeias está ligada pelo sangue ou
pelas tradições religiosas, de modo que os alemães não se encontravam, a
esse respeito, em situação de inferioridade.

Destaque (azul) - Posição 35506

O grecismo tornou-se parte integral da “cultura”, da Bildungsreligion; a


síntese greco-alemã tornou-se a suprema ambição1572, a Grécia, uma
religião.

Nota - Posição 35508

BILDUNGSRELIGION

Destaque (azul) - Posição 35510

Não é preciso dizer quanta ilusão havia em tudo isso.

Destaque (azul) - Posição 35515

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O último classicismo é o último capítulo do pré-romantismo.

Destaque (azul) - Posição 35519

é a consequência da Revolução que, começando como explosão pequeno-


burguesa, logo se transformou em vitória da burguesia; e à base burguesa
corresponde a forma classicista, conspicuous consumption, que imita o
classicismo da aristocracia derrotada.

Nota - Posição 35521

REVOLUÇÃO E CLASSICISMO

Destaque (azul) - Posição 35524

romper a aliança entre o Classicismo e a Ilustração, para chegar do


classicismo aristocrático ao classicismo burguês.

Destaque (azul) - Posição 35679

A obra poética de Vincenzo Monti1592 é de uma abundância perturbadora.

Destaque (azul) - Posição 35698

com a invasão da Itália pelo general republicano Napoleão Bonaparte – e


Monti lhe dedicou o Prometeo, celebrando-o como vencedor luminoso sobre
reis tirânicos e monges obscurantistas.

Destaque (azul) - Posição 35709

Vieram os anos da Restauração monárquica, e então, submetendo-se de novo


aos poderes reestabelecidos, Monti revelou, pela primeira vez, independência
corajosa, resistindo ao romantismo vitorioso, permanecendo fiel ao
classicismo. No Sermone sulla mitologia defendeu os deuses olímpicos, as
ninfas e os faunos, contra as divindades bárbaras do Norte, às quais ele
mesmo tinha sacrificado mais de uma vez.

Nota - Posição 35712

CLASSICISMO X ROMANTISMO EM MONTI

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Destaque (azul) - Posição 35738


Com a expulsão definitiva dos deuses olímpicos pelos bárbaros do
romantismo, acabou a última comunhão internacional da literatura europeia.

Destaque (azul) - Posição 35741

os burgueses tiveram que criar os novos Estados nacionais, adotando o


nacionalismo que a Revolução lhes ensinara.

Destaque (azul) - Posição 35811

As poesias de André Chenier1599 foram publicadas em 1819, quer dizer


vinte e cinco anos depois da sua morte e um ano antes de Lamartine iniciar a
série de volumes de poesia romântica francesa.

Destaque (azul) - Posição 35861

A Grécia de Chénier é como a Pérsia de Fitzgerald, que também era


descrente. Classicismo é uma atitude burguesa; e o classicismo de Chénier
não é o falso classicismo dos nouveaux riches da Revolução, e sim o da
burguesia culta, muito depois da Revolução – ou muito antes. Muito antes:
então, seria o grecismo de Racine, com o qual Chénier não deixa de revelar
certas semelhanças. Muito depois: então, seria o classicismo que já passara
pelas experiências do romantismo. E nesse sentido, Chénier fora precursor do
romantismo.

Nota - Posição 35865

O PRECURSOR DO ROMANTISMO

Destaque (azul) - Posição 35906

Ugo Foscolo1604, uma das mais nobres figuras da literatura italiana, foi
patrício de Chénier:

Destaque (azul) - Posição 35914

O romantismo de Foscolo não é o dos românticos, é o de Rousseau. A


revolução decepcionou-o, porém, profundamente; Napoleão traiu a Itália,
desmembrando-a e sacrificando-a, em vez de libertá-la.

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Destaque (azul) - Posição 35917


A desilusão política confundiu-se com desilusões eróticas, e assim escreveu
Le últime lettere di Jacopo Ortis, o Werther italiano.

Destaque (azul) - Posição 36039

A burguesia continuava, depois de 1800 a 1815, favorecendo o classicismo


sans phrase, sem intervenções pré-românticas. Este já não era capaz de
produzir uma grande poesia, mas houve um “fenômeno de compensação”,
que ainda não foi devidamente reconhecido pela historiografia literária: em
vez de produzir uma grande poesia, o “prosaísmo burguês” exprimiu-se
através de um grande romance classicista. Este é representado por Jane
Austen; e só assim se explica a existência isolada dessa grande escritora.

Nota - Posição 36043

JANE AUSTEN

Destaque (azul) - Posição 36079

Jane Austen foi uma moça provinciana inglesa; viveu sempre no seio da
família. Relações familiares, noivado e casamento, são os seus únicos temas.
O seu panorama do mundo era tradicionalista, o da gentry da Inglaterra de
1800: rei, aristocracia, “upper middle class”, as autoridades civis, militares e
da Igreja anglicana em perfeita harmonia dos poderes, mesmo que fossem
indignos ou ridículos os representantes dessa hierarquia.

Destaque (azul) - Posição 36120

Daí o protesto, sempre moderado, contra “preconceitos e orgulhos”


aristocráticos, e o protesto mordaz contra o gosto plebeu.

Destaque (azul) - Posição 36175

Goethe1621,

Destaque (azul) - Posição 36197

No primeiro esboço de Faust, o chamado Urfaust, entre cenas grosseiras de


vida estudantil, à maneira dos pré-românticos, já se encontra a tragédia de

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Gretchen, da moça abandonada; é transformação pessoal do assunto social da


infanticida, assunto tratado quase por todos os “Sturmers”. Aquela mesma
experiência deu intensidade ao romance sentimental, o Werther, espécie de
autopunição literária, parecendo ao mundo o maior documento da melancolia
ossiânica dos pré-românticos e conseguindo o primeiro e único sucesso
internacional da carreira literária de Goethe.

Destaque (azul) - Posição 36217


Dois anos de viagem pela Itália completaram a conversão do antigo discípulo
de Herder ao neoclassicismo grego.

Destaque (azul) - Posição 36222

Está no auge o poder de Goethe de transfigurar em formas objetivas as


experiências subjetivas.

Destaque (azul) - Posição 36225

Wilhelm Meister Lehrjahre (Anos de Aprendizagem de Wilhelm Meister),


que fora projetado como romance da “missão teatral”, torna-se “romance de
educação” de um sonhador para a realidade; em Faust, os poderosos
monólogos do mais titânico “Sturm und Drang” e a tragédia da infanticida
Gretchen, vítima do titão, vão ser reunidos, não sem certas incoerências, no
que é, afinal, a maior obra dramática da literatura alemã. No auge da vida e
literatura de Goethe apareceram duas influências alheias, que o desviaram do
caminho: Schiller e a Revolução.

Destaque (azul) - Posição 36234

Hermann und Dorothea – belíssimo idílio, mas pouco mais do que isso – em
que já atua a outra influência alheia: a Revolução. Hermann e Dorothea
fogem da Revolução, na qual os instintos bárbaros despertaram de novo; o
instinto conservador do artista Goethe reagiu, desde então e definitivamente,
contra toda a política. Tomou a mesma atitude de indiferença meio hostil
contra a Revolução, contra o nacionalismo alemão e contra as reivindicações
liberais.

Destaque (azul) - Posição 36263

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A posteridade confirmou essa visão histórica que ilumina uma qualidade


característica de Goethe: o seu egoísmo enorme. Evidentemente, a palavra
“egoísmo” não tem aqui a acepção de uma censura moral; pretende definir a
atitude moral dos maiores gênios da humanidade, aos quais serve tudo para
os seus fins, que são, afinal, os fins da humanidade. A Goethe serviu tudo:
mulheres e amigos, nação e Estado, trabalho, ciência, literatura, arte, a
própria época histórica; tudo isso teve para ele o valor instrumental de ser
“ocasião” para ele transfigurá-la em poesia.

Destaque (azul) - Posição 36268

Excluiu, parece, só a política;

Destaque (azul) - Posição 36341

Goethe, classicista, estava em harmonia com o mundo do Deus-Natureza por


intermédio da arte clássica: daí o paganismo das Römische Elegien e a
santidade quase cristã da Iphigenie auf Tauris.

Destaque (azul) - Posição 36360

“Bildung”, “formação”, eis a grande lição que Goethe deixou e que lhe
justifica o “egoísmo”; o ideal da cultura universal do homem, o ideal da
Renascença, chegou em Goethe ao auge e ao fim. Enquanto se pode dizer
que “a lição de Goethe” não é permanente, só não é porque não será eterna a
civilização que com os gregos começara. Goethe é o último grande
individualista da Renascença que com ele acabou. Vico afirmara que depois
dos heróis vêm os homens; depois de Goethe vieram os burgueses. Morreu
dois anos depois da Revolução de Julho.

Nota - Posição 36364

A RENASCENÇA TERMINA COM GOETHE

Destaque (azul) - Posição 36368

A contribuição de Schiller foi um desdobramento da estética kantiana; e num


sentido limitado pode-se afirmar que a filosofia de Kant1623 constitui a base
teórica do classicismo de Weimar.

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Nota - Posição 36370


IMMANUEL KANT

Destaque (azul) - Posição 36399

O classicismo pré-romântico de Heinse1626 surgiu no mesmo momento que


o classicismo de Goethe: Iphigenie auf Tauris e Ardinghello saíram no
mesmo ano de 1787.

Destaque (azul) - Posição 36415

No polo oposto está Hölderlin1627, e o seu caso é tanto mais sério quanto é
certo tratar-se não de um talento, e sim de um gênio; tanto mais sério que o
seu mergulhar na loucura não representa um caso pessoal, mas simboliza o
último conflito entre classicismo e cristianismo antes de ambos
desaparecerem, provisoriamente, da literatura europeia. Hölderlin, um dos
maiores poetas da Alemanha e da literatura universal de todos os tempos, foi
muito maltratado pela posteridade.

Nota - Posição 36418

CLASSICISMO X CRISTIANISMO

Destaque (azul) - Posição 36452

O romance “idealista” Hyperion está no polo oposto de Ardinghello,

Destaque (azul) - Posição 36455

obra de imaginação que pretende substituir as deficiências da realidade;


sabemos hoje que Hölderlin foi adepto entusiasmado da Revolução francesa.
Nisso, o classicista Hölderlin não é o contemporâneo dos classicistas de
Weimar. O seu classicismo é – ao contrário do que parece – menos idealista e
mais realista; Goethe e Schiller nunca esqueceram o caráter ideal, isto é,
irreal, das suas produções poéticas, ao passo que Hölderlin, por mais
estranho que parecesse, acreditava literalmente nos deuses gregos, como se
ele mesmo fosse um grego.

Destaque (azul) - Posição 36497

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Goethe argumentos muito parecidos. Na verdade, o classicismo de Goethe


ficou como um fenômeno isolado, porque na Alemanha não se encontrava a
base social de um classicismo como movimento: não havia burguesia. Os
começos da revolução econômica na Alemanha foram sufocados pelas
invasões bélicas dos jacobinos e de Napoleão.

Destaque (azul) - Posição 36504

Schiller1628 percorreu, aparentemente, o mesmo caminho que Goethe.


Começou com dramas violentos, ao gosto do “Sturm und Drang”, em prosa
realista: a tragédia da revolta anarquista contra toda a injustiça, Die “Räuber,
que excitou a Alemanha inteira e continua a excitar os adolescentes; a
“tragédia republicana” Fiesko; o drama social Kabale und Liebe,
contrastando de maneira revolucionária a corrupção da corte e a honestidade
da desgraçada pequena-burguesia.

Nota - Posição 36509

SCHILLER

Destaque (azul) - Posição 36511

Seguiram-se mais de dez anos de estudos históricos e filosóficos, até


aparecer a obra-prima de Schiller, a trilogia histórica Wallenstein.

Destaque (azul) - Posição 36517

Veio ele da pequena-burguesia luterana, perturbada pela corrupção das


pequenas cortes afrancesadas do Rococó e pela influência de ideias
racionalistas. As tragédias do “Sturm und Drang”, de Schiller, são
revolucionárias e veementes como as de Alfieri; mas a forma verbal é
diferente.

Destaque (azul) - Posição 36530

Os realistas e naturalistas alemães sempre detestaram o idealista Schiller,


denunciando-lhe a tendência de abrandar e amenizar os fatos duros da
realidade social e histórica.

Destaque (azul) - Posição 36538

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No terreno da estética, os escritos de Schiller aprofundaram e ampliaram


muito o pensamento kantiano.

Destaque (azul) - Posição 36562

Para os alemães, Schiller desempenhou o papel de Rousseau na França e no


mundo: educar o pequeno-burguês para a ação histórica, ensinando-lhe a agir
em harmonia com ideais, ou então – a definição depende do ponto de vista –
a alegar ideais como motivos da sua ação.

Destaque (azul) - Posição 36567

Schiller é uma das maiores forças da secularização da moral cristã. Uniu a


nação politicamente ainda não definida, ou antes, criou a consciência
nacional dos alemães, dando-lhes como bandeira quase religiosa os ideais da
futura burguesia.

Destaque (azul) - Posição 36573

O programa de ação desse tipo humano foi estabelecido por Friedrich


Schleiermacher1630.

Destaque (azul) - Posição 36582

Schleiermacher terminou a obra de secularização de Schiller: criou um novo


protestantismo alemão, deu ao “Bildungsbuerger”, ao “burguês culto”, a
“Bildungsreligion”, a “religião da cultura”, a religião do século XIX. E para
cultivá-lo organizou Wilhelm von Humboldt1631 a Universidade de Berlim,
a Universidade de Hegel e, mais tarde, de Dilthey;

Nota - Posição 36585

SCHLEIERMACHER E HUMBOLDT

Destaque (azul) - Posição 36591

O pseudoclassicismo de um pseudo-Weimar conquistou a Alemanha


burguesa; mas só assim Weimar podia conquistar os alemães. Esse
pseudoclassicismo é a forma sob a qual a Alemanha aceitou a Revolução
burguesa, formando uma burguesia que sobreviverá ao romantismo
antiburguês e será positivista.
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Destaque (azul) - Posição 36594


O classicismo alemão é uma renascença platônica do misticismo europeu.
Pelo platonismo, por mais afrouxado que já tenha sido, conseguiu-se
transformar a Alemanha luterana e pietista, até então separada da Europa
ocidental, em país do “protestantismo cultural”, científico e literário, enfim
europeizado; nesse momento, madame de Staël descobriu a Alemanha para
os franceses e para a Europa. Terminara a evolução que Gottsched, Lessing e
Herder iniciaram, a tarefa de europeizar a Alemanha, à qual coube, então, a
missão histórica de divulgar o romantismo.

Nota - Posição 36597

EUROPEIZAÇÃO DA ALEMANHA

Destaque (azul) - Posição 36601

No classicismo de Weimar há um irrealismo fundamental. Um dos seus


críticos mais penetrantes, o teólogo protestante Paul Tillich1632, chamou a
atenção para a indiferença dos “clássicos” de Weimar com respeito aos
interesses e necessidades mais urgentes da nação, naquela época, e a
indiferença de todos os classicistas pseudo-weimarianos, do século XIX, a
respeito do proletariado. Weimar era uma cidade nas nuvens, pátria celeste de
um grupo – ou, se quiserem, de uma classe – de homens cultíssimos. Uma
aristocracia da inteligência criou aquelas suas obras em meio de uma miséria
revoltante dos pequenos-burgueses e camponeses, e também dos pequenos
intelectuais, dos pastores protestantes e mestres-escola. A maioria
esmagadora da nação estava contra Weimar; não apenas contra Goethe, mas
também contra Schiller, enquanto estava ligado a Goethe.

Destaque (azul) - Posição 36612

na verdade, Weimar nunca foi a capital literária da nação. Racionalismo,


sentimentalismo e “Sturm und Drang” sobreviveram muito bem, embora não
como alta literatura, mas como literatura vulgar, leitura dos pequenos
intelectuais e do povo.

Destaque (azul) - Posição 36620

Os livros mais lidos eram os “romances góticos” alemães1636,

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Destaque (azul) - Posição 36626


O fundamento do seu classicismo e de todo classicismo, a autoridade dos
antigos, já estava abalado demais pelo pré-romantismo.

Destaque (azul) - Posição 36629

em Faust II, a tragédia do empreendedor moderno, Goethe resumiu todas as


Renascenças passadas e antecipou o realismo do século por vir.

Capítulo I ORIGENS DO ROMANTISMO


Destaque (amarelo) - Posição 37707

O ACONTECIMENTO da Revolução Francesa produziu na Europa inteira −


e no continente americano – uma profunda emoção, exprimindo-se em uma
literatura de tipo emocional, que se deu a si mesma o nome de “romantismo”.
A história desse movimento literário pode ser escrita em termos de história
das revoluções: foi produzido pela revolução de 1789 e 1793; foi desviado
pelo acontecimento contrarrevolucionário da queda de Napoleão, em 1815;
reencontrou o élan inicial pela revolução de 1830; e acabou com a revolução
de 1848. É literatura política,

Nota - Posição 37712

ROMANTISMO - EMOÇÃO - É LITERATURA POLÍTICA

Destaque (azul) - Posição 37714

Mas a Revolução não satisfez da mesma maneira àqueles pré-românticos,


que não eram políticos, nem homens de negócios, nem homens do povo, e
sim literatos, os primeiros literatos profissionais: estes foram logo excluídos
da nova sociedade burguesa, que não admitiu outro critério de valor, senão o
utilitarista.

Destaque (amarelo) - Posição 37720

“O romantismo é um movimento literário que, servindo-se de elementos


historicistas, místicos, sentimentais e revolucionários do pré-romantismo,
reagiu contra a Revolução e o classicismo revivificado por ela; defendeu-se

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contra o objetivismo racionalista da burguesia, pregando como única fonte de


inspiração o subjetivismo emocional.”

Nota - Posição 37722


CONCEITO PARA O ROMANTISMO

Destaque (amarelo) - Posição 37724

As variedades principais subordinam-se, porém, sem muito artifício, às


individualidades nacionais: é possível distinguir três pontos de partida
diferentes do romantismo. O ponto de partida alemão é principalmente pré-
romântico. O ponto de partida francês é principalmente pré-revolucionário. O
ponto de partida inglês é principalmente contrarrevolucionário.

Nota - Posição 37725

INDIVIDUALIDADES DO ROMANTISMO

Destaque (amarelo) - Posição 37780

A destruição dos pequenos Estados e bispados autônomos da Alemanha


ocidental e meridional, pela Revolução, privou os escritores alemães dos seus
mecenas generosos. Transformou-os em literatos profissionais, vivendo de
conferências, aulas, revistas e jornais; muitos tornaram-se boêmios meio
vagabundos. Na Alemanha oriental acabaram, por esse tempo, as atividades
literárias, e a Prússia afrancesada mostrou-se tão fria aos adventícios quanto
a Áustria católica. Weimar estava saturada. Mas perto de Weimar havia a
Universidade de Iena, centro de barulhenta vida estudantil e grandes
atividades editoriais; e foi ali que se constituiu a “primeira escola
romântica”1638.

Destaque (amarelo) - Posição 37789

Sobretudo o racionalismo estreito, utilitarista e antipoético, dos burgueses e


pequenos burgueses aborreceu os escritores de Iena.

Destaque (amarelo) - Posição 37797

Friedrich Schlegel1640 veio do classicismo:

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Nota - Posição 37798


SCHLEGEL

Destaque (amarelo) - Posição 37801

O objetivo era “desclassicizar” os gregos, revelar uma Grécia sem


preocupações de bienséance francesa e sem moderação razoável, latina; uma
Grécia livre, individualista, libertina até – semelhante à Itália de Heinse –
poderia quase dizer-se, uma Grécia dionisíaca, para indicar até que ponto
Friedrich Schlegel antecipou ideias de Nietzsche.

Nota - Posição 37803

NIETZSCHE EM SCHLEGEL

Destaque (amarelo) - Posição 37813

a do filósofo Fichte1641, pensador de ascendência mística, que transformou


o mundo ideal de Kant em produto irreal de uma dialética entre o eu ativo e o
objeto inerte.

Nota - Posição 37814

FICHTE

Destaque (amarelo) - Posição 37823

Com os elementos medievalismo e ironia, pretendia Friedrich Schlegel


construir uma nova arte e uma nova religião.

Destaque (amarelo) - Posição 37937

As desilusões sucessivas da realidade e da personalidade pelo romantismo


alemão são símbolos da dissolução da realidade social pela Revolução. Da
consciência clara dessa situação nasceu a obra definitiva da época inteira: o
conto Peter Schlemihl, de Chamisso1648.

Destaque (amarelo) - Posição 37950

Novalis1649, saxônio de origens pietistas, filho de ambiente herderiano.


Também se sente desterrado na própria terra, mas sabe que: “Onde
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andarmos, iremos sempre para casa.” Isto é: para a morte. Novalis será o
maior poeta da morte.

Destaque (amarelo) - Posição 37994


Como poeta, Novalis está sozinho na sua época; como pensador, não.
Socialmente, a sua filosofia mágica é uma tentativa de recompor e recuperar
a realidade, perdida pela Revolução; daí a relação, em Novalis, entre a magia
e o medievalismo. A sua filosofia está exatamente entre o voluntarismo de
Fichte e o misticismo de Schelling1650,

Nota - Posição 37997

SCHELLING

Destaque (amarelo) - Posição 37998

No seu mundo de analogias místicas tudo é símbolo de tudo; Schelling


acabou desenterrando a profunda sabedoria que acreditava encerrada nos
mistérios gregos e nas mitologias orientais.

Destaque (amarelo) - Posição 38017

Heinrich von Kleist1654; será ainda preciso lembrar o momento pessoal do


choque entre uma natureza gravemente patológica e uma realidade duríssima,
e – last not least – o gênio, para saber-se porque esse poeta malogrado, que
acabou suicidando-se com 34 anos de idade, é o maior dramaturgo alemão e
o único na literatura universal que merece o epíteto de “shakespeariano”.

Nota - Posição 38020

VON KLEIST

Destaque (amarelo) - Posição 38033

Prinz Friedrich von Homburg:

Destaque (amarelo) - Posição 38093

Entre 1650 e 1800, a França é, com respeito à literatura, uma China fechada,
um “Império do Meio”. Quem rompeu esse isolamento foi Napoleão: as suas

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campanhas abriram as fronteiras francesas, identificando a França com a


Europa;

Destaque (amarelo) - Posição 38096


O papel de Napoleão, nessa evolução, é ambíguo: de um lado, ele representa
a reação democrática, jacobina, contra os burgueses do Diretório; do outro
lado, estabelece, pela sua legislação, o regime burguês.

Destaque (amarelo) - Posição 38103

Entre essas tendências contraditórias encontrou Chateaubriand1656 apenas


um ponto fixo: o seu eu orgulhoso. Tornou-se um egoísta tão poderoso como
Goethe. E o seu papel na literatura francesa pode ser comparado ao de
Goethe na literatura alemã.

Nota - Posição 38105

CHATEAUBRIAND

Destaque (amarelo) - Posição 38129

a sua contribuição mais eficiente para a literatura francesa é um sentimento


subjetivo, o “mal du siècle”, a forma francesa do wertherismo: a sua obra
historicamente mais importante é René.

Destaque (amarelo) - Posição 38190

Madame de Staël1663 era filha de Necker, um dos últimos ministros de Luís


XVI; mas Necker era um banqueiro protestante de Genebra. Como grande
dama, centro de salões literários, Staël pertence, como Chateaubriand, à
França pré-revolucionária, liberal;

Nota - Posição 38193

MADAME De STAEL

Destaque (amarelo) - Posição 38254

“O maior acontecimento na história inglesa do fim do século XVIII deu-se na


França”, disse Chesterton. A Revolução fez tremer os fundamentos
aristocráticos do reino. Foi saudada pelos intelectuais afrancesados, como
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Fox, pelos loucos, como Blake, e pelos utopistas, como Godwin. Contra os
afrancesados reagiram outros afrancesados, aristocratas do “ancien régime”,
com a mordacidade da sátira classicista.

Destaque (amarelo) - Posição 38262


O conservantismo moderno inglês foi criado por Edmund Burke1668, o
maior dos oradores ingleses.

Nota - Posição 38264

BURKE

Destaque (amarelo) - Posição 38269

Burke fora um intelectual do século XVIII, “protégé” dos aristocratas


liberais, aos quais serviu no Parlamento. A revolta contra a aristocracia pôs
em risco, ao seu ver, o próprio liberalismo; e Burke, ameaçado na sua
existência material e espiritual, atacou a doutrina burguesa do utilitarismo
racional, atacou, enfim, a própria Razão e toda a tentativa de assentar as
bases do Estado em doutrinas teóricas, sem consideração pelas tradições
históricas.

Destaque (amarelo) - Posição 38272

Quanto à Revolução francesa, Burke estava, sem dúvida, errado; havia um


equívoco fatal entre os termos franceses e os termos ingleses. Os
“privilégios”, que significavam na França abusos aristocráticos, constituíram
na Inglaterra as garantias da liberdade constitucional; o rei, que os franceses
mataram, era, na Inglaterra, parte do Parlamento, e a abolição da Monarquia
teria significado, na Inglaterra, a abolição do Estado.

Destaque (amarelo) - Posição 38280

Burke acabou com o racionalismo teórico do século XVIII, substituindo-o


pela doutrina das forças criadoras da História e do Tempo, das tradições
nacionais, do solo materno. É o Vico, o Montesquieu, o Herder da Inglaterra,
o ideólogo do conservantismo historicista europeu. Com Burke, todas as
nações europeias se lembraram do seu passado nacional. Tornaram-se, todas,
românticas; sobretudo as nações protestantes que, quatro séculos atrás,

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tinham rompido com o passado e reconheciam agora, com tremor, as


consequências.

Destaque (amarelo) - Posição 38373


O grande mediador entre a Alemanha e a Inglaterra – mas, de longe, não só
isso – é Coleridge1671.

Nota - Posição 38374

COLERIDGE

Destaque (amarelo) - Posição 38532

Joseph De Maistre1683, como escritor, foi definido, por Thibaudet, como


“gentilhomme de province”, e essa definição lembra imediatamente os
“lakistas”.

Nota - Posição 38533

DE MAISTRE

Destaque (amarelo) - Posição 38535

De Maistre fora maçom, naquela época em que a maçonaria se confundiu


com seitas ocultistas de fins utópicos, humanitários. O maçom De Maistre
devia ter compreendido (e desprezado, por orgulho aristocrático) os ideais de
Godwin, pelos quais o jovem Wordsworth e o jovem Coleridge se
entusiasmaram.

Destaque (amarelo) - Posição 38592

Lamartine1690 é um poeta muito grande, um dos maiores e mais puros da


língua francesa.

Nota - Posição 38593

LAMARTINE

Destaque (amarelo) - Posição 38700

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De três pontos de partida saiu o chamado “romantismo”: do grupo alemão de


Iena, da emigração francesa e do distrito dos lagos ingleses.

Destaque (amarelo) - Posição 38707

Não basta, portanto, distinguir um movimento conservador, partindo de


Herder e Burke, e outro movimento, sentimental e revolucionário, partindo
de Rousseau; age, dentro do romantismo, um terceiro fermento, de feição
classicista, exprimindo-se como humanismo dentro do romantismo
conservador, e como oposição aristocrática dentro do romantismo liberal e
revolucionário.

Destaque (amarelo) - Posição 38712

Dentro do romantismos de evasão, distingue-se um movimento medievalista


e nacionalista, inspirando-se em Burke e Herder, exprimindo-se
principalmente pelo gênero do romance histórico e pelo interesse na poesia
popular e folclore; e um movimento humanista, principalmente no
“Biedermeier” alemão e dinamarquês, e que toma entre os ingleses a feição
de uma renascença da poesia elisabetana.

Destaque (amarelo) - Posição 38716

Dentro do romantismo liberal e revolucionário, o “humanismo” é


representado pelos classicistas-pessimistas,

Destaque (amarelo) - Posição 38723

“romantismo” não tem nenhum sentido definido, nem sequer cronológico – é


apenas o nome ambíguo de um capítulo da história literária.

Capítulo II ROMANTISMOS DE EVASÃO


Destaque (amarelo) - Posição 39468

WALTER SCOTT1700 foi entre todos os escritores da literatura universal


aquele que obteve, em vida, maior sucesso.

Nota - Posição 39470

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WALTER SCOTT

Destaque (amarelo) - Posição 39544

A arte de Scott não tem nada em comum com o medievalismo artificial,


puramente literário, dos pré-românticos. Os seus romances baseiam-se em
documentação cuidadosa, e os maiores dentre eles em documentação oral,
ainda viva. Visto assim, Scott é realista.

Destaque (amarelo) - Posição 39558

Scott iniciou, em certo sentido, a era da literatura burguesa. Foi o primeiro


escritor que se tornou rico pela pena.

Destaque (amarelo) - Posição 39561

Nesse sentido, Scott é o romancista da nova burguesia.

Destaque (amarelo) - Posição 39743

A variedade saudosista do romance histórico, aquela que não olha para a


Idade Média remota e sim para estados sociais imediatamente anteriores, é a
que está mais perto do próprio Walter Scott. Esse gênero de romance parece
tremendamente reacionário; mas teve o seu maior representante, depois de
Scott, na América, em Cooper1728.

Nota - Posição 39745

COOPER

Destaque (azul) - Posição 39762

A grande simpatia de Balzac por Cooper baseia-se em afinidades secretas:


Balzac era reacionário político e social, defendendo a ordem monárquica e
aristocrática contra a nova burguesia; e a atitude de Cooper não era muito
diferente.

Destaque (azul) - Posição 39774

indianistas de escritores latino-americanos. No sul do Continente, as “elites”


que tinham conquistado a Independência das novas repúblicas, não eram de
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descendência puramente europeia; procuravam uma nobreza não europeia


como predecessora ideal. Eis por que o brasileiro José de Alencar1729,
político conservador, autor do notável romance scottiano As Minas de Prata,
idealizou em O Guarani e Iracema os índios da sua terra; é significativo ter o
mesmo Alencar pretendido romper as relações literárias e linguísticas do
Brasil com Portugal;

Nota - Posição 39779


JOSÉ DE ALENCAR

Destaque (azul) - Posição 39787

Os discípulos de Walter Scott são, quase todos, conservadores como ele; mas
é um conservantismo moderado, menos de orgulho aristocrático do que de
preconceitos da classe média, admirando a beleza do passado, porque
receavam a decadência moral pela invasão das ideias avançadas. O romance
histórico torna-se reacionário, no próprio sentido da palavra, quando é
expressão de uma classe dirigente ainda poderosa e já ameaçada.

Destaque (azul) - Posição 39796

Nos países meio feudais da Europa revela o romance histórico mais a


tendência antiburguesa de ressaltar as “liberdades” medievais das classes
rurais.

Destaque (azul) - Posição 39801

Entre esses romancistas encontra-se a maior figura literária do romantismo


português, Almeida Garrett, com o Arco de Santana (1845), e sobretudo a
maior figura humana do mesmo movimento: Herculano1734.

Nota - Posição 39803

ALEXANDRE HERCULANO

Destaque (azul) - Posição 39813

O romance histórico a serviço de aspirações nacionais e políticas é caso


frequentíssimo entre as nações que, na primeira metade do século XIX, ainda
tinham que lutar pela liberdade nacional.

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Destaque (azul) - Posição 39947


A sucessão imediata da historiografia romântica caberá à historiografia
política dos liberais Thierry, Guizot, Macaulay e Grevinus que interpretarão
as guerras e revoluções do passado como lutas internas entre governantes e
oposicionistas;

Destaque (azul) - Posição 39950

“Historiorafia política” tem outro sentido, nacionalista e romântico, entre


nações que ainda não haviam passado pela revolução industrial: aí, a
historiografia desempenha o papel político de definir a nacionalidade – o que
constitui uma das funções do romantismo.

Destaque (azul) - Posição 39960

Na Rússia, país independente e poderoso, já havia uma “ideia realizada”: a


da autocracia tzarista. Celebrou-a Karamsim1761. Fora poeta sentimental e
ficcionista pré-romântico. Transformou-se em prosador de grande estilo
retórico na sua “epopeia do tzarismo”: não é a história do “povo” russo, mas
a do seu “Império”.

Destaque (azul) - Posição 39979

À literatura ou subliteratura bastavam os elementos romanescos como em


Dumas père1763.

Nota - Posição 39980

ALEXANDRE DUMAS

Destaque (azul) - Posição 39982

O seu romantismo degenerado é, na verdade, pré-romântico, “gótico”; nada


mais “gótico” do que a sua peça La Tour de Nesles; e nada mais “gótico”,
também, do que os enredos dos seus romances. Este “medievalismo
pitoresco” não é herderiano, é ante-herderiano e apenas pitoresco; assim
como a fantástica massa popular em Notre-Dame de Paris, não tem nada com
o povo francês da realidade.

Destaque (azul) - Posição 39988

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A “lei” do evasionismo romanesco é a permanente expansão geográfica:


conquista-se um país após outro, até a vista se perder no mar que rodeia a
ilha da Utopia. Onde o evasionista chega, a realidade perde os contornos,
transformando-se em sonho estético e, as mais das vezes, subliterário.

Destaque (azul) - Posição 40055

O caminho da vulgaridade foi iniciado por Bulwer1768, o autor notório de


algumas das obras mais divulgadas da literatura universal, como o romance
“histórico” The Last Days of Pompeii, produto de um literato habilíssimo,
situado entre Scott e Sienkiewicz.

Nota - Posição 40058

BULWER

Destaque (azul) - Posição 40066

A mesma relação existe, embora menos evidente, em Wilkie Collins1769, o


inventor dos romances policiais mais engenhosos em língua inglesa.

Nota - Posição 40067

COLLINS

Destaque (azul) - Posição 40070

Com exceção de pequenos grupos de poetas suecos e poloneses, não se pode


falar em mística durante a primeira metade do século XIX.

Destaque (azul) - Posição 40181

Slowacki1777 é um dos grandes poetas da literatura universal; um daqueles


que, como Hölderlin e Nerval, sofreram interpretação errada como
“sonhadores infelizes”, adolescentes meio femininos, os “fracos” ao lado dos
fortes Goethe, Hugo e Mickiewicz.

Destaque (azul) - Posição 40231

Nerval1782 atribuiu suas visões a uma origem diferente; e pagou caro.

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Destaque (azul) - Posição 40310


O prosador “maudit” entre eles, é o estranho inglês Thomas De
Quincey1784, que a atividade de certos editores reduziu a autor de
“sensacionais confissões de um opiófago”.

Destaque (azul) - Posição 40332

A qualidade correspondente em Poe1785é sua extrema lucidez de espírito


que se revela nos seus engenhosos contos policiais e em vários tratados meio
científicos;

Nota - Posição 40333

POE

Destaque (azul) - Posição 40399

O romantismo da segunda geração, na Alemanha, é, por assim dizer, mais


autêntico e menos crítico.

Destaque (azul) - Posição 40403

O medievalismo, que foi no resto da Europa negócio de aristocratas


saudosistas ou de burgueses ávidos de um estilo mais nobre de viver, torna-
se, na Alemanha, ideal da nação1792: proclama-se que seria preciso anular a
obra da europeização da Alemanha, iniciada pelos pré-românticos e pela
gente de Iena; só no regresso à Idade Média parece encontrar-se a proteção
necessária das particularidades da nação alemã contra nefastas influências
estrangeiras e revolucionárias. O sonho medievalista vira política reacionária.

Nota - Posição 40407

REAÇÃO DA ALEMANHA

Destaque (azul) - Posição 40411

Trata-se de uma dominação do romantismo pelo conservadorismo; e a


testemunha desse processo é o amigo e depois cunhado de Brentano, Achim
von Arnim1793.

Nota - Posição 40412


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ARNIM

Destaque (azul) - Posição 40421

Evolução análoga, embora tirando conclusões diferentes, seguiu sua esposa,


a irmã de Clemens, Bettina Brentano1794, na juventude tão boêmia e
exuberante como o irmão.

Destaque (azul) - Posição 40436

Maior consciência da mudança dos tempos revela Immermann1796,


prussiano típico, que na tragédia Das Trauerspiel in Tirol (Tragédia no Tirol),
sacrificara ao nacionalismo antinapoleônico, e no poema Merlin dera uma
das obras mais significativas do misticismo romântico.

Destaque (azul) - Posição 40444

Sociólogos perspicazes, talvez perspicazes demais, acreditam ter descoberto


vestígios de um verdadeiro sistema de sociologia conservadora em escritores
tão pouco “sociais” como Novalis, Tieck e Eichendorff1797; trata-se de
reflexos de um movimento geral que chegou à sua primeira expressão nítida
em Adam Müller1798,

Nota - Posição 40446

ADAM MÜLLER

Destaque (azul) - Posição 40452

O patriarcalismo que Müller defendera na Prússia podia identificar Estado e


Nação, considerando a monarquia como expressão biológica das forças
nacionais. Esse conceito biológico, racial, da nação, veio de Herder; também
inspirou as Reden an die deutsche Nation (Discursos à Nação Alemã), de
Fichte1800, proclamações eloquentes contra Napoleão.

Destaque (azul) - Posição 40486

Os Promessi sposi, de Alessandro Manzoni1805, são um dos romances mais


lidos da literatura universal:

Nota - Posição 40488


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MANZONI

Destaque (azul) - Posição 40493

Manzoni, católico de fé firme, acreditava na Providência divina; e por isso,


não se duvida nunca do desfecho feliz da tragédia, e essa fé transforma o
romance em símbolo da harmonia celeste, não perturbada por nenhum
elemento do terror “gótico” – aliás, o único romance da escola de Walter
Scott de que esse elemento “gótico” está completamente ausente.

Destaque (azul) - Posição 40508

É o maior romance histórico que jamais se escreveu.

Destaque (azul) - Posição 40544

O único grande poeta entre os conservadores da época é o conde polonês


Zygmunt Krasinski1808.

Destaque (azul) - Posição 40593

Destino literário mais modesto, mas repercussão semelhante coube aos


Kinder-und Hausmärchen (Contos de fadas), dos irmãos Jakob e Wilhelm
Grimm1813, grandes folcloristas, estudiosos da mitologia germânica e da
história do Direito alemão;

Nota - Posição 40596

IRMÃOS GRIMM

Destaque (azul) - Posição 40612

O movimento folclorista era de alcance universal, atingiu outras nações e


outros continentes, nem sempre sob influência direta do romantismo
germânico, mas como elemento característico do romantismo em geral.

Destaque (azul) - Posição 40618

A repercussão geograficamente mais remota do folclorismo alemão, através


do romantismo português, manifestou-se na poesia de Gonçalves Dias1819,

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o grande poeta romântico do Brasil, erudito que sabia imitar a poesia


portuguesa medieval, inventor de um folclore poético índio.

Nota - Posição 40621


GONÇALVES DIAS

Destaque (azul) - Posição 40678

Passaram decênios até – por volta de 1880 – Gebauer, Goll e Masaryk


conseguirem dissipar as nuvens da mistificação e purificar a atmosfera
nacional, envenenada por fraude e vaidade. Até então, os manuscritos de
Königinhof e Grünberg foram considerados como documentos de uma
grande civilização eslava nos começos da Idade Média; e isso serviu aos
desígnios do “eslavofilismo”. Nas origens desse movimento importantíssimo
encontra-se, mais uma vez, a grande figura de Herder1830.

