Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
No vídeo ao lado temos um exemplo da sétima arte feita para deficientes auditivos. Trata-se de uma interpretação
em LIBRAS para o filme nacional Os desafinados. Aproveite para ler também um artigo sobre inclusão.
Produza um vídeo amador de no máximo dez minutos em que você trava um diálogo com um amigo em LIBRAS ou apresenta
algum lugar ou atividade do seu cotidiano como se fosse um repórter. Se possível, poste seu vídeo no youtube (ou outra
interface para compartilhamento de vídeo) e envie o link para seu professor.
Nesta aula, você viu algumas formas de expressões e manifestações artísticas produzidas na linguagem de LIBRAS, para
deficientes auditivos. Também viu como as novas tecnologias estão, cada vez mais, facilitando a propagação de iniciativas
culturais, literárias e artísticas feitas para a comunidade surda. Assim, você pôde perceber como ainda são escassas as
produções envolvendo as artes para este público.
Impresso por ELIELZA SOUZA, CPF 024.229.371-95 para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e
não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 21/03/2022 15:42:36
Impresso por ELIELZA SOUZA, CPF 024.229.371-95 para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e
não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 21/03/2022 15:42:36
Impresso por ELIELZA SOUZA, CPF 024.229.371-95 para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e
não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 21/03/2022 15:42:36
1
Doutor em Lingüística pela Unicamp. Mestre em Letras e Especialistaem Psicopedagogia Diferencial
pelaPUC/RJ.ProfessordePedagogiadoInstitutoSuperiorBilíngüedoINES.
Impresso por ELIELZA SOUZA, CPF 024.229.371-95 para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e
não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 21/03/2022 15:42:36
Aquestãodaconcepçãodelínguapassacomumenteporidéiasaprendidasdesdeamaistenra
idade.Oscidadãosaprendemque noBrasilsefalaumaúnicalíngua,queelaé muitodifícil–
talvez mesmo a mais difícil do mundo. Isto se procura, em geral, “provar”, por exemplo,
mostrando a existência de palavras como manga e saudade, etc. Quanto à palavra manga é
preciso lembrar que fenômenos como o da existência de uma “mesma palavra” que assuma
significados diversos não é, de maneira alguma, privilégio da língua portuguesa. Quanto à
palavra saudade, ainda que não se possa dizer que sua origem etimológica e composição
semânticaapontemparaexatamenteamesmaidéia(comonãoacontecetampouconarelação
entre a infinidade de outras palavras de línguas diferentes quando comparadas), indica–se
aqui uma pesquisa mais apurada sobre a existência, por exemplo, de palavras como
“Sehnsucht” (saudade) e de verbos como “sehnen” (sentir saudade) em alemão. O que se
deseja com essa indicação é um convite a uma análise mais profunda das implicações
provocadasporafirmaçõesdotipo:“apalavrassaudadesóexisteemportuguês”.Afinal,oque
issosignificadefato?
Parece acertado dizer que há implicações políticas implícitas em afirmações como essas que
visam destacar determinado aspecto sócio‐cultural. Muitos acreditam ainda que por uma
espéciedemilagreouconcessãodivinaemumpaís dedimensõescontinentaiscomooBrasil
fala–seamesmalíngua.Alínguaditaportuguesa,noentanto,quesefalanoBrasilprecisoude
umasériedeaçõessócio‐políticas paraser“padronizada”ese“firmar”conforme seconhece
naatualidade.
Silva (1995) ao estudar as relações entre língua e inquisição no Brasil analisa a história da
língua portuguesa a partir de dados sobre a vida do Padre Manuel da Penha do Rosário,
pertencente a Congregação de Nossa Senhora das Mercês. Esse padre, em sua missão de
catequizarosíndiosnoBrasil,utilizava–sedelínguasindígenas,contrariandoasdeterminações
D’ElReidePortugal.Dessa maneira,eporisso mesmo, éconvocadoacomparecerdiantedo
Santo Ofício para defender–se de acusações pelo uso de línguas indígenas ao catequizar os
índios. Essas acusações foram feitas pelo Marquês de Pombal e seus aliados. O padre, no
entanto, escreve um documento, respondendo às questões propostas pelo Santo Ofício.
Impresso por ELIELZA SOUZA, CPF 024.229.371-95 para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e
não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 21/03/2022 15:42:36
A coerência dos seus argumentos provou que não fazia sentido, no caso daevangelização, o
uso da língua portuguesa, enquanto os índios não a compreendessem. O que o padre
reivindica,naverdade,éodireitoquecadaindivíduotemdeserinstruídoedeusaralínguade
suaprópriacomunidade.Valelembrarqueessedocumentofoiescrito noauge dainfluência
pombalina. No entanto, o padre formulou de tal forma sua defesa que não só foi absolvido
como ganhou o direito de conduzir uma paróquia em uma comunidade indígena, podendo
colocar em prática as suas idéias e ideais. Bastante à frente de sua época, o referido padre
trazia à tona a discussão sobre políticas lingüísticas encontrada mais tarde na Declaração
UniversaldosDireitosLingüísticose,porexemplo,nasintermináveisdiscussõessobreodireito
dossurdossinalizantesaseremeducadosemlínguadesinais.