Nota - Posição 40682

ESLAVOFILISMO

Destaque (azul) - Posição 40683

entusiasmara-se pelo Império russo e os seus povos eslavos; considerava


Catarina a Grande como ideal de um príncipe conforme Montesquieu;

Destaque (azul) - Posição 40687

No famoso capítulo IV do livro XVI, parte IV das Ideen zu einer Philosophie


der Geschichte der Menschheit (Ideias sobre uma Filosofia da História da
Humanidade), publicado em 1791, Herder previu, depois da derrota histórica
dos gregos e romanos, também a das raças latina e germânica, já decadentes,
atribuindo aos eslavos a missão histórica de estabelecer o futuro reino da
Paz, Agricultura e Poesia, para realizar o ideal humanitário.

Destaque (azul) - Posição 40699

As falsificações de Hanka contribuíram para encher aquela época com


templos e palácios imaginários de uma civilização eslava extinta – eis o
ambiente poético de Jan Kollar1831.

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Destaque (azul) - Posição 40709


Kollar é o pai do pan-eslavismo literário.

Destaque (azul) - Posição 40713

Outros, porém, imbuídos de ideias humanitárias, olharam com espanto a


decadência do Ocidente revolucionário; e proclamaram a missão histórica
dos eslavos, quer dizer, dos russos, de salvar o mundo.

Destaque (azul) - Posição 40720

sobretudo o poeta e teólogo Khomiakov1834: nos seus escritos teológicos de


um leigo algo confuso já se encontram as ideias de Dostoievski, menos a
agressividade política; e as suas poesias, graves e sonoras, serviam para o
mesmo fim de lamentar as ruínas do Ocidente e exaltar a salvação do mundo
pela Rússia eslava e ortodoxa.

Destaque (amarelo) - Posição 40734

O movimento eslavo parece uma revolta nacionalista contra o cristianismo


ocidental; no fundo, é antes uma revolta de povos atrasados, firmes na fé
cristã, contra a secularização do cristianismo no Ocidente, contra o
liberalismo.

Destaque (azul) - Posição 40734

O movimento eslavo parece uma revolta nacionalista contra o cristianismo


ocidental; no fundo, é antes uma revolta de povos atrasados, firmes na fé
cristã, contra a secularização do cristianismo no Ocidente, contra o
liberalismo. Movimento análogo, mais modesto, mais provinciano, deu-se na
Escandinávia, com um prelúdio na Alemanha.

Nota - Posição 40736

ESLAVISMO X LIERALISMO

Destaque (azul) - Posição 40738

O nacionalismo antifrancês e antiliberal era uma reação contra o mundo


ocidental; e essa tentativa de anular a europeização da Alemanha voltou,

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coerentemente, ao luteranismo.

Destaque (azul) - Posição 40883


A calma política da época é menos o motivo do que a condição: a filosofia de
Hegel, mediando dialeticamente entre historismo herderiano e
conservantismo prussiano, não foi nunca a filosofia oficial da Prússia, mas
sim uma garantia aparentemente definitiva contra revoluções políticas e, ao
mesmo tempo, contra intervenções do Estado nos negócios do Espírito. Por
isso, os intelectuais da Universidade de Berlim chamavam aos tempos de
Hegel “época halcyônica”.

Destaque (azul) - Posição 40891

A Dinamarca era então, espiritualmente, uma província da Alemanha. Toda a


Alemanha, desmembrada em numerosos Estados e estadozinhos pacíficos,
era província. A mais fechada dessas províncias era a Áustria, separada do
mundo pelo absolutismo de Metternich. Uma censura rigorosíssima sufocava
todo vestígio de vida pública, desviando as atenções para a música – a época
é de Beethoven e Schubert – e sobretudo para o teatro.

Destaque (azul) - Posição 40900

Franz Grillparzer1853 é o poeta mais completo do seu país; a sua obra é uma
verdadeira enciclopédia da história e do caráter austríaco;

Destaque (azul) - Posição 40934

Guerra de Trinta Anos;

Destaque (azul) - Posição 40974

Adalbert Stifter1857 era professor, ou antes, mestre-escola. Estava


acostumado a explicar a meninos as maravilhas da Natureza, e assim formou-
se o maior poeta descritivo da literatura alemã; um poeta em prosa. As suas
descrições de prados e montanhas, lagos e florestas, chuvas, tempestades e
soalheiras são insuperáveis, infelizmente tão minuciosas que a leitura se
torna torturante. É um autor para “trechos seletos”; não é fácil ler um volume
seu inteiro. Seus contos são magistrais; Thomas Mann incluiu-os entre os
melhores da literatura universal.

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Destaque (azul) - Posição 40985


O seu romance Nachsommer (Verânico) é o último rebento de Wilhelm
Meister, romance de uma educação para os supremos ideais da beleza e
bondade, do serviço à humanidade.

Destaque (azul) - Posição 41000

Tiutchev1858 é o único grande poeta russo entre Puchkin e o simbolismo; e


só os simbolistas russos redescobriram a obra desse homem tímido, retirado
da vida, excluindo-se deliberadamente do movimento literário. Durante uma
época na qual toda a “Inteligentzia” russa era liberal ou revolucionária, o
eslavófilo Tiutchev foi conservador;

Destaque (azul) - Posição 41233

Andersen1876, o maior narrador de contos de fadas, deu à sua própria


autobiografia o título de um conto de fadas – “Mit Lyvs Eventyr” (“O Conto
de Fadas de Minha Vida”); e estava certo.

Destaque (azul) - Posição 41261

A revolta acentua-se em Meier Aaron Goldschmidt1877, porque era, como


Andersen, um excluído da sociedade, mas por motivo mais forte: era judeu,
na época antes da emancipação civil dos judeus. No seu primeiro romance,
autobiográfico, En Jöde (Um Judeu), descreveu as suas experiências
dolorosas, manifestando o sentimentalismo de um Werther; nesse aspecto, é
um pré-romântico atrasado.

Destaque (azul) - Posição 41274

Kierkegaard1878 era candidato da teologia luterana em Copenhague,


candidato eterno porque escrúpulos religiosos e o gozo de uma considerável
fortuna herdada nunca o deixaram chegar a exercer funções ativas na Igreja e
na vida social.

Nota - Posição 41276

KIERKEGAARD

Destaque (azul) - Posição 41292

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O pensamento de Kierkegaard é difícil de definir; e muita confusão foi criada


por ele mesmo, atribuindo a maior parte da sua obra a pseudônimos que se
contradizem continuamente e pelos quais ele não quis assumir a plena
responsabilidade. Esse processo lhe serviu para justificar, enquanto possível,
a sua atitude de um neurótico abúlico, incapaz de atos tão simples como
casamento e escolha de profissão, capaz só de decisões repentinas, abruptas e
destruidores.

Destaque (azul) - Posição 41298

A doutrina de Kierkegaard é “existencialista”; quer dizer, ela rejeita, junto


com a mediação hegeliana, toda e qualquer especulação teórica fora da vida;
não pode, teoricamente, ser refutada.

Destaque (azul) - Posição 41301

Havia, porém, no pensamento de Kierkegaard, uma contradição mais


evidente do que todas as outras: colocou os homens em face da alternativa de
voltar ao rigor ascético do cristianismo primitivo, inimigo irreconciliável da
civilização profana, ou então abandonar o cristianismo em favor dessa
civilização; e Kierkegaard não previra a possibilidade de os homens
escolherem o segundo caminho. Mas era isso o que fizeram, tornando-se
radicais, positivistas, cientistas. Durante a segunda metade do século XIX,
Kierkegaard não passou de um escritor escandinavo esquisito e meio
esquecido. Só a derrota da civilização europeia na guerra de 1914 operou o
milagre da sua ressurreição. Desde então, Kierkegaard é o símbolo da
resistência contra uma civilização meio teórica, meio mecanizada.

Nota - Posição 41306

RADICALISMO, CIÊNCIA E POSITIVISMO

Destaque (azul) - Posição 41313

É um grande romântico. Romântico é o seu estilo cheio de colorido como o


de Chateaubriand, de digressões fantásticas e espirituosas como o de Jean
Paul – um dos maiores prosadores.

Destaque (azul) - Posição 41320

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o revolucionário integral Kierkegaard era inimigo feroz da revolução política


e adepto do absolutismo monárquico. Esse esteta revoltado que só pode
existir no meio da calma política, é a figura mais completa do “Biedermeier”.

Destaque (azul) - Posição 41324

Da literatura russa, o Ocidente durante muito tempo só tomou nota dos


acontecimentos extraordinários e das figuras máximas. Parecia a literatura de
Puchkin, Gogol, Tolstoi e Dostoievski só. Mas na história literária, os
menores e os medíocres também contam; e os escritores russos mais típicos
entre 1820 e 1850 são aquele desprezível jornalista e renegado Tadeus
Bulgarin, autor do romance histórico Mazeppa e bajulador do tzar Nicolau I;
e, doutro lado, o liberal Polevoi1879, inimigo dos classicistas acadêmicos e
autor de tragédias românticas, inimigo do conservador Karamsin e autor de
uma história da Rússia conforme princípios liberais.

Nota - Posição 41329

LITERATURA RUSSA

Destaque (azul) - Posição 41330

nem todos os russos eram decabristas. O tzar gostava da literatura: encorajou


Puchkin; e deu, contra o parecer dos censores, a permissão para se
representar o Inspetor Geral, de Gogol. Essa síntese de liberdade estética e
polícia política é bem “Biedermeier”. Bielinski, no começo, e Gogol, no fim
da carreira, eram partidários do tzarismo, porque o tzarismo era instituição
russa ou, como mais se gostava de afirmar, “o regime tipicamente eslavo”.
Naqueles anos, o objeto da discussão não era o regime político, mas outra
questão: europeizar ou não europeizar a Rússia? Os contendores não eram os
absolutistas e os liberais, mas os “eslavófilos” e os “ocidentalistas”,
partidários da europeização. E o primeiro grande ocidentalista era bastante
reacionário: Tchaadaiev1880.

Nota - Posição 41336

O TZAR E A LITERATURA, TCHADAAIEV E A EUROPEIZAÇÃO DA


RÚSSIA

Destaque (azul) - Posição 41337


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discípulo de De Maistre.

Destaque (azul) - Posição 41345

Havliček1881 começara como adepto da “reciprocidade literária entre as


tribos da nação eslava”; mas um estágio na Rússia, entre 1843 e 1855,
bastava para desiludi-lo; e as Almas Mortas, de Gogol, que traduziu,
pareciam-lhe panfleto eficiente contra toda russofilia. Havliček, antigo
seminarista, tornara-se voltairiano; os dois primeiros livros dos seus duzentos
Epigramas, entre os mais mordazes da literatura universal, estão dedicados
“À Igreja” e “Ao rei”.

Destaque (azul) - Posição 41357

O caminho de Havliček é quase exatamente o mesmo de Bielinski.


Bielinski1882 é o pai da literatura russa moderna.

Nota - Posição 41359

BIELINSKI

Destaque (azul) - Posição 41361

começara como eslavófilo reacionário, sonho do qual acordou só sob a


influência do hegelianismo; mas não abandonou de todo as ideias de Herder.
Distinguindo-se dos ocidentalistas radicais de mais tarde, Bielinski viu na
europeização da Rússia não um rompimento com o passado, mas uma
mediação hegeliana entre a Rússia e a Europa, modernizando a primeira e
rejuvenescendo a outra. Contra essa mediação revoltou-se Gogol, que, sob
esse aspecto, poderia ser definido como o Kierkegaard russo.

Destaque (azul) - Posição 41366

Gogol1883 merece em mais do que um sentido ser comparado a


Kierkegaard. Além do anti-hegelianismo, do romantismo inato, da forte
angústia religiosa, do conformismo político, nota-se, em ambos os casos, a
desproporção entre a essência conservadora da obra e as repercussões
revolucionárias.

Nota - Posição 41368

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GOGOL

Destaque (azul) - Posição 41369

Gogol inspirou à literatura russa do século XIX inteiro o intenso sentimento


social, a simpatia para com os ofendidos e humilhados, a indignação contra
as injustiças da vida russa e, em última consequência, a atitude
revolucionária.

Destaque (azul) - Posição 41372

É tanto mais estranho que o próprio Gogol não se tenha conservado fiel a
esse programa: na sua última obra, Escolha da correspondência com amigos,
rebentou em visões apocalípticas de fim da civilização e do mundo, ajoelhou-
se perante o retrato do tzar e os ícones da Igreja ortodoxa. Gogol acabou em
loucura religiosa.

Destaque (azul) - Posição 41376

Com efeito, Gogol, o pai da literatura realista, não é realista; dá quase sempre
caricaturas monstruosas ou burlescas da vida russa. Os seus “heróis” são,
todos eles, caricaturas; o falso inspetor Chlestakov e o comprador de almas
mortas Tchitchikov são criaturas monstruosas da corrupção política e da
corrupção social; e até Akaki Akakievitch, o triste herói do Capote, é uma
caricatura burlesca e comovente dos humilhados da terra russa. Tampouco é
Gogol realista com respeito ao estilo; em vez de descrever a realidade,
deforma-a; e essas deformações fornecem o humorismo intenso da sua obra.

Destaque (azul) - Posição 41382

mais do que Kierkegaard parecia-se Gogol com E. T. A. Hoffmann, ao qual


admirava muito. A indignação social está certa; mas a conclusão, em Gogol,
não era revolucionária. Era patriota russo. Os radicais não eram menos
patrióticos, apenas pretenderam salvar a Rússia conforme um ideal diferente.
A sátira também pressupõe um ideal secreto, conforme o qual a realidade é
julgada; e o ideal de Gogol não era político nem social, mas nacional. Gogol
não foi propriamente russo; é ucraniano, escrevendo em língua russa. Uma
das suas primeiras obras é o romance histórico Taras Bulba, panfleto do
nacionalismo ucraniano contra os poloneses.

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Destaque (azul) - Posição 41397


Entre todos os escritores russos é Gogol o poeta “par excellence” da cidade
de Petersburgo, não por meio de descrições exatas, mas, ao contrário,
revelando o caráter artificial dessa cidade que Pedro o Grande criou em meio
de pântanos.

Destaque (azul) - Posição 41399

Lá, em Petersburgo, os homens são meros espectros, passeando e até voando


por ruas fantásticas, “iluminadas pela mão do Diabo”, bonecos na mão de um
monstro demoníaco, o Estado, que governa este mundo por meio de um
exército de pequenos diabos, os burocratas.

Destaque (azul) - Posição 41403

Petersburgo, para Gogol, é um mundo irreal. A realidade russa encontra-se lá


fora, na província. Não que seja melhor ou mais pura; ao contrário, é
corrupta, decaída, miserável e lamentável.

Destaque (azul) - Posição 41418

Gogol sofreu de acessos tremendos de angústia. Viu diabos em toda a parte.


E o significativo é que justamente as pessoas mais triviais são, em Gogol, as
mais diabólicas:

Destaque (azul) - Posição 41422

Essa maneira de ver o elemento fantástico na trivialidade é romântica; é a


maneira de E. T A. Hoffmann, dos românticos de Iena e de Kierkegaard.

Capítulo III ROMANTISMOS EM OPOSIÇÃO


Destaque (azul) - Posição 43256

Em certo dia do ano de 1812, Byron1884, até então um poetastro de versos


classicistas, maltratado pela crítica, “acordou e encontrou-se famoso”:

Nota - Posição 43258

BYRON
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Destaque (azul) - Posição 43277


Nunca um poeta foi mais famoso do que Byron; mas como um meteoro
aparecera essa glória, e como um meteoro desapareceu. Byron continua um
dos nomes mais célebres da literatura universal; mas não continua lido.

Destaque (azul) - Posição 43334

Hugo entusiasmava-se, como Byron, pelos gregos; Vigny lançou desafio


byroniano de pessimista à criação de Deus; Stendhal, grande admirador de
Byron, imitou-lhe os gestos e pretendeu em vão repetir-lhe as aventuras com
belas italianas; Musset adotou o tom irônico, céptico, de gozador
desabusado; são tão byronianas como chateaubrianescas as viagens orientais
de Lamartine, Nerval e Flaubert.

Destaque (azul) - Posição 43354

De intensidade singular era a influência de Byron entre os eslavos1891. A


literatura checa moderna nasceu com o byronismo:

Destaque (azul) - Posição 43366

O byronismo dos russos Puchkin e Lermontov, que se revela nos enredos, no


estilo e nas atitudes, é um axioma da historiografia literária1892, embora
sujeito a dúvidas.

Destaque (azul) - Posição 43388

Com exceção da Áustria de Metternich, o regime da Restauração não é o


absolutismo do ancien régime; Luís XVIII deu a “Carta” à França; vários dos
países pequenos da Alemanha dividida também receberam o presente de
regimes representativos. O regime da Restauração não é feudal, mas policial.
A burguesia continuava ou foi novamente excluída da política. Mas vencera
socialmente. As Câmaras de maioria aristocrática na França não conseguiram
a devolução dos latifúndios, vendidos, durante a Revolução, à nobreza
expropriada. A Prússia absolutista deixou vigorar na Renânia o Code
Napoleón, do qual também se aproximava muito o novo Código austríaco. A
União Aduaneira Alemã, promovida pela mesma Prússia e tão indispensável
às necessidades de expansão econômica da burguesia, é o acontecimento
político mais ruidoso da história do “Biedermeier” alemão, quase
coincidindo com a reforma do Parlamento na Inglaterra. Pela revolução de
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julho de 1830, a burguesia francesa apodera-se do Estado. Os vencidos são a


aristocracia e a democracia. Mas estas não têm em comum a oposição contra
o inimigo comum. Há aristocratas liberais que se revoltam; põem a serviço
dessa revolta a filosofia descrente, a poesia melancólica e a sátira mordaz do
século XVIII. E há intelectuais democráticos, desesperados até a loucura e o
suicídio, ou então construindo utopias. Antes de revelar-se os verdadeiros
motivos da situação do proletariado, a democracia e o socialismo só podiam
ser utopistas.

Nota - Posição 43395


BURGUESES VENCEM SOCIALMENTE E POLITICAMENTE -
REVOLUÇÃO 1830 - REVOLTA ARISTOCRACIA E DE INTELECTUAIS
- UTOPIAS

Destaque (azul) - Posição 43399

de um lado, os aristocratas rebeldes à maneira de Byron, e por outro lado, os


democratas desesperados ou utopistas que se julgavam byronianos porque a
atitude espetacular de Byron se impunha. A distinção é facilitada pela análise
do estilo: naqueles, classicista; nestes, romântico.

Destaque (azul) - Posição 43455

No modo a-histórico de pensar, também reside parte da grandeza do poeta


Giacomo Leopardi1896;

Destaque (azul) - Posição 43464

em Nápoles, no meio da Natureza exuberante que lhe parecia impiedosa,


morreu com 39 anos de idade, deixando uma obra de tamanho escassíssimo:
um volume de diálogos e meditações filosóficas e um pequeno volume de
versos. É, porém, a obra mais perfeita de uma literatura tão grande como a
italiana.

Destaque (azul) - Posição 43566

Arthur Schopenhauer1897 considerava certos versos de Leopardi como a


expressão mais perfeita do seu sistema filosófico;

Nota - Posição 43568


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SCHOPENHAUER

Destaque (azul) - Posição 43645

Batiuchkov1900 fora poeta anacreôntico à maneira francesa.

Destaque (azul) - Posição 43648

Baratynski1901, outro russo italianizado, algo parecido com Platen.

Destaque (azul) - Posição 43655

Em A Cigana, de Baratynski, a descrição dos costumes da aristocracia russa


lembra vivamente ao Eugenio Onegin, escrito no mesmo tempo, do seu
amigo Puchkin,

Destaque (azul) - Posição 43660

Puchkin1902 percorreu nos 20 anos de sua carreira literária todos os estilos,


e mais ou menos na mesma ordem cronológica na qual a Europa os tinha
percorrido: classicismo francês, pré-romantismo anglo-alemão, romantismo
byroniano, para chegar a um novo classicismo sui generis.

Nota - Posição 43662

PUCHKIN

Destaque (azul) - Posição 43690

No personagem de Onegin criou Puchkin o tipo do aristocrata russo


ocidentalizado, “blasé”, o “homem inútil” que será o personagem principal
de tantas obras de Turgeniev, de Gontcharov, de Tolstoi e, enfim, de Tchekov,
com o qual a grande literatura russa do século XIX terminará.

Destaque (azul) - Posição 43700

Puchkin é o czarista e revolucionário ao mesmo tempo. É ocidentalista e


eslavófilo ao mesmo tempo. É classicista e romântico ao mesmo tempo. É
uma enciclopédia literária.

Destaque (azul) - Posição 43708


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Neste sentido é preciso interpretar Eugenio Onegin como pendant de Mozart


e Salieri: como protesto contra o romantismo sentimental, como poema de
renúncia ao mundo.

Destaque (azul) - Posição 43748

A expressão de resistência dos aristocratas-plebeus napoleônicos é a obra de


Stendhal, romântico italianizante como Byron, e não menos classicista como
o poeta inglês. Stendhal1905 é o mais paradoxal dos autores: outros levam
uma vida burguesa, escrevendo sonhos românticos; ele pretendeu levar uma
vida romântica e, não o conseguindo bem, escreveu análises psicológicas,
clássicas.

Nota - Posição 43752

STENDHAL

Destaque (azul) - Posição 43776

A Revolução libertara-o da prisão moral da família e da província; a tantos


outros provincianos franceses do século XVIII aconteceu o mesmo; mas sem
as guerras Stendhal teria ficado jornalista radical em Paris. Napoleão tornou-
se o seu destino.

Destaque (azul) - Posição 43801

Os romances de Stendhal são grandes experimentos de um behaviorista,


estudando minuciosamente a conduta de homens e mulheres em situações
extraordinárias.

Destaque (azul) - Posição 43806

A psicologia “estratégica” de Stendhal é adaptação do maquiavelismo à vida


moderna – e este é o caminho “normal” para tornar-se burguês numa
sociedade utilitarista.

Destaque (azul) - Posição 43811

Os romances de Stendhal são transfigurações do maquiavelismo: inclusive a


ambição do poder, político ou erótico, e o desprezo da humanidade.

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Destaque (azul) - Posição 43821


Stendhal é um homem contra o quietismo da Restauração, que seria o ideal
de Bourget; é romancista de uma nova burguesia em movimento, partindo da
província, com o plebeu rousseauiano Julien Sorel, para conquistar o “grande
mundo”. Assim o compreendera Taine, como homem napoleônico contra a
“société” do ancien régime, fugindo de Paris para os acampamentos do
exército imperial e, depois, para a Itália menos aristocrática, na qual um
plebeu podia conquistar mulheres e obras de arte.

Destaque (azul) - Posição 43829

Em Stendhal sobrevivem as ideias de Napoleão, e os burgueses do “fin de


siècle” só as redescobrirão para pressentir o novo homem do capitalismo
monopolista que começou “vers 1880”; a época napoleônica da burguesia.
Neste sentido, Stendhal é muito mais moderno do que Balzac, romancista da
burguesia em ascensão.

Destaque (azul) - Posição 43835

Mérimée1906 é o Stendhal menor do Napoleão menor, Napoleão III.

Destaque (azul) - Posição 43839

O elemento “gótico” de Stendhal revela-se no autor de Carmem e Colomba


pela disposição habilíssima dos efeitos trágicos, contrastados sabiamente
com o fundo de uma narração seca, imperturbável como o estilo do Code
Civil.

Nota - Posição 43841

CARMEN DE GEORGE BIZET

Destaque (azul) - Posição 43844

Em Stendhal, a arte é a porta aberta para uma vida mais rica; em Mérimée, a
arte é um meio para fixar os momentos flutuantes da vida, e só os essenciais
– daí a substituição do romance pelo conto.

Destaque (azul) - Posição 43848

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Os byronistas autênticos, por mais pessimistas que sejam, nunca são


sentimentais.

Destaque (azul) - Posição 43849

poetas do “mal du siècle” ou “Weltschmerz”.

Destaque (azul) - Posição 43852

São, todos eles, do Continente. O fenômeno está ligado à diferença entre as


fases da evolução social. No Continente, a revolução industrial ainda estava
naqueles começos como na Inglaterra da segunda metade do século XVIII;
em parte, na Europa oriental, nem tinha começado. E a essa fase corresponde
a melancolia pré-romântica, entre ossiânica e lamartiniana.

Destaque (azul) - Posição 43856

“But the age of chilvalry is gone. That of sophisters, economists, and


calculators has succeeded; and the glory of Europe is extinguished for ever”,
disse Burke, explicando a situação de poetas que já não dispunham de
mecenas aristocráticos; ficaram à mercê do público anônimo e do jornalismo.

Destaque (azul) - Posição 43994

A grande tradição clássica da poesia italiana impediu os excessos do falso


byronismo. Prevaleceu na Itália o lamartinianismo sentimental de Grossi e
muitos outros, e à mesma corrente pertence a Edmenegarda de Prati1911; o
qual chegou, depois, a desempenhar as funções de poeta principal do
patriotismo italiano, espécie de “poet laureate” do Risorgimento, nacionalista
sem jacobinismo, liberal sem demagogia, o bardo da casa real da Savoia.

Nota - Posição 43998

POETA DO RISORGIMENTO

Destaque (azul) - Posição 44082

A obra do checo Karel Mácha1921 é a imagem mais completa do que os


europeus continentais entenderam sob “byronismo”: o romance Os Ciganos,
cheio de complicações fantásticas;

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Destaque (azul) - Posição 44094


Estilo semelhante, sempre em tom menor, serviu a aristocratas poloneses,
perseguidos e expropriados na Ucrânia pelo governo russo, para exprimir a
melancolia da sua decadência. O Mácha dessa “escola ucraniana” é
Malczewski1922;

Destaque (azul) - Posição 44102

O mesmo espírito apolítico domina os byronianos russos, pouco preocupados


com a sorte tanto dos poloneses como dos ucranianos. Neste sentido é
Lermontov1924, o poeta revolucionário, um servidor fiel do tzarismo.

Nota - Posição 44104

LERMONTOV

Destaque (azul) - Posição 44117

Um Herói do Nosso Tempo, não um “homem inútil” como Onegin e os


heróis aristocráticos de Turgeniev e Tolstoi, mas um malfeitor consciente,
antecipação do burguês materialista do “nosso tempo”, capaz de tornar-se
fascista.

Destaque (azul) - Posição 44120

“Herói”, no título de Lermontov, é uma forte ironia.

Destaque (azul) - Posição 44121

política é a questão crucial do romantismo byroniano.

Destaque (azul) - Posição 44150

Giuseppe Giusti1929 é o poeta do liberalismo italiano. As suas poesias


satíricas acompanharam a época triste da Restauração e o fracasso da
revolução nacional e democrática de 1848;

Nota - Posição 44152

O que aconteceu no ano de 1848? A Primavera dos Povos aconteceu em 1848


em alguns países europeus. Também chamada de Revolução de 1848, ela foi
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um conjunto de conflitos com caráter nacional, liberal e socialista. Essas


revoltas aconteceram em função dos regimes autocráticos e das crises
econômicas.

Destaque (azul) - Posição 44165


O verdadeiro romântico, em comparação com Giusti, fora Berchet1930,

Destaque (azul) - Posição 44171

A sua poesia descende, através de Buerger, de Herder. E essa influência


herderiana é decisiva na poesia romântica política,

Destaque (azul) - Posição 44174

A influência de Herder entre as nações da Europa oriental começara como


folclorismo literário; transformou-se em nacionalismo racial e, enfim, em
nacionalismo político.

Destaque (azul) - Posição 44175

O fato de o grande poeta húngaro Petöfi1931 ter sido eslovaco de nascimento


– Petrovics era o nome da sua família

Destaque (azul) - Posição 44188

No fim da vida, Petöfi já não foi nada byroniano, mas revolucionário


nacionalista, ou antes nacionalista revolucionário. Também foi este,
exatamente, o caminho do grande e infeliz poeta ucraniano
Szewczenko1932, vítima da Polícia tzarista:

Destaque (azul) - Posição 44193

O nacionalismo literário dos eslavos sofreu o impacto da revolução de julho


de 1830 com intensidade particular. É o momento em que o liberalismo russo
se divide nos dois campos inimigos dos eslavófilos e ocidentalistas;

Destaque (azul) - Posição 44196

A intensidade dessa repercussão era sobremaneira forte na Polônia, porque


coincidindo com o fracasso da revolução polonesa de 1831 e seguida pelo
contato íntimo dos emigrantes com a França. Há um encontro violento entre
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o popularismo de Herder e a democracia cristã de Lamennais. Testemunha


desse encontro é Hoene Wronski1933, matemático e filósofo meio louco,
acreditando que as reivindicações sociais de Lamennais e dos utopistas
franceses se realizarão no império futuro que Herder prometera aos eslavos.

Destaque (azul) - Posição 44202


Mickiewicz1934 não dispõe dessa música verbal.

Destaque (azul) - Posição 44235

A utopia dos românticos é um produto livresco. Não representa uma


ideologia, uma racionalização da consciência de uma classe nova, mas o
produto cerebral de uma camada “déclassée”, aliada, só por isso, à classe
nova. Assim o messianismo polonês é uma religião livresca da aristocracia
polonesa, lutando ao lado da democracia contra o nacionalismo eslavo que
encontrara a sua primeira encarnação no tzarismo modernizado. Byron não é
utopista, mas no fundo um conservador, um membro da “chilvary” de Burke,
em luta contra os “sophists, economists, and calculators”. Os economistas e
calculadores, isto é, a burguesia. Os sofistas, isto é, os intelectuais pequeno-
burgueses, humanistas “déclassés”, aliados do futuro proletariado, os
utopistas. O utopista inglês é William Godwin1935,

Nota - Posição 44240

UTOPIA - WILLIAN GODWIN

Destaque (azul) - Posição 44241

herdeiro das ideias de Helvétius e Holbach e companheiro de Paine;

Destaque (azul) - Posição 44242

Ao seu lado, sua mulher Mary Wollstonecraft Godwin1936 é a primeira


feminista e partidária do amor livre, representando um anarco-comunismo
sentimental, entendendo-se a palavra “sentimental” no sentido de
“instintivo”, “irracional”.

Destaque (azul) - Posição 44247

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O próprio Godwin já gostava do romance “gótico” e sua filha Mary1937


escreveu um dos romances góticos mais famosos, Frankenstein, a história do
herói “déclassé”, excluído da sociedade humana.

Nota - Posição 44250

FRANKSTEIN, FILHA DE GOLDWIN

Destaque (azul) - Posição 44253

Shelley1938 era uma natureza tão misteriosa e é um poeta tão importante que
a análise mais acurada se impõe.

Destaque (azul) - Posição 44288

Shelley era demoníaco; pareceu angélico porque era belo e jovem – a sua
vida inteira foi o que em outros só é uma fase da adolescência;

Destaque (azul) - Posição 44312

A apoteose de Shelley começou na época vitoriana. Depois, os simbolistas


inverteram as posições: relegando Byron para o segundo ou terceiro plano,
endeusaram Shelley, o “poet’s poet”.

Destaque (azul) - Posição 44316

Mas chegaram outros conservadores, T. S. Eliot, Leavis e os críticos


americanos, Cleanth Brooks, Blackmur, Tate: estes falam, a propósito de
Shelley, de sentimentalismo primitivo, música vazia sem inteligência poética,
língua descuidada, ritmos falsos, e enfim de “poesia de propaganda”. São
críticos reacionários, sentindo antipatia profunda contra o fogoso poeta da
revolução.

Destaque (azul) - Posição 44402

Emerson pregou o não conformismo; Thoreau1943 viveu-o. Retirou-se de


Concord para a solidão completa, vivendo com os bichos da floresta, os
ventos da primavera, com sol, chuva e neve, como um bárbaro ciclópico,
alegre, exuberante, independente. Em Walden descreveu com gênio
extraordinário de empathy, de sentir com a natureza, e com bom humor

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americano as suas experiências na floresta, experiências de um asceta jocoso


e grande poeta da Natureza.

Destaque (azul) - Posição 44414


Rousseau evocou todas as forças da Natureza para fundar uma nova
sociedade na qual ele pudesse viver: e será a sociedade do capitalismo.
Thoreau retirou-se para as florestas por incapacidade de trabalhar e por
aversão contra o pagamento de impostos.

Nota - Posição 44416

ROUSSEAU X THOUREAU

Destaque (azul) - Posição 44422

Nathaniel Hawthorne1944. Era o puritano antipuritano. Na sua obra


concentrou-se, como em um foco, toda a herança psicológica do puritanismo,
a profunda consciência do pecado recalcado;

Destaque (azul) - Posição 44458

The Scarlet Letter é a Madame Bovary americana; mas de mais pungente


seriedade moral. Como Flaubert é Hawthorne um romântico já além do
romantismo.

Destaque (azul) - Posição 44488

O romantismo francês1947 distingue-se do romantismo anglo-germânico


como se distinguem dia e noite:

Destaque (azul) - Posição 44491

Os românticos ingleses e alemães são, em geral, evasionistas; os românticos


franceses são, em geral, revolucionários que se conservam mais perto da
realidade social.

Destaque (azul) - Posição 44524

Parece que esse radicalismo é a diferença essencial que distingue o


romantismo francês do romantismo anglo-germânico. Só o romantismo
francês criou utopias socialistas; e Hugo foi utopista durante a vida inteira. O
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utopismo romântico, que existe em outra parte como seita, é na França um


movimento literário tão grande que quase se identifica com o romantismo
inteiro1951. Uma das causas do utopismo literário na França é a falta de
tradições medievais e folclóricas, destruídas não pela Revolução, mas pelo
classicismo do século XVII. Chateaubriand tinha lembrado a Idade Média;
mas dela só existiam as catedrais.

Destaque (azul) - Posição 44532


A “Idade Média” dos românticos franceses é uma deformação, às vezes
caricatura, dos medievalismos estrangeiros; é mera moda literária.

Destaque (azul) - Posição 44552

Na França, os utopistas “déclassés” constituem uma classe da sociedade.


Com efeito, a utopia francesa de antes de 1848 é pré-socialismo pequeno-
burguês. Contra a Restauração bourbônica, a burguesia liberal e a pequena-
burguesia democrática ainda estiveram unidas; mas a vitória da burguesia
liberal pela revolução de julho de 1830 já significou ao mesmo tempo a
derrota da pequena-burguesia democrática. Desfez-se a aliança. E no mesmo
ano de 1830, o romantismo, até então palidamente católico e monárquico,
desfralda a bandeira da revolução da literatura e da política.

Destaque (azul) - Posição 44559

A grande figura de transição é Michelet1955, o Hugo da prosa. Michelet é


um escritor de primeira ordem, um dos maiores da literatura francesa.

Destaque (azul) - Posição 44570

A História de Michelet é fenômeno coletivo, visto através de um


temperamento romântico, melodramático, de um descendente de jacobinos. A
evolução é exatamente a de Hugo – do medievalismo à Terceira República –
e coincide, no ponto crítico, com a apostasia de Lamennais1956,
abandonando a Igreja e transformando o tradicionalismo, quer dizer, o
coletivismo religioso, em coletivismo democrático e socialista. Mas será um
socialismo romântico, utópico.

Destaque (azul) - Posição 44574

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Victor Hugo1957 é um colosso que desafia as definições: “Est-ce le Dieu des


désastres, Le Sabaoth irrité, Qui lapid avec des astres Quelque soleil
révolté?” Colosso indefinível, isso não quer dizer que Hugo seja o maior de
todos os poetas nem o maior dos poetas franceses, embora muitos gostassem
desses superlativos. Hugo é o maior mestre da língua; com os seus recursos
inesgotáveis de imagens, rimas, crescendos, antíteses, trocadilhos,
onomatopeias, sonoridades, ele sufoca, hipnotiza o leitor, que só depois da
leitura, como depois de um sonho, se lembra que não sabe bem de que o
poeta falava.

Nota - Posição 44583

LAMEMNAIS E VICTOR HUGO

Destaque (azul) - Posição 44611

De Walter Scott veio o gosto do pitoresco, em Nôtre-Dame de Paris; e este


romance, com seu vivíssimo panorama da Paris medieval, é mesmo mais
pitoresco do que qualquer obra do escocês; mas é tanto menos histórico. Nos
grandes romances “sociais”, o pitoresco está ligado ao sentimentalismo, que
descende de Rousseau. O produto foi mesmo, nos Misérables, o maior
romance “cinematográfico”: a história de Jean Valjean nunca deixará de
empolgar os leitores semicultos; para os outros, a generosidade dos
sentimentos e a abundância de “grandes cenas” não chega a fazer esquecer a
imensa ingenuidade do grande escritor, que parece ignorar a realidade.

Destaque (azul) - Posição 44636

Fala-se sempre das belezas líricas do teatro de Hugo.

Destaque (azul) - Posição 44640

La Légende des Siècles é sem dúvida a obra principal de Hugo, o Michelet


da poesia e o único poeta épico autêntico em língua francesa

Destaque (azul) - Posição 44643

realmente, as qualidades de Nôtre-Dame de Paris são principalmente


poéticas. Hugo, poeta épico, é um poeta “primitivo” em pleno século XIX,

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poeta da época homérica, na qual todos os gêneros literários se confundiram


na epopeia.

Destaque (azul) - Posição 44667


Hugo, poeta da democracia republicana, da pequena-burguesia parisiense, é
utopista jacobino, como Michelet.

Destaque (azul) - Posição 44670

É a linguagem de Proudhon, ou antes da democracia pequeno-burguesa da


futura Terceira República.

Destaque (azul) - Posição 44681

Os franceses seguiram, em geral, o caminho de Gautier1958;

Destaque (azul) - Posição 44685

Assim Bouilhet1959, poeta parnasiano “científico”, e amigo de Flaubert; mas


ainda em 1856 dera uma tragédia romântica em estilo de Hugo, para se
dedicar depois ao “l’art pour l’art”. O romantismo no mundo latino inteiro,
que é em grande parte um romantismo hugoniano1960, é antes
revolucionário.

Destaque (azul) - Posição 44692

A figura mais hugoniana da Europa por volta de 1850 era Mazzini1962, o


fundador da “Giovane Itália” e lutador incansável pela República Federativa
Italiana;

Destaque (azul) - Posição 44696

Na Espanha, o romantismo fora introduzido pelos liberais que se exilaram na


França e voltaram com novidades literárias.

Destaque (azul) - Posição 44698

Orientales perturbou por completo a cabeça de Arolas1963,

Destaque (azul) - Posição 44700

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Depois veio a nota patriótica, o hugonianismo de “panache”, em Ruiz


Aguilera1964; os seus Ecos nacionales são um dos livros de poesia mais
populares em língua espanhola,

Destaque (azul) - Posição 44706

Em quase todos esses poetas coexiste a influência de Byron com a de Hugo.


Sobretudo na poesia das nações latinas entre 1830 e 1880, a competição entre
Byron e Hugo é um fenômeno geral, e o antagonismo é significativo: o
elemento byroniano, aristocrático, corresponde a atitudes reacionárias em
matéria política, enquanto o elemento hugoano exprime reivindicações
revolucionárias.

Destaque (azul) - Posição 44743

Mais uma feição característica do hugonianismo latino merece atenção: o


anticlericalismo furibundo, aliado ao republicanismo, ou ao positivismo
político, ou ao anarquismo socializante. Assim o italiano Giovani Bovio1969,
pensador confuso e orador vigoroso, autor de dramas filosóficos nos quais
cada frase é uma “visão histórica”. A ala positivista está representada pelo
polígrafo português Teófilo Braga1970, poeta de Folhas Verdes e Torrentes,
historiador literário mais volumoso do que exato, grão-mestre do positivismo
português e duas vezes presidente da República.

Nota - Posição 44749

POETAS DO ANTICLERICALISMO, DO POSITIVISMO, DO


ANARQUISMO E HUGONIANOS

Destaque (azul) - Posição 44844

A simpatia para com os humilhados e ofendidos estendeu-se, além ou dentro


da doutrina social, às mulheres, humilhadas pelos homens e ofendidas pelas
leis injustas. A emancipação da mulher tornou-se postulado socialista;

Destaque (azul) - Posição 44847

A aliança entre jacobinismo e feminismo tem uma precursora em Mary


Wollstonecraft Godwin. A ligação entre feminismo e literatura feminina tem
uma precursora em Madame de Staël.

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Destaque (azul) - Posição 44848


Margaret Fuller já está sob a influência de George Sand. George Sand1986
encarnava em sua pessoa o feminismo libertino e revolucionário.

Nota - Posição 44850

FEMINISMO

Destaque (azul) - Posição 44884

o romance idealista conservou mesmo a popularidade porque representando


traços permanentes do caráter de uma nacionalidade: no português Camilo
Castelo Branco1988.

Nota - Posição 44885

CAMILO CASTELO BRANCO

Destaque (azul) - Posição 44889

Camilo é romancista “gótico”, e quando não é gótico, é sentimental e


choroso até o ridículo, muito pior do que George Sand, da qual também
imitou os contos rústicos; a sua ideologia é vacilante entre liberalismo e
clericalismo, como a do espanhol contemporâneo Pedro Alarcón.

Destaque (azul) - Posição 44893

Os partidários do naturalismo, da “escola de Coimbra”, pretenderam destruir


a fama do “Balzac português”, por lhe faltar todo senso da realidade,
apresentando ele uma caricatura de Portugal.

Destaque (azul) - Posição 44902

Entre o romance idealista à maneira de George Sand e o romance moderno


há um abismo: aquele não vê a realidade, porque não quer vê-la. É romântico
num sentido bem reacionário; mas é ao mesmo tempo oposicionista. Existe,
com efeito, um “romantismo de oposição”

Nota - Posição 44903

ROMANTISMO DE OPOSIÇÃO
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Destaque (azul) - Posição 44904


O “Biedermeier” revolta-se contra os novos aspectos da vida. Foge das
classes que realizam nas grandes cidades o progresso industrial, para as
classes atrasadas, a gente do artesanato nas cidadezinhas de províncias; ou
então, foge da cidade, de qualquer cidade, para os campos.

Destaque (azul) - Posição 44961

Mas o gênio do provincianismo russo é Lesskov1994: escritor didático, de


tendências reacionárias, nacionalistas e religiosas, mas sem a agressividade
de Dostoievski. Em compensação: um grande poeta em prosa. Lesskov é na
verdade o que Turgeniev parecia nos seus começos: o especialista da vida
rural russa antes a abolição da servidão dos camponeses.

Destaque (azul) - Posição 44970

Até aí, Lesskov não é muito diferente da chamada “literatura dos senhores
rurais”, à qual Turgeniev e Tolstoi também pertencem. Mas Lesskov não era,
como eles, um senhor rural; nem era um intelectual. Era um pequeno-
burguês, caixeiro-viajante a serviço de uma firma inglesa; e como pequeno-
burguês, era reacionário. Não ignorava a necessidade de reformas; ao
contrário, pretendeu contribuir ao progresso russo por meio de vasta
atividade didática, escrevendo brochuras e folhetos sobre o comércio de
livros, a iluminação a gás e o uso de adubos artificiais, como um Gotthelf.
Mas o progresso político inspirava-lhe medo, e quando a agitação política
dos estudantes revolucionários rebentou em conspirações e atentados contra
o sistema tzarista, Lesskov escreveu dois romances ultrarreacionários,
denunciando e advertindo. A consequência foi um artigo violento do crítico
radical Pissarev, pedindo o ostracismo de Lesskov; e assim foi feito. Durante
vinte anos, Lesskov continuou a escrever, mas sempre “fora da literatura”.
Viajava pela Rússia inteira, conheceu o país como nenhum outro dos grandes
escritores da sua época, descobriu e imortalizou classes e camadas do povo
russo que não aparecem em Gogol e Turgeniev, nem em Tolstoi e
Dostoievski:

Destaque (azul) - Posição 44986

Pela linguagem e o estilo, esse reacionário Lesskov é o maior realista da sua


literatura, mais “do povo” do que qualquer outro.

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Destaque (azul) - Posição 45091


Ao conto rústico de todas as regiões são comuns certos elementos estilísticos,
ao ponto de constituir um estilo próprio: sentimentalismo idílico com forte
iluminação humorística (“sorriso entre lágrimas”), saudosismo reacionário
dos bons velhos tempos patriarcais, e simpatia viva, entre indignada e
revoltada, para com os pobres e humildes. Esses elementos estilísticos e
ideológicos encontram-se entre 1830 e 1880 em toda a arte da literatura
novelística.

Destaque (azul) - Posição 45098

Mais romântico do que parecia, também era o português Júlio Dinis2008,

Destaque (azul) - Posição 45100

O sentimentalismo sufoca todo o resto no Cuore, do italiano De Amicis2009,


que também é populista da Carrozza di tutti, quer dizer, do ônibus, do
veículo democrático; De Amicis aderiu, enfim, ao socialismo.

Destaque (azul) - Posição 45100

sentimentalismo sufoca todo o resto no Cuore, do italiano De Amicis2009,


que também é populista da Carrozza di tutti, quer dizer, do ônibus, do
veículo democrático; De Amicis aderiu, enfim, ao socialismo.

Destaque (azul) - Posição 45119

o ambiente de Dickens não era a calma província espanhola ou austríaca,


mas a enorme cidade de Londres, cheia de fumaça das fábricas, sacudida pela
agitação revolucionária dos Chartistas; e Dickens seria o romancista dessa
época selvagem da industrialização2012. Então Dickens seria realista como
Balzac: assim como nos romances de Balzac aparece a Paris de 1840, assim
nos romances de Dickens, a Londres de 1830 ou 1850.

Destaque (azul) - Posição 45123

Os contemporâneos devoravam os romances de Dickens2013.

Nota - Posição 45124

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DICKENS

Destaque (azul) - Posição 45126

Mesmo aos leitores de Balzac o realismo dickensiano afigurava-se tão mais


poderoso como a Londres industrial era mais barulhenta e vigorosa do que
Paris, meio aristocrática, meio pequeno-burguesa.

Destaque (azul) - Posição 45138

A sua indignação de homem pobre contra a gente grã-fina exprime-se às


vezes de maneira tão intensa que Shaw chamou a Little Dorrit “um livro
mais subversivo do que o Capital de Marx”; a prisão, nesse grande romance,
é o símbolo da sociedade inteira. T. A. Jackson pretendeu demonstrar que
Dickens era um “radical”, um daqueles propagandistas que apoiaram as
reivindicações revolucionárias dos Chartistas, dos precursores do socialismo.
E num sentido mais imediato e prático, Dickens teria sido mesmo um grande
“reformer”: as descrições das prisões, escolas e asilos nos seus romances
teriam contribuído muito para se conseguir a reforma dessas instituições.

Destaque (azul) - Posição 45144

Humbhry House pôde, porém, verificar que a repercussão dos romances de


Dickens foi puramente sentimental, sem exercer a menor influência sobre a
legislação inglesa.

Destaque (azul) - Posição 45147

Não sendo um intelectual, Dickens nunca se ocupou com os grandes


problemas políticos, filosóficos, religiosos do seu tempo; os seus
personagens ignoram, como ele mesmo, os nomes de Newman e Huxley,
Mill e Darwin; não pôde pertencer ao grupo dos “radicais”.

Destaque (azul) - Posição 45158

Dickens é o romancista de desgraças pessoais, embora infligidas pelas


instituições injustas; mas não é o romancista da Situação do operariado na
Inglaterra que Friedrich Engels descreveu naqueles mesmos anos, no famoso
estudo deste título que precede o Manifesto comunista.

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Destaque (azul) - Posição 45169


Influenciou-o muito o transformador do romance “gótico” em romance
policial, seu amigo e discípulo Wilkie Collins2014,

Destaque (azul) - Posição 45209

Por isso, a atitude social de Dickens parece-se muito mais com a de George
Sand do que com a atitude de Mrs. Gaskell2015, sempre classificada como
discípula sua,

Destaque (azul) - Posição 45212

A propósito de Dickens, os termos “romantismo social” e “romantismo de


oposição” revelam conteúdo dialético; a “contradição” liga-se ao fenômeno
da separação progressiva entre liberalismo e democracia, entre a burguesia e,
do outro lado, a pequena-burguesia e o proletariado. Os progressos políticos
da burguesia significam desgraças econômicas do proletariado.

Destaque (azul) - Posição 45217

Dickens não é liberal nem socialista, mas democrata. E por motivos especiais
colaboram assiduamente nessa luta democrática as feministas – é aí que
reaparece a influência de George Sand. O feminismo de George Sand perdeu,
fora da boêmia literária de Paris, os aspectos libertinos; ficavam só as
reivindicações de uma educação mais prática das filhas, de maior igualdade
de direitos jurídicos, de acesso a diversas profissões para as mulheres.

Nota - Posição 45221

FEMINISMO

Destaque (azul) - Posição 45233

O papel histórico da literatura feminista é antirromântico; destruindo os


conceitos românticos sobre amor e casamento. Naquela comédia de Ibsen,
uma moça prefere ao amor de um poeta lírico o casamento com um burguês
pouco poético e muito rico. É um símbolo. O feminismo servia a burguesia.
O grande documento doutrinário do feminismo foi o tratado On the
Subjection of Women (1869) de John Stuart Mill, filósofo liberal e
utilitarista. A emancipação da mulher fazia parte da evolução que destruiu a
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família proletária para arranjar aos industriais operárias de salários baixos. A


pequena-burguesia democrática colaborou mesmo, pelo menos
literariamente, nesse processo; o liberalismo venceu, arrasando
economicamente a pequena-burguesia. A separação inevitável entre
liberalismo e democracia, separação realizada no desfecho da revolução de
1848, significou o fim do romantismo.

Nota - Posição 45240


SEPARAÇÃO ENTRE LIBERALISMO E DEMOCRACIA - FIM DO
ROMANTISMO

Capítulo IV O FIM DO ROMANTISMO


Destaque (azul) - Posição 46765

luta romântica contra o romantismo é o signo da época. Hazlitt2023, o


grande ensaísta, é definido, em geral, como romântico na literatura e radical
na política.

Nota - Posição 46767

WILLIAM HAZLITT - O PRIMEIRO GRANDE LIBERAL INGLÊS

Destaque (azul) - Posição 46778

Hazlitt, o radical, o discípulo de Helvétius e dos jacobinos, é o primeiro


grande liberal inglês.

Destaque (azul) - Posição 46780

O liberalismo inglês não destruiu o romantismo; deformou-o. E conservou,


por sua vez, vestígios românticos. Bentham2024, o doutrinário do
utilitarismo – doutrina tão inglesa como é inglesa a crítica de Hazlitt – é um
racionalista do século XVIII; mas não deixa de ser romântico, na esquisitice
da sua personalidade. E Mill2025, o grande liberal, economista, livre-
pensador, chefe do positivismo inglês, não pôde dissimular certos
romantismos, deformados pela educação duríssima que o pai lhe impusera.

Nota - Posição 46784

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LIBERALISMO INGLÊS - BENTHAN E JOHN STUART MILL -


POSITIVISMO

Destaque (azul) - Posição 46798

O romantismo, esgotado na poesia, refugiou-se na prosa. Um asilo ofereceu-


lhe o romance histórico à maneira de Bulwer; outro, o romance “gótico”,
agora transformado em romance policial à maneira de Wilkie Collins. Os
dois gêneros encontram-se na obra de Charles Reade2027.

Destaque (azul) - Posição 46865

Elizabeth Gaskell2031, um dos escritores ingleses que o estrangeiro menos


conhecia e que gozam, com toda razão, do maior apreço na Inglaterra. A sua
fama baseia-se principalmente no romance social Mary Barton, por motivo
do qual ela é considerada como discípula de Dickens.

Nota - Posição 46868

ELIZABETH GASKELL

Destaque (azul) - Posição 46880

Mary Barton é, assim como The Song of the Shirt e The Cry of the Children,
um dos reflexos do primeiro movimento revolucionário dos operários
ingleses, do Chartismo2032.

Destaque (azul) - Posição 46885

Graças à atuação do Primeiro-Ministro Peel, o partido abandonou a política


protecionista com respeito ao trigo, sacrificando os interesses dos
latifundiários e melhorando o padrão de vida dos operários. Na consequência
dessa nova política estava uma aliança entre a aristocracia conservadora e o
operariado industrial contra a burguesia, talvez na base de uma doutrina
paternalista, de entendimento entre as duas classes.

Destaque (azul) - Posição 46888

A doutrina foi obra de Carlyle2033. A sua formação fora das mais


contraditórias: puritano escocês, da velha estirpe combativa, um futuro
Cromwell da literatura, perdeu Carlyle cedo a fé dogmática; aderiu, na
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Alemanha, a outra fé, o idealismo de Goethe ao qual ele não compreendeu


bem, lendo-o através dos óculos de um admirador de Jean Paul.

Nota - Posição 46891


CARLYLE

Destaque (azul) - Posição 46896

Carlyle é romântico. O resultado do seu romantismo foi, porém, dos mais


paradoxais: o furor romântico do ataque contra a burguesia liberal
transformou-se em crítica quase socialista da sociedade inglesa, e o
medievalismo paternalista do seu programa político transformou-se em
exaltação da força bruta, dos conquistadores, dos tiranos e dos escravocratas.
Carlyle representaria uma mistura curiosíssima de Bernard Shaw e Rudyard
Kipling.

Destaque (azul) - Posição 46903

Não foi nunca outra coisa senão um puritano escocês, furioso contra a
civilização profana dos infiéis;

Destaque (azul) - Posição 46913

No fundo de Past and Present aparece como imagem de contraste a vida


trabalhosa, feliz e pia nos mosteiros ingleses medievais; Carlyle cita a
Crônica de Bury St. Edmunds, de Jocelin de Brakelonde, romanceando-a. Os
condes e bispos da Idade Média não maltrataram crianças num dia de
trabalho de 14 horas, porque estavam conscientes dos seus deveres perante
Deus. Então havia Ordem, mesmo sem leis democráticas; depois, só havia a
Desordem legalizada. Tem que vencer, outra vez, a lei de Deus sobre a lei
dos homens que é do Diabo.

Destaque (azul) - Posição 46927

Enfim, o herói de Carlyle é o descendente direto do “gênio” dos pré-


românticos e do “Sturm und Drang”: não precisa de origem dinástica ou
aristocrática para ficar autorizado a julgar o mundo. É o herói de um literato
furibundo.

Destaque (azul) - Posição 46931


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Carlyle é um Michelet conservador. É um romântico. Romântica é a sua


desconfiança com respeito à inteligência racional; romântica é a sua fé nos
instintos, criados e batizados por Deus. É o romântico da Força e até da
Violência, o precursor indireto do imperialismo inglês, melhorando as
condições de vida do operariado inglês pela subjugação de países e
continentes estrangeiros. Essa combinação de reformas sociais e
imperialismo inescrupuloso encontrou a primeira realização pela política
romântica de Disraeli2034, o primeiro-ministro aristocrático de origem
judaica, o chefe do partido dos “jovens conservadores”; deu a liberdade da
organização sindical e o sufrágio universal aos operários ingleses, e deu à
rainha Vitória a coroa imperial da Índia.

Nota - Posição 46934

IMPERIALISMO - DISRAELI

Destaque (azul) - Posição 46944

Durante o século XVIII, a via media entre catolicismo e protestantismo


transformara-se em espécie de indiferença religiosa; por volta de 1800, a
Igreja anglicana era só um ramo da administração pública, sem conteúdo
religioso. Fora dos muros dessa Igreja oficial nasceram os movimentos
sectários, todos de cor mais ou menos protestante.

Destaque (azul) - Posição 47024

Na França, o liberalismo já tinha vencido em 1830.

Destaque (azul) - Posição 47031

A vitória do liberalismo já estava decidida; o próprio Balzac, monarquista e


católico por espírito de rebeldia, não fez outra coisa senão criar o maior
monumento da burguesia liberal, a Comédie humaine. Tinha começado a
época dos “sophisters, economists and calculators” que Burke profetizara.

Nota - Posição 47033

BALZAC

Destaque (azul) - Posição 47034

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Guizot2045, representante da grande burguesia conservadora, mais do


progresso econômico do que do político, era protestante,

Nota - Posição 47036

GUIZOT

Destaque (azul) - Posição 47040

O seu adversário permanente, Thiers2046, já não tem nada de romântico, de


simpatias jacobinas e napoleônicas, nacionalistas, dando-se como chefe da
democracia.

Nota - Posição 47042

THIERS

Destaque (azul) - Posição 47043

Thiers é o representante da burguesia numa fase já mais avançada da


industrialização. O romantismo está, na política, liquidado.

Destaque (azul) - Posição 47111

Romances “góticos” são, no conteúdo e na técnica, os romances de Sue2053;

Nota - Posição 47112

SUE

Destaque (azul) - Posição 47114

É possível determinar exatamente a posição de Sue na história do romance


francês: Thibaudet situou Les Mystères de Paris entre Nôtre-Dame de Paris e
Les Misérables.

Destaque (azul) - Posição 47118

A revolução industrial na França fez entre 1830 e 1848 progressos notáveis.


O romantismo pequeno-burguês torna-se romantismo proletário. Jean Valjean
substitui os heróis byronianos. A expressão pseudocientífica do romantismo
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social são os socialismos utópicos, de Cabet, Fourier, Leroux, utopias


imaginadas para resolver a questão social e motivadas pelo desejo da
pequena-burguesia de escapar às consequências da revolução industrial. Mas
Fourier já foi redescoberto como precursor do marxismo, e as insuportáveis
invenções melodramáticas de Sue não iludem quanto à sinceridade de seu
socialismo.

Nota - Posição 47123


REVOLUÇÃO INDUSTRIAL NA FRANÇA, ROMANTISMO SOCIAL E
SOCIALISMO UTÓPICO

Destaque (azul) - Posição 47125

Com efeito, o estilo que corresponde à revolução industrial é o pré-


romantismo; e os dois elementos principais do estilo pré-romântico, o
sentimentalismo e o popularismo, reaparecem na França entre 1830 e 1850:
no nível literário, na poesia de Hugo e no romance de George Sand; no nível
da subliteratura, na poesia de Béranger e no romance de Sue.

Destaque (azul) - Posição 47129

Aos começos da revolução industrial na Alemanha, por volta de 1770,


correspondia o pré-romantismo do “Sturm und Drang”; ambos
desapareceram nas guerras napoleônicas que causaram o atraso econômico e
produziram o último classicismo e o romantismos de evasão. Entre 1820 e
1830, a revolução industrial começa de novo, sobretudo na Renânia; depois
de 1830, com a construção de estradas de ferro e a União Aduaneira Alemã, o
progresso econômico acelera-se. E o “Sturm und Drang”, que já constituiu
lembrança longínqua, meio esquecida, da história literária, voltou de maneira
surpreendente, justamente na Renânia, onde naqueles mesmos anos o jovem
Friedrich Engels podia observar a proletarização progressiva2054.

Nota - Posição 47134

REVOLUÇÃO INDUSTRIAL ALEMANHA

Destaque (azul) - Posição 47135

Grabbe2055 era proletário, filho de um carcereiro, crescido entre criminosos,


loucos e bêbedos; o estágio do estudante na boêmia literária de Berlim
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completou-lhe essa educação.

Nota - Posição 47137


GRABBE

Destaque (azul) - Posição 47142

O povo de Paris e o povo alemão são os verdadeiros heróis dos seus dramas
Napoleon oder die hundert Tage (Napoleão ou Os Cem Dias) e Die
Hermannsschlacht – sobretudo o primeiro é uma obra notável.

Destaque (azul) - Posição 47149

O povo, o de Paris nos dias do terror jacobino, é o herói de Dantons Tod, de


George Büchner2056; drama típico do “Sturm und Drang”, embora já
revelando influências da dramaturgia melodramática do romantismo francês.

Nota - Posição 47152

GEORG BUCHNER

Destaque (azul) - Posição 47156

Veio do romantismo; como estudante, entusiasmara-se pela natureza, chorou


nas florestas como um discípulo de Klopstock, sonhava com a revolução
democrática, sendo perseguido pela polícia como conspirador perigoso.
Então idolatrava os gênios da Revolução, Danton, Robespierre – mas em
Dantons Tod (A Morte de Danton) já nega peremptoriamente o valor do
heroísmo individual;

Destaque (azul) - Posição 47165

Agora se revela o motivo secreto daquele pessimismo histórico: Büchner


desespera da revolução burguesa, porque adivinha o advento de outra.

Destaque (azul) - Posição 47168

Rompe definitivamente com os idealistas democráticos. Antecipa ideias


marxistas. Escreve, em estilo autêntico de Lenz, Klinger, do “Sturm und
Drang”, a tragédia em prosa Woyzeck: o herói é um proletário, o herói
anônimo da massa anônima.
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Destaque (azul) - Posição 47173


Na Alemanha, só os revolucionários socialistas de 1919 reconhecerão o valor
desse gênio precursor.

Destaque (azul) - Posição 47177

Os anos depois de 1830 são os anos mais decisivos da história alemã: a


antiga Alemanha dos pastores e humanistas transforma-se em Alemanha de
políticos e industriais. A Revolução de julho repercutiu profundamente,
despertando em toda a parte as reivindicações do liberalismo.

Destaque (azul) - Posição 47183

O editor Campe, aproveitando-se do liberalismo da censura em Hamburgo,


inundou o país inteiro de livros subversivos. Depois do humanismo, o
jornalismo. E os novos jornalistas eram antigos humanistas, discípulos de
Hegel, interpretando a filosofia do mestre em sentido revolucionário: os
“jovens hegelianos”.

Nota - Posição 47185

JOVENS HEGELIANOS

Destaque (azul) - Posição 47186

primeiro correspondente de um jornal alemão em Paris foi Louis Börne2057,

Destaque (azul) - Posição 47194

O segundo correspondente de um jornal alemão em Paris foi Heine2058,

Destaque (azul) - Posição 47277

Até um poeta tipicamente “teutônico”, “moderado”, nacionalista e burguês


como Geibel2059, deve ao tom heiniano das suas poesias o sucesso de ter
sido o poeta alemão mais lido do século XIX, corrompendo por decênios o
gosto literário das classes médias.

Destaque (azul) - Posição 47361

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Giuseppe Verdi2074 deve a libretos, tirados de dramas românticos, seus


maiores sucessos: de peças de Hugo tiraram-se Ernani e Rigoletto (Le roi
s’amuse); Nabuco e Les Vêpres siliciennes já tinham sido tratados por
Niccolini; Il Trovatore é o Trovador, de García Gutiérrez; La Forza del
Destino é o Don Alvaro, do Duque de Rivas. Verdi é o maior dramaturgo
italiano do século XIX.

Nota - Posição 47368

GIUSEPPE VERDI

Destaque (azul) - Posição 47432

Na Alemanha, as ideias de Herder constituíam a base do romantismo


nacionalista; na Rússia, o fermento de um nacionalismo revolucionário.
Assim evoluiu Bielinski2081 do eslavofilismo herderiano para uma posição
que correspondia na crítica literária ao realismo antirromântico dos
“Jungdeutschen”;

Nota - Posição 47434

BIELINSKI

Destaque (azul) - Posição 47436

O caminho dos intelectuais da época, em geral, é o seguinte: da filosofia,


através do jornalismo, à ação política. O instrumento dessa transformação era
o “Junghegeltum”, o “jovem hegelianismo”. Na Rússia representa Bielinski o
“jovem hegelianismo”.

Destaque (azul) - Posição 47440

Hegel2082 colocou-se deliberadamente fora da literatura, escrevendo num


estilo dificílimo e abstruso, tão grande era a sua confiança na força do
pensamento puro.

Nota - Posição 47442

HEGEL

Destaque (azul) - Posição 47443


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De Kant herdou Hegel o idealismo, quer dizer, a consideração do mundo


como fenômeno espiritual.

Destaque (azul) - Posição 47445

Hegel adotou o historismo de Herder: o mundo é um processo dinâmico,


revelando-se o Espírito através da evolução histórica.

Destaque (azul) - Posição 47452

A dialética hegeliana é princípio de um movimento infinito, cujo ponto final


pode ser colocado no passado, no presente ou no futuro. Deste modo,
existem três hegelianismos diferentes: o histórico, o absolutista e o dialético.

Destaque (azul) - Posição 47467

Hegel morreu em 1831. Não se encontrou sucessor digno. Os alunos


preferiram o catedrático de Filosofia do Direito Eduard Gans, amigo de
Heine. Mas Gans pertencia a um grupo que não foi visto com olhos
benevolentes pelo Estado. Eram os “Junghegelianer”, “jovens hegelianos”.
Estes consideraram o processo dialético como infinito: a Revolução de julho
lhes tinha demonstrado que a História não acabara na Universidade de
Berlim. Nesse mesmo sentido, o teólogo Ferdinand Christian Baur, em
Tuebingen, analisou a história dos dogmas cristãos: e o seu companheiro
David Friedrich Strauss2084, num livro brilhante que fez sensação
internacional, aplicou os mesmos princípios à crítica dos Evangelhos,
transformando a vida de Jesus em “mito que fez história”. Estava criada a
teologia crítica do protestantismo alemão moderno, uma teologia “cristã”
que, substituindo o Dogma pela História, devia tornar-se fatalmente teologia
a-cristã e, enfim, anticristã.

Nota - Posição 47474

SUBSTITUIÇÃO DO DOGMA CRISTÃO PELA HISTÓRIA

Destaque (azul) - Posição 47475

Agora, o hegelianismo já não podia ser considerado como filosofia oficial da


Prússia; os “jovens hegelianos” estavam suspeitos de participar da literatura
do “Junges Deutschland” e da agitação política, cada vez mais viva na

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Alemanha inteira. Frederico Guilherme IV, rei da Prússia desde 1840,


absolutista e cristão romântico, resolveu acabar com o hegelianismo. Em
1841, chamou o velho Schelling para ocupar a cátedra de Hegel. A luta entre
Schelling e os “jovens hegelianos” berlinenses, um dos episódios mais
dramáticos e mais decisivos da história espiritual da Alemanha, terminou
com a derrota completa do velho místico2085.

Destaque (azul) - Posição 47481


Bruno Bauer2086, chegou à negação formal do cristianismo, voltando ao
materialismo francês do século XVIII. Em Ludwig Feuerbach2087, o
materialismo identificou-se com o próprio humanismo, proclamando uma
nova humanidade, verdadeiramente humana porque livre do Céu, que seria
só o lugar ideal dos desejos personificados.

Nota - Posição 47484

FEUERBACH E BRUNO BAUER

Destaque (azul) - Posição 47488

Bruno Bauer tornou-se cada vez mais radical em matéria teológica, chegando
a negar a existência histórica de Jesus; mas – alemão típico, recusou-se a tirar
conclusões em matéria política. Mais tarde, a sua atitude apolítica
transformou-se em atitude reacionária: o anticristão acusou os judeus da
fundação do cristianismo odiado, declarou-se antissemita; acabou como
propagandista jornalístico de Bismarck, em cujo “Reich” viu realizado o
“verdadeiro” socialismo. Bauer não quisera dar o passo decisivo do
pensamento à ação. Atacou-o por isso, e deu esse passo um outro “jovem
hegeliano”, Karl Marx2088. “Os filósofos só interpretaram o mundo de
maneiras diferentes; mas é preciso transformá-lo”, dizia Marx, em 1845, nas
Thesen ueber Feuerbach. Quer dizer, a Filosofia tornou-se ação. Para esse
fim, o substrato ideal da dialética de Hegel foi substituído por um substrato
material; mas não foi o materialismo de Feuerbach que prestou esse serviço,
e sim o materialismo dos economistas do capitalismo inglês, cujas
consequências sociais se revelaram ao mesmo tempo em A situação do
operariado na Inglaterra (1840), de Friedrich Engels. A dialética, aplicada à
história social, revelou a lei da evolução histórica: a luta de classes. E a
utopia dos socialistas franceses transformou-se em consequência fatal da
história do capitalismo. Em 1847, Marx e Engels já tinham elaborado o
“socialismo científico” do Kommunistisches Manifest.
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Nota - Posição 47492


KARL MARX E FRIEDRICH ENGELS - FILOSOFIA SE TORNA AÇÃO -
IDEALISMO SE TRANSFORMA EM MATERIALISMO

Destaque (azul) - Posição 47503

As classes separaram-se lentamente, adquirindo só pouco a pouco a


consciência das suas condições diferentes; e isso também se reflete na
evolução da poesia política, então o gênero mais cultivado na literatura
alemã. Anastasius Grün2089, pseudônimo de um alto aristocrata austríaco,
fez sensação pelo seu liberalismo:

Nota - Posição 47506

POESIA POLÍTICA

Destaque (azul) - Posição 47508

eloquencia hugoniana de Freiligrath2090,

Destaque (azul) - Posição 47509

Até o socialismo, se bem um socialismo idealista, chegou só o intelectual-


boêmio Herwegh2091,

Destaque (azul) - Posição 47521

A essa evolução da poesia política alemã corresponde na França a transição


de Béranger, “chansonnier” do liberalismo, aos autênticos poetas-operários,
dos quais Pierre Dupont2092 se tornou famoso.

Destaque (azul) - Posição 47524

“Voici la fin de la misère, Mangeurs de pain noir, buveurs d’eau!” “Voici”


foi, porém, o massacre dos operários parisienses em julho de 1848 e, depois,
a ditadura de Napoleão III. “Voici”, isto foi o resultado do utopismo
pequeno-burguês, do qual o anarquismo de Proudhon2093 é a expressão
mais completa

Nota - Posição 47528

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PROUDHON

Destaque (azul) - Posição 47530

O romantismo francês acabou em 1848.

Destaque (azul) - Posição 47533

Fim do Romantismo. Os fatos são inegáveis: a conversão de Newman; o


ataque de Kierkegaard contra os românticos na filosofia e na Igreja; a carta
de Bielinski, denunciando o reacionarismo de Gogol; a revolução de
fevereiro de 1848 em Paris; e o Manifesto comunista. Tudo isso dentro dos
poucos anos entre 1845 e 1855. Foi o fim do romantismo.

Capítulo I LITERATURA BURGUESA


Destaque (azul) - Posição 48241

A Revolução de Julho é um dos acontecimentos mais importantes da história


moderna, talvez de maiores repercussões do que qualquer revolução anterior:
a Revolução de 1789 significara a emancipação econômica da burguesia, que
agora, em 1830, também se apoderou do poder político, removendo os
últimos obstáculos da evolução capitalista da economia.

Destaque (azul) - Posição 48248

Os progressos da biologia revelaram-se mais importantes do que a Revolução


de Julho.

Destaque (azul) - Posição 48253

por volta de 1860, os grandes cientistas, os físicos, químicos, biólogos, já


fizeram questão de ignorar as “arbitrariedades” do filósofo “idealista”.

Destaque (azul) - Posição 48255

O ostracismo de Hegel estendeu-se ao seu discípulo mais devotado e mais


antagônico, a Marx.

Destaque (azul) - Posição 48258


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O desconhecimento do marxismo pela burguesia correspondia à divulgação


muito limitada do marxismo no próprio proletariado, incapaz de abraçar o
socialismo científico porque ainda não tinha consciência de classe.

Nota - Posição 48259

AUSÊNCIA DA CONSCIÊNCIA DE CLASSE

Destaque (azul) - Posição 48260

O feudalismo já estava derrubado; os proletários, ainda incapazes de se


defender. Na verdade, nada se opunha à ascensão vertiginosa do capitalismo.

Nota - Posição 48261

ASCENSÃO DO CAPITALISMO

Destaque (azul) - Posição 48314

Pela primeira vez na história da literatura universal, a prosa tornou-se mais


importante do que o verso. Uma forma de literatura em prosa, o romance,
quase absorveu todos os outros gêneros; o gênero de Cervantes e Alemán,
Defoe e Abbé Prévost, Rousseau e Scott, Stendhal e Manzoni, tornou-se a
expressão soberana da vida burguesa. Eis a obra de Balzac, romancista da
burguesia. Balzac é a figura mais importante da transição entre o romantismo
e o realismo-naturalismo: representa o advento da burguesia.

Nota - Posição 48318

ÉPOCA DA PROSA E ADVENTO DA BURGUESIA - BALZAC

Destaque (azul) - Posição 48319

No fundo, todas as épocas são épocas de transição.

Destaque (azul) - Posição 48323

Em todas essas “épocas de transição” agiu, histórica e literariamente, a


burguesia; mas sempre imitando o estilo de outras, mais altas, classes da
sociedade. Só depois de 1830 venceu, com a burguesia, o próprio estilo de
vida da burguesia:
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Destaque (azul) - Posição 48325


economia livre e o parlamentarismo,

Nota - Posição 48325

SISTEMAS BURGUESES

Destaque (azul) - Posição 48328

A história do romance como gênero literário divide-se em duas épocas: antes


e depois de Balzac2101.

Nota - Posição 48329

ROMANCE ANTES E DEPOIS DE BALZAC

Destaque (azul) - Posição 48330

Antes de Balzac, “romance” fora a relação de uma história extraordinária,


“romanesca”, fora do comum. Depois, será o espelho do nosso mundo, dos
nossos países, das nossas cidades e ruas, das nossas casas, dos dramas que se
passam em nossos apartamentos e quartos.

Destaque (azul) - Posição 48349

De dinheiro e negócios fala-se, principalmente, nos romances de Balzac. A


Comédie Humaine é a “Tragédia do Dinheiro”.

Destaque (azul) - Posição 48353

Os romances antes de Balzac terminam com o casamento; os romances de


Balzac começam com o casamento que lança os fundamentos de uma nova
firma.

Destaque (azul) - Posição 48378

O inglês ao qual o romancista de Paris se aproxima é o romancista de


Londres: Dickens. Neste e naquele há o barulho e o turbilhão da grande
cidade, cheia de gente. Mas em Dickens é uma massa atomizada de
indivíduos ridículos, infelizes ou burlescos. Em Balzac, não se trata de massa
atomizada, mas de uma sociedade: a Comédie humaine é a história de uma
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sociedade hierarquicamente organizada, sendo elementos e critérios de


organização: as tradições, o dinheiro e as paixões.

Destaque (azul) - Posição 48413


A mais completa das suas obras é Cousine Bette; a melhor realizada é La
Recherche de l’Absolu; os seus estudos mais profundos são Père Goriot e
Eugénie Grandet. Mas a sua maior obra talvez seja Illusions perdues: aí, o
literato Lucien de Rubempré ocupa, dentro da sociedade, o único lugar que
lhe deixaram, o de boêmio, corrompido pelo jornalismo. Há nisso um
elemento autobiográfico, apresentado sem romantismo nem sentimentalismo,
com a frieza do sociólogo, ou, se quiserem, com o cinismo de um
comerciante em literatura;

Destaque (azul) - Posição 48429

Depois de 1830, a burguesia vitoriosa traiu os ideais do liberalismo; e Balzac


o denunciou. Depois de 1848, o medo da revolução proletária levou os
burgueses à reação aberta; então chegara a hora de Balzac, o único entre a
geração romântica que nunca aderira ao “romantismo social”, ficando fiel às
ideias monárquicas e religiosas do romantismo de 1820. O realismo de
Balzac é de 1860, de 1870; será continuado por Flaubert, por Zola. A posição
ideológica de Balzac é de 1850; já é pós-romantismo. O resultado de 1848
foi a aliança tácita entre os poderes feudais – aristocracia latifundiária e
Igreja – e a grande burguesia, assustada pelas revoltas proletárias.

Nota - Posição 48434

ALIANÇA CONTRA A REVOLTA PROLETÁRIA

Destaque (azul) - Posição 48496

Aos epígonos da tragédia clássica faltava a força para resolver o problema de


Hebbel: não sabiam encontrar o caminho para o realismo. Eis a tragédia
pessoal de Otto Ludwig2106, perdendo a vida inteira com experiências.

Destaque (azul) - Posição 48504

O teatro de Hebbel e Otto Ludwig deixou os contemporâneos tão perplexos


como um crítico marxista está perplexo diante da ideologia reacionária do
realista Balzac.
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Destaque (azul) - Posição 48509


O liberalismo econômico que os governos reacionários de 1850 concederam,
tornou possível um “compromisso”: o partido nacional-liberal, o maior apoio
de Bismarck na obra da unificação da Alemanha, era liberal e prussiano ao
mesmo tempo. A expressão desse “compromisso” é Gustav Freytag2107, no
seu tempo um dos autores mais lidos, e não sem certa razão: seco,
profundamente antipoético, mas sólido.

Nota - Posição 48512

FREYTAG

Destaque (azul) - Posição 48519

Depois da unificação de 1870, Freytag tentou até um plano zolaesco: Die


Ahnen (Os Antepassados), ciclo de oito romances históricos, representando a
evolução da nação alemã, dos tempos pagãos até a época contemporânea; a
burguesia tinha conquistado o seu lugar ao lado dos junkers, orgulhosos da
sua árvore genealógica. Este equilíbrio precário entre forças antagônicas é
um traço permanente da história alemã do século XIX: a classe média,
gozando de liberdade econômica e espiritual, pagando o preço de renunciar
ao poder político, que fica nas mãos da aristocracia semifeudal e
militarizada. Esse equilíbrio precário também é um fato característico da
situação europeia, em geral, por volta de 1850. Em face do perigo proletário,
que a revolução revelara, a burguesia devia em toda parte renunciar a uma
porção dos ideais que a tinham levado à emancipação intelectual e ao poder
econômico. Na França, renunciou à liberdade política, em favor da ditadura
de Napoleão III. Na Inglaterra da Rainha Vitória, a burguesia, vitoriosa em
1832, desistiu das reformas “radicais” que pregara, para garantir-se o poder
econômico.

Nota - Posição 48528

RENÚNCIA DA BURGUESIA EM FACE ÀS REVOLTAS DO


PROLETARIADO

Destaque (azul) - Posição 48529

o cientismo matemático-físico do século XVIII levara, no terreno político, ao


conceito da igualdade, já inadmissível para a burguesia vitoriosa; o cientismo
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biológico-técnico do século XIX forneceu, pelo darwinismo, os argumentos


biológicos para afirmar a liberdade econômica. A figura da transição é
Mill2108: cientista e “radical” no sentido do século XVIII; mas o seu
antipassadismo (e anti-historismo) já não é dos enciclopedistas, e sim o do
positivismo; Comte o influenciara sensivelmente. O “fato” é o único objeto
da sua fé, e nisso ele se encontra com a sua época, que também só acreditava
em fatos científicos na teoria e em valores materiais na prática.