Na Declaração Universal dos Direitos Lingüísticos são reivindicados direitos como os de
preservação manutenção da cultura e língua próprias de cada comunidade e o de ter
respeitadoalínguadecada comunidadeougrupolingüístico.Avisão de línguaapresentada
nesse documento é a de “resultado da confluência e da interação de uma multiplicidade de
Impresso por ELIELZA SOUZA, CPF 024.229.371-95 para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e
não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 21/03/2022 15:42:36
Tais conceitos podem alterar as formas como as pessoas constroem suas identidades
enquanto falantes de uma língua e cidadãos de um país. Não é de se menosprezar, por
exemplo,asituação(indesejável)emque aLIBRAS(línguabrasileiradesinais)éconsiderada
apenasumconjunto degestossemstatus delíngua.Umsurdonascido noBrasilé,salvocasos
específicosdalei, umbrasileiro quenãotemalíngua portuguesacomo línguamaterna.Se a
populaçãoe mesmoalgunsestudiosos e políticosinsistemquealínguaportuguesaé a única
língua legítima de um brasileiro, que falar da situação política, social e cultural de surdos,
índioseoutrosgruposquepodemserbrasileirossemtercomolínguamaternaoportuguês?
Contudo,aafirmaçãoanteriornãopretendedaraidéiadequeossurdosdevamsimplesmente
ignorar a língua oficial do seu país. Os surdos sinalizantes têm direito a língua portuguesa e
precisam conhecê‐la e dominá‐la para efeitos de melhor acesso à vida política e social da
sociedade em seu entorno cuja composição inclui também a sua família. Há que se pensar
também que a língua brasileira de sinais não é a única língua dos surdos brasileiros. Há
comunidadesindígenas com altoíndicedeocorrência desurdez quepossuemumalínguade
sinaisprópria.Essessurdostambémsãobrasileiros.Porfim,nãosepodediscriminarossurdos
oralizadosque,porventura,nãotenhamounãoqueriamteralínguadesinaiscomoL1.
Asquestõeslevantadaspeloestudodepolíticaslingüísticassãointeressantes,nãosomentedo
ponto de vista da informação sobre fatos históricos e sobre os processos de gramatização e
padronização da língua nacional. São interessantes também pelo fato de permitirem
discussões sobre identidade lingüística e cultural no Brasil. A partir de estudos em políticas
lingüísticassãoquestionadasaçõescomoasinerentes àtendênciadesereduzir adiversidade
efavoreceratitudescontráriasàpluralidadecultural,evitandoopluralismolingüístico.
Por último, é possível ainda usufruir das contribuições sobre políticas lingüísticas para se
pensaraspolíticasde inclusão(noâmbitodaeducaçãoounão) nopaís. Qualosignificado da
inclusãoemtermosdolugarqueainclusãoocupanasociedadeenaeducação?
Aoqueveio,paraondevai?Paraquetipodeeducação/sociedade pretendeconduziroprojeto
deinclusão?Pensar sobreessa questão impulsiona a formulação dealgumasoutrasinerentes
ao contexto. Uma delas refere‐se ao “risco” existente no fato de que um indivíduo precise,
antesdetudo,serreconhecidocomoexcluídoparaque,então,asociedadee aeducação(em
nome das novas demandas de uma sociedade dita inclusiva) venham a propor princípios e
estratégiasdeinclusão.Inclusãoquevisaaincluirquem?Onde?
Parecesempreútil lembrarqueaosepropor ainclusão dealguémseestáafirmando queessa
pessoa (embora tenha o direito) não é reconhecida como fazendo parte efetiva do contexto
emquesedesejaincluí‐la.Dessamaneira,esforçossãodesempenhadosparaque–semforçar
a“natureza”doindivíduoerespeitandoassuasdiferenças,façam adequaçõesnoambiente‐
alvo para que se possa proceder à inclusão. Movidos a partir de que tipo de crença sobre o
outro e respaldados sobre que princípio e autoridade propõem‐se ações no sentido da
inclusão? Essa reflexão é importante se não se quiser criar uma sociedade de “ex‐alguma
coisa”:ex‐drogados,ex‐excluído.
Muitos podem questionar a necessidade e pertinência ou não das reflexões, ora propostas,
masparececorretoafirmarquenãose desejaolhar paraoindivíduoaprendentecomosede
repente tivesse a sociedade conseguido, por bondade, salvar a sua vida do caos. Há que se
encontrar alternativas para não somente estancar a discriminação, mas para resignificar a
existência e o papel de indivíduos ditos diferentes na sociedade. Tal objetivo exige,
necessariamente, uma reengenharia nas formas de se conceber e comportar diante da
situaçãodeinclusão.
Essa visão interessa, pois o que parece ser adequado é um “despertar” da sociedade para o
fatodosaprendentes/cidadãosseremtodos dotadosdegrandecapacidadecadaqualemsua
especificidade (sem por isso estar impedido de desenvolver‐se em outras áreas). As
especificidades/característicasdecadaum,inclusiveaslingüísticas,não podem–em nomeda
valorizaçãodalínguaedocidadão‐setornarelementosformadoresdeguetos.