Nota - Posição 48534


MILL - POSITIVISMO - SÓ ACREDITA NOS FATOS, NO QUE É
MATERIAL E EVIDENTE

Destaque (azul) - Posição 48537

“espírito vitoriano”: liberalismo e até radicalismo político, e subserviência


“esnobística” em face das tradições aristocráticas; livre-pensamento
teológico, positivismo, darwinismo e agnosticismo, e culto de lábios ao
dogma da Igreja anglicana ou das seitas puritanas; propaganda dos “slogans”
democráticos no mundo inteiro, e rude imperialismo colonial; opressão
implacável do proletariado e acessos temporários de consciência cristã, dos
quais Carlyle tinha dado o primeiro exemplo; otimismo da fé no progresso
ilimitado, e uma poesia triste, melancólica, de epigonismo consciente. Eis o
“espírito da época vitoriana”2109. Os contemporâneos mal percebiam
aquelas contradições; sendo positivistas, estavam acostumados a acreditar só
nos “fatos”, quer dizer, no sucesso. E o sucesso era imponente: a Inglaterra
da Rainha Vitória era o país mais poderoso, mais rico e, pelo menos na
aparência, o país mais livre e mais feliz do mundo. Depois das grandes crises
econômicas e sociais do fim do século, e quando o poder político do império
também já evidenciava as primeiras fendas, o vitorianismo caiu em
descrédito absoluto.

Nota - Posição 48541

ESPÍRITO VITORIANO

Destaque (azul) - Posição 48544

Depois das grandes crises econômicas e sociais do fim do século, e quando o


poder político do império também já evidenciava as primeiras fendas, o
vitorianismo caiu em descrédito absoluto.
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Destaque (azul) - Posição 48552


O surto do totalitarismo político e cultural, nos anos antes e durante a
Segunda Guerra Mundial levou, porém, a uma revisão, pelo menos parcial,
daqueles julgamentos duros. Voltou-se a apreciar as vantagens da tolerância,
da estabilidade econômica, enfim, do liberalismo.

Destaque (azul) - Posição 48555

Dizem que as obras de Macaulay2110 se encontravam, nas casas dos ingleses


típicos, ao lado da Bíblia e de Shakespeare.

Nota - Posição 48556

MACAULAY

Destaque (azul) - Posição 48584

Inconscientemente, Macaulay falsificou a História, porque não tinha


nenhuma filosofia da História.

Destaque (azul) - Posição 48587

Os Essays constituem, na verdade, um manual da melhor civilização inglesa,


sobretudo do século XVIII;

Destaque (azul) - Posição 48646

Edward Fitzgerald2112, mais um espírito mordaz que sabia dissimular,


facilitando-se a vida de scholar independente pela retirada completa da vida
pública; o primeiro e talvez o maior dos poetas da “tour d’ivoire”.

Destaque (azul) - Posição 48673

Cepticismo e malícia secreta, eis o resultado da anglicização vitoriana do


poeta exótico. Cepticismo e malícia muito intensa, eis o resultado da
anglicização de outro poeta exótico, quase contemporâneo de Fitzgerald e
dos grandes vitorianos, com pequeno atraso cronológico justificado pela
distância geográfica e as dificuldades do intercâmbio intelectual. Mas
Machado de Assis2113, o maior escritor da literatura brasileira, não é exótico
em relação à Inglaterra, e sim em relação ao Brasil.

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Nota - Posição 48677


MACHADO DE ASSIS

Destaque (azul) - Posição 48679

Em Machado de Assis havia várias influências estrangeiras, e são justamente


as influências inglesas que o distinguem dos seus patrícios, em geral
afrancesados: Swift e Sterne, sobretudo.

Destaque (azul) - Posição 48682

Dos moralistes franceses provém a sua desconfiança extrema com respeito à


honestidade dos motivos dos atos humanos

Destaque (azul) - Posição 48685

cepticismo niilista em face do universo; leituras de Schopenhauer


fortaleceram-lhe a visão negra e quase demoníaca dos homens e das coisas;

Destaque (azul) - Posição 48710

Darwin2114, agnóstico sem hostilidade contra a religião, domina todos os


espíritos, deixando em paz o Céu, explicando de maneira satisfatória os
“milagres” da natureza e fornecendo os melhores argumentos científicos em
favor da não intervenção do Estado na vida econômica: é preciso deixar
funcionar a seleção natural pelo “struggle for life”.

Nota - Posição 48713

DARWIN

Destaque (azul) - Posição 48714

não há lugar na sociedade vitoriana para as mais inúteis das criaturas, os


poetas.

Destaque (azul) - Posição 48725

Trollope2116 parecia e foi protótipo daquele “filisteu” do qual os românticos


tinham zombado tanto: funcionário do Departamento dos Correios, modesto,
pontualíssimo. Nas horas livres, esse trabalhador infatigável escreveu 46
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romances, com o mesmo cuidado com o qual elaborou ofícios e despachos; e


resultou uma cópia novelística da Inglaterra vitoriana tão fiel que os
contemporâneos se reconheceram nos personagens, chegando a amar
Trollope como se ele tivesse criado os seus próprios leitores.

Nota - Posição 48729


TROLLOPE

Destaque (azul) - Posição 48765

The Way we Live Now, a maior obra de Trollope.

Destaque (azul) - Posição 48935

O “Parnasse”2128deve o nome ao editor parisiense Alphonse Lemerre, que


em 1866 publicou uma antologia de poetas novos, com a presença de alguns
românticos arrependidos: “Le Parnasse contemporain”.

Nota - Posição 48937

PARNASIANISMO

Destaque (azul) - Posição 49005

Os parnasianos, em geral, eram pagãos; não pagãos alegres, faunos, mas


pensativos, tristes, cépticos como o seu mestre Renan.

Destaque (azul) - Posição 49007

O positivismo forneceu aos “poetas científicos” uma filosofia rudimentar e


pouco consoladora da História, que, aplicada ao próprio século XIX, sugeriu
angústias apocalípticas. “Crépuscule des dieux” é um dos motivos prediletos
dos parnasianos, brincando com o satanismo como crianças assustadas.

Destaque (azul) - Posição 49075

grande talento literário de Renan, poeta científico e estilista evocativo,


patenteia-se pela comparação com o parnasianismo que pretendeu poetizar a
ciência positiva: Sully Prudhomme2132, ao qual chamaram “Lucrécio
moderno”, e que versificou e rimou incansavelmente os progressos da
ciência, os preceitos morais da escola laica, e as tristezas sentimentais de um
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burguês envelhecido. Sully Prudhomme, “Poet Laureate” da Terceira


República e recebendo o Prêmio Nobel de Literatura: eis um “test” do
péssimo gosto literário da época.

Destaque (azul) - Posição 49148


O historismo parnasiano é um traço característico da literatura burguesa da
segunda metade do século XIX. Não está diretamente ligado ao historismo
herderiano dos românticos; é uma interpretação positivista desse historismo,
considerando todas as civilizações e épocas como fases preparatórias do
próprio século XIX e da sua civilização, considerada perfeita: a atitude
decorrente é a desvalorização do passado como mero gabinete de
curiosidades pitorescas, ou então o pressentimento angustioso de que a
pretensa perfeição poderia significar o fim próximo.

Destaque (azul) - Posição 49168

“Félibrige”2139, espécie de sociedade poética ou Academia particular, foi


fundado em 1854,

Destaque (azul) - Posição 49170

Mistral2140 é, sem possibilidade de comparação, o maior entre eles; o único


poeta da Renascença neolatina, digno de estar na companhia dos grandes da
literatura universal.

Destaque (azul) - Posição 49187

O poema épico Mireio, a obra capital, é, entre os poemas do século XIX, só


comparável ao Pan Tadeusz de Mickiewicz;

Destaque (azul) - Posição 49195

Mistral teria encarnado o espírito da Provença medieval, com as suas


liberdades provinciais; da “Província” que deu o nome a todas as unidades
administrativas do mundo.

Nota - Posição 49196

PROVÍNCIA

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Destaque (azul) - Posição 49294


Na Alemanha havia um autêntico movimento parnasiano em Munique, sede
de um cenáculo cujo chefe era o então lidíssimo poeta Emanuel Geibel2163.

Destaque (azul) - Posição 49373

Os mais originais entre os parnasianos brasileiros são os que dedicam sua


atenção principalmente à Natureza. Assim o poeta descritivo Alberto de
Oliveira2170, cuja longa vida é corresponsável pela sobrevivência
excepcional do parnasianismo no Brasil; e Vicente de Carvalho2171, grande
poeta do mar, em cuja arte se notam elementos arcaizantes e outros,
simbolistas. Mas o mais famoso nome do “Parnasse” brasileiro é Olavo
Bilac2172,

Nota - Posição 49377

PARNASES BRASILEIROS

Destaque (azul) - Posição 49431

Quatro poetas inicialmente parnasianos tornaram-se grandes “à condition


d’en sortir”: Baudelaire; Mallarmé, Verlaine e Flaubert.

Destaque (azul) - Posição 49436

A boêmia podia agir contra a poesia burguesa dos parnasianos porque era de
origem antiburguesa.

Destaque (azul) - Posição 49446

A boêmia autêntica é uma desgraça: a miséria dos artistas, para cuja


profissão inútil não há lugar na hierarquia utilitarista das profissões.

Destaque (azul) - Posição 49458

Todo mundo admite o papel importantíssimo de Flaubert2181 na história do


romance moderno, entre Balzac e Zola, lembrando-se também a influência
que exerceu fora da França: sobre Henry James, Turgeniev e Fontane, Eça de
Queirós e tantos outros.

Nota - Posição 49460


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GUSTAVE FLAUBERT

Destaque (azul) - Posição 49469

É literatura tão séria, tão bem documentada como uma obra da ciência,
realizando o ideal parnasiano da poesia científica. Com efeito, o trabalho
preparatório de Flaubert consistiu em uma documentação muito mais exata
do que os estudos meio fantasiosos de Balzac de “fisiologia da sociedade”.

Destaque (azul) - Posição 49500

A filosofia de Flaubert aproxima-se do pan-tragismo. Mas a tragicidade do


mundo não reside, na obra de Flaubert, em conflitos de sentido histórico,
entre o indivíduo e a lei, mas na cegueira do homem, tomando a sério a lei
imbecil que ele mesmo criou; é cegueira como a dos heróis da tragédia grega,
mas sem heroísmo. O Universo está definido, tragicamente, pela “bêtise
humaine”. O intuito de Flaubert era a representação artística, a estilização da
“bêtise humaine”, para eliminá-la desta maneira. A Éducation sentimentale
significa a liquidação do romantismo pela estilização parnasiana.
L’Éducation sentimentale é a obra mais ambiciosa de Flaubert, mas não a
mais perfeita.

Destaque (azul) - Posição 49515

Balzac, narrador sem preocupações estilísticas, profetizara a vitória da


burguesia; nos romances de Flaubert, os burgueses balzaquianos estão
fracassando. Continuou o desprezo romântico do mundo, quer dizer, do
mundo burguês.

Destaque (azul) - Posição 49527

Flaubert era burguês provinciano; mais importante, porém, do que a antítese


geográfica é a econômica, a situação de rentier, vivendo de rendimentos sem
necessidade de fazer negócios. Esta situação, de rentiers ou então de
funcionários públicos com vencimentos e futuro garantidos, é a condição
econômica da arte parnasiana e também da arte de Flaubert, modelando e
remodelando os seus romances durante cinco, sete e dez anos, sem
necessidade urgente de publicá-los. Daí o parnasianismo de Flaubert, tão
manifesto nas frases cinzeladas da exótica Herodias;

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Destaque (azul) - Posição 49558


Pois Madame Bovary é a “maravilha do mundo” entre todos os romances. É
o primeiro romance rigorosamente construído como um poema. A releitura e
a re-releitura sempre fazem descobrir concatenações inesperadas.

Destaque (azul) - Posição 49564

Depois de Flaubert, haverá só uma alternativa: ou sacrificar a poesia à


ciência, criando-se em vez de uma poesia científica uma ciência poética – as
grandes obras historiográficas de Taine, que são na verdade romances
tendenciosos; ou, então, sacrificar a ciência à poesia, deformando-se a
realidade conforme as leis de uma poesia menor, melancólica ou humorística.

Destaque (azul) - Posição 49578

Regionalista foi Alphonse Daudet2183, o representante principal do romance


realista moderado, na época de Zola; por isso, parecia um flaubertiano que
não quis dar o passo decisivo para o naturalismo.

Destaque (azul) - Posição 49595

A França do século XIX deu à literatura de ficção novelística um Stendhal,


um Balzac, um Flaubert, um Zola. Significaria diminuí-los, associando-lhes
um Daudet.

Destaque (azul) - Posição 49601

Em vez de compará-lo a Dickens, se sugere a comparação com Palacio


Valdés2184,

Destaque (azul) - Posição 49603

O ambiente psicológico do espanhol também é parecido: o aburguesamento


cinzento na época da restauração dos Bourbons. Aburguesamento e desilusão
são os motivos social e psicológico da chamada literatura realista. Os
mesmos motivos desempenharam papel importante na evolução da literatura
russa: o aburguesamento começou pelas reformas liberais do tzar Alexandre
II, sobretudo a abolição da servidão dos camponeses em 1861; a desilusão,
ali, era de uma classe correspondente aos rentiers europeus: os proprietários
de terras, meio-aristocráticos. Sob o regime despótico do tzar Nicolau I,
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excluídos da vida pública, foram eles que se sentiam “inúteis” como o


Eugênio Onegin de Puchkin, tornando-se propagandistas do liberalismo.
Depois da grande reforma, a sua “inutilidade” agravou-se economicamente; e
a “literatura dos proprietários rurais” tornou-se auto-acusação antirromântica
ou nostalgia neorromântica.

Destaque (azul) - Posição 49613


A tradição romântica acabou com o colapso de Gogol; mas a crítica radical
que saudara essa catástrofe conseguiu impedir a formação de uma nova
tradição literária.

Destaque (azul) - Posição 49616

O primeiro responsável por isso foi Bielinski2185, o maior dos críticos


literários russos.

Destaque (azul) - Posição 49622

Em breve, porém, Bielinski devia reconhecer seu engano com respeito a


Gogol: à Correspondência com amigos do romancista, o crítico respondeu
com uma famosa carta aberta, declarando a guerra a todas as tendências
conservadoras na literatura e proclamando a substituição do romantismo
reacionário pelo realismo de tendências sociais; a própria razão de ser da
literatura seria a descrição realista e impressionante dos sofrimentos do povo,
para criar a mentalidade revolucionária. A consequência imediata dessa
atitude era a formação de uma literatura que não quis ser literatura e sim
propaganda. No fundo, isso não era antirromantismo, e sim “romantismo
social” no sentido dos franceses, baseado no socialismo utopista do “jovem
hegelianismo”, mas sem capacidade de chegar à conclusão final, ao
marxismo.

Destaque (azul) - Posição 49628

Está assim traçado o caminho de Herzen2186, escritor genial que não se


realizou plenamente.

Nota - Posição 49630

HERZEN

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Destaque (azul) - Posição 49637


Herzen exilou-se para a Europa, sua terra de promissão, onde experimentou
logo as consequências da revolução malograda de 1848. Contra essa Europa,
que lhe parecia incapaz de levantar-se, lançou o grande panfleto Do Outro
Lado, profetizando o fim apocalíptico da civilização ocidental por uma
grande revolução russa e eslava:

Destaque (azul) - Posição 49640

A ação positiva do socialista Herzen exerceu-se através da revista clandestina


Kolokol, redigida e impressa em Londres, lidíssima e muito influente na
Rússia durante os primeiros anos do governo do tzar Alexandre II,

Destaque (azul) - Posição 49642

Mas os resultados que a propaganda de Herzen conseguiu, eram todos no


sentido do liberalismo: abolição da servidão, autonomia administrativa dos
distritos, tribunal do júri. Abriram-se as portas à mobilização do capital
agrário e ao aburguesamento na Rússia.

Destaque (azul) - Posição 49645

tornou-se partidário de Bakunin, anarquista.

Destaque (azul) - Posição 49645

Era um homem fracassado. A sua impressionante autobiografia, O meu


passado e pensamento, parecia a um crítico revelar “um Prometeu idealista,
preso ao rochedo do materialismo”;

Nota - Posição 49647

PROMETEU - MATERIALISMO

Destaque (azul) - Posição 49649

Herzen é o primeiro grande representante da Intelligentzia russa. Usa-se essa


ortografia, transcrição mais ou menos fiel das letras russas: é uma nova
classe, profissionalmente revolucionária.

Nota - Posição 49650


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INTELIGENTZIA RUSSA

Destaque (azul) - Posição 49655

Essa classe é a Intelligentzia, isto é: os homens de cultura superior que,


excluídos da vida pública, fizeram oposição sistemática, divulgando suas
ideias no disfarce de obras de ficção e de poesia, burlando a censura,
influenciando a opinião pública, reivindicando (e, às vezes, conseguindo)
reformas e preparando, deliberadamente ou involuntariamente, revoluções.

Destaque (azul) - Posição 49659

Também constituíram uma Intellientzia os philosophes e encyclopédistes


franceses do século XVIII, lutando contra o Ancien Régime e preparando
ideologicamente a Revolução.

Destaque (azul) - Posição 49663

De Intelligentzia, naquele sentido, só se pode falar quando os intelectuais de


um país a integram de maneira compacta, não havendo oposição contra essa
oposição. É o que aconteceu na Rússia do século XIX, explicando o enorme
poder exercido por essa classe sem poder, que criou a grande literatura
russa2187.

Destaque (azul) - Posição 49670

Na Intelligentzia russa do século XIX havia os latifundiários aristocráticos e


seus filhos, os intelectuais pequeno-burgueses das cidades e, mais, um
terceiro grupo que é difícil definir; digamos, por enquanto, “o êxodo rural
dos intelectuais”.

Destaque (azul) - Posição 49675

No fundo, todos eram ocidentalistas, desejando reformas. Mas também eram


todos, no fundo, eslavófilos, atribuindo à Rússia a missão de salvar a
humanidade corrompida.

Destaque (azul) - Posição 49678

A Intelligentzia foi, no início, quase homogeneamente liberal; depois,


radicalizou-se cada vez mais, sob a influência dos intelectuais pequeno-
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burgueses das cidades, os precursores do socialismo russo: Tchernichevski,


Dobroliubov, Pissarev.

Destaque (azul) - Posição 49684


Herzen pertencia à “boêmia política” dos russos que viviam exilados na
Suíça, em Londres e outras cidades europeias. Desde a “falência” de Herzen,
o chefe dessa “boêmia” era Bakunin2189, este já não escritor, ou, quando
muito, panfletário em língua francesa ou alemã.

Nota - Posição 49686

BAKUNIN

Destaque (azul) - Posição 49690

Com Herzen e Bakunin acaba o hegelianismo russo, que sempre fora meio
eslavófilo. Inicia-se a época do positivismo, mais do positivismo inglês de
Mill do que do francês de Comte, e do utilitarismo; quer dizer, do
radicalismo político, que se julgava socialista, mas serviu, nesse momento
histórico, às aspirações da burguesia. O grão-mestre do radicalismo russo foi
Tchernichevski2190.

Nota - Posição 49693

TCHERNICHEVSKI - UTILITARISMO POSITIVISTA E RADICALISMO


RUSSO

Destaque (azul) - Posição 49705

Os mestres de Tchernichevski – como tradutor e divulgador exerceu grande


influência – eram Mill, Buckle, Darwin. O utilitarismo, esse pesadelo dos
intelectuais ingleses, parecia panaceia aos intelectuais russos. Ainda Lenin
admirava muito O que fazer?

Destaque (azul) - Posição 49708

O poeta da Rússia radical era Nekrassov2191.

Destaque (azul) - Posição 49719

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considerando-se que o poeta radical defendeu, durante a vida inteira, só uma


reforma radical: a abolição da servidão, quer dizer, a medida legislativa que
iniciou o aburguesamento da Rússia agrária.

Nota - Posição 49720

ABOLIÇÃO DA SERVIDÃO LEVA AO ABURGUESAMENTO DA


RÚSSIA

Destaque (azul) - Posição 49727

A vitória do utilitarismo impôs à crítica uma revisão geral de todos os valores


da literatura russa, passada e moderna. Esse trabalho de revisão foi realizado
pelos jovens críticos Dobroliubov e Pissarev2192.

Destaque (azul) - Posição 49735

Gontcharov2193 é, para a literatura universal, o autor de um livro só, do


romance Oblomov: um dos maiores livros de todos os tempos.

Nota - Posição 49737

GONTCHAROV

Destaque (azul) - Posição 49747

Oblomov é, no primeiro plano, a acusação mais terrível que se lançou contra


a estrutura social da Rússia antes da abolição.

Destaque (azul) - Posição 49751

Como o Don Quixote, como todas as grandes obras da literatura universal, é


Oblomov de simplicidade só aparente; a análise revela nesse romance vários
planos, unificados pela mais perfeita composição novelística – o da acusação
social; depois, o da desilusão flaubertiana; enfim, no fundo, a calma épica –
mas para descobri-los é bom consultar as outras obras de Gontcharov.

Destaque (azul) - Posição 49766

Oblomov: o enfado como doença metafísica do homem abandonado por


Deus num universo vazio. É, no tempo do ateísmo feuerbachiano, o epitáfio
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do invidualismo romântico. Como romance realista é Oblomov o panorama


simbólico da Rússia de 1860, da luta entre os eslavófilos conservadores e os
“ocidentalistas” radicais que pretendiam renovar tudo e, se for preciso,
destruir tudo.

Destaque (azul) - Posição 49787


O romance simboliza a imobilidade da sociedade russa, apoiada na paciência
ociosa dos senhores e na paciência trabalhosa dos servos.

Destaque (azul) - Posição 49790

Oblomov é o representante da nação; e continuará representando-a até ser


eliminado por um russo diferente, o de Gorki. O herói de Gontcharov,
“senhor de engenho” é sedentário até o paradoxo; os heróis vagabundos de
Gorki estão perpetuamente caminhando. São homens ativos da futura
revolução.

Destaque (azul) - Posição 49801

A situação de Turgeniev2194 já é muito diferente: já precisava tomar mais a


sério as ideologias radicais; e pode-se dizer que Turgeniev criou o romance
ideológico da Rússia.

Nota - Posição 49803

TURGUENIEV

Destaque (azul) - Posição 49815

Durante toda a segunda metade do século XIX, os europeus estavam


acostumados a chamar “niilistas” aos revolucionários russos; e quase
ninguém se lembrava que só o romance de Turgeniev tinha popularizado
aquela expressão, que desapareceu só quando os revolucionários já eram
marxistas. Do ponto de vista do marxismo, os utopistas russos de 1860
parecem-se realmente mais com anarquistas do que com socialistas. Em
Turgeniev, porém, o termo tinha outro sentido: o niilista seria um homem
para o qual só existiam motivos de utilidade política e social, de modo que
tinha um “nada”, “nihil”, na alma em vez dos sentimentos humanos. Pais e
Filhos é a tragédia do niilista Basarov, tragédia porque esse homem generoso
não é capaz de viver conforme a doutrina desumana que professa; e
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Turgeniev pretende afirmar que os russos em geral, criaturas muito humanas,


não serão capazes de fazer a revolução do niilismo.

Nota - Posição 49821


NIILISMO

Destaque (azul) - Posição 49843

Como artista puro, Turgeniev não tem “filosofia” definida.

Destaque (azul) - Posição 49845

Turgeniev, não tendo uma “filosofia”, não sabe dar uma interpretação da
vida. Os seus personagens não são porta-vozes do autor;

Destaque (azul) - Posição 49913

A Família Golovliev não é só o documento de uma transição social. Essa


obra, talvez a mais negra da literatura russa, é documento de uma
possibilidade permanente das relações familiares, e, mais do que isso, o
documento de uma convicção filosófica do romancista: a grande reforma não
melhorou nada, os homens continuam sempre os mesmos, infames e imbecis.
Tudo fica no mesmo, na Rússia e no mundo.

Destaque (azul) - Posição 50021

A americana Emily Dickinson2207, filha da terra puritana da Nova-


Inglaterra, não era capaz de dá-lo; em compensação, tornou-se poetisa das
maiores de todos os tempos.

Destaque (azul) - Posição 50115

A solução, quer dizer, a derrota deu-se em Antonio Fogazzaro2213.

Destaque (azul) - Posição 50148

Todos esses “cristãos oposicionistas” são, no fundo, bem fracos. Só um entre


eles era um forte e não foi realmente cristão: Baudelaire. Nas vicissitudes
póstumas da poesia de Baudelaire2214 é possível acompanhar as
deformações, transformações e transfigurações que a imagem do poeta “...
vase de tristesse, ô grande taciturne” – sofreu nos olhos da posteridade:
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Nota - Posição 50152


BAUDELAIRE

Destaque (azul) - Posição 50182

A poesia de Baudelaire é consciente no máximo grau. Substitui-lhe a religião


perdida. Daí o culto à Beleza, o seu “l’art pour l’art” que o fez aparecer como
parnasiano. A religião da Beleza devia satisfazer às suas fortes necessidades
religiosas, porque – e é preciso salientar isso – Baudelaire passara por todas
as dúvidas do século; era incapaz de acreditar em dogmas e tradições.
Acontece, porém, que as necessidades religiosas eram mais fortes do que as
satisfações estéticas; e essa insatisfação afasta-o, mais uma vez e
definitivamente, do parnasianismo.

Destaque (azul) - Posição 50187

E como a religião tradicional não era capaz de consolá-lo na sua angústia


pavorosa, Baudelaire chegou a inventar uma religião particular. A situação
parecia-se com a dos últimos pagãos depois do advento do Cristianismo,
desesperados no seu desenfreado naturalismo sexual, fabricando-se religiões
sincretistas de elementos gregos, cristãos e orientais: o gnosticismo.
Baudelaire, em situação parecida, apoderou-se de todos os fragmentos de
religião ao seu alcance, inclusive do ocultismo swedenborgiano. Criou um
gnosticismo sui generis, com a figura de Lúcifer no centro. Falou do “Prince
des Ténèbres” com maiúsculas. Acreditava no Diabo.

Destaque (azul) - Posição 50196

Sua teologia do Mal e sua filosofia das “corrrespondances” entre todas as


coisas no Universo são as bases da sua ampliação da poética: a estética do
Feio.

Destaque (azul) - Posição 50250

Baudelaire é o poeta do tempo em que o liberalismo econômico e o


determinismo científico da burguesia acabaram com a autonomia do espírito,
com a herança e com tudo.

Capítulo II DO REALISMO AO NATURALISMO


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Destaque (azul) - Posição 51530


O naturalismo teria sido um realismo mais radical. A evolução teria
começado com o realismo, ainda moderado, de Balzac, radicalizando-se em
Flaubert e chegando, enfim, ao radicalismo naturalista de Zola.

Destaque (azul) - Posição 51548

O ano de 1870 marcou época na história europeia.

Destaque (azul) - Posição 51551

Até 1870, o nacionalismo estava sempre aliado ao liberalismo e à


democracia, aliança que veio dos dias da Revolução Francesa, quando
“jacobinismo” e “patriotismo” eram sinônimos.

Destaque (azul) - Posição 51554

Em 1870, o nacionalismo perdeu o aspecto democrático; até na França


vencida, o chauvinisme tornar-se-á monopólio da direita. Na Alemanha e na
Inglaterra o nacionalismo revela os primeiros sintomas imperialistas.
Começará a luta pelas colônias. O acontecimento principal da época, depois
de 1870, é a industrialização rapidíssima da Alemanha, derrotando as
potências de economia agrária e obrigando os países industrializados a
esforços inéditos para manter o equilíbrio nos mercados.

Destaque (azul) - Posição 51566

Os outros países não lhe imitaram a estrutura política, a aliança dos poderes
feudais com a grande burguesia industrial. Ao contrário, uma onda de
liberalismo radical passou pela Europa de Gambetta, Gladstone e Crispi. A
burguesia ocidental estava enfraquecida; e os intelectuais de origem
pequeno-burguesa prometeram uma nova “Era das luzes”, de
“Enlightenment”. Estavam eles, como a pequena burguesia inteira,
gravemente ameaçados pela rápida industrialização; daí o conteúdo
principalmente político e intelectual, mas pouco social, do seu radicalismo.

Destaque (azul) - Posição 51570

Ao mesmo tempo, esse radicalismo acompanhava-se de um pessimismo cada


vez mais grave, reflexo do determinismo econômico que o capitalismo
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industrial impôs ao mundo.

Destaque (azul) - Posição 51576


Admitindo-se tudo isso, não é possível, no entanto, ignorar as consequências
da industrialização, a destruição das velhas estruturas sociais. Justamente
com respeito à Alemanha foi acentuada a relação entre os progressos do
capitalismo e a perda da “alegria de viver”, entre o determinismo econômico
e o fatalismo resignado dos que naqueles anos se tornaram leitores de
Schopenhauer2215.

Nota - Posição 51578

SCHOPENHAUER

Destaque (azul) - Posição 51596

a literatura de língua alemã tinha mais um grande escritor: Gottfried


Keller2218.

Destaque (azul) - Posição 51602

Der grüne Heinrich é a Éducation sentimentale alemã; a história da derrota


do romantismo. Mas, pertencendo à literatura alemã, é o último dos grandes
“Bildungsromane”, “romances de formação”, gênero tipicamente alemão,
que começara com o Simplicissimus, de Grimmelshausen, culminou no
Wilhelm Meister, de Goethe, e acabou com o Grüner Heinrich.

Destaque (azul) - Posição 51649

Toda a literatura de ficção na Alemanha, entre 1850 e 1880, é um documento


histórico de transição social: no começo da época, os personagens são
sempre condes e barões; no fim, pertencem à classe média2221. E o “Reich”
alemão, enriquecendo-se enormemente, sofreu perda pavorosa de substância
cultural, porque as novas classes dirigentes já não admitiam os valores do
humanismo, entregando-se por completo ao materialismo econômico.

Destaque (azul) - Posição 51725

Em 1870, a Alemanha, antipatizada na Europa inteira, tinha perdido as


regiões de influência cultural no estrangeiro: a Holanda, a Escandinávia, a

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Rússia. Em compensação, ganhou uma nova zona de influência na Itália.


Porque os italianos se tornaram admiradores dos métodos científicos e
técnicos, tão eficientes, dos alemães.

Destaque (azul) - Posição 51972


Mommsen2241. Era um gigante da erudição, conquistando novos continentes
da arqueologia, numismática, epigrafia e jurisprudência romanas. Um
monumento também é a Römische Geschichte (História de Roma);

Destaque (azul) - Posição 51977

Mas, conforme a sua própria confissão, a Römische Geschichte é fruto das


decepções de 1848, protesto contra o palavrório vazio dos oradores
parlamentares, que não conseguiram a unificação nacional. Mommsen
admirava a César; não gostava de Bismarck, mas, quanto à Antiguidade,
revelou simpatias perigosas para com a “política da mão forte”. Essas
simpatias inspiraram, de todo, a historiografia de Treitschke2242.

Nota - Posição 51980

HEINRICH VON TREITSCHKE E THEODOR MOMMSEN

Destaque (azul) - Posição 51986

Treitschke é o maior nome da literatura oficial do novo Reich, tão pobre em


valores culturais como rico em forças militares e econômicas e em trabalho
científico a serviço daquelas.

Destaque (azul) - Posição 52004

Mas o fenômeno não era, de modo algum, exclusivamente alemão. Havia


“renascentismo” na França e, sobretudo, na Inglaterra. Em toda a parte, a
“velha burguesia”, base social dos esforços e atividades culturais, começava
a perder a importância econômica; e com isso estava em perigo a própria
civilização nacional, cedendo ao utilitarismo científico-técnico.

Destaque (azul) - Posição 52007

Quanto mais o humanismo clássico perdeu, tanto mais era preciso procurar
outros modelos no passado: não apenas na Itália, como fizeram tantos

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alemães e ingleses, mas também no próprio passado nacional. De modo que


o resultado do renascentismo italianizante foi, em muita parte, um
renascimento de tradições nacionais, esquecidas ou abandonadas, e enfim o
nacionalismo orgulhoso e agressivo. Neste sentido, o renascentismo é um
fenômeno geral na Europa.

Nota - Posição 52010


RENASCENTISMO E NACIONALISMO NO SÉCULO XIX

Destaque (azul) - Posição 52041

Gregorovius2245, filho da longínqua Prússia oriental, que passou a vida


inteira no país dos seus sonhos nórdicos. Numa imensa Geschichte der Stadt
Rom im Mittelalter (História da Cidade de Roma na Idade Média),
descreveu, com o colorido de um romance histórico, o período mais sombrio
da história italiana: Roma na Idade Média,

Destaque (azul) - Posição 52104

Essa consciência histórica encontrou a sua expressão máxima em


Burckhardt2248, professor da história das artes plásticas na Universidade de
Basileia, de uma grande família da “burguesia aristocrática” da cidade de
Erasmo e dos humanistas; velho solteirão, vivendo com egoísmo as suas
predileções artísticas e históricas.

Nota - Posição 52106

JACOB BURCKHARDT

Destaque (azul) - Posição 52116

Weltgeschichtliche Betrachtungen (Considerações sobre a História


Universal), um dos maiores livros do século, reflexões sobre a relação entre a
força e a cultura, sobre as grandes crises históricas, sobre a sorte e a desgraça
na História.

Destaque (azul) - Posição 52124

todo poder é mau, por definição. Daí o pessimismo histórico de Burckhardt,


leitor assíduo de Schopenhauer.
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Destaque (azul) - Posição 52127


No seu tempo, Burckhardt tinha só um discípulo que o compreendeu:
Nietzsche; e este, isento dos escrúpulos morais do velho basileense, o
compreendeu mal.

Destaque (azul) - Posição 52132

A tradição antiga, conservada pelas elites, estava “apolítica”, impotente. Foi


então que Nietzsche concebeu a ideia de lançar as bases de uma nova
civilização, invertendo o pensamento de Burckhardt: o poder não é o
inimigo, mas o fundamento da cultura, da qual o jovem filósofo acreditava
ver a aurora na música de Richard Wagner. Wagner2249, o grande músico,
ocupa na história da literatura alemã e europeia um lugar eminente, embora
não justificado pelo valor literário das suas obras.

Nota - Posição 52136

WAGNER

Destaque (azul) - Posição 52151

Essa aliança tinha motivos profundos. Wagner entendia de teatro como


ninguém. Reconheceu como razão da fraqueza do teatro moderno a falta de
uma fé comum de público e do dramaturgo. Sem uma fé comum assim, que
existia em todas as grandes épocas da história do teatro, o dramaturgo só
pode apresentar, em vez de convicções coletivas, opiniões particulares; o que
não se harmoniza com a índole coletiva da arte teatral. Por isso, Wagner
pretendeu ressuscitar o “mito”, quer dizer, um sistema de símbolos nos quais
todos acreditam. A ideia veio do romantismo, da mitologia romântica de
Schelling, Görres e Creuzer; e Wagner, na mocidade, fora romântico. Nos
anos de luta em Dresden, tornou-se materialista revolucionário, partidário de
Feuerbach e dos “jovens hegelianos”; também leu muito Proudhon.

Destaque (azul) - Posição 52164

Embora nacionalista, Wagner olhou com a preocupação pessimista da sua


época inteira o futuro dos alemães que lhe pareciam decadentes. Explicou a
decadência pelo racismo de Gobineau; publicou panfletos antissemitas;
perdeu-se, interpretando Gobineau pelo pessimismo schopenhaueriano, num
niilismo religioso de diletante, espécie de budismo cristão-germânico.
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Destaque (azul) - Posição 52169


Foi um episódio dos mais desagradáveis na história do espírito alemão.
Temos, no século XX, assistido à repetição desse episódio, com violência
desdobrada, quando os herdeiros dos “wagnerianos” se apossaram da
Alemanha, proclamando o racismo e o mitologismo de Wagner como
doutrina oficial do Terceiro Reich.

Destaque (azul) - Posição 52205

Assim, no fino narrador Emil Strauss2251, o pessimismo do humanista em


face da civilização capitalista; e Wilhelm Schäfer2252, o apelo angustiado às
forças criadoras do passado nacional. Strauss e Schäfer acabaram no mais
radical dos nacionalismos. O wagnerianismo e o langbehnismo provinciano
aliaram-se ao espírito revolucionário das organizações da juventude; e a
“grande renovação da Kultur alemã” levou ao nacional-socialismo. A
evolução “renascentismo – renovação nacional – nacionalismo” parece um
fenômeno particularmente alemão. Mas foi um movimento europeu.

Destaque (azul) - Posição 52212

É possível estudar e analisar esses mesmos elementos contraditórios num


movimento de aparências muito diferentes e no outro polo da Europa: no
movimento português da “Escola de Coimbra”.

Destaque (azul) - Posição 52230

Eça de Queirós2258 é uma das figuras mais proteicas da literatura universal.

Nota - Posição 52231

EÇA DE QUEIRÓS

Destaque (azul) - Posição 52250

A influência francesa era forte em Portugal, servindo as mais das vezes só de


enfeite duma sociedade decadente e atrasada. Eça aproveitou-se melhor das
leituras francesas: revolucionou a língua portuguesa, petrificada pelos
gramáticos, dando-lhe a famosa “flexibilidade eciana”, o seu estilo pessoal,
irônico.

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Destaque (azul) - Posição 52255


Com um pouco menos de diletantismo e um pouco mais de força construtora,
Eça teria sido capaz de escrever a Comédie humaine da sociedade
portuguesa. Só nos deu fragmentos dessa epopeia satírica. Mas um dos
fragmentos é grande: o romance Os Maias recompensa pela perda daquela
epopeia.

Destaque (azul) - Posição 52259

Eça é um grande realista; o seu panorama de Portugal difere muito das cenas
violentamente sentimentais do romântico Camilo Castelo Branco.

Destaque (azul) - Posição 52280

O nacionalismo do positivista e republicano Teófilo Braga está fora de


dúvidas. E como último comprovante está aí a carreira do historiador
Oliveira Martins2260, estilista brilhante que começou como republicano
socialista, para acabar glorificando a monarquia portuguesa e as suas virtudes
tradicionais. A tentativa de renovar uma civilização, renovando-se a cultura
de uma elite, levou ao nacionalismo.

Destaque (azul) - Posição 52284

A discussão em torno do verdadeiro sentido da Escola de Coimbra poder-se-


ia repetir – e repetiu-se – a propósito do grande precursor espanhol
Ganivet2261. Seu Idearium español forneceu à geração de 1898 os motivos:
a análise da decadência ibérica e a necessidade da renovação radical da
Espanha.

Destaque (azul) - Posição 52294

O que se pode concluir é só uma tipologia daqueles movimentos paralelos na


Alemanha, Portugal, Espanha e, também, na Inglaterra e na França. O
primeiro elemento característico é o pessimismo. Em todos esses casos está
no início a convicção pessimista de um fim dos séculos, de uma decadência
da nação. Mas esta decadência não é considerada irremediável. Procura-se
um modelo histórico; e do ponto de vista da tipologia não importa se esse
modelo é encontrado na Renascença italiana ou na tradição medieval da
própria nação; ou então, no mito germânico, como em Wagner, ou no
Barroco, como em Ganivet. Tampouco importa, do ponto de vista da
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tipologia, se o radicalismo, que constitui a última conclusão e a proposta


prática para a renovação, é um radicalismo democrático e socialista, ou um
radicalismo nacionalista e reacionário. Mais do que uma vez – como no caso
da Escola de Coimbra – as duas interpretações são possíveis; e o que parecia
radicalismo revolucionário no século XIX pode parecer radicalismo
reacionário no século XX.

Nota - Posição 52298


DECADÊNCIA DA NAÇÃO E NACIONALISMO

Destaque (azul) - Posição 52309

A literatura vitoriana, estudada de perto, revela-se quase inteiramente


antivitoriana.

Destaque (azul) - Posição 52311

há uma oposição contra os abusos da economia burguesa, a de Carlyle,


Dickens e Ruskin; há uma oposição de estetas contra o utilitarismo, a dos
pré-rafaelitas; há uma oposição de europeizantes contra o puritanismo e o
espírito de insularidade, a de Matthew Arnold.

Destaque (azul) - Posição 52316

Robert Browning2262 é um dos poetas mais poderosos de língua inglesa.

Destaque (azul) - Posição 52389

O pendant de Browning é a arte novelística de George Eliot2263.

Nota - Posição 52390

GEORGE ELIOT

Destaque (azul) - Posição 52429

Middlemarch é um dos grandes romances panorâmicos da literatura


universal.

Destaque (azul) - Posição 52463

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Seu filho, Matthew Arnold2268, também foi um grande mestre, um professor


de cultura para uma nação inteira.

Nota - Posição 52464

MATTHEW ARNOLD

Destaque (azul) - Posição 52476

A sua função oficial de inspetor do ensino forneceu-lhe oportunidade para


quebrar o isolacionismo inglês, chamar a atenção para as vantagens do
ensino superior à maneira europeia, sobretudo na Alemanha. Notou, porém,
dois grandes obstáculos da europeização dos ingleses: o utilitarismo
econômico, que acreditava poder comprar tudo por dinheiro, tudo, até
cultura; e o puritanismo, com o seu moralismo estreito, hostil à beleza.
Atacou esses dois inimigos na mais importante, se bem que não melhor, das
suas obras, Culture and Anarchy. Demonstrou que a civilização material, por
mais próspera que seja, degenera em anarquia espiritual, se não for
acompanhada de cultura pessoal.

Destaque (azul) - Posição 52482

Contra a suficiência inglesa, Arnold pretendeu definir o que é cultura – é esta


a pretensão de todos os renascentistas, mesmo quando o seu supremo ideal
não é a Renascença mas o modelo da própria Renascença: a Grécia.

Destaque (azul) - Posição 52558

Ruskin2271 não é o mesmo para os europeus continentais e para os ingleses.


No continente, sobretudo na França, foi entendido como um dos maiores
estetas do século XIX;

Destaque (azul) - Posição 52704

Samuel Butler2277 é o enfant terrible da literatura vitoriana.

Destaque (azul) - Posição 52744

O mais estranho entre esses “contemporâneos” de Butler é o americano


Melville2278.

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Nota - Posição 52745


MELVILLE

Destaque (azul) - Posição 52750

Agora descobriu-se nesse romântico “atrasado” um grande poeta épico e nas


aventuras do capitão Ahab contra a baleia, em Moby Dick, a epopeia do
espírito de aventura americano. Mas a descoberta ia mais longe. Não foi
voluntariamente que Melville interrompera as atividades literárias. A sua vida
foi quebrada pelo escândalo provocado pelo seu romance Pierre, confissão de
um amor incestuoso. Agora estava aberto o caminho da interpretação
psicanalítica. Moby Dick seria o monstro, surgindo do subconsciente de um
puritano, revoltado contra o ambiente que Hawthorne descrevera. Melville
seria um caso de “pessimismo por frustração”.

Destaque (azul) - Posição 52764

Com as peças jacobeias parece-se Moby Dick, obra antivitoriana porque a


vitória cabe, no desfecho, ao espírito do Mal.

Destaque (azul) - Posição 52779

Moby Dick, epopeia dos esforços inúteis da humanidade contra as forças da


Natureza talvez a primeira obra de literatura universal em que no centro dos
acontecimentos não está colocado o homem, mas a realidade objetiva das
forças extra-humanas do mar, do Destino como peso material.

Destaque (azul) - Posição 52924

em 1870, a sociedade decadente do Segundo Império desmoronou. O


pessimismo que já precedera à “année terrible” revelou-se como previsão
“superestrutural”. Uma geração inteira morreu em 1870 – Sainte-Beuve,
Mérimée, Jules de Goncourt. Os sobreviventes desesperaram – Renan
aconselhou não perturbar a agonia da França. Três soluções eram possíveis e
foram encaradas: a reação política, preconizada por Renan na Réforme
intelectuelle et morale; o abandono de todas as ilusões, voltando-se para os
fatos positivos, solução de Comte; e o radicalismo revolucionário – na
política o da Commune, na literatura o de Rimbaud. Todas as três correntes
encontram-se em Taine, que é algo como a figura central da literatura
francesa da segunda metade do século XIX. Taine2289 já é menos lido hoje
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em dia; daí a necessidade de repetir a afirmação de que é um escritor muito


grande.

Nota - Posição 52931


HIPPOLYTE TAINE

Destaque (azul) - Posição 52947

Les Origines de la France contemporaine é um romance histórico, tão bem


ou tão mal documentado como Salammbô, mas com o realismo pessimista de
uma Éducation sentimentale dos franceses depois da derrota.

Destaque (azul) - Posição 52973

Taine, embora antijacobino, continuou a acreditar em revoluções. Em


Stendhal, mais uma vez, encontrou a fórmula: a “energia”. Taine chegou à
pretensão de ressuscitar as energias nacionais, anestesiadas pela desilusão
antirromântica. Nesta sua última fase, Taine já era antirrevolucionário, quer
dizer, hostil à revolução jacobina, mas favorável à contrarrevolução. Intervirá
a influência do “Burckhardt francês”, Fustel de Coulanges2290, revelando a
influência da religião sobre a “Cidade” antiga.

Nota - Posição 52978

FUSTEL DE COULANGES

Destaque (azul) - Posição 53008

Um dos fatos característicos da época de 1870 é certo enfraquecimento da


grande burguesia nos países ocidentais, ou antes a transição para uma fase
mais democrática da evolução capitalista. É a época na qual a figura do
socialista elegante Lassalle empolga o mundo, o anglicano ortodoxo
Gladstone se converte à democracia, e Gambetta aparece como última
encarnação do demagogo jacobino.

Destaque (azul) - Posição 53010

Constituiu-se uma espécie de Intelligentzia europeia. “Tudo o que agora tem


valor na Europa milita sob a bandeira da liberdade e do progresso”, declarou
Georg Brandes aos seus ouvintes, em Copenhague;

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Destaque (azul) - Posição 53073


Georg Brandes2305 pertenceu à burguesia judia de Copenhague;

Destaque (azul) - Posição 53077

O seu ideal literário era o “naturalismo” – conceito em que confundiu


Balzac, Flaubert e Zola, enfim tudo o que tratava de assuntos modernos e se
prestava para interpretações no sentido do radicalismo, de modo que
Björnson, Ibsen, Tolstoi e Dostoievski também lhe pareciam “naturalistas”.

Destaque (azul) - Posição 53275

As experiências de 1770 e 1830, já ensinaram que pré-romantismo e


revolução industrial correspondem. Por volta de 1880, a mesma situação
reinava na Escandinávia e na Rússia. E na Alemanha, a Renânia já muito
industrializada e o sul calmamente agrário não respondem ao apelo do
naturalismo, ao passo que a Alemanha oriental, em processo de
industrialização, se abre largamente às influências escandinavas e russas.
Trata-se de um novo “advento da burguesia”. O conflito entre os ideais do
liberalismo e as realizações do capitalismo se repete na Europa oriental e
setentrional; Björnson e Ibsen, Tolstoi e Dostoievski dirigem à burguesia as
suas “perguntas” embaraçadoras. A coragem, porém, de “documentar” essas
“perguntas” foi fornecida pelo naturalismo ocidental, que ensinou a descobrir
os novos ambientes proletários e semiproletários e descrevê-los
implacavelmente. Daí a presença de “intermediários”, naturalistas à maneira
ocidental, na Europa oriental e na Escandinávia. Daí a importância de
Brandes, incorporando o “naturalismo” oriental ao movimento ocidental, mas
sem compreendê-lo e por isso derrotado, enfim, na sua própria terra.

Destaque (azul) - Posição 53290

Pois o mundo de Zola já não é estático. Encontra-se em movimento, em


evolução, conforme as leis da biologia, do darwinismo, da hereditariedade. A
mera observação dos fatos sociais já não basta para dominá-los. Precisa-se,
para tanto, de uma teoria científica. É o determinismo de Claude Bernard:
fornece as razões do comportamento dos indivíduos.

Destaque (azul) - Posição 53297

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A industrialização tinha chegado ao fim da sua primeira fase; o livre-câmbio


começou a ceder ao protecionismo. Em meio a uma grande prosperidade da
burguesia industrial, de um “gilded age”, conforme a expressão norte-
americana, baixava o standard de vida da pequena burguesia, já no caminho
da proletarização. Daí o surto do radicalismo, falando linguagem
revolucionária, mas sem chegar ao socialismo marxista. Em vez disso, a
descoberta dos novos ambientes proletários e semiproletários os levou ao
pessimismo e ao fatalismo mais desesperados, expressões literárias do
determinismo econômico, que é o destino dessa geração de radicais. O
grande poeta desse Destino moderno é Zola; mas as suas origens são
românticas, hugonianas, e isso dá à sua atividade literária, de início, um
aspecto revolucionário. Em meio do parnasianismo, que tinha,
conscientemente, renunciado à função pública da arte, Zola renunciou à
qualidade de “artista”, para assumir a atitude de Hugo, de um vate da época e
profeta do futuro. O nome da Zola2334 não costuma figurar nas discurssões
sobre os problemas do romance moderno;

Destaque (azul) - Posição 53338

o ciclo de Zola constitui um panorama em movimento, um imenso romance


histórico que não podia ser só um romance porque compreendendo a
sociedade inteira, e sim um ciclo de romances históricos, vindo do passado,
como a França das Origines de la france contemporaine de Taine, e correndo
para o futuro desastroso como a locomotiva em La bête humanine.

Destaque (azul) - Posição 53452

Um dos grandes acontecimentos da história literária inglesa é a tradução dos


Rougon-Macquart por Henry Zizetelly, que foi cruelmente perseguido pelas
associações que pretendem “combater o vício e promover a moral pública”.
O escândalo repetiu-se quando George Moore2348 publicou os primeiros
romances naturalistas em língua inglesa,

Destaque (azul) - Posição 53519

A prioridade do naturalismo latino-americano, quanto à cronologia e com


respeito ao valor, cabe ao brasileiro Aluísio Azevedo2368; tem os defeitos de
todos os naturalistas menores e é pouco original, um Zola ou antes um
Mirbeau do Rio de Janeiro.

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Destaque (azul) - Posição 53523


O último desses naturalistas brasileiros é Raul Pompéia2369, cujo famoso
romance O Ateneu, se aproxima, porém, do impressionismo de um romance
psicológico.

Nota - Posição 53525

ALUÍSIO DE AZEVEDO E RAUL POMPEIA

Destaque (azul) - Posição 53651

Augusto dos Anjos2381, o poeta da “angústia absurda e tragicômica”,


prejudicado pela forma parnasiana e mais gravemente prejudicado pelo mau
gosto da “linguagem científica” dos meio-cultos que o provinciano adotou.

Destaque (azul) - Posição 53740

A nossos avós e pais, Maupassant2388 parecia o símbolo da Paris de 1880:


da cidade dos prazeres eróticos mais requintados, do luxo da “jeunesse
dorée”, dos divertimentos escandalosos do Príncipe de Gales; saudade íntima
dos burgueses abastados de todos os países, de vacâncias matrimoniais.

Destaque (azul) - Posição 53765

O seu naturalismo é uma teoria e prática da superfície das coisas: sejam as


superfícies epidérmicas de amores fáceis, seja o jogo das luzes na superfície
das águas do Sena, seja a superfície psicológica de pequenos-burgueses
parisienses ou camponeses normandos que se compõem de um material
homogêneo somente, estupidez ou avareza. O materialismo de Maupassant
não é, como o de Zola, uma filosofia, mas uma maneira espontânea de ver o
mundo, uma visão poética – Benedetto Croce chegou a considerar
Maupassant como poeta.

Destaque (azul) - Posição 53771

Maupassant não tem ideal algum; senão o ideal literário de observar e


reproduzir fielmente a realidade, que é tão triste.

Destaque (azul) - Posição 53882

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Pérez Galdós2401, embora algo mais conhecido no estrangeiro do que Verga,


não conseguiu porém, nem na extrema velhice, a glória tardia de Hardy, feita
pelos críticos franceses e negada até hoje ao espanhol;

Destaque (azul) - Posição 53916

O burguês Galdós, já cansado das frases demagógicas, vazias e impotentes,


aderiu à monarquia.

Destaque (azul) - Posição 53920

Como naturalista escreveu Galdós as suas obras-primas, os maiores


romances modernos da literatura espanhola;

Destaque (azul) - Posição 53950

Thomas Hardy2403, escritor infatigável, apesar de perseguido pela


indiferença ou hostilidade dos seus patrícios, alcançou pelo menos na
extrema velhice a fama universal que mereceu, como um dos grandes
escritores da maior das literaturas.

Destaque (azul) - Posição 53959

Hardy é um dos poetas mais densos da língua inglesa. Um crítico americano


de filiação muito diferente, Ransom, coloca-o entre os três maiores poetas da
língua no século XX, ao lado de Keats e Eliot.

Destaque (azul) - Posição 54036

O mais consciente de todos eles era Alfred Edward Housman2406.

Destaque (azul) - Posição 54059

Housman, o scholar, é, por muito tempo, o último poeta europeu que se


inspirou na Antiguidade. Começara um novo ciclo na história da poesia: o
simbolismo. Mas ele só podia vencer depois da “conversão” do naturalismo:
conversão a novos ideais e a uma esperança.

Capítulo III A CONVERSÃO DO NATURALISMO

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Destaque (azul) - Posição 56034


E a literatura norueguesa, pelo seu ramo islandês a mais antiga das existentes
na Europa, não mereceu a menor atenção. Mas justamente da Noruega veio a
tempestade2407. Os grandes noruegueses apareceram em momento oportuno
e munidos de armas adequadas: falaram da questão sexual, dos negócios e do
capitalismo, dos problemas sociais, e falaram de tudo isso na linguagem de
todos os dias, sem enfeites românticos, com a maior franqueza, dir-se-ia com
a indignação de provincianos ingênuos, recém-chegados na grande cidade.

Destaque (azul) - Posição 56040

Em vez de se submeter ao determinismo biológico e econômico, chamaram


as consciências para se libertarem do fatalismo emasculante. Denunciaram
esse fatalismo como consequência de uma tradição da burguesia, que
sacrificara ao seu predomínio econômico os ideais libertadores que a tinham
levado ao poder.

Destaque (azul) - Posição 56046

Na repercussão da atividade crítica de Georg Brandes2408 distinguem-se três


resultados diferentes: Brandes, abrindo a Dinamarca germanizada às
influências francesas, iniciou a propaganda do naturalismo ocidental com o
outro “naturalismo”, o escandinavo, abriu a este as portas do Ocidente,
divulgando-o na França e Inglaterra; enfim, introduziu os dois naturalismos
no país então mais fechado da Europa, na Alemanha, europeizando-a.

Nota - Posição 56050

GEORG BRANDES - EUROPEIZAÇÃO DA ALEMANHA PELO


NATURALISMO (realismo radical)

Destaque (azul) - Posição 56090

Em 1864, em consequência da guerra ignominiosa da Prússia contra a


Dinamarca, o prestígio alemão desapareceu completamente.

Destaque (azul) - Posição 56340

Shaw2425, o autor da Quintessence of Ibsenism, era socialista; e isso deu


maior consistência às suas teses.
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Nota - Posição 56342


BERNARD SHAW

Destaque (azul) - Posição 56361

A Alemanha, em fase de industrialização, gera novo pré-romantismo. A


poesia lírica de Conradi2427, romântica, musical e cheia de manchas de um
mau gosto total, está muito perto do naturalismo romântico de um Kristian
Elster.

Destaque (azul) - Posição 56410

Hauptmann2431 era um jovem escultor e poeta diletante, tipo de adolescente


schilleriano, cheio de idealismo e de uma vaga saudade do novo, mas preso
no epigonismo.

Destaque (azul) - Posição 56416

Hauptmann pretendeu ser naturalista, e não objetivo: o “élan vital” da sua


criação foi e ficou sempre a imensa compaixão com a miséria do povo, dos
deserdados e desgraçados. Mas nunca se tornou membro do partido socialista
nem aderiu à ideologia marxista;

Destaque (azul) - Posição 56441

Kretzer2432, o “Zola de Berlim”, passou por renovador porque descreveu os


slums; mas seu estilo é o de Spielhagen. Kretzer tampouco era socialista;
acabou num vago tolstoianismo. A atmosfera dos subúrbios respira-se antes
em Das Taegliche Brot (O Pão de Todos os Dias) (1900), de Clara Viebig
(1860/1952), romance de uma criada infeliz – um dos temas prediletos do
naturalismo.

Destaque (azul) - Posição 56446

Os elementos da arte de Hauptmann são o realismo pré-romântico e, doutro


lado, a compaixão com as vítimas desgraçadas do capitalismo, vítimas do
determinismo econômico que se afigurou aos naturalistas como
determinismo biológico e mesológico. Dali era difícil chegar ao marxismo.

Destaque (azul) - Posição 56449

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Encontra-se esse socialismo sentimental nas páginas de Descaves, Gissing e


Pérez Galdós; com clareza maior, na segunda parte de Over Aevne; e, já
antes, no grande lírico português Antero de Quental2433, que fora membro
da Primeira Internacional.

Nota - Posição 56451

ANTERO DE QUENTAL

Destaque (azul) - Posição 56501

O mais poderoso, de longe, entre todos esses poetas sociais é o menos


conhecido: o checo Petr Bezruč2437, porta-voz dos operários-mineiros da
Silésia então austríaca.

Destaque (azul) - Posição 56518

A prosa que acompanha essa poesia social é “literatura de acusação”:


enunciando as injustiças econômicas e sociais. Há muito disso em Zola e em
todos que o imitaram. Em certo sentido é Kieland o mais característico dos
“acusadores”, porque é individualista sem ideologia definida. Então, um
romance intensamente egocêntrico como Fome (1890), de Hamsun2439, era
capaz de ser considerado como peça de literatura socialista.

Nota - Posição 56522

HAMSUN

Destaque (azul) - Posição 56524

O primeiro documento da “literatura de acusação” russa fora o romance De


quem é a Culpa?, de Herzen2440, com cuja atividade jornalística começou a
época da Intelligentzia, quer dizer, dos intelectuais mais ou menos
proletarizados que pretendiam traduzir as teorias subversivas, importadas do
Ocidente, em prática revolucionária.

Nota - Posição 56527

HERZE

Destaque (azul) - Posição 56529


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A chefia coube, então, a Tchernichevski2441, cujo romance O Que Fazer? é


o outro documento principal da “literatura de acusação”. Substituiu a
filosofia alemã pelo positivismo anglo-saxônico, estimulando o movimento
dos “Narodniki”, intelectuais que “iam para o povo”, isto é, passaram a viver
nos subúrbios dos proletários e nas aldeias camponesas para conhecer-lhes as
necessidades e pregar a revolução.

Nota - Posição 56533

TCHERNICHEVSKI

Destaque (azul) - Posição 56534

Rússia tzarista: num país sem imprensa livre, sem universidades livres, até
sem púlpito livre, o romance desempenhou as funções do jornal, da tribuna e
da cátedra de sociologia.

Destaque (azul) - Posição 56550

Rechetnikov2445 redescobriu a aldeia russa, depois das idealizações do


romantismo; e a gente ficou horrorizada com a vida bestial dos camponeses
da região do Kama, em Os Podlipovos, uma das obras mais brutais desse
naturalismo russo, de valor só documentário.

Destaque (azul) - Posição 56557

O movimento dos “narodniki” tornou-se depois de 1870 violentamente


revolucionário, agindo por meio de atentados e sofrendo opressão cada vez
mais rigorosa, até quase desaparecer nos dias da guerra contra a Turquia e
voltar, depois, com violência redobrada, até o assassínio do tzar Alexandre II,
em 1881. O movimento revelou assim as suas fraquezas ideológicas, o seu
caráter meio anarquista; e deixou, como resíduo, um pessimismo amargo.
Garchin2447 é a expressão desse pessimismo. As suas “acusações” já se
dirigem menos contra o regime do que contra as falhas dos próprios
revolucionários, ou então contra males não especificamente russos, mas
gerais, inerentes à organização da sociedade em toda parte. Pelo menos
interpretou-se assim Quatro Dias, um dos contos mais famosos da literatura
russa: descrição dos sofrimentos de um ferido, abandonado num campo de
batalha da guerra turco-russa.

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Nota - Posição 56564


GARCHIN

Destaque (azul) - Posição 56580

A transição dos “narodniki” aos socialistas é só indireta. Apenas na literatura


há um intermediário: Korolenko2449. Foi um realista moderado, de
simpatias algo sentimentais para com os sofrimentos humanos, mas sem
exacerbar a tendência, até atenuando-a pelo humorismo delicado do estilo.
Nenhum outro russo parece-se tanto com Dickens.

Destaque (azul) - Posição 56608

Kuprin2451, o romancista dos bordéis e da corrupção moral entre os oficiais


do exército tzarista, foi elogiado como um Zola russo.

Destaque (azul) - Posição 56612

Nesse particular, os contos de Kuprin são muito superiores às novelas de


Andreiev2452, nas quais a Europa de 1905 e 1910 reconheceu e admirava a
“realidade russa”: os horrores da guerra russo-japonesa, a opressão policial, o
martírio dos revolucionários.

Destaque (azul) - Posição 56624

Como “último dos realistas e primeiro dos soviéticos” festejou-se o excelente


contista Zamiatin2454; mas ele também acabou como antirrevolucionário;
sua “utopia às avessas”, Nós, é uma vigorosa sátira contra o regime
totalitário, antecipando a antiutopia de Orwell (1984).

Nota - Posição 56627

ZAMIATIN

Destaque (azul) - Posição 56630

Aos “acusadores” faltava inspiração para transfigurar as massas da


documentação. As acusações, por mais justificadas que tivessem sido,
ficavam monótonas. Não é possível acusar continuamente. O aspecto muda,

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porém, quando a acusação se torna auto-acusação; quando o acusador – De


quem é a culpa? – encontra a culpa em si mesmo.

Destaque (azul) - Posição 56633


Mas os intelectuais proletarizados não tinham motivo para acusarem-se a si
mesmos. Tinham-no os latifundiários e outros proprietários aristocráticos de
terras, acostumados a julgarem-se “homens inúteis”, desde que a “literatura
dos latifundiários” – pendant da “literatura de acusação” – tinha criado os
tipos e Eugenio Onegin e Oblomov. No Diário de um homem supérfluo
criara Turgeniev2455 a expressão clássica desse sentimento da própria
inutilidade, sentimento masoquista, bem eslavo, algo místico.

Nota - Posição 56638

TURGUENIEV

Destaque (azul) - Posição 56641

Os grandes escritores da época pertenceram todos, mais ou menos, àquele


tipo que William James, estudando a psicologia da religião, denominou
“twice born”: homens como santo Agostinho, Lutero e Pascal, que “nasceram
duas vezes”, iniciando nova vida depois de uma conversão sempre dolorosa.

Destaque (azul) - Posição 56646

O “caso” de Tolstoi2456 é este mesmo: foi ele ou não um “twice-born”?

Nota - Posição 56647

TOLSTOI

Destaque (azul) - Posição 56654

Tolstoi foi, sem dúvida, um homem que durante a vida inteira procurou, com
zelo fanático, a Verdade.

Destaque (azul) - Posição 56664

Tolstoi renegará toda arte – e até a própria vida, quando sem fins morais,
perde o sentido: em A Morte de Ivan Ilitch, a teoria do “homem inútil” de
Turgeniev transforma-se em teoria da “inutilidade da vida”, isto é, da vida do
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egoísmo sem finalidade superior: essa novela é uma das obras mais
comoventes e mais pungentes da literatura universal, talvez a obra-prima de
Tolstoi, a única em que a arte combina, sem resto, com a ideia
propagandística: é preciso mudar de rumo, integralmente. Essa mudança de
rumo é o tema de Ressurreição, do romance da conversão moral do
aristocrata inútil a pregador da verdade evangélica;

Destaque (azul) - Posição 56701


Assim como A Morte de Ivan Ilitch é o cume da literatura do “homem
inútil”, assim O Reino das Trevas é um cume no movimento de revelar a
terrível corrupção moral do homem russo; assim, Ressurreição é o cume da
“literatura de acusação” contra o sistema político e social russo, contra “as
colunas da sociedade” da Rússia. Tolstoi foi o mais coerente dos “niilistas”; o
seu anarquismo é propriamente o niilismo de um filho apóstata da classe
latifundiária. Na grande luta entre “ocidentalistas” e “eslavófilos” que enche
o século XIX russo, Tolstoi pertence decididamente ao partido ocidentalista.
É discípulo das doutrinas racionalistas do Ocidente.

Destaque (azul) - Posição 56741

Isaiah Berlin: há, na visão da História, de Tolstoi, uma contradição


inextricável entre o cepticismo intelectual do anarquista, niilista e radical
Tolstoi, que não pode acreditar em nada, e, por outro lado, a necessidade
íntima do homem moral e religioso Tolstoi, de descobrir uma lei, uma ordem
no Universo. Não a encontrando, criou-a. Fez história, pelo menos num livro.
Mas isto mesmo é a definição da epopeia. Por isso é Guerra e Paz a única
obra das literaturas modernas que merece o lugar ao lado da epopeia
homérica, entrelaçamento semelhante de histórias particulares e públicas, de
paz e guerra, no espaço infinito do tempo lendário. Tolstoi é, entre os poetas
identificáveis, o maior poeta épico.

Destaque (azul) - Posição 56748

Comparada com a grande influência ideológica que Tolstoi exerceu na


Europa, sua influência literária na Rússia é relativamente menor. A classe a
que Tolstoi pertencia já perdera a importância social antes da catástrofe em
Astapovo; e a “literatura dos latifundiários” transformou-se em literatura de
reminiscências e, pouco depois, em literatura de exilados, da qual Bunin2457
é a maior figura.

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Nota - Posição 56751


BUNIN

Destaque (azul) - Posição 56753

Em Sukodol descreveu o fim dos latifúndios aristocráticos, mais com a


delicadeza de Turgeniev do que com a melancolia de Tchekhov. Talvez seja a
sua obra mais característica o volume de poesias Novembro, já pelo título e
pelo ano em que saiu: 1905, ano da revolução.

Destaque (azul) - Posição 56760

A Aldeia, a verdade nua sobre a vida e a condição moral dos camponeses


russos por volta de 1910: é mais o reino das “trevas” do que o idílio de
Jasnaia Poliana; dez anos mais tarde, os russos exilados acreditaram
reconhecer em A Aldeia a previsão do comportamento dos camponeses
durante a revolução comunista.

Destaque (azul) - Posição 56788

Zeromski2461. A sua condição de intelectual sem pátria – a Polônia estava,


no seu tempo, dividida e sem personalidade política – apresentava certas
analogias com a dos últimos representantes da “literatura dos latifundiários”;
no romance Gente sem Pátria Zeromski definiu essa situação, fazendo,
depois, ingentes esforços para chegar a uma epopeia nacional: em O Rio Fiel,
descreveu a revolução polonesa de 1863; e na trilogia A Luta contra o
Estado, acreditava ter realizado esse objetivo.

Nota - Posição 56793

ZEROMSKI

Destaque (azul) - Posição 56816

talvez fosse o novelista português Raul Brandão2464, que professava mesmo


ideias tolstoianas: um grande poeta em prosa, contrastando de maneira
impressionante as luzes multicolores da paisagem mediterrânea e a miséria
da gente.

Nota - Posição 56818

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RAUL BRANDÃO

Destaque (azul) - Posição 57007

Vítima do naturalismo foi a maior personalidade literária que a Europa, fora


da Rússia, possuía no fim do século XIX: o sueco August Strindberg2483.

Destaque (azul) - Posição 57119

Henry James 2489revela várias analogias superficiais com Bourget. Quase


todos os seus romances se passaram na mesma sociedade de aristocratas e
milionários,

Destaque (azul) - Posição 57180

Testemunha dessa verdade seria Henry Adams2491, filho daquele mesmo


ambiente e importante figura intelectual da América no fim do século XIX.

Destaque (azul) - Posição 57214

Dentro da literatura da “fin du siècle” burguesa, o romance psicológico é


fatalmente pessimista e, mais de uma vez, reacionário. Mas está constituído
de elementos contraditórios – realismo, naturalismo, dissociação psicológica,
moralismo tolstoiano – que em outra mistura se prestam para servir à
ideologia radical dos intelectuais proletarizados.

Destaque (azul) - Posição 57222

Na Rússia, Taine era o guia dos radicais; nem então nem mais tarde alguém
pensava em reivindicá-lo como mestre do nacionalismo. Nem era preciso. A
teoria mesológica de Taine veio de Herder, com cujo pensamento os russos
tinham relações especiais, desde os dias do eslavofilismo. Enquanto os
“ocidentalistas”, formados na filosofia de Hegel, reconheceram em Taine o
determinista histórico, conservavam-se os eslavófilos fiéis à teoria de Herder,
reveladora de um grande futuro da raça eslava. E enquanto as reformas
políticas e sociais do tzar Alexandre II só levaram ao aburguesamento
econômico da Rússia, lançando os intelectuais radicais na aventura do
niilismo e do terrorismo, fortaleceu-se o eslavofilismo, antigamente tão
literário e pacífico, transformando-se em programa político, imperialista; em
pan-eslavismo2495. O grande teórico eslavófilo Khomiakov2496 já tinha

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reunido os elementos para tirar as conclusões políticas, embora sem tirá-las


ainda; tampouco seu amigo Konstantin Sergeievitch Aksakov. Mas o irmão
deste último, Ivan Sergeievitch Aksakov, já era pan-eslavista, falando em
direito e dever da Rússia de “proteger” todos os eslavos e no monopólio
espiritual da Igreja russa no Oriente próximo inteiro; e Nikolai Jakovlevitch
Danilevski lançou, em Rússia e Europa (1859), as bases do imperialismo
tzarista. Três anos antes, em 1856, Mikail Nikiforovitch Katkov fundara a
Gazeta de Moscou, que se tornará órgão oficial do pan-eslavismo. Nas
colunas deste jornal se pediu a russificação das populações não russas do
Império pela força, o monopólio eclesiástico da Igreja oficial, o
fortalecimento da autocracia tzarista, a guerra contra a Turquia para libertar
os irmãos eslavos. Enfim, houve tal guerra, em 1876, e entre os
propagandistas mais apaixonados estava Dostoievski, partidário
incondicional do programa pan-eslavista. Dostoievski2497 apareceu aos
europeus ao lado de Turgeniev e Tolstoi;

Nota - Posição 57239


DOSTOIEVSKI - PAN ESLAVISMO

Destaque (azul) - Posição 57246

Dostoievski não continuou no realismo; e muito menos acompanhou a


evolução para o naturalismo determinista, conforme a doutrina de Taine. Ao
contrário, a sua obra inteira é um protesto apaixonado contra o determinismo
que lhe parecia o fundamento do materialismo ateu; Dostoievski, porém, é
espiritualista, proclamando a liberdade da alma humana, seja para o bem ou
seja para o mal; e essa liberdade parecia-lhe inextricavelmente ligada ao
Evangelho e à fé na divindade de Jesus Cristo. Qualquer outra liberdade
degeneraria fatalmente em nova tirania, fosse a tirania econômica dos
liberais, fosse a tirania política dos socialistas. Por isso, Dostoievski tornou-
se deliberadamente reacionário: adorava a autocracia tzarista, abraçando
firmemente o credo da Igreja ortodoxa.

Destaque (azul) - Posição 57259

O intelectual proletarizado, Dostoievski não pôde acompanhar o liberalismo


dos grandes senhores Turgeniev e Tolstoi, em que diagnosticou com agudeza
o anarquismo, a conclusão paradoxal mas coerente do liberalismo burguês.
Mas também reconheceu o mesmo anarquismo no terrorismo-niilismo dos

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radicais russos, que estavam então muito longe ainda do socialismo marxista.
Nos Demônios, identificou o liberalismo dos pais e o anarquismo dos filhos.

Destaque (azul) - Posição 57264


já estava transformado em pan-eslavismo reacionário e violento; de tal modo
que a política de Dostoievski parece, às vezes, antecipar o fascismo.

Nota - Posição 57265

FASCISMO

Destaque (azul) - Posição 57283

Os Demônios são, por excelência, o romance da contrarrevolução. A figura


ideal em oposição a esses demônios é o “idiota” Mychkin, o “Don Quijote”
do cristianismo. Mas a Rússia dessas obras não é o inferno dos
revolucionários nem o céu dos santos: é o lugar em que todos os personagens
infernais e celestes do pandemônio dostoievskiano têm de viver juntos, uma
grande família dividida por ódios fratricidas. A imagem e o simbolismo dessa
convivência é a família dos irmãos Karamasov: a família do povo russo. É,
para Dostoievski, o povo eleito e o povo condenado, ao mesmo tempo. Como
salvá-lo? A Igreja russa ignora o dogma da existência do Purgatório. Mas o
misticismo eslavo admite estranho caminho da salvação: através do pecado.
E isso explica as profundidades do imoralismo no cristianismo de
Dostoievski.

Destaque (azul) - Posição 57325

O escritor só adotou o sensacionalismo novelístico à maneira de Sue para


colocar seus personagens em condições extremas e chegar a soluções
extremistas. Os problemas são tipicamente eslavos: o Direito e a Graça
Divina (daí o elemento dantesco em Dostoievski); a Liberdade e a Anarquia;
o Estado e a Igreja; o Pecado e a Redenção: mas a psicologia de
profundidade de Dostoievski confere-lhes o sentido geral e a importância
geralmente humana.

Destaque (azul) - Posição 57379

O verso de Walt Whitman2501 parece o elemento mais revolucionário da sua


obra.
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Destaque (azul) - Posição 57388


Whitman é, em geral, considerado como o maior poeta da América.

Destaque (azul) - Posição 57645

As elites francesas, liberais ou radicais no século XIX, serão católicas e


reacionárias no começo do século XX.

Destaque (azul) - Posição 57711

O naturalismo acabou porque não era capaz de criar um novo estilo; isso será
tarefa do simbolismo.

Capítulo I O SIMBOLISMO
Destaque (azul) - Posição 58941

Assim como o naturalismo francês, o simbolismo francês conquistou dois


mundos, a Europa e as Américas, conservando à literatura francesa a
liderança que vinha exercendo desde os começos do realismo.

Destaque (azul) - Posição 58943

numa época que parecia só da prosa, o simbolismo criou um movimento


poético duma força e extensão como poucos outros antes e nenhum outro
depois.

Destaque (azul) - Posição 58953

O interesse dos simbolistas pela religião, ou, antes, por todas as formas, por
mais esquisitas que fossem, da religiosidade e do misticismo, era outro
atentado contra a indiferença do liberalismo em matéria religiosa e contra o
ateísmo dos naturalistas.

Nota - Posição 58954

SIMBOLISMO - RELIGIOSO NATURALISMO - ATEÍSTA

Destaque (azul) - Posição 58958

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Enfim, a pretensão dos simbolistas de trazer ao mundo uma poesia nova não
harmonizou bem com o sentimento de fadiga reinante entre eles, ao ponto de
se proclamarem “poetas da Decadência”, falando de “Fin du siècle” como se
fosse o Fim do Mundo.

Destaque (azul) - Posição 59060

Wilde2523 colocou, conforme sua própria confissão, “seu talento nas suas
obras e seu gênio na sua vida”. Por isso, a maior parte das suas obras são
“period pieces”, cheias de esprit ou, melhor, de wit; mas apenas
significativas como expressões do espírito da sua sociedade e da sua época;
só tem importância histórica.

Nota - Posição 59064

OSCAR WILDE

Destaque (azul) - Posição 59098

Anatole France2526, se fosse scholar, seria o Pater francês: muito mais


espirituoso, assim como um “homme de lettres” parisiense é mais espirituoso
do que um “fellow” de Oxford; mas menos nobre. France era um pequeno-
burguês de Paris, quer dizer, distante do ambiente vitoriano em que um
professor de Universidade ou um jornalista e dramaturgo como Wilde nunca
pôde conquistar a igualdade com qualquer lorde bem-nascido; ao francês
estava aberto, na Terceira República, o caminho para cima, através de uma
carreira que os ingleses não admitiram como profissão útil e oficial: a
literatura.

Nota - Posição 59103

ANATOLE FRANCE

Destaque (azul) - Posição 59108

Sendo parnasiano, Anatole France preocupava-se mais com a forma do que


com as ideias. Era pensador de segunda mão, escrevendo uma prosa das mais
“claras”, mais “mediterrâneas”:

Destaque (azul) - Posição 59115

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As obras de Anatole France apresentam aquele colorido mundo histórico


assim como um homem muito viajado conta de coisas esquisitas e
interessantes que viu em outras terras.

Destaque (azul) - Posição 59122

A maior parte das obras de France carece, por assim dizer, de peso
específico; não são levianas, como afirmavam os seus inimigos, mas leves.
Menos os quatro romances da Histoire contemporaine. Ali também, os
personagens são ligeiramente caricaturados, como numa anedota maliciosa,
mas a apresentação do ambiente é digna de Balzac. Ali France está dentro da
realidade da Terceira República. Houvera o caso Dreyfus, a tentativa de
revogar os princípios de 1789; então, o burguês parisiense, ameaçado na sua
liberdade democrática de ler e escrever à vontade, se revoltou. Voltou ao
jacobinismo dos seus antepassados; e como o jacobinismo francês tem a
tendência de evoluir cada vez mais para a esquerda, o parnasiano tornou-se
radical, socialista e, enfim, comunista.

Nota - Posição 59127

BURGUESIA - JACOBINISMO - ESQUERDA - PARNASIANISMO -


COMUNISMO

Destaque (azul) - Posição 59149

Os simbolistas não eram crentes nem descrentes; não tinham ideologia


filosófica ou religiosa. Aos documentos dos naturalistas, que pretendiam
provar teses, opuseram evocações, que pretendiam sugerir sensações.

Destaque (azul) - Posição 59154

Aí se revela a única base intelectual do simbolismo que se pode verificar: o


antiintelectualismo. Daí as suas afinidades com o romantismo, sugerindo a
muitos críticos a definição do simbolismo como “neorromantismo”.

Nota - Posição 59156

SIMBOLISMO - NEOROMANTISMO

Destaque (azul) - Posição 59159

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Assim como o romantismo, o simbolismo foi uma revolta: contra o rigorismo


métrico dos classicistas, respectivamente dos parnasianos; contra a tirania
duma cultura formal, obsoleta.

Destaque (azul) - Posição 59161

Mas os românticos, pelo menos os românticos franceses, pretendiam


inaugurar um mundo novo, enquanto os simbolistas se sentiam
representantes dum mundo em decadência. O sentimento da decadência
encontra-se em quase todos os simbolistas da primeira hora: em Verlaine que
declarou – “Je suis l’Empire à la fin de la décadence...” – mas também em
Mallarmé2529.

Nota - Posição 59165

MALLARMÉ

Destaque (azul) - Posição 59232

O Parnasse não está inteiramente esquecido: quanto ao “l’art pour l’art”,


lembra-se a admiração de Baudelaire por Gautier; quanto ao intimismo,
alguns ainda admiram Coppée; e até os revoltados não podem odiar o
cristianismo com fúria maior do que Leconte de Lisle. Mas os novos nomes
são Mallarmé, Verlaine, Rimbaud; é realmente um novo mundo de poesia.

Destaque (azul) - Posição 59307

Verlaine2535 não apresenta os problemas hermenêuticos de Mallarmé.


Conforme a observação de um crítico moderno, Verlaine não tem “message”.
Em vez disso, é um poeta todo pessoal, falando só dos seus próprios
sofrimentos que eram às vezes tão indecentes como os seus prazeres.

Nota - Posição 59309

VERLAINE

Destaque (azul) - Posição 59380

Rimbaud2536, de maneira paradoxal, realizou o ideal parnasiano: não há


outro poeta em que vida e poesia estejam tão rigorosamente separadas.

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Nota - Posição 59382


RIMBAUD

Destaque (azul) - Posição 59779

A preocupação religiosa dos esteticistas ou ex-esteticistas revela-se até numa


pensadora tão independente como é a erudita Ricarda Huch2570, historiadora
do romantismo alemão. Ela também fora esteticista – as Erinnerungen von
Ludolf Ursleu dem Juengeren (As Memórias de Ludolf Ursleu) são um dos
mais belos romances estéticos de 1900, transfiguração comovida de
mocidades passadas, algo entre Storm e Selma Lagerlöf, mas com um olhar
sério sobre a decadência espiritual da Alemanha industrializada.

Nota - Posição 59784

RICARDA HUCH

Destaque (azul) - Posição 59792

Depois da derrota de todas as esperanças revolucionárias, por volta de 1905,


a literatura russa parecia estar no fim, em esterilidade absoluta. A geração de
Dostoievski tinha desaparecido. Tolstoi emudecera. Entre 1900 e a vitória do
novo realismo revolucionário, de Gorki, há um intervalo vazio. É este o
tempo do simbolismo decadentista, que contribuiu tanto para a decomposição
do grande realismo russo do século XIX; parece um interlúdio, alheio ao
espírito nacional. Mas não é tanto assim. É só aparência, que desaparece,
pela consideração do fato de que o último dos grandes realistas, Tchekhov, é
ao mesmo tempo o primeiro e o maior dos decadentistas. Tchekhov2571

Nota - Posição 59797

TCHEKOV

Destaque (azul) - Posição 59810

Tchekhov é o único dos grandes realistas russos que não escreveu romances.
Mas suas centenas de contos formam, em conjunto, um panorama completo
da Rússia de 1900, como fragmentos de um espelho quebrado. Passam-se em
todas as províncias do país imenso, de modo que Bruford pôde desenhar um
mapa geográfico da obra tchekoviana. Todas as classes estão representadas
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nela: a aristocracia rural e os camponeses, os funcionários públicos, a justiça


e a polícia, o clero, a Intelligentzia, os estudantes e professores, a burguesia,
o proletariado, os judeus, os revolucionários, os reacionários e a grande
maioria que não é isto nem aquilo. Mas em parte nenhuma encontra
Tchekhov aquela decência. Parece “literatura de acusação”; mas não é.

Destaque (azul) - Posição 59830


Tchekhov não é escritor trágico – as suas peças também não são tragédias,
são dramas; mas se não fosse aquele sorriso irônico de médico céptico, cheio
de compreensão humana, seria o mais triste dos poetas da terra das “almas
mortas”. Como homem de 1900, já não tem esperanças. Detesta o regime
tzarista e a injustiça social. Mas não lhes opõe ideologia alguma: no Jardim
de Cerejas, a mais comovente das suas peças, chega a lamentar a destruição
da aristocracia rural, dos belos “ninhos aristocráticos” do tempo de
Turgeniev, pela invasão do comercialismo burguês. Mas é só lamento.
Tchekhov não acusa ninguém e a nada, senão a própria condição humana.

Destaque (azul) - Posição 59854

“Per realia ad realiora.” O ideólogo dos “realiora”, outro precursor do


simbolismo russo, foi Soloviev2572, o grande discípulo de Dostoievski,
eslavófilo místico com fortes inclinações pelo catolicismo romano, visionário
apocalíptico e professando, no entanto, o mais nobre liberalismo político.

Nota - Posição 59857

SOLOVIEV

Destaque (azul) - Posição 59920

Merechkovski2580: brilhante crítico literário, porque as suas próprias


angústias patológicas o fizeram adivinhar as mais secretas “arrière-pensées”
religiosas e sexuais dos grandes escritores russos; e péssimo romancista,
fabricando pastiches de trechos de grandes historiadores para transformar
bonecos, vestidos de trajes históricos, em porta-vozes das suas ideias meio
lunáticas. A decadência espiritual da Rússia foi a grande preocupação de
Merechkovski; ele mesmo o mais decadente dos russos.

Destaque (azul) - Posição 59935

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Discípulo de Baudelaire, se julgou ou foi julgado o negro brasileiro Cruz e


Sousa2584, cuja exaltação dolorosa se atribui a resíduos da tristeza tropical
da floresta africana. Compará-lo aos maiores simbolistas franceses parece
exagero; mas é certo que alguns sonetos seus – “Supremo Verbo”, “Caminho
da Glória” – são das manifestações mais fulminantes e mais sinceras da
poesia moderna.

Nota - Posição 59937

CRUZ E SOUSA

Destaque (azul) - Posição 59963

Verlainiano católico foi o brasileiro Alphonsus de Guimaraens2587, cujos


admiráveis sonetos místicos e poesias como “A Catedral” e “Vila do Carmo”
evocam o encanto especial da arquitetura barroca das cidades coloniais de
Minas Gerais.

Nota - Posição 59965

ALPHONSUS DE GUIMARAENS

Destaque (azul) - Posição 59974

Dois fatos são certos com respeito ao simbolismo de Eugênio de Castro2589:


a prioridade cronológica e uma repercussão muito grande, se bem que
efêmera.

Nota - Posição 59976

EUGÊNIO DE CASTRO

Destaque (azul) - Posição 60132

Os elementos simbolistas reencontram-se antes no “populismo” de um


Fausto Mario Martini; e daí só é um passo para a angústia poética, social e
política dos chamados “spiriti di vigilia”, Boine, Michelstaedter, Slataper,
imediatamente antes de 1914 e do fascismo. Martini foi daqueles que
redescobriram a “Scapigliatura”. Ainda estava vivo, embora esquecido, o
último “scapigliato”, Dossi2598; revelou-se seu amigo e discípulo, o
esquisito Lucini2599, que partiu de uma “scapigliatura crepuscolare” para
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chegar, enfim, ao futurismo de Marinetti. Mais uma vez revelam-se aí


origens político-sociais do estilo simbolista – desta vez a situação incerta da
Itália entre pauperismo agrário e industrialização, entre pacifismo
humanitário e imperialismo nacionalista.

Nota - Posição 60138


FASCISMO

Destaque (azul) - Posição 60583

A “marginalidade” e a “falta de tradição” dos simbolistas são sintomas da


condição social dos poetas e escritores: não estão incorporados na sociedade,
constituem uma classe de “literatos”, mais ou menos no ar; trata-se de países
e regiões de economia atrasada ou “colonial”, que não comporta o “luxo” da
arte independente. E os escritores defendem-se, declarando guerra aos
“filisteus” hostis e proclamando o “l’art pour l’art”. Daí o artificialismo e o
caráter fantástico desses novos estilos, de reação contra qualquer utilitarismo.
O simbolismo reagiu contra o naturalismo, ligado à estrutura burguesa da
sociedade.

Destaque (azul) - Posição 61095

Essa transição do esteticismo ao socialismo, revolucionário em sentido


político e em sentido literário, operou-se de maneira análoga no ramo maior
da literatura holandesa, isto é, na própria Holanda. Herman Gorter2691 foi,
na revolução literária de 80, uma das figuras principais;

Nota - Posição 61098

HERMAN GORTER

Destaque (azul) - Posição 61117

Entre o marxista Gorter e o socialista cristão Van Eeden situa-se Henriette


Roland-Holst2692, cuja poesia é menos “pura”; mas a poetisa foi a figura
mais nobre do movimento inteiro.

Nota - Posição 61119

HENRIETTE ROLAND

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Destaque (azul) - Posição 61131


A poesia socialista de Henriette Roland-Holst já se encontra além do
simbolismo. Já não é arte “pura” nem quer sê-lo. A forma só tem importância
secundária; o encanto reside na emoção sincera de uma grande
personalidade. E Henriette Roland-Holst foi destemida. Em Verzonken
Grenzen (Fronteiras Abolidas) saudou a revolução comunista. Depois,
desiludida pela política russa, abandonou o comunismo; confessou receio de
“não ver mais a paz luminosa”:

Destaque (azul) - Posição 61139

A tonalidade ética do socialismo holandês, mesmo entre os marxistas, é


herança puritana. Mas a própria transformação do esteticismo em socialismo
corresponde a um novo reconhecimento do papel da Inteligência no país; é o
fim do ostracismo da arte. E isto, por sua vez, correspondia às
transformações sociais da Holanda por volta de 1900: fora um país de grande
comércio colonial algo antiquado, em estilo do século XVII; e foi
transformado em grande potência imperialista, dominando o mercado do
dinheiro nas Bolsas internacionais. Ao mesmo tempo, modificou-se a base
agrária da economia metropolitana: assim como na Espanha, surgiu na
Holanda a grande indústria, e surgiu o proletariado organizado.

Nota - Posição 61144

SOCIALISMO HOLANDÊS

Destaque (azul) - Posição 61147

A literatura pré-simbolista baseava-se em duas classes: a burguesia liberal,


satisfazendo-se com o epigonismo pós-romântico, e os pequenos-bugueses
radicais, fazendo a propaganda do naturalismo. Na “fin du siècle”, a
burguesia tornar-se-á antiliberal e reacionária; e o lugar do radicalismo será
ocupado pelo proletariado organizado. O capitalismo, transformando-se de
capitalismo industrial em capitalismo financeiro, abandonou a doutrina do
livre-câmbio, da liberdade dos mercados internacionais, abraçando o
protecionismo. Primeiro na Alemanha, cuja rápida industrialização exigiu a
proteção preliminar contra a concorrência inglesa, para avançar depois nos
mercados coloniais e semicoloniais.

Destaque (azul) - Posição 61153


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A Inglaterra, fortaleza ameaçada do livre-câmbio, seguiu hesitando,


introduzindo em 1887 a obrigação de indicar a origem inglesa de seus
produtos industriais. Mais tarde, Joe Chamberlain iniciará a campanha em
favor do protecionismo e da união aduaneira do Império Britânico. O
processo acelerou-se, para as indústrias nacionais poderem sobreviver às
grandes crises de superprodução, em 1882, 1890, 1900. O fim do liberalismo
econômico nos mercados internacionais significava fatalmente a limitação do
liberalismo econômico dentro das fronteiras nacionais. Os industriais
renunciaram a uma parte da sua liberdade de movimento, reunindo-se –
voluntária ou involuntariamente – em trustes, “sindicatos” e “cartéis”, as
mais das vezes dependendo do capital bancário.

Destaque (azul) - Posição 61165

Industrialização quer dizer proletarização; a consciência de classe do


proletariado começa a substituir o radicalismo da pequena burguesia. Em
1889 organiza-se a Segunda Internacional; e no dia 1º de maio de 1890
celebra-se pela primeira vez a festa internacional do trabalho. Em 1893, o
Partido Social-Democrata sai das eleições como o maior partido político da
Alemanha; em 1894, em Norwich, o congresso dos sindicatos ingleses, muito
prudentes até então, pronuncia-se em favor do coletivismo; em 1895 funda-
se em Paris a Confédération Générale du Travail, e em 1898 há lutas de
barricada entre operários e a tropa nas ruas de Milão.

Nota - Posição 61169

INDUSTRIALIZAÇÃO - PROLETARIZAÇÃO E LUTA DE CLASSES

Destaque (azul) - Posição 61171

Quem parece excluído do futuro são os filhos da classe média, inclusive os


intelectuais. Essa situação agrava-se em países “novos”, recém-
industrializados ou colonialmente explorados, onde os intelectuais são
considerados “inúteis” – são os países “marginais”, os novos centros da
poesia simbolista. O simbolismo é a literatura dessa classe sem fundamento
econômico na sociedade, algo assim como os intelectuais de 1800 que
criaram o romantismo; o que contribui para explicar o aspecto neorromântico
do simbolismo.

Nota - Posição 61175


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SIMBOLISMO - NEORROMANTISMO

Destaque (azul) - Posição 61176

Mas a diferença é mais importante do que a analogia: os parnasianos também


estavam excluídos da economia social, mas ainda ficavam com as
comodidades da burguesia antiga.

Destaque (azul) - Posição 61178

ou, então, os parnasianos são funcionários graduados, diretores de museu ou


biblioteca, diplomatas, pessoas com ordenados fixos e garantidos.

Destaque (azul) - Posição 61187

A burguesia pode-se dar o luxo da “conspicuous consumption”, da


ostentação das riquezas; e a literatura ficou contaminada pelo gosto geral.
Daí o esteticismo e o preciosismo da literatura simbolista, fazendo versos nos
quais cada palavra é como uma pedra preciosa, e juntando esses versos para
compor “sonatas” e “sinfonias”.

Nota - Posição 61189

ESTÉTICA SIMBOLISTA

Destaque (azul) - Posição 61193

Os parnasianos eram ateus. Os simbolistas gostavam do ocultismo ou


voltaram-se para a Igreja romana.

Destaque (azul) - Posição 61195

É antes uma fadiga intelectual, uma declaração de falência, uma reação


contra o intelectualismo científico, culpado de ter construído o mundo
demasiadamente racional da técnica industrial e da luta de classes.

Destaque (azul) - Posição 61198

O sentimento de “estar no fim” era tão forte que forneceu as palavras-chaves


da época: “Décadence” e “Fin du Siècle”.

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Nota - Posição 61199


DECADÊNCIA E FIM DO SÉCULO

Destaque (azul) - Posição 61205

Na Alemanha, o contraste era sobremodo forte: de um lado, a prosperidade


de uma industrialização rapidíssima, o luxo ostensivo da burguesia e a
arrogância não menos ostensiva do regime militarista; por outro lado, o
recolhimento involuntário dos intelectuais, excluídos da vida pública pelo
meio-absolutismo prussiano. Já desde 1870 os intelectuais reagiram com
pessimismo acentuado, retirando-se para a província e lendo Schopenhauer,
assim como fez Raabe.

Destaque (azul) - Posição 61211

Maupassant era leitura que os pais proibiam às filhas; e os poetas


simbolistas, dos quais só se tinha vaga notícia, eram considerados loucos.

Destaque (azul) - Posição 61214

Mas havia a seita wagneriana de Bayreuth. A forte influência que


Wagner2693 exerceu no simbolismo francês basta para revelar os elementos
pré-simbolistas na sua arte. E a pretensão de Wagner e dos wagnerianos de
renovar pela arte a civilização alemã encontrou-se com a saudade dos
“renascentistas” pela Renascença italiana, como modelo de uma civilização
artística e completa. O representante mais sério desse “renascentismo”,
Burckhardt2694, é esteticista e decadentista no sentido mais nobre desses
termos: a arte parecia-lhe o único resultado digno dos esforços humanos;
considerava a civilização europeia como agonizante, “fin du siècle” e fim de
todos os séculos. Todas essas correntes reúnem-se em Nietzsche: como
filólogo, grecista, apaixonado da Antiguidade, pertencia à civilização alemã
de estilo antigo, de Weimar; caiu, depois, no pessimismo de Schopenhauer;
como discípulo de Wagner, aprendeu o conceito estético da “cultura”; e como
jovem professor da Universidade de Basileia recebeu influência decisiva da
parte do velho colega Burckhardt. Nietzsche criou o simbolismo alemão.
Nietzsche2695 escapa às definições. Como filósofo sem sistema, não lembra
um Aristóteles ou um Kant; é da estirpe dos Platão e Pascal, um poeta-
filósofo.

Nota - Posição 61224


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NIETZSCHE - SIMBOLISMO ALEMÃO

Destaque (azul) - Posição 61230

Nietzsche saiu de uma daquelas escolas humanistas do tipo que acabará


depois de 1870. Tornou-se filólogo, grecista. O poeta preferido do seus anos
de estudante era Hölderlin, então considerado romântico, “adolescente
infeliz”, enquanto o jovem Nietzsche já parece ter descoberto ou adivinhado
em Hölderlin o poeta greco-alemão. Em compensação, já não encontrou
filosofia hegeliana nas Universidades alemãs; o positivismo nas ciências
naturais e históricas já liquidara isso. Deste modo, Nietzsche tornou-se
discípulo do anti-Hegel Schopenhauer; perdeu o senso histórico (que talvez
nunca viesse a possuir); e mergulhou no pessimismo.

Nota - Posição 61235

ANTI HEGELIANO - SEM SENSO HISTÓRICO PRÓ SCHOPENHAUER


- PESSIMISTA

Destaque (azul) - Posição 61258

Nietzsche está cheio de contradições. É possível documentar qualquer


opinião com citações de Nietzsche; e sempre a opinião contrária também.
Nietzsche é um dos espíritos mais radicais de todos os tempos, o cume do
pensamento radical do século XVIII, violentamente anticristão; ao mesmo
tempo, seu pensamento é capaz de preparar novas formas inéditas de tirania
espiritual. Nada há de mais contraditório do que a sua metafísica do
otimismo, da “Volta Eterna” (“Ewige Wiederkunft”), caricatura da metafísica
schopenhaueriana.

Destaque (azul) - Posição 61263

No ressentimento reconheceu Nietzsche a raiz do moralismo e da moral


cristã – por isso, o doente Pascal parecia-lhe o maior dos espíritos cristãos e a
maior vítima do cristianismo. No cristianismo diagnosticou Nietzsche o
grande inimigo da vitalidade, só comparável ao moralismo racionalista de
Sócrates, que estragou a civilização grega. O “Sul” de Nietzsche é, portanto,
a Grécia imoralista e trágica – pensamento de um filólogo herético.

Destaque (azul) - Posição 61268


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Em Nietzsche renovou-se o conflito irresolúvel entre o elemento pagão e o


elemento cristão dentro da “síntese greco-alemã”. O mesmo conflito que
rebentara em Hölderlin.

Destaque (azul) - Posição 61271

No domínio do cristianismo sobre as consciências viu a maior ameaça à


civilização ocidental, o perigo mortal: a perda da vitalidade. Neste sentido,
denunciou com eloquência apocalíptica o “niilismo europeu”, o fim da
Europa.

Destaque (azul) - Posição 61274

O autor de Menschliches, Allzumenschliches (Coisas Humanas, Infra-


humanas) confiava no radicalismo à maneira do século XVIII para quebrar o
domínio dos poderes antivitais e inaugurar a era da nova Renascença, assim
como Burckhardt descrevera a Renacença italiana, bela e imoral. Assim,
realizar-se-ia a renovação da civilização alemã que Wagner exigira – mas já
não cristã e germânica, e sim livre e europeia.

Destaque (azul) - Posição 61286

Levou o esteticismo até à idolatria da arte; e a “premissa econômica” do


esteticismo foi exagerada até surgir o conceito violentamente
antidemocrático do dono da vida, isento dos preconceitos do Bem e Mal: o
“Super-Homem”. O “Super-Homem” é a receita de Nietzsche para superar o
niilismo. Mas não se pode negar: o “super-homem” é, ele mesmo, uma
expressão desse niilismo. A vitória do super-homem nietzschiano não
salvaria a civilização europeia, mas acabaria com os últimos restos dela.

Nota - Posição 61290

SUPER - HOMEM

Destaque (azul) - Posição 61294

O poeta-filósofo foi o último romântico alemão, herdeiro de uma disciplina


de espírito que o romantismo criara: a análise e crítica da moderna
civilização europeia (Kulturkritk).

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Destaque (azul) - Posição 61298


Em Nietzsche encontrarão um arsenal de argumentos os existencialistas à
maneira de Heidegger e Sartre e os neomarxistas à maneira de Lukács,
Groethuysen e Walter Benjamin; a psicologia dos ressentimentos, de Scheler;
e o socialismo cristão, de Tillich.

Destaque (azul) - Posição 61453

A vida poética de Verhaeren2705 é um grande drama: começa como numa


planície deserta, noturna, um homem solitário lutando contra fantasmas
terríveis que pretendem devorá-lo; e no fim do horizonte a luz vermelha das
fábricas e chaminés ilumina as velhas cidades agonizantes da “Flandres
pobre”.

Nota - Posição 61456

VERHAEREN

Destaque (azul) - Posição 61581

Da guerra de 1914 surgiu um romance neonaturalista. Da crise econômica de


1929 surgiu um neonaturalismo.

Destaque (azul) - Posição 61596

Mas o resultado foi, afinal, um estilo poético, capaz de exprimir em poesia o


material chamado “mundo moderno”. Eis o primeiro sintoma de uma
“literatura de equilíbrio”, que dominará a Europa entre 1900, da “fin du
siècle”, até o verdadeiro fim do século XIX, em 1914.

Capítulo II A ÉPOCA DO EQUILÍBRIO EUROPEU


Destaque (azul) - Posição 63670

Não houvera “fin du siècle”. O dia 1º. de janeiro de 1900 passou sem o
colapso do “Empire à la fin de la décadence”; tampouco se verificou o “Gran
Soir” que os anarquistas predisseram aos burgueses assustados. Os séculos
da cronologia não coincidem com os séculos da historiografia. 1910 está
mais perto de 1880 do que de 1920. A “Fin du siècle” ainda não foi o
verdadeiro fim do século XIX.
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Destaque (azul) - Posição 63675


o século XIX terminará só em 1914.

Destaque (azul) - Posição 63688

Depois de 1900 as crises econômicas tornam-se mais raras e têm


repercussões menos extensas. A prosperidade fica quase estabilizada,
modificando-se quase só no sentido de melhorar continuamente o standard de
vida das classes médias; o proletariado, organizado em partidos e sindicatos,
também luta com sucesso considerável, criando-se uma “aristocracia” de
operários qualificados. Apesar disso, não diminuem os lucros do capital,
reunido em formidáveis trustes e cartéis. Atribui-se esse milagre ao progresso
da técnica, que proporcionaria riquezas cada vez maiores aos donos das
forças da natureza. Invenções que até havia pouco se afiguraram à
humanidade como sonhos da imaginação de Jules Verne – telefone e
gramofone, automóvel e avião – em breve já não despertarão muita
curiosidade. Aos progressos da técnica correspondem os da democracia:
sufrágio universal, regime parlamentarista, liberdade sindical, conquistam-se
até nas autocracias de tradição inveterada. Desaparece definitivamente o
analfabetismo: escolas noturnas e “University Extension” divulgam, nas
camadas baixas da população, conhecimentos outrora propriedade particular
das elites. Nos recantos rurais leem-se jornais que trazem notícias do mundo
inteiro. O livre-câmbio cultural sucede ao livre-câmbio comercial. Celebram-
se congressos internacionais de toda a espécie, organizam-se
internacionalmente as profissões e os partidos políticos. O pacifismo é uma
grande potência. A humanidade parece marchar para o paraíso terrestre.

Destaque (azul) - Posição 63701

Evidentemente, trata-se de uma ilusão de óptica. Não há Idades Áureas. Seria


mais justo falar de equilíbrios felizes e efêmeros. A paz de muitos decênios,
antes de 1914, perturbada só pelo ruído dos canhões em remotos países
coloniais, baseava-se na superioridade do exército alemão e da esquadra
britânica, tão fortes que ninguém ousava atacá-los.

Destaque (azul) - Posição 63706

a primeira entre as grandes potências que rompeu a paz, atacando na Líbia a


Turquia, foi a Itália, onde se fomentava o nacionalismo do “mare nostrum”,
ao mesmo tempo em que a “semana rossa”, organizada pelos socialistas
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revolucionários, fez tremer a terra da Romagna. A paz social, base da


democracia, não estava menos ameaçada do que a paz internacional. As lutas
de classes, desmentindo as doutrinas nacionalistas, já pressagiaram o caráter
econômico, imperialista, da guerra futura. O equilíbrio só era aparente.

Destaque (azul) - Posição 63712


Até certo ponto, todos os escritores da época escrevem em estilo simbolista,
empregando “símbolos”: o Thomas Mann de Morte em Veneza e o Hamsun
de Vitória e o Gorki de Centelhas Azuis; e aos permanentes princípios
poéticos que o simbolismo restabelecera deve-se o alto nível da literatura
pós-simbolista, mesmo entre aqueles que o abandonaram ou nunca o
admitiram.

Destaque (azul) - Posição 63718

O teorema da geração pretende explicar as mudanças de estilo, aplicando


métodos matemáticos, estatísticos, a fatos biológicos. Mas assim como as
obras do espírito humano não têm origem meramente biológica, assim a
relação histórica entre essas obras, a história da literatura, resiste a
interpretações matemáticas. Assim como o pensador espiritualista e o crítico
de estilos têm de reivindicar a autonomia da história literária, assim os
pensadores dialéticos, sejam hegelianos ou sejam marxistas, insistirão na
interpretação da história não pela matemática, e sim pela sociologia. É
preciso modificar o teorema da geração por meio de considerações
sociológicas à maneira de Karl Mannheim2713.

Nota - Posição 63722

TEOREMA DA GERAÇÃO

Destaque (azul) - Posição 63726

Capitalismo monopolista, decomposição da pequena burguesia, organização


do proletariado são as condições de 1900. A geração que entrou unida na vida
separa-se logo em burgueses, pequenos-burgueses e proletários, ou mais
exatamente, em filhos de burgueses, filhos de pequenos-burgueses e filhos de
proletários; porque não são os próprios participantes do processo econômico
que fazem a literatura, e sim grupos acessórios das classes, designados aqui
como “filhos”.

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Destaque (azul) - Posição 63731


Explica o fenômeno do epigonismo, isto é, a sobrevivência de estilos, cujas
bases sociais já desapareceram, e o fenômeno das vanguardas, isto é, de
antecipações literárias de transições sociais futuras.

Nota - Posição 63732

EPIGONISMO

Destaque (azul) - Posição 63733

as vanguardas pretendem transformar o simbolismo em magia verbal e o


naturalismo em primitivismo.

Destaque (azul) - Posição 63754

A doutrina do élan vital, de Bergson, robusteceu-lhes a fé; fundamentou até a


fé socialista ou antes anarco-sindicalista de Sorel, pregando o renascimento
da civilização ocidental por meio de um ricorso à barbárie. É o primitivismo,
manifestando-se como gosto pelos ambientes exóticos ou rústicos, como
vitalismo “populista”, e enfim como brutalidade racista, é uma das
tendências literárias do novo século.

Nota - Posição 63758

DOUTRINA DO ÉLAN VITAL - BARBÁRIE

Destaque (azul) - Posição 63776

Entre as grandes literaturas só uma, nessa época, é ou parece inteiramente


tradicionalista: a russa. O simbolismo, movimento europeizante, já vencera
por volta de 1900, e os acontecimentos políticos – a derrota pelo Japão e o
malogro da revolução de 1905 – levaram os intelectuais a conversões
religiosas e à atitude antimarxista da famosa publicação coletiva Limites.
Quem lhes respondeu foi o maior escritor “primitivista” da época, Maxim
Gorki; e à obra na qual denunciou os intelectuais reacionários, deu o título
significativo Bárbaros.

Destaque (azul) - Posição 63789

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Na Inglaterra e na Alemanha, o simbolismo não vencera integralmente,


menos nas regiões marginais da Irlanda e da Áustria; daí certo atraso
estilístico, ao lado do mais rápido progresso técnico e econômico. Nesses
países, as ideologias dominantes manifestam-se principalmente em obras
científicas ou de divulgação pseudocientífica;

Destaque (azul) - Posição 63856

A “belle époque”, entre 1900 e 1910, é época de real ou aparente estabilidade


do mundo. A poesia também revela tendência para “estabilizar-se”. A poesia
simbolista pode tornar-se decorativa, como em Henri de Régnier.

Destaque (azul) - Posição 63867

O simbolismo tinha “restaurado no símbolo” a poesia. Mas os seus símbolos


eram de origem e validade particulares:

Destaque (azul) - Posição 63868

O valor e a significação apenas individuais dos símbolos de um Mallarmé


são responsáveis pelo aspecto hermético de sua poesia.

Destaque (azul) - Posição 64181

Rilke2750 estava destinado à solidão e ao cosmopolitismo.

Nota - Posição 64182

RILKE

Destaque (azul) - Posição 64315

Os neonaturalistas burgueses de 1900 e 1910 revelam, nem sempre, mas


muitas vezes, tendências de chegar a qualquer forma de classicismo: Thomas
Mann gosta de lembrar Goethe; Galsworthy, observando a forma tradicional
do romance inglês, preferia Tolstoi a Dostoievski. É natural o desejo de
restabelecer o equilíbrio perdido: fazer parar o tempo, cujo curso inexorável
significa decadência. Mas o naturalismo, que sempre é, de qualquer maneira,
materialista, impede-lhes encontrar o que Bergson ensinou a Proust: o
sentido do tempo. Eis o problema de Bennett2758.

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Nota - Posição 64319


BENNETT - O SENTIDO DO TEMPO

Destaque (azul) - Posição 64404

Thomas Mann2763

Destaque (azul) - Posição 64413

É naturalista por formação e índole, como Martin Du Gard; a decadência


burguesa parecia-lhe fenômeno biológico, perda de vitalidade. Eis o tema dos
Buddenbrooks: o enfraquecimento vital, durante várias gerações, de uma
família burguesa do Norte da Alemanha; Mann acredita, porém, em
compensações psicológicas: o último Buddenbrook, frágil como um
adolescente hölderliniano, não presta para a vida burguesa, mas tem talento
artístico. Para Thomas Mann, filho de burgueses e artista nato, esta
explicação tem valor autobiográfico e apologético; justifica a arte pela
decadência dos não artistas, de modo que a decadência biológica do próprio
artista é culpa dos antepassados e resgatada pela criação espiritual.

Nota - Posição 64418

THOMAS MANN

Destaque (azul) - Posição 64420

Mann relaciona a arte com doença e morte; e a “suprema das artes”, a


música, parece-lhe hino permanente e dionisíaco à Morte. Ele próprio
confessa a origem romântica dessa teoria; refere-se a Schopenhauer e
Wagner; qualifica-se assim como escritor da decadência.

Destaque (azul) - Posição 64424

Durante a guerra de 1914, Thomas Mann tomou atitude nacionalista,


combatendo com certa violência seu irmão Heinrich, “democrata de tipo
ocidental”.

Destaque (azul) - Posição 64428

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depois da catástrofe de 1918, a decadência moral da Alemanha foi


interpretada como consequência da apostasia do ideal. Através do cepticismo
do Zauberberg (A Montanha Mágica), reflexo das vacilações espirituais do
após-guerra e panorama da decadência europeia generalizada, o antigo
nacionalista alemão chegou a transformar-se em “bom europeu” no sentido
de Nietzsche, desempenhando esse papel com a maior coragem, contra o
nacionalismo da Alemanha rebarbarizada.

Destaque (azul) - Posição 64441

Depois de 1918, Mann foi atacado como traidor do nacionalismo alemão,


como “vendido” ao seu público internacional, à “democracia ocidental”.
Ambas as restrições foram injustas e absurdas; apenas demonstraram que
Mann, como o primeiro romancista alemão, tinha colocado o problema
político, no sentido mais alto da palavra, no centro da sua obra. Mas A
Montanha Mágica demonstrou que Mann não soube resolver o problema: o
romancista parecia perplexo em face do mundo atual, debatendo-se em
angústias espirituais sem reconhecer nem admitir o fundo transcendental da
vida.

Destaque (azul) - Posição 64450

No seu romance épico Doktor Faustus, a carreira artística do grande


compositor Leverkuehn coincide com a história política da Alemanha
durante os últimos decênios:

Destaque (azul) - Posição 64526

A história do caso Dreyfus identifica-se com a história política, social e


religiosa da França entre 1894 e 1914. A affaire cavou abismos entre Estado
e Igreja, exército e parlamento, republicanos e nacionalistas, socialistas e
burgueses, entre classes, províncias, cidades e famílias – a história anedótica
sabe de cenas turbulentas entre pais, filhos e irmãos na ocasião da leitura dos
jornais durante o café da manhã.

Nota - Posição 64530

CASO DREYFUS

Destaque (azul) - Posição 64597


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O pendant alemão de Rolland foi Wassermann2770.

Destaque (azul) - Posição 64605

No romance, reconhece o meio moderno para falar à consciência da nação.


Conforme esse conceito, denuncia em Caspar Hauser, mais uma bela
reconstituição da Alemanha antiga, a “inércia do coração” e o “anarquismo
moral”. Wassermann sente a “sede de justiça”, típica do judeu – a oposição
íntima entre a sua raça judaica e o seu amor intenso à civilização alemã era a
grande dor da sua vida. Como judeu, hostilizado na sua pátria, pressentiu
Wassermann a crise política e moral da Alemanha;

Destaque (azul) - Posição 64613

Mas conseguiu, enfim, “desromantizar-se”, aproximando-se da realidade:


deu na sua obra capital, o Fall Maurizius (O Caso Maurizius) um panorama
vivo da Alemanha da República de Weimar em torno de um novo caso
Dreyfus: obra inspirada por um alto senso de justiça e dos motivos
psicológicos.

Destaque (azul) - Posição 65066

Hamsun2814 foi proletário. Filho de camponeses pobres do norte da


Noruega, aprendiz de sapateiro, carvoeiro, pedreiro, cantoneiro, lenhador,
estivador, foi tudo isso antes de chegar aos vinte anos de idade; depois, o
autodidata fez uma tentativa de tornar-se jornalista e literato, malogrou e
tomou, como tantos outros patrícios seus, o caminho da emigração para os
Estados Unidos, onde trabalhou como foguista, operário rural, condutor de
bonde, pescador. Tísico, voltou para a Europa; sofreu em Paris,
desempregado, a fome como ninguém sofrera – pelo menos descreveu a
fome como ninguém a descrevera, no romance Sult (Fome), do qual uma
revista dinamarquesa aceitou um capítulo para publicação; e no dia seguinte
Hamsun era famoso.

Nota - Posição 65072

KNUT HAMSUN

Destaque (azul) - Posição 65088

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Pan, a história do fim trágico do tenente Glahn, que levou nas montanhas da
Noruega a vida conscientemente imoralista de um deus grego ou, antes, de
um nietzschiano de 1900.

Destaque (azul) - Posição 65101

Hamsun foi, durante os dois primeiros decênios do século XX, um dos


escritores mais famosos e mais lidos do mundo. Encarnava, para muitos, o
espírito de resistência contra a mecanização da vida: um baluarte literário da
Liberdade na natureza livre, o gênio mais espontâneo da literatura moderna.

Destaque (azul) - Posição 65104

Não se pode negar no velho escritor a coerência ferrenha: o fascismo foi a


conclusão fatal do seu anarquismo.

Destaque (azul) - Posição 65143

Aquilino Ribeiro2822, tão celebrado como estilista, enquanto a crítica


aprecia menos a sua arte de regionalista rural e verbalista desenfreado;

Destaque (azul) - Posição 65146

O primitivismo de 1910 parecia aos contemporâneos expressão da vida


proletária, mais primitiva do que a das classes abastadas e cultas. Nos leitores
desses “primitivos” havia muito evasionismo, espírito de veraneio; e nos
autores, muito esteticismo, nietzschiano ou outro, conforme a ideologia que
nunca, porém, foi revolucionária, antes anarquista.

Destaque (azul) - Posição 65182

Um caso particular de primitivismo “rural” produziu-se na América Latina,


ainda meio colonial e dominada pelo “modernismo” de Darío. Ali a
descoberta da natureza primitiva devia limitar-se aos aspectos patéticos da
“luta entre o homem e as forças cósmicas”. Há muito disso nos Sertões, do
brasileiro Euclides da Cunha2827, embora a força dramática desse prosador
agitado ultrapasse de longe a mera arte descritiva, abrindo panoramas de
conflitos entre civilizações. Graça Aranha2828 já pretendeu tirar conclusões
ideológicas; foi, mais tarde, o “missing link” entre o simbolismo e o
modernismo brasileiro de 1922.

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Nota - Posição 65188


EUCLIDES DA CUNHA E GRAÇA ARANHA

Destaque (azul) - Posição 65348

Eis o sentimento com o qual o primitivismo entra na sua fase de atividade


belicosa, de “action directe”. É o sindicalismo. George Sorel2849 não
aparece nas histórias da literatura francesa; excluiu-o seu estilo pouco
literário, a incapacidade de composição – as suas obras, cheias de
pensamentos e sugestões, são das mais confusas na mais “clara” das
literaturas.

Nota - Posição 65351

GEORGE SOREL

Destaque (azul) - Posição 65352

Revoltou-se contra o marxismo “moderado” dos políticos socialistas,


transformados em parlamentares e candidatos a pastas ministeriais,
negociando com a burguesia. Criou o movimento sindicalista, excluindo os
intelectuais, proibindo aos seus adeptos a atividade parlamentar, confiando
na força dos sindicatos, na “grève génerale” e na “action directe” meio
anarquista que levará ao “grand soir” da burguesia. Ao lado das secas
explicações econômicas de Marx, a obra literária de Sorel parece uma
epopeia romântica do proletariado; romantismo da violência. Poética no
mesmo sentido é a filosofia da história de Sorel que, baseando-se em Vico,
pregou o ricorso, a rebarbarização saudável do mundo decadente pelas forças
frescas do proletariado.

Destaque (azul) - Posição 65365

O revolucionário vermelhíssimo Sorel é expressão duma grande corrente do


pensamento burguês: do antiintelectualismo e o irracionalismo, em oposição
ao materialismo do proletarido marxista. Daí as relações íntimas que naquele
tempo ligaram a Sorel o grande-burguês Benedetto Croce. Daí as relações
íntimas do pequeno-burguês Péguy com Sorel. Daí as relações íntimas entre
a filosofia antiintelectualista de Sorel e a filosofia espiritualista de Bergson; à
“action directe” corresponde o “élan vital”. Bergson2850 é uma das figuras
centrais da história literária do século XX; é fato significativo da “época do
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equilíbrio” que um filósofo conseguiu sucesso universal e até mesmo


mundano, devendo isso em grande parte às qualidades do seu estilo.

Nota - Posição 65372


BERGSON

Destaque (azul) - Posição 65381

Atacando o racionalismo mecanicista do século XIX, demonstrando a


insuficiência da análise racional dos fenômenos biológicos e psicológicos,
restabelecendo o papel da intuição na pesquisa filosófica e o papel do
Espírito na evolução biológica, através do “élan vital” – Bergson forneceu
elementos (e pretextos preciosos) a vários ideólogos. O antimarxismo
disfarçado de Sorel é reação bergsoniana, em favor da ação livre do Espírito,
desta vez do espírito revolucionário.

Destaque (azul) - Posição 65386

O pensamento de Bergson foi estímulo para todos os que pretendiam opor-se


à evolução rápida da técnica mecânica; e é preciso lembrar que a França
ainda era um país economicamente atrasado, mais agrário do que industrial,
em que uma burguesia de velho estilo, mais das finanças do que da indústria,
dirigia a nação. Essas forças conservadoras estavam ligadas à Igreja. O caso
Dreyfus produzira uma cisão, lançando a parte protestante e judaica da
burguesia numa aliança com a esquerda; ficou na oposição, tanto mais à
vontade, a burguesia católica. E os doutrinários do catolicismo, sobretudo os
leigos, deviam considerar a Bergson como aliado precioso contra o
materialismo. Os católicos precisavam de aliados. A Igreja, sobretudo na
França e Itália, estava minada pela agitação do “Modernismo”2851:

Destaque (azul) - Posição 65415

Léon Bloy2854, vagabundo-boêmio de pobreza franciscana perdido entre os


bas-fonds, místico apaixonado pelas visões de La Salette, lembrando algo a
Verlaine, mas muito mais sincero.

Nota - Posição 65418

LEON BLOY

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Destaque (azul) - Posição 65421


O boêmio Bloy era uma figura tão tipicamente francesa, dentro do
catolicismo universal, como Chesterton2855 era inglês típico, não por acaso
amigo pessoal e adversário íntimo de Bernard Shaw; romancista, panfletário
e crítico espirituoso, mas, além disso, um poeta de importância.

Nota - Posição 65423

CHESTERTON

Destaque (azul) - Posição 65518

A atitude de Bunin2859, na Rússia, era semelhante, não apenas em relação


ao camponês primitivo, mas também quanto à civilização moderna que,
perdendo as tradições, perderia o sentido; O Senhor de São Francisco, a
aventura trágica de um materialista meio selvagem na floresta da civilização,
é obra de um Kinck russo. O poeta dessa resistência tradicionalista foi
Gumilov2860, um dos “akmeístas”, simbolistas que aspiravam a uma forma
mais precisa, mais clássica.

Nota - Posição 65523

GUMILOV

Destaque (azul) - Posição 65525

Não se desmobilizou depois da revolução de 1917; não dissimilou o seu


credo monarquista – caso raríssimo entre os intelectuais russos – e como
membro duma conspiração contrarrevolucionária foi fuzilado. Foi um
evasionista e um reacionário perfeito.

Destaque (azul) - Posição 65532

Entre os contemporâneos, só Conrad se parece um pouco com Gumilov.

Destaque (azul) - Posição 65543

Joseph Conrad2863 é um solitário no seu tempo e um solitário na grande


literatura inglesa: o polonês, filho de uma nação que mal conhece o mar,
tornou-se marinheiro, navegando pelos “seven seas” como capitão de

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modestos veleiros, navegação romântica na qual viu muita gente estranha e


portos remotos; aposentado antes do tempo, não quis que caísse no olvido o
que viu e ouviu, e começou a escrever romances em língua inglesa, para ele
uma língua estrangeira.

Nota - Posição 65544


JOSEPH CONRAD

Destaque (azul) - Posição 65580

O mar também está ausente, ou antes, só desempenha função marginal na


obra-prima de Conrad: Nostromo. É mais um romance “exótico” e o maior
de todos: a república latino-americana de Costaguana é um mundo completo
e o romance é o mais altamente organizado de toda a literatura inglesa, só
comparável, nesse sentido, a Madame Bovary, e às últimas obras de Thomas
Mann.

Destaque (azul) - Posição 65600

Toda a literatura tradicionalista é uma reação contra o primitivismo que


ameaça abolir os últimos restos de nobreza no mundo. Os personagens de
Conrad desmentem os de Baroja e Hamsun.

Destaque (azul) - Posição 65605

Os tradicionalistas, em vez de vencer o primitivismo, têm de enfrentar novos


primitivismos, cada vez mais perigosos. Em Conrad, tão nobremente leal à
Inglaterra, sente-se a oposição contra o nacionalismo, moral e
intelectualmente primitivo, do imperialista Kipling.

Destaque (azul) - Posição 65613

A literatura imperialista na Inglaterra não é obra de aristocratas: é obra de


jornalistas pequeno-burgueses e dos “service-classes”, oficiais e funcionários
da administração colonial.

Destaque (azul) - Posição 65632

Kipling2866 parece apresentar-se como num autorretrato num poema do


volume Barrack-Room Ballads, que imortalizou Tommy, o soldado inglês em

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serviço nas colônias:

Nota - Posição 65634


KIPLING

Destaque (azul) - Posição 65669

Em Kipling coexistem ideias confusas de “raça superior”, “eleição dos


anglo-saxões por Deus”, o Império como “burden of the white man”; é um
racismo primitivo de “a few very simple ideas”, sem a nobreza moral de
Conrad e sem possibilidade de sistematização; o empirismo inglês até
impede isso, assim como as leis inglesas continuam sem codificação. Já é
algo mais forte a base doutrinária do imperialismo norte-americano, da era
do presidente Theodore Roosevelt. Nota-se que o grande filósofo dessa era é
William James2867, cujo otimismo ativista “quand même” é um reflexo da
mentalidade dos pioneiros-democratas, já transformados em capitalistas e
conquistadores de monopólios.

Nota - Posição 65675

WILLIAM JAMES

Destaque (azul) - Posição 65676

James e Bergson eram os filósofos da burguesia do “equilíbrio” – da qual o


irmão, Henry James, é o romancista – e os dois juntos forneceram a base
filosófica do modernismo católico, quer dizer, do catolicismo transigente
com o “equilíbrio”. Por outro lado, o pragmatismo é a forma especificamente
americana do positivismo.

Nota - Posição 65678

PRAGMATISMO - POSITIVISMO

Destaque (azul) - Posição 65678

tornar-se-á nos Estados Unidos, como Dewey, a filosofia da democracia


progressista.

Destaque (azul) - Posição 65682

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O neonacionalismo francês – apelido que lhe convém para distingui-lo do


nacionalismo democrático dos jacobinos – tem uma pré-história
interessante2868; apenas, os “pré-historiadores” não deram a atenção devida
à distinção entre raízes “racistas” e raízes institucionalistas, “científicas”. As
mais das vezes, é Rivarol apontado como o primeiro e mais importante dos
precursores, o primeiro intelectual francês que assumiu uma atitude contra as
ideias revolucionárias. O outro precursor seria De Maistre, não do próprio
nacionalismo, mas do tradicionalismo, porque baseou a doutrina da
contrarrevolução nos ensinamentos da Igreja.

Destaque (azul) - Posição 65689

A doutrina nacionalista de Barrès é da mesma estirpe. De Maistre, porém,


procurava um sistema filosófico que garantisse as instituições contra o
arbítrio humano, e só encontrou sistema seguro na lei divina. A pré-história
do neonacionalismo francês consiste nas fases consecutivas da combinação
desses dois pensamentos, até a adoção do nacionalismo “racista” pelo
tradicionalismo institucionalista, no sistema de Maurras. A primeira fase da
evolução é representada por Augusto Comte. Uma época de liberalismo
indiscutido, Comte reconheceu2869 que a Revolução francesa tinha
destruído as corporações medievais sem substituí-las pela formação de outros
agrupamentos sociais.

Nota - Posição 65695

NEONACIONALISMO FRANCÊS

Destaque (azul) - Posição 65696

Para estudar a possibilidade da organização de novos grupos dentro da


sociedade, Comte sugeriu a análise dos agrupamentos sociais existentes;
nasceu assim a sociologia. Doutro lado, aquela descoberta implicou a atitude
contrarrevolucionária de Comte; foi então que, pela primeira vez no século
XIX, um grande intelectual francês se tornou contrarrevolucionário.
Acompanha-o Renan2870, escrevendo depois da catástrofe de 1870 a
Réforme intellectualle et morale, demonstrando a possibilidade de um
pensador ser radicalmente descrente e até anticristão e, no entanto,
contrarrevolucionário.

Nota - Posição 65697


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AUGUSTO COMTE - NASCIMENTO DA SOCIOLOGIA -


CONTRARREVOLUÇÃO ERNST RENAN

Destaque (azul) - Posição 65701

O problema muda de aspecto com a Cité antique (1864), de Fustel de


Coulanges2871, revelando a relação indissolúvel entre a constituição política
e o culto religioso da cidade grega; demonstrando que a vida da “Cidade” se
nutre de tradições espirituais e desaparece com elas; é nova advertência aos
intelectuais.

Nota - Posição 65705

FUSTEL DE COULANGES

Destaque (azul) - Posição 65705

Taine2872: o mal está nas próprias Origines de la France contemporaine.

Destaque (azul) - Posição 65726

Pela primeira vez desde a Revolução, grande parte dos intelectuais franceses
adere à Direita. Em 1899, fundam a associação “La Patrie Française”, e
Barrès anota no seu diário: “Tous les intellectuels ne sont pas d’un seul côté.”

Destaque (azul) - Posição 65730

Maurice Barrès2876 deixou riquíssimo documentário daquela época agitada


na qual ele mesmo desempenhou papel importante: já famoso como escritor,
tinha acompanhado os casos escandalosos de corrupção parlamentar; apoiara,
como jornalista e deputado, a política de golpe do Estado do general
Boulanger; foi figura de primeiro plano na época Dreyfus; depois levantou-se
como orador parlamentar contra a separação de Estado e Igreja.

Nota - Posição 65733

MAURICE BARRÈS - CONTRA SEPARAÇÃO DO ESTADO E IGREJA

Destaque (azul) - Posição 65791

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Maurras2877 não proclamou, como fizera Brunetière, a bancarrota da


ciência. Ao contrário, propôs aos católicos e a todos os tradicionalistas a
adoção das fórmulas exatas do positivismo de Comte; e assim prometeu
garantias para o Avenir de l’Intelligence.

Nota - Posição 65794

CHARLES MAURRAS - ANTIDEMOCRÁTICO

Destaque (azul) - Posição 65795

Na tentativa de uma edição das suas obras completas, Maurras abriu com
aquele panfleto antidemocrático o volume principal, intitulado Romantisme
et Révolution.

Destaque (azul) - Posição 65798

A democracia, governo da grande massa dos incultos e imbecis, é o inimigo


da Inteligência. Para salvar a Inteligência e garantir-lhe o futuro, é preciso
definir-lhe o papel na sociedade. Mas isso não é possível enquanto a vida
pública se rege por sentimentos generosos e utópicos em vez de pensamentos
realistas e realizáveis. A culpa é do romantismo, esse romantismo generoso e
utópico, que fez a revolução de 1848, mãe das barbáries socialistas; que
fizera a revolução de 1830, mãe das corrupções parlamentares; que fez a
revolução de 1789, mãe de todas as revoluções. Não é por acaso que essas
três revoluções estão acompanhadas da abolição gradual do estilo
especificamente francês em literatura e arte: do classicismo. O romantismo
político é obra de estrangeiros ou traidores, maçons, protestantes, judeus; o
romantismo literário é obra da mesma gente, encabeçada pelo estrangeiro
protestante Rousseau.

Nota - Posição 65804

VISÃO DE MAURRAS

Destaque (azul) - Posição 65813

Se a teoria da Action Française tivesse permanecido fantasia de um


esquisitão solitário, nem teria sido preciso resumi-la. Mas acontece que a
mocidade, a Inteligência, a Igreja, o exército e a burguesia da França

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aderiram à doutrina de Maurras, engolindo o muito que lhes devia repugnar:


a mocidade, o classicismo obsoleto: a Inteligência, o culto da Força física; a
Igreja, o positivismo ateísta; o exército, a aliança de literatos pretensiosos; e
a burguesia, o pseudo-aristocracismo desses jornalistas que em 1899
fundaram a Action Française,

Destaque (azul) - Posição 65864


Em terreno preparado pelo positivismo de Teófilo Braga, em Portugal, as
ideias de Maurras encontraram um propagandista em Antônio Sardinha2881,
poeta de ficção parnasiana e panfletário dos mais violentos. Fundou o
movimento do “integralismo” contrarrevolucionário e católico, com fortes
inclinações racistas. No Brasil, os movimentos da repercussão do
maurrassianismo eram principalmente literários:

Nota - Posição 65867

ANTÔNIO SARDINHA - POSITIVISMO PORTUGAL

Destaque (azul) - Posição 65944

a literatura italiana, já possuindo um Barrès, procurava o seu Maurras. Por


uma ironia da história, esse caminho foi aberto pelo filósofo Benedetto
Croce2892, que fora um dos maiores adversários do Barrès italiano e seria,
depois, o maior adversário dos muito pequenos Maurras italianos. Croce é,
antes de tudo, um grande liberal. Começou combatendo duramente o
marxismo, e terminou combatendo duramente o fascismo: é no terreno das
atividades intelectuais o maior adversário dos antiliberalismos.

Nota - Posição 65948

BENEDETTO CROCE

Destaque (azul) - Posição 65955

Seu ideal era clássico, goethiano; admirava a poesia viril de Carducci.


Submeteu todas as obras, inclusive a Divina Commedia, e os Canti, de
Leopardi, a um processo de rigorosa separação dos elementos poéticos e não
poéticos; a sua dialética hegeliana nem admitiu outro processo crítico.
Redescobriu o grande e então meio esquecido precursor da crítica hegeliana
na Itália, Francesco De Sanctis; e redescobriu, atrás dele, o maior filósofo
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italiano, Giambattista Vico. A teoria dos ricorsi foi então, por volta de 1910,
de surpreendente atualidade: ideias semelhantes foram defendidas por
George Sorel, que tinha muitos adeptos no sindicalismo italiano. O próprio
Croce manteve, durante anos, correspondência intensa com o teórico do
sindicalismo que será o precursor do fascismo.

Destaque (azul) - Posição 65963


Os objetos da polêmica de Croce foram o positivismo científico e o
liberalismo de feição jurídico-abstrata.

Destaque (azul) - Posição 65966

o historicismo de Croce, desvalorizando as abstrações do liberalismo,


contribuiu para preparar os caminhos da violência fascista. Mas o filósofo
passou, depois, durante a vida inteira, combatendo seus falsos discípulos e
opondo-se com a maior coragem cívica ao fascismo.

Nota - Posição 65968

FASCISMO

Destaque (azul) - Posição 66000

No princípio do século XX, uma vasta literatura de divulgação de


conhecimentos técnicos é acompanhada por outra literatura de glorificação
da técnica, prevendo progressos enormes e invenções transcendentais. O
modelo dessa literatura encontrou-se nos “romances de antecipação”, do
francês Jules Verne2897, literatura infantil, ingênua e simplista, logo
superada pelos progressos alcançados na realidade.

Nota - Posição 66004

JÚLIO VERNE

Destaque (azul) - Posição 66005

romance das utopias técnicas. Os contos policiais de Doyle2898 são mais do


que adaptações engenhosas da “tale of terror” ao ambiente técnico-científico
da cidade moderna.

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Destaque (azul) - Posição 66012


Deste modo, Doyle fez o contrário do que fez, ao mesmo tempo, Wells2899,
que empregou as “maravilhas da técnica” para ameaçar a ordem social
estabelecida, prevendo transformações utópicas pela máquina.

Nota - Posição 66014

H. G. WELLS

Destaque (azul) - Posição 66021

Wells um intelectual pequeno-burguês, indignado, revoltado e doutrinado


pela Fabian Society, zombando da ordem social estabelecida, contra a qual
lançou uma sátira das mais eficientes, Tono-Bungay. Assustou essa
sociedade, lançando-lhe profecias de invenções técnicas de consequências
revolucionárias, prevendo catástrofes cósmicas que são imagens de
revoluções sociais:

Destaque (azul) - Posição 66026

Wells não é um sonhador. Tem as suas convicções políticas cientificamente


fundamentais;

Destaque (azul) - Posição 66052

Shaw2901 nasceu no mesmo ano em que nasceu Oscar Wilde; tornou-se


socialista, membro da Fabian Society;

Nota - Posição 66054

BERNARD SHAW

Destaque (azul) - Posição 66092

O socialismo otimista de Shaw é uma das grandes correntes literárias do


século XX antes de 1914.

Destaque (azul) - Posição 66110

O otimismo social e técnico-científico é bem sintomático da euforia europeia


entre 1900 e 1910. Esse credo dominava sobretudo as nações germânicas às
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quais coubera o papel principal na industrialização do mundo – ingleses,


alemães, depois os americanos.

Destaque (azul) - Posição 66157


Com a boa raça e a boa técnica, os alemães esperavam conquistar o mundo;
lamentaram muitas vezes a falta de um Kipling alemão. Em vez disso,
lembraram-se sempre de Langbehn2910, o “Rembrandt-Deutsche”, que
advertira contra o artificialismo da civilização alemã, na qual o progresso
artístico e moral não correspondia aos progressos materiais. A Alemanha
industrializada era uma sociedade de capitalistas e operários, mas não uma
comunidade nacional. Daí os grandes progressos técnico-econômicos e a
falta de uma civilização. Os intelectuais, ligados à burguesia, não quiseram
ouvir as propostas dos socialistas para modificar essa situação. Mas seria,
talvez, possível remediar de outra maneira, menos revolucionária, a
organização infeliz da nação? Naumann2911, ex-pastor protestante, egresso
da Igreja oficial porque esta não admitiu as reformas sociais, fundara a
“Associação nacional-social”, partido cristão da esquerda, para “incorporar o
proletariado ao progresso da nação” e criar deste modo uma verdadeira e
completa comunidade nacional.

Nota - Posição 66166

PARTIDO CRISTÃO DE ESQUERDA

Destaque (azul) - Posição 66168

E por uma ironia trágica da história herdaram os nacional-socialistas o nome


da Associação nacional-social do esquerdista sincero Naumann.

Nota - Posição 66169

NACIONAL SOCIALISMO

Destaque (azul) - Posição 66169

na Alemanha ocidental existia um resto da burguesia do velho estilo, de


origem calvinista, e desse grupo saiu o sociólogo Max Weber2912, capaz,
talvez por isso, de descobrir o laço histórico entre o capitalismo e o
calvinismo.

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Nota - Posição 66171


MAX WEBER

Destaque (azul) - Posição 66172

Estudando o sistema latifundiário na Roma antiga, Weber pensou na


resistência dos latifundiários prussianos contra reformas sociais; estudando
os profetas do Velho Testamento, que advertiram contra a idolatria dos reis,
Weber pensou na Inteligência alemã, sucumbindo ao poder da centralização
burocrática; estudando as relações entre economia e religião, chegou Weber a
descobrir a raiz da separação entre Sociedade e Comunidade; à Alemanha do
Kaiser faltava o charisma religioso; em vez de um chefe profético, só tinha
um déspota burocrático.

Destaque (azul) - Posição 66185

A juventude alemã, antes de 1914, era extremamente inquieta. Pretendeu


emancipar-se da tutela dos adultos, fundando a associação
“Wandervogel”2914, na qual os estudantes da classe média levaram uma
vida livre, de excursões, adorando a natureza primitiva como fizeram os
jovens do “Sturm und Drang”. O “Wandervogel” foi a escola de formação de
muitos futuros nacional-socialistas. Mas nesses círculos agitados também se
descobriu o sentido dionisíaco da poesia então quase esquecida de Hölderlin,
ao mesmo tempo em que George e os seus discípulos descobriram o
verdadeiro clássico Hölderlin. E havia mais outro ponto de contato: o
homossexualismo, que desempenhou papel grande e funesto no
“Wandervogel”, tampouco estava desconhecido no “Círculo” de George. Em
1905, publicando no volume Zeitgenössische Dichter (Poemas
Contemporâneos), as suas traduções de Baudelaire, Mallarmé, Verlaine e
outros simbolistas, Stefan George2915 encerrou a fase propriamente
simbolista da sua vida poética.

Nota - Posição 66195

STEFAN GEORGE - NACIONAL SOCIALISMO

Destaque (azul) - Posição 66214

A nova poesia de George é classicista, e isso determina-lhe a posição dentro


da literatura europeia moderna: é a poesia mais clássica que se escreveu na
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Europa do século XX, com todas as qualidades e defeitos que essa definição
inclui.

Destaque (azul) - Posição 66227


Depois, no volume Das Neue Reich (O Novo Império), George evocou os
horrores da guerra, as humilhações da derrota, os “tesouros secretos” da
“Alemanha secreta”, consolando os vencidos e profetizando-lhes a
ressurreição nacional; profetizou o advento do “homem que quebrará as
cadeias, restabelecerá a Ordem, castigará os desertores... renovando a
disciplina, colocando o símbolo verdadeiro na bandeira da nação...”, do
“Novo Império”: É uma profecia surpreendente, até literal, do nacional-
socialismo.

Nota - Posição 66232

PROFETA DO NAZISMO

Destaque (azul) - Posição 66240

O “Kreis”, de George, desempenhava, entre 1900 e 1930, papel


importantíssimo na história intelectual da Alemanha2916. Foi preciso
transformar em realidade a magia poética; e assim o “simbolismo mágico”
tornou-se influência social. Os discípulos conquistaram sistematicamente os
lugares principais nas revistas literárias e em muitas casas editoras; depois de
1918, conquistaram, agindo como uma maçonaria, as cátedras de história
literária nas Universidades alemãs. Exerceram influência imensa no sentido
de elevar o nível da expressão verbal e da crítica, tornando-se mais digna a
vida literária. Depois, foram acusados de terem preparado, espiritualmente, o
terreno para o nacional-socialismo, sobretudo entre os estudantes.

Destaque (azul) - Posição 66253

Os nacional-socialistas entre os “georgianos” não eram, na maior parte,


membros do “Kreis”, mas apenas simpatizantes, adeptos de fora.

Destaque (azul) - Posição 66257

Em geral, pode-se afirmar que com a ascensão de Hitler ao poder, em 1933, o


papel do “Kreis” acabou. A maior parte dos “georgianos” preferiu emigrar;

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os últimos membros do “Kreis”, envolvidos na conspiração anti-hitlerista de


20 de julho de 1944, morreram fuzilados ou enforcados.

Destaque (azul) - Posição 66485


Marcel Proust2938

Nota - Posição 66485

MARCEL PROUST

Destaque (azul) - Posição 66507

A obra de Proust, descrevendo a história da alta sociedade francesa entre


1880 e 1910, seria o panorama da luta de classes entre a aristocracia e a
burguesia. Mas Proust, armado da imparcialidade do artista autêntico, seria
um novo Cervantes, idealizando poeticamente a velha sociedade e
satirizando-a ao mesmo tempo:

Destaque (azul) - Posição 66538

Todos os personagens de À la recherche du temps perdu são projeções da


alma do artista Proust que sonha; e, como sempre acontece no sonho,
aparecem entre os desejos e receios personificados os “resíduos do dia
anterior”, quer dizer, restos memorados do único mundo real que o pobre
doente conhecera nos “anos anteriores”.

Destaque (azul) - Posição 66543

É o primeiro romancista autenticamente simbolista. Mas não o simbolismo


de 1890, dos dias em que Proust frequentava a “alta sociedade”, e sim o
simbolismo de 1910, dos dias quando Proust inventou uma “alta sociedade”:
o “simbolismo mágico”.

Destaque (azul) - Posição 66602

A ficção realista-naturalista é a grande tradição da literatura russa do século


XIX. O esgotamento dessa tradição entre 1890 e 1900, refletindo-se nas
últimas obras propagandísticas de Tolstoi e no decadentismo de Tchekhov,
antecipa quase profeticamente o fracasso da revolução de 1905, que foi o
termo de um século de agitação revolucionária e de “literatura de acusação”.
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Os intelectuais já não tomaram parte decisiva naquela revolução; tornaram-se


poetas, simbolistas; e publicarão, poucos anos depois, os Marcos. É a
separação definitiva entre o naturalismo “nacional” e o simbolismo
“estrangeiro”, adjetivos que se justificam, embora o naturalismo russo tenha
sempre imitado modelos europeus e o simbolismo russo se tenha vestido de
trajes bizantino-eslavos. A inversão desse processo, criando com
instrumentos estilísticos do simbolismo um naturalismo todo nacional, é a
obra de Gorki2948. Não lhe convém título menor do que o de salvador da
literatura russa, que, sem a sua atuação, mal teria sobrevivido à tempestade
da revolução seguinte.

Nota - Posição 66608


GORKI

Destaque (azul) - Posição 66630

Uma massa humana, que até então só fora considerada fundamento imóvel
da hierarquia social, revelou-se em movimento e agitação; o nomadismo do
jovem Gorki é expressão disso. O homem russo, sofredor passivo desde os
começos da grande literatura realista, ainda sofredor passivo em Tchekhov,
torna-se, em Gorki, ativo. É o fim definitivo dos “homens inúteis”, dos
“homens supérfluos” de Puchkin, Turgeniev e Gontcharov, representantes da
“literatura dos senhores rurais”.

Destaque (azul) - Posição 66637

Como todos os pré-românticos, Gorki é um primitivista, enquadrando-se bem


no movimento primitivista e populista do princípio do século; mas com
certas diferenças significativas. Está longe da brutalidade individualista de
Hamsun.

Destaque (azul) - Posição 66647

Gorki tomou parte ativa, em lugar destacado, na revolução de 1905. E depois


do malogro dessa revolução, não desesperava; escreveu o grande romance da
revolução, A Mãe, em que as ideias marxistas se servem da forma novelística
de Tolstoi.

Destaque (azul) - Posição 66650

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A Mãe saiu imediatamente antes dos Marcos. É a obra de oposição aos


intelectuais, então “sailing to Byzantium”.

Destaque (azul) - Posição 66653

Peças como Os pequenos-burgueses e Os inimigos eram verdadeiras


declarações de guerra.

Destaque (azul) - Posição 66859

Algo como o Moody da prosa, com qualidades artísticas bem menores, seria
Winston Churchill2955, que se tornara famoso com três romances históricos
sobre momentos decisivos na evolução dos Estados Unidos.

Destaque (azul) - Posição 67032

um grande romancista, dedicado à sátira social contra um ambiente


incompreensivo. É o brasileiro Lima Barreto2976.

Nota - Posição 67033

LIMA BARRETO

Destaque (azul) - Posição 67035

Lima Barreto é, como seus contemporâneos nos Estados Unidos, um repórter


letrado; é, como eles, socialista de temperamento anarquista; é um revoltado
contra a ditadura literária do parnasianismo acadêmico, que corresponde, no
caso, à “genteel tradition” norte-americana.

Destaque (azul) - Posição 67041

Enfim, o romancista brasileiro deve parte das suas qualidades àquilo que foi
a desgraça da sua vida: a boêmia. Lima Barreto é precursor do modernismo
brasileiro que se revoltará em 1922, no ano da morte do romancista. Pois a
boêmia é, no princípio do século XX, o núcleo inicial das revoltas literárias.

Destaque (azul) - Posição 67073

“America’s Coming of Age” a frase tinha vários sentidos, entre outros o de


que acabara a época do individualismo econômico dos pioneiros, iniciando a
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era das lutas de classe. Em 1911, Piet Vlag fundou a revista socialista
Masses, da qual se dizia que as massas não a leram porque o socialismo
ideologicamente pouco seguro dos colaboradores se dirigiu antes aos
boêmios sofisticados. É a revista para a qual o grande jornalista John
Reed2981 escreveu a célebre reportagem Dez dias que abalaram o mundo,
sobre a revolução bolchevista de 1917.

Nota - Posição 67078


JOHN REED

Destaque (azul) - Posição 67591

2763 Thomas Mann, 1875-1955.

Destaque (azul) - Posição 67707

2770 Jakob Wassermann, 1873-1934.

Destaque (azul) - Posição 68715

2881 Antônio Sardinha, 1888-1925.

Destaque (azul) - Posição 68753

2892 Benedetto Croce, 1866-1952.

Destaque (azul) - Posição 68809

2897 Jules Verne, 1828-1905.

Destaque (azul) - Posição 68825

2899 Herbert George Wells, 1866-1946.

Destaque (azul) - Posição 68850

2901 George Bernard Shaw, 1856-1950.

Destaque (azul) - Posição 69235

2938 Marcel Proust, 1871-1922.


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Destaque (azul) - Posição 69463


2953 Heinrich Mann, 1871-1950.

Destaque (azul) - Posição 69496

2955 Winston Churchill, 1871-1947.

Capítulo I AS REVOLTAS MODERNISTAS


Destaque (azul) - Posição 69715

O CONSENSO geral aponta o ano de 1914 como o verdadeiro fim do século


XIX. Quanto à literatura, evidentemente não é possível indicar data tão exata.

Destaque (azul) - Posição 69718

a “nova literatura”, a que em geral é chamada “modernismo”, já apareceu


antes da Primeira Grande Guerra, entre 1905 e 1910.

Destaque (azul) - Posição 69721

Trata-se, pois, de um prazo de incubação que vai de entre 1905 e 1910 até
1914 e 1918, tendo a revolução literária coincidido com importantes
acontecimentos e modificações na estrutura política e social do mundo. A
guerra de 1914/1918 está no centro desses acontecimentos, entre as crises
marroquina e balcânica, de um lado, a revolução russa e a revolta do
fascismo italiano, do outro.

Destaque (azul) - Posição 69734

A verdadeira “literatura da guerra de 1914” não começará a aparecer antes de


1928, um decênio depois do armistício. O que havia antes, entre 1914 e
1918, em matéria de literatura de guerra, é uma espécie de reflexo
condicionado.

Destaque (azul) - Posição 69746

Na verdade, Dada é a forma mais coerente do modernismo da época entre


1905 e 1925; é tão radical porque significa o momento em que o modernismo

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se encontrou com a realidade. A realidade era o corpo social dominado pelo


imperialismo, com todas as suas consequências.

Nota - Posição 69747


DADAÍSMO

Destaque (azul) - Posição 69749

Existem várias teorias, destinadas a esclarecer o fenômeno do


imperialismo2985; a teoria econômica de Lenin; a teoria política de
Spengler; a teoria psicológica de Arthur Salz,

Destaque (azul) - Posição 69761

Para definir a vanguarda modernista falta mais um elemento; e este pode ser
fornecido pelo papel que o imperialismo desempenhou depois de 1905 e
1914: rompeu o famoso Equilíbrio europeu, o político, o econômico, o
social, e, enfim, o equilíbrio espiritual em que se baseava a literatura de
1900.

Destaque (azul) - Posição 69769

A evolução do estilo modernista obedeceu a leis autônomas, independentes


da realidade social.

Destaque (azul) - Posição 69772

Por isso, o modernismo nasceu fora da vida literária reconhecida pelo


público e pelos poderes estabelecidos;

Destaque (azul) - Posição 69774

Nasceu dentro de uma boêmia que, ela mesma, não era modernista.

Destaque (azul) - Posição 69775

A mais antiga dessas boêmias pré-modernistas foi a boêmia alemã em


Munique, cidade dos pintores – a relação com a pintura será característica do
modernismo literário.

Destaque (azul) - Posição 69858


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A maior figura da “boêmia” pré-modernista alemã foi Hermann Hesse2991,


embora os admiradores da sua poesia lírica não quisessem concordar com
essa classificação.

Destaque (azul) - Posição 69885

e, enfim, depois da castástrofe da Segunda Guerra, na maior das suas obras,


Das Glasperlenspiel (O Jogo das Pérolas de Vidro). É o romance utópico da
salvação do Espírito numa “província pedagógica” (o tempo é de Goethe),
numa ilha no meio do mar da destruição e barbárie; um pendant positivo do
Doktor Faustus, de Thomas Mann, inspirado, como este, pela religião da
música. Pois Hesse não tem outra religião. É anticristão decidido; mas não
tem nada de nietzschiano; é um humanitário, um coração generoso; e
encontrou, depois de 1960, uma surpreendente repercussão internacional.

Destaque (azul) - Posição 70153

É preciso acrescentar: se o movimento modernista acabasse em 1910, a


história literária tampouco tomaria conhecimento dele; tão insignificante foi,
até então, o resultado. Muita gente não sabia nem sequer da existência
daquela vanguarda. A grande publicidade veio por meio de uma espécie de
invasão estrangeira, a irrupção em Paris de outro movimento, não idêntico,
embora paralelo: o futurismo3005. Este também estava ligado às artes
plásticas; assistiram ao seu nascimento os pintores Umberto Boccioni e Gino
Severini. Paris, a capital internacional da pintura, atraiu-os fatalmente; e a
eles associou-se um escritor italiano malogrado, que acreditava obter
repercussão maior escrevendo em francês: Marinetti.

Nota - Posição 70158

FUTURISMO

Destaque (azul) - Posição 70162

O futurismo era, no entanto, um movimento especificamente italiano: partiu


do nacionalismo –

Destaque (azul) - Posição 70172

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Essa combinação de romantismo e tecnicismo garantiu ao futurismo de


Marinetti a repercussão internacional: correspondia à psicologia da nova
classe média, desejosa de romantizar a sua situação pouco edificante de
auxiliar-técnico do grande capitalismo; e esse romantismo invadirá a política,
transformando os futuristas em fascistas. Pois a campanha dos comícios
futuristas, que começou em 1910 no Teatro Lírico em Milão, continuando em
Nápoles, Turim, Palermo e Ferrara, conquistando a mocidade toda, levou
diretamente à campanha, em 1915, pró-intervenção da Itália na Primeira
Guerra Mundial, contra a vontade do Parlamento italiano; e entre os chefes
desse intervencionismo esteve o socialista-futurista Mussolini.

Nota - Posição 70174

FUTURISMO - FASCISMO

Destaque (azul) - Posição 70177

Marinetti3006 prejudicava-se a si mesmo pelas atitudes de palhaço e, depois,


pela arrogância fascista.

Nota - Posição 70178

MARINETTI

Destaque (azul) - Posição 70234

Apollinaire3016 é o maior poeta modernista, um dos maiores poetas de todos


os tempos.

Nota - Posição 70236

APOLLINAIRE

Destaque (azul) - Posição 70768

O expressionismo alemão3052 tornou-se conhecido no mundo depois de


1918, quando os seus adeptos agiram como propagandistas da revolução
republicana e socialista na Alemanha. Na verdade, o expressionismo é de
1910, é o contemporâneo e equivalente germânico do modernismo francês;
mas também é verdade que a sua feição era, de início, revolucionária,
embora se combinassem, de maneira confusa, revolução literária, revolução
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político-social e revolução religiosa. O movimento dará frutos dos mais


divergentes: expressionismo poético, que é, aliás, perfeitamente compatível
com niilismo e reação política (Benn); expressionismo proletário e socialista
(Leonhard Frank); expressionismo metafísico-religioso (Kafka).

Nota - Posição 70774


EXPRESSIONISMO

Destaque (azul) - Posição 70783

A revista Die Aktion (A Ação), foi fundada em 1910 por Franz Pfemfert,
sindicalista revolucionário, um dos mais destemidos lutadores contra o
militarismo prussiano; e a sua ação política terá, em 1914 e 1918, tudo o que
não era epígono.

Destaque (azul) - Posição 70889

Franz Kafka3069 era quase totalmente desconhecido no momento da sua


morte, e suas obras editadas postumamente por seu amigo Brod, contra a
expressa vontade testamentária do autor, ficaram sem ressonância.

Nota - Posição 70891

FRANZ KAFKA

Destaque (azul) - Posição 70893

Pode Kafka ser chamado de expressionista? Só o justificariam as suas


relações pessoais com alguns membros daquele movimento, seu vivo
interesse pelas questões religiosas e, sobretudo, o caráter aparentemente
alógico da sua arte.

Destaque (azul) - Posição 70905

Quando muito, Kafka é um judeu “herético”, que fica às portas da doutrina


cristã incapaz de entrar. Seu estudo permanente dos escritos de Pascal e
Kierkegaard confirma essa tese: Kafka vai além do judaísmo, admitindo os
dogmas do pecado original e da Graça; mas, incapaz de verificá-lo por
experiência íntima, inverte-os, criando um Universo dominado por forças
demoníacas que criam o pecado e negam a Graça.
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Destaque (azul) - Posição 70919


Kafka apresenta possibilidades de comportamento humano e estruturas
possíveis de vida num mundo que parece misterioso e absurdo porque a
estrutura desse mundo é, por sua vez, hostil realização de uma vida
estruturada; o “inefável” é símbolo de um “irrealizável”, da integridade
moral da personalidade humana. A Lei não pode ser cumprida: somos
fatalmente culpados e fatalmente condenados.

Destaque (azul) - Posição 70924

Eis o assunto das “parábolas” de Kafka. Seus romances, também, são


grandes parábolas. É, em toda a literatura universal, um dos maiores
criadores de símbolos.

Destaque (azul) - Posição 70933

Companheiro verdadeiro de Kafka foi o suíço Robert Walser3071: seus


romances também são aparentemente realistas, escondendo, atrás de um
estilo que lembra Gottfried Keller, ideias “gerais”: em Der Gehilfe (O
Auxiliar), a decadência moral da época; em Jakob von Gunten, a educação
para uma moralidade profundamente religiosa

Nota - Posição 70937

ROBERT WALSER

Destaque (azul) - Posição 70938

O outro “contemporâneo”, mais remoto, de Kafka é Bruno Schulz3072,


judeu polonês, vítima do nazismo, cujas novelas fantástico-alegóricas só uns
decênios depois começaram a prender a atenção do mundo.

Destaque (azul) - Posição 71094

A Primeira Guerra Mundial, de 1914 a 1918, exerceu influência profunda


sobre a literatura; mas a “literatura de guerra”, no sentido de uma expressão
nova de uma experiência nova, não surgiu antes de 1928 ou 1929; quer dizer,
quando novas catástrofes de espécie diferente, econômico-sociais, ensinaram
nova compreensão daquele grande acontecimento militar, já meio esquecido
durante anos de euforia. Entre 1914 e 1918 a guerra aparece na literatura só
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como assunto, mas sem produzir, na literatura, soluções novas. Costuma-se


dizer que 1914 foi o verdadeiro fim do século XIX; pelo menos com respeito
à história literária, é certo; enquanto não se prefere indicar o ano de 1918.

Destaque (azul) - Posição 71124


O pendant humorístico, genialmente humorístico, é o “soldado Švejk”, de
Hašek3088: o soldado checo, o anti-herói, forçado a servir no exército
austríaco contra os irmãos eslavos, ilude os oficiais, fingindo-se idiota; e
como idiota pode dizer, com a cara mais ingênua, verdades subversivas,
enquanto pagando a franqueza pela humilhação sem vergonha. É a epopeia
picaresca da guerra e uma das grandes obras satíricas da literatura universal,
muito lida mas ainda não bastante apreciada.

Nota - Posição 71129

O BOM SOLDADO SVJEK

Destaque (azul) - Posição 71175

Revolução completa só houve na Rússia; e só em consequência da revolução


russa transformou-se a derrota militar e política da Alemanha em 1918 em
revolução política, incompleta. Dos expressionistas alemães, poucos
participaram diretamente da revolução; e destes, só alguns chegaram a aderir
ao comunismo. Mas quase todos os expressionistas acompanharam a
agitação revolucionária, durante os últimos anos da guerra e depois, com
manifestos, programas, dramas, romances, poemas de conteúdo ideológico;
apenas a ideologia não era muito clara, oscilando entre humanitarismo
democrático, revolta social e angústia religiosa. Esses fatos demonstram bem
que o expressionismo, a forma alemã do modernismo, não estava realmente
ligado à evolução social; só obedeceu a imposições irresistíveis, das quais
uma das mais fortes era a notícia emocionante da revolução russa. Tratar a
literatura da revolução russa antes de tratar a literatura do expressionismo
revolucionário significa quebra violenta da ordem cronológica. Pois aquelas
obras russas, embora inspiradas pelos acontecimentos de 1917, 1918, 1919,
só em parte foram escritas naquele tempo, mas em parte mais tarde, e até
algumas muito mais tarde; ao passo que o expressionismo revolucionário
alemão, tendo começado antes, acabara mais ou menos em 1920, deixando
como sucessores só alguns escritores comunistas.

Nota - Posição 71185


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IMPORTANTE: EXPRESSIONISMO ALEMÃO PRIMEIRO E SÓ DEPOIS


TRATAR DA LITERATURA DA REVOLUÇÃO RUSSA

Destaque (azul) - Posição 71190

Estabeleceram-se3094 três fases da evolução literária da Rússia


revolucionária.

Destaque (azul) - Posição 71195

Entre os escritores russos da geração precedente, só um, Aleksei


Nikolaievitch Tolstoi3095, conseguiu aderir à revolução sem mudar de estilo;
porque era um escritor versátil, capaz de aderir sem desmentir o seu passado
e, no entanto, sem mentir.

Nota - Posição 71198

ALEKSEI TOLSTOI

Destaque (azul) - Posição 71199

A obra perfeita é o romance histórico Pedro, o Grande: pode passar por uma
das obras capitais do realismo socialista.

Destaque (azul) - Posição 71216

Entre os “irmãos de Serapion”, parece que só um chegou a realizações


maduras, o romancista Fedin3100, cujo tema é a contradição entre
sentimentos revolucionários e dúvidas intelectuais, tormenta dos pós-
simbolistas de Petersburgo. Na sua obra-prima Cidades e Anos, Fedin
retratou esse conflito, usando a técnica novelística de Conrad, quebrando a
cronologia dos acontecimentos narrados. É a obra literariamente mais
avançada que se escreveu na Rússia depois de 1917.

Nota - Posição 71220

KONSTANTIN FEDIN

Destaque (azul) - Posição 71225

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Colocados entre ativismo e fatalismo, nenhum deles tentou a representação


do conflito de maneira dramática; antes diluem os enredos, procurando a
solução numa forma que se aproxima da epopeia. Vasely3101, cujo grande
romance épico Rússia Lavada em Sangue não apareceu antes de 1932 em
forma definitiva, embora já fosse redigido por volta de 1923, é um espírito
anarquista, usando a linguagem arcaica de Lesskov, construindo seus
capítulos como se fossem poemas.

Nota - Posição 71229

RÚSSIA LAVADA EM SANGUE

Destaque (azul) - Posição 71229

quanto ao conjunto, não precisa de outro princípio construtor do que do


horror monótono da guerra civil como de um leitmotiv, e de nenhuma outra
unidade do que da geográfica dos acontecimentos: Cáucaso setentrional e
vale do Volga.

Destaque (azul) - Posição 71231

Neverov3102 não precisava de outro impulso do que do sonho dos


refugiados famintos, de encontrar pão em Tachkent, Cidade Cheia de Pão; e
saiu algo como uma epopeia. Como numerosos fragmentos duma epopeia
despedaçada parecem os contos de Babel3103, judeu de Odessa, misturando,
com arte aprendida em Lesskov, os dialetos e gírias de toda essa gente do sul
da Rússia, judeus, cossacos, poloneses, estivadores, criminosos, camponeses,
ladrões e revolucionários, conseguindo transfigurações do horror pela frieza
de quem já não se admira de nada. É o olho míope do intelectual, discípulo
consciente de Maupassant, examinando de perto as chagas sangrentas
infligidas às criaturas humanas e aos bichos pela terrível brutalidade da
guerra civil; é o olho aparentemente insensível do artista que contempla as
ruínas de cidades e casas destruídas como se os destroços fossem elementos
cúbicos de um quadro moderno. Babel aceita tudo isso friamente; e foi
justamente por causa desse fatalismo que os stalinistas

Nota - Posição 71234

ALEXANDER NEVEROV CÁUCASO SETENTRIONAL E VALE DO


VOLGA ISAAC BABEL
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Destaque (azul) - Posição 71244


Francamente oposicionista foi Bulgakov3104, ucraniano como o judeu
Babel, mas de família aristocrática.

Nota - Posição 71245

MIKHAIL BULGAKOV O LIVRO "O MESTRE E MARGARIDA"


INSPIROU A MÚSICA "SIMPATHY FOR THE DEVIL"

Destaque (azul) - Posição 71246

No romance A Guarda Branca apresentou os contrarrevolucionários com


evidente simpatia, assim como a família burguesa Turbin, de Kiev, cujo
trágico destino e fim é o assunto dos dois outros romances de Bulgakov.

Destaque (azul) - Posição 71250

O último desses oposicionistas foi Oliecha3105. No seu muito discutido


romance Inveja apresentou, em linguagem artisticamente elaborada, novos
“homens inúteis”: agora, não são os latifundiários que sentem remorsos,
como em Puchkin e Turgeniev, mas os sentimentais, os poetas e outros
inadaptados às exigências de trabalho prosaico e eficiente na Rússia
revolucionária industrializada.

Nota - Posição 71250

OLIECHA

Destaque (azul) - Posição 71257

Em outras literaturas eslavas ou vizinhas da Rússia a Primeira Guerra


Mundial inspirou algumas poucas obras de ficção semelhantes: o romano
Rebreanu3107 descreveu, na Floresta dos Enforcados, com frieza
“babeliana”, a dolorosa história da decomposição do exército austríaco no
fim da guerra, um dos melhores romances de guerra que existem.

Nota - Posição 71261

REBREANU

Destaque (azul) - Posição 71306


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Realmente, impressionaram a todos, sobretudo na França e Itália; mas em


nenhuma parte mais do que na Alemanha, já perto da derrota. Poucos
estavam preparados. Até os socialistas, que em agosto de 1914 aderiram à
política do Kaiser, não eram capazes de acreditar na catástrofe do poderoso
Estado que tanto os perseguira. Um grupo de intelectuais, muitos entre eles
judeus, opôs a primeira resistência ao militarismo. A revolução política
começou na literatura.

Nota - Posição 71310

INTELECTUAIS JUDEUS SE OPÕEM AO MILITARISMO ALEMÃO


DURANTE A GUERRA

Destaque (azul) - Posição 71314

o ativismo, proposto a uma nação derrotada e faminta, malogrará, acabando


em fatalismo e desespero.

Destaque (azul) - Posição 71324

O sucesso propagandístico coube a Hasenclever3113, muito mais superficial


como homem e muito mais hábil como dramaturgo.

Nota - Posição 71324

HASENCLEVER

Destaque (azul) - Posição 71327

A Antigone de Hasenclever é uma versão livre e eficiente da tragédia de


Sófocles: o conflito entre a lei do Estado e a lei divina era atual; e o
personagem de Creon prestou-se para aludir ao Kaiser Guilherme II,
despótico, teimoso e cego até a catástrofe.

Destaque (azul) - Posição 71330

O autêntico dramaturgo político foi Toller3114, revolucionário idealista


como Landauer, a cujo lado lutou na revolução malograda de Munique em
1919. Só depois o anarquista-pacifista Toller compreendeu o socialismo,
tentando então apresentar a “multidão humana”, a “Masse Mensch”, no
palco.
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Nota - Posição 71333


ERNST TOLLER - IMPORTANTE

Destaque (azul) - Posição 71690

Em circunstâncias muito mais desfavoráveis nasceu o modernismo


brasileiro3165.

Destaque (azul) - Posição 71699

O chefe foi Mário de Andrade3167: poeta experimental e prosador


experimental, sabia conquistar a nova geração inteira e imprimir unidade à
mistura de tendências que se reuniram no seu movimento –

Destaque (azul) - Posição 71703

Sua influência enorme só diminuiu, mais tarde, pela ascensão póstuma de


Oswald de Andrade3168, em cujas obras se destaca mais o protesto social.
Pelo modernismo passou Manuel Bandeira3169, antigo simbolista,
romântico nato e poeta moderno.

Nota - Posição 71706

MANUEL BANDEIRA

Destaque (azul) - Posição 71853

O mestre desse gênero menor é Stefan Zweig3181, que também aplicou


psicanálise em contos bem arquitetados.

Nota - Posição 71854

STEFAN ZWEIG

Destaque (azul) - Posição 71886

A imensa força construtiva de Joyce3187 é a primeira qualidade desse


escritor que os seus contemporâneos consideravam como espírito destrutivo;

Destaque (azul) - Posição 71890

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Os contos do volume Dubliners são de um naturalismo impiedoso: retrato


cruel da realidade, de uma Dublin diferente da Dublin fantástica de Yeats e
O’Casey.

Destaque (azul) - Posição 71893

Se esse naturalista não podia aceitar a realidade da Irlanda, então devia


rejeitá-la com violência; e isso aconteceu no romance autobiográfico. A
Portrait of The Artist as a Young Man, narrado com sutil arte simbolista, mas
com tanta violência contra os jesuítas e o catolicismo irlandês que a obra só
podia ser publicada depois de Joyce ter saído do país, vivendo no estrangeiro
como outlaw.

Destaque (azul) - Posição 71901

A verdade de Dubliners e a verdade do Portrait of the Artist as a Young Man


superpostas deram Ulysses, a obra de arte mais pessoal que existe, composta
só de reminiscências;

Destaque (azul) - Posição 71921

Joyce é o Dante anticatólico do século XX. Edmund Wilson chamou a


atenção para a grandiosa poesia noturna das cenas no hospital e no bordel.
Ulisses inteiro é um “Inferno”.

Destaque (azul) - Posição 71928

Em Joyce, as duas grandes correntes da literatura moderna, o naturalismo e o


simbolismo, aparecem numa síntese nova.

Destaque (azul) - Posição 71981

Pirandello3191 já tinha mais de cinquenta anos de idade quando, por volta de


1920, as suas peças apareceram nos teatros de Paris, conseguindo sucesso
internacional. Mas

Nota - Posição 71983

PIRANDELLO

Destaque (azul) - Posição 71990


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O problema de Pirandello é o de um homem que não está em casa em sua


própria casa; assim como a Sicília não fora capaz de adaptar-se às novas
condições de vida na Itália unificada de 1861. Eis o problema do romance Il
fu Mattia Pascal, atrás de cujo psicologismo sutil se esconde o desejo de
“começar uma nova vida”, quer dizer, voltar à vida primitiva da ilha arcaica.
Numa produção imensa de novelas e contos, mais tarde reagrupados na
coleção Novelle per un anno, Pirandello submeteu a vida italiana do seu
tempo a uma crítica implacável do ponto de vista siciliano. Não é crítica
social, mas crítica ontológica: se a Sicília é real, então a Itália é irreal; como
todas as conclusões.

Destaque (azul) - Posição 72061

Virginia Woolf3200 era a encarnação desse binômio, embora só mais tarde


ou só indiretamente influenciada por aqueles dois escritores. Em vez de
“Joyce-Proust” seria mais justo dizer, no caso de Virginia Woolf, “Henry
James-Katherine Mansfield”.

Nota - Posição 72063

VIRGINIA WOLF

Destaque (azul) - Posição 72075

Virginia Woolf, no seu círculo de intelectuais sofisticados3201, dos “high


brow” do bairro londrino de Bloomsbury, fez parte da primeira Intelligentzia
que surgiu na Inglaterra conservadora imediatamente depois do armistício,
junto com o enfraquecimento da moral puritana, a discussão pública de
problemas sexuais, a adoção de novos costumes pela mocidade; o que se
chamava “época do jazz” ou do fox-trot.

Destaque (azul) - Posição 72100

Aldous Huxley3204. Há cinquenta anos, Huxley foi um dos romancistas


mais famosos da literatura universal. Comparavam-no a Proust e Gide.

Nota - Posição 72102

ALDOUS HUXLEY

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Destaque (azul) - Posição 72105


Nos romances de Huxley fala-se muito sobre tudo o que há e não há entre o
Céu e a Terra, especialmente sobre literatura;

Destaque (azul) - Posição 72151

Scott Fitzgerald3211. Este, sim, foi grande escritor, dono daquela coisa rara
que é um estilo inteiramente pessoal.

Nota - Posição 72152

FITZGERALD

Destaque (azul) - Posição 72297

Cummings é como um personagem de The Sun Also Rises, de


Hemingway3224, ao qual Gertrude Stein dissera solenemente: “You are all a
lost generation.”

Nota - Posição 72299

ERNST HEMINGWAY

Destaque (azul) - Posição 72316

Já atrás das orgias absurdas dos americanos exilados em Paris, em The Sun
Also Rises, aparece a sombra assustadora; A Farewell to Arms é a epopeia da
morte sem glória; Death in the Afternoon é o cântico da morte absurda, na
“Plaza de Toros”; enfim, em For Whom the Bell Tolls a morte tem sentido:
“It tolls for thee.”

Destaque (azul) - Posição 72380

Esse pessimismo estava no ar quando Eliot escreveu The Waste Land. A


guerra deixara a impressão duma catástrofe irremediável; o progressismo
eufórico de antes de 1914 estava profundamente desmoralizado, e muita
gente preferiu, como mais verdadeira, a visão duma corrida para o fim.

Destaque (azul) - Posição 72386

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Spengler3227 concebeu, sob a impressão da decadência do poder alemão, a


sua grandiosa visão do nascimento, auge e fim fatal das civilizações,
repetindo-se a história de maneira sinistra; terminou o Untergang des
Abendlands (O declínio do Ocidente) depois da derrota do Reich.

Nota - Posição 72389

OSWALD SPENGLER

Destaque (azul) - Posição 72437

T. S. Eliot3234 é um dos poetas mais discutidos da nossa época. Presta-se


para discussões a sua poesia hermética, objeto das artes interpretativas mais
engenhosas; e a sua crítica, tão radical no sentido literário e tão reacionária
no sentido político, não deixa dormir a direita e a esquerda. Na

Nota - Posição 72440

T.S. ELIOT

Destaque (azul) - Posição 72467

Com Eliot, a poesia voltou a ser digna de ser feita por homens e lida por
homens. Desde Eliot, a poesia voltou a ser um poder na vida espiritual do
tempo; e, sendo o tempo árido e estéril como o “Waste Land”, a poesia tinha
que ser, antes de tudo, satírica.

Destaque (azul) - Posição 72527

Dentro da Rússia, uma posição eliotiana foi ocupada pelo grande poeta
Pasternak3237. Sua atitude ideológica pouco importa: conseguiu, no início
da Revolução, aderir ao comunismo sem sacrificar sua liberdade íntima nem
trair sua inquietação espiritual; e depois, no romance Doutor Zivago
sacrificará a ideologia à liberdade espiritual sem se tornar reacionário;

Nota - Posição 72530

BORIS PASTERNAK

Destaque (azul) - Posição 72965

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2991 Hermann Hesse, 1877-1962.

Destaque (azul) - Posição 74040

3094 P. Polonski: La literatura russa de la época revolucionaria. (Tradução


espanhola.) Madrid, 1933.

Destaque (azul) - Posição 75002

3204 Aldous Huxley, 1894-1963.

Capítulo II TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS


UM ESBOÇO
Destaque (azul) - Posição 75716

Grande parte da mocidade francesa ficou fiel às lições de Alain3277,

Nota - Posição 75716

ALAIN

Destaque (azul) - Posição 75719

Alain foi o Sócrates de Paris entre as duas guerras. Ao seu lado fez figura de
profeta clamando no deserto o intratável Julien Benda3278, defendendo
contra a influência corrosiva do irracionalismo bergsoniano o mais rígido
classicismo-racionalismo da tradição francesa; e denunciando, como
“trahison des clercs”, a exploração indevida dessa tradição pelos reacionários
da “Action française”.

Nota - Posição 75722

JULIEN BRENDA

Destaque (azul) - Posição 75742

Só um país teve realmente sua própria Nouvelle Revue Française: a Espanha.


A Revista de Occidente foi o órgão pelo qual Ortega y Gasset3281
“europeizou” a Espanha, abrindo-a a todas as influências que ele mesmo
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experimentara, sobretudo à das “Geiteswissenschaften” alemãs. A


originalidade de sua filosofia, meio neokatiana, meio vitalista, é duvidosa.
Acima das dúvidas está o talento literário de Ortega y Gasset, talvez o mais
espirituoso “expositor” de ideias do século XX.

Nota - Posição 75745


ORTEGA Y GASSET

Destaque (azul) - Posição 75756

Jules Romains3282, inspirado por ambição desmesurada, sempre quis opinar


sobre tudo; antes de 1939 fez até uma estranha tentativa de intervir
pessoalmente na política internacional.

Nota - Posição 75758

JULES ROMAIN

Destaque (azul) - Posição 75768

Romains, utopista de quatro costados, nunca aderiu ao socialismo científico


de Marx. Seu socialismo é o utópico, tipicamente francês, dos Saint-Simon,
Fourier, Proudhon. É socialismo no sentido em que se chamava “radical-
socialista” o principal partido burguês, republicano e laicista da Terceira
República.

Destaque (azul) - Posição 75812

A velha Áustria só foi pátria perdida para os que não tiveram outra pátria
para aderir a ela: para os judeus austríacos. Um deles, Joseph Roth3286,
escritor de rara força evocativa do estilo, meio irônico, meio sentimental, e
de profunda seriedade, deixou numa trilogia de romances o monumento da
monarquia habsbúrgica, à qual ficou fiel até o fim.

Nota - Posição 75815

JOSEPH ROTH

Destaque (azul) - Posição 75818

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O romance dessa crise é Rubé, de Borgese3287, a história do intelectual


médio que, depois dos anos passados na trincheira em liberdade meio
selvagem, não consegue mais enquadrar-se na vida civil, metendo-se em
aventuras e escaramuças políticas: foi a previsão exata do fascismo.

Nota - Posição 75821

BORGESE - FASCISMO

Destaque (azul) - Posição 75833

Só exatamente dez anos depois do armistício aquele horror foi evocado pelo
alemão Remarque3290.

Nota - Posição 75833

ERICH MARIA REMARQUE

Destaque (azul) - Posição 75876

Durante os últimos anos de guerra, a Alemanha precisava convocar


adolescentes para o serviço militar. Estudantes de 16, de 17 anos de idade
combateram nas trincheiras. Depois, não conseguiram enquadrar-se na vida
civil. Continuavam a vida de soldado em corpos de voluntários, ocupados em
esmagar as revoltas comunistas. Em seguida, esses grupos começaram a
conspirar contra a República, cometendo a série de atentados de que se
tornaram vítimas estadistas como o político católico Erzberger e o democrata
judeu Rathenau. Aos assassinos de Rathenau, estava intimamente ligado o
jovem Ernst Von Salomon3294: no seu romance Die Geächteten (Os
Proscritos) descreveu aquele ambiente pré-nazista com desprezo soberano
contra a burguesia e o povo e com desprezo cínico dos próprios ideais
nacionalistas em que já não acreditava; Salomon é de parcialidade absoluta,
porque niilista em todos os sentidos; aquele seu primeiro livro tem inspirado
a maior admiração até a críticos de convicções democráticas, capazes de ver
mais fundo do que uma antipática tendência política na superfície.

Nota - Posição 75885

ERNST VON SALOMON - AMBIENTE PRÉ NAZISTA NA ALEMANHA

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Destaque (azul) - Posição 76113


Parábolas são os romances políticos de Ernst Jünger3314. Auf den
Marmorklippen (Nos rochedos de mármore), escrito, publicado e proibido
pela censura nazista das vésperas da Segunda Guerra Mundial, é a história da
luta entre duas potências totalitaristas e diabólicas, presumivelmente a
Alemanha de Hitler e a Rússia de Stalin; à guerra sucumbe um idílio em país
mediterrâneo, símbolo da velha civilização europeia.

Nota - Posição 76113

ERNST JUNGER

Destaque (azul) - Posição 76164

Pois um “ex-comunista”, em sentido técnico, não é um homem que já foi


comunista e deixou, depois, o partido; é um homem que se torna conhecido
por proclamar que foi comunista e já não é; e que continua a luta política,
tendo apenas mudado de frente. O ex-comunista típico, nesse sentido, é
Koestler3317.

Destaque (azul) - Posição 76182

O dilema da crítica perante o “caso Koestler” não é só de ordem literária. Os


ex-comunistas afirmam que só eles sabem e podem indicar o caminho certo
contra o perigo comunista; são os mesmos homens que, quando eram
comunistas, afirmaram durante tantos anos que só eles sabiam e podiam
indicar o caminho certo contra os perigos do capitalismo e do fascismo.
Abandonaram uma fé para abraçar, com o mesmo fanatismo, a contrária.

Destaque (azul) - Posição 76186

Mas ninguém negará a boa-fé a Orwell3318, cujos excessos antes se


atribuíam a uma mentalidade histérica. Foi socialista; esteve na Espanha,
prestando seu Homage to Catalonia. Sua sátira Animal Farm contribuiu para
a crítica mais severa poder classificá-lo como grande escritor. Mas não foi
grande romancista. Seu famoso romance 1984 é a típica antiutopia: pesadelo
do futuro totalitarismo que esmagará o indivíduo com requintes de
desumanidade.

Nota - Posição 76191


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GEORGE ORWELL

Destaque (azul) - Posição 76210

Zuckmayer3322, que no início escreveu sátiras alegres contra a moral


burguesa e o militarismo prussiano. Des Teufels General (O general do
Diabo) é uma apresentação fascinante dos movimentos de resistência e
sabotagem de certos grupos alemães contra o nazismo.

Nota - Posição 76213

CARL ZUCKMAYER

Destaque (azul) - Posição 76306

Herman Kasack3330 já escrevera neste estilo poesias comoventes. Durante o


regime nazista, que o perseguiu, guardou silêncio desdenhoso. Depois da
guerra, publicou espelho impressionante da Alemanha pós-nazista: no
romance Die Stadt hinter dem Strom (A cidade atrás do rio).

Nota - Posição 76310

HERMAN KASACK

Destaque (azul) - Posição 76347

Teirlinck3336 é um daqueles autores que, ficando velhos e até muito velhos,


não cessam de surpreender a crítica e o público, evoluindo sempre.

Nota - Posição 76349

HER TERLINCK

Destaque (azul) - Posição 76357

(A batalha contra os anjos) é o grande romance da luta de homens primitivos,


dos camponeses meio selvagens das florestas de Soigne, contra a cidade:
debate titânico entre razão e sem-razão da renovação religiosa da
humanidade assim como os expressionistas a desejavam realizar.

Destaque (azul) - Posição 76588


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A esses poetas puros de língua espanhola convém juntar o nome da brasileira


Cecília Meireles3372. Alguns críticos já quiseram defini-la como “mais
portuguesa que brasileira”, pelo único motivo de o modernismo brasileiro
não conhecer tradição de “poésie pure”; mas esta tampouco existe assim em
Portugal.

Nota - Posição 76590

CECÍLIA MEIRELES

Destaque (azul) - Posição 77196

Il Gattopardo, de Lampedusa3437. A publicação póstuma dessa obra de um


grande aristocrata que, como escritor-amador, historiara o declínio e a
decadência de sua família e do feudalismo siciliano, sacudiu o mundo, pela
inesperada profundeza da psicologia, pela amplitude do senso histórico,
lembrando o Tolstoi de Guerra e Paz, e pela evocação de uma atmosfera
pitoresca e, ao mesmo tempo, grandiosa.

Nota - Posição 77200

LAMPEDUSA

Destaque (azul) - Posição 77204

Giorgio Bassani3438, um judeu de Ferrara. Mas há uma simpatia secreta ente


os dois ambientes. O tema de Lampedusa é a perturbação da vida histórica da
Sicília pela modernização da Itália. O tema de Bassani é a perturbação da
vida de ricos, cultos e tradicionalistas judeus de Ferrara, ex-capital cheia de
recordações históricas, pela violência fascista.

Nota - Posição 77207

GIORGIO BASSANI FASCISMO

Destaque (azul) - Posição 77209

Esses romances são epitáfios de mundos desaparecidos. Epitáfio do


desaparecido Império austríaco dos Habsburgos é a Obra de Heimito von
Doderer3439,

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Nota - Posição 77210


HEIMITO VON DODERER

Destaque (azul) - Posição 77411

Mauriac3473 é um mestre: ninguém negará esse título

Destaque (azul) - Posição 77412

ao autor de romances tão fascinantes como Thérèse Desqueyroux e Le noeud


de vipères, que desnudam com força incomparável as almas pecadoras.

Nota - Posição 77414

FRANÇOIS MAURIAC

Destaque (azul) - Posição 77437

Bernanos3474. Seus começos são os de um radical da Direita: escreveu a


biografia do antissemita Drumont, contra o catolicismo dos que tentavam
fazer a paz com o mundo pagão do liberalismo;

Nota - Posição 77439

GEORGE BERNANOS

Destaque (azul) - Posição 77660

Em livros e ensaios norte-americanos sobre a literatura “ao Sul do Rio


Grande” costuma-se estudar a literatura brasileira junto com a hispano-
americana, como se fosse um caso paralelo. É uma perspectiva que não pode
ser mantida. A evolução da literatura brasileira foi totalmente diferente. Nela
não existe um movimento comparável à evolução do romance hispano-
americano dos últimos dois decênios. Em vez disso, houve outro movimento,
nada inferior quanto ao valor, mas limitado a uma determinada região do
país, ao Nordeste, que se caracteriza menos pelo fenômeno climático das
secas do que pela extrema pobreza das populações e pela estrutura
semifeudal de organização da sociedade. Uma literatura regionalista, então,
mas que procura e encontra os valores universais do sofrimento humano e da
esperança de salvação no futuro.

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Destaque (azul) - Posição 77667


A prioridade cronológica cabe a José Américo de Almeida3523, que
introduziu em seu romance A Bagaceira os temas da seca, dos retirantes, dos
“coronéis” e cangaceiros e das particularidades de vida no sertão e nas
regiões de cultivo de cana-de-açúcar. A primeira descrição completa e
comovente da seca e das suas consequências deve-se a Raquel de
Queirós3524.

Nota - Posição 77671

JOSÉ AMÉRICO DE ALMEIDA E RAQUEL DE QUEIRÓS

Destaque (azul) - Posição 77671

Obra definitiva é o “ciclo da cana-de-açúcar”, cinco romances em que José


Lins do Rego3525 descreveu a decadência das velhas famílias e de seus
engenhos e a inquietação principiante dos negros e mulatos: obra de grande
força evocativa e que já pertence ao patrimônio permanente da literatura
brasileira. O romance nordestino, em sua extensão toda, é menos homogêneo
do que parece à primeira vista. Os autores são diferentes não somente pelo
estilo, mas também pela temática. Graciliano Ramos3526, provavelmente o
mais importante, pertence ao ciclo nordestino pelo menos com dois
romances: São Bernardo é intenso estudo psicológico do homem nordestino,
e Vidas Secas é, apesar da técnica ficcional, que parece episódica, espécie de
panorama épico da vida do povo nordestino, só do próprio povo, o que
nenhum outro ousou ou conseguiu realizar.

Nota - Posição 77679

JOSÉ LINS DO REGO E GRACILIANO RAMOS

Destaque (azul) - Posição 77799

Ferreira de Castro3544; conheceu como emigrante a miséria total dos


trabalhadores nas selvas amazônicas; e, depois, o desespero dos operários
portugueses em sua própria pátria.

Nota - Posição 77801

FERREIRA DE CASTRO
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Destaque (azul) - Posição 77818


Todo esforço do proletariado industrial europeu, no tempo da “belle époque”
de 1900 até 1910, estava dedicado à superação do anarquismo: para fazer os
operários bem organizados participar da prosperidade capitalista daquele
tempo. Eis o sentido político do reformismo social-democrático que
renunciou tacitamente à revolução prevista pelo marxismo, preferindo a
elevação do padrão de vida pela ação dos sindicatos.

Destaque (azul) - Posição 77822

Os sucessos foram notáveis; pareciam justificar o otimismo. Mas a Primeira


Guerra Mundial e as crises econômicas de 1921 e 1929 acabaram com
aquelas esperanças: os sindicatos foram enfraquecidos pelo desemprego; e
em vários países sucumbiram os partidos socialistas ao fascismo.

Nota - Posição 77824

PARTIDOS SOCIALISTAS E FASCISMO

Destaque (azul) - Posição 77826

Testemunhos literários dessa nova situação são: a novela Karl und Anna, de
Leonhard Frank3547,

Nota - Posição 77827

LEONHARD FRANK

Destaque (azul) - Posição 77830

Faltava nesse coro de “vozes do Inferno” a do proletariado italiano: estava


silenciada nos cárceres do fascismo. Antonio Gramsci3548, jovem intelectual
e inicialmente discípulo de Croce, editor do primeiro jornal comunista
italiano, Ordine Nuovo, organizador da ocupação das fábricas pelos operários
de Turim, passou 11 anos de sua curta vida na prisão, condenado para, como
se exprimiu um dos seus juízes, “destruir esse cérebro perigoso”, só o
soltaram quando já agonizava.

Nota - Posição 77834

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ANTONIO GRAMSCI

Destaque (azul) - Posição 77846

Cholokhov3549 é o maior nome da literatura soviética. Seu “roman-fleuve”


da guerra e da implantação do comunismo na região dos cossacos do Don é
um exemplo de literatura regionalista de significação universal, sem recorrer
ao artifício de criar “atmosfera” pelo uso do dialeto e pelo abuso de detalhes
folclóricos.

Nota - Posição 77849

CHOLOKHOV

Destaque (azul) - Posição 77852

Só importa o “Coletivo”. Cholokhov foi chamado o Tolstoi do comunismo.


Mas esse escritor sereno e sóbrio tem pouco da vitalidade exuberante de
Tolstoi. Não é um “clássico”; antes é um classicista.

Destaque (azul) - Posição 77854

O classicismo adapta-se bem a realidades passadas; não consegue


acompanhar evoluções imprevisíveis. O Rio Don, obra perfeita até a última
página, já estava superado quando fora publicado.

Destaque (azul) - Posição 77923

Mas só depois do fim da era de Stalin saiu da sombra de um quase-


esquecimento o velho Paustovsky3562, o “great old man” da literatura russa
de hoje. Desde 1924 escreveu os volumes de sua autobiografia, que é um
sincero exame de consciência, uma grande obra de ficção e um imponente
quadro histórico: meio século de vida sob o czarismo, nas revoluções, na
guerra civil e na era de reconstrução. Paustovsky sabe, como ninguém, ser
melancólico, otimista, humorista, grave, sofisticado e simples ao mesmo
tempo. É o Aksakov da Rússia comunista. É, como Bunin, seu autor
preferido, um clássico da língua russa.

Nota - Posição 77928

PAUSTOVSKY
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Destaque (azul) - Posição 78598


Thomas Mann declarou que “hoje em dia um romance precisa ser mais que
um romance”: isto é, para atender à exigência de ser o romance um espelho
do homem e da sociedade, o romance do século XX tem de ser, ao mesmo
tempo, romance, ensaio, tratado científico, também obra de história e
reportagem. Só assim o leitor contemporâneo chegaria a acreditar na
“verdade da ficção”.

Destaque (azul) - Posição 78601

Pelo menos algumas das grandes obras de ficção do século XX


correspondem a essa exigência: o Doktor Faustus, do próprio Thomas Mann;
o Jogo das pérolas de vidro, de Hesse; U.S.A., de Dos Passos; e
naturalmente, Ulysses.

Destaque (azul) - Posição 78605

Mas as definições do romance-ensaio aplicam-se sobretudo, e exatamente, às


obras do romancista austríaco Hermann Broch3648. Sua fama internacional
baseia-se principalmente em sua última obra, escrita no exílio americano e
logo traduzida para o inglês: Der Tod des Vergil (A morte de Virgílio),
volumoso romance-poema cujo assunto é, veladamente, o apocalipse do
nosso tempo. Mas essa obra é uma conclusão. Não pode ser devidamente
apreciada antes de se conhecer melhor a obra capital de Broch, a trilogia de
romances Die Schlafwandler (Os Sonâmbulos):

Nota - Posição 78611

HERMANN BROCH

Destaque (azul) - Posição 78616

Matemático e cientista de profissão, Broch rejeita o irracionalismo que pode


exercer influência demoníaca. Mas também rejeita ao racionalismo que
destrói as fontes da vida. Responsabiliza pela decadência a destruição dos
fundamentos irracionais da sociedade; mas acredita que esses fundamentos
só podem existir sob a fiscalização permanente da Razão, cujo valor e cuja
função não devem ser questionados. É esse equilíbrio que sustenta a obra
novelística de Broch: é o mais profundo dos “romancistas de ideias”.

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Destaque (azul) - Posição 78620


Matemático por formação, espírito científico, também foi o austríaco Robert
Musil3649. Experiências de mocidade, num educandário militar inspiraram-
lhe Die Verwirrungen des Zöglings Thörless (As perturbações do aluno
Thörless): e saiu uma previsão do sadismo nazista e de seus motivos
psicológicos.

Nota - Posição 78624

ROBERT MUSIL

Destaque (azul) - Posição 78624

Essa e outras obras de Musil são fases da libertação gradual de sua


inteligência para chegar ao ponto em que ele, compreendendo tudo, já não
precisa tomar decisões, ficando numa eterna disponibilidade para ser nem
isso nem aquilo mas tudo ou nada. Por isso deu Musil ao seu gigantesco
romance o título Der Mann ohne Eigenschaften, que se costuma traduzir: O
homem sem qualidades. Mas mais exato seria: O homem indefinido.

Destaque (azul) - Posição 78630

O romance trata exaustivamente da vida e das tendências espirituais e


políticas na Áustria imperial antes de 1914.

Destaque (azul) - Posição 78638

Trata-se, mais uma vez, de um romance-ensaio sobre a decadência dos


valores na Áustria, símbolo da decadência dos valores na Europa e no
mundo, vista apelos olhos do “Homem indefinido”, do intelectual sem
qualidades definidas.

Destaque (azul) - Posição 78645

Influências expressionistas e, depois, a de Joyce determinaram o caminho de


Afred Döblin3650, que foi médico judeu num subúrbio proletário de Berlim,
na época caótica da República de Weimar.

Nota - Posição 78647

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ALFRED DÖBLIN

Destaque (azul) - Posição 78648

Em 1918, Döblin simpatizava com a revolta comunista de “Spartacus”, que


foi esmagada pelas forças unidas da República de Weimar e do exército
prussiano.

Destaque (azul) - Posição 78649

Berlin Alexanderplatz, o grande romance do proletariado marginal, dos “bas-


fonds” criminosos de Berlim. A construção lembra Dos Passos: o panorama
da vida política, social e moral da cidade é completo.

Destaque (azul) - Posição 78681

O isolamento das literaturas “pequenas” já parece superado no caso do


brasileiro Guimarães Rosa3652, graças a várias traduções da sua obra capital
Grande Sertão: Veredas, em que uma técnica linguística joyciana se combina
com a análise psicológico-ontológica do homem primitivo, num ambiente
primeval, como no primeiro depois da criação do mundo.

Nota - Posição 78685

JOÃO GUIMARÃES ROSA

Destaque (azul) - Posição 78700

Prelúdio – quanto à história literária – é a Obra do escritor que não conseguiu


pensar até as últimas conclusões ontológicas, mas que, por causa de suas
relações pessoais com os existencialistas, foi pelo consenso geral incluído no
movimento deles. Só por equívoco foi Albert Camus3654, revoltado
romântico por natureza, confundido com os revoltados de St. Germain.

Nota - Posição 78704

ALBERT CAMUS

Destaque (azul) - Posição 78708

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Sinônimo da alienação também é La Peste: alegoria transparente da situação


da França sob a ocupação alemã, mas passível de tantas interpretações
diversas que deixa de ser alegoria para elevar-se à categoria de símbolo.

Destaque (azul) - Posição 78733

Sartre3656 é dos autores mais discutidos e mais comentados do nosso tempo.


Parece, porém, que se discutiram demais suas atitudes políticas,
reconhecidamente sujeitas a muitas oscilações entre comunismo,
filocomunismo, anticomunismo e neutralismo; oscilações compreensíveis de
um típico intelectual que tem “pensées de toutes les couleurs”.

Nota - Posição 78736

JEAN PAUL SARTRE

Destaque (azul) - Posição 78864

Por mais estranho que pareça, também existe resistência anti-“establishment”


na Rússia soviética.

Destaque (azul) - Posição 78870

Soljenitzin3674. Aproveitou a época do degelo, no governo de Kruchtchov,


para publicar a novela Um dia na vida Ivan Denisovitch, descrevendo os
horrores da vida dos prisioneiros nos campos de concentração da era
stalinista.

Nota - Posição 78872

SOLJENITZIN

Destaque (azul) - Posição 78931

As primeiras peças de Ionesco3686 eram farsas curtas,

Nota - Posição 78932

IONESCO

Destaque (azul) - Posição 78941


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foi a peça anticonformista e antitotalitária Le Rhinocéros vivamente


aclamada pelo público.

Destaque (azul) - Posição 79004

3281 José Ortega y Gasset, 1883-1955.

Destaque (azul) - Posição 79621

3356 Carlos Drummond de Andrade,

Destaque (azul) - Posição 79916

3393 William Faulkner, 1897-1962.

Destaque (azul) - Posição 80304

3439 Heimito von Doderer, 1896-1966.

Destaque (azul) - Posição 80580

3474 Georges Bernanos, 1888-1948.

Destaque (azul) - Posição 80918

3525 José Lins do Rego, 1901-1957.

Destaque (azul) - Posição 80929

3526 Graciliano Ramos, 1892-1953.

Destaque (azul) - Posição 80938

3527 Jorge Amado, 1912-2001.

Destaque (azul) - Posição 81103

3548 Antonio Gramsci, 1891-1937.

Destaque (azul) - Posição 81604

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3619 Vladimir Nabokov, 1899-1977.

Destaque (azul) - Posição 81658

3629 Italo Calvino, 1928-1985

Destaque (azul) - Posição 81779

3648 Hermann Broch, 1886-1951.

Destaque (azul) - Posição 81791

3649 Robert Musil, 1880-1942.

Destaque (azul) - Posição 81847

3652 João Guimarães Rosa, 1908-1967.

Destaque (azul) - Posição 81857

3654 Albert Camus, 1913-1960.

Destaque (azul) - Posição 81877

3656 Jean-Paul Sartre, 1905-1980.

Epílogo
Destaque (azul) - Posição 82203

O idealismo filosófico de Croce encontrou, fora do Itália, discípulos na


Alemanha, onde Vossler3718 baseou nela sua linguística idealista e um novo
método de uma leitura dos textos: a análise estilística. O grande virtuoso
desse método de análise estilística foi Leo Spitzer3719, que sabia iluminar
um autor pela interpretação de uma estrofe ou até de um único verso de
Villon ou de Racine, de um trecho ou de uma frase de Cervantes ou de
Proust. Nem Vossler nem Spitzer desprezaram as relações entre um estilo
pessoal e o gosto literário de uma sociedade em determinada época. Essas
relações foram o tema de Erich Auerbach3720 que, em sua obra Mimesis,

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verificou através dos séculos a dialética entre o “nobre” estilo hipotático e o


“plebeu” estilo paratático;

Nota - Posição 82211


EUERBACH - MIMESIS

